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REB Volume 8 (1): 013-028, 2015


ISSN 1983-7682

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE MAMÍFEROS SILVESTRES EM UMA


ÁREA DE FLORESTA OMBRÓFILA MISTA NA REGIÃO DE PORTO
VITÓRIA-PR

PRELIMINARY SURVEY OF WILD MAMMALS IN AN ARAUCARIA PINE


FOREST’S AREA IN THE REGION OF PORTO VITÓRIA – PR

Leandro Maciel¹ ³
Katharina Priscila Weber Amaral Maciel² ³

1. Biólogo Especialista em Biodiversidade: Conservação e Manejo de Recursos


Naturais
2. Acadêmica de Pós-Graduação em Biodiversidade: Conservação e Manejo de
Recursos Naturais
3. Depto. Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Paraná UNESPAR–
FAFI, União da Vitória, Praça Cel. Amazonas, s/nº Centro,CEP 846000000,
fone (42) 3522-4433
Contato: leandromacielbio@yahoo.com.br

RESUMO

Este estudo foi realizado em um fragmento de Floresta Ombrófila Mista (FOM) no


interior do município de Porto Vitória, PR, (S 26°13’34.0” ; W 51°13’23.3”)
levantamento objetivando inventariar e avaliar a diversidade e abundancia de mamíferos
da região, no período de fevereiro a julho de 2010. O fragmento possui 133 ha dos quais
128 ha são recobertos por FOM secundaria em estado avançado de sucessão. Os
registros dos mamíferos foram realizados semanalmente, com a utilização de métodos
diretos e indiretos, incluindo registros visuais, análise de pegadas, triagem escatológica,
14

analise tricológica, visualizações de animais mortos, caçados, atropelados e entrevistas


com os moradores locais, totalizando 93 horas de visualizações diretas a procura de
vestígios e 186 km percorridos, sendo realizadas vinte e três visitas diurnas e três se
estendendo à noite. Juntas, estas técnicas se mostraram eficientes, revelando a presença
de 12 espécies, nove gêneros, nove famílias e seis ordens de mamíferos, dentre estes
muitas espécies consideradas ameaçadas no estado do Paraná como Leopardus triginus,
Leopardus wiedii, Puma concolor e Mazama spp, ficando evidente a importância da
conservação dos pequenos remanescentes florestais para a conservação destes
mamíferos no estado do Paraná.
Palavras-chave: mamíferos; inventário; floresta ombrófila mista.

ABSTRACT

This study was conducted in a fragment of Araucaria Forest (FOM - acronym in


portuguese) within the Porto Vitória – PR, (S 26 ° 13'34 .0 ", W 51 ° 13'23 .3"). The
survey aims to identify and assess the diversity and abundance of mammals in the
region during the period from February to July 2010. The fragment has 133 ha of which
128 ha are covered by FOM in advanced secondary succession. Records of mammals
were performed weekly with the use of direct and indirect methods, including visual
records, analysis of footprints, sorting eschatological, trichological analysis,
visualization of dead, hunted, trampled animals and interviews with local residents,
totaling 93 hours of direct views, searching for vestiges and crossing186 km, being
made twenty and three daylight visits and three extending to the evening. Together,
these techniques are efficient, revealing the presence of 12 species, nine genera, nine
families and six orders of mammals, among them, many species are considered
threatened in the state of Paraná as Leopardus triginus, Leopardus wiedii, Puma
concolor and Mazama spp, getting highlighted the importance of small forest remnants
conservation for the mammals preservation in the state of Paraná
Keywords: mammals; inventory; araucaria forest.

