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tubo 7 s2 Os Direitos Humanos ¢ o Direito Internacional Organnizadores: Carlos Eduardo de Abreu Boucault ¢ Nadia de Araujo RENOVAR A Constituicéo Brasileira de 1988 e os Tratados Internacionais de Protecio dos Direitos Humanos Flavia Piovesan” 1, Tratados Internacionais de Protegdo dos Direitos Humanos: O que si0? Quais as suas Origens? Quais os seus Objetivos? — 2. Qual a Posigdo do Bstado Brasileiro em face do Sistema Interna- cional de Protecdio dos Direitos Humanos? — 3. De que Modo os Tratados Internacionais de Direitos Humanos s&6 Incorporados pelo Direito Brasileiro? — 4. Qual o Impacto Juridico desses Tra- tados na Ordem Juridica Brasileira? — 5. Consideragées Finais A proposta deste ensaio € enfocar os tratados internacio- nais de protecio dos direitos humanos, a luz da Constituicao Brasileira de 1988. Neste sentido, primeiramente serdo apresentadas as espe- cificidades desses tratados, bem como de sua fonte — 0 cha- mado Direito Internacional dos Direitos Humanos. Em um segundo momento, o destaque sera dado a posicao do Brasil, em face dos instrumentos internacionais de protecio dos direitos humanos. Em seqiéncia, sera desenvolvida a avalia- cdo do modo pelo qual a Constituicao Brasileira de 1988 tece ¥ Professora de Direito Gonstitucional e de Direitos Humanos da PUC/SP; Mestre e Doutora em Direito Constitucional pela PUC/SP; Visiting fellow do Human Rights Program de Harvard Law School (1995), Procuradora do Estado de Sao Paulo. m5 ahaa 1 HR oeilink pda * giant eSiporaqao ‘dessés tratados, c, por fim, qual 0 impacto juridico que presenta — momento no qual sero exami- ‘nados alguns casos concretos em que esses tratados foram aplicados. 1. Tratados Internacionais de Protegio dos Direitos Huma- nos: O que sao? Quais as suas Origens? Quais os seus Obje- tivos? & Os tratados internacionais de direitos humanos tém como fonte um campo do Direito extremamente recente, denomi- nado “Direito Internacional dos Direitos Humanos”, que € 6 Direito do pés-guerra, nascido como resposta as atrocidades aos horrores cometidos pelo nazismo!. Em face do regime do terror, no qual imperava a légica da destruicao e no qual as pessoas eram consideradas descar- taveis, ou seja, em face do flagelo da Segunda Guerra Mun- dial, emerge a necessidade de reconstrucio do valor dos di- reitos humanos, como paradigma e referencial ético a orien- tar a ordem internacional. (© “Direito Internacional dos Direitos Humanos” surge, assim, em meados do século XX, em decorréncia da Segunda Guerra Mundial ¢ seu desenvolvimento pode ser atribuide as monstruosas violagdes de direitos humanos da era Hitler e @ crenga de que parte dessas violagSes poderiam ser prevenidas, ‘Subseqiientemente 4Segunda Guerra ais de direitos humanos tm criado obri- 10s, com respeito as pessoas sujeitas $ouajurisdigdo, e um direito costumeiro internacional tem se desenvolvido. (© emergente Direito Internacional dos Direitos Humanos institui obrig- {goes aos Estados para com todas as pessoas humanas ¢ nio apenas para Som estrangeiros. Este Direito reflete a aceitacio geral de que todo indivi- Guo deve ter direitos, os quais todos os Estados devem respeitar ¢ proteger. fa dos direitos humanos €:nio apenas ‘um assunto de lar do Estado (¢ relacionado a jurisdigao doméstica), mas jeresse internacional e objeto préprio de regulagio do FENKIN, Louis et al. International law: cases and ing, 1998. p. 375-376). gages e responsal i se um efetivo sistema de protecao internacional de direitos humanos existisse®, = Neste cenario, fortalecese a idéia de que a protecio dos direitos humanos nao deve se reduzir ao dominio reservado do Estado, isto é, nao deve se restringir 8 competéncia n2- cional exclusiva ou a jurisdi¢ao doméstica exclusiva, porque revela tema de legitimo interesse internacional. Por sua vez, esta concepcao inovadora aponta para duas importantes con- sequéncias: 2 1) a revisio da nogao tradicional de soberania absoluta do Estado, que passa a sofrer um processo de relativizagio, 2. Na ligio de Thomas Buergenthal: fe cédigo, como ja observei em {0 internacional contemporineo € ‘proteéo internacional dos direitas humanos. fundamentos juridicos ‘mentos basicos. Sio Paulo. Saraiva, 1991. p. XXX1). Ao tratar do movimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos, afirma Richard B. Bilder: 0 movimento do direito internacional dos direitos humanos € b na concepeio de que toda nagdo tem a obrigagio de respeitar os direitos, Ihumanos de seus cidadios € de que todas as nacdes e a comunidade internacional tm o direito ea responsabilidade de protestar, se um Estado no cumprir suas obrigagées. O Direito Internacional dos Direitos Humanos consiste em um sistema de normas internacionais, procedimentos ¢ insti- tuigdes desenvolvidas para implementar esta concepcao € promover 0 res- ppeito dos direitos humanos em todos os paises, no mbito mundial. (..) Embora a idéia de que os seres humanos tém direitos ¢ iberdades funda- mentais que Ihe sio inerentes tenha hé tempo surgido no pensa- ‘mento humano, a concepeao de que os direitos humanos sao objetos pré- prios de uma regulacio internacional, por sua ver, é bastante recente. (..) Muitos dos direitos que hoje constam do “Direito Internacional dos Direitos Humanos" surgiram apenas em 1945, quando, com as implicagées do ho- locausto e de outras violagdes de direitos humanos cometidas pelo nazismo, as nagdes do mundo decidiram que a promogio de: direitos humanos ¢ liberdades fundamentais deve ser um dos principais prop6sitos da Organi- zagbes das Nacdes Unidas. ‘Overview of International Human Rights Law, ide to International Human Rights Practice, sécond edition, Philadelphia, University of Penn- sylvania Press, 1992, p. 35). 7 na medida em que sio admitidas in Gional, em pro! da protecio dos direitos humanos; isto ¢, permitem-se formas de monitoramento ¢ r lizago internacional, quando os acdo da idéia de que 0 individuo deve ter ios na esfera internacional, na condigo de sujeito de Direito. : Prenuncia-se, deste modo, o fim da era em que a forma pela qual o Estado tratava seus nacionais era concebida como im problema de jurisdicao doméstica, decorréncia de sua soberania. Inspirada por estas concep¢des, surge, a partir do pos: guerra, em 1945, a Organizagio das Nacbes Unidas. Em 1948 2 adotada a Declaracdo Universal dos Direitos Humanos, pela aprovacao undnime de 48 Estados, com 8 abstengdes*. A ine- 3A respeito, destaquese a afirmagio do Secretério Geral das Nacbes Unidas, no final de 1992: " Ainda que o respeito pela soberania c integridade do Estado seja uma questio central, é inegével que a antiga doutrina da ‘Sberania exclusiva e absoluta nao mais se aplica e que esta soberania jamais foi absoluta, como era entio concebida