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INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
En esa época las princesas, todo lo que tenían que hacer era
quedarse quietitas. Nada de ayudarle a la mamá a secar los
platos. Nada de hacer mandados. Nada de bailar con abanico.
Nada de tomar naranjada con pajita. Ni siquiera ir a la escuela.
Ni siquiera sonarse la nariz. Ni siquiera pelar una ciruela. Ni
siquiera cazar una lombriz. Nada, nada, nada.
Trata-se de uma prosa poética com rima interna: escuela rima com ciruela;
nariz rima com lombriz. As repetições são muito comuns nos contos infantis
espanhóis e portugueses, também em canções e brincadeiras: no texto acima,
repete-se quatro vezes "Nada" e a seguir, repete-se quatro vezes Ni siquiera, e,
mais uma vez, de novo: “nada, nada, nada”.
O recurso da repetição cumpre uma função, a de dar ênfase a um evento
recorrente, são ações sucessivas que vão se somando na sequência, de forma
cumulativa ou de subtração, e, que permite ao público infantil encontrar um sentido
na insistência do ritmo, no caso do conto em questão, a menina tem que "estar
quieta", o que permite denotar ironia em relação ao modelo de conduta passiva
associado ao papel tradicional da mulher na cultura.
O conto acima referido, parece fazer alusão à cultura japonesa, esse fato,
porém, mais do que elaborar um estereótipo ou fomentar um preconceito em relação
aos japoneses, não seria um modo de poder criticar a própria cultura, valendo-se do
recurso da projeção a um país distante de aspectos que não querem ou não podem
ser vistos de perto?
A criança que ouve a história é capaz de se colocar nela, e, como a repetição
tem, também, uma função engraçada, o tom cômico revela uma forma sutil de
denúncia, de protesta quanto ao papel feminino na sociedade tradicional.
Na tradução, em um primeiro momento, a maioria dos tradutores em
formação não reparou nas rimas internas e, metade do grupo, respeitou o número
das repetições. Mas, a partir dessa constatação, foram encontraram alternativas
para substituir os substantivos de modo a que rimem entre si. Um exemplo ocorrido:
PT: ... Nem mesmo podia ir à escola. Nem mesmo podia assoar o nariz. Nem
mesmo descascar uma banana. Nem mesmo caçar um verme. Essa foi uma versão
sem rima!
Mas, a seguir houve esta combinação: Nem podia ir à escola, nem assoar o
nariz. Nem mesmo descascar uma graviola, nem mesmo caçar uma perdiz.
Quanto a nomes próprios, tinha-se adotado o princípio de não traduzi-los, a
menos que compusessem algum significado para a compreensão do texto. No conto
de María Elena Walsh, "Aventuras de una señora y su nene", o nome da senhora
Elefanta, recebe uma série de versões. O nome em espanhol é "La distinguida
señora doña Elefanta Trompitelli de Barriguini" e, passa a ser traduzido ora por: "A
distinta senhora Dona Elefanta Trombalina de Barrigoni", ora por “A elegante
senhora dona Elefanta Trompete de Barriguinha" (a partir de termos concretos como
trompete e barriga), ora por “A ilustre senhora Dona Elefanta Trompetini de
Barriguini”. O fato de termos variantes para "distinguida" conduziu-nos a refletir se
“distinguida” teria um uso mais frequente em espanhol do que "distinta" em
português? Porque as escolhas denotaram um certo estranhamento ou resistência
para utilizar “distinta” para traduzir distinguida? Haveria um motivo cultural?
Já, quanto à facilidade em criar nomes em português, que expressam certa
pompa, certa formalidade (própria, sobretudo, de um período autoritário, uma vez
que de forma velada, irônica, bem-humorada, a autora escreveu o conto durante a
ditadura argentina), os tradutores em formação mostraram ter bastante familiaridade
para inventar nomes, seria isso uma questão cultural, também? Assim, eles
encontram soluções para os problemas de acordo com as convenções
estabelecidas, mas, também, segundo os seus próprios critérios que vão se
afirmando de forma mais ou menos consciente, à medida que foram praticando a
tradução reflexiva e respondendo a diversos questionamentos. Foi interessante
observar como traduzir revelou aspectos da própria língua e cultura.
