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Colecéo Primeiros Passos Uma Enciclopédia Critica Pensar a democracia tornousse, no nosso século, ‘uma questao vital para todos aqueles que se interessam pela construgao de uma sociedade livre fe justa, Num pals que vive a experiéncia de ‘manifestag6es politicas caracterizadas por ‘exigéncias democraticas — exigéncia de um ‘governa da maioria e de um governo regido por leis, —, a democracia é mais do que nunca uma pergunta — € uma resposta — que diz respeito 20 ‘nosso futuro, futuro de homens lives © responsavets. Denis L. Rosenfield mostra, em seu livro, como a democracia, no mundo ‘modetno, terminou por confundirsse com o préprio destino da humanidade, ‘Avoas de interesse: Politica, Hist6ria Denis L. Rosenfield DEMOCRATIA, Denis L. Rosenfield OQUEE DEMOCRACIA editora brasiliense LEITURAS AFINS A Etica na Poitica Ventura desventras ‘basen Denis Roce volugéo Politica do tae pir ‘alo Pra J Politica Lumerto Cerro © P6sSoctaismo Alin Traine epeasando 0 Socilismo Tose Genoino| 0 que € Deputado rameico Wetfore 0 que sio Ditaduras Hesldo Sind 0 que sioHleigdes Gon tanga O que ¢tiberdade ‘alo Prado 0 que € Poder “Gerard Lebron © que ¢ Poitca Wolfgang Leo Mar 0 que ¢ Partilpacto Potiica Dalno de Abew Blac querZ Ce Bens L. Rosenfield O QUE E DEMOCRACIA editora brasiliense Copyright © by Dens 1. Rasen, 1986 Norham parte desta publica pode ser gravada, ‘rmacenada em slstemaseltinicox fooroptada, repro por mei mecnicos Ou oniro®quatguer som ‘ttorzagto préva do editor saw ssararans (Pde oh ot queti dome) Pimp 2003 Ros: Dire Brg ¢ Forman Sramero taco: Ente Darson Cpa ey Sara Dados neces de Catsoean a Pabenio CHP) (Ciara ess do tie, SB Tonga en 2 eons ‘ice So eos pons 2) — O Estado Moderne . Indices pr tog seni LL Denoarcia Cena policn—32L8 ee ET ray- ara eae cones SNOT FeceeBn sosan ‘A meméria de Marcos, Sofia, Luise Forming, pelos anos passados. Elconcepto no ex sino une iltima reflexion sobre a vanidade de las cosas y del mundo, Elconceptobrila por un momento sobre la ‘pigina-espejoy se devanece: como todo y odo, es tiempo que se disipa. Octavio Paz, Sor uana Inés dela Cruz ‘Las trampas dea fe. INTRODUCAO A ceri, no sonido meee SBS © “gowerno da mira” Prevalece nesta primeira aproximacio deste fenémens politico uma definiggo quantitative. Basta lembrar que a ‘democracis, na sntigiidade grega, mis particuarmer te fom Herédoto, & uma "forma de governo” entre dias et ee Essa dvisdo tripartda das “Yormas de governa”, ou organizaco da polis, no obedecia entretanto a um ci- {ério meramente quantitative, uma vez que a pergunta ‘que orienta a filosofia politica cssica pode eer enunciada da seguinte manera ‘Observa-se que a questao concernente a "forma de ‘governo" 6, para o pensamento antigo, uma questio vital que diz respeito 20 prdprio valor de uma determi nada forma de organizaeZo politica. finalidade da polis = da “cidade” ~ n30 6a simples sobrevivéncia, o bem- Denis L, Rosenfield star material, mas a lberdade politica, 0 "bem viver”, isto 6, o viver de acordo com os valores de uma communi. dade virtosa ¢ justa jaqueles que se distinguiram publicamente na conduc dos negocios da coletvidad, Governo da maioria ou soberania popular, como diiamos hoje, © govorne dos melhores constituiam questées candentes para o mundo ateniense, onde a | forma de articulaco das relacées polticas se determi ava pela insere30 do individve, enquanto membro da ‘cidade", na comunidade dos homens livres. & “rnaio fia possi aqui um significado restritc, pois ela denota apenas squeles cidadios reconhecidos