teoricamente, Uma das maiores jas intelectuais de nosso tempo é a de repensar a questio da sobe- ; Enfatizar os direitos dos individuos ¢ os direitos dos povos € ima dimensio da soberania universal, que reside em toda a humanidade gue permite aos povos um envolvimento legftimo em questées que afetam © imundo como um todo. £ um movimento que, cada vez mais, encontra expressio na gradual expansio do Dircito, Internacional. GHALT, Boutros. Empowering the United Nations. Foreign Affairs, v. 89, 1992/1993, p. 9899, apud HENKIN, Louis, et al., Intemational law: cases and materials, op. cit, p. 18) 4. A Declaracio Universal foi aprovada pela Resolugao 217 A (IID), da ‘Assembléia Geral, em 10 de dezembro de 1948, por 48 votos a zero ¢ oit Sbstencdes, Os oito Estados que se abstiveram foram: Biclo-rtissia, Checos Kaui, Polonia, Arébia Saudita, Ucrinia, Unido Soviética, Africa do Sul , em 1975, no Ato Final da Con- 5s Estados comunistas Ga Europa expressamente aderiram & Declaragio Universal, Sobre o cardter ‘da Declaracio, observa René Cassin: *Séame permitido, antes de Concluir, resumir a grandes rasgos los caracteres de la declaracién surgida Ge nuestros debates de 1947 a 1948, Esta declaracién se caracteriza, por tuna parte, por su amplitud, Comprende el conjunto de derechos y facul- tades sin los cuales un ser humano no puede desarrolar su personalidad U8 xisténcia de qualquer questionamento ou reserva feita pelos Estados aos principios da Declaracdo ea inexisténcia de qual- quer voto contrario as suas disposicées conferem a Declaracio Universal o significado de um cédigo ¢ plataforma comum de agio. A Declaracao consolida a afirmacdo de uma ética universal®, ao consagrar um consenso sobre valores de cunho, universal, a serem seguidos pelos Estados. "A Declaracdo de 1948 introduz a concepcao contempo- ranea de direitos humanos, marcada pela universalidade e indivisibilidade desses direitos. Ao consagrar direitos civis € politicos ¢ direitos econémicos, sociais ¢ culturais, a Declara- Gao ineditamente combina o discurso liberal ¢ o discurso social da cidadania, conjugando o valor da liberdade ao valor da igualdade®. fisica, moral y i ica es la universalidad: es aplicable a todos los hombres de todos los paises, razas,religiones y sexo8, sea cual fuere el régimen politico de los territorios donde rija. De tl finalizar los trabajos, pese a que hasta entonces se habia hablado siempre "la Asamblea General, gracias a mi propo i6n “Universal”, Al hacerlo conscientemente, ¢s sujeto directo del derecho de gentes. pais, pero también lo es del mundo, por fue el mundo debe brindarle, Tales son los caracteres esenciales de 1a declaraci6n.(...) La Declaracién, por el hect ‘como fue el ‘aso, adoptada por unanimidad (pues s6lo hubo 8 abstenciones, frente a 48 votos favorables), tuvo inmediatamente una gran repercusidn en la moral de las naciones. Los pueblos empezaron a darse cuenta de que el conjunto Ge la comunidad humana se interesaba por su destino.” (CASSIN, René. El problema de Ia realizacién de los derechos humanos en la sociedad ‘unersal. In: Vienteafios de evolucion de los derechos humanes. México: Instiato de Investigaciones Juridicas, 1974. p. 397) 5. Gf, Eduardo Muylaert Antunes: "A Declaracio Universal dos Direitos Humanos se impée com “o valor da afirmagio de uma ética universal” © conservard sempre seu lugar de simbolo ¢ de ideal.” (Natureza jurfdica da Declaragao Universal de Direitos Humanos. Revista dos Tribunais, S20 Paulo, 1, 446, p. 35, dez. 1972). 6. Nas palavras de Louis B. Sohn e Thomas Buergenthal: “A Declaragio Universal de Direitos Humanos se distingue das tradicionais Cartas de fos humanos que cofistam de diversas normas fundamentals e consti- tucionais dos séculos XVIII e XIX e comeco do século XX, na medida em turalmente, es ciudadano de su hecho mismno de I ug ‘consagra nao apenas direitos civise politicos, mas também direitos eco ,sociais e culturais, como o direito ao trabalho e & educagao.” (Untemational protection of human rights. Indianapolis: The BobbsMerrill Com- pany, 1973. p. 516). Quanto a classificagao dos direitos constantes da De- Glaracio, adverte Antonio Cassesse: “Mas vamos examinar 0 contetido da Declaracéo de forma mais aprofundada. Para este propésito, é melhor nos deixarmos orientar, ao menos em determinado sentido, por um dos pais da Declaracio, o francés René Cassin, que descreveu seu escopo do modo a seguir. Primeirament ‘ago dos direitos pessoais (os direitos a igualdade, a vida, — artigos 8° a 11). Posteriormente, 84 sua relag3o com grupos soc ‘no qual ele participa (o privacidade da vida familiar e 0 direito ao casamento; 0 di liberdade de movimento aml jonalidade; o direito a0 ina hipdtese de perseguicio; direitos de propriedade e de praticar a ido — artigos 12 a 17). O terceiro grupo de direitos se refere as rerdades civis e aos direitos politicos exercidos no sentido de contribuir rmacio de Orgios governamentais e participar do processo de iberdade de consciéncia, pensamento ¢ expressio; liberdade de associagio e assembléin; de votar e ser eleito; direito ao acesso 20 governo e a administragio pibblica — artigos 18 a 21). A quarta categoria de direitos se refere aos direitos exercidos nos campos econémicos e sociais (ex: aqueles direitos que se operam nas esferas clo trabalho e das relagies de producio, o direito A educacia, o direito a0 trabalho ¢ a assistincia social e A livre escolha de emprego, a justas condigées de trabalho, a0 pagamento para igual trabalho, o direito de fundar sindicatos ¢ ar; 0 direito ao descanso e a0 lazer; o dircito & satide, a educacio © 0 direito de participar liemente na vida cultural da comunidade — artigos 22 a 27)." (CASSESSE, Antonio. Human rights in a changing world Philadelphia: Temple University Press, 1990. p. 38-89). Sobre o tema, ob- serva José Augusto Lindgren.Alves que mais acurada é a classficacio feita por Jack Donnelly, quando sustenta que a Declaragio de 1948 enuncia as seguintes categorias de dit ) di is, incluindo os direitos 3 vida, 8 nacionalidade, a0 reconhecimento perante a lei, & protecio contra tratamentos ou punigdes cruéis, degradantes ou desumanas e & protecao contra a discriminagio ica, sexual ou religiosa (artigos: 2° a7 e 18); 2) direitos judicia indo 0 acesso a rethédios por violacéo dos direitos bisicos, a presungio de inocéncia, a garantia de processo piiblico justo e imparcial, a irrewoatividade das leis penais, a protegio contra a prisio, detencéo ou exili i a interferéncia na fami ho lar e na reputacdo (artigos 8* as liberdades de pensamento, conscié de movimento ¢ resistencia, e de re 13 ¢ de 18 a 20); 4) direitos de subsisténcia, particularmente os direitos 120 Ao conjugar o valor da liberdade com o valor da igualda- de, a Declaragao demarca a concepgao