A escolha de María Elena Walsh que viveu de 1930 a 2011, se deve, em
parte, ao fato do prazer que foi ouvir os seus contos, os quais foram, na maioria das
vezes, musicados. Outro valor para a escolha dessa obra, tem a ver com que
gerações inteiras foram formadas pelo seu senso de humor, pelo seu espírito crítico,
pela sua criatividade com a linguagem e a imaginação, capaz de unir a literatura
infantojuvenil tradicional ao folclore e cultura locais, desconstruindo preconceitos,
contribuindo para a formação leitora das crianças de modo prazeroso mas, nem por
isso pueril pois, ela soube propiciar um desenvolvimento da autonomia intelectual,
resistindo-se a adotar uma postura moralista, paternalista, como era comum na
época.
É verdade que para os estudantes de hoje, expressões idiomáticas dos anos
60 soaram um tanto ultrapassadas e, por vezes, uma ameaça ao entusiasmo para
traduzir humor e nonsense. As intertextualidades, por exemplo, as referências ao
Martín Fierro, de José Hernández (1872), no título do conto: Aqui me pongo a contar
un cuento polar, ou até mesmo a Horácio Quiroga, Cuentos de la Selva, na escolha
do que acontece com alguns animais, também não foram fáceis de serem
identificadas.
Contudo, María Elena Walsh transformou o modo de ver e interagir com a
infância, e, aportou à turma o contato com alguém que tinha uma visão não
condescendente, mas respeitosa e inteligente com o público. Em um contexto no
qual os contos para crianças eram carregados da rigidez típica do ensino da época,
ela desenvolveu o senso da ironia, da delicadeza, do riso em mais de 50 obras.
Esse aspecto, em relação aos tradutores em formação, os fez refletir sobre o
contexto brasileiro e sobre as linguagens utilizadas no trato com a infância.
Já a escolha de Gloria Cecilia Díaz, se deve, em parte, às ricas ilustrações de
Estelí Meza mas, sobretudo, porque a obra apresenta a possibilidade de diálogo
com culturas de todos os países da América Latina, o que nos levou a pensar em
uma espécie de subconsciente coletivo. Os três primeiros contos traduzidos foram,
porém, também argentinos: “El Pombero”, “Kanshout y el otoño” e “La flor de
Lirolay”.
Buscou-se apresentar ao público-leitor, uma obra que tratasse de temas do
folclore latino-americano e aproximá-lo à experiência de leitura de mitos populares
da cultura argentina (em um primeiro momento), como um modo de ampliar a
divulgação da riqueza cultural de povos que nos circundam. Foi realizada a tradução
ao português da introdução:
Texto-fonte Texto-alvo
El Pombero O Curupira
Ah, ¡el Pombero! suena a título de Ah, o Curupira! soa como um título de
canción, pero no, este es el guardián de canção, mas não, este é o guardião das
los montes y de los animales. Los que lo montanhas e dos animais. As pessoas que
han visto no se ponen de acuerdo en o viram não concordam com a sua
cuanto a su apariencia. Unos dicen que es aparência. Dizem que ele é alto, magro e
alto, flaco y peludo, otros que es bajito y peludo, outras dizem que ele é baixo e
gordo. Pero en los dos casos tiene los pies gordo. Mas todos falam que os seus pés
al revés, es decir, los dedos hacia atrás y estão ao contrário, os dedos dos pés para
los talones adelante. ¡Genial para engañar trás e os calcanhares para a frente, o que
a quienes lo persiguen! Siempre lleva un é ótimo para enganar aqueles que o
enorme sombrero de paja. Y eso sí, todos perseguem! Usa sempre um enorme
coinciden en que es feísimo. chapéu de palha. E sim, todos dizem que
ele é muito feio.
No me toques, pastorcito,
ni me dejes de tocar.
Mis hermanos me mataron
por la flor del lirolay
CONCLUSÃO
Referências
AZENHA JUNIOR, João. A tradução para a criança e para o jovem: a prática como
base da reflexão e da relação profissional. Pandaemonium Germanicum, São Paulo,
n. 9, p. 367-392, dez. 2005. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/pg/article/view/
73944. Acesso em: 3 mar. 2022.
DÍAZ, Gloria Cecilia. Cuentos y leyendas de América Latina. Bogotá: Anaya, 2018.