paltieamente como tas, 2 exclusto de todos aqueles que se dedicavarn 2s tatefas de reproducio fisica e materia sober oon tetesse-me salentar aqui que, entre os cidaclios, se instaura um verdadeiro espaco piibico: a “agora” ou “praca pibiica". A “praca publica” torna-se.efetiva" ‘mente uin lugar de encontro, de reuniso, de discuss80 © de a¢bes palticas, onde as decisses que dizem respeito 20 conjunto da coletividade s80 eleboradas gragas & confrontap8o de opinides © @ sua deliberagio publica através do voto. 0 mundo social, isto &, @ mundo do trabalho, permanecia & margem desse proceso de deliberacao bles, reservado aos cidadiios. Embora uma tal dvissa | 0 que é Democracia entre 0 social eo politico sob a forme da escravidio soja inaceitavel para 0s nossos olhos modernoe, devemos fentretanto ressaltar que a “escravido" @ um “estatuta juridico” decorrente de uma relacdo de forgas instaurada nna guerra. Para o mundo ateniense, ela no tere os princi ies politicos e morais de organizaco da "cidade". Ennacesséro ainda observar que o politico esta inti- ‘mamente vinculado ao moral. A perguata peta virtude re mete & pergunta da melhor forma de organizaeao politica (eG por exemolo,reproduz © iogo de um pai com lum fiisofo pitagérico, quando o primsiro, cigindo-se {20 segundo, coloca-Ine seguinte questi (Qual @a melhor forma de eduear o meu filho? — Faca-o membro de uma “cidade” cuja leis 580 boas. A comunidade politica sofo pitagérico poe em relevo que boas. ddadas, mas nascem de u Zida pela atividade pica dos cidadtos. tomarmos 0s valores democréticas da “cidade” ateniense, perceberemos que estes no so apenas, representagSes subjetivas, vslidas somente para o ind viduo que se confronta com uma situago politica adver. 52, mas so consttutivos, enquanto instituigBes pUbi- 28, da forma mesma de organizagSo poltica. Cada cids- «Bo pode — e deve — controntar a sua opin com as, dos demais, 0 entendimenta nascenda desta “contra 10 Denis L. Rosenfield ico" entre enunciados diferentes que se erticulam obje- tivamente através de insttuigBes reconhecidas por todos ‘como sondo as melhores, ‘A comunidade polica esté assim aberta ‘20 seu desenvolvimento e aperfeicoamento gracas a instituiedes que ganham 0 estatuto da “imortalidede”, pois, sendo as melhores, astio destinadas a resistir ad tempo, vivendo além da vida de cada individuo, de cada {geracio e de cada época. ‘Um pai, como vimos a propésito do seu cislogo com um fildsofo pitagdrico, esta profundamente preocu: ado, via edi i ‘98-destinos mui io se trata pols de uma preocupacso estritamente individual, mas diz respeito a0 Valor e perenidade da coletvidade. A comunidace politica que ¢ legada 8s proximas geractes provém da responea- bilidade que cada um assume, hoje, em relardo aos as- suntos eoletives. Estabeloce:so uma intima vinculacdo entre a ence- nec publics e » participarso poltica de cada cidadso, de modo que a tensio entre as necessidades comunits ries © a participacso politica dos cidados no 6 rompida fem proveito de um corpo administrativo oncarragado dos assuntos coletivos, tal como acontece nos Estados mo demos. 