contempordnea de direitos humanos, pela qual os direitos humanos passam a ser concebidos como uma unidade interdepende relacionada e indivisivel. Assim, partindo-se do critério me- todolégico, que classifica os direitos humanos em geracoes’, 1m padrao de vida adequado A satide e a0 bem-estar préprio igo 25); 5) direitos econémicos, incluindo principalmente balho, 20 repouso ¢ ao lazer, € & seguranga social (artigos jreitos sociais e culturais, especialmente os direitos a instrucdo Jpacio na vida cultural da comunidade (artigos 26 ¢ 28); 7) direitos jtos a tomar parte no governo € a eleigdes igual (artigo 21), acrescido dos aspectos politicos de muitas iberdades civis” (DONNELLY, Jack, International hue Iman rights: a regime analysis. In: Intemational organization. Massachussetts ‘ology, Summer 1986. p. 599-642, apud LINDGREN AL- VES, José Augusto. O sistema internacional de protegao dos direitos hu- manos e 0 Brasil. Arquivos do Ministerio da Justica, Brasilia, v. 46, n. 182, p. jul. /dez.1993). Na ligo de Celso D. de Albuquerque Mell ai legi gerais (arts. 1" e 2, 28, 29 © 30); b) di (arts. 38a cos politicos (art. 2 (arts, 22 ¢ 27)". (Curso de direito intemacional piblico. 6. ed. Kio de Janeiro: Freitas Bastos, 1979. p. 531). 1. A partir desse critério, os direitos de primeira geracio correspondem 408 direitos civis ¢ politicos, que traduzem o valor da liberdade; os direitos de segunda geragio correspondem aos direitos socia ;Smicos ¢ cul turais, que traduzem, por sua vez, o valor da igualdad: tereeira geracio correspondem ao direito ao desen ivre determinagio, que traduzem o valor da solidariedade, Sobre a Inatéria, ver Hector Gross Espiell, Estudios sobre derechos humanos, Madrid, Civitas, 1988, p. 328-932. Do mesmo autor, Las derechos economicos sociales y ‘cultural en ef sistema interamericano, San José, Libro libre, 1986. Também esta é a ligdo de Paulo Bonavides, que sustenta que os direitos de primeira geragdo sao 08 direitos de liberdade, os primeiros a constarem do instra- trento normativo constitucional, a saber, os direitos civis ¢ politicos, que fem grande parte correspondem, por um prisma hist6rico, & fase inaugural itucionalismo do: Ocidente. Ja 0s direitos de segunda geragio, 108 do século XX, sulturais ¢ econémicos introduzidos no Constituc Porsua ver, 0s di de terceira geracio sio ‘am especificamente & protecdo dos interesses de'um individ i hado Estado, mas apreséntam como destinatario 0 género humano. Sao 121 adotase o entendimento de que uma geragio de direitos ndo substitui a outra, mas com ela interage. Isto é, afastase a idéia Ga sucessio “geracional” de direitos, na medida em que se scolhe a idéia da expansio, cumulagao e fortalecimento dos direitos humanos consagrados, todos essencialmente comple- tnentares e em constante.dindmica de interacao. Logo, apre- jentando os direitos humanos uma unidade indivisivel, reve- ase esaziado 0 direito a liberdade, quando nao assegurado reito A igualdade ¢, por sua vez, esvaziado revelase 0 ‘reito & igualdade, quando ndo assegurada a liberdade®, direitos da fraternidade, como 0 paz, 0 direito ao meio ambiente, © Po comum da humanidade e o direito de comunicagio (BONAVIDES, Paulo, Gurso de direito constitucional 4, ed. So Paulo: Malheiros, 1998. p. Ti489). Ainda sobre a idéia de geragdes de dircitos humanos, explica » particularmente util € 10 a0 desenvolvimento, 0 direito 2 10 de propriedade sobré 0 patri- éanocio de “tres mnos" elaborada pelo jurista francés Karel Vasak. ‘temas da Revolucio francesa, estas trés geracdes ‘a primeira geragio se refere aos direitos civis "WESTON, Burns H (editors), Human rights in the world community, p. 16-17). Sobre a matéria consultar ainda A. E. P. Lutio (Los aechos findamentals, Madrid: Tecnos, 1988) ¢ T.H. Marshall (Cidadani, tlasse social ¢ status, Rio de Janeiro: Zahar, 1967). fade dos direitos humanos, afirma Louis Henkin: “Os fundamentais incluem nao apenas limitacdes que ‘a dos governos nos direitos civis%é politicos, mas en- igacBes governamentais de cunho positive em prol da promocio + econémico e social, pressupondo um Governo que sea ativo, Janejador e comprometido com 0s programas econémicoso- lade que, por sua vez, os transforma em direit f sociais para os individuos.” (The age of rights. New 1990. p. 67). Também sobre a indivisbilidade dos direitos eressante € a visio de Richard Pierre Claude ¢ Burns H. ‘do afirmam que estes direitos expressarn demandas sobre respeito (insistindo, por exemplo, na ndo-diseri 2) poder (clamando por uma ampla participagio Feeureos materiais; 4) “enlightenment” (envolvendo o conh informacao); 8) bem-estar (garantias de sabrevivéncia ao individuo © a '6) habilitades (otimizando talentos e auxiliando nas defi- ® Vale dizer, sem a efetividade dos direitos econdmicos, sociais € culturais, 08 direitos civis ¢ politicos se reduzem a metas categorias formais, enquanto que, sem a realizacdo dos direitos civis e politicos, ou seja, sem a efetividade da liber- Sade entendida em seu mais amplo sentido, os direitos eco” omicos e sociais carecem de verdadeira significacao. Nao ha faais como cogitar da liberdade divorciada da justica social, Como também infrutifero pensar na justica social divorciada Ga berdade, Em suma, todos os direitos humanos constituem tun complexo integral, nico ¢ indivisfvel, em que os diferen- tes direitos estio necessariamente inter-relacionados ¢ inter- dependentes entre si. ‘Como estabelecen a Resolucao n. 32/130 da Assembléia Geral das Nagées Unidas: “todos os direitos humanos, qual- quer que seja o tipo a que pertencem, se inter-relacionam eecessariamente entre si, e so indivisiveis ¢ interdependen- toa"®. Esta concepcio foi reiterada na Declaragéo de Viena jerdade de dar contribuigdes ¢ recebélas a prs ‘¢ 8) integridade moral (requerendo ina qual os individuos possam agit com responsabilida- “Jevorientados pelo interesse comum), Direitos humanos, concebidos em “lores, envolvem @ preocupacio em criar uma ordem ppablica mundial fandada no respeito a dignidade humana (Homan Rights aaacAWorld Community — Issues and Action, Philadelphia, University of PennsyWvatia Press, 1989, p.5). No entanto, dificil é a conjugacio detses seared, ¢ em particular difcil € a conjugagéo dos valores da igualdade © Waorgede. Como pondera Norberto Bobbio: “As sociedades sio mais livres fem que s40 menos justas e mais justas na medida em que so ez" (A era das direios. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 48) ‘9, Sobrea Resolugio n. $2/130 afirma Antonio Augusto Cancado Trindade: aqueta resolucio (82/130), a0 endosar a assereio da Proclamacio fe Tecra de 1968, reafirmou a indivisbilidade a partir de uma perspectiva tlobalista, ¢ deu prioridade & busca de solugdes para 2s volaghes macicas E flagrantes dos direitos humanos, Paraaformacio deste novo aos, fixando parimetros de conduta em torno de valores bésicos universasy também Pamtuibuiu o reconhecimento da interacéo entre,os direitos humanos ¢ 2 jaz consignado na Ata Final de Helsinque de 1975," (A protecio interes ‘dos direitos huyhanos no limiar do novo século ¢ as perspectivas Tenas de Politica Externa Brasileira, Ui, v. t, 1994. p. 169). / 123, Go 8 é 45 de 1998, quando afirma, em seu pardgralo 58, que os direitos humanos sio universais, indivisiveis, interdependentes ¢ in- terrelacionados. He ee Seja por fixar a idéia de que os direitos humanos sio universais, inerentes 4 condicio de pessoa ¢.ndo relativos as peculiaridades sociais e culturais d¢.determinada sociedade, seja por incluir em seu elenco nao s6 direitos civis e politicos, mas também direitos sociais, econémicos e culturais, a Decla- ragéo de 1948 demarca a concepgao contemporanea dos di- reitos humanos. ‘Uma das principais qualidades da Declaragao é constituir- se em parametro e cédigo de atuacao para os Estados inte- grantes da comunidade internacional. Ao consagrar 0 reco- nhecimento universal dos direitos humanos pelos Estados, a Declara¢ao consolida um parametro internacional para a pro- tecdo desses direitos. Neste sentido, a Declaragéo é um dos parametros fundamentais pelos quais a comunidade interna- cional “deslegitima” os Estados. Um Estado que sistematica- mente viola a Declaracio Wao € merecedor de aprovagio por parte da comunidade mundial’, fp A partir da aprovacao da Declaragio Universal de 1948 ¢ a partir da concep¢io contemporinea de direitos humanos por ela introduzida, comega a se desenvolver o Direito Inter- 10. Cf, Antonio Cassesse, Human Rights in a Changing World, op. cit. p. 46-47, Na afirmacao de Louis B. Sohn e Thomas Buergenthal: "A Declaragio Universal de Direitos Humanos tem, desde sua adocio, exercido poderosa influéncia na ordem miundial, tanto internacional como nacionalmente. Suas previsies tém sido citadas como justificativa para virias agdes adotadas pelas Nagdes Unidas e tém inspirado um grande niimero de Convencées internacionais no Ambito das Nacdes Unidas ou fora dele. Estas previsoes também exercem uma significativa influéncia nas Constituigdes nacionais ¢ nas legislagdes locais e, em diversos casos, nas decisées das Cortes, Em algumas instincias, 0 texto das previsdes da Declaracio tem sido incorpo- rado cm instrumentos internacionais ou na legistacao nacional e hé int eras instincias que adotam a Declaracdo como um cédigo de conduta ¢ um parimetro capaz de medir 0 grau de respeito e de observincia relati- vamente aos pardmetros internacionais de direitos humanos.” (Louis B. Sohn e Thomas Buergenthal, International Protection of Human Rights, Indianopolis, The Bobbs-Merrill Company, 1973, p. 516) I24 nacional dos Direitos Humanos, mediante a adogio de int- meros tratados internacionais voltados a protecao de direitos fundamentais. # Forma-se o sistema normativo global de protecao dos di- reitos humanos, no 4mbito das Nages Unidas. Este sistema normativo, por sua vez, é integrado por instrumentos de al- cance geral (como os Pactos Internacionais de Dircitos Civis ¢ Politicos ¢ de Direitos Econémicos, Sociais ¢ Gulturais de 1966) € por instruamentos de alcance especifico, como as Convengées internacionais que buscam responder a determi- nadas violacées de direitos humanos, como a tortura, a dis- criminagio racial, a discriminaco contra as mulheres, a vio- lagao dos direitos das criancas, dentre outras formas de vio- lagao. A Firmase assim, no ambito do sistema global, a coexistén- ‘cia dos sistemas geral e especial de protecao dos direitos humanos, como sistemas de protecio complementares. O sistema especial de protecdo realca 0 processo da especifica- cao do sujeito de direito, no qual o sujeito passa a ser visto em sua especificidade ¢ concreticidade (ex: protege-se a crian- (a, 08 grupos étnicos minoritérios, os grupos vulneraveis, as mulheres, etc.). J4 0 sistema geral de protegao (ex: os Pactos da ONU de 1968) tem por enderecado toda e qualquer pes- soa, concebida em sua abstracio e generalidade. ‘Ao lado do sistema normativo global, surge o sistema normativo regional de prote¢io, que busca internacionalizar 08 direitos humanos no plano regional, particularmente na Europa, América e Africa, Consolida-se, assim, a convivéncia do sistema global — integrado pelos instruments das Nacdes Unidas, como a Declaracdo Universal de Direitos Humanos, 0 Pacto Internacional dos Direitos Civis € Politicos, 0 Pacto Internacional dos Direitos Econémicos, Sociais ¢ Culturais ¢ as demais Convengées internacionais — com instrumentos do sistema regional, por sua vez integrado pelos sistemas americano, europeu e africano de protecao aos direitos hu- manos (ex.: Convencao Americana de Direitos Humanos). Os sistemas global ¢ regional nao so dicotémicos, mas complementares. Inspirados pelos valores ¢ principios da De- claracao Universal, compoem o universo instrumental de pro- 15 tecdo dos direitos humanos no plano internacional. Em face desse ‘complexo universo de instrumentos internacionais, cabe a0 individuo que sofreu violagao de direito a escolha do aparato mais favordvel, tendo em vista que, eventualmente, direitos idénticos so tutelados por dois ou mais instrumentos de alcance global ou regional, ou ainda, de alcance geral ou especial. Nesta dtica, os diversos sistemas de protegio de di- reitos humanos interagem em beneficio dos individuos pro- tegidos!!. Feitas essas breves consideragées a respeito dos tratados internacionais de direitos humanos, passa-se a anilise do modo pelo qual o Brasil se relaciona com o aparato interna- cional de protecao dos direitos humanos. 2, Qual a Posi¢do do Estado Brasileiro em face do Sistema Internacional de Protecao dos Direitos Humanos? No que se refere a posicao do Brasil em relagdo ao sistema internacional de protecao dos direitos humanos, observa-se que somente a partir do processo de democratizagao do pais, deflagrado em 1985, é que o Estado easier passou a rat ficar relevantes tratados internacionais de direitos humanos. +40 marco inicial do provesso-de incorporacao de tratados internacionais de direitos humanos pelo Direito Brasileiro foi a ratificago, em 1989, da Convengao contra a Tortura Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes. A 11.Na visio de Antonio Augusto Cangado Trindade: “O critério da primazia da norma mais favordvel as pessoas protegidas, consagrado expressamente fem tantos tratados de direitos humanos, contribui em primeiro lugar para reduzir ou minimizar consideravelmente as pretensas possibilidades de “conflitos” entre instrumentos legais em seus aspectos normativos. Contri- bui, em segundo lugar, para obter maior coordenacéo entre tais instru interno) quanto horizontal (dois ou mais tratado: terceiro lugar, para demonstrar que a tendéncia ¢ © proj téncia de distintos instrumentos juridicos — garantindo os mesinos di — sio no sentido de ampliar e fortalecer a protegio". (A interagio entre 0 direito internacional eo direito interno na protegio dos direitos humanos. In: Arguivos do Ministério da Justica, Brastlia,jul./dez. 1998, p. 52-58). 