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ISSN 1982-1557

9 771982
n°5 - Ano 4

revista de pesquisa, ensino e extensão do CAp-UFRJ


distribuição gratuita - não pode ser vendido

Entrevista
com Letícia Monteiro Gonçalves,
participante do NIC Jr.

Cinema e Sociologia Mundo Digital


preocupações e desaios
oicina pedagógica de Ciências Sociais

Informática e
Estilística Funcional
uma proposta para o ensino da língua estrangeira Desenho
Software de geometria dinâmica

Espaço Virtual A formação do futuro professor


auxiliando a Matemática
A condição do estagiário
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Reitor
Aloísio Teixeira

Vice-reitora
Sylvia da Silveira de Mello Vargas

Pró-reitor de Graduação
Belkis Valdman

Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa


Angela Uller

Pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento


Carlos Antonio Levi da Conceição

Pró-reitor de Pessoal
Luiz Afonso Henriques Mariz

Pró-reitor de Extensão
Laura Tavares Ribeiro Soares

Centro de Filosoia e Ciências Humanas


Decano
Marcelo Macedo Corrêa e Castro

Colégio de Aplicação
Diretora Geral
Celina Maria de Souza Costa

Vice-Diretora
Miriam Abduche Kaiuca

Diretores Adjuntos de Ensino


Angela Alves da Fonseca
Marcelo da Silva Bueno
Mario Jacinto Ferraro Junior
Rowilson Aparecido da Silva

Diretores Adjuntos de Licenciatura, Pesquisa e Extensão


Fábio Garcez de Carvalho
Maria Luiza Mesquita da Rocha
JORNALISTA RESPONSÁVEL
3 Entrevista
Letícia Monteiro Gonçalves
Juliana Ennes

EDITOR A CHEFE
Teresa Coutinho Andrade
6 Matemática
Moodle no ensino da matemática
VICE-EDITOR A Daniella Assemany, Fernando Villar, Leo Akio,
Cristiana Madanêlo Letícia Rangel, Lílian Spiller e Priscila Dias

PRODUÇÃO GR ÁFICA
Juliana Montenegro
Raphael Borges
12 Opinião
FOTOGR AFIA Licenciatura
Silmar Marques André Barbosa Fraga

REVISÃO
Maria Luiza Rocha

APOIO
16 Sem fronteiras
Fábio Garcez
Cabeças Digitais em ação
Maria Luiza Rocha Rosane de Albuquerque dos Santos Abreu
Tiago Lisboa Bartholo

ILUSTR AÇÃO
Cora Ribeiro 21 Na prática
Fabrício Lopes e Silva Novas possibilidades da prática de ensino
Juliana Montenegro
Alexandre Barbosa Fraga, Anita Handfas, Marcos Tognozzi

BOLSISTA DE INICIAÇÃO e Rocha, Nadia Maria Moura Bastos e


ARTÍSTICA E CULTUR AL Victor Nigro Fernandes Solis
Fabrício Lopes e Silva
Juliana Montenegro

CONSULTORES TÉCNICOS 27 Inglês


Alessandra Carvalho (Ciências Sociais) Estilística, Literatura e Inglês
Isabel Cunha (Inglês)
Marlene Medrado (Desenho Geométrico) como língua estrangeira
Marly Motta (História) Sonia Zyngier e Vander Viana
Victor Giraldo (Matemática)

33 Desenho goemétrico
O software Tabulae no CAp UFRJ
Vania Maria Rocha Gomes Hozumi

38 Resenha
Entre Áfricas e Brasis
Mônica Lima

40 Notas
Aconteceu no 2° semestre de 2008
Caro Leitor
É sempre com muita alegria que chegamos a mais um número de nossa revista PERSPECTIVA CAPIANA: o
quinto . Por meio dela, nossa comunidade educativa apresenta importantes contribuições acadêmico-culturais, fruto
de nosso trabalho cotidiano.

A presente edição inicia-se com uma entrevista a Letícia Monteiro Gonçalves, atualmente aluna do terceiro ano do
ensino médio. Ela ganhou em 6 de outubro último o prêmio de melhor apresentação no XI Seminário de Vocação
Cientíica (PROVOC) do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), com o trabalho intitulado “A alumina porosa
como molde para nanofabricação: principais usos e práticas de preparação de laboratório”, resultado de seu trabalho de
Iniciação Cientíica Júnior no CBPF, sob orientação do professor José Gomes Filho.

A seguir, apresentam-se três artigos produzidos por setores curriculares do colégio, um artigo de Opinião, um da seção
Sem fronteiras e, inalmente, uma Resenha.

Do Setor Curricular de Matemática, “O Moodle no ensino da matemática” apresenta uma experiência singular na
educação básica. Trata-se da criação de uma plataforma/espaço virtual em que os alunos interagem entre si e com os
professores para estudar, aprender, exercitar e tirar dúvidas nessa disciplina.

Em “Estilística, Literatura e Inglês como Língua Estrangeira”, os professores Vander Viana e Sonia Zyngier apresentam
uma interessante proposta para o ensino de Inglês no CAp-UFRJ, através da perspectiva da estilística de base funcional.

O artigo “O software Tabulae no CAp-UFRJ”, de autoria de Vânia Gomes Hozumi, professora do Setor Curricular de
Desenho Geométrico, relata a experiência do uso de um software de Geometria Dinâmica nas aulas práticas de desenho.

Na seção Sem fronteiras o artigo “Cabeças digitais em ação”, de Rosane Abreu, nossa ex-orientadora do Serviço de
Orientação Educacional, nos leva a reletir sobre as preocupações e desaios para familiares e docentes diante do uso
da Internet feito pelos jovens.

Em Na prática, o artigo “Novas Possibilidades da Prática de Ensino de Ciências Sociais”, de Alexandre B. Fraga, Anita
Handfas, Marcos T. Rocha, Nadia Maria M. Bastos e Victor N. F. Solis, relatando uma experiência de uso do cinema
nas aulas de sociologia, interessa também a outras disciplinas que fazem uso na sala de aula da invenção dos irmãos
Lumière.

Na seção Opinião, conta com a relexão de André Barbosa Fraga, licenciando de história durante o ano passado, sobre
a condição de estagiário. Em um colégio de aplicação, espaço de prática para futuros professores, relexões como essa
fazem-se evidentemente pertinentes.

Finalmente, encontra-se a Resenha da professora Mônica Lima (Setor Curricular de História) de um livro de tema
atualíssimo - África.

E aproveitamos para esclarecer que a revisão de todos os textos ainda não se apresenta conforme o Novo Acordo
Ortográio, cujas regras serão única e exclusivamente aceitas em janeiro de 2013.

Teresa Coutinho Andrade


Editora-chefe
perspectiva@cap.ufrj.br
entrevista
Letícia
Monteiro
Gonçalves
Aqui, Perspectiva entrevista Letícia
Monteiro Gonçalves, aluna do terceiro ano
do ensino médio do CAp-UFRJ, participante
do NIC-Jr e ganhadora do prêmio de
melhor apresentação no XI Seminário de
Vocação Cientíica do Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas. Seu trabalho é fruto de
uma pesquisa em nanotecnologia, cujas
sementes foram lançadas há cinqüenta

Foto Silmar Marques


anos, 1959, em uma palestra no Instituto
de Tecnologia da Califórnia, intitulada
“Há muito espaço lá embaixo”, do físico
Richard Feynman. Este sugeria que, em um
futuro não muito distante, os engenheiros
poderiam pegar átomos e colocá-los onde
bem entendessem, desde que não fossem
PERSPECTIVA: Explique brevemente o que vem a
violadas as leis da natureza. Com isso, ser nanotecnologia.
materiais com propriedades inteiramente
Letícia: Nanotecnologia é uma área da ciência que tem
novas poderiam ser criados. por objetivo criar novas estruturas e materiais a partir de
uma escala nanométrica (1 nanomêtro = 10^(-9) m), ou
seja, em uma escala atômica.
PERSPECTIVA: Como foi seu o trabalho
desenvolvido no projeto do NIC Jr? PERSPECTIVA: Pode nos explicar o que é o NIC-jr?

Letícia: Ele consistiu em uma pesquisa na área da Letícia: É um programa onde os alunos podem ter
nanotecnologia, focada na preparação e uso da alumina contato com a pesquisa cientíica dentro da área em que
porosa (óxido de alumínio). têm interesse em estudar.

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


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entrevista


PERSPECTIVA: Sabemos que esse projeto lida com
a pesquisa básica. Você poderia, em linhas gerais,
explicar a importância desse nível de pesquisa? A nanotecnologia me
Letícia: Como o próprio nome diz, esse nível é a base interessou bastante.
de qualquer pesquisa. Ele permite, ao estudante, uma
maior compreensão de como a prática é aplicada na área Como na pesquisa
e lhe dá os conhecimentos básicos necessários para as
pesquisas mais avançadas.
trabalhei tanto com
Física, como também
PERSPECTIVA: Quais são as possíveis aplicações
futuras de sua pesquisa? com muita Química,
estou na dúvida


Letícia: Ela pode ser aplicada na nanofabricação,
visando possíveis aplicações, por exemplo, em novas
mídias magnéticas, materiais com novas propriedades
entre as duas áreas.
ópticas e na miniaturização de dispositivos eletrônicos,
spintrônicos e optrônicos.

PERSPECTIVA: O que representa sua participação Como na pesquisa trabalhei tanto com Física, como
no NIC para sua formação escolar? também com muita Química, estou na dúvida entre as
duas áreas.
Letícia: Essa participação me ajudou não só a ter mais
certeza das matérias que a tenho vocação e com as quais PERSPECTIVA: Explique a dinâmica das
tenho ainidade, mas também a desenvolver o conteúdo atividades desenvolvidas no projeto.
da matéria dada em sala., com que por vezes, eu já havia
tido um contato na pesquisa. Letícia: O professor me ensinava a teoria e depois
(se desse tempo, no mesmo dia) já íamos para a parte
PERSPECTIVA: Como você foi selecionada para o prática. Ele me ensinava a como usar tudo e como as
projeto? coisas deveriam ser feitas. Nas primeiras vezes ele me
acompanhava, e depois eu já era capaz de fazer sozinha
Letícia: A professora Marta, que era minha professora o que ele ia me pedindo.
de Física, me levou ao NIC Jr. para tentar a vaga que
estava aberta para o projeto de física. Tive que preencher PERSPECTIVA: Com que freqüência você tinha de
alguns documentos e depois fui chamada para a ir ao laboratório?
entrevista. Não achei que tivesse ido muito bem, mas
fui selecionada. Fui chamada ao CBPF novamente, Letícia: Eu ia uma vez por semana, às quartas. E
para uma entrevista com o orientador. O projeto me passava a tarde lá.
interessou e, então, passei a fazer parte dele.
PERSPECTIVA: O que efetivamente você fazia no
PERSPECTIVA: Como é sua relação com o professor laboratório?
orientador do projeto?
Letícia: Eu preparava amostras e soluções.
Letícia: Nossa relação foi muito boa. O professor
Gomes é muito simpático e tranqüilo. Ele explica bem PERSPECTIVA: Lá você freqüentava a biblioteca?
e o projeto transcorreu de forma bem satisfatória. Até
hoje nos falamos de vez em quando. Letícia: Sim, eu pude fazer cadastro e pegar livros.

PERSPECTIVA: A participação no projeto PERSPECTIVA: Aprendeu alguma técnica nova


inluenciou/inluenciará em sua opção de carreira (no computador, por exemplo)?
para o vestibular?
Letícia: As técnicas novas que aprendi foram sobre
Letícia: Sim. A nanotecnologia me interessou bastante. utilização dos aparelhos que eu usava no laboratório.

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entrevista
PERSPECTIVA: Interagia com outros alunos? Letícia: Sim, li alguns periódicos e artigos em inglês.
PERSPECTIVA: Já existe alguma aplicação para as
Letícia: Sim, havia outros alunos no projeto, mas eles nanoestruturas que vocês, na pesquisa, produziram?
já eram de graduação e realizavam a mesma pesquisa, só
que de uma maneira mais avançada, como, por exemplo, Letícia: Sim, a membrana de alumina porosa pode servir
a miniaturização de dispositivos eletrônicos. de matriz para a fabricação de várias nanoestruturas,
que por conseqüência terão diversas aplicações.
PERSPECTIVA: Você recebia alguma ajuda de
custo para se deslocar até o local da pesquisa? PERSPECTIVA: Atualmente você está participando
de algum outro projeto? Qual?
Letícia: O NIC-Jr disponibiliza aos alunos uma van para
ir e voltar do lugar de pesquisa. Além disso, recebia uma Letícia: Infelizmente não, devido ao curto tempo livre
ajuda de custo de 10 reais a cada dia que eu ia para o que o terceiro ano me disponibiliza.
estágio.
PERSPECTIVA: Você pretende dar continuidade a
PERSPECTIVA: Para realizar o trabalho você esse estudo em algum projeto ou trabalho na área
precisou de muitos conhecimentos de Física e das ciências?
Química que ainda não tinha estudado no colégio?
Letícia: Eu pretendia continuar o mesmo projeto esse
Letícia: Não muitos, mas o professor me ensinou o ano, mas como estou no último do colégio, o professor
que eu não sabia e fez uma revisão sobre o que eu não me aconselhou a não fazê-lo. Ele disse que era melhor eu
lembrava. investir em estudar para passar para uma boa faculdade
e depois voltar para fazer iniciação cientíica, como
PERSPECTIVA: O que você vinha estudando no aluna de graduação. Mas pretendo trabalhar na área de
colégio lhe ajudou de alguma forma no seu trabalho nanotecnologia, sim.
na pesquisa?
PERSPECTIVA: O que você diria para quem está
Letícia: Com certeza. O conhecimento básico interessado em participar do NIC-Jr?
necessário à pesquisa eu havia aprendido no colégio.
Letícia: Diria que a pessoa pode aprender muito e
PERSPECTIVA: Você teve de ler textos em língua descobrir o que realmente é feito dentro da área de
estrangeira? Em caso airmativo, qual? pesquisa de seu interesse. Portanto, aconselharia a
participar.

Foto Silmar Marques Letícia Monteiro Gonçalves é aluna do


Prof. Marta Máximo, Letícia M. Gonçalves e Prof. José Gomes Filho terceiro ano do Ensino Médio do CAp UFRJ.

