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Joinville/SC – 26 a 29 de Setembro de 2017

UDESC/UNISOCIESC
“Inovação no Ensino/Aprendizagem em
Engenharia”

OS PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO PARA PROFISSIONAIS DE


ENGENHARIA E SEGURANÇA DO TRABALHO E SUA
COMPLEMENTARIDADE COM O ENSINO EM ENGENHARIA
Marcello Silva e Santos – marcello.silva@foa.org.br
UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda – MECSMA - Programa de Mestrado
Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325, Três Poços, CEP: 27240-560, Volta Redonda, RJ

Rondinele Soares de Paula – rondinele.soaresdepaula@bol.com.br


UGB/FERP - Centro Universitário Geraldo Di Biase – Escola de Engenharia
R. Deputado Geraldo Di Biase, 81 - Aterrado, CEP: 26260-050 Volta Redonda, RJ

Aline Cristina Costa Gomes – alineccgomes@gmail.com


UGB/FERP - Centro Universitário Geraldo Di Biase – Escola de Engenharia
R. Deputado Geraldo Di Biase, 81 - Aterrado, CEP: 26260-050 Volta Redonda, RJ

Resumo: No ensino de cursos técnicos e superiores em engenharia costuma-se dar maior


ênfase às disciplinas de conteúdo prático profissional. Isso ocorre por razões óbvias, já que os
alunos devem sair do processo de ensino-aprendizagem preparados para a atividade de
trabalho fim, em canteiros de obras e outros contextos análogas à engenharia. Entretanto,
percebe-se uma clara falta de sintonia entre os conteúdos programáticos e a realidade do
trabalho a ser desenvolvido pelos alunos, futuros profissionais da construção civil. Analisando
um razoável número de ementas de disciplinas de cursos técnicos em edificações e segurança
do trabalho, os autores verificaram a inexistência de elementos de gestão operacional de
canteiros, como manual de procedimentos, caderno de encargos e programas diversos, como
de prevenção de acidentes ou ergonomia, por exemplo. Isso evidencia uma desconexão com a
realidade profissional que precisa ser sanada com ações de aproximação entre teoria e práxis.
O estudo em tela apresenta um modelo de análise de gestão de processos de SMS (Segurança
Meio Ambiente e Saúde) que incorpora tais princípios, a começar pela construção do mesmo,
desenvolvido a partir de um Projeto de Iniciação Científica, realizada com apoio da FAPERJ
– Fundação para Amparo da Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Ensino Técnico; Engenharia; Ergonomia; Saúde Ocupacional; Segurança do


Trabalho.
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“Inovação no Ensino/Aprendizagem em
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1 INTRODUÇÃO
Os operários da construção civil estão entre os trabalhadores mais expostos a lesões e
enfermidades de natureza ocupacional. Em muitos casos, algumas patologias de natureza
musculoesquelética, dermatites, intoxicações por chumbo e exposição a asbestos são situações
pouco verificadas em outras ocupações, ao que se pode inferir ser essa categoria profissional a
que possui maior chance de acidentes de trabalho e o maior risco de contrair doenças
relacionadas ao trabalho. As razões apontadas para a ocorrência destes problemas de saúde na
construção civil são devido ao grau de risco ocupacional presente, como o trabalho em grandes
alturas, o manejo de máquinas, equipamentos e uso de ferramentas pérfuro-cortantes,
instalações elétricas, utilização de veículos automotores, içamento de objeto pesados, além de
posturas forçadas, estresse devido à transitoriedade e a alta rotatividade (THEOBALD &
LIMA, 2005).
O setor da construção civil tem uma elevada importância econômica, sendo essa relevância
manifestada pelo grande número de trabalhadores que atuam no setor, tradicionalmente
intensivo em mão de obra (BRASIL, 2014). Mas apesar de contribuir com geração de emprego
e renda, os custos relacionados aos incidentes ocupacionais e suas consequências geram perdas
financeiras que reduzem boa parte do valor agregado (LIPSCOMB, 2006). Portanto, a
promoção de intervenções para promover a saúde e prevenir os acidentes de trabalho deveria
ser à base de uma política de saúde eficaz, garantindo não apenas a saúde dos trabalhadores da
construção civil, como a redução das perdas associadas aos custos com indenizações,
tratamento de doenças, perdas financeiras e queda de produtividade no setor (LEHTOLA,
2008).
As ocorrências dos acidentes de trabalho têm sido frequentemente associadas a patrões
negligentes que oferecem condições de trabalho inseguras, falta de capacitação e a empregados
displicentes que cometem atos inseguros. No entanto, sabe-se que as causas dos acidentes de
trabalho, em geral, não correspondem a essa associação, mas sim a falta ou a ineficiência na
gestão de SMS, acrônimo que remete aos processos de Segurança, Meio Ambiente e Saúde.
Esses processos envolvem as condições ambientais a que estão expostos os trabalhadores,
incluindo seu aspecto psicológico, fatores humanos, econômicos e sociais. Essa questão tem
relação com as estratégias de treinamento e capacitação dos profissionais envolvidos nas
atividades em um canteiro de obras, o lócus de aprendizagem conforme abordado nesse artigo.
Complementando, os programas de treinamento e capacitação, bem como o
desenvolvimento dos manuais de procedimentos e demais instrumentos de boas práticas
operacionais nem sempre passam por alguma forma de crivo pedagógico-educacional. Assim,
esses importantes elementos de normatização e controle não incorporam princípios de ensino-
aprendizagem, reduzindo sua influência em termos da qualidade como produto de informação
e comunicação e de seu alcance enquanto instrumento de assimilação de conhecimento. Esse
estudo busca incorporar aos mecanismos operacionais de treinamento e capacitação princípios
básicos de ensino-aprendizagem, necessários para otimizar a potência dos mesmos enquanto
instrumentos de formação e gestão, bem como para aumentar a eficácia do processo de
transversalidade que deve existir entre a teoria e a prática profissional. Nesse sentido, propõe-
se um modelo de avaliação de processos de SMS que incorpore tais princípios e que ao mesmo
tempo sirva para contextualização da questão aqui colocada.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 As Teorias de Aprendizagem no Contexto dos Processos de SMS