0 publico, na democracia ateniense, diz respeito 20 conjunto da comunidade e, em consequénica, nao é apropriado por especiaistas das leis © da police que, situados acima de nds, se pretendem representantes do 0 que é Democracia “bem comum”, ‘As leis comuns — que no tém nada em comum com nossa Constituigdo anterior, que tinha se tornado tuma colcha de retalhos imposta & nacio — nascem das iscussdes e confrontagdes daqueles que expressam as suas oplnides, que discortem sobre os assuntos publics ‘num lugar reconhecido como seu: o lugar do politic, lugar ‘comum ganha entio a forma de um espaco public vivi= do @ atualizado pelo olhar, pela palavra e pela acto de cada um, 0 processo de identifcacio da comunidade consi 190 mesina opera-se através do comparecimento dos Cidadaos na praca publica, os quais, assim, fazem do publica a forma mediante a qual a “cidede” apresenta-so ‘si pele atividade politica do conjunta da coletividade. As nogces de uma representagio politica que passaria pela formacéo de um corpo independents de polices profs sionais decvinculadas dos eidadiios @ de uma “adminis- Ci 0 Concta de “potig”rtoese efetvamonte a3 | ve colatve, coqueBeomum 9 odo» OESTADO MODERNO Se insist nestue piginas introdutérias numa breve caracterizacSo de alguns pontos do concsito grego de ‘democtacia, foi com 0 intuto de melhor por em relevo 0 seu contraste quando nos voltarmos para @ - democracis moderna. Tmediatamente salta aos olhos a vinculagio de fato llentre a democracia e 0 Estado modemo. Mais precisa ‘mente, observs-se frequentemente qu \ 1m expressées como "Estado democrética”. que é Democracia | Giaesh eee rote crtgus Newest fo moderno configura historicamente | um fendmeno politico desconhecido que termina por fazor da A transterBncia do provesso democrético pablico de tomada de decisbes, que dava for para um centro de poder situado ak acatretou uma reorganizagio paitice rma & comunidad, cima da sociedad: das relaetes huma as, resultando numa transformacio dos proprios con- ceitos de “espaco piblico” ou de “governo da maioria” ‘As categoria da filosofia politica classica tornaram-s In suficientes para aandlse de um fendi ino politico que, tal ‘como uma substancia, aceltavérias aparéncias sem con tudo modifcar a sua signficagso essencial asheniaen fembora 0 seu sentido originério Sseja precisamente o de uma efetiva participagio dos ind Viduos nos assuntos piblicos. (© mundo moderno criou uma entidade politica que ‘se encontra além das nogdes provenientes das “consti- tuigBes antigas”, que, até enti, cone tias don i termo de. sttulam as catego i feito, 0 B 4 Denis L. Rosenfield Estamos pois confrontades com duas significacdes que, juntas, exceder 0 umenfogue dos fenémenos Sosbcondos apenas a nogto de fStiss GOD” Estado no seusentide de “governo auttnoma” cores. ponds bem & nogBo elbesica do "forme de govern Porom, enquontoaporetho moderna de govern, ext feo por ume maquina edminisvatve centatzada, oe ‘ionic simultaneamento ume nova artes do soca Deo polio edo patio pelo soca aoe socedade tomnanrae dls momentos que se medam resprocomert, de fl modo que ests inter Teagio ea umm espago propio ao desonvolvmento de Une ecniovario vltade pare a delesa de Werdades civis in ‘valores. de uma economia de mer odo. ‘A liberdade politica, liberdade de intervengao na cena pablica, ver asim a contrapor-se a uma forma es- tatal de organizaco do espa¢o pablico que, em nome da nnecesséria regulaco dos confitos sociais e do bem Ccomum, vem a reduair a possibllidade igualmente dada a ‘ada cidadao de participac0 nos assuntos coletvos. ‘© pata ne sou sid antigo e medeno, ex poi depen: Sendo da sigificagdo privlagiads, teremos ume forma de ebordegem da politica moderna que tanto pode con duzir a um efetivo governo da maiora, baseado na por unta clissica da melhor forma de governo, como pode 0 que é Demoeracia 18 16 Denis L. Rosenfield desembocat no impéri total do Estado sobre a sociedade 08 individuos, A revolucio e 0 Estado moderno Para podermos compreender 0 caréter préprio do novo Estado 6 nacossério que nos