1. INTRODUÇÃO
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A diversidade de Mammalia no Brasil atinge um significativo número,


constituindo-se numa das maiores do mundo. Reis et al. (2006) menciona em seu estudo
652 espécies de mamíferos nativos para o Brasil, sendo a maioria de difícil visualização.
Dentre os mamíferos terrestres brasileiros existem animais de tamanho variado,
desde os de pequeno porte, como roedores, até os de maiores dimensões, como as antas,
de 201 cm e 300 kg. Além disso, existe uma grande variação nas colorações de
pelagens, deixando os animais aptos a se camuflarem no ambiente em que vivem,
tornando-se assim, menos vulneráveis a possíveis predadores ou aptos a serem
caçadores mais eficientes. As atividades de grande parte dos mamíferos ocorrem
durante as horas crepusculares e noturnas, no entanto muitos deles são diurnos, como é
o caso da maior parte dos primatas (Moro-Rios et. al, 2008).
O avanço indiscriminado das áreas destinadas à agricultura e pecuária, o
aumento das diversas formas de poluição ambiental, o tráfico e comércio ilegal de
animais, entre outras ameaças marcaram o século passado. Por isso, há um bom tempo
várias espécies encontram-se sob risco de extinção (Rodrigues, 2007). Conforme
Chiarello et. al. (2008) o Brasil possui 69 espécies de mamíferos oficialmente
ameaçadas, o que representa 10,6% das 652 espécies nativas de mamíferos que ocorrem
no país. A grande maioria das espécies ameaçadas (40 espécies) está incluída na
categoria Vulnerável (VU), quase um terço (18 espécies) está na categoria Criticamente
em Perigo (CR) e as 11 espécies restantes situam-se na categoria Em Perigo (EN).
Os primatas e os carnívoros estão proporcionalmente mais ameaçados, os
primeiros por possuírem hábito exclusivamente florestal (portanto, baixa tolerância à
destruição das florestas) e os últimos por serem predominantemente predadores,
apresentando baixas densidades populacionais e grande necessidade de espaço
(Chiarello et. al. 2008).
O fato dos carnívoros estarem em perigo pode representar uma grande ameaça a
todo o ecossistema, ao perder grandes reguladores de população de espécies herbívoras,
que por sua vez se tornam ameaçadoras às espécies vegetais, significando o colapso do
ambiente em médio ou longo prazo (Reis et. al, 2006).
O nível de desconhecimento sobre a mastofauna brasileira é ilustrado pela lista
composta por nada menos do que 110 espécies consideradas Deficientes em Dados
(DD) o que representa mais da metade (55,3%) do total de espécies avaliadas. Quase
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metade das espécies Deficientes em Dados ocorre na Amazônia (especialmente


morcegos, primatas e boa parte dos marsupiais), pouco mais de um quarto são marinhas
e cerca de um quinto ocorre na Mata Atlântica (Chiarello et. al. 2008).
Estudos sobre a mastofauna paranaense começou a ganhar forcas a partir de
1981, sendo o primeiro inventário regional abrangendo todas as ordens de mamíferos
realizado por Lange e Jablonski (1981). A maior parte das informações, entretanto,
consta como exclusivamente de relatórios técnicos e resumos de eventos científicos,
conforme havia constatado Miretzki (1999) na Biografia Mastozoologica do Estado do
Paraná.
Atualmente os trabalhos de monitorando da mastofauna paranaense vêm
ganhando forças e mostrando aspectos ecológicos importantes. Rossi (2008)
monitorando a mastofauna em Londrina – PR registrou 13 espécies durante cinco meses
de estudo, sendo que algumas encontravam-se na lista de espécies ameaçadas no Paraná
como a anta (Tapirus terrestris), jaguatirica (Leopardus pardalis) e suçuarana (Puma
concolor).
Miranda (2008), estudando os mamíferos nos campos de Palmas, Paraná,
evidenciou a presença de 35 espécies representando oito Ordens e 20 Famílias. Cinco
espécies foram registradas com base em carcaças de animais atropelados enquanto a
maioria dos registros foi registrada pelos métodos tradicionais (pegadas, fezes,
visualizações diretas e capturas). Do total de espécies registradas cinco foram
consideradas ameaçadas nacionalmente: Myotis ruber, Chrysocyon brachyurus,
Leopardus tigrinus, L. pardalis e Puma concolor (MMA, 2008) e oito espécies
ameaçadas regionalmente: Chrotopterus auritus, Alouatta clamitans, C. brachyurus, L.
tigrinus, L. pardalis, P. concolor, Ozotocerus bezoarticus e Pecari tajacu.
Diante deste contexto, realizou-se um levantamento preliminar da mastofauna no
município de Porto Vitória – Paraná, no período de fevereiro a julho de 2010,
monitoramento com objetivo de estudar e conhecer os mamíferos existentes no
fragmento através dos vestígios deixados por estes; visto que são de difícil visualização,
e também fornecer dados estatísticos sobre o estado de conservação e diversidade no
fragmento em questão.