As abordagens sociocríticas convergem na concepção de educação como compreensão da
realidade para transformá-la, visando à construção de novas relações sociais para superação de
desigualdades sociais e econômicas (LIBÂNEO, 2004). Neste viés foram desenvolvidas muitas
teorias de aprendizagem, neste estudo se dará voz às teorias socioculturais, e mais
especificamente ao método Freireano (OSTERMANN e CAVALCANTI, 2010), de
aprendizagem que defende a chamada educação libertadora ou educação crítica.
Há de se enfatizar que o método de alfabetização proposto por Paulo Freire foi idealizado
para alfabetização de adultos, portanto, seus pressupostos podem ser utilizados e adaptados para
os vários seguimentos da educação que se predispõem ao despertar de uma postura crítica e
reflexiva nos educandos que estão saindo da adolescência, como é o caso dos alunos do Ensino
Médio e, complementarmente, daqueles que estão em Escolas Técnicas. O formato deste
método trabalha com a chama hierarquia horizontal entre educador e educando, ao contrário da
forma tradicional de ensino, muito centrada na autoridade de um professor, a forma horizontal
em que alunos e professor aprendem juntos com intensa interação, não se trata de eliminar a
hierarquia professor-aluno, e sim de uma participação igualitária no processo de aprendizagem,
onde o aluno passa de agente passivo para agente ativo do processo.
A designação de educação problematizadora como correlata de educação libertadora revela
a força motivadora da aprendizagem. A motivação se dá a partir da codificação de uma situação
problema, da qual se toma distância para analisá-la criticamente. Transpondo-se o contexto para
a formação técnica, alunos e professores de cursos profissionalizantes também podem se
beneficiar de conceitos relativos ao pensamento freireano. Isso pode significar repensar o
próprio ensino técnico, afinal, como o próprio Freire afirma “não há ensino sem pesquisa e
pesquisa sem ensino” (2007, p. 29), o que se reforça aos processos de assimilação de
conhecimento que requeiram um aprofundamento teórico, ainda conforme Freire (2000) que
diz que “[...] é um direito que as pessoas têm, e a que chamo de direito de saber melhor aquilo
que elas já sabem...significa precisamente ir além do senso comum a fim de começar a descobrir
a razão de ser dos fatos”.