voltemos para a Revo- luge Francesa, isto é, para a forma mediante 3 qual 0 Estado & reposto pela experiéncia revolucionaria e pelas reo ges sosedede ‘SHasAGaia ett sobre 0 fato de que o Estado és-revolucionirio & uma continuaglo do Estado absolu ‘sta, um prolongamento do “Antigo Regime”, porém ele assinala igualmente que o novo regime 6 portado: de uma nova administracdo, nascida de necessidades socio- economics também novss, segundo suas props ppalavras, 0 progresso da sociedede que cia a cada instante nova necessidades, transformando 0 ser mos- ‘mo da antiga administracSo. No momento em que a Frenga, em 1789, precipita: se na experigneia revokicionaria, abre-se um novo espa- 0 paltico onde, nada estando decidido, vérias possibii- ‘dades podem sor vislumbradas. A nova administracbo fndo estava necessariamente inscrita nos destinos da revoluetio, mas, uma vez que ela fol engendrada, deve ‘mos perguntar-nos sobre qual é a sua funcBo. esulta entretanto deste processo a criacdoe 0 desenvolvimento de uma forma de organizacio politica 0 que € Democracia que restabelece. lo seio mesmo do Estado absolutista podia sor considerada uma compatibilidede entre © governo mo: arquico (mais tarde governo absoluto) ¢ a uniform 2acKo, iqualizacdo e homogeneizaco dos cidadiios (qua lidades estas que faciitam o exercicio do poder em ver de impedilo). Porém, se uma retundigo do social tornou- se necesséria, era porque ela também visava es smbolos «valores da antiga forme de dominaciio na perspectiva ‘mesma de criago de uma nova sociedade: AA cena revolucionéria veio a ser um lugar de con: fluéncia de exigéncias propriamente poliicas, nascidas dda tentativa de instauragfo efetiva da liberdade pare todos, ¢ de reivindicardes socias, provenientes de uma grande massa de individuos que’ viviam na miséria. A ‘cena pibica torna:se assim um lugar nip s6 de embates politicos, mas também de luta pela satisfago das exigén cias mais elementares de uma grande parte ca popu loca. E nesta dupla determinacso do espago piblico ‘modemo que o Estado se afirma o ge desenvoive, sendo pois reposto pelo comparecimanto na praca publica de novas reivindicagdes de fundo social. Se © Estado fol reaproveitado neste processo de recriacio do social porque ele responcia a uma necessidade entdo presente, © advento de uma economia de marcado, que, na crveza da Revolugao Industrial, desagregou es relages sociaise langou 0 individuo assim abandontado no merce do, engendrou s sociedade moderns. As relagSes socials 7 18 Denis L. Rosenfield tomaram-se progressivamenterlagdes ont inviduos ISlodos uns aos outro, submetisos tanto 90 poder das ile do mercado como a0 pode do Estado. © processo. de reposilo. do Estado moderne 8 entio esimentado por exigonclas soca provenintes de uma oconom Ge moreado quo faz com que as “ols poblcas” se decomponnom em uma expéci de aaministorao do social. Sciodade de mercado ¢ Estado Brno obo oreverso um do ouvo,ombos elemen- tos aves de um mesmo process de dlugdo do poltco Sm algo soca, da modo que a cane pblon adauire cada ez mats um carder meramonto admristatvo, ~ A mejmidade caractaz-so po uma prfund transformagao das relagées humanss, destacando-se, a hivel politico, a emancipacio das relagdes sociais de {qualquer inscriego natural ou divina — 0 corpo do rei Gomo corpo da naglo, por exemplo — e, 2 nivel sécio- econdrmico, o primado do mercado e dos valores mercan- tis-utiltrios sobre as outras esferas da vida humana. ‘0 movimento aconémico da nova sociedade con verte tudo o que se apresenta em seu caminho em merca: ‘ora, o homem ea terra