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


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O presente estudo foi desenvolvido no município de Porto Vitória –PR,


coordenadas S 26° 13’ 34.0” ; W 51° 13’ 23.3´´, a uma altitude de 753m à 955m (GPS
Etrex Legend Garmin), dentro de uma propriedade particular, possuindo um total de
133 ha. O município situa-se no planalto sul paranaense, de acordo com a classificação
de Köppen, o clima predominante é do tipo subtropical mesotérmico úmido, tipo Cfb
(Clima Temperado), apresentando verões brandos e invernos com geadas severas e
frequentes, possuindo temperatura média anual de 23,3ºC, com chuvas bem distribuídas
durante os meses do ano (Rocha, 2003; Maack, 1981).
A cobertura vegetal predominante na região é de áreas de mata secundária,
principalmente devido a grande concentração fundiária, onde se exploram a madeira e a
erva-mate, porém, devido existência de regiões muito íngremes ainda se encontram
muitos fragmentos em estagio avançado de sucessão ecológica (Rocha, 2003; Maack,
1981).
A vegetação segundo caracterização geral, realizada pelo Herbário Vale do
Iguaçu (2010) é constituído em seu fragmento, de mata em estagio de sucessão
secundária. Nesta área ainda existem algumas espécies primárias como o Branquilio
(Sebastiania commersoniana) e Aroeira (Schinus terebinthifolius) algumas espécies
clímax que provavelmente remanesceram do processo antropomórfico ou encontram-se
em estagio inicial de desenvolvimento como o Pinheiro do Paraná (Araucaria
angustifolia).

3. DOS PROCEDIMENTOS DE CAMPO

As atividades de campo foram realizadas semanalmente, com início em fevereiro


de 2010 e término em julho de 2010. O levantamento das espécies de mamíferos de
médio e grande porte, ocorrentes no interior do município de Porto Vitória foi obtido
mediante a coleta e análise de fezes, rastros, tocas, visualizações, vocalizações e outros
indícios que quando encontrados eram fotografados com máquinas fotográficas normais
dos pesquisadores.
Foram utilizados métodos de procura direta em trilhas já existentes na área de
estudo como trilhas do gado, trilhas abertas por tratores ou trilhas abertas durante o
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estudo. A coleta de dados foi realizada ao amanhecer ou ao pôr-do-sol durante um


mínimo de quatro horas diárias, com visitas semanais, sendo percorridas por no máximo
três pesquisadores.

3.1 Observação indireta da mastofauna

Foram feitas réplicas das pegadas em gesso de secagem rápida, aferidas com
paquímetro, sendo as medidas anotadas na caderneta de campo, de forma a conter o
comprimento e largura total da pegada, da almofada plantar, dos dedos e da passada.
Também foram anotados os sentidos do deslocamento, a proximidade de outros sinais e
o tempo estimado que o animal deixou o indício (Becker & Dalponte, 1999).