2.2 Educação em Saúde e Segurança Ocupacional no Canteiro de Obra

A segurança e a saúde do trabalho são preceitos e requisitos legais que estão fundamentados
em normas regulamentadoras descritas na Portaria 3214/78 do MTE (Ministério do Trabalho e
Emprego). Entre essas normas, a NR-18 (Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria
da Construção) estabelece diretrizes de ordem administrativa, de planejamento e de
organização, que objetivam a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de
segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na indústria da
construção, e ainda determina a elaboração do PCMAT – Programa de Condições e Meio
Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção.
Do ponto de vista da formação do profissional de segurança e saúde, existem duas
dimensões essenciais: a) a técnico-normativa e b) o ensino aprendizagem. Na dimensão técnico-
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normativa existem instrumentos obrigatórios que devem ser seguidos ou utilizados como
critérios para elaboração dos programas de capacitação continuada desses profissionais. Além
da NR-18, outras normas regulamentadoras definem itens importantes que devem ser adotados
pelas construtoras visando à segurança no ambiente de trabalho. Segundo a NR-9, fica
estabelecida a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os
empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do PPRA
(Programa de Prevenção e Riscos Ambientais), visando à preservação da saúde e da integridade
dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle
da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho,
tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.
Segundo a NR-7, ficam estabelecidas a obrigatoriedade e a implementação, por parte de
todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do PCMSO
(Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), com o objetivo de promoção e
preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores. Por sua vez, a NR-5, regula a CIPA
(Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), que tem a função, como um órgão interno da
empresa, de ser um divulgador das normas de segurança e de realizar algumas funções
executivas estabelecidas na legislação em vigor, tais como: elaborar Mapa de Riscos, discutir
acidentes ocorridos, convocar reuniões extraordinárias, etc.
Por sua vez, na dimensão teórica do ensino-aprendizagem, temos as disciplinas técnicas
usualmente presentes no ensino médio profissionalizante, em especial nos cursos técnicos em
segurança do trabalho e técnico em edificações. Entretanto, uma busca na Internet mostrou que
em nenhum dos conteúdos programáticos dessas disciplinas de formação técnica existem
referências que evidenciem a utilização de fontes de consultas diretamente vinculadas aos
processos operacionais, como Manuais de Procedimentos, Cadernos de Encargos, ou mesmo
requisitos mínimos de programas de prevenção de acidentes ou de preservação de Saúde, dentre
eles os chamados Programas de Ergonomia (PROERGO).
Isso denota uma deficiência estrutural importante na base teórica de formação dos
profissionais de nível técnico, em especial os Técnicos de Edificação e de Segurança do
Trabalho, duas profissões de alta demanda e significância no mercado. Naturalmente, essa
lacuna irá influenciar não apenas o papel do formador como a atuação futura desses alunos nos
canteiros de obras e demais locais de trabalho dos futuros profissionais, já que a desconexão
entre a teoria e a prática profissional é apontada como um dos fatores de queda na qualidade do
profissional de educação (FIORENTINI; OLIVEIRA, 2013). Em síntese, deve-se o equilíbrio
entre as necessidades do mercado, a demanda de aprendizagem por parte do aluno de cursos
profissionalizantes e as estratégias de produção do conhecimento e de formação dos docentes
de Escolas Técnicas, em especial daquelas que guardam relação com esse estudo.

3 MODELAGEM PARA DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA DE


CAPACITAÇÃO NO CONTEXTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE SMS

Antes de se pensar na formulação de programas de capacitação ou estratégias de melhoria


da formação de profissionais de segurança e saúde ocupacional é preciso estabelecer os
parâmetros de partida dessas ações. Em geral, as ações empreendidas para a melhoria contínua
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dos processos de segurança e saúde do trabalhador baseiam-se em elementos construídos a