inclusive. Os homens tornam-se Ceisas, devineulams uns dos outros ompem multas fdas igagdes que os uniar a outras formas de sociabil- dade. O que hoje aparece como “natural”, dando-nos 2 jiusio de leis econémieas que independem da vontade ddos homens, 6 0 resultado historco e politico de profun {das vansformagées socials que chegaram a questioner © 0 que é Democracia ‘que entendemos por natureza humana, ‘Uma tal situagio, por exemplo, era inexistente no Estado absolutista, onde, mediante 6 sistema mercanti- lista, a destruico do partcularisma do comércio focal © intermunicipal eo subseqiente desenvolvimento do mor ‘cado nacional acarretavam simultaneamente uma maior regulamentago da vida econémice. 0 econémico per- ‘manecia submetido ao politico, Karl Polanyi assinala que a concorréncis, subordi- nada ao contol estatal¢ as relagbes socials nBo-mer- cant, permanecia contida nos limites impostes por uma administragso centraizada que favorecia formas autir- uicas de Sobrevivencia nas farmiias camponesas assim como na vida nacional. Oe fato, a regulamentacio eo ‘mercado cresceram juntos, sondo que a dia de um mor ‘cado que se auto-regula era desconhecida. O apareci- mento da idéia de auto-regulacso do mercado por ele mesmo e a tentativa politica do realz-la praticamente fepresentam na verdade uma completa reviravolta na tendéncia entao vigente da sociedade. © eavento de uma economia de mercado imprime, pela oliminaco gradativa ou violenta de formas socials ‘o-mercantis, um novo movimento tendencial a soci dade, que torna o cidadio um mero objeto de troce. social, o que significa também os individues, fica por ‘assim dizer comprimido entre o econémico e © poitico, pois a automatizacio das relagtes econdmicas lancou cs individuos assim atomizados nos bragos do Estado, em busca de proteeo mas também de uma nova instituig8o do politic. |, “As telacBesieSntRatlislforam estendidas terra (socularizag0 dos bens da igraja) © aos homens (trabalho 19 Denis L. Rosenfield ssolayido), det mancira que o Estado vio oocuper 9 puedo de rear Goto losbos do Woes, Deserve! tore, em dovorel, tga ume organza admin te 6 jules cuje angle Cones am encoeger se dnt olde de eos. ‘A epecedade Goutal proceso reid no ato do quovan ss vata de uma simple oe doo}, Fes 0 homem enquante ebato Wocado, A regula so freee one homer tetadee come ejptoe tomar ¢ forma ca co elegBo seca sande roteyao do aman conte decompose slide plo ead sc Obeorve se ques tonto nascida do enioncta do uma mater partcpario paca por pee Sacueee Szo exces dune vice cigna om soledade "ato peck tomar'a foro de una alto iberdedo pottes Soo poce carom rvedeayb aoe titan pot ssogurars perenidade do sto. rante do predominio crescente dos valores individualistas ‘A wansformagao da situaco material da socie- ‘dade, se la ndo vier acompanhada de uma efetiva demo- ‘ratizago dos esparos ocupados pelo aparelho estata, ‘nfo modificaré as condiges politicas que tornaram esta sitvacdo possivel. Uma administrago sitvada fora do 0 que é Demoeracia processo de deciséo pollica permanace & margem do ue € publico, ou aeja sob uma forma que se pretonde imparcial, como se a domocracia fosse um simples ritual eeltoral. A "coisa ables”, numa tal siwacdo, 6 tudo menos publica, A busca do benrestar material pode ocupar 0 lugar 4 acio politics, ¢ em vaz de termos individu’ preocu: ppados com os assuntas politicos da comunidade teremos individuos egoistes e apaticas, sam nenhuma preacu: pagio com 0 outro. Esse tendéncie, uma ver rescividos ‘8 problemas basicos mats prementes da sociedade — ‘como & 0 caso nos paises