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Disciplina: Auditoria Externa Governamental

Docente: Professora, Dra. Marlene Arenas


Discente: Marina Nunes Pereira

FRAUDE EM LICITAÇÃO

1. Definição de licitação
Licitação é um processo central na atuação governamental, a concretização de
muitas políticas. É por meio das compras e contratações que o governo realiza boa
parte das suas atividades. Dado o enorme poder econômico das compras públicas e
os seus variados riscos, há constante debate em torno do desenvolvimento de regras
formais que governem os contratos públicos de modo justo, dinâmico, transparente.

Muitas dessas regras exigem a licitação a licitação aberta, considerada a


maneira mais eficaz de garantir o melhor valor para o órgão comprador. Espera-se
honestidade e integridade na seleção de fornecedores, igualdade de oportunidades
para interessados e criam -se requisitos de controles internos, como documentar
decisões e processos formais de aprovação.

Por isso, a licitação é um procedimento administrativo, de observância


obrigatória pelas entidades governamentais e similares, em que, observada a
igualdade entre os participantes, deve ser selecionada a melhor proposta, uma vez
preenchidos os requisitos mínimos necessários ao cumprimento das obrigações.

Em função da elevada materialidade dos recursos, de sua importância


estratégica para o Estado na implementação de políticas públicas e dos riscos
associados à atividade de aquisição, é relevante que os órgãos compradores e
unidades de controle adotem medidas para prevenir, detectar e remediar atos de
fraudes em licitação.

2. Definição de fraude
A fraude é caracterizada pela vontade consciente do agente em provocar o
dano. Resulta do planejamento, da organização e da execução de ato ilícito,
reprovado pelas leis, pela moral e pela ética. Está acompanhada do objetivo de obter
vantagem ilegítima ou ilegal. É frequentemente praticada por meio da mentira e
dissimulação.

Em licitações, a fraude está relacionada essencialmente ao caráter


competitivo. Qualquer atitude que tenha a intenção de prejudicar a competitividade é
uma fraude ao processo licitatório. A fraude em licitações é tratada no art. 90 da lei n°
8.666/93, que tipifica como crime o ato de frustrar ou de fraudar, mediante ajuste,
combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento
licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da
adjudicação do objeto da licitação.

Cabe destacar que fraude é diferente de erro. Erro também pode causar
prejuízo, mas ocorre involuntariamente, por omissão, desatenção, desconhecimento,
má interpretação, ignorância, imperícia ou imprudência.

3. Condições de ocorrência da fraude

Segundo o triângulo da fraude, são necessários três fatores para concretizar


uma atitude fraudulenta: racionalização, pressão e oportunidade.

No primeiro vértice, como indutor fundamental, a causa essencial, está a


necessidade ou pressão do indivíduo, considerando o contexto em que o fraudador
está inserido. A pressão que leva à fraude pode ter origem pessoal ou profissional,
se reveste de fatores intrínsecos, ego, dinheiro, educação, família. Isso inclui, por
exemplo, o desejo de melhorar ou de manter o padrão de vida; dívida pessoal; metas
agressivas; bônus significativo ou outra recompensa baseada em desempenho.

O segundo vértice trata do discernimento do indivíduo sobre o certo e o errado.


É a percepção moral ao se deparar com dilemas éticos que pautarão suas atitudes
(racionalização). O fraudador precisa racionalizar os seus atos; em outras palavras,
ele tenta justificar, para si e para os outros que determinada ação não é errada ou,
caso seja, amenizar a situação, flexibilizando a ética.

O último vértice do triângulo da fraude é a percepção da oportunidade para


fraudar. É a ideia que o potencial fraudador faz do quão vulnerável o objeto está, bem
como a visualização que tem dos meios e da capacidade para a execução da fraude.
Refere-se ao grau da fraqueza na gestão de riscos do ambiente, processo ou sistema.
Está relacionado à ausência ou à ineficiência de controles internos; ausência de
fiscalização, regulamentação ou punição; ausência de segregação de funções e/ou
funções incompatíveis com as responsabilidades dos cargos; influência da
administração.

4. Meios de comprovação da fraude em licitação

Provar que uma fraude aconteceu ou está acontecendo não é tarefa fácil. Para
comprovar a fraude, será necessário refinar e treinar a percepção para encontrar
indícios ou elementos que possam levar à convicção de uma licitação simulada,
fraudada, direcionada. E convencer os outros de que sua convicção é válida.

Para comprovar a ocorrência de uma fraude na Administração Pública, o


auditor, por exemplo, avalia atos e fatos administrativos. Assim, ao finalizar o seu
relatório, ele emite o seu parecer sobre a regularidade das situações analisadas, no
caso das auditorias de conformidades, ou quanto a seus resultados, nos trabalhos de
auditorias operacionais.

O trabalho do auditor tem poder de provocar consequências extremamente


significativos na vida de cidadãos e de instituições. É principalmente por isso que seu
parecer deve estar embasado em elementos que permitam a qualquer usuário da
informação chegar às mesmas conclusões.

O auditor governamental não só tem que expor a sua conclusão e emitir


recomendações, como também tem o dever de demonstrar em que ele se
fundamentou. Por isso sua atuação é pautada por dois elementos: evidências e
indícios.

