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1.

Os temas:

O amor é um dos temas centrais desta obra, o que desencadeia e faz avançar a intriga principal( a relação sentimental entre Carlos e Maria Eduarda), mas também é o que lança as personagens para um desfecho infeliz, ou seja, o fim de um amor
verdadeiro e a morte de Afonso. A ligação amorosa entre os protagonistas termina quando se descobre que são irmão e irmã e, portanto, que vivem em situação de incesto(outro tema da obra), ainda que involuntário e inconsciente.
A infidelidade amorosa ou o adultério é também um dos temas presente nas linhas narrativas secundárias do romance. N’Os Maias estuda-se este fenómeno social, revelando como ele se associa à futilidade do modo de vida e à mentalidade das classes
burguesa e aristocrática.
Em primeiro lugar, o amor é o responsável pelos sobressaltos da vida de Pedro da Maia: a saída do lar paterno e a paixão inflamada por Maria Monforte e o seu suicídio. Aqui emerge o tópico do adultério que é praticado por figuras femininas como a
condessa de Gouvarinho, Raquel Cohen e Maria Monforte.
A educação é outro tema porque condiciona o trajeto de vida de várias personagens, como Carlos ou Pedro. Ao longo da narrativa, equaciona-se o problema de apurar qual o modelo a seguir para educar um jovem português do século XIX. Dois modelos
de educação são colocados em confronto: o modelo tradicional português, orientado pelos valores da fé católica e baseado no estudo do latim e o modelo britânico, orientado por valores do exercício físico, do contacto com a natureza e uma formação
moral sólida e humanista do estudo das línguas vivas, como é o inglês.
O modelo de educação português produz indivíduos de caráter fraco, débeis e sem orientação prática para a vida: os exemplos são Pedro da Maia e Eusebiozinho. Já Carlos é educado segundo o modelo britânico pelo avô, mas falha na vida, não
diretamente por causa deste tipo de educação, mas devido a circunstâncias da sua existência e aos condicionalismos do Portugal em que vive e que o tornarão diletante.
A decadência é outro tema, visto que o romance procede a uma análise das causas da decadência nacional. Esta análise identifica o problema em vários domínios da sociedade, como a degradação dos costumes e da moral, como por exemplo, a falta de
caráter dos portugueses, a incompetência e a indiferença da classe dirigente, com políticos com Gouvarinho e banqueiros como Cohen, a falta de civismo da sociedade burguesa (episódio das corridas de cavalos), a futilidade e a falta de cultura (episódio do
sarau do teatro da trindade).
Outro tema que se associa ao da decadência é a família.
A literatura e as ideias artísticas realistas VS românticas constituem questões temáticas que são abordadas por personagens do romance e problematizadas pelo autor, por exemplo como mostra a falência do romantismo na personagem de Alencar.

A representação de espaços sociais e a crítica de costumes:


A ação d’Os Maias decorre maioritariamente em Lisboa e nos seus arredores, como em Sintra. Já a infância e a juventude de Carlos fora em Santa Olávia e Coimbra.
Lisboa é o grande palco onde se desenrola o enredo, porque é na capital que se movimenta a sociedade nacional que é estudada e criticada na obra. E onde assistimos aos vícios e à decadência da sociedade burguesa da segunda metade do século XIX.
Subtilmente, estabelecem-se contrastes entre Lisboa e outras capitais como Paris e Londres, para dar a conhecer os vícios civilizacionais do nosso país.
Entre vários espaços da capital onde a ação se desenrola, destaca-se o Ramalhete, a casa dos Maias em Lisboa, que alberga a família ao longo de várias gerações e testemunha os momentos trágicos. É ela que corresponde à noção de lar. Por outro lado, a
quinta de Santa Olávia (na região do Douro) representa as origens rurais da família. Funciona como um santuário onde Carlos cresce e onde o avô se refugia.
A Toca é o ninho de amor de Carlos e Maria Eduarda. É afastado da vida social de Lisboa e dos seus rumores. A Vila Balzac acolhe os amores de Ega e Raquel Cohen. Ambas as casa estão marcadas por sentimentos impuros, a primeira associa-se ao
adultério e a segunda ao incesto.
Coimbra é onde Carlos estuda, onde chegam as ideias filosóficas e políticas e revolucionárias. Ao mesmo tempo mostra a vida diletante e estéril que minará personagens como Carlos e Ega.
Sintra é onde Carlos se desloca na esperança de encontrar Maria Eduarda.

Crítica de costumes:
Episódio do hotel central-Capítulo 6: É o hotel onde jantam Carlos, Ega e outras personagens e onde se assiste a uma discussão literária, nomeadamente a polémica entre o ultrarromantismo e o realismo e também se reflete sobre a situação política e
económica de Portugal. Nesta confraternização entre personagens com formação e com relevo na vida nacional, observamos a indiferença e a insensibilidade perante a decadência do país e a incapacidade de alguns membros da elite lisboeta se
comportarem com civismo e dignidade.
Episódio da corrida de cavalos-Capítulo 10: Neste episódio, que se passa no hipódromo, é denunciado o culto da aparência da sociedade burguesa e a sua aspiração de se mostrar requintada, imitando a realidade das corridas inglesas, mas o evento
revela-se monótono e entediante e os comportamentos das pessoas são artificiais. O ambiente anima numa cena de discussão e luta que trás ao de cima a falta de civismo do português.
Episódio do jantar dos Gouvarinho-Capítulo 12: É a classe dirigente da nação que revela a sua falta de cultura e as sua ideias medíocres quanto às propostas que têm para o país. Isto nota-se quando estas personagens abordam tópicos como a educação, a
filosofia e a literatura.
Episódio das redações dos jornais “A Corneta do Diabo” e “A Tarde”-Capítulo 15: Criticam-se os vícios do jornalismo e a aspiração da burguesia.
Episódio do sarau do teatro da Trindade-Capítulo 16: Aqui critica-se a futilidade da sociedade burguesa. A cultura das classes privilegiadas é pobre e falta-lhes o gosto e a sensibilidade.