industrializados —, & a da ind ferenga, do interesse estritamente particular, chegando inclusive @ atingir 0 carater mesmo das manifestapdes politic janhar v0. Em Estados que transitam pare e democracia, como 0 nosso, 0 descompasso entre manifestacbes de ‘ua que exigem a soberania popular e a apropriacio pelo Estado dos mecanismos de decis#0 poltica pode vir a gerar tanto uma efetiva democratizagio do pals como sua apropriaeao formal por uma elite politica, sem falar a possiblidaue de uma nio-transi¢So & democracia, Importaressatar que o Estado pode inclusive forta- lecer-se, 0 que significa qua a partcipacao politica possa tomar-se cada vez mais uma forma de obter favores e concessées do Estado, em vez de reivindicar uma efetiva | J O predominio do mercado ‘Seomercado, naintensidade sem limites do sou de senvolvimenta, tornou fragals todas as instituiges ex Tentes, se ele desenraizou o homem do seu contexto tradicional e comunitrio, todas as medidas tomades para ‘controls-o deveriio considerar esta instabild dat brute dos tmpoe madornos GERBER 0 S operas a omorgtnca ce noves diets do vin, res roe ln ‘carne de eco om are a one 1 dificuldade reside, para uma anslise deste fend- ‘meno, em manter juntos estes dois lados do mesmo pro- blema, pois tontativae obsorvadas no século XX, de elimi | nage do mercado, torminaram acarretando a supress30 10s dcetos dos individuos e da propria liberdade poitcs Na época moderna, percebemos um processo de socialzacio do dominio piblico e de controle administra tivo do que & coletivo, ambos processes criando condi 60s pars o desenvolvimento de uma sociedade baseads hos valores. do bem-estar material e da utlidade. Isto significa que 0 bemestar de um individuo ou de um yrupo social, nas condicdes de uma @6OnOmlall selva (Giiiteiniibett pica» eisnacto ce outes inate Denis L. Rosenfield 0 que é Democracia 2 duos e grupos sociais das mesmas vantagens econ6: micas @ sociais. Novas desigualdades socisis entio se \deservolvem, tornando necessario © engendramento de ‘uma instancia tando como funglo a protec des fortu- nas privadas e do seu processo de reposicgo. Observe-se 3 produgo, como lados da mesma ‘moeda, de dois dominios igualmente independentos no aque diz respeito 30s individuos: instancia pol tico-administrativa, ssendo ambos fatores at- vos de uma nova temporalidade histérica. O capital, por exemplo, thanscende as fortunas individuals, invade rslera do Estado (empresas estatas), d& nova forma 8 relagbes sociais © permanece quando nés jé no mais ‘estamos |, de cada individuo tende a desaparecer em proveito de tuma uniformizagio do social, isto € passa a vigorar na sociedade um mesmo comportamento que faz com que © pdblico, © politico, se torne uma questo medida am ‘wimos de utldade materiale individual, Devernos assim ‘nos perguntar se 8 voracidade de uma sociedade de con: sumo no 6 uma forma de antropofagia da niatureza hu ‘mana por ela mosma, tondo como consequéncia a elimi nagio de tudo aquilo que podia ser considerado como lum ponto de referéncia humano, Poréin & necessirio igualmente resealtar que, embora esta forma de sociedade seja um dos tragos dis tintivos da nossa época, ela no se esgota em uma ta for mulaglo. A sociodade moderna, no seu percurso, anu ciava ~ @ anuncia — outros valores e outras alternativas mo Denis L. Rosenfield 0 que é Democracia 25 historicas. C. Lefort pbs bem em'relevo que a producao & o desenvolvimento dos direitos civsliberdade de expres: ‘io, de imprensa, de circulagdo e de organizagao sind call percorrom todo este processo histérico e s80 deter minados por