126 partir desta ratificagio, intimeros outros importantes instru- mentos internacionais de protecao dos direitos humanos fo- ram também incorporados pelo Direito Brasileiro, sob a égide da Constitui¢ao Federal de 1988. & Assim, a partir da Carta de 1988 foram ratificados pelo Brasil: a) a Convencio Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989; b) a Convengao sobre os Direitos da Crianca, em 24 de setembro de 1990; c) 0 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Politicos, em 24 de janeiro de 1992; d) 0 Pacto Internacional dos Direitos Econdmicos, Sociais ¢ Culturais, em 24 de janeiro de 1992; e) a Convencio ‘Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992; £) a Convencao Interamericana para Prevenir, Punir ¢ Erra- dicar a Violéncia contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995. : ‘As inovagées introduzidas pela Carta de 1988 — especial- mente no que tange ao primado da prevaléncia dos direitos humanos, como principio orientador das relagdes internacio- nais — foram fundamentais para a ratificacdo destes impor- tantes instrumentos de protecao dos direitos humanos'?. ‘Além das inovagdes constitucionais, como importante fa- tor para a ratificagdo desses tratados internacionais, acrescen- tese a necessidade do Estado brasileiro de reorganizar sua agenda internacional, de modo mais condizente com as trans- formagées internas decorrentes do processo de democratiza- do. Este’esforco se conjuga com o objetivo de compor uma imagem mais positiva do Estado brasileiro no contexto inter 12,Para J. A. Lindgren Alves: "Com a adesio aos dois Pactos Internacionais da ONU, assim como 20 Pacto de Sao José, no ambito da OEA, em 1992, havendo anteriormente ratificado todos os instrumentos juridicos nnacionais significativos sobre a matéria, o Brasil ja cumpriu pra todas as formalidades externas necessiriis A sua integracio 20 internacional de protecio aos direitos humanos. Internamente, por outro Jado, as garantias aos amplos direitos entronizados na Constitui¢io de 1988, no ‘passiveis de emendas e, ainda, extensivas a outros decorrentes de tratados de que o pais sela parte, asseguram a disposigao do Estado demo- cratico brasileiro de conformar-se plenamente as obrigacées internacionais, por ele contraidas.” (Os divitas umanas como tema global. Sio Paulo: Pers pectiva/Fundagio Alexandre de Gusméo, 1994. p. 108). 127 nacional, como pais respeitador ¢ garantidor dos direitos humanos. Adicione-se que a subscrigao do Brasil aos tratados jnternacionais de direitos humanos simboliza ainda 0 aceite do Brasil para com a idéia contemporanea de globalizacao dos direitos humanos, bem como para com a idéia da legit midade das preocupagdes da comunidade internacional, no tocante A matéria. Por fim, ha que se acrescer 0 clevado grau de universalidade desses instrumentos; que contam com sig- nificativa adesio dos demais Estados integrantes da ordem internacional. ZLogo, faz-se clara a relago entre o processo de democra- tizacao no Brasil ¢ 0 processo de incorporacao ‘de relevantes instrumentos internacionais de protegao dos direitos huma- nos, tendo em vista que, se 0 processo de democratizacio permitiu a ratificacdo de relevantes tratados de direitos hu- manos, por sua vez essa ratificacdo permitiu o fortalecimento do processo democratico, através da ampliagio ¢ do reforco do universo de direitos fundamentais por ele assegurado. E assim, outra indagagao se apresenta: 3. De que Modo os Tratados Internacionais de Direitos Hu- manos sio Incorporados pelo Direito Brasileiro? Para responder a esta indagacao, é necessario frisar que ‘a Constituicao Brasileira de 1988 constitui o marco juridico da transi¢o democratica e da institucionalizacao dos direitos humanos no Brasil. O texto de 1988, ao simbolizar a ruptura com 0 regime autoritério, empresta aos direitos garantias énfase extraordinaria, situando-se como 0 documento mais avancado, abrangente € pormenorizado sobre a matéria, na historia constitucional do pais. & O valor da dignidade humana — ineditamente elevado a principio fundamental da Carta, nos termos do artigo 1°, IIT “ impéese como nticleo basico ¢ informador do ordena- mento juridico brasileiro, como critério parametro de va- Joracao a orientar a interpretagao ¢ compreensio do sistema constitucional instaurado em 1988¥A dignidade humana ¢ 08 direitos fundamentais vém a constituir os principios cons- titucionais que incorporam as exigéncias de justica ¢ dos 128 valores éticos, conferindo suporte axiolégico a todo o sistema juridico brasileiro. Na ordem de 1988, esses valores passam ‘a ser dotados de uma especial forca expansiva, projetando-se por todo universo constitucional ¢ servindo como critério interpretativo de todas as normas do ordenamento juridico nacional. “AE nesse contexto que ha de se interpretar o disposto no artigo 5%, paragrafo 2* do texto, que, de forma inédita, tece a interacao entre o Direito Brasileiro ¢ os tratados interna- cionais de direitos humanos. Ao fim da extensa Declaracio de Direitos enunciada pelo artigo 5%, a Carta de 1988 estabe- lece que os direitos € garantias expressos na Constituicao “no excluem outros decorrentes do regime e dos princfpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repiiblica Federativa do Brasil seja parte”. A Constituicao de 1988 inova, assim, ao incluir, dentre os direitos constitucio- nalmente protegidos, os direitos enunciados nos tratados in- ternacionais de que o Brasil seja signatério. Ao efetuar tal incorporacio, a Carta esté a atribuir aos direitos internacio- nais uma natureza especial e diferenciada, qual seja, a natu- reza de norma constitucional. Esta concluso advém de interpretacao sistematica ¢ te- leolégica do texto, especialmente em face da forca expansiva dos valores da dignidade humana e dos direitos fundamentais, como parametros axiolégicos a orientar a compreensio do fenémeno constitucional’. A esse raciocinio se acrescentam o principio da maxima efetividade das normas constitucionais referentes a direitos e garantias fundamentais € a natureza materialmente constitucional dos direitos fundamentais'#, 0 15. Para José Joaquim Gomes Canotilho: “A legitimidade material da Cons. tituigdo nao se basta com um “dar forma” ou “constituir” de Srgios; exige ‘uma fundamentagio substantiva para os actos dos poderes piiblicos ¢ dat que ela tenha de ser um parimetro material, direcivo e inspirador desses Sctos. A fundamentacéo material € hoje essencialmente fornecida pelo catélogo de direitos fundamentais (direitos, iberdades e garantias e direitos fecondmicos, sociais e culturais).” (Direito constitucional. 