partir de análises retrospectivas que buscam estabelecer uma importante ligação entre o
processo de produção e o processo de formador de quem produz. Em outras palavras, a prática
profissional deve fornecer o input necessário para o desenho dos modelos de formação,
treinamento e capacitação de pessoas, o que vale tanto para o profissional de canteiro de obras
– técnicos, operários e os chamados “administrativos” – como para todos os envolvidos na
cadeia de valor da produção do conhecimento.
Para a contextualização e consolidação de um modelo de gestão de SMS que pudesse ser
incorporado ao processo de formação dos técnicos de edificação e de segurança do trabalho
optou-se por um estudo de caso, uma obra localizada na cidade de Valença – RJ. O estudo
consistiu na observação, análise e avaliação das atividades de trabalho em canteiros de obras.
Como ferramenta principal para análise de canteiros de obras foi utilizado um Checklist,
adaptado de um questionário utilizado em projetos de intervenção ergonômica (SANTOS,
2014), que entra na composição da Matriz SIC, uma ferramenta de priorização. No questionário
foram elencadas questões envolvidas diferentes aspectos do processo de trabalho, ressaltando
sua relevância em relação ao contexto de segurança, meio ambiente e saúde do trabalhador. A
planilha dinâmica foi desenvolvida no Excel, com perguntas sobre diferentes temas em SMS
permitindo apenas respostas simples: SIM, NÃO ou NA/NO (não contém), de acordo com estas
respostas o resultado faz variar o percentual.
O checklist foi então aplicado para cada atividade da obra obtendo resultados que variam
de 0% à 100%, sendo 0% o pior resultado e 100% o melhor. A partir da aplicação do check list
foi possível num primeiro momento avaliar se a atividade necessita de intervenção e em que
nível de urgência esta seria necessária. Para a melhoria da atividade espera-se que o valor
percentual chegue a um nível arbitrado como aceitável (acima de 51%), podendo-se fazer a
intervenção com foco em alguns pontos principais, onde a atividade cause maior dano a saúde,
segurança e/ou ao meio ambiente.
Outras ferramentas de ação ergonômica e de análise de processos utilizadas foram o
diagrama de dores, também conhecido por Diagrama de Corlett, que ajuda no mapeamento de
questões de natureza epidemiológica e o método de análise SPM, que se trata de uma
metodologia de ação em segurança e saúde ocupacional para contextos de largo escopo e/ou
limitações temporais, característicos dos trabalhos em canteiros de obras (ALVES & SANTOS,
2014). A demonstração mais ilustrativa do resultado prático desse estudo, em termos de sua
correlação com a teoria de aprendizagem e a adequação dos modelos de capacitação e
treinamento é apresentado na Figura 1.
O banner de boas práticas em SMS foi gerado a partir do emprego de técnicas de análise
observacional retrospectiva e da aplicação das ferramentas de análise anteriormente descritas,
como questionários, diagramas e matrizes de decisão. Uma vez pronto e validado, o banner fica
em local conspícuo do canteiro de obras, em locais de maior trânsito de pessoas de forma a ser
visualizado constantemente. Ele elenca boas práticas a serem seguidas na busca pelos chamados
“indicadores de desempenho”, que são os níveis esperados em relação aos aspectos de higiene
e saúde ocupacional. Ele é quase sempre “lançado” em um evento simbólico, caracterizando
não apenas uma formalidade, mas denota a relevância do tema para a organização e sua
importância e influência nos processos de trabalho.
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Figura 1 – Banner de Boas Práticas

Tendo esta ideia como premissa e explorando a problematização do cotidiano do operários-


alunos, obtida através de questões propostas em diálogo aberto, pode-se introduzir as atitudes
equivocadas que se observam diariamente no canteiro de obra e, de acordo com o abordado
pelos próprio operários-alunos, o educador poderá lançar mão de figuras do cotidiano para que
possam identificar as atitudes equivocadas e os riscos à sua saúde e segurança envolvidos. Esta
proposta inicial parte do entendimento prévio que o operário-aluno tem acerca da temática em
questão. Com isso, abre-se espaço para que ele reflita sobre a representação do seu lugar na
sociedade, despertando sua curiosidade e instigando-o para uma consciência crítica no sentido
de conhecer seus direitos e deveres como trabalhador.
Diante de todos os problemas identificados na construção civil relacionados a SMS, o fator
que se deve levar em consideração é que apenas informar sobre os riscos ou sinalizá-los no
canteiro de obra, não é suficiente para reduzi-los, necessário se faz que os agentes causadores
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dos riscos sejam conscientizados, que passem a ter uma conduta crítica sobre os temas
referentes ao seu ambiente de trabalho, sobre a comunidade que nele é formada acerca de sua
própria saúde, principalmente, ter uma visão reflexiva quanto o seu papel como agente
transformador.
Todos os tópicos de percepções podem ser desenvolvidos individualmente pelo educador,
partindo de tópicos que entender prioritários, sendo elaboradas perguntas que gerem nos
operários/educandos reflexões existenciais. O papel do educador limita-se, essencialmente, em
garantir um ambiente propício a discussão sadia, buscando auxílio de recursos didáticos como
pôsteres ou data show, por exemplo. Neste momento poderão ser utilizados os resultados da
modelagem para desenvolvimento do sistema de gestão de SMS com avaliação de canteiros de
obra, com a finalidade de ilustrar casos muito próximos da realidade dos educandos,
construindo a capacidade crítica para solucionar os problemas identificados.
A proposta de aplicação deste método seria ideal para reuniões diárias entre o grupo de
operários/educandos e educador, com duração de no máximo 20 minutos, em momento anterior
ao início das rotinas de trabalho. Após esse período inicial, tal procedimento seria então
incorporado às rotinas de trabalho, como já ocorre com os processos similares em Segurança
do Trabalho, como os chamados DDS (Diálogos Diários de Segurança).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