Assim, tanto o indício quanto a evidência dão conta da discrepância entre uma
situação encontrada e um critério. Entretanto, o indício trata-se de uma situação que
ainda não foi devidamente investigada ou suficientemente documentada.

Sintetizando, é possível admitir que um conjunto consistente e coerente de


indícios, vários e convergentes, constitui prova de fraude. Em licitação, exemplos que
podem compor um conjunto consistente de indícios de fraude são: empresas em
nome de beneficiário de programas sociais; empresas sem funcionários, sem
estrutura, logística, movimento econômico; divergência de assinatura de uma mesma
pessoa em documentos distintos; documentos de empresas distintas emitidos em
sequência, no mesmo momento; mesmo erro ortográfico ou gramatical em
documentos de concorrentes; mesmo padrão de formatação em documentos
apresentados por empresas diferentes.

5. Responsabilidade do auditor em fraudes


Condutas irregulares numa licitação podem ensejar punições aos agentes
envolvidos, tanto públicos quanto privados, assim como às empresas. As penalidades
previstas são de diversas naturezas, desde administrativas até criminais.
Essa possibilidade punitiva visa, em síntese: i) restaurar o equilíbrio no
ordenamento jurídico a partir da imposição de penalidades; ii) desestimular a prática
de atividades ilícitas; e iii) reforçar o cumprimento das disposições legais (CGU,
2017).
Nesse contexto, a autoridade competente não pode deixar de apurar as
infrações de que tomar conhecimento e, se confirmadas, aplicar a sanção pertinente.
O gestor responsável por conduzir licitações deve autuar processo administrativo com
vistas à apenação das empresas que praticarem ato ilegal tipificado no regulamento
licitatório correspondente. Gestor que se omite pode vir a ser responsabilizado.
6. Principais tipologia de fraudes em licitação

6.1 Projeto mágico

Uma licitação só pode ser realizada com especificação clara do que se


pretende contratar. É o que se chama, geralmente, de Projeto Básico (PB), definido
como o conjunto de elementos necessários e suficientes para caracterizar o objeto,
que possibilite a avaliação do custo e a definição dos métodos e do prazo de execução
(art. 6º, IX, Lei nº 8.666/1993). No Pregão, adota-se a expressão Termo de Referência
(TR), mas o conceito é o mesmo.

6.2 Edital restritivo

O edital é o instrumento que estabelece as regras específicas de uma licitação.


Fixa condições de participação dos licitantes, desenvolvimento da disputa, julgamento
e futuro contrato. É conhecido como a “lei interna” da licitação, vinculando tanto os
compradores quanto os licitantes.
6.2.1 Garantia de proposta para controle de interessados

Editais restritivos, especialmente na modalidade Concorrência, exigem


garantia “de proposta" ou “de participação” recolhida com antecedência em relação à
abertura do certame. Vários casos limitam o tipo de garantia, como, por exemplo,
somente caução em dinheiro.

6.2.2 Capacidade econômica exagerada

As diretrizes para as exigências de qualificação econômico-financeiras são


descritas de maneira didática na Instrução Normativa SEGES nº 03/1998
(Regulamento do SICAF):

Art. 22. A comprovação de boa situação financeira da empresa será


constatada mediante obtenção de índices de Liquidez Geral (LG),
Solvência Geral (SG) e Liquidez Corrente (LC).
6.2.3 Idoneidade financeira ou bancária

Há editais que exigem declaração ou atestado de idoneidade financeira ou


idoneidade bancária, emitidos por entidade bancária, em nome da empresa licitante
e até mesmo em nome de seus sócios e administradores. Mas essa exigência não
está prevista em lei e, portanto, é irregular. Vide os Acórdãos TCU nºs 2.056/2008-P
e 2.179/2011-P.

6.3 Publicidade precária

É uma premissa bastante comum da economia, especialmente da teoria dos


leilões, o fato de que quanto mais fornecedores, ou seja, quanto maior a oferta,
menores os preços. Isso também pode funcionar em compras públicas. Estudos
apontam nessa direção de forma consistente.

6.3.1 Aviso genérico ou enganoso

Embora exista a obrigação de publicar de modo amplo e irrestrito, ainda é


comum encontrar licitações sem a divulgação adequada, seja em jornais, seja na
internet. E mesmo quando são publicados os avisos, podem vir de maneira pouco
atrativa ou compreensível.

6.3.2 Aviso falso


Uma forma sofisticada de fraude é a publicação fictícia. Uma reportagem do
“Fantástico”, da Rede Globo, abordou um caso desses. Segundo as investigações,
uma prefeitura do estado do Rio de Janeiro conseguia criar aparência de legalidade
forjando avisos de licitação num Jornal local. O pulo do gato: o jornal disponível para
venda nas bancas não era o mesmo do processo.

6.3.3 Aviso intempestivo

A publicação do aviso de licitação deve respeitar o prazo mínimo de


antecedência em relação à data prevista para abertura das propostas
(tempestividade) e ocorrer nos meios de comunicação adequados.

6.3.4 Edital “caça ao tesouro”

O ente contratante pode reduzir a competitividade da licitação ao dificultar o


acesso ao edital, mesmo publicando o aviso em todos os meios previstos na lei. Para
isso, criam-se obstáculos e requisitos dispendiosos para eventuais interessados
tomarem conhecimento e preencherem condições para a efetiva participação na
disputa. Como nesse caso real, uma verdadeira via crucis para participar de licitação.

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