3.2 Coleta e análise de material escatológico

A coleta de material escatológico foi realizada durante os percursos, nas trilhas e


estradas existentes na área. As amostras fecais foram acondicionadas em sacos plásticos
e, em laboratório, transferidas para cartuchos de papel para secagem em estufa a 50ºC.
Para cada amostra foi preenchida uma ficha com informações sobre a data e local de
coleta, condições da amostra, tamanho, formato e provável espécie dados estes
coletados no momento que se coletava a amostra. A identificação das espécies foi
baseada em pegadas associadas e pêlos do predador encontrados nas fezes.
Para a triagem, as amostras fecais coletadas foram lavadas em água corrente
sobre uma peneira granulométrica, e o seu conteúdo separado manualmente com auxílio
de pinças (Emmons, 1987). Os itens encontrados foram separados em diferentes
categorias, como pêlos, penas, dentes, unhas e fragmentos de ossos para a identificação.
Após a triagem, os ossos, escamas e outras partes diagnosticadas estão sendo
identificados.
A estrutura microscópica dos pêlos de mamíferos tem sido utilizada na
identificação de itens alimentares presentes nas fezes de carnívoros e na identificação do
próprio predador, através da comparação destas amostras com pêlos de uma coleção de
referência (Quadros & Braga, 1998). A análise da morfologia dos pêlos é extremamente
útil, quando não existem outros elementos que permitam a identificação das espécies
19

(Rio & Boggio, 1998), como, por exemplo, dos gatos-do-mato, que possuem o formato
e tamanho das fezes e pegadas muito semelhantes entre si, dificultando por este motivo
a sua diferenciação.
Para a identificação dos pêlos encontrados nas fezes foram preparadas lâminas
de impressão para análise de cutícula e lâminas permanentes para análise de medula,
seguindo a técnica desenvolvida por Quadros (2003). Assim, foi possível analisar o
perfil dos pêlos, padrões de escamas cuticulares, organização da medula e pigmentos.

3.3 Animais atropelados

Os registros de espécimes de vertebrados atropelados foram obtidos através de


23 viagens em um trecho de 50 km entre o período de fevereiro a julho de 2010,
totalizando 1.150km percorridos. As amostragens foram realizadas no período diurno
usando uma motocicleta, quando um animal morto era avistado, anotava-se o
posicionamento com GPS, fotografava-se, media-se o tamanho do animal, a espécie e o
sexo quando possível. Somente foram quantificados os animais encontrados mortos nas
áreas próximas ao local da pesquisa.
4. ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados utilizou-se o programa Past versão 1.74 com as
formulas a seguir: a frequência relativa das espécies foi expressa pela fórmula
F=N/T(x100) onde F = índice de frequência N = número total de indivíduos de cada
espécie. T = número total de indivíduos de todas as espécies.
O índice de Margalef foi calculado de acordo com a fórmula apresentada por
Krebs (2001) d = (S-1) / Log² [N], onde S = número de espécies da amostra. N =
número total de indivíduos das espécies coletadas.
Para estimar a diversidade, foi utilizado o índice de Shannon-Wiener
(SHANNON e WIENER, 1979), H’ = - ∑ (ni/N) log² (ni/N) onde ni = número de
indivíduos da espécie i. N = número total de indivíduos.∑ = somatória.
A equitatibilidade, expressa pela fórmula de Ludwing e Reynolds (1988)
e = H’/ Hmáx. onde Hmáx = índice de diversidade máxima (H máxima = log S)
S = número de espécies. H´ = índice de diversidade de Shannon.
20

A dominância foi expressa pela seguinte equação: P = 1 – (H’/ Hmáx) onde:


H= índice de Shannon para a amostra. H’/ Hmáx = valor da diversidade máxima =
logS.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No transcorrer deste trabalho foram obtidos 96 registros da presença de


mamíferos, dos quais identificou-se 12 espécies de mamíferos de médio a grande porte
para o município de Porto Vitória – PR, Mazama guaozoubira, Mazama americana,
Dasyprocta azarae, Sphiggurus villosus, Procyon cancrivorus, Didelphis albiventris,
Dasypus novemcinctus, Tamandua tetradactyla, Leopardus widdi, Leopardus tigrinus,
dentre estas, duas espécies encontram-se na lista vermelha de animais em extinção do
Paraná, o Bugio-ruivo, (Alouatta guariba clamitans) e a Jaguatirica (Leopardus
pardalis) (Tabela 01) sendo também evidente a presença de Puma (Puma concolor) para
o município, porém não foi quantificado no fragmento pela falta de vestígios.