6. ed. rev. Coimbra: ‘Almedina, 1993. p. 74), 14,Sobre o tema, afirma José Joaquim Gomes Canotilho: “Ao apontar para 129 igs que justifica estender aos direitos entinciados em trataclos 0 Fegime constitucional conferido aos demais direitos ¢ garanr tig fundamentais. Essa conchisao'decorre também do pro- cesso de globalizacdo, que propicia ¢ estimula a abertura da Constituicdo A normacao internacional — abertura-que re- sulta na ampliagio do “bloco de. constitucionalidade’, que passa a incorporar preceitos asseguiadores de direitos funda veentais. Adicione-se ainda o fato das Constituicdes latino- americanas recentes conferirem aos tratados de direitos hu- nanos um status juridico especial ¢:diferenciado, destacan- do-se, neste sentido, a Constituigao da Argentina que, em seu artigo 75, parégrafo 22, eleva os principais tratados de direitos jumanos 4 hierarquia de norma constitucional. ‘Logo, por forca do artigo 52, parégrafos 1? ¢ 9°, a Carta de 1988 atribui aos direitos enunciados em tratados interna- Gionais natureza de norma constitucional, incluindo-os no ‘itucionalmente garantidos, que apre- o critério em anélise coloca-nos perante um dos temas pol onal: qual é 0 contedido ou matéria da maigao? © contetido da Constituicio varia de época para época ¢ de sais para pais ¢, por iso, € tendencialmente correcto afirmar que nio hi pevewa de Constituigdo no sentido de que certas matérias tém necessaria- ceeee de ser incorporadas na constituigao pelo Poder Constituinte. Regis trese, porém, que, historicament consideradas matérias constitu sais, direitos de participacd : ce gmica).” (Dito consttucional, 6 edigao revista, Coimbra, Livraria Al- sedina, 1993, p. 68). Prossegue © mesmo autor: “Um topos caracterizador ae tnodernidade e do constitucionalismo foi sempre o da consideracio dos wSineitos do homem" como ratio essendi do Estado Constitucional. Quer fossem considerados como “direitos naturais", “direitos is” ou Wreltos racionais” do individuo, os direitos do homem, constitucionsl mente reconhecidos, possufam uma dimensio,projectiva de comensuracao universal.” (op. cit., p.18). 130 “ Enfatize-se que, enquanto os demais tratados internacio- nais tém forca hierarquica infraconstitucional, nos termos do artigo 102, Ill, “b” do texto (que admite o cabimento de recurso extraordindrio de decisio que declarar a inconstitu- cionalidade de tratado), os direitos enunciados em tratados internacionais de protecao dos direitos ém_na tureza de norma constitucional. Este tratamento juridico di- ferenciado se justifica, na Mettida em que os tratidos inter- nacionais de direitos humanos apresentam um cardter espe- cial, distinguindo-se dos tratados internacionais comuns. En- quanto estes buscam 0 equilibrio ¢ a reciprocidade de rela- ¢Oes entre Estados-partes, aqueles transcendem os meros com- promissos reciprocos entre os Estados pactuantes, tendo em vista que objetivam a salvaguarda dos direitos do ser humano “de nao das prerrogativas dos Estados.!® Esse cardter especial vem a justificar 0 status constitucional atribuido aos tratados internacionais de protegio dos direitos humanos. Conchui-se, portanto, que 0 Direito brasileiro faz opcao por um sistema misio, que combina regimes juridicos dife- renciados: um regime aplicavel aos tratados de direitos hu- 75.No mesmo sentido, argumenta Juan Antonio Travieso: *Lot tratados ‘moderna sobre derechos humans en general, , en porticular la Convencién Ame- Ficona no son tratados molllaterals del tivo tradicional concluides en funcion de lin intoeambia vecproco de derechos para el bengfiio mutuo de los Estadas contra- antes, Su objeto fin son la protecién de los derechos fundamentales de los seres dhumanos independientenente de su nacionaided, tanto frente a su proprio Estado como fewe a fs otros Estados contratante. Al aprobar estes tratados sabre derechos framanes, ls Bulados se someten aun orden legal dentro det cual elles, pore ign comin, esumen varias obligacioncs, no en relaciin con otras Estads, sino hacia. {os indiidus bajo ou jurstiaiin. Por tanta, la Convencn a sélovincula a los ‘Bitados parts, sino que otorga garantias a la personas. Por es metivo, justifies damente no puede iterpretarse como cualquier otro tratada.” (Derechos kumanos 1 derecho interacional. Buenos Aires: Heliasa, 1990. p. 90) do mesmo entendimento, leciona Jorge Reinaldo Vanos ie la Consttucin argentina és concordant con as Declaraciones que han adoptado fos onganismos interuacionales, y se fuera con la ratfcacion argentina a las ‘onvoncionas ¢ pactes inteacionales de derechos humamnos destinades a hacelos ‘Gfeties y brindar protein. concrta a las personas a través de insttuciones Sneracionatex” (La Constticion Nacional y los Derechos Humanes. 8 ed. Bue~ nos Aires, Eudeba, 1988. p.35). 131 4 manos eum outro aplicdvel aos tratados tradicionais. Enquan- to os tratados internacionais de protecao dos direitos huma- nos — por forca do artigo 5*, paragrafos 1° ¢ 2° —apresentam hatureza de norma constitucional ¢ aplicagdo imediata, os Gemais tratados internacionais apresentam natureza infra- Constitucional e se submetem 4 sistemdtica da incorporag4o legislativa. (e no automatica). Por fim, perguntase: 4. Qual o Impacto Juridico desses Tratados na Ordem Juri- dica Brasileira? Relativamente ao impacto juridico dos tratados interna- cionais de direitos humanos no Direito brasileiro, ¢ conside- Jando a natureza constitucional desses tratados, trés hipéteses poderio ocorrer. O direito enunciado no tratado internacio- nal podera: 4) coincidir com o direito assegurado pela Constituicao (neste caso a Constituicao reproduz preceitos do Direito In- ternacional dos Direitos Humanos); | ___ ») integras, complementar e ampliar 0 universo de direi- ( tos constitucionalmente previstos; | ¢) contrariar preceito do Direito interno. \C Na primeira hipétese, o Direito interno brasileiro, em particular a Constituicao de 1988, apresenta dispositivos que Feproduzem fielmente enunciados constantes dos tratados inernacionais de direitos humanos. A titulo de exemplo, merece referéncia 0 disposto no artigo 5°, inciso Til, da Cons- tituicao de 1988 que, ao prever que “ninguém sera submetido a tortura, nem a tratamento cruel, desumano ou degradante”, @ reproducio literal do artigo V da Declaragio Universal de 1948, do artigo 7 do Pacto Internacional dos Dircitos Civis @ Politicos e ainda do artigo 5¢ (2) da Convencio Americana. Por suia vez, 0 principio da inocéncia presumida, ineditamen- te previsto pela Constituicao de 1988 em seu artigo 5*, LVI, também é resultado de inspiragao no Direito Internacional dos Direitos Humanos, nos termos do artigo XI da Declaracao Universal, artigo 14 (3) do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Politicos e artigo 8° (2) da Convengio Americana. 