É importante separar o que aqui está sendo denominado de resultado das discussões para
futuros encaminhamentos. O resultado refere-se ao que foi obtido a partir do estudo de caso, ou
seja, a consecução da ação problematizadora e adoção de um elenco de boas práticas para gestão
de SMS em canteiros de obras. As discussões dizem respeito aos processos de ensino-
aprendizagem derivados da construção civil como um todo, onde diferentes atores são
simultaneamente agentes e recipientes do conhecimento e tanto trabalhadores como técnicos e
estudantes de engenharia precisam estar integrados na formulação dos diferentes programas de
qualificação e capacitação.
Como a abordagem proposta tem como um dos seus objetivos a conscientização dos
trabalhadores de canteiro de obra, a linguagem técnica utilizada no ensino médio talvez não
seja a mais apropriada pela condição educacional da maioria dos indivíduos no público alvo.
Neste caso, a linguagem utilizada no método freiriano nortearia melhor a aprendizagem
reflexiva, que se pretende alcançar, através da problematização. A primeira fase do método
freiriano, que seria a investigação temática é promovida a partir de visitas ao canteiro de obra
(ambiente de trabalho) com a finalidade de realizar a identificação de procedimentos
operacionais inadequados, utilizando o modelo de gestão proposto. Com isso, chega-se aos
primeiros temas para abordagem no momento do treinamento.
Estas visitas e conversas dependerão do que será encontrado no ambiente de trabalho,
devendo ser modificada a abordagem em cada situação. Faz-se necessário o registro da fase de
investigação, através do check list, para que sejam enumerados e quantificados os problemas
encontrados, sendo complementado pelas anotações das falas dos operários com relação aos
temas pessoais, com a finalidade de montar uma abordagem que cause empatia nos ouvintes, à
época do treinamento. Na segunda fase, momento do treinamento em si, são abordados os temas
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geradores desenvolvidos pelo educador a partir dos resultados alcançados com o modelo de
gestão de SMS e observação realizada na fase anterior, deve ser desenvolvida de forma a alertar
sobre o não cumprimento dos procedimentos de segurança, evitando a abordagem crítica, já
que o conhecimento acerca de segurança, pode não ter sido fornecido até aquele momento.
O objetivo seria sensibilizar para materializar os temas abordados sobre segurança de
trabalho, argumentar as possíveis causas e consequências do acidente ou doenças trabalhistas.
A partir desta analise seriam então formuladas as perguntas, pelo educador, para alcançar esta
sensibilidade ao assunto, promovendo, com isso, reflexão por parte dos operários - alunos. Pode
auxiliar neste questionamento a abordagem da perda financeira ao se acidentar e ter um possível
afastamento e a incerteza sobre sua recolocação no mercado, um tema de reflexão recorrente
na vida do operário - aluno. O alerta pode ser feito por meio de recursos audiovisuais, onde
imagens impactantes relacionadas aos problemas visualizados no ambiente de trabalho,
identificados na fase de investigação temática são demonstradas para gerar questionamentos e
reflexão. A temática das ocorrências dos acidentes de trabalho traz proximidade na vivência de
todos que estão participando das discussões no momento do treinamento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em busca da coerência entre as necessidades de aprendizagem dos operários-alunos e uma


proposta teórico-metodológica construída na perspectiva da educação popular, parte-se da ideia
de que a aprendizagem surge do conhecimento do sujeito e o ensino a partir de temas geradores
do cotidiano dos educandos. Tendo esta ideia como premissa e explorando a problematização
do cotidiano do operários-alunos, obtida através de questões propostas em diálogo aberto, pode-
se introduzir as atitudes equivocadas que observam diariamente no canteiro de obra, e de acordo
com o abordado pelos próprio operários-alunos, o educador poderá lançar mão de figuras do
cotidiano para que possam identificar as atitudes equivocadas e os riscos à sua saúde e
segurança envolvidos.
Esta proposta inicial parte do entendimento prévio que o operário-aluno tem acerca da
temática em questão. Com isso, poderá ser aberto o espaço para que ele reflita sobre a
representação do seu lugar na sociedade, despertando sua curiosidade e instigando-o para uma
consciência crítica no sentido de conhecer seus direitos e deveres como trabalhador.
Diante de todos os problemas identificados na construção civil relacionados a SMS, o fator que
se deve levar em consideração é que apenas informar sobre os riscos ou sinalizá-los no canteiro
de obra, não é suficiente para reduzi-los, necessário se faz que os agentes causadores dos riscos
sejam conscientizados, que passem a ter uma conduta crítica sobre os temas referentes ao seu
ambiente de trabalho, sobre a comunidade que nele é formada e acerca de sua própria saúde,
principalmente, ter uma visão reflexiva quanto o seu papel como agente transformador.

Agradecimentos
Agradecemos à FAPERJ – Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro pelo auxílio
que deu início a essa pesquisa e ao UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda, pelo
auxílio para apresentação desse trabalho.
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