Os espaços e o seu valor simbólico e emotivo:


O jardim do Ramalhete: Antes de Afonso e Carlos decidirem habitar o Ramalhete, este tinha um pobre quintal abandonado, a cascata estava seca. Referência à estátua de Vénus(Capítulo 1). Depois de se terem instalado, o jardim já passa a ser descrito
como estando florido, mais simpático(Capítulo 1). Finalmente, quando Ega e Carlos visitam o Ramalhete 10 anos depois, encontram-no nu, melancólico, cheio de ferrugem e de humidade(Capítulo 18). Dado que Maria Monforte é uma deusa para
Pedro, é possível associá-la à estátua de Vénus, numa primeira fase. É como se esta figura surgisse obscuramente no quintal, simbolizando a possibilidade de uma nova tragédia. Quando Afonso e Carlos vão para Lisboa, a estátua renova-se e passa a
simbolizar uma nova deusa, Maria Eduarda.

A Toca:
Toca aponta para um espaço de proteção do exterior, onde os dois praticam o incesto. O quarto de Maria Eduarda está carregado de presságios que indicam o desfecho trágico, como a alcova, referência aos amores de Marte e de
Vénus(relação incestuosa), referência a São João Batista, a cor amarela, dois faunos que se entregam apenas à sensualidade e uma figura japonesa grotesca que pode ser considerada como um símbolo da dimensão monstruosa do incesto que é aqui
cometido.

Os espaços de Lisboa percorridos no passeio final de Carlos e Ega:


Os dois amigos começam por percorrer o Loreto onde está a estátua de Camões, que representa a grandiosidade dos Descobrimentos e contrasta com a estagnação e decadência do século XIX.
De seguida vão para a avenida da Liberdade que simbolicamente representa um Portugal pretensamente moderno e cosmopolita. Vê-se a degenerescência dos portugueses, especificamente da juventude, que se limita a passear pela avenida sem
propósito. Crítica à maneira como se calçam e se vestem, já que querem parecer civilizados ao copiar o modelo do estrangeiro, mas levam-no ao excesso e acabam por cair no ridículo.

Representações do sentimento e da paixão; intriga amorosa


Pedro da Maia e Maria Monforte: Pedro é vítima da hereditariedade, da educação e do meio em que viveu. Além de ser pequenino e nervoso como a mãe, torna-se ainda um ser apático e passivo em consequência da educação tradicional portuguesa.
A paixão obsessiva que sente pela mãe acaba mais tarde por ser transferida para Maria Monforte, mulher bela mas caprichosa e manipuladora. Pedro, revolta-se contra o pai, porque este não aprova o casamento com a filha de um antigo traficante de
escravos e casa-se com ela. No entanto Maria foge com Tancredo, o que prova a sua leviandade. Assim a fragilidade psicológica torna-o incapaz de sobreviver a isto e suicida-se.

Ega e Raquel Cohen: Também é um romance adúltero. Encontravam-se na vila Balzak que, como a Toca, tinha uma decoração propícia à sensualidade, o que mostra que a sua paixão é influenciada pelos ideais do amor romântico. Esta relação termina
quando Cohen, descobrindo o adultério expulsa Ega num baile de máscaras.

Carlos e Maria Eduarda: Depois de uma relação fugaz com a Gouvarinho, Carlos acaba por encontrar o grande amor de sua vida em Maria Eduarda. Ao contrário da relação de Pedro com Maria Monforte, a de Carlos e Maria Eduarda não é marcada
pela manipulação nem pela superficialidade como acontecia com Ega e Raquel e com Carlos e com a Gouvarinho. Era antes uma relação caracterizada pela sintonia de personalidades, já que ambos são cultos e requintados.
Não deixa de ser curioso o facto de Carlos, aquando da descoberta do seu grau de parentesco com Maria Eduarda, considerar que tanto ele como a sua amada eram seres profundamente racionais que conseguiriam facilmente sufocar os seus
sentimentos agora que sabiam ser irmãos. O desdém que mostra pela mentalidade romântica rapidamente se desfaz no momento em que se revela incapaz de contar a verdade a Maria Eduarda, acabando por ceder à tentação e cometendo incesto
voluntariamente. Assim, podemos verificar que também a relação amorosa entre Carlos e Maria Eduarda é influenciada pelos ideais do amor romântico — de forma mais dramática no momento do incesto, mas também pelo facto de ambos
enfrentarem as convenções sociais e decidirem ficar juntos (num primeiro momento, numa suposta relação de adultério, num segundo momento, numa relação de amantes, que se torna mais controversa pelo passado de Maria Eduarda). De facto,
esta realidade é magistralmente sintetizada na fala de Ega, aquando da sua última visita ao Ramalhete: «Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento
e não pela razão...»

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