Tabela 01 – Taxa (Ordem, família, espécie), nome comum e forma do registro de


mamíferos encontrados no município de Porto Vitória – PR no período de fevereiro a
julho de 2010.
TAXA NOME COMUM REGISTRO
ARTIODACTYLA
Cervidae
Mazama gouazoubira Veado-virá Pegadas, visual
Mazama americana Veado-mateiro Pegadas, visual
DIDELPHIMORPHIA
Didelphidae
Gambá-de-orelha-
Didelphis albiventris Carcaças, visual
branca
PRIMATES
Atelidae
Alouatta guariba
Bugio-ruivo Visual, vocalização
clamitans
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CARNÍVORA
Felidae
Pegadas, fezes, análise
Leopardus wiedii Gato-maracajá
escatológica
Gato-do-mato- Pegadas, fezes, análise
Leopardus tigrinus
pequeno escatológica, visual
Pegadas, fezes, análise
Leopardus pardalis Jaguatirica
escatológica
Procyonidae
Procyon cancrivorus Mão-pelada Pegadas, fezes
EDENTATA
Myrmecophagidae
Tamandua tetradactyla Tamanduá-mirim Visual, Carcaça
Dasypodidae
Dasypus novemcinctus Tatu-galinha Pegadas, tocas
RODENTIA
Dasyproctidae
Dasyprocta azarae Cutia Pegadas
Erethizontidae
Ouriço, Porco-
Sphiggurus villosus Carcaça, visual
espinho
Maciel, L. 2011.

As espécies registradas estão distribuídas em nove gêneros, nove famílias e seis


ordens, sendo Carnívora a ordem que mais se destacou em número de espécie, com
quatro representantes, Procyon cancrivorus, L. widdi, L. tigrinus, L. pardalis. Dentre a
mastofauna, os carnívoros são importantes componentes ecológicos dos ecossistemas,
controlando as populações de suas presas, influenciando os processos de dispersão de
sementes e a diversidade da comunidade (Terborgh, 1992). Segundo Redford (1992), a
eliminação dos predadores topo de cadeia alimentar pode influenciar a dinâmica das
comunidades animais e indiretamente as comunidades vegetais. A presença destes
22

carnívoros nos fragmentos pode ser um indicativo de que a área ainda proporciona
condições de pelo menos o transito destas, mesmo que temporariamente.
Rossi et. al. (2008) monitorando a mastofauna do Parque Estadual Mata dos
Godoy em Londrina-PR registraram 13 espécies de mamíferos, sendo algumas espécies
ameaçadas para o estado do Paraná; número este, próximo aos apresentados nesta
pesquisa.
Dos 96 registros de mamíferos, 33% são representados por Mazama americana,
24% Alouatta guariba clamitans e 10% Procyon cancrivorus, sendo estas, as espécies
de mamíferos com maior índice de frequência (Figura 02).
Dentre as espécies com baixos índices de frequência, estiveram Leopardus widdi
8%, Dasypus novemcinctus 7%, Mazama guaozoubira e Leopardus tigrinus com 5%,
Dasyprocta azarae, Sphiggurus villosus, Didelphis albiventris, Tamandua tetradactyla
e Leopardus pardalis com menos de 3% de frequência. Mazama americana e Dasypus
novemcinctus estiveram presentes em 100% da amostras mensais, sendo, ambas
encontradas no descampado e nas áreas de mata.