132 Estes sio apenas alguns exemplos que buscam comprovar © quanto © Direito interno brasileiro tem como inspiracdo, paradigma e referéncia, 0 Direito Internacional dos Direitos ‘Humanos. pA reproducio de disposicdes de tratados internacionais @ direitos humanos na ordem juridica brasileira reflete nao apenas 0 fato do legislador nacional buscar orientacao ¢ ins piracdo nesse instrumental, mas ainda revela a preocupacdo do legislador em equacionar o Direito interno, de modo a que se ajuste, com harmonia ¢ consonancia, as obrigacoes fhternacionalmente assumidas pelo Estado brasileiroyfNeste caso, os tratados internacionais de direitos humanos estarao @ reforcar o valor juridico de direitos constitucionalmente assegurados, de forma que eventual violagao do direito im- portaré nao apenas em responsabilizacao nacional, mas tam- bém em responsabilizacao internacional. ep _ Jina segunda hipétese, os tratados internacionais de di- 7 cits humanos estarao a integrar, complementar ¢ estender t declaragio constitucional de direitos. Com efeito, a partir Gos instrumentos internacionais ratificados pelo Estado bra- sileiro, é possivel elencar intimeros direitos que, embora n&o previstos no ambito nacional, encontram-se enunciados nes- ees tratados e, assim, passam a se incorporar ao Direito bra- Sileiro. A titulo de ilustragao, cabe mencio aos seguintes di- reitos: a) direito de toda pessoa a um nivel de vida adequado para si préprio e sua familia, inclusive @ alimentacdo, vest Prenta e moradia, nos termos do artigo 11 do Pacto Interna: tional dos Direitos Econémicos, Sociais e Culturais; b) proi- bicgo de qualquer propaganda em favor da guerrae proibicao de qualquer apologia 20 ddio nacional, racial ou religioso. que constitua incitamento a discriminagao, & hostilidade ou i Niolencia, em conformidade com o artigo 20 do Pacto In- ternacional dos Direitos Civis e Politicos e artigo 18 (5) da Convencio Americana; ¢) direito das minorias étnicas, reli- giosas ou lingiisticas de ter sua propria vida cultural, profes- Sar e praticar sua propria religido usar sua propria lingua, nos termos do artigo 27 do Pacto Internacional dos Direitos Civis ¢ Politicos e artigo 30 da Convencao sobre os Direitos da Crianca; d) proibicéo do reestabelecimento da pena de : 133 morte nos Estados que a hajam abolido, de acordo com o artigo 4° (3) da Convengio Americana; e) possibilidade de adocao pelos Estados de medidas, no ambito social, econd- mico e cultural, que assegurem a adequada protecao de certos grupos raciais, no sentido de que a eles seja garantido o pleno exercicio dos direitos humanos e liberdades fundamentais, em conformidade com o artigo 2* (1) da Convengao sobre a Eliminacao de todas as formas de Discriminagao Racial; f) possibilidade de adocao pelos Estados de medidas tempora- rias ¢ especiais que objetivem acelerar a igualdade de fato entre homens e mulheres, nos termos do artigo 4° da Con- vencio sobre a Eliminacao de todas as formas de Discrimina- cao contra a Mulher. Esse elenco de direitos enunciados em tratados interna- cionais de que o Brasil parte inova ¢ amplia 0 universo de direitos nacionalmente assegurados, na medida em que nao se encontram previstos no Direito interno. Observese que este elenco nao é exaustivo, mas tem como finalidade apenas apontar, exemplificativamente, direitos que s4o consagrados nos instrumentos internacionais ratificados pelo Brasil ¢ que se incorporaram ordem juridica interna brasileira#Deste modo, percebe-se como 0 Direito Internacional dos Direitos Humanos inova, estende ¢ amplia o universo dos direitos constitucionalmente asseguradosg- © Direito Internacional dos Direitos Humanos ainda per- mite, em determinadas hipéteses, o preenchimento de lacu- nas apresentadas pelo Direito brasileiro. A titulo de exemplo, merece destaque decisio proferida pelo Supremo Tribunal Federal acerca da existéncia juridica do crime de tortura contra crianca e adolescente, no, Habeas Corpus n. 70.389-5 (Sio Paulo; Tribunal Pleno — 23.6.94; Relator: Ministro Sid- ney Sanches; Relator para 0 Acérdao: Ministro Celso de Mel- lo). Neste caso, o Supremo Tribunal Federal enfocou a norma constante no Estatuto da Crianca e do Adolescente que esta- belece como crime a pratica de tortura contra crianga ¢ ado- lescente (artigo 283 do Estatuto). A polémica se instauro dado 0 fato de esta norma consagrar um “tipo penal aberto”, passivel de complementacio no que se refere 3 definicao dos diversos meios de execucao do delito de tortura. Neste sen- 134 tido, entendeu o Supremo Tribunal Federal que os instru fnentos internacionais de direitos humanos — em particular, 2 Convengao de Nova York sobre os Direitos da Crianca (1990), a Convencao contra a Tortura, adotada pela Assem- bléia Geral da ONU (1984), a Convencio Interamericana contra a Tortura, concluida em Cartagena (1985) ¢ a Con- Nengao Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de Sio José da Costa Rica), formada no ambito da OFA, (1969) —— ‘permitem a integracao da norma penal em aberto, @ partir Eo reforco do universo conceitual relativo ao termo “tortura”, Notese que apenas em 7 de abril de 1997 foi editada a Lei n. 9.485, que define o crime de tortura. Como esta decisio claramente demonstra, os instrumen- tos internacionais de direitos humanos podem integrar ¢ com- plementar dispositivos normativos do Direito brasileiro, per- P ftindo o reforco de direitos nacionalmente previstos — no caso, o direito de nao ser submetido a tortura. ‘Contudo, ainda se faz. possivel uma terceira hipdtese no campo juridico: a hipétese de um eventual conflito entre 0 Direito Internacional dos Direitos Humanos ¢ 0 Direito in- terno, Esta terceira hipétese € a que encerra maior proble- matica, suscitando a seguinte indagacao: como solucionar eventual conflito entre a Constituicao e determinado tratado internacional de protecio dos direitos humanos? Poder-se-ia imaginar, como primeira alternativa, a adocao do critério “lei posterior revoga lei anterior com ela incom- pativel”, considerando a hierarquia constitucional dos trata: Hos internacionais de direitos humanos. Todavia, um exame mais cauteloso da matéria aponta a um critério de solugao diferenciado, absolutamente peculiar ao conflito em tela, que se situa no plano dos direitos fundamentaisif o critério a ser adotado se orienta pela escolha da norma mais favordvel & vitimaYVale dizer, prevalece a norma mais benéfica ao indi- viduo, titular do direito. O critério ou principio da aplicagao do dispositive mais favordvel s vitimas € nao apenas conse grado pelos préprios tratados internacionais de