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matemática

O MOODLE
NO ENSINO DE
MATEMÁTICA
UMA EXPERIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Daniella Assemany
Fernando Villar
Leo Akio
Letícia Rangel
Lílian Spiller
Priscila Dias
Ilustração: Fabricio Lopes e Silva

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matemática
E sta reportagem tem por inalidade apresentar
o trabalho da experiência do Setor Curricular de
A introdução de novas tecnologias na escola levanta
a necessidade da aquisição de novos conhecimentos e
Matemática do Colégio de Aplicação da UFRJ, com
a utilização do Moodle – um espaço virtual de ação competências, que exigem o seu domínio especíico, mas
pedagógica que objetiva a aprendizagem e o trabalho propicia igualmente uma relexão mais geral sobre os
colaborativo – em sua atuação no Ensino Básico e na objetivos e as práticas educativas. [...] Assim, os professores
Formação de Professores. Relatamos formas distintas que desejam uma postura relexiva não têm outra alternativa
de utilização do Moodle como ferramenta de apoio ao senão envolverem-se eles próprios em experiências marcadas
processo de ensino-aprendizagem na educavção básica pelo pioneirismo, desbravando caminho, no quadro de projetos
e na orientação de professores de Matemática de nível inovadores de desenvolvimento e de pesquisa. (PONTE,
básico em processo de formação, nosso aprendizado com
1992, p.31)
esta utilização e a avaliação que fazemos até o momento.
Em destaque, a concepção de cursos on-line em apoio
à prática pedagógica regular no âmbito do Ensino
Básico, promovendo a ampliação da comunicação
entre alunos e alunos e entre professores e alunos; o Na maioria das vezes, os ambientes virtuais que
armazenamento e a organização de dados acadêmicos; representam os espaços de uma escola têm, como função
o acesso a estratégias diferenciadas de aprendizagem; o principal, a missão de sustentar o desenvolvimento de
estabelecimento de formas diferenciadas de avaliação; atividades educacionais em que professores e estudantes
e o desenvolvimento colaborativo de projetos coletivos encontram-se geograicamente distantes. Além disso, a
que também inclui os licenciandos de Matemática que maioria das experiências de ensino a distância destina-
desenvolvem seu estágio supervisionado no colégio. se à formação de nível superior ou à qualiicação
proissional especíica.
Palavras-chave: novas tecnologias; ensino de Matemática,
O desaio que se impõe à comunidade escolar é a
ensino básico.
adequação a essa transformação, promovendo a
discussão e a pesquisa com esse foco. A relexão não
O CAp–UFRJ, como um órgão suplementar do Centro deve buscar qualiicar o modelo que se apresenta como
de Filosoia e Ciências da Natureza da UFRJ (CFCH), positivo ou negativo, mas avaliar como ele pode e deve
tem como inalidade ensino, pesquisa e extensão ser utilizado para enriquecer as práticas pedagógicas.
na área de Educação Básica, constituindo-se em
campo de estágio supervisionado para a formação de Sob a nova perspectiva de comunicação e sua
proissionais em Educação e áreas ains. Dessa forma, interferência inequívoca nos processos de formação e
o Setor Curricular de Matemática do CAp–UFRJ atua, aprendizagem, o desaio que abraçamos é explorar as
propondo ações pedagógicas, de pesquisa e de extensão, possibilidades de utilização de um ambiente virtual de
no Ensino Básico e na formação de professores de gestão de aprendizagem e de trabalho colaborativo na
Matemática. prática regular de uma escola de Ensino Básico e, em
especial, na aprendizagem de Matemática.
Aos alunos do CAp–UFRJ são oferecidos, na grade
curricular do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano Iniciamos nossa investigação coletando informações
do Ensino Médio, apenas quatro tempos semanais de sobre a rotina dos estudantes fora do horário escolar,
Matemática, o que equivale a cerca de 13,3% da grade buscando identiicar sua relação com a tecnologia digital.
curricular. Entendemos que, com essa carga horária, Observamos que os estudantes do CAp–UFRJ passam
é necessário muito esforço para atingir, sem prejuízo grande parte do seu tempo utilizando o computador.
da qualidade, os objetivos propostos para o ensino de Além da prática de jogos eletrônicos, eles desenvolvem
Matemática na Educação Básica. uma comunicação virtual intensa e freqüente. Conciliam,
por exemplo, as atividades de ouvir música, escrever uma
Diante desse panorama, reletimos sobre as possibilidades mensagem eletrônica, participar de um jogo na internet,
de ampliação do contato dos alunos com a Matemática, visitar páginas de seu interesse e estudar. Contudo, esta
garantindo qualidade e interesse, sem necessariamente última tarefa, mais rara, aparece dissociada, em muitos
exigir ampliação ou alteração de grade curricular. casos, das demais atividades.

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matemática
Investimos, então, em proporcionar um encontro dos Nesse propósito, mantendo uma postura investigativa,
estudantes com a Matemática, inserindo nossa atuação os docentes do Setor Curricular de Matemática do
pedagógica na sua realidade e rotina. Acreditamos CAp–UFRJ e seus alunos têm utilizado o Moodle, de
que, se os alunos puderem ter contato acadêmico com forma progressiva, como um recurso do processo de
a disciplina em um ambiente virtual, sem que fosse ensino-aprendizagem que visa aumentar a qualidade da
preciso se “desconectar” das atividades rotineiramente interação com os conteúdos acadêmicos e o contato entre
realizadas e respeitando a comunicação determinada os professores e estudantes. Não centramos a observação
nesse ambiente, estabeleceríamos um espaço numa atividade especíica, mas como ferramenta da
extraordinário para ampliar de formas qualitativa e rotina acadêmica, ou seja, observamos a utilização dessa
quantitativa a aprendizagem da Matemática. ferramenta como parte do nosso cotidiano e do nosso
planejamento didático. Ressaltamos, ainda, o nosso
Em março de 2005, com o apoio do Núcleo de entendimento de que as atividades que serão relatadas
Computação Eletrônica da UFRJ, iniciamos a utilização aqui não podem ser classiicadas como ensino a distância
de um ambiente virtual de gestão de aprendizagem e no seu senso mais geral. Os envolvidos no curso não
de trabalho colaborativo – o Moodle (Modular Object- estão geograicamente distantes e mantêm uma rotina
Oriented Dynamic Learning Environment). Começava acadêmica tradicional de uma escola de Ensino Básico.
aí nossa investigação sobre as possibilidades e limitações
de situações de ensino-aprendizagem no Ensino Básico Em nossa prática, temos consciência de que estamos
frente à comunicação contemporânea apoiada por esta dando os primeiros passos na direção das possibilidades
plataforma educacional. dessa ferramenta no processo de ensino-aprendizagem de
Matemática no Ensino Básico. Muito há que se explorar.
Em nossos cursos on-line, síncronos ou assíncronos,
O Moodle no Ensino de Matemática no privilegiamos a comunicação entre alunos e alunos/
CAp–UFRJ professores e alunos; o desenvolvimento colaborativo
de projetos coletivos, armazenamento e a organização
de dados acadêmicos. Há necessidade de estratégias
O Moodle é uma ferramenta CSCL diferenciadas de ensino-aprendizagem para cada série
(Computer Supported Collaborative Learning) escrita ou segmento da educação básica. Priorizamos atenção
em php (http://www.php.net) habilitada a promover às ações em que podemos garantir gerência consciente e
aprendizado colaborativo na internet. (Mattos, 2008, análise criteriosa em respeito às especiicidades da etapa
acadêmica.
p.2)

A utilização do Moodle pelo Setor Curricular de


Matemática do CAp–UFRJ no processo ensino-
aprendizagem converge para o entendimento de que a
incorporação de um novo recurso deve se desenvolver
gradativamente e com qualidade.

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matemática
Experiências de Ensino e Aprendizagem e dão margem a diversas abordagens construtivas com
os alunos.
com o Apoio do Moodle

No CAp–UFRJ, o uso do Moodle para o ensino de


matemática atinge cerca de 500 alunos do Ensino
Básico. Assim, diante da inquestionável preocupação
em relação à ética e ao uso correto da internet, como
política de segurança, exige-se dos estudantes um
cadastramento em que sejam identiicados pela turma a
que pertencem. Essa estratégia se mostra útil no controle
e reconhecimento, por parte dos administradores da
plataforma, das ações e identidades dos participantes
cadastrados, sejam eles atuantes ou não. Munidos
de cadastramento e inscrição, os estudantes passam
a ter acesso à plataforma educacional de qualquer
computador com acesso à internet.

Nesta apresentação destacamos os resultados


observados em duas ações distintas do percurso
acadêmico que coniguram aspectos de dimensões
diferentes nas possibilidades desse recurso.

8º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

O curso on-line oferecido a alunos do 8º ano/EF propõe


observar os resultados obtidos com uma atividade
de apoio identiicada como Monitoria. A Monitoria é
gerenciada, sob a supervisão do professor da turma,
por alunos voluntários de séries mais avançadas e se
caracteriza pela oferta de links e referências para a
realização de atividades/tarefas propostas e pela oferta
de ajuda pedagógica on-line.

Os estudantes postam seus questionamentos em um


fórum de discussão denominado Fórum de Dúvidas. As
respostas às questões podem vir de qualquer participante Figura 1: Parte de uma discussão no Fórum de Dúvidas do curso
do grupo (professor da turma, monitores e alunos em on-line do 8º ano/EF.
geral). Com a conclusão do desenvolvimento de uma
discussão, são eleitas, pelos monitores, argumentações
e construções que revelem enriquecimento do processo Essa dinâmica tem se mostrado muito eiciente no
de ensino e efetiva aprendizagem. São, ainda, elencadas incentivo à participação e à prática de escrita matemática
as principais diiculdades de aprendizagem denunciadas por parte dos estudantes de Ensino Básico e tem
pela discussão. Munidos desse acervo, professor, sedimentado a legitimação do Moodle. Percebemos
monitores e licenciandos desenvolvem estratégias e alunos mais interessados e um processo de ensino–
atividades pedagógicas de atuação. aprendizagem mais consonante com a comunicação do
mundo contemporâneo.
Na Figura 1, observa-se parte de uma discussão criada
por uma aluna da turma Gauss no Fórum de Dúvidas.
2º ANO DO ENSINO MÉDIO
Tanto os monitores (turma Fourier) quanto a professora
(Daniella) fazem intervenções com a intenção de instigar
o raciocínio e averiguar o entendimento do conteúdo Diante de estudantes no meio de sua formação de
abordado. Resultados como estes são muito produtivos Ensino Médio, o objetivo especíico da utilização da

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matemática
plataforma Moodle vai ao encontro da demanda pela
eicácia na relação tempo de dedicação/qualidade do
estudo. Dentre as diferentes atividades realizadas pelos
alunos do 2º ano do Ensino Médio em 2007, destacam-
se a resolução de listas de exercícios em páginas de
edição colaborativas (wiki) e testes on–line (TOL).

A prova do 1º bimestre/2007 foi realizada em sala de


aula, mas foi oferecida aos alunos a oportunidade de
conquistar uma pontuação extra para compor a nota.
Para isso seria necessário que os alunos apresentassem
no Moodle, via wiki, soluções das questões da prova
em uma lista de exercícios disponibilizada a partir da
data de aplicação da prova. O prazo estipulado para
conclusão da tarefa foi de dois dias. Após esse prazo a
colaboração na wiki não foi mais permitida e o gabarito
oicial foi divulgado. Cada aluno poderia responder a, no
máximo, uma pergunta. Caso alguma solução estivesse
errada ou incompleta, outro aluno poderia apresentar
uma complementação ou solução alternativa, porém
não poderia alterar a resposta dada pelo outro aluno. Os
alunos foram instruídos a utilizar cores diferentes para
facilitar a identiicação de suas soluções.
Figura 2: Parte de uma wiki do curso on-line do 2º ano/EM.

A Figura 2 apresenta um trecho da resolução da 3ª


questão da prova, no qual dois alunos apresentam prática e que reletem o compromisso do corpo docente
soluções complementares. do Setor Curricular de Matemática do CAp–UFRJ com
a produção de conhecimento. Optamos por divulgar
Observou-se uma participação ativa na resolução os resultados e as conclusões obtidas a partir da nossa
da tarefa, principalmente pelos alunos com bom experiência da forma que se propõe, como uma atividade
desempenho. Além de melhorarem suas notas, puderam de investigação sobre a prática em andamento.
oferecer um auxílio aos alunos que não sabiam resolver
as questões. Como professores, somos responsáveis pela organização
de experiências que possam oferecer melhores condições
O TOL–2007 foi aplicado às três turmas do 2º ano do de aprendizagem para os alunos. Embora não seja fácil
ensino médio, totalizando 90 alunos avaliados. Consistiu traçar a linha que marca a divisão entre a componente
em uma prova objetiva de cinco questões com cinco individual e a componente coletiva do processo de
opções cada. Foi uma avaliação de caráter obrigatório construção do conhecimento, acreditamos que não seja
e equivalente a um teste tradicional com escala de possível ignorar seu aspecto decisivo. Nesse sentido,
notas variando de 0,0 a 10,0 pontos e computada no experimentar os avanços tecnológicos que determinam
cálculo da média do 2º bimestre. Para tornar a avaliação as práticas de comunicação da sociedade contemporânea
obrigatória, o professor fez um levantamento de quantos é fundamental para garantir o papel da escola de
alunos tinham acesso à internet banda larga ou discada. formação básica.
Aqueles que não tinham acesso poderiam utilizar o
laboratório de informática do colégio para realizar a Honrando o compromisso do Colégio de Aplicação
atividade. Assim todos tiveram oportunidade de realizar da UFRJ com a educação pública e de qualidade e sua
o teste on–line. vocação para a pesquisa em educação, acreditamos
estar promovendo a relexão sobre a prática docente da
As experiências relatadas aqui fazem parte de um sociedade contemporânea e apontar possibilidades de
processo em andamento assumido como investigativo e mudanças.
em caráter de pesquisa. Temos consciência de que estamos
numa etapa inicial da investigação, que é motivada pelas
relexões que fazemos diante da demanda da nossa

10 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
matemática
Indicações Bibliográicas:

MATTOS, F. R. P.; GUIMARÃES, L. C.; NICOLACI–DA–COSTA, A. M. Internet: um novo


BARBASTEFANO, R. G.; DEVOLDER, R.G. desaio para educadores. Paidéia: cadernos de
& DIAS, U. MathChat: um módulo de chat psicologia e educação, Ribeirão Preto, v. 13, n.
matemático integrado ao Moodle. In: IV 25, p. 27-40, 2003.
Colóquio de História e Tecnologia no Ensino
de Matemática, 2008, Rio de Janeiro. IV PONTE, J. P. Concepções dos professores de
Colóquio de História e Tecnologia no Ensino Matemática e processos de formação. In: J. P.
de Matemática. Rio de Janeiro: LIMC/UFRJ, Ponte (Ed.), Educação matemática: Temas de
2008. investigação. (p. 185-239) Lisboa: Instituto de
Inovação Educacional, 1992.
LEVY, P. As tecnologias da inteligência: o
futuro do pensamento na era da informática. SALVADOR, J. A. & PITON-GONÇALVES, J.
Tradução de: Carlos I. da Costa. Rio de O MOODLE como ferramenta de apoio a uma
Janeiro: Ed. 34, 1997. disciplina presencial de ciências exatas. In:
Anais do XXXIV COBENGE - Congresso Brasileiro
LOPES, A. M. A.; Silva, S.V.; BOECHAT, J.; de Ensino de Engenharia, Passo Fundo, 2006.
OLIVEIRA, S. S. & ALVES, Philipe. M. Reforço
ao Ensino Presencial Através do Ambiente
Moodle – uma Abordagem Baseada no Curso
de Engenharia de Produção dos Institutos
Superiores de Educação do CENSA (ISECENSA).
In: XXVII Encontro Nacional de Engenharia de
Produção (ENEGEP), Foz do Iguaçu, 2007.

Daniella Assemany, Fernando Villar,


Leo Akio, Letícia Rangel, Lílian Spiller e Priscila Dias
são professores do CAp UFRJ.

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


11
opinião

Licenciatura
Experiência de uma condição de
liminaridade
André Barbosa Fraga

P artimos de um artigo escrito por Ana Maria


Monteiro (Professora adjunta da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, atualmente exerce a função
de Diretora da Faculdade de Educação da UFRJ),
chamado “A prática de ensino e a produção de saberes
na escola”, geralmente utilizado pelos professores das
didáticas especiais ao iniciarem os seus cursos, para nos
valermos de uma dimensão abordada pela autora e que
gostaríamos de aprofundar neste espaço. Diz ela: “(...)
durante as atividades da Prática de Ensino, o professor
em formação vive um momento estratégico em sua
vida proissional, vivenciando um verdadeiro ritual de
passagem” (MONTEIRO, 2000: 141).

Dessa forma, seguindo o raciocínio de Ana


Maria Monteiro, nesse momento, o do
estágio, o licenciando se encontra em uma
posição ímpar: “(...) tem a sensibilidade
aguçada para perceber as repercussões
da ação educativa com olhos de quem ainda se sente
como aluno” (MONTEIRO, 2000: 141).

Valendo-nos da própria experiência de estagiário no


Colégio de Aplicação da UFRJ, o nosso objetivo é
discutirmos um pouco sobre esse momento singular
na vida do futuro professor. De que forma e por
que o estágio no CAp pode possibilitar tão grande
contribuição proissional, a ponto de ser considerado
um momento estratégico na biograia daqueles que se
dedicarão à docência?

Os ritos de passagem estão presentes na vida de todas


as sociedades, são algo universal, marcam a trajetória
social dos indivíduos. Eles se tornaram um tema
fundamental da relexão antropológica. Portanto,
trazendo essa discussão para o nosso estudo, ao

12 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
opinião
cruzarem o portão do CAp, os licenciandos da UFRJ identidades e novos papéis a serem desempenhados
embarcam na experiência da Prática de Ensino, junto ao grupo com o qual convivemos.
experiência essa que vai marcar a entrada em um rito
de passagem. A todo instante identidades são postas em xeque, mas
no momento dos ritos de passagem isso se torna mais
O estagiário passa a vivenciar uma experiência nítido, é uma época de constante destruição, construção
ambígua, socialmente ele não é mais o que era (aluno), e transformação. O período de duração da Prática de
mas também ainda não é o que será após o término Ensino marca a gênese do processo da constituição
do rito (professor). Esta fase de indeterminação social de uma nova identidade, a de ser professor. Por isso, a
foi percebida por vários autores, que a chamaram liminaridade é em parte um período relexivo. Estamos
de margem (VAN GENNEP, 1978) ou liminar inseridos em um rito que constitui e opera transições
(TURNER, 2005). entre estados relativamente ixos ou estáveis. O
indivíduo passa de uma posição social à outra.
Os vários ritos de passagem estão relacionados às
mudanças mais signiicativas pelas quais passamos em O licenciando vê com olhos de quem está fora da
nossas vidas: nascimento, morte, etc. Por exemplo, a estrutura, do sistema classiicatório, de posições já
adolescência e a cerimônia de casamento são ritos de socialmente deinidas. Estamos em uma situação
passagem. Enquanto, no primeiro, o indivíduo não é interestrutural, entre dois campos bem precisos, ixos,
mais criança, mas ainda não é adulto; no segundo, o ser aluno e ser professor, o nosso lugar de fala não é
indivíduo não é mais solteiro, mas ainda não é casado. nem um nem outro. Isso faz com que seja mais fácil
percebermos que características e que papéis se esperam
Mas, por que falar tudo isso? Pois essa condição “dupla” de cada um deles, e acabamos “forçados” a pensarmos
do estagiário é boa para pensar a importância da sobre os atores sociais e os princípios institucionais
Prática de Ensino no futuro proissional do professor presentes na escola.
em formação. Como nos mostram os trabalhos
antropológicos, esses ritos são exemplos de etapas O estagiário pode aproveitar esse momento acentuado
que se seguem, atribuindo a cada um de nós novas

Ilustração: Fabricio Lopes e Silva

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


13
opinião
de relexão, proporcionado pelo estágio, para ter uma No CAp, os licenciandos têm a oportunidade de
visão crítica sobre as práticas desenvolvidas. Tendo essa participarem da elaboração e do planejamento das
preocupação já no momento inicial do contato com a atividades relacionadas a uma determinada disciplina.
escola será muito mais fácil e natural no resto da carreira Os estagiários são integrados aos poucos, geralmente,
aplicar aquilo que Paulo Freire tanto defendeu: ensinar observando em um primeiro momento, co-participando
exige relexão crítica sobre a prática. Uma das tarefas em um segundo, e, enim, realizando a regência
mais importantes na carreira do educador, pensar sobre (MONTEIRO, 2000).
o seu fazer, estar disposto a exercer constantemente uma
relexão sobre a sua ação como professor (FREIRE, No nosso entendimento, essas divisões podem ser
2001). relacionadas ao processo de liminaridade. À medida que
a experiência avança, chegando ao ápice no momento
Os céticos, que acreditam que a formação inicial de em que o estagiário assume a responsabilidade efetiva
estágio em diversas escolas, e no nosso caso no CAp, por uma turma, ao mesmo tempo, o rito de passagem
é dispensável, após as considerações feitas já estão está chegando ao im, a sua identidade está sendo
convencidos da importância e necessidade da utilização transformada, e a constituição do ser professor se
da Prática de Ensino na formação inicial de professores? sedimentando.
Se não estão, vamos tentar convencê-los com mais
alguns argumentos.

Outra possibilidade que a prática traz é a de permitir


observar uma aula (observação aqui não entendida com
objetivo de reproduzir aulas-modelo, mas para, de forma
crítica, produzir novos saberes (MONTEIRO, 2000))
a partir de um foco que na qualidade de professor,
provavelmente não será mais possível: do fundo da sala.
É sabido que, dependendo de onde se observa, podem-
se perceber características distintas do mesmo objeto.
Do extremo da sala é possível ter um olhar que não é
nem o do ângulo dos discentes e nem o dos docentes.

Como os alunos reagem a certas colocações dos


professores? Em que momento de determinada aula a
ação e o discurso do educador possibilitam um maior
envolvimento ou dispersão em sala? Ocupamos no
fundo da sala, ao longo de um ano, à própria percepção
mais aguçada por estarmos, como demonstrado, em um
estado intermediário, ou seja, numa situação especial,
suspensos entre dois mundos, as observações feitas
podem nos trazer revelações que seriam perdidas caso
não existisse a prática.

Outro ponto importante para ser discutido aqui é que Os Colégios de Aplicação, criados justamente para serem
a experiência no CAp constitui uma exceção, quando instituições educacionais modelo, oferecem melhores
o foco é ampliado para todo o conjunto de colégios do condições para atender aos licenciandos. A escola é
Brasil, que oferecem estágio supervisionado. É fato que voltada para a formação inicial dos professores, nesse
a Prática de Ensino por lei é uma etapa obrigatória na sentido, a estrutura montada permite que o estagiário
obtenção do diploma da licenciatura, e, sendo assim, um perpasse o rito no qual está inserido sem maiores
momento oicial, para se poder iniciar a carreira docente. obstáculos.
Portanto, todos que se aventuram na licenciatura, e, por
conseguinte, na Prática de Ensino, passam pelo rito de No entanto, em outros colégios, que infelizmente não
passagem. Mas, será que o rito atinge a todos da mesma tratam com a mesma atenção e seriedade essa prática,
maneira? Evidentemente que não, as experiências da os licenciandos acabam sendo sobrecarregados com
prática vão ser distintas dependendo do colégio, assim funções que ainda não podem exercer, como ministrar
como serão aquelas dos ritos de passagem. aulas frequentemente, sem o acompanhamento do

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14
opinião
professor regente. Nessa situação, eles terão muito professores, funcionários, e mesmo que não tenha sido
mais diiculdade para atravessarem esse momento de tão marcante, no im desse percurso, dessa passagem de
indeinição social e perderão ou, ao menos, icarão um rito, provavelmente ele terá conseguido transformar
comprometidos os benefícios que já identiicamos. a si próprio, não será mais o mesmo que entrou. Usando
da analogia utilizada por Victor Turner (1978), ao tecer
No último dia de prática, com a folha de presença comentários a respeito da transição e transformação
apontando 300 horas (que em um primeiro momento operada pelos ritos de passagem, a crisálida terá passado
pareciam intermináveis), a saída do CAp vai marcar o de lagarta a mariposa.
im do rito de passagem. Ao se fecharem os portões
atrás do ex-licenciando, a dupla negação, não ser mais Portanto, tornar essa ocasião uma experiência agradável
aluno, nem ser ainda professor, torna-se, como em depende de cada um, embora tendo sido ou não, sem
dúvida, esse momento trará repercussões para o resto de
sua prática docente.

Indicações Bibliográicas:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes


necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 2001.

MONTEIRO, Ana Maria. “A prática de ensino e a


produção de saberes na escola” in: CANDAU, V. M
(org) Didática, currículo e saberes escolares. Rio
de Janeiro: DP&A, 2000.

TURNER, Victor. “Betwixt and between: o


período liminar nos ‘ritos de passagem’” in:
Floresta de símbolos: aspectos do ritual Ndembu.
Niterói: Editora da Universidade Federal
Fluminense, 2005. Pp. 137-158.

VAN GENNEP, Arnold. Os ritos de passagem.


Petrópolis: Vozes, 1978.

André Barbosa Fraga é


Bacharelando em História pela UFRJ.
Realizou Prática de Ensino no Cap-UFRJ
no ano de 2008.
uma operação matemática, airmação - ser professor. A
passagem, enim, é consumada.

Por isso, o licenciando deve entrar no CAp, aberto a


receber tudo aquilo que o colégio pode oferecer, ao
longo de um ano: viver com intensidade as descobertas,
decepções, momentos agradáveis, outros nem tanto,
mas todas as experiências importantes.

Nesse momento, em que o liminar se rompe, um novo


campo de possíveis se abre, a passagem do estagiário
pode ter sido signiicativa, para alguns alunos,

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


15
sem fronteiras

CABEÇAS DIGITAIS
EM AÇÃO
Preocupações e desaios para
familiares e docentes
Rosane de Albuquerque dos Santos Abreu

A s crianças e jovens de nosso tempo nasceram


e cresceram em um mundo repleto de tecnologias,
nossas criações livremente (vídeos, fotos, textos de
pessoas comuns), assim como podemos ter acesso aos
especialmente aquelas da informação e comunicação. mais diferentes produtos cultuais, como livros, vídeos,
De suas experiências com essas tecnologias e das músicas, etc de diversos proissionais. A informação e o
vivências em um mundo digital emergem novos conhecimento circulam facilmente e são considerados
comportamentos, novas formas de ver o mundo, como matéria prima da economia informacional.
novas maneiras de se relacionar, novos valores, enim,
comportamentos inusitados que, em muito, estão Percebemos, ainda, signiicativas alterações, nas relações
desorientando pais e professores. Muitas são as dúvidas, sociais. Pessoas se conectam com pessoas de diversas
muitos são os estranhamentos, muitos são os desaios partes do mundo, conhecidos ou desconhecidos.
para compreender e educar a nova geração que costumo Comunidades são formadas pelos mais diferentes
chamar de “cabeças digitais” (Abreu, 2006). motivos (solidariedade, repúdio, interesse, etc). As
hierarquias estão sendo desorganizadas e novos valores
Realmente as transformações pelas quais estamos estão sendo assumidos. O processo de construção
passando são bastante intensas e estão sendo geradas, da identidade também está passando por profunda
principalmente, pelo desenvolvimento das tecnologias transformação, tendo a Internet como um lugar para
digitais, cuja estrela principal é a Internet. O sociólogo experiências identitárias.
Manuel Castells (2001) airma que “a Internet passou
a ser a base tecnológica para a forma organizacional Enim, identiicamos signiicativas e profundas
da Era da Informação: a rede”. A interligação dos transformações sociais que estão provocando, também,
computadores mundiais em rede gerou, portanto, transformações no nível pessoal. Baseio-me em
a chamada sociedade em rede, cujas características Durkheim (1982), Freud (1997) e Simmel (1987) para
principais são a integração, a globalização, a lexibilidade, fazer esta airmação. Esses autores investigaram as
o imediatismo, a agilidade, a derrubada de fronteiras, a transformações provocadas pela Revolução Industrial e
extraterritorialidade, o nomadismo, entre outras. concluíram que transformações sociais radicais geram
transformações subjetivas.
Hoje, vivemos em uma economia que funciona em tempo
real, 24 horas por dia, com os mercados inanceiros A seguir, traçarei um peril dos “cabeças digitais”,
globalmente integrados, tendo a Internet como uma baseando-me nos trabalhos de Nicolaci da Costa que
fonte decisiva de produtividade e competitividade. Na sintetizou algumas características subjetivas já estudadas
cultura, fenômenos especiais vêm sendo percebidos e em pesquisas com jovens usuários da Internet e com
costumamos denominar o que acontece na e pela rede proissionais que lidam com estes usuários.
como “cibercultura”. Através da rede, podemos expor

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16
sem fronteiras
Cabeças Digitais – uma nova coniguração Todas as experiências vividas no virtual ultrapassam
os limites deste campo e penetram a realidade off-line,
psíquica gerando um peril de sujeito contemporâneo, cujas
características apresento a seguir.
Antes de entrarmos nas características subjetivas
propriamente ditas, vale lembrar que a estrutura da O sujeito do século XXI é alguém que sente prazer e
Internet – hipertexto, links, janelas, ícones - assim facilidade em quase tudo que faz on-line; está disposto
como suas características – agilidade, imediatismo, a experimentar novas formas de ser; faz diversas coisas
diversidade, excesso, lexibilidade - inluencia fortemente ao mesmo tempo - é multitarefa; está em constante
o pensamento, a ação e os sentimentos de seus usuários, movimento, mesmo mantendo seu corpo imóvel;
criando uma variedade de experiências e interferindo na habita vários espaços (muitas vezes simultâneo) através
própria constituição do sujeito. Um aspecto importante da escrita (e não de seu corpo), o que lhe permite ter
diz respeito à forma privilegiada de comunicação acesso a diferentes realidades (culturais, imaginárias,
on-line – a escrita. É pela escrita (via teclado) que os sociais etc); experimenta identidades e características
usuários interagem e revelam o que pensam e sentem diferenciadas de si mesmo, construindo diferentes
em blogs, e-mails, chats, programas de comunicação narrativas de si (verdadeiras ou não, anônimas ou não);
síncrona, textos para sites, e muito mais. É por meio conhece a si mesmo na medida em que escreve sobre
dela, também, que o usuário experimenta novas formas si e tem retorno sobre essa escrita, o que lhe possibilita
de ser, pois pode criar personagens, experimentar manter uma constante revisão nas deinições sobre si;
variadas identidades, e se descobrir no diálogo com por se expor a tantos espaços, realidades, experiências
o outro. Usar a Internet signiica, portanto, escrever e retornos, tem a si mesmo como a única fonte de
muito e, automaticamente, ler muito. integração possível dos resultados dessas múltiplas
exposições e desses múltiplos retornos; submete a
um constante processo de deinição e redeinição as
fronteiras entre as esferas do público e do privado
como decorrência das múltiplas exposições, dos
múltiplos retornos e das integrações possíveis; tem
diiculdade para se proteger dos excessos gerados por
sua constante exposição à diversidade; está cada
vez mais singular e auto referido como
conseqüência de ter que efetuar, ele
próprio, um recorte nas realidades às
quais está exposto; é lexível, adaptável,
inquieto, ávido de novas experiências;
tem uma atenção diferente; e conhece
poucos limites para seus desejos.

Como observamos, os jovens de nosso tempo


que nasceram e cresceram nesse mundo repleto
de tecnologias, especialmente as da informação
e comunicação, apresentam características
subjetivas bastante diferentes daquelas
dos jovens de tempos passados. São tão
radicalmente diferentes estas características,
que surpreendem a maioria dos adultos.
É comum pais e professores se sentirem
desorientados, perplexos, às vezes horrorizados,
diante desses novos comportamentos. Vejamos,
a seguir, alguns dos principais conlitos, medos e
preocupações revelados por pais e professores.
Ilustração: Fabricio Lopes e Silva

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


17
sem fronteiras
Principais conlitos, medos e preocupações


de pais e professores
Os jovens de hoje têm
Os conlitos uma facilidade muito
Um dos principais conlitos diz respeito à inversão na grande para lidar com
hierarquia do saber. Os jovens de hoje têm uma facilidade
muito grande para lidar com as novas tecnologias.
as novas tecnologias.
Facilidade esta que, muitas vezes, suplanta a dos pais e
professores. Isso gera incômodo por parte dos adultos,
Facilidade esta
acostumados a ter o papel de orientador dos mais jovens. que, muitas vezes,


Além disso, os jovens estão muito bem informados,
mais informados, às vezes, que pais e professores. Este suplanta a dos pais e
é outro aspecto que desorganiza a relação hierárquica
tradicional em que o adulto sabe mais que os jovens.
professores.
Além da inversão da hierarquia do saber destaco
ainda um conjunto de conlitos, o qual denominei de
gap entre as gerações. Os conlitos entre as gerações Alguns medos
sempre existiram, mas nos dias de hoje parecem estar
mais acirrados. Como vimos acima, as características
subjetivas dos “cabeças digitais” são especialmente Destacarei três medos principais revelados por pais
diferentes de nós adultos que nos constituímos em e professores em palestras que realizei em escolas; e,
um mundo em que a ordem era mantida por meio de também, identiicados em reportagens e artigos sobre
hierarquias, delimitações, fronteiras, etc., em que havia o tema juventude e internet. São eles: o medo do vício,
o respeito à autoridade, em que havia o planejamento de da pornograia e da pedoilia.
ações subdivididas em uma seqüência de etapas, entre
outras. A forma como pensamos, agimos e sentimos A questão do vício já foi amplamente discutida no início
é, portanto, bastante diferente da nova geração e isso desta década, quando a Internet ainda era novidade para
parece aprofundar o tão conhecido conlito de gerações. os adultos, mas estava sendo desbravada pelos jovens.
Ainda hoje, no entanto, este tema continua a amedrontar
pais e professores. Talvez isso seja decorrente da ampla
divulgação de trabalhos, produzidos principalmente
nos Estados Unidos (Young, 1996, 1998 e Greenield,
1999) que apresentavam a existência de um novo
comportamento compulsivo, patológico - Internet
addiction - semelhanvte ao do vício do jogo. Estes
trabalhos tiveram grande inluência aqui no Brasil,
não somente na área acadêmica, como também na
mídia e espalharam a crença de que o uso intensivo
da Internet pode gerar vício, assim como outros
problemas na área da sociabilidade, como, por
exemplo: solidão, fuga da realidade, depressão, etc.
Em pesquisa realizada com usuários intensos da
Internet, Nicolaci-da-Costa desconstrói o discurso
da patologia e mostra porque os jovens icam
tanto tempo conectados à rede. No seu
entender, hoje estamos à frente de uma nova
sociabilidade em que estar na Internet faz
parte dos mecanismos de socialização da
juventude. Na maioria das vezes, os jovens
prolongam virtualmente as suas relações reais
(amigos, familiares, etc), através de sites de
Ilustração: Juliana Montenegro

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18
sem fronteiras
relacionamento (MSN, Orkut, etc) ou e-mails. As visões encontram seus amigos e podem fazer novos amigos, é lá
alarmistas que patologizam comportamentos novos onde eles podem se manifestar e se expressar livremente,
são advindas da incompreensão de que transformações enim, a rede oferece uma ininidade de possibilidades
radicais, muitas vezes, têm fortes impactos na e experiências interessantes. Cabe ao adulto, porém,
subjetividade. Não quero com isso negar a existência de estabelecer limites para este uso e, através de uma boa
comportamentos patológicos, mas sim redimensionar o negociação, o estabelecimento desses limites pode ser
valor que principalmente a mídia atribui e explicar que o feito em um clima amigável.
que estamos observando em relação ao uso da Internet
feito pelos jovens faz parte de uma nova subjetividade Como já mencionei acima, pais e professores têm
em formação. preocupações sobre o conteúdo que os jovens acessam
na Internet e com quem eles têm contato. Como já
No que se refere à pornograia e à pedoilia é importante disse, também, essa preocupação se relaciona com
lembrar que são ameaças tanto reais, quanto virtuais. As a questão do controle. Não vou repetir o que disse
revistas pornográicas estão aí nas bancas de jornais, acima, mas quero abordar um outro aspecto revelado,
os canais de tv também veiculam programas com principalmente por professores, a respeito do conteúdo
este conteúdo, jovens são muitas vezes assediados por acessado. A característica de hipertexto, assim como a
pedóilos, etc. O que faz a diferença e que tanto preocupa renovação constante dos conteúdos na rede, coloca o
os adultos é a questão do controle. A Internet é um jovem diante do excesso de informações e da diiculdade
espaço aberto a tudo e a todos e lá podemos encontrar, de selecionar e categorizar esse conteúdo. Assim sendo,
também, sites pornográicos e apelo à pedoilia. Certa a tendência é que a informação ique supericial, sem
vigilância sobre o uso que o jovem faz da rede, assim aprofundamento. Cabe, então, principalmente aos
como a utilização de ferramentas tecnológicas de professores, criar mecanismos que auxiliem os alunos
iltragem podem dar ao adulto a sensação de maior na organização e relexão sobre essas informações para
controle daquilo que seu ilho ou aluno está acessando. que elas se transformem em conhecimento.
Acredito, porém, que a conversa ainda seja o melhor
mecanismo para entender e orientar a juventude sobre A terceira preocupação refere-se à sociabilidade
esses temas. prejudicada, ou seja, os pais e professores temem que as
muitas horas que os jovens despendem na rede possam
gerar pessoas solitárias, isoladas, que não têm prazer com
Algumas preocupações
as coisas do mundo real, ou que façam a substituição
de relacionamentos reais por relacionamentos
Uma das maiores preocupações e um desaio, virtuais. Como já sinalizei acima, novos processos de
especialmente para os pais, diz respeito ao tempo de socialização estão em andamento e a rede têm sido
uso da internet. Vimos que os jovens usuários da rede mais um espaço para que isso aconteça. O importante é
sentem prazer em estar on-line porque o mundo virtual observar como esses processos estão acontecendo, antes
tem dimensões lúdicas (Romão Dias, 2007). É lá que eles de estabelecermos julgamentos que podem nos levar a
certos preconceitos.

Algumas Sugestões

Após todas essas considerações, uma questão ainda


permanece: como lidar com os “cabeças digitais”?

Sem a pretensão de dar receitas, tentarei sintetizar a


seguir alguns aspectos revelados em minha experiência
pesquisando e trabalhando, tanto com jovens, como com
proissionais que trabalham com usuários da Internet.

Parece que o diálogo franco e aberto ajuda muito a


entender o que os jovens estão pensando, sentindo e
fazendo. Por outro lado, dizer como nos sentimos e o que
pensamos e fazemos frente aos seus comportamentos,
contribui para minimizar o gap entre as gerações.

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


19
sem fronteiras
Para tanto, é preciso ter uma postura compreensiva
sem ser, porém, permissiva. Colocar-nos abertos para Indicações Bibliográicas:
compreendermos seus comportamentos não quer dizer
que tenhamos que aceitá-los incondicionalmente. Nossa ABREU, R.de A.S. A Internet na Prática Docente:
tarefa é criarmos espaço para relexão. Além disto, Novos desaios e conlitos para os educadores.
acredito ser importante nos colocarmos disponíveis para Tese de Doutorado Departamento de Psicologia,
aprendermos com os jovens. A troca entre as gerações PUC-Rio, 2003
é muito saudável.
ABREU, R.A. S. “Cabeças Digitais”: um motivo
Como é natural na juventude certa “onipotência” e a para revisões na prática docente. In: Nicolaci-
adoção de certezas inabaláveis, certezas estas quase da-Costa, A. M. (org) Cabeças Digitais: o
sempre contrárias ao que pensam os adultos, nossa cotidiano na era da informação. Editora PUC-Rio/
tarefa pode ser a de desequilibrá-los, ajudando-os a Edições Loyola, Rio de janeiro, m2006
reletir, confrontando-os com outras visões de mundo,
por exemplo, a nossa. É fundamental, portanto, deixar CASTELLS, M. The Internet Galaxy. Relections
claro para eles o nosso ponto de vista. Mas é importante, on the Internet, Business and Society. Oxford:
também, conhecer o que os atrai, o que os motiva. University Press, 2001

Uma última sugestão parece ser necessária. Trata-se da COSTA, A. C. A. IRC: uma nova forma de
questão dos limites, já mencionada acima. Como vimos, relacionamento entre as pessoas. 2001
esta é uma geração que conhece poucos limites para seus Dissertação (Mestrado EM Psicologia Clínica)
desejos, acostumada que está com a dimensão ilimitada - Departamento de Psicologia, Pontifícia
da Internet. Assim, é papel do adulto a colocação de Universidade Católica do rio de Jnaeiro.
limites claros, bem explicados, seja no que se refere
ao tempo do uso, seja no que se refere ao conteúdo DURKHEIM, E. O suicídio: um estudo sociológico.
acessado, entre outros. Só que essa geração não aceita Rio de Janeiro: Zahar, 1982
os limites dados de maneira autoritária, é preciso dar
sempre os motivos, mesmo que eles não os aceitem. DI LUCCIO, F.: NICOLACI-DA-COSTA, A.M.
Isso os faz confrontarem-se, desequilibrarem-se, enim, Escritores de blogs: interagindo com os leitores
desenvolverem-se como pessoa. ou apenas ouvindo ecos? Psicologia: Ciência e
Proissão, v. 27, n. 4, pp. 664-679, 2007a.

SIMMEL, G. A metrópole e a vida mental. In:


Velho, O G. (Org). O fenômeno urbano. Rio de
Janeiro, 1987

NICOLACI-DA-COSTA, A. M. O papel das


novas tecnologias digitais na construção da
subjetividade contemporânea. Novamerica,
Novamerica.org, Rio de Janeiro, v. 110, pp. 48-
53, 2006.

Rosane de Albuquerque dos Santos Abreu é


Doutora em Psicologia/ PUC-Rio e professora
(aposentada) do Serviço de Orientação Educacional
do CAp/UFRJ no período de 1993 a 2006.

20 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
na prática
Novas
possibilidades
da Prática de Ensino:
a experiência da Oicina
Pedagógica de Ciências Sociais
Alexandre Barbosa Fraga
Anita Handfas
Marcos Tognozzi e Rocha

O objetivo deste artigo é apresentar a experiência


de uma atividade da Prática de Ensino de Ciências Sociais
Nadia Maria Moura Bastos
Victor Nigro Fernandes Solis
do curso de Licenciatura da Faculdade de Educação
da UFRJ. Trata-se da Oicina Pedagógica de Ciências
Sociais, realizada no ano de 2007, cuja temática foi O
uso do cinema no ensino de Sociologia. Tal iniciativa
inseriu-se no âmbito do projeto institucional A formação
docente da UFRJ: espaço de diálogo entre saberes e teve como
principal inalidade abrir novos canais de intercâmbio
entre os diferentes agentes que atuam na formação de
professores. A escolha da temática
Pretendemos mostrar como essa experiência contribuiu Na Prática de Ensino de Ciências Sociais, a articulação
para consolidar o trabalho que vimos desenvolvendo na entre teoria e prática na formação inicial do licenciando
Prática de Ensino de Ciências Sociais, cujos princípios tem sido o io condutor das atividades, sejam aquelas
estão pautados em uma concepção de formação de concernentes ao Estágio Supervisionado na escola,
professores que, por um lado privilegia a articulação como também aos projetos especíicos, como foi
entre a Universidade e as escolas de Educação Básica a Oicina Pedagógica. Essa maneira de conceber a
e, por outro, busca ampliar os espaços de formação, formação inicial do professor condiciona a escolha
considerando as múltiplas dimensões do processo de por atividades que estejam efetivamente conectadas à
formação do licenciando. prática pedagógica do professor regente de sociologia
vivenciada pelo licenciando nas escolas. Por isso a
Como experiência pioneira, a sua sistematização é escolha do tema da Oicina Pedagógica de Ciências
importante para que não só possamos avaliar os limites Sociais - O uso do cinema no ensino de Sociologia - levou em
e as possibilidades da Oicina Pedagógica, como pensar conta a realidade do ensino de sociologia nas escolas:
em novos projetos no âmbito da Prática de Ensino de a prática pedagógica do professor, as metodologias de
Ciências Sociais. ensino, os materiais didáticos e os recursos utilizados.

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


21
na prática

Ilustração: Juliana Montenegro


Ainda é recente a presença da Sociologia na Educação
Básica e muito se tem discutido sobre as possibilidades o ilme em sala de
do uso de ferramentas que possam articular diferentes
linguagens ao ensino dessa disciplina. Algumas delas já
aula pode possibilitar
vêm sendo utilizadas pelos professores, com o objetivo o desenvolvimento de
de tornar os conteúdos da teoria sociológica mais
acessíveis aos alunos. Entretanto, veriica-se que nem conceitos sociológicos,
sempre o uso dessas metodologias tem sido capaz de
explorar todo o potencial que elas oferecem. Isso ocorre constituindo-se em
com o cinema. Embora seja comum aos professores
de sociologia a utilização do ilme em sala de aula, a
importante ferramenta de
maioria deles ainda não se debruçou sobre as implicações relexão crítica sobre os
metodológicas deste recurso didático, que ultrapassa um
mero entretenimento ou artifício de temas de aulas, mas mais diversos fenômenos
pode se apresentar como “pré-texto”, possibilitando
tratar, numa perspectiva crítica, os temas da sociologia. sociais, culturais, políticos


Nessa perspectiva, a utilização do ilme em sala de
aula pode possibilitar o desenvolvimento de conceitos
e ideológicos inerentes às
sociológicos, constituindo-se em importante ferramenta relações humanas.
de relexão crítica sobre os mais diversos fenômenos
sociais, culturais, políticos e ideológicos inerentes às
relações humanas.
A Oicina Pedagógica
A Oicina Pedagógica buscou estimular o uso do cinema
A Oicina Pedagógica de Ciências Sociais desenvolveu-
como método de ensino que favoreça a aprendizagem
se a partir da constituição de um grupo multidisciplinar
de procedimentos de pesquisa, análise, confrontação,
composto pelas professoras de Didática Especial e
interpretação e organização dos conhecimentos
Prática de Ensino de Ciências Sociais da Faculdade
sociológicos, além de expor de maneira didática a etapa
de Educação , por uma pesquisadora do Núcleo de
teórica e a prática da experiência de reletir, articular,
Sociologia da Cultura do IFCS e pelas professoras de
organizar e desenvolver atividades com apoio de ilmes
três escolas de Educação Básica – o Colégio de Aplicação
e vídeos.

22 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
na prática
da UFRJ, o Colégio Estadual Souza Aguiar e o Instituto maneira age sobre os imaginários dos espectadores. A
de Educação. imagem é compreendida por aquilo que nos mobiliza,
possibilitando leituras diferenciadas e o observador
Primeiramente elaboramos a proposta da Oicina, possui certa autonomia para interpretá-la. Os indivíduos
deinindo a temática, estruturando a atividade e apreendem os mais variados conteúdos e signiicados
selecionando os ilmes a serem exibidos e o material através da exibição das imagens.
didático de apoio. Nessa etapa também foram
apresentados os objetivos da Oicina Pedagógica aos A relação que se estabelece entre o autor do ilme
alunos das duas turmas de Didática Especial e Prática de e o espectador deve ser problematizada quando a
Ensino de Ciências Sociais, em particular aqueles que transportamos para a sala de aula. O ilme signiica
realizaram seus estágios nas três escolas diretamente uma forma do imaginário do autor atuar sobre outros
envolvidas no projeto. imaginários. Sobre essa questão, Burke (2004) propunha
que a imagem deve ser "interrogada" para que cheguemos
Em seguida, ocorreu a discussão teórico-prática da a uma "evidência aceitável". Assim, podemos indagar a
Oicina. Este foi o momento em que a atividade reuniu respeito dos problemas relativos à percepção da imagem,
todos os participantes, permitindo uma relexão mais ou seja, de que maneira as imagens produzidas a partir
sistemática sobre as questões ali colocadas. Orientados de um determinado grupo social ou cultural podem ser
pela leitura de dois textos (BRUNO & MARTINS, 2006; transmitidas para outros grupos.
e SALLES, 2005), os participantes acompanharam uma
palestra que, a partir da contextualização das ciências
sociais e de sua relação com a imagem, em particular
o cinema, pôde-se questionar as implicações teóricas e
metodológicas do uso deste recurso didático em sala de
aula.

Foram selecionados três ilmes que nos levaram a


compreender em que medida uma mesma mensagem
pode ter percepções distintas para o sujeito que a
observa. Também foram discutidas as formas de
avaliação e de seleção do ilme a ser exibido em sala
de aula, assim como a relação entre o contexto de sua
produção, sua linguagem e a realidade dos alunos do
ensino médio.

As principais questões que nortearam as discussões


foram: que critérios devem ser levados em consideração
na escolha do ilme? De que maneira o professor deve
conciliar o conteúdo programático do curso com a
exibição de ilmes? Como planejar a preparação da
turma para a exibição de um ilme? Quais os materiais
didáticos necessários para introduzir a discussão? De
que maneira os conteúdos da sociologia podem ser
trabalhados a partir da exibição do ilme?

O cinema é um instrumento político importante


da modernidade, sendo necessária uma constante
relexão crítica a respeito de sua crescente utilização.
A imagem cinematográica é uma representação da A Oicina Pedagógica nas escolas
vida social, não sendo, portanto, uma mera reprodução
dos acontecimentos; ao contrário, ela constitui a A etapa inal da Oicina teve como objetivo ministrar
reconstrução da realidade, a partir de um determinado uma aula de sociologia, no âmbito do programa da
contexto. A imagem possui uma concepção disciplina, utilizando como recurso didático o cinema.
determinada do objeto a ser representado e de alguma A partir dos conceitos básicos introduzidos na palestra,

abril de 2009 perspectiva capiana nº5


23
na prática
assim como a troca de experiências entre os integrantes a adequação do ilme ao conteúdo programático da
da Oicina, foi possível aplicar os conhecimentos disciplina que naquele momento indicava o Estado e os
apreendidos em uma experiência pedagógica concreta. Regimes Políticos como os conteúdos a serem trabalhados.
A atividade pedagógica organizada pelos licenciandos O ilme escolhido para ser exibido em uma turma de 1º
nas escolas demonstrou como a Oicina, em todas as ano do ensino médio foi o documentário Entre Muros e
suas etapas, fez elevar qualitativamente o nível de Favelas, cuja temática central é a violência e a repressão
compreensão dos alunos de que a prática pedagógica policial no interior das favelas do Rio de Janeiro.
do professor deve ser sistemática e, como tal requer um
planejamento de todas as etapas do processo de ensino O fato de o ilme apresentar um contexto que relete
e de aprendizagem. o cotidiano dos alunos favoreceu a apresentação dos
clássicos estudados em sala de aula, como Maquiavel,
Locke e Rousseau. Facilitar o acesso à linguagem
sociológica é sempre uma forma de facilitar a
compreensão e desenvolver uma perspectiva crítica nos
alunos.
Inicialmente, introduzimos a temática e sugerimos aos
alunos que levantassem questões sobre o ilme, uma vez
que a proposta de desdobramento daquela atividade era
a realização de um debate na aula seguinte. Veriicamos
que a despeito de uma dispersão inicial dos alunos,
ao longo da exibição a maioria mostrou interesse pelo
ilme. Entretanto, em função do tempo de aula ser
limitado a 50 minutos, não foi possível exibir o ilme
integralmente, o que nos obrigou a interromper e
prosseguir posteriormente. Na aula seguinte, optamos
por iniciar a exibição imediatamente. Observamos que a
turma permaneceu atenta e, ao inal do ilme, conforme
havíamos proposto, izemos um debate com os alunos,
atuando como mediadores, deixando os alunos exporem
suas idéias a respeito da problemática tratada no ilme.
Avaliamos que o debate foi positivo, no sentido de que
houve ampla participação dos alunos, inclusive daqueles
que não costumam se colocar e uma grande diversidade
de opiniões.

Avaliamos que nossa proposta para a Oicina Pedagógica


necessitava de um desdobramento inal. Sendo assim,
decidimos concluir as discussões em uma terceira aula,


Foi interessante observar a diversidade das experiências
nas escolas onde as Oicinas foram realizadas. Tal
diversidade deve-se entre outros a fatores sociais e
culturais dos alunos de cada uma das escolas, à prática
Os indivíduos
pedagógica do professor, mas também à estrutura e apreendem os mais
à organização de cada uma delas e particularmente
à relação de cada escola com a disciplina sociologia. variados conteúdos e
Os relatos dos licenciandos a seguir atestam essa
diversidade.
signiicados através


da exibição das
Colégio de Aplicação da UFRJ
imagens.
O primeiro passo para a realização da atividade foi a
seleção do ilme. Adotamos como critério principal

24 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
na prática
sistematizando e discutindo as questões levantadas


pelos alunos. Com isso, nosso objetivo também foi
o de fornecer alguns elementos que pudessem dar
continuidade ao programa da disciplina. Iniciamos uma Facilitar o acesso
discussão sobre quais seriam os direitos e os deveres
dos cidadãos e as obrigações do Estado para com eles,
à linguagem
relacionando com o tema do documentário. sociológica é
Instituto de Educação sempre uma
Para a realização da atividade no ISERJ, os licenciandos
forma de facilitar
em conjunto com a professora regente, optaram pela a compreensão e
exibição do documentário João Guimarães Rosa: o Mágico
do Reino das Palavras. A escolha foi motivada pelo fato desenvolver uma


de os alunos terem participado de uma atividade
pedagógica envolvendo as disciplinas de sociologia e perspectiva crítica
literatura. Além disso, havia uma adequação do ilme
à temática cultura que naquele momento era o conteúdo
nos alunos.
programático trabalhado. Na avaliação da equipe, a obra
de João Guimarães Rosa era apropriada, uma vez que,
em um dos seus livros de maior destaque, Grande Sertão: realidade, antes da exibição do documentário. Ao
Veredas, o autor aborda o encontro da cultura sertaneja inal, izemos a discussão, que inicialmente foi livre e
brasileira com a cultura erudita. posteriormente passou a ser orientada pelas questões
distribuídas no início da aula.
Foram realizadas duas reuniões de planejamento
com o intuito de escolher a forma de apresentação do A avaliação das respostas dos alunos nos permitiu
documentário, formular as dinâmicas de discussão e perceber que eles conseguiram apreender
elaborar um instrumento de avaliação da atividade. satisfatoriamente os apontamentos a respeito do tema
Desde o início deparamo-nos com dois desaios: saber cultura e, principalmente, reletir a respeito do que havia
como trabalhar com o conceito de cultura, tendo em sido proposto.
vista a vasta bibliograia e os diferentes enfoques,
e adequar os pontos a serem trabalhados ao tempo
disponível em sala de aula, bem como à linguagem Colégio Estadual Souza Aguiar
apropriada aos alunos.
Para a realização da Oicina no CESA, os licenciandos,
A atividade ocorreu em dois dias consecutivos e foi em conjunto com a professora regente de sociologia
desenvolvida em seis turmas, duas do 3º e quatro do optaram pela exibição de dois ilmes: Uolace e João Victor
2º ano do Ensino Médio, tendo sido organizada de - quarto episódio da série Cidade dos Homens e Extremos:
modo que cada estagiário se responsabilizou por uma lagrantes de um mundo desigual - um conjunto de slides
das seis turmas, garantindo que todos tivessem o seu criados no ambiente da Internet para ser exibida nas
momento de conduzir a discussão e exercitar a função telas de computadores.
de professor.
O episódio Uólace e João Victor trata da desigualdade
A problematização do conceito de cultura foi feita por social entre os dois personagens, temática escolhida
meio de dez questões formuladas e distribuídas aos para a aula, quando trabalhamos a estrutura do sistema
alunos, tendo em vista as seguintes preocupações: a capitalista e da divisão entre as classes sociais. Além
linguagem dos alunos; a provocação de uma relexão disso, questionamos os alunos a respeito das atitudes
teórica com base em fatos da realidade; a pertinência do preconceituosas e racistas, e tratamos de questões
conteúdo com o que deveria ser exposto em aula e/ou de gênero. Foi elaborado um roteiro de perguntas,
no documentário apresentado. Cada aluno recebeu uma solicitando aos alunos que primeiramente respondessem
questão e, com base na aula, no ilme e na discussão às perguntas oralmente e, em seguida, por escrito.
subseqüente, tinha de respondê-la por escrito. Tentamos Nas aulas seguintes, as respostas foram recolhidas e
problematizar e relacionar as questões teóricas com a o episódio foi tomado como modelo para recorrer a

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


25
na prática
exempliicações em sala e trabalhar os conteúdos da O que parece ter icado como mais importante da
disciplina. Oicina Pedagógica é a importância de um planejamento
bem feito para que a utilização de ilmes nas aulas não
Extremos: lagrantes de um mundo desigual é um vídeo com se limite apenas a uma atividade lúdica ou como forma
cerca de 30 slides que tratam da situação de fome e de apresentar aos alunos uma mídia a qual nem sempre
miséria em oposição à opulência e ao desperdício das eles têm acesso. Os ilmes podem funcionar como uma
classes mais abastadas, evidenciando as diferenças ferramenta realmente eicaz para trabalhar conceitos e
entre os objetos de consumo das classes mais altas conteúdos do programa de Sociologia nas escolas.
em comparação aos objetos simples de outras classes
sociais. Nessa exibição optamos por não apresentar É importante ressaltar também que todo o processo
nenhum roteiro de perguntas, buscando estimular o de preparação e de realização da atividade nos fez
diálogo entre os alunos, de modo que eles tivessem a concluir que, ao selecionarmos um ilme, teremos de
iniciativa de formularem as questões. Posteriormente, levar em consideração a formação do aluno, sua cultura
a professora regente orientou a discussão tomando e trajetória, de modo a tirar o maior proveito dessa
por base as imagens apresentadas, levando os alunos ferramenta didática que é o cinema.
a identiicarem os conteúdos que já haviam sido
trabalhados em sala de aula. A Oicina teve um papel importante em sua proposição
de problematizar e superar a idéia de naturalidade
Nossa avaliação da atividade foi positiva. No caso do com que as imagens são tratadas diante de uma tela
episódio Uólace e João Victor, veriicamos que o ilme foi de projeção. Nesse sentido, como professores de
bem aceito, em função da identiicação dos alunos com Sociologia, temos de analisar todos esses aspectos ao
o seu enredo, entendido como se fosse a sua própria assistirmos aos ilmes, antes de exibi-los, almejando que
história de vida. Essa identiicação também se deu por o aluno interprete e dialogue com o enredo.
meio da linguagem dos personagens e da trilha musical
do ilme. Avaliamos, também, que a elaboração do Avaliamos que experiências pedagógicas como foi
roteiro de perguntas e a análise de cada personagem a Oicina Pedagógica de Ciências Sociais podem
da trama contribuíram para o resultado positivo da abrir novas possibilidades para a Prática de Ensino,
atividade. contribuindo com a formação inicial dos futuros
professores de Sociologia.
Ao contrário deste, avaliamos que a exibição dos slides
Extremos: lagrantes de um mundo desigual não obteve a
mesma aceitação por parte dos alunos. Observamos
que, embora as imagens destacassem o contraste entre Indicações Bibliográicas:
pobreza e riqueza, os slides chamaram a atenção dos
alunos pelas imagens que representavam a riqueza. Neste BRUNO, Luis Alberto e MARTINS, Ana Lucia
caso, eles limitaram-se a comentar seu deslumbramento Lucas. Imagem e prática pedagógica: uso de
com os objetos de consumo das classes sociais mais ilmes em aulas de história. Mímeo, 2006.
altas. Uma das hipóteses que pode explicar as falhas
detectadas nessa atividade é o fato de, ao contrário do BURKE, P. Testemunha Ocular. Bauru, S.P.
primeiro ilme, não termos elaborado um roteiro de EDUSC, 2004.
perguntas que poderia ter motivado a turma e dado uma
direção para a discussão com os alunos. SALLES, J. Moreira “A diiculdade do
documentário”. In: Imaginário e o Poético nas
São muitas as questões postas durante o planejamento Ciências Sociais. Ed. EDUSC, 2005.
de uma atividade que envolva a exibição de imagens,
em particular o cinema. Entre elas, cabe destacar o
conlito entre o “gosto” do aluno e o do professor; a
compatibilidade entre o tempo do ilme e o da aula; a Anita Handfas é professora da Faculdade de Educação da UFRJ.
própria infra-estrutura; a seleção de temas acessíveis Alexandre Barbosa Fraga, Marcus Tognozzi e Rocha,
a jovens do Ensino Médio e o tipo de dinâmica e de Nádia Maria Moura Bastos, Victor Nigro Fernades Solis
avaliação a serem adotadas. são Bacharéis e licenciados em Ciências Sociais pelo IFCS/UFRJ.

26 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
inglês
ESTILÍSTICA,
LITERATURA E INGLÊS
COMO LÍNGUA
ESTRANGEIRA
UMA PROPOSTA PARA O ENSINO MÉDIO
Sonia Zyngier
Vander Viana

Qual o papel do ensino de línguas


estrangeiras em um colégio? Deve-se dar
tratamento diferenciado para se atender
aos diferentes níveis de proiciência
e experiências prévias ou optar pela
padronização? Se a preferência for por
uma abordagem mais individualizada,
seria possível usar textos literários em
inglês com alunos do ensino médio?
Como realizar tal trabalho? Aqui
apresentamos uma proposta para o
ensino de língua inglesa no CAp-UFRJ
através da perspectiva da estilística de
base funcional.
Ilustração: Juliana Montenegro

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


27
inglês
de inglês se realiza por meio de um io condutor a ser

A utilização de textos literários na sala de aula de


inglês como língua estrangeira (doravante LE) já passou
escolhido pelo professor do grupo como, por exemplo,
vídeo, música, conversação, entre outras possibilidades.

Uma vez brevemente apresentado o panorama do ensino


por diferentes estágios desde sua fase de absolutamente
imprescindível até sua rejeição, dependendo dos de LEs no CAp-UFRJ, esta seção descreve o peril dos
modelos pedagógicos que prevaleciam a cada momento. alunos da oicina de ‘Creative Writing’, oferecida no ano
Atualmente, textos imaginativos são novamente bem- de 2007, para os alunos de todas as três séries do ensino
vindos à sala de aula de língua, uma vez que são tidos médio. Os resultados aqui apresentados derivam de um
como usos autênticos e naturais da língua-alvo. No questionário sócio-econômico aplicado aos alunos em
entanto, diicilmente encontra-se um curso dedicado ao um dos primeiros dias de aula.
trabalho com tais textos. A exceção, neste caso, concerne
programas de formação de professores oferecidos em Em termos gerais, a idade média dos alunos era de
cursos livres ou cursos universitários de Letras. 16 anos neste segmento de ensino, alguns com 14
anos no primeiro ano até 18 anos no terceiro. Havia
No ensino médio, trabalha-se o texto através de uma uma distribuição, de certa forma, equilibrada entre os
abordagem instrumental, privilegiando principalmente gêneros: 42,11% (feminino) e 57,89% (masculino).
a habilidade de leitura, sem uma preocupação pela
questão da fruição. Isso sem se falar das abordagens Quanto ao prévio conhecimento de inglês, estes três
puramente gramaticais. grupos se destacavam por dominarem a língua. Eles
já haviam tido aulas de inglês no colégio por seis anos.
Diferindo das propostas mencionadas acima, o presente Além disto, haviam realizado cursos livres de inglês por
artigo busca integrar literatura e a língua através de uma cinco anos. Quando perguntados acerca do domínio
abordagem estilística. A proposta aqui descrita indica, desta língua, os alunos se descreveram principalmente
de forma concisa, como tal abordagem funciona e como como tendo um conhecimento avançado (31,58%), pós-
ela foi posta em prática com alunos do CAp-UFRJ. Para intermediário (26,32%) e intermediário (23,68%).
tanto, são descritos inicialmente o funcionamento das
turmas de LE neste colégio e o público-alvo especíico Quando questionados acerca de seu relacionamento
das oicinas nas quais tal integração é realizada. com o ato de ler, a maior parte dos alunos (36,84%)
Posteriormente, discorre-se acerca do programa de disse ‘gostar’ de ler. Aproximadamente um em quatro
conscientização literária, que norteia o presente trabalho alunos da oicina (23,69%) airmou ‘gostar muito’ de
realizado no CAp-UFRJ. Em um terceiro momento, o ler. Parcelas consideráveis de alunos (18,42%) disseram
foco recai no projeto de ‘Creative Writing’. Os objetivos e ‘não ligar’ para a atividade de leitura ou ‘não gostar’ de
a dinâmica desta proposta são aqui descritas assim como ler. Contudo, somente 2,63% dos alunos admitiram
as unidades da mesma. Esta seção também se encontra ‘detestar’ ler.
ilustrada com a produção realizada pelos alunos desta
oicina. Por im, alguns últimos comentários são tecidos. O desempenho de leitura dos alunos também foi
investigado. Aproximadamente metade (47,36%)
classiicou-se como ‘bons’ leitores, enquanto 31,58%
Turmas e público-alvo dos mesmos disseram ter um desempenho ‘neutro’. Os
outros participantes airmaram ter um peril descrito
O CAp-UFRJ oferece três turmas de aproximadamente como ‘muito bom’ (10,53%) ou ‘ruim’ (10,53%). Quando
30 alunos em cada uma das séries do ensino médio. No se compara este resultado com o anterior, nota-se que
caso especíico de LEs, os alunos são reagrupados em há uma maior concentração de respostas nas categorias
termos de suas preferências (inglês e/ou francês) e de ‘bom’ e ‘neutro’, apesar de a maioria ter airmado ‘gostar’
sua proiciência na LE escolhida em grupos menores de e ‘gostar muito’ de ler.
aproximadamente 15 alunos cada.
Os resultados foram ainda mais negativos quando os
Em relação ao ensino de inglês, há geralmente dois alunos foram solicitados a avaliarem seus peris como
grupos de alunos iniciantes, cujo trabalho focaliza as leitores literários. Nota-se uma concentração nas
quatro habilidades; porém, a habilidade de leitura é a categorias ‘bom’ (36,84%) e ‘neutro’ (34,21%). Porém,
mais comumente trabalhada no curso. Os outros dois a categoria ‘regular’ passa a contabilizar 15,79% das
grupos são denominados de ‘oicinas’, nas quais o ensino respostas e a ‘muito ruim’, 5,27%. Ao mesmo tempo,

28 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
inglês
somente 7,89% dos alunos classiicaram-se como ‘muito Na verdade, a partir de 1989, alunos de graduação da
bons’ leitores literários. UFRJ foram introduzidos ao conceito e ao programa
de CL por mais de 10 anos, por meio de um módulo
Foi para estes alunos que o projeto de ‘Creative Writing’ da disciplina Inglês 3. As pesquisas realizadas indicam
foi ministrado no ano de 2007. Tal como foi idealizado, um aumento no nível de CL, após a realização do
este projeto resulta do programa de conscientização curso. Porém, ainda faltam estudos que veriiquem se
literária (doravante CL) descrito a seguir. esta mudança é estatisticamente signiicante. Todos os
realizados até o momento foram qualitativos.

Em 2005, o projeto de CL foi estendido a um outro


Programa de conscientização literária (CL) país: a Ucrânia. As oicinas de CL foram ministradas
a alunos do curso de graduação da Kyiv National
O programa de CL, proposto por Zyngier (vide sugestões Linguistic University. Os resultados reportados até o
de leitura abaixo), surgiu como uma alternativa para presente momento pelas pesquisadoras responsáveis,
o ensino universitário de literatura em língua inglesa. tanto pelo ensino como pela pesquisa, indicam que o
A partir de sua experiência, a pesquisadora notou que programa de CL se mostra igualmente bem sucedido
os alunos não conseguiam formular nem fundamentar em um contexto diferente do brasileiro, para o qual
análises de textos literários. A origem do problema o mesmo foi originalmente planejado. O programa já
estaria no fato de que os mesmos não teriam tido um foi adaptado para alunos de graduação e estudantes de
semestre inicial no qual se sensibilizariam a padrões ensino fundamental, ambas as iniciativas em língua
estilísticos que os ajudariam em tal tarefa. portuguesa, por outros autores.
Desta forma, propôs-se o programa de CL, com o Aqui se busca a adaptação destas oicinas de CL em
objetivo de estimular a sensibilidade dos alunos à inglês para alunos do ensino médio, projeto que foi
experiência estética de textos imaginativos. Esperava-se pilotado em três turmas do CAp-UFRJ, como descrito
que, ao serem introduzidos a certos recursos estilísticos, na próxima seção.
estes alunos pudessem produzir análises mais sólidas de
textos apresentados durante o curso de graduação em
Letras (Português/Inglês). Acreditava-se, também, que, O projeto de ‘Creative Writing’
a partir de um número reduzido de padrões, os alunos
poderiam aumentar seus conhecimentos de forma De acordo com os objetivos do programa de CL, a oicina
autônoma. de ‘Creative Writing’ tem como objetivo sensibilizar os
alunos a recursos muito utilizados em textos literários
de forma que estes possam não só identiicá-los, mas
também entender sua função e criar seus próprios textos.


Deseja-se, portanto, que as análises tomem por base
elementos lingüísticos que causem determinado efeito
propôs-se o no leitor, ou seja, os recursos estilísticos utilizados.

programa de CL, Cada unidade da oicina encontra-se divida em quatro


com o objetivo momentos. Primeiramente, os alunos reagem a um padrão
estilístico, experimentando por conta própria a emoção
de estimular a do texto antes que qualquer conceito seja apresentado
formalmente. A seguir, os alunos identiicam o recurso
sensibilidade dos enfocado e praticam o que aprenderam em um número

alunos à experiência de exercícios com vistas ao reconhecimento do mesmo


em textos / tipos textuais diversos. Por im, espera-se


estética de textos que os alunos se apropriem do padrão estudado e criem
seus próprios textos.
imaginativos.
O curso completo contempla dez unidades distintas. Os
tópicos abordados incluem ritmo e entoação, categorias
narrativas, diálogo em contexto, metáforas, ponto de
vista, ironia e gênero. As unidades do curso adotam

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


29
inglês
os referenciais teóricos que são peculiares a cada área Em uma das atividades realizadas, os alunos tiveram
especíica. Assim sendo, no capítulo de metáforas, por que produzir graicamente qualquer palavra da língua
exemplo, recorre-se à proposta de Lakoff e Johnson, no inglesa na qual a forma de representação da mesma
livro Metaphors We Live By, publicado em 1980. contribuísse para o seu signiicado. No exemplo
apresentado a seguir, Isadora Ribeiro (22C) trabalha
No primeiro semestre de 2007, três unidades foram com a palavra ‘hair’ (‘cabelo’).
trabalhadas com os alunos. A primeira delas – ‘Playing
with form and meaning’ – versava a respeito da relação Todas as letras são representadas como bonecos e o
existente entre forma e signiicado, ou seja, como cabelo de cada um deles encontra-se especialmente
as palavras podem ser dispostas no papel de forma a ressaltado na ilustração. O emprego de um boné
contribuir para o signiicado. Como p arte do curso, os voador foi a solução encontrada pela aluna de forma a
alunos veriicaram diversas realizações de tal relação, representar graicamente o pingo da letra ‘i’.
não se restringindo somente a contextos literários, mas Em um segundo momento desta primeira unidade,
incluindo também anúncios e capas de livros. os alunos criaram poemas nos quais a disposição das
palavras no papel os ajudasse a construir signiicado. Esta

Desenho de representação da palavra HAIR (cabelo), por Isadora Ribeiro.

Poema sobre o fundo do mar, por Helena Barreto.

30 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
inglês
atividade era considerada mais difícil do que a anterior The cat
uma vez que se esperava que os alunos deixassem de
lado as palavras isoladas para formar textos um pouco What a lovely cat!
mais elaborados em inglês, como o poema criado por Lying on its little bed
Helena Barreto (22C), que versa sobre o fundo do mar. What a lovely cat!
So cute and so sad
Os primeiros versos do poema são dispostos como What a lovely cat!
ondas, que funcionam como o ‘cobertor’ lingüístico que The best pet you have ever had.
esconde a beleza que se encontra escondida no fundo What a lovely cat
do mar. A palavra ‘underneath’ (‘embaixo’) está disposta Unfortunately, it’s dead
graicamente de uma forma a lembrar um peixe.
Nota-se também no poema a existência de rimas do tipo
Na segunda unidade (‘Playing with types of texts’), o ABBA, com o uso dos pares de palavras ‘bed’ e ‘dead’,
foco recaiu nos mais diversos tipos textuais existentes e ‘sad’ e ‘had’.
em língua inglesa. O trabalho analítico incluiu anúncios,
poemas, listas telefônicas, bulas de remédio, artigos Um outro exemplo é o poema sem título de Anna
jornalísticos, receitas, guia de televisão e narrativas Cláudia Pinheiro (22C), que apresenta o verso repetido
para citar alguns exemplos. Os conceitos de narrativa ‘It’s all about you’.
e descrição também foram amplamente explorados na
unidade ao serem contrastados fragmentos de textos It’s all about you
literários que passavam da descrição para a narração Every word you say makes me smile
e vice-versa. Trabalhou-se com as circunstâncias, os It’s all about you
processos, os participantes e as expectativas do leitor de Because this makes my life worthwhile
forma a permitir a identiicação de quais textos seriam It’s all about you
mais factuais ou imaginativos. For everything you need I am here
It’s all about you
A terceira unidade – ‘Playing with rhymes and Look at your side and I’ll be near
repetition’ – introduziu a questão da rima e repetição It’s all about you
em poesia. Várias atividades foram realizadas de forma Even my life to you I would give
a sensibilizar os alunos para a utilização de padrões em It’s all about you
poemas distintos, desde os mais simples até os mais But my kiss, darling, you won’t receive
avançados, como o poema “The Bells”, de Edgar Allan
Poe. Quando solicitada a explicar seu poema, a autora
airmou que o verso repetido indica que o eu-lírico faria
Em um dos últimos exercícios da unidade, os alunos qualquer coisa pela pessoa amada. No entanto, ao inal
foram solicitados a criar poemas que seguissem um do poema, o leitor é surpreendido pelo fato de que há, na
determinado padrão: um verso repetido no poema era verdade, algo que o eu-lírico não faria pelo(a) amado(a):
intercalado por outros versos, que deveriam idealmente beijá-lo(a).
apresentar rimas. O último verso deveria quebrar a
expectativa do leitor, apresentando um padrão diferente. O presente artigo não pretende esgotar a questão sobre
No poema ‘The cat’, de Patricia Martins (21A), apesar o ensino de literatura. Apresenta meramente uma visão
de serem indicadas as características comuns e prosaicas panorâmica de uma proposta, dentre várias, em que se
de um gato (‘encantador’ [‘lovely’], ‘gracioso’ [‘cute’], pode utilizar a estilística para sensibilizar o aluno ao
‘melhor’ [‘best’]) e até mesmo uma negativa (‘triste’ texto imaginativo e, com isso, não só promover a leitura
[‘sad’]), o leitor se surpreende quando, no inal, percebe e a autonomia, mas também desenvolver o ensino de
que se trata de um gato morto. língua no ensino médio. Apesar de todas as resistências
teóricas e/ou práticas que possa haver, os exemplos aqui
apresentados ilustram como alunos, cujo conhecimento
da língua inglesa variava entre o intermediário e o
avançado, foram capazes de trabalhar com padrões
estilísticos, compreender textos imaginativos em ILE,
construir signiicados a partir dos mesmos e produzir
seus próprios textos de forma criativa. Esta talvez

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


31
inglês
seja uma forma eicaz de tornar os alunos ainda mais
proicientes em inglês. Porém, para que as oicinas sejam
produtivas, é fundamental a divisão de grandes turmas
em grupos menores, como ocorre no CAp-UFRJ, para
que os professores atendam às necessidades de cada
grupo.
A presente proposta foge a uma abordagem que, muitas
vezes por impedimentos práticos como número de
salas e/ou de professores disponíveis, busca nivelar o
ensino de LE. Aqui, a individualidade e conhecimento
de cada aluno são levados em consideração e cada aluno
colabora com seu colega. Em última análise, a atenção
mais individualizada aos alunos permitirá com que o
solo se torne mais fértil para projetos educacionais no
âmbito de LEs.

Indicações Bibliográicas:

CARTER, R. Literature and language teaching 1986-2006: a review. International Journal of Applied
Linguistics, v. 17, n. 1, p. 3-13. 2007.

FEDOROVA, Y.; IVANYUK, L.; KOROLCHUK, V.; YEMETS, N. The catchers in the rhyme. Kyiv: Lenvit,
2006.

LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors we live by. Chicago: The University of Chicago Press, 1980.

ZYNGIER, S. At the crossroads of language and literature: literary awareness, stylistics, and the
acquisition of literary skills in a EFLit context. 1994. 626 f. Tese (Doutorado em Lingüística Aplicada) –
School of English, University of Birmingham, Birmingham.

Developing awareness in literature. Rio de Janeiro: Serviço de Publicações da Faculdade de Letras/UFRJ,


2002.

Conscientização literária. Rio de Janeiro: Setor de Publicações da Faculdade de Letras/UFRJ, 2004.

ZYNGIER, S.; KIRSTEIN, E.; VIANA, V. Playing with style: creative writing for EFL. (no prelo).

WATSON, G.; ZYNGIER, S. (Eds.). Literature and stylistics for language learners: theory and practice.
Hampshire: Palgrave Macmillan, 2007.

Vander Viana é mestrando em Letras pela PUC-Rio


e foi professor substituto de Inglês no CAp-UFRJ.

Sonia Zyngier é Ph.D. em Lingüística Aplicada pela


Universidade de Birmingham e professora colaboradora do
Programa Interdisciplinar de Lingüística Aplicada da UFRJ.

32 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
desenho geométrico
O software
TABULAE no CAp
da Universidade
Federal do Rio de
Janeiro
Vania Maria Rocha Gomes Hozumi

Estado de Arte da Geometria Dinâmica

A Geometria Dinâmica em ação

A geometria dinâmica é um conceito computacional


que representa uma classe de programas usados como

O avanço da Informática nos últimos tempos


permitiu ao processo de ensino-aprendizagem uma
tecnologia educacional para o ensino de matemática
e de outras disciplinas voltadas para as técnicas de
representação. Os programas de ‘geometria dinâmica’
oferecem ao usuário uma ambientação didática,
universalidade de informações dando a oportunidade por excelência, para conjecturar, testar idéias e criar
de incorporar o uso do computador no cotidiano das simulações. Constituem, assim, fonte inesgotável de
escolas. investigação, da qual cada interessado normalmente
se serve, guiado por determinados objetivos e baseado
O avanço na tecnologia gráica, em particular da em sua própria experiência (Rodrigues 2001). Admite-
Geometria Dinâmica, tem contribuído no ensino e se que a Geometria Dinâmica seja uma expressão da
desenvolvimento do conhecimento para alunos nas necessidade prática dos conceitos teóricos da disciplina
salas de aula de Desenho e Matemática. Desenho, atuando como um excelente instrumento para
dinamizar o aprendizado dos alunos e dando “vida” à
No início de 2006, o CAp - Colégio de Aplicação da representação gráica.
UFRJ - inaugurou seu laboratório de informática e
recebeu o software de Geometria Dinâmica Tabulae.
Tabulae
Assim sendo, foram colocados como objetivos
especíicos neste estudo: (a) Introdução do software
de Geometria Dinâmica Tabulae nas aulas práticas de O Tabulae, cujo nome inspirou-se no conjunto de tábuas
Desenho; (b) Avaliação por meio de pesquisa empírica de cera que os antigos gregos e romanos usavam para
os resultados dessa inserção. rabiscar mensagens e diagramas, é um software de

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33
desenho geométrico
Geometria Dinâmica que foi desenvolvido pelo Instituto Metodologia Utilizada
de Matemática – CCMN – UFRJ e fez parte do projeto
PACE – Pesquisa em Ambientes Computacionais de Trabalho com os alunos-alvo
Ensino .
A experiência, desenvolvida no segundo semestre de
A versão atual do Tabulæ contém funcionalidades 2006 com as turmas de 6º ano do ensino fundamental,
geométricas e vetoriais, além de calculadora. O objetivo foi realizada em etapas. Iniciou-se com a ida de metade
principal do programa é proporcionar uma alternativa da turma ao laboratório de informática, com quinze
brasileira, de classe mundial, aos aplicativos encontrados alunos por grupo, tendo a outra metade permanecido
hoje em dia. O Tabulae oferece vantagens particulares em sala de aula, em atividades com o SOE (Serviço de
como a possibilidade de usar um algoritmo adaptativo Orientação Educacional). Este primeiro contato em
para desenhar lugares geométricos. novo ambiente de trabalho objetivou que os alunos
conhecessem o software, seus comandos, seus ícones e
Do ponto de vista computacional, a concepção do recursos.
Tabulae é totalmente direcionada ao objeto. Isso permite
que suas partes (o núcleo matemático, a interface Os estudantes trabalharam em duplas e foram deixados
gráica e as facilidades de comunicação à distância, à vontade para pesquisarem e se familiarizarem com as
características que o diferenciam dos seus concorrentes) novas ferramentas de estudo.
sejam desenvolvidas independentemente e que novas
ferramentas sejam sempre adicionadas. Em suas primeiras atividades na representação gráica
computacional, criaram algumas formas, procurando
O Tabulae também possibilita gerar applets, e ainda simular objetos que pudessem ser representados com a
permite que um professor obtenha um relatório reta e seus subconjuntos.
completo do trabalho de aluno, incluindo o registro de
tempo que passou no computador, dado que pode ser Na outra aula da semana foram ensinados novos
usado para pesquisa. conteúdos e solicitados exercícios, que izessem os
alunos trabalharem com o uso das ferramentas de
Objetivos desenho tradicionais. Houve ainda o acréscimo de
tarefas em duplas, as quais os alunos poderiam executar
no laboratório de informática. Os conteúdos seriam os
A experimentação deste programa no CAp da UFRJ mesmos e a tarefa se resumia em explorar o ferramental
visou a realizar o primeiro contato dos alunos do 6º do software.
ano, na disciplina Desenho Geométrico, em que se
pretendia fazer a associação das aulas teóricas com as Dentro do programa de Desenho para a turma de 6º
aulas práticas em laboratório. ano, nota-se que os conteúdos são voltados para o
reconhecimento das formas geométricas e dos elementos
Como ocorreriam as possibilidades de interação dos que as constituem. Não há, nesse nível, a necessidade
conceitos e percepções das construções geométricas? do “pensar construir”, mas sim do “saber reconhecer e
Como poderia este aluno relacionar e representar distinguir”.
conceitos básicos? Em que medida o computador
atuaria como estímulo para os novos conceitos, formas, As preocupações iniciais de fazer com que os alunos em
símbolos e principalmente para a construção do sala de aula se desenvolvessem em torno dos eixos Idéias
conhecimento? (fundamentação) e Imagens (construção) deram enfoque
aos seguintes objetivos que o aluno deveria alcançar:
Essas foram as principais questões levantadas na
investigação. A busca de respostas para elas foi -Conceituar e reconhecer propriedades básicas de uma
feita através de mecanismos empíricos, tentando- reta;
se acompanhar o experimento com observações, e -Identiicar e representar pontos colineares e ponto
procurando-se veriicar a importância da utilização da comum;
Geometria Dinâmica na área em estudo. -Identiicar e traçar retas nas suas diferentes posições.
-Diferenciar semi-reta de segmento de reta e representá-
los;
-Medir segmentos de reta;

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34
desenho geométrico
-Conceituar segmentos colineares, segmentos que eles criassem um resumo sobre alguns conteúdos
consecutivos e segmentos congruentes. dados, sendo que o trabalho poderia ser bem objetivo
e simpliicado.
Os conteúdos utilizados para serem trabalhados nesta
primeira fase foram, portanto: a reta e seus subconjuntos; A igura a seguir ilustra uma atividade no software
posições da reta e classiicação de segmentos de reta Tabulae, na qual a representação é de uma casa em
segundo sua posição relativa e medida. perspectiva; para alterar a perspectiva da igura, basta
mover o ponto (Figura 1).
Na etapa seguinte, os alunos trabalharam no laboratório
de informática. Nesse momento, os mesmos conteúdos
foram apresentados. Os recursos computacionais
utilizados garantiram o desenvolvimento de um
processo de aprendizagem rico, pela possibilidade
da manipulação de elementos, que os ajudaram a
representar formas geométricas.

Foram construidas pelos alunos algumas composições


gráicas, exercício que, após o reconhecimento e
transferência dos elementos gráicos, ajudou-os a criar
desenhos e nomeá-los. Através do uso das ferramentas
computacionais e de novos objetivos, os alunos puderam: Figura 1: Interface do Tabulae.
Extraída de http://www.limc.ufrj.br/tabulae.htm em 25/04/2007.
-Conceituar, representar e medir ângulos;
-Reconhecer e traçar a bissetriz de um ângulo; Os alunos representaram nas telas do sofware Tabulae
-Reconhecer e desenhar ângulos classiicados quanto às segmentos de retas que ilustram iguras tais os polígono
suas medidas, quanto à soma de suas medidas e quanto e ainda “desaio” na criação de formas e temas livres
às suas posições. (Figura 2 e 3).

Já, no laboratório, com os recursos computacionais,


reconheceram os mecanismos de uso e identiicação
de ângulos. Assim sendo, foram propostos pequenos
trabalhos com o uso do computador onde o tema
“Ângulos” envolvia traçados, medidas e bissetriz do
ângulo criado.

Caminhando com os conteúdos dos bimestres,


desenvolveu-se a unidade de “Polígonos”, na qual os
objetivos foram previamente apresentados aos alunos:

-Conceituar polígonos e identiicar os seus elementos; Figura 2: Representação de iguras criadas por alunos do CAp
-Diferenciar, polígonos convexos de polígonos
côncavos;
-Classiicar e nomear os polígonos;
-Reconhecer um polígono regular.

Para trabalhar primeiramente com esses conteúdos em


sala de aula, utilizaram-se conceitos básicos, tais como:
a linha poligonal, os segmentos de reta, as considerações
quanto às posições relativas dos segmentos, as poligonais
abertas, fechadas, simples e não simples.

Como última etapa, para os alunos da 6º ano, foi


Figura 3: Representação de iguras criadas por alunos do CAp
proposta a elaboração de um trabalho inal com o
uso dos recursos computacionais, no qual se pedia

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35
desenho geométrico
Resultados respondia se o respectivo tempo estava de acordo com
as perspectivas dos alunos. Classiicamos o tempo em
Satisfatório e Insatisfatório. (Figura 6 e 7)
Facilidade de Aprendizagem

O software foi apresentado para os alunos de forma Otimização dos Procedimentos


que lhes oferecesse fácil manuseio. Em vista disso foi
elaborado um critério, por meio do qual, observadas as 40
respostas, as mesmas foram classiicadas como: Fácil,
Difícil e Mediano. (Figura 4)
Número de
20
Alunos

Facilidade de Aprendizagem

0
35 Satisfatório Insatisfatório

30 Respostas dos Alunos

25
Fig.6- Gráico de Otimização dos Procedimentos
Número de 20
Alunos 15
10
5
Segurança no Software
0
Fácil Dificil Mediano Para ser uma boa ferramenta o aluno deveria ter a
Respostas dos Alunos sensação de segurança ao trabalhar com as ferramentas
deste software, assim como em sala aula com
Fig.4-Gráico de Facilidade de Aprendizagem baseado
instrumentos de Desenho normais (ex: a régua, par de
no número de alunos
esquadros). Dividiu-se esta segurança em Sim, Não e
Mais ou Menos.
O software ofereceu ferramentas que atraiu a atenção
das crianças para sua exploração? O critério utilizado
para a medição deste nível foi em Alto, Baixo e Médio. Segurança no Software

40
35
30
Nível de Interesse Número de
25
20
Alunos
15
40 10
35 5
30 0
25 Sim Não Mais ou Menos
Número de
20 Resposta dos Alunos
Alunos
15
10 Fig.7- Gráico de Segurança no Software baseado no número de alunos
5
0
Alto Baixo Médio Pôde-se perceber, pela análise, que foi fácil para os alunos
Respostas dos Alunos trabalharem com o Tabulae. Os alunos apresentaram
como justiicativas a oportunidade de terem colocado
Fig.5 Gráico de Nível de Interesse baseado no número de alunos
em prática os aprendizados e conceitos adquiridos em
sala de aula e por ter se tornado fácil a interpretação
dos tópicos do programa. Já, para alguns, o software foi
difícil, pois apresentava muitos comandos, o que gerava
Otimização do Software confusão pelo excesso de informações. Já a análise
dos que se posicionaram como medianos, no início do
A expectativa dos alunos em relação ao tempo de “entender usar”, foi complicada pela falta de convívio
resposta do software deveria estar adequada às suas no laboratório, mas foi melhorando com o passar do
necessidades? Para isso realizou-se esta análise que tempo.

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36
desenho geométrico
O nível “Alto” de interesse dos alunos no software icou iniciarem seus conteúdos na disciplina desenho, fazendo
bem variado nas colocações, pois as crianças julgaram um paralelo com aulas teóricas e práticas em ambiente
que o software tinha sido criado para elas; a curiosidade computacional.
foi um fator determinante na exploração do software,
foi muito divertido realizar tarefas. Já na análise do Observou-se que os mesmos conteúdos trabalhados
nível de interesse “Médio” , os alunos airmaram que a em sala de aula foram descobertos aos poucos no
vontade de experimentar “ tudo” era muito grande, mas laboratório, cujo ambiente de trabalho foi a preferência
nem sempre tinham conhecimento de suas aplicações. da maior parte dos alunos. As respostas foram mais
No nível “Baixo” de interesse, de um modo geral, as rápidas e perfeitas, as tarefas de mais fácil resolução, isto
crianças não se identiicaram com o software, e o que tornava as aulas divertidas, interessantes para os alunos.
criavam não era atraente. No laboratório sentiram-se mais seguros, evoluindo
em seus desempenhos práticos e conseqüentemente em
Analisando a Segurança do uso do Software as crianças suas notas. Certos alunos demonstraram preferência das
demonstraram, em suas colocações, que o erro gráico aulas de desenho em sala de aula, devido à importância
das representações era quase impossível, pois o programa da explicação da professora. Os alunos que preferiam os
orientava e corrigia. As medidas solicitadas estavam dois ambientes de trabalho apresentavam um equilíbrio
sempre corretas, as explicações detalhadas, permitindo no desempenho das tarefas, ou seja, a parte teórica e
com que o aluno icasse com mais coniança para prática em sala de aula tinham a mesma desenvoltura
realizar suas tarefas. Os alunos que demonstraram estar que no ambiente computacional.
mais ou menos seguros justiicaram que nem sempre
o programa lhes atendia para tirarem outras dúvidas e A aprendizagem luiu bem quando as atividades foram
que icavam impossibilitados de obterem explicações. executadas em duplas, pois a organização era dividida
Os alunos que não se sentiram seguros, optaram por em etapas e as trocas tanto de tarefas como dos
julgarem os comandos do software difíceis e tinham conhecimentos enriqueciam as aulas.
medo de fechar o programa sem as tarefas realizadas. O
aluno tinha de entender a matéria, independentemente Houve evolução do desempenho das representações
do software, assim se sentiria mais seguro. gráicas e na compreensão dos conteúdos, já que na
6º ano o enfoque é reconhecer as formas, para isso o
Foi elaborada uma única pergunta em relação à computador permitiu, como ferramenta, uma grande
percepção dos alunos com o software. Que idéia você criatividade de representações por parte dos alunos.
daria aos criadores do software para facilitar seu uso?
As diiculdades apontadas são as seguintes, em ordem A pesquisa aqui relatada permite recomendar que, no
de maior freqüência: futuro, tente-se intercalar maior número de aulas em
ambientes computacionais. Acredita-se que os ambientes
(1) Funções com acesso imediato; gráico-digitais podem prestar maior ajuda aos alunos
(2) Caixa de diálogo mais fácil de usar; no entendimento dos conteúdos, além de permitirem
(3) Mais informações sobre os comandos; que eles acessem e explorem o universo da tecnologia
(4) Ícone de ajuda; a seu favor, superando as limitações dos recursos
(5) Salvar mais facilmente; tradicionais, ao mesmo tempo em que cria estímulos a
(6) Ser de acesso livre. novas relexões expande o conhecimento gráico.

As sugestões em sua maioria referenciavam maior Indicações Bibliográicas:


facilidade de entendimento nas funções do software,
pois no início o problema parecia ser único : lidar com BELFORT, E. (2001) “Tabelae e Mangaba:
um novo código gráico, uma linguagem nova que
Geometria Dinâmica”. In: VII ENEM - Encontro
exigiu, pela inexperiência das crianças a capacidade
Nacional de Educação e Matemática. UFRJ. Rio
de aprender a relacionar novos conteúdos em novo
de Janeiro.
ambiente computacional de trabalho.

Considera-se ter atingido o principal objetivo da Trabalharam como colaboradores: Maria de


Fátima Galvão e Monique Pontes.
investigação neste estudo – avaliar a exploração do
software Tabulae, pela geometria dinâmica pode Vania Maria Rocha Gomes Hozumi, Maria de
Fátima Galvão e Monique Pontes são do Setor
signiicar um mecanismo novo para os alunos ao Curricular de Desenho do CAp-UFRJ

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37
resenha
Entre Áfricas
e Brasis
Mônica Lima
Setor Curricular de História

Resenha do livro “Entre Áfricas e Brasis”


de Selma Pantoja (org.),
São Paulo, Editora Marco Zero, 2001

A África tem uma História. Com esta frase,


há cerca de duas décadas atrás, o grande historiador
A diversidade de contribuições presentes nos textos
africano Joseph Ki-Zerbo abria o primeiro volume
da coleção História Geral da África organizada pela da coletânea, divididos em quatro partes – A África e
UNESCO e com alguns de seus volumes publicados seu passado; Hoje, nas Áfricas; Nos Brasis, os africanos
no Brasil pela editora Ática. Na época, esta era uma e Ser africano nos Brasis – dá um amplo alcance à
airmação categórica, carregada de signiicados políticos obra, proporcionando um contato com distintos
e metodológicos, dirigida simultaneamente à academia e olhares sobre contextos históricos, questões de política
ao público em geral. Era necessário, além de reconhecer contemporânea, formas de resistência cultural e análises
que havia uma História da África, reescrevê-la sobre de representações institucionais, discursivas e estéticas
novas bases. que têm africanos e afrodescendentes como objeto. Os
autores: brasileiros, africanos e estrangeiros – neste caso,
No Brasil chegaram os ventos dessa tomada de vale a distinção - de igual maneira apresentam enfoques
consciência, os quais, associados às discussões sobre especíicos acerca destes aspectos, conduzindo a uma
o centenário da abolição, criaram um clima favorável leitura variada e instigante sobre as tantas Áfricas e
ao surgimento de uma nova produção historiográica Brasis.
destinada ao estudo dos africanos e afro-descendentes
no Brasil. O tema não era novidade, mas o impulso Na primeira parte – África e seu passado – Philip
surgido a partir de 1988 caracterizou o início de um Havik, em seu texto “Matronas e mandonas: parentesco
novo momento da chamada historiograia da escravidão e poder feminino nos rios da Guiné (século XVIII)”,
africana, fortalecida nos anos noventa pela produção analisa a atuação de poderosas comerciantes africanas,
acadêmica dos cursos de pós-graduação. Estava aberto ilhas e viúvas de mercadores e donos de terra tornadas
um tempo de aprofundamento das análises e das senhoras de muitos negócios. As nharas (nome pelo
discussões sobre o Brasil escravista e suas resultantes qual estas mulheres eram conhecidas na língua local)
históricas, nas quais, cada vez mais, foi transparecendo a a partir de um determinado momento foram vistas
importância do entendimento das relações com a África. como empecilhos para os interesses portugueses em
Hoje, alvissareiramente, caminha-se nesta direção. A lei controlar as trocas na região, e o conlito foi inevitável.
10.639/2003, atualizada e ampliada pela lei 11.645/2008 O seguinte artigo, de Selma Pantoja, “Donas de arrimos
trouxe a obrigatoriedade destes conteúdos para nossas : um negócio feminino no abastecimento de gêneros
aulas, não só em História como em diversas disciplinas alimentícios em Luanda (séculos XVIII e XIX)”, nos
da grade curricular. conta sobre a atuação de outras mulheres africanas,
ricas proprietárias nas cercanias da cidade na época
O livro Entre Áfricas e Brasis, organizado por Selma de férteis terras, cuja produção agrícola sustentava a
Pantoja, professora da Universidade de Brasília, população urbana e os eventuais viajantes que por
pesquisadora com reconhecida experiência em arquivos lá circulavam. Estas senhoras, assim como as nharas
brasileiros, portugueses e africanos, é um exemplo neste dos rios da Guiné do artigo anterior, desaiavam as
sentido. Veio a trazer uma contribuição fundamental aos estruturas patriarcais do poder português em Luanda,
estudos de História da África, dos africanos no Brasil e garantiam, juntamente com as africanas dedicadas ao
e das conexões entre diferentes partes destes mundos, comércio miúdo, o funcionamento da cidade e a sua
ligadas pelo vasto Mar Oceano ao longo de séculos. sobrevivência cotidiana. Ainda nesta parte, Linda M.

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38
resenha
Heywood em “As conexões culturais angolanas-luso- A última e quarta parte do livro – “Ser africanos, nos
brasileiras” desvenda surpreendentes relações entre o Brasis” – se inicia com o artigo de Carlos Reis de Paula
catolicismo popular em Portugal, no Congo e no Brasil, , Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, “Direito e
através do estudo das irmandades negras que formavam Relações Raciais”, em que o autor, revendo a legislação
à época uma verdadeira rede de caráter transoceânico de produzida para combater a discriminação racial no
trocas culturais. O estudo destaca o caso da Irmandade Brasil, discute suas transformações, avanços e impacto
de Nossa Senhora do Rosário em Salvador na Bahia, social. Para exempliicar esta discussão, analisa um
integrada exclusivamente por angolanos no início do processo judicial, com parecer favorável ao cidadão alvo
século XVIII. de racismo. E, ainda, destaca o aspecto da promoção da
igualdade na Convenção sobre a Eliminação de Todas
Em Hoje, nas Áfricas, João Paulo Borges Coelho indica as Formas de Discriminação Racial, que se constitui no
fontes e faz um estudo das duas guerras de Moçambique grande desaio a ser enfrentado em nosso país que possui
desde a luta pela independência, por ele consideradas uma população imensa de excluídos, majoritariamente
como guerra colonial e guerra civil, respectivamente. negros e mestiços. “O desaio de controlar a própria
Seu artigo intitulado “As duas guerras de Moçambique” explosão”, de Edson Lopes Cardoso, traz uma revisão
relata e compara os conlitos em seus determinantes da trajetória do Movimento Negro nas últimas décadas,
históricos e nas suas conseqüências para o país . José destacando seu papel ideológico na desarticulação do
Octávio Serra Van-Dúnen em “Angola e África: discurso racista e no fortalecimento da identidade negra
realidades e perspectivas“ analisa os aspectos políticos no Brasil, sobretudo entre os jovens. No mesmo texto,
das recentes guerras no continente, com enfoque apresenta fragmentos de pronunciamentos políticos e
especial nas relações entre poderes centrais e locais e matérias jornalísticas, tecendo comentários críticos sobre
na necessidade de enfrentamento de problemas que se visões aparentemente progressistas no que concerne à
generalizaram pelos países africanos como a pobreza, a propostas para a melhoria da vida da população negra,
fome e a crescente desigualdade. Pio Pena Filho discute mas que não atentam para a exigência de uma via que seja,
em seu texto “Conlito e busca pela estabilidade no ao mesmo tempo, radical e organizada politicamente
continente africano na década de 1990” as tentativas – desaio posto ao Movimento Negro. O último dos
de governos nacionais, órgãos internacionais e blocos artigos desta coletânea, tão diversa quanto instigante,
regionais de resolução das guerras civis que têm assolado é o de Nelson Ode Inocêncio : “Representação Visual
os países africanos nas últimas décadas. do corpo afro-descendente”, o qual, numa perspectiva
inovadora no campo das ciências sociais, traça uma
Nos Brasis, os africanos é o título da terceira parte, análise das imagens construídas sobre aspectos físicos
na qual Edy Rezende Fleisher comenta a produção de negros e mestiços. Nele, e buscando assumidamente
bibliográica sobre os quilombos no Brasil, enfocando provocar o leito , divide o texto em partes do corpo dos
especialmente sua organização espacial, as práticas afro-descendentes vistas como símbolos de variado teor,
religiosas e a sobrevivência econômica das comunidades desvendando as estratégias de dominação presentes na
quilombolas. Neste trabalho intitulado “Quilombos construção deste discurso imagético.
brasileiros: estratégias para a liberdade, sobrevivência
e etnicidade” a autora, revendo obras clássicas sobre o Temos, enim, em “Entre África e Brasis” um
tema, destaca aspectos normalmente pouco estudados apanhado sobre estudos africanos e afro-brasileiros,
nas mesmas, em geral mais preocupadas em enfatizar trazendo temáticas extremamente desaiadoras e ainda
a capacidade de lutar, de fugir e de se esconder dos não devidamente exploradas no campo acadêmico:
escravos aquilombados . O artigo “Capoeiras angola e a história vista sobre uma perspectiva de gênero, a
regional : duas formas de entendimento e de integração contemporaneidade explosiva analisada em dinâmicas
à sociedade brasileira”, de Roberta K. Matsumoto, traz o internas ao continente, as formas de resistência como
tema desta manifestação herdada dos escravos africanos, mecanismos de construção de identidade cultural e
discutindo a sua história e os signiicados de suas mais étnica e os novos terrenos de combate ao racismo nas
importantes vertentes no Brasil, comparando formas de suas expressões mais atuais. Para nós, educadores, temas
organização, técnicas e visões de mundo que expressam. fundamentais. Um livro que se destina, certamente, a
Glória Moura, em “Quilombos contemporâneos versus provocar discussões e fomentar debates, caminho
Terceiro Milênio”, coloca em pauta a questão das necessário para ampliar a percepção da nossa identidade
comunidades remanescentes de quilombos no Brasil de como brasileiros, tendo em vista que nela a África é
hoje, em especial no que tange ao seu reconhecimento parte vital, sem a qual não podemos inalmente nos (re)
como tal e aos problemas da propriedade da terra, tendo conhecer.
como referência a discussão de critérios de identidade
étnica, a história destes grupos e a legislação em vigor
no Brasil.

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


39
notas

Aconteceu no
2° semestre de 2008
ENEM

Os alunos do CAp/UFRJ obtiveram excelente


desempenho no ENEM 2009, realizado no 2º
semestre de 2008.
Biologia Experimental

Entre os dias 21 e 22 de agosto de 2008, 19 alunos


Ciranda literária do Colégio, acompanhados por uma equipe de
professores, participaram da XXIII Reunião Anual
Em setembro de 2008 a Biblioteca do CAp realizou a da Federação de Sociedades de Biologia Experimental.
primeira edição da Ciranda Literária, que homenageou O evento ocorreu em Águas de Lindóia, SP. Os
os 15 anos de reabertura da Biblioteca. alunos, além de assistirem cursos e palestras, também
apresentaram trabalhos realizados em suas atividades
Em 2009, a segunda edição da Ciranda acontecerá de ICJr no ano de 2007. Foram inscritos e publicados
entre os dias 09 e 13 de novembro e terá como foco a nos Anais do Evento 16 trabalhos produzidos por
cultura africana. 25 alunos. Esta atividade foi inanciada pela PR-2/
UFRJ e faz parte do Projeto “O Jovem e a Ciência
no Futuro” desenvolvido na parceria que envolve a
Seminário de Iniciação Cientíica FeSBE, o CAp/UFRJ e o Provoc-Fiocruz.

Em 12 de maio de 2008, as atividades do NIC Jr.


CAp/UFRJ foram apresentadas na conferência Semana de Arte, Ciência e Cultura
de abertura do Seminário de Iniciação Cientíica
“Universidade: Ciência e Inclusão” da Universidade A SACC ocorreu nos dias 11, 13 e 14 de outubro.
UNIGRANRIO. A abertura contou duas atividades que mobilizaram
a comunidade capiana: O concerto didático,
O XXII Fórum de Pesquisa em Cirurgia foi realizado coordenado pelos professores do Setor Curricular
em 11 de novembro de 2008, no Colégio Brasileiro de de Música e, com a participação de licenciandos e
Cirurgiões/Rio de Janeiro. alunos, e a presença do cineasta Nélson Pereira dos
Santos, e do Magníico Reitor, que participaram de
IX Seminário de Vocação Cientíica do Centro animado debate sobre cinema. Nesse dia, Nélson
Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Evento Pereira dos Santos foi convidado para ser padrinho
realizado no CBPF no dia 06de outubro de 2008. O da Escola de Cinema do CAp. Uma novidade.
trabalho apresentado em sessão oral foi considerado Projeta que consagra uma parceria entre o CAp e a
o melhor entre os 12 apresentados por alunos de Fac. de Educação da UFRJ.
diversos colégios do Rio de Janeiro.Título do trabalho
apresentado na UNIGRANRIO: “Iniciação Durante o evento
Cientíica Júnior: A experiência do CAp/UFRJ”. foram realizadas 102
atividades, divididas
entre exposições, teatro,
CESPEB palestras, poesia, cinema
e muitas obras.
No mês de agosto, o CAp iniciou a sua participação
no Curso Saberes e práticas na Educação Básica
(CESPEB). Esta é uma proposta que se destina O CESPEB iniciou com cursos especíicos em:
atender à formação de professores em exercício Ensino de História; Alfabetização, leitura, Escrita;
na escolas públicas. Para o Colégio de Aplicação, Educação Física e Políticas Públicas. É possível que
este é um desaio acadêmico, posto que desde a sua para o próximo ano cursos em outras áreas possam ser
fundação, a instituição atuou na formação inicial. oferecidos.

40 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
notas
Jornada de Iniciação Cientíica

Alunos pertencentes ao IC Jr. participaram também os dias 03 a 07 de novembro de 2008. Neste evento, 8
da XXX Jornada Guiulio Massarani de Iniciação alunos do CAp apresentaram 5 trabalhos produzidos em
Cientíica, Artística e Cultural da UFRJ ocorrida entre suas atividades de IC Jr..

Debate Foto Silmar Marques

O Grêmio CAp/UFRJ realizou no


dia 19 de setembro de 2008, no teatro
do CAp, um debate com alguns dos
candidatos à prefeitura do município do
Rio de Janeiro. Pudemos contar com a
presença de Eduardo Serra (PCB), Chico
Alencar (PSOL), Alessandro Mollon
(PT), com o vice da candidata Jandira
Feghali, Ricardo Maranhão (PCdoB),
além de um representante do grupo
Coletivo Marxista, que no caso dessa
eleição opta pelo voto nulo, o professor
de Educação Física Estevão Garcia.
A platéia estava lotada de estudantes,
professores, funcionários, visitantes
de outros colégios e pais de alunos do
CAp. Foi pautado no debate a educação,
visto que estamos numa instituição de
ensino, e os candidatos foram questionados também aos pedaços e que tem sido demasiadamente precarizada
sobre o passe-livre, sobre a suposta divisão da esquerda pelos últimos governos municipais/estaduais/federais.
nesta eleição, e sobre a saúde pública que anda caindo

Grupo CApachos da Arte ganha prêmio


O grupo de teatro CApachos da Arte, coordenado pelas Friburgo, com o espetáculo “O Edifício”, adaptação
professoras Andrea Pinheiro (Artes Cênicas) e Ana do conto homônimo de Murilo Rubião. No espetáculo,
Lucia Soutto Mayor (Língua Portuguesa), em outubro os alunos-atores Daphne Barreto, Isabela Peccini, Julia
de 2007 ganhou o Prêmio de Melhor Sonoplastia no I Rodrigues, Laís Relvas, Mainah Feitosa e Rodrigo
Festival Intercolegial de Teatro Carlito Marchon, em Fernandes, dirigidos por Brunella Provvidente (bolsista)
e Pedro Pedruzzi (ex-aluno),
compõem uma partitura corporal
e sonora de todas as máquinas
envolvidas na construção.
E por fazerem os sons com
tanta criatividade e precisão,
ganharam, merecidamente, o
prêmio. No 2° semestre de 2008,
o grupo apresentou uma peça
de autoria de um aluno do CAp,
Leonardo Ferreira, turma 23C,
intitulado “Uma vida...”. A peça
conta as agruras e angústias de
jovens às vesperas do Vestibular.
O espetáculo foi apresentado
tanto na Fiocruz (em setembro)
quanto no CAp (na Semana
de Arte, Ciência e Cultura, em
Foto Silmar Marques outubro).

junho de 2009 perspectiva capiana nº5


41
COMO PUBLICAR EM PERSPECTIVA CAPIANA

Perspectiva capiana é uma revista de divulgação que publica ilustrações e pequena apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo
prioritariamente resultados de projetos de ensino, de pesquisa e de de 11.000 caracteres com espaço (~1.800 palavras).
extensão feitos no Colégio de Aplicação da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (CAp-UFRJ), em todas as disciplinas, para Opinião: considerações pessoais sobre temas relacionados à educação
um público amplo e heterogêneo. Os leitores da revista são, em ou com o ensino na escola. É importante que os fatos e argumentos
geral, professores de ensino fundamental e médio da instituição; sejam descritos com objetividade, permitindo ao leitor contrastar e
professores de outras escolas; licenciandos e alunos de graduação; evoluir sua própria opinião sobre o assunto. Os textos devem conter
professores universitários; pessoas que se interessam por educação abertura (resumo), título, nome e breve apresentação do(s) autor(es).
e pelas disciplinas escolares, mas não dominam necessariamente Tamanho máximo de 11.000 caracteres com espaço (~1.800
conceitos básicos de todas as áreas. Os textos da revista exigem, palavras).
portanto, clareza e simplicidade.
Sem Fronteiras: textos encomendados pelos editores a autores de fora
Os textos submetidos à publicação como artigos devem conter a do CAp-UFRJ para enriquecer as relexões em curso na escola.
contribuição original do(s) autor(es) para o tema tratado e devem Devem conter título, abertura (resumo) e nome, foto e pequena
ser inéditos – não podem ter sido publicados anteriormente em apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo de 11.000 caracteres
outro veículo de divulgação para o público em geral (mas podem com espaço (~1.800 palavras).
ter sido veiculados em revistas especializadas, por exemplo). Sempre
que possível, os resultados de pesquisa ou do projeto do(s) autor(es) Memória: textos sobre aspectos pouco difundidos da história
devem ser expostos no texto. do CAp-UFRJ ou da educação. Devem ser pouco técnicos,
destacando o contexto da época e as personagens envolvidas.
AVALIAÇÃO Devem conter abertura (resumo), nome e breve apresentação
do(s) autor(es), título e ilustrações. Tamanho ideal: 7.500
Consultores técnicos indicados pelos setores curriculares são caracteres com espaço (~1.200 palavras).
consultados quando da submissão de um texto e orientam a equipe
editorial da revista quanto ao que sugerir aos autores para corrigir Resenhas: apresentação crítica de um livro ou outro produto cultural
ou adequar o texto do ponto de vista técnico, quanto à qualidade do de interesse. Não deve descrever a obra em detalhes, mas apontar
trabalho, à linguagem adotada e à conveniência de sua publicação. sua relevância no contexto do ensino. Os textos devem conter os
Os textos aprovados são selecionados para publicação de acordo dados da obra analisada (título, autor, custo, etc.), bem como o nome
com a avaliação dos editores, levando em conta a programação e ocupação do(s) autor(es). Tamanho ideal: 3.800 caracteres com
editorial e as especiicidades de cada edição da revista. Os textos espaço (~600 palavras).
enviados pelos autores são ainda concomitantemente editados pela
redação para adequá-los à linha editorial da revista e devolvidos Notas: eventos de interesse ocorridos ao longo dos seis
aos autores para aprovação. Em caso de não-aprovação, os editores meses prévios à edição da revista. Devem ser sintéticas e
buscarão atender às solicitações dos autores, dentro do razoável do informativas (~90 palavras).
ponto de vista editorial. A revista não publicará nenhum texto não
aprovado por seus autores em sua forma inal. Títulos, subtítulos e OUTRAS INFORMAÇÕES
chamadas de capa icam a critério dos editores, embora as sugestões
do(s) autor(es) sejam levadas em consideração.
As opções de formatação adotadas pela revista para a edição dos
textos e outros detalhes (p. ex., envio de imagens), podem ser
SEÇÕES DA REVISTA obtidas pelo e-mail: perspectiva@cap.ufrj.br.

Os textos em perspectiva capiana estão divididos em seções. Para Os autores cedem automaticamente os direitos autorais de seus
favorecer a edição, pede-se que os autores avaliem previamente e textos para sua publicação na edição correspondente da revista e
indiquem a qual seção o seu texto melhor se adequa: em eventuais coletâneas posteriores. Após a publicação, sugere-
se que quando veiculados em outros meios o(s) autor(es) cite(m) a
Entrevista: (a cargo da redação) relato de perguntas e respostas em publicação em perspectiva capiana como fonte primária: ‘Este artigo
bate-papo com iguras de destaque sobre temas relevantes para a foi publicado originalmente em perspectiva capiana (v. n, n° n, p. n)’.
escola, para o ensino de disciplinas ou para a educação em geral.
Todos os autores de artigos e da seção Construindo Pontes recebem
Artigos por setor curricular: Devem apresentar trabalhos dentro do 8 edições da revista em que foram publicados seus artigos para
quadro da disciplina do(s) autor(es), e devem conter título, nome(s) distribuição própria. Autores de outras seções recebem 5 edições.
do(s) autor(es) e pequena apresentação pessoal, abertura (resumo),
setor curricular (Geograia, Música, SOE, etc.), sugestões para leitura
e ilustrações/fotos devidamente legendadas e com créditos. Não ENVIO DE TEXTOS
devem exceder 15.000 caracteres com espaço (aproximadamente
2.400 palavras). Todos os textos e anexos devem ser enviados por e-mail para a
redação (perspectiva@cap.ufrj.br) dentro dos prazos de fechamento
Construindo Pontes: artigos publicados por dois ou mais autores de das edições (até 31/04 para as edições ímpares; até 31/09 para as
diferentes setores curriculares, com temática interdisciplinar. edições pares).
Seguem a formatação dos artigos.
Textos recebidos após a data de fechamento ou fora do formato
Na Prática: textos destacando os trabalhos realizados no quadro requerido para publicação possivelmente só serão considerados para
das Práticas de Ensino. Devem conter abertura (resumo), título, publicação na edição seguinte.

42 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
Colégio de Aplicação
CAp-UFRJ
Universidade Federal do
Rio de Janeiro – UFRJ

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