Figura 02 Frequência relativa de espécies para o município de Porto Vitoria –


Paraná, durante o período de fevereiro a julho de 2010.

Mazama guaozoubira
Mazama americana
Dasyprocta azarae
Sphiggurus villosus
Procyon cancrivorus
Didelphis albiventris
Dasypus novemcinctus
Alouatta guariba clamitans
Tamandua tetradactyla
Leopardus widdi
Leopardus tigrinus
Leopardus pardalis

Maciel, L. 2011.
23

O mês com maior número de registros diferentes foi o mês de fevereiro, onde os
fatores ambientais contribuíram para a alta diversidade, onde os registros foram obtidos
principalmente por vestígios de pegadas.
O mês seguinte (março) teve o menor índice de registros em comparação com os
outros meses, fator este diretamente relacionado com a pressão da caça, visto que, neste
mês, foram feitas varias visualizações de cães e caçadores, ficando evidente, como
mostra a Tabela 02, a baixa diversidade.
O Veado-Mateiro (Mazama americana) foi registrado em todos os meses, sendo
a maior espécie do gênero no Brasil, considerado de porte médio ou grande, o peso pode
variar de 25 a 30 quilos (Duarte, 1996). Alimentam-se de grande variedade de frutos,
flores, gramíneas, leguminosas e outros arbustos e ervas (Reis, 2006). Outro Cervidae, o
Veado-Virá (Mazama guaozoubira), foi registrado nos meses de fevereiro, abril, junho
e julho, porém, bem menos constante que o Veado-Mateiro.
Os registros de S. villosus, T. tetradactyla, D. albiventris, se deram na forma de
carcaças, sendo estas, encontradas atropeladas próximas a área de estudo, estas três
espécies se locomovem pelas árvores (pelo menos em determinadas situações), ficando
a maior parte do dia em descanso, sendo o entardecer, o horário de maior atividade
(SILVA, 1994). Didelphis albiventris, é uma espécie de porte médio, comum em áreas
urbanas e rurais. A baixa frequência desta espécie, pode não refletir a realidade do
fragmento, devido aos fatores apresentados anteriormente.
Dentre os felinos, L. widdi, foi registrado todos os meses com exceção ao mês de
março, seguido de L. tigrinus, que foi registrado nos meses de fevereiro, abril e junho,
ambos se apresentaram no fragmento de forma diferente do apresentado por Leopardus
pardalis, que foi registrado uma única vez no mês de maio. Este felino, provavelmente,
esteve de passagem, utilizando o fragmento como ponte para outros fragmentos ou
caçando.

Tabela 02 – Relação das espécies registradas e mês em que ocorreu os registros de


mamíferos (X) descritos para o fragmento de Floresta Ombrofila Mista no município de
Porto Vitoria – PR.
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ESPÉCIE ABRI JUNH JULH


FEVEREIRO MARÇO MAIO
L O O
Mazama guaozoubira X X X X
Mazama americana X X X X X X
Dasyprocta azarae X X X
Sphiggurus villosus X
Procyon cancrivorus X X X X X
Didelphis albiventris X
Dasypus novemcinctus X X X X X X
Alouatta guariba
X X
clamitans
Tamanduá tetradactyla X
Leopardus tigrinus X X X
Leopardus pardalis X
Leopardus widdi X X X X X
L. Maciel; K.P.W.A. Maciel, 2010

O teste de suficiência amostral, analisado por intermédio da curva do coletor,


evidenciou a estabilização do número de espécies do quinto para o sexto mês de estudo.
Com a continuidade do estudo, ou se incluídos outros métodos de levantamento como
armadilhas de queda para pequenos mamíferos, redes de neblina para morcegos e
armadilhas fotográfica para animais de difícil visualização é possível que o número
espécies aumente.
Conforme observado por Ciarello (1999), em uma reserva de Floresta Atlântica
o número de espécies de mamíferos cresce consideravelmente com o aumento do
tamanho do fragmento e com as diferentes técnicas de amostragens. No entanto,
distúrbios causados por seres humanos são considerados como o principal fator que
determina a diferença de riqueza e abundância de mamíferos (Lopes & Ferrari, 2000).
Com relação aos índices adquiridos com a utilização do programa Past versão
1.74 foi possível constatar os resultados apresentados pela Tabela 03.
25

