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Cordel das Cordas Populares: Entrevista – Thiago Brisolla

Link de vídeo sobre o projeto: https://www.youtube.com/watch?v=eu5EnAwh4ic

1) ano que vc trabalhou no projeto?

Foi durante o ano de 2019. Infelizmente a instituição onde as aulas eram dadas tiveram
suas atividades suspensas ao final de novembro de 2019, logo antes da última aula do
projeto Cordel das Cordas Populares. A última aula foi literalmente dada na rua.

2) nome do projeto

“Cordel das Cordas Populares”. Um projeto de ensino do gênero popular brasileiro Forró
para instrumentos de cordas através de Literatura de Cordel e ensino de dança, voltado
para crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social.

3) local onde funcionava

Funcionava no Projeto Socioeducacional SOARTE, no centro de São Paulo.

4) quantos alunos vc tinha

21 alunos.

5) qual mais ou menos a faixa etária deles e condição social

Dos 12 aos 35 anos. Todos os alunos do projeto eram de situação de vulnerabilidade social,
alguns com dificuldades financeiras, outros com problemas de aprendizagem, outros com
histórico de abusos e violências sexuais, físicas ou psicológicas etc. A maioria era residente
da região central de São Paulo, alguns moravam em ocupações.

6) eram só violinos e depois vc colocou viola e cello, né?

A minha proposta inicial era que fossem aulas de ensino coletivo de violino e viola. Mas na
mesma reunião de professores em que trouxe o projeto por escrito, o nosso coordenador
pedagógico, Levi Fernando, muito empolgado já propôs que fossem inseridos alunos de
violoncelo e contrabaixo. A principal razão dessa inclusão deveu-se ao fato de se tratar de
aulas de ensino de música popular brasileira, assunto pelo qual os alunos de cordas como
um todo demonstravam muito interesse em aprender, mas que não haviam encontrado
professor que ensinasse. Inclusive, dentre os alunos do curso estavam os outros
professores de cordas do Projeto, tamanho o interesse em aprender.

7) por que vc pensou em trabalhar com cordel

Durante minha graduação na USP ganhei uma bolsa para conhecer alguns projetos
educacionais na Humboldt-Universität zu Berlin. Essa bolsa me foi dada a partir de meu
trabalho de Iniciação Científica sobre ideias de modernização de metodologia de ensino da
técnica pura do violino, aprendizagem motora e memorização. Durante a viagem participei
da Berlin Science Week, e conheci alguns projetos educacionais de áreas completamente
diferentes da área de Música, deparando-me com alguns profissionais que usavam
Contação de histórias para o ensino de suas disciplinas. Logo me lembrei que o Cordel,
historicamente, é usado no Brasil como meio de ensino nas escolas, principalmente no
Nordeste brasileiro, e a ideia do projeto veio naturalmente, com uma conta de somar:
peguei as ideias desenvolvidas na minha própria pesquisa, acrescentei à minha paixão pela
escrita criativa e dança, aos conceitos inspiradores vistos em Berlim, e aproveitei a
oportunidade dentro do projeto SOARTE, um projeto que era repleto de profissionais com
a mente muito aberta a inovações na área de educação.

8) quais as principais vantagens de vc notou em relação aos métodos tradicionais

O aprendizado era muito divertido e muito fácil de fixar. Primeiro porque tudo o que era
ensinado, era através da dança. Todos os ritmos eram apreendidos com o corpo, com
passos de forró ou palmas, em roda. A classe era muito receptiva e interessada em
aprender. Segundo, porque todas as situações retratadas nas histórias em formato de
Cordel, lidas em sala de aula, de alguma forma viravam conteúdo. O nome de um
personagem, por exemplo, virava uma rítmica. Uma situação engraçada virava um
lembrete de como golpear o instrumento. Aos poucos fomos formando um repertório de
vocabulário completamente nosso, para nos referirmos à técnica do instrumento e à
produção de som. O resultado foi incrível: alunos de 1 ano de instrumento tocando e
improvisando sobre escalas, com muita naturalidade e alegria.

9) quais as principais dificuldades que vc teve

Ainda é difícil para mim falar sobre tudo isso, por conta da maneira triste como tudo
acabou, ainda mais nesse momento. Mas bem, a maior dificuldade foi com questões de
fora da sala de aula: como dito, o projeto acabou sendo suspenso, pois o SOARTE teve suas
atividades interrompidas, por conta de uma troca na chefia da Fundação Mary-Harriet
Spears, que cuidava da escola. Todos os professores do projeto foram demitidos em
novembro de 2019, 4 dias antes da última aula (último episódio do cordel), uma semana
antes das apresentações de final de ano, algumas preparadas durante o ano todo. As
crianças, especialmente, ficaram desoladas, pois aguardavam ansiosamente pelo desfecho
da história, para serem vistas no palco – muitas delas invisíveis para a sociedade.
Mas quanto às dificuldades dentro da sala de aula, as principais se deram pela
heterogeneidade dos níveis dos alunos em sala de aula. Alguns muito iniciantes, outros,
avançados. As aulas eram dadas em 3 níveis de dificuldade para uma mesma sala, para dar
conta de todas as individualidades. Além disso, alguns alunos tinham dificuldades de
aprendizagem, mas ainda que o nível no instrumento não fosse alto, eles todos se
contentavam em participar, rir das histórias, jogar os jogos e, principalmente, dançar
forró!

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