protegao dos Gireitos humanos, mas também encontra apoio na pratica ou jurisprudéncia dos érgaos de supervisio internacionais. Isto , no plano de protecao dos direitos humanos interagem 0 } 135 Direito Internacional o Direito interno, movidos pelas mes- mas necessidades de protecao, prevalecendo as normas que melhor protejam o ser humano, tendo em vista que #primazia € da pessoa humanaxOs direitos internacionais constantes dos tratados de direitos humanos apenas vém a aprimorar € fortalecer, nunca a restringir ou debilitar, o grau de protecao dos direitos consagrados no plano normativo constitucional. Na ligio lapidar de Antonio Augusto Cancado Trindade: “(..) desvencilhamo-nos das amarras da velha ¢ ociosa polémica entre monistas e dualistas; neste campo de protecao, nao se trata de primazia do direito internacional ou do direito in- terno, aqui em constante interagao: a primazia é, no presente dom{nio, da norma quegnelhor proteja, em cada caso, os direitos consagrados da pessoa humana, seja ela uma norma de direito internacional ou de direito interno. Logo, na hipotese de eventual conflito entre 0 Dircito Internacional dos Direitos Humanos ¢ o Direito interno, ado- tase o critério da norma mais favordvel & vitima. Em outras palavras, a primazia é da norma que melhor proteja, em cada Paco, os direitos da pessoa humana. A escolha da norma mais benéfica ao individuo é tarefa que caberd fundamentalmente zos Tribunais nacionais ¢-a outros rgios aplicadores do direito, no sentido de assegurar a melhor protegao possivel ao ser humano. "A titulo de exemplo, um caso a merecer enfoque refere-se 4 previsio do artigo 11 do Pacto Internacional dos Direitos Te Antonio Augusto Cangado Trindade, A proterdo dos dircitas humanos nos planes ‘macional ¢ intemacional: perspectioas brasieras, San José de, Costa Rien Brasilia: Instituto Interamericano de Derechos, Humanos, 1992. p- 317.318. No mesmo sentido, afirma Amaldo Sissekind: “No campo do Direito do Trabalho e no da Seguridade Social, todavia, a solucdo dos onflitos entre normas internacionais é facilitada pela aplicagio do princt- pio da norma mais favorével aos trabathadores.(..) mas também € certo vie ov tratados mullaterais sejam univernas (p. ex: Pacto da ONU sobre dixtstos econdmicos, sociais ¢ culturais e Convencées da OFT), sejam re- gionais(p. ex: Carta Social Européia), adotam a mesma concepvio quanto ser nstituton juridicos de protegio do trabalhador, sobretudo, no ambito dos direitos humanos, o que facilita a aplicagao do principio da norma ‘ais favoravel.” (Direilo internacionaldo trabalho, Sio Paulo: LTr, 1988. p.57) 136 Civis € Politicos, ao dispor que “ninguém podera ser preso apenas por nio poder cumprir com uma obrigacéo contra: teal”. Enunciado semelhante € previsto pelo artigo 7° (7) da Convengio Americana, 20 estabelecer que ninguém deve ser detido por dividas, acrescentando que este principio nao li snita os mandados judiciais expedidos em virtude de inadim- plemento de obrigacao alimentar. ‘Novamente, ha que se lembrar que o Brasil ratificou am- bos os instruments internacionais em 1992, sem cfetuar qual- quer reserva sobre a matéria. Ora, a Carta constitucional de 1988, no artigo 5%, inciso LXVIL, determina que “no haveré prisio civil por divida, sulvo a do responsdvel pelo inadimplemento voluntario ¢ ines: cusavel de obrigagio alimenticia ¢ a do depositario infiel” ‘assim, a Constituicao brasileira consagra o principio da pro- bigao da prisio civil por dividas, admitindo, todavia, duas excegdes —- a hipétese do inadimplemento de obrigacao ali- menticia ¢ a do depositério infiel. Observe-se que, enquanto o Pacto Internacional dos Di reitos Civis e Politicos nao prevé qualquer excegio ao prin- Cipio da proibicdo da priséo civil por dividas, a Convencio ‘hrericana excepciona o caso de inadimplemento de obriga- cao alimentar. Ora, se 0 Brasil ratificou estes instruments Sem qualquer reserva no que tange 4 matéria, hd que se questionar a possibilidade jurfdica da prisio civil do depost tario infielwg Mais urva vez, atendo-se ao critério da norma mais favo- ravel A vitima no plano da protegio dos direitos humanos, Concluse que merece ser afastado o cabimento da possibili dade de prisio do depositario infiel!”. Em sintese, os tratados internacionais de direitos huma- nos inovam significativamente 0 universo dos direitos nacio- nalmente consagrados — ora reforcando sua imperatividade juridica, ora adicionando novos direitos, ora suspendendo preceitos que sejam menos favoraveis a protecio dos direitos 2 Ty Neste sentido, mereée destaque o Touxavel voto do Juiz Antonio Carlos Malheitos, do Primeiro Tribunal de Alcada do Estado de Sio Paulo, na Apelacio n® 618.053-8: BT humanos. Em todas estas trés hipéteses, 6s direitos interna: cionais constantes dos tratados de direitos humanos apenas yém a aprimorar e fortalecer, nunca a restringir ou debilitar, © grau de protecio dos direitos consagrados no plano nor- mativo constitucional. i Consideragées Finais Como estas reflexées puderam demonstrar, os tratados internacionais de direitos humanos podem contribuir de for- ma decisiva para o refor¢o da promogao dos direitos humanos no Brasil, No entanto, o sucesso da aplicagio deste instru- mental internacional de direitos humanos requer a ampla Sensibilizagio dos agentes operadores do Direito, no que se atém a relevancia ¢ a utilidade de advogar estes tratados perante as instncias nacionais ¢ inclusive internacionais, Gue pode viabilizar avangos coneretos na defesa do exercicio dos direitos da cidadania. A partir da Constituicdo de 1988 intensifica-se a interacao ¢ conjugagao do Direito internacional e do Direito interno, que fortalecem a sistematica de protecio dos direitos funda tnentais, com uma principiologia ¢ légica préprias, fundadas no principio da primazia dos direitos humanos. ‘A Carta de 1988 € os tratados de direitos humanos Iancam ‘um projeto democratizante humanista, cabendo aos opera Gores do direito introjetar, incorporar ¢ propagar os seus valores inovadores. Os agentes juridicos ho de se converter em agentes propagadores de uma ordem renovada, democré- tica e respeitadora dos direitos humanos, impedindo que se perpettiem os antigos valores do regime autoritério, juridicar mente repudiado e abolido. Hoje, mais do que nunca, os operadores do Direito estio A frente dodesafio de resgatar e recuperar no aparato juridico seu potencial ético e transformador, aplicando a Constituicio ¢¢ os instrumentos internacionais de protecao de direitos hu- manos por ela incorporados. Estio, portanto, a frente do desafio de reinventar, reimaginar ¢ recriar seu exercicio pro- fissional, a partir deste novo paradigma referéncia: a pre- valéncia dos direitos humanos. 138 34

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