Tabela 03 – Resultado dos índices de diversidade de Shannon-Wiener ; índice de


Margalef ; dominância de Pielou e equitatibilidade de Ludwing e Reynolds.

Shannon_H Margalef Dominance_D Equitability_J

1,947 2,41 0,1916 0,7836


L. Maciel, adquirido com programa Past versão 1.74; 2010

O resultado do índice de diversidade de Shannon-Wiener encontrado neste


estudo mostrou-se significativo H’= 1, 947, Lopes e Ferrari (2000), observaram que o
H’ diminuiu com aumentos nos distúrbios florestais e na pressão de caça, variando de
0,98 a 2,16, de acordo com o grau de perturbação do ambiente. Quanto maior for a
diversidade maior será as cadeias alimentares e mais casos de interações (Odun, 1988).
Devido a baixa dominância de espécies apresentada nesta pesquisa (D=0,1916),
houve um alto índice de equitabilidade 0,7836, sendo que, quanto maior for a
dominância de uma espécie sobre a outra, menor será a certeza de se encontrar alguma
espécie considerada rara. Conforme Odun (1988), uma predação moderada reduz com
frequência a densidade das espécies dominantes, proporcionando assim às espécies
menos competitivas acrescida de oportunidade de utilizar o espaço e os recursos;
evidencia-se assim a importância dos carnívoros encontrados neste estudo como o Gato-
maracajá o Gato-do-mato-pequeno a Jaguatirica e o Mão-pelada.

6. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos neste estudo evidenciam a importância dos fragmentos


florestais para a conservação das espécies de animais nos municípios de Porto Vitória,
Paraná. As presenças de espécies raras ou ameaçadas de extinção só reafirmam a
importância dos remanescentes de Floresta Ombrófila Mista no Paraná, mesmo aqueles,
relativamente pequenos, pois, podem servir de abrigo ou ponte, ligando a fauna a
fragmentos maiores.
As espécies de mamíferos presentes na região, não estão totalmente protegidos,
visto que, é comum encontrar cães (Canis familiaris), perseguindo animais da fauna
26

silvestre, juntamente com caçadores, evidenciados neste estudo. Os animais domésticos


como o gado e os cães também oferecem riscos aos animais silvestres, considerando que
são potenciais transmissores de doenças e competidores diretos por recursos
alimentares.
Outro fator de risco para a fauna local é o atropelamento, visto que várias
carcaças foram encontradas ao longo deste estudo. A caça, o contato com animais
domésticos, o atropelamento e a redução de habitats, mostraram-se ser as principais
ameaças para a população de animais silvestres locais.
No mês de fevereiro, houve maior número de registros de vestígios de
mamíferos, e o mês de março foi o qual evidenciou o menor índice de vestígios, foi
neste mês, também, que foram visualizados várias vezes a presença de cães e caçadores.
Os resultados do índice de diversidade de Shannon-Wiener H’ = 1,947 se
mostrou expressivo, porém se não houvessem fatores de impacto, possivelmente, este
índice seria maior. Houve uma baixa dominância de espécies D= 0,1916 e em
consequência um bom índice de equitabilidade 0,7836, o que é bom para a fauna local.
A presença de três espécies de felinos constatou-se através de pegadas, fezes, e
análises tricológicas. Esses registros são um indicativo de que esse ecossistema ainda
encontrasse saudável ou ainda possui as condições mínimas para o estabelecimento
destes animais.

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