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ee eee — Quer dizer — disse ele, perplexo — que isso tudo depende “Ge mim? Sem diivida a a explicagao deve ser Procurada nos motivés] interiores, nas circunstancias dentro das quais e pelas quais vocé est executando a ago. Tomemos 0 fato de fechar ow abrira porta. | Nada poderia ser mais simples, ou menos interessante, Pode-se dizer, ou mais mecAnico. Mas suponhamos que neste apartamen- | to de Maria tenha morado um homem que ficou louco, furioso. | Levaram-no para um hospicio. Se ele tivesse fugido ¢ estivesse atras daquela porta, o que é que vocés fariam? Assim que a pergunta foi formulada, nesses termos, todo o nosso objetivo interior (como o diretor o chamara) modificou- se. Jé nao pensdvamos em como prolongar nossa atividade nem nos preocupdvamos com sua forma exterior. Nossos espiritos se concentravam em calcular o valor ou propésito deste ou daquele ato em fungdo do problema proposto. Nossos olhos comegaram amedir a distancia entre a porta e a procurar caminhos seguros para chegar a ela. Examinavam o ambiente em busca de saidas, caso 0 louco arrombasse a porta. Nosso instinto de conservagao pressentia 0 perigo e sugeria meios para enfrent4-lo. Quer acidentalmente, quer de propésito, Vania, que estivera encostado na porta, reforgando-a depois de fechada, deu um salto repentino e todos nos precipitamos para ele; as mogas correram, aos gritos, para a outra sala. Finalmente, dei comigo debaixo de uma mesa, segurando um pesado cinzeiro de bronze. A tarefa nao terminara. A porta, agora, estava fechada, mas nio trancada. Nao tinha chave. Portanto, a medida mais segura que poderfamos adotar seria escord-la com sofés, mesas € cadeiras e, depois, telefonar para o hospicio para que providenciassem 0 reinternamento do louco. O éxito desta improvisagao deixou-me animadissimo. Fui ao diretor e pedi-lhe que me desse mais uma oportunidade de acender 0 fogo. Scanned with CamScanner A PREPARAGAO DO ATOR Sem perder um segundo, disse-me que Maria acabava de herdar uma fortuna. Que alugara este apartamento e estava ce- lebrando a sua boa sorte com uma festa de inaugura¢ao, para a qual convidou todos os seus colegas. Um deles, que conhece bem Katchalov, Moskvin e Leonidov, prometeu trazé-los a festa. Mas © apartamento é muito frio e 0 aquecimento central ainda nao foi ligado, apesar de estar baixissima a temperatura ld fora. Seria possivel encontrar alguma lenha para acender um fogo na lareira? Um vizinho poderia emprestar algumas achas. Ateia-se um pequeno fogo, mas faz muita fumaga e é preciso apaga-lo. En- quanto isso, vai ficando tarde. Acende-se outro fogo, mas a lenha estd verde e recusa-se a arder. Mais um minuto e os convidados estarao chegando. — Agora — prosseguiu ele — vamos ver o que vocé faria se meus dados imagindrios fossem verdadeiros. Tudo terminado, o diretor declarou: — Hoje posso dizer que vocés atuaram comnotivacao. Apren- deram que 70 teatro toda a¢ao deve ter uma justifica¢ao interior, deve ser logica, coerente e real. Segundo: o se atua como uma alavanca que nos ajuda a sair do y mundo dos fatos, erguendo-nos ao reino da imaginagao. a Scanned with CamScanner

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