ele, criando pois condicSes para 0 surgi ‘mento de novas formas sociais, bem como de outros ‘modos de participagao politica XO que veioa ser chamado sociadade civil desenvol vveu-se nos embates do advento de uma economia de ‘mercado segundo os principios de uma estrutura politica {que acolhia em si processo de aperfeigoamento de suas instituigBes, Ela nBo se deixa reduzir & mera defesa dos Jinteresses materiais, porém indica outros caminhos 8 |serem tihados, outras formas de exercicio da cidadania, "aparece no horizonte & possiblidade de retomada, pelos cidadios, das condig¥es efetivas de uma participaco poitica que, voltada para a liberdade politica, possa ser ccapaz de diminuir as desigualdades sociais sem cait na ‘miragem de urna sociedade plena e ansparente. As representagdes democraticas ¢ o Banco Central 0 processo de reposic¥o do Estado aumentou a dis: tncia entre as representacbes politicas democraticas @ 0 ‘desenvolvimento de toda ume estrutura administrative, criarido uma contradig8o entre as novas possibilidades de produce de um espaco piblico e as condicdes sociais ¢ ‘écnicas que podem tomar aleatéria uma tal realizacdo. Embora o sufrégio universal tenha:se tornado uma realidade nas democracias ocidentals (ou esté se tor nando naqueles paises que transitam para a democracia) embora diferentes formas logislativas tenham-se aperfei {coado, no manos verdedeiro que decisBes que dizem, diretamente respeito & vide nacional s80 freqUentemente tomadas sem nenhuma consulta popular. A poitica fiscal, econdmica e financeirs permanece, sob a forma de uum saber esotérico © do controle de informacoes ‘como vemos cotidianamente num pals como 0 nosso —, fora dos processos democraticas de tomada de dec'sbes 8 executada & margem do controle legisiativo. K. Pola yi, cua obra A Grande Transformagéo foi publicada ern 1944) oie ca 3 i i suck a ra, s80 precisamente estas poltices que confi ‘Quram 0 rosto da nacéo e a rearticulseao interna das rela. es entre os diferentes grupos e classes socials, trando de ung para dar @ outros. le-se denominar esta funglo do Estado de fungio mediadora, pois elo ocupa uma posigo central no rocesso de identificaca igo mesme, 1 ainda, © Estado coloca-se acima deste processo, modelendo-o. Se a nogio de "modelagem da sociedade conhe- cu um destin tao funesto nas experiéncias totalitirias 6 porque, de certa mancira, este destino j se anunciava no ‘modo através do qual a sociedade percorra o seu proprio. rocesso de identificardo. Isto significa que 0 Estado voio 2 ser um mecanismo funcionando segundo uma ligica propria, garantindo a0 mesmo tempo 0 seu fortalect mento, encenando © bem comum e destituindo os cida «aos da sua capacidade de intervirpolitcamente nos 6 Denis L. Rosenfield assuntos pibicos. importante sublinhar aqui que a légica particular do poder 6a de uma maquina aspirando em si 0 processo de determinagao do social. N3o fosse esta instincia ‘superior, @ sdcledade poderia detotminar-se diferente. mente, como tivemos @ ocasiio de ver a propésito da cidade ge ‘Nada mais “normal” entao — para aqueles que cotham a sociedade atual como a dnica possivel — do que Considerar 0 “crescimenta” do Estado como algo “natu fat", quando ele nda é seniio 0 outro lado da socializar30 | ‘Observamos entéo que, se 0 Estado tomar uma forma ‘social, ela sata a de um espaco administratvo, aberto @ todos 08 individuos, uniforme em si, decidindo Sobre tudo 0 que diz respeito 20 futuro da sociedade e & Vida dos cidadios. Nao se pode pois confundi-to com um |. espaco publico, lugar de discussio e de acto, lugar de NX geