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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS - CCJ


DIREITO

CASO DO ASSASSINATO DE DANIELLA PEREZ

MARIA LUIZA DE CARVALHO DUARTE CAVALCANTE


MATRÍCULA: 20220129887

JOÃO PESSOA - PB
2023
● APRESENTAÇÃO
Daniella Perez era uma atriz e bailarina, filha da renomada escritora de
novelas, Glória Perez, e de Luiz Carlos, engenheiro. Reconhecida por papéis
em novelas como “Barriga de aluguel” e “ O dono do mundo”. Todavia, foi no
papel de “Yasmin”, personagem que interpretava em “De corpo e alma”, que
ganhou destaque no universo da dramaturgia, sendo considerada como a
“namoradinha do Brasil” e conquistando muitos fãs que acompanhavam sua
carreira.
Entretanto, sua trajetória foi interrompida de maneira trágica em 28 de
dezembro de 1992, aos 22 anos, ao ser assassinada por seu colega de
trabalho e par romântico na ficção, Guilherme de Pádua, e sua esposa, na
época do crime, Paula Thomaz, que estava grávida de 4 meses.

● COMO ACONTECEU O CRIME


Como já exposto anteriormente, o crime foi consumado em 28 de
dezembro de 1992. Inicialmente, por volta das 21h os artistas Daniella e
Guilherme estavam terminando suas respectivas gravações da trama “De
corpo e alma” e estavam saindo juntos dos estúdios em que suas cenas
estavam sendo gravadas, sendo logo abordados por fãs que pediam por
fotos. Logo após o momento de interação com os admiradores, ambos
seguiram caminho para seus respectivos carros, Guilherme em um Santana,
acompanhado de sua esposa escondida no banco de trás, e Daniella em um
Escort.
No meio do percurso Guilherme parou no acostamento da via, esperando o
carro de Daniella, uma vez que supostamente teriam “assuntos a tratar”.
Assim que o mesmo avistou o automóvel da artista prontamente começou a
segui-la e quando a mesma parou em um posto de gasolina ele a trancou
com seu carro, impossibilitando-a de sair com seu carro e consequentemente
a obrigando a sair do seu veículo para entender o que estava acontecendo,
oportunidade perfeita para Guilherme, com suas intenções pré-estabelecidas,
desferir um soco no rosto da mulher, o qual causou-a um desmaio
instantâneo.
Com a vítima inconsciente, Guilherme colocou-a no banco de trás de seu
carro,Paula assumiu o volante, e ele assumiu a direção do carro de Daniella
Perez, ambos dirigindo-se para um matagal localizado na rua Cândido
Portinari na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
Ao chegarem no local, prontamente moveram Daniella do carro para dentro
do matagal e no ambiente desferiram punhaladas contra a vítima sendo 4
perfurações no pescoço, 8 no peito e 6 no pulmão, sem contabilizar a
brutalidade sofrida nas áreas não vitais. Totalizando 18 facadas de punhal
sofridas pela vítima.
Após cometer essa atrocidade, o casal foi em direção a um posto de
gasolina e pediu a um dos frentistas que limpasse o carro, na intenção de
excluir qualquer evidência de que algum dos dois fizesse parte do crime.
Para reiterar a “inocência” do casal, Guilherme de Pádua compareceu ao
funeral de Daniella e consolou sua mãe, Glória Perez, seu marido, Raul
Gazolla, e os familiares e amigos da vítima.

● DESDOBRAMENTOS DO CASO
- Testemunhas do caso: Em primeiro plano, Hugo da Silveira,
advogado, é o primeiro a ter conhecimento do crime, haja vista, que o
mesmo foi quem, a caminho da casa de sua filha, avistou os dois
carros parados do lado do matagal e estranhando a situação anotou a
placa de um deles, OM 1115, e assim ligou para a a polícia
denunciando a cena suspeita, uma vez que o local e o horario
transmitiam desconfiança, por ser um lugar esquisito e tarde da noite.
A partir da denúncia do advogado, dois policiais foram averiguar a
cena, encontrando apenas o carro de Daniella e ao entrarem no
matagal foram de encontro ao corpo, já sem vida, da atriz.
Além disso, houve também a participação, como testemunhas, dos
frentistas, os primeiros que visualizaram Daniella recebendo um soco
no rosto e o que limpou o carro de Guilherme e Paula após o crime.

- Premeditação: O caso foi visto como um crime premeditado, em


razão da placa do carro, anotada pelo advogado Hugo da Silveira, que
foi modificada. Sendo a original LM 1115 e a falsificada OM 1115, de
propriedade do ator Guilherme de Pádua, identificada pela polícia ao
comparecer aos estúdios da Globo, local de trabalho de Daniella, em
busca da placa falsificada e encontrando uma semelhante, a do ator.
Sendo aberta a possibilidade do envolvimento do mesmo, além da
comprovação da alteração da placa com fita isolante.
Além da questão da placa, também foi considerado o testemunho do
porteiro do prédio de Guilherme e Paula, que afirma ter visto os dois
saindo de sua residência com panos parecidos com lençol e
travesseiro dentre os horários de 20h até às 2h no dia do crime.

- Arma do crime: Foi comprovado pela perícia o uso do punhal como


arma do crime, o mesmo nunca foi encontrado, a partir do formato e
os ângulos que foram desferidos os golpes na vítima , impossibilitando
a especulação que tenha sido usado uma tesoura, em razão do fato
que teria rasgado a camisa de Daniella e seriam lesões diferentes.

- Motivação: O motivo por trás dos atos dos dois assassinos nunca foi
descoberto ao certo, porém é possível desenvolver algumas teorias da
razão que levou a concretização do crime que abalou o Brasil. Sendo
elas, o assédio que Guilherme sofria por parte de Daniella, hipótese
levantada pelo próprio ator que logo foi desmentido por colegas que
acompanhavam os dois, ciúmes que Paula sentia em relação ao
relacionamento amoroso que os personagens de Daniella e
Guilherme tinham na trama e até especulação que o casal Paula e
Guilherme estariam envolvidos com magia negra. Apesar de tudo isso,
a teoria que foi levada ao julgamento foi a de que Guilherme estaria
chateado com a diminuição das cenas em que seu personagem tinha
na novela e do fim do relacionamento entre “Bira” e “Yasmin”, papéis
dele e de Daniella respectivamente, acreditando que a decisão da
diminuição do destaque que seu personagem estava tendo seria por
influência de Daniella, que é filha da escritora da novela em questão,
Glória Perez.

● O IMPACTO DO CASO NA LEI DE CRIMES HEDIONDOS


Antes de qualquer coisa é importante definir o conceito de crimes
hediondos, que seriam casos que tem como característica a violência
extrema e que são socialmente traumáticos, sendo necessário que a punição
imposta ao criminoso seja mais rigorosa.
Com a morte da artista Daniella Perez veio à tona uma ampliação da Lei
de Crimes Hediondos, que até então abrangiam apenas casos em que havia
sequestro, estupro ou latrocínio, sendo essa ampliamento fortalecido pela
onde de casos brutais que o Brasil vinha assistindo em sequência, sendo até
cogitado pelo Congresso Nacional a reinstituição da pena de morte, apesar
dela constar como uma cláusula pétrea, isto é, não pode ser reimplantada
sob nenhuma hipotese uma vez que a Constituição Federal de 1988 a proibe.
A ampliação da lei só foi possível a partir dos esforços de Glória Perez,
mãe da vítima, que ficou indignada de como o processo seria organizado, isto
é, ao fato de que os assassinos de sua filha teriam uma condenação aliviada
e mais branda. Deste modo, ela acionou o Congresso e organizou um
abaixo-assinado para que o assassinato entrasse na lista de crimes
hediondos.
A estratégia usada por Glória para atingir o maior número de pessoas foi
recorrendo aos programas de rádio e televisão para pedir que as pessoas
assinassem seu abaixo-assinado, personalidades da mídia como Jô Soares e
Chico Xavier aderiram a campanha, e como consequência de todo esse
movimento em menos de três meses, Gloria conseguiu recolher 1,3 milhão
de assinaturas.
Apesar do grande número de assinaturas, suficientes para que fosse
apresentado ao Congresso Nacional como um projeto de iniciativa popular, a
Câmara dos Deputados não possuía estrutura para validar a autenticidade de
1,3 milhão de assinaturas. Com esse impedimento, a Câmara dos Deputados
preferiu incluí-la em um projeto de lei que já estava em trâmite de análise.
Esse projeto previa a mudança da determinação do homicídio cometido
por grupo de extermínio em crime hediondo e fora introduzido pelo governo
após o acontecimento de casos como a chacina de Acari e o massacre da
Candelária, ambos no Rio de Janeiro. Em suma, transformando o homicídio
qualificado em crime hediondo.
O homicídio qualificado sendo caracterizado como: “É o cometido por
motivo torpe, fútil, por emboscada, mediante paga, por meios que
impossibilitem a defesa da vítima. A política de ressocialização desses
criminosos não pode ser a mesma que se aplica a um estelionatário, a um
peculatário. Quem matou com requintes de selvageria não terá direito a
anistia, graça, indulto, fiança e liberdade provisória. E a pena será cumprida
integralmente em regime fechado. A correção dessa gente, quando se
realiza, é a longo prazo. Não podemos devolvê-la à sociedade com a
velocidade com que se devolve aquele que praticou uma simples sedução. O
que a Lei de Crimes Hediondos faz, única e exclusivamente, é estabelecer
uma distinção na forma do cumprimento da pena.” Conceituação formulada
por José Luiz Clerot, deputado federal da Paraíba.
Apesar de toda obstinação de Glória, a introdução do homícidio qualificado
no rol da Lei de Crimes Hediondos não mudaria as penas de Guilherme e
Paula, uma vez que nenhuma nova norma pode retroagir quando prejudica
os réus, determinada pelo precedente do STJ.
Desde essa ampliação, ao longo de 30 anos, houve mais adições ao rol de
Crimes Hediondos, sendo elas o feminicídio, exploração sexual de crianças e
adolescentes, falsificação de remédios e a posse da arma de fogo sem
autorização. Essas adições provocam polarização quanto a questão se elas
foram boas ou não, alguns pensadores afirmam que há uma banalização
quanto os Crimes Hediondos.

● O JULGAMENTO
Apesar do caso ter acontecido em dezembro de 1992 ele só foi a
julgamento em janeiro de 1997, no caso de Guilherme,e em maio de 1997,
em relação a Paula. Isso ocorreu em razão de ser feito perante o tribunal do
júri e pelo fato de haver duas defesas diferentes, já que o casal Guilherme e
Paula haviam se separado e portanto acusavam um ao outro de ter matado
Daniella.
A defesa de Guilherme é caracterizada pelas mudanças de versões que o
mesmo apresentava, isto é, em um momento ele afirmava que Paula não
estava envolvida e em outro ela tanto estava envolvida que foi ela quem
arquitetou tudo. Além disso, ele também expunha uma versão em que
Daniella foi ao matagal por que queria encontrar ele e para provar para sua
esposa que ele não tinha envolvimento com Daniella, ele levou Paula
escondida no banco de trás de seu carro e que ela tomada pelo ciúme teria
entrado em luta corporal com Daniella e desferido os golpes.
Além dessa versão, Guilherme ainda contava com a argumentação de seu
advogado que afirma que não foi ele que golpeou Daniella mas que se foi ele,
apenas o fez pensando que ela já estava morta.
Além das constantes mudanças de versões, Guilherme foi bastante
criticado pela sua postura performática, concedendo entrevistas a programas
televisivos a fim de conquistar a atenção do público para ele mesmo. Tendo
inclusive escrito um livro, o qual foi tirado de circulação, em que descrevia
como a Paula, segundo ele, cometeu o crime contra Daniella.
Obstante a isso, a defesa de Paula afirmava que a mesma não tinha
participação no crime, tendo seu “álibi” pautado na argumentação que estava
no shopping enquanto o crime acontecia. Todavia, essa versão é contraditada
pelo testemunho do porteiro de seu prédio que afirma ter visto a mesma
saindo com seu marido no carro no horário em que o caso foi consolidado.
Ademais, Paula é criticada por sua postura “fria” e alheia ao caso em que
estava sendo acusada. Em suma, Guilherme foi condenado a 19 anos de reclusão,
mas ganha liberdade em 1999 depois de cumprir ⅓ da pena, sendo no total 6 anos
e 9 meses no regime fechado.
Já Paula foi sentenciada a 19 anos de reclusão, o qual foi reduzido a 18
anos e 6 meses por ter menos de 21 anos quando o crime aconteceu. A sua
pena foi novamente reduzida em 1998 para 15 anos e em 1999 ela obteve
liberdade condicional ao ser aprovada no vestibular no curso de direito.

Referências:
https://canalcienciascriminais.com.br/caso-daniella-perez/ - Acesso em 10/04/23

https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/apos-caso-daniella-perez-c
ongresso-debateu-pena-de-morte-e-endureceu-lei-criminal Acesso em 10/04/23

https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2022/12/assassinato-de-daniella-perez-comp
leta-30-anos-relembre-o-caso-que-chocou-o-pais.shtml Acesso em 10/04/23

https://www.folhape.com.br/cultura/caso-daniella-perez-relembre-o-assassinato-com
etido-por-guilherme-de/246085/ Acesso em 14/04/23

https://www.estadao.com.br/brasil/morte-de-guilherme-de-padua-relembre-o-assassi
nato-da-atriz-daniella-perez-ha-30-anos-nprm/ Acesso em 14/04/23

https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2022/11/caso-daniella-perez-relembre-o-ass
assinato-cometido-por-guilherme-de-padua-em-1992.ghtml Acesso em 14/04/23

https://camilalavaqui.jusbrasil.com.br/artigos/1121431779/analise-de-caso-daniella-p
erez Acesso em 14/04/23
Pacto Brutal - O assassinato de Daniella Perez ( Produzido por Tatiana Issa e Guto
Barra) ( Transmitido pela Hbo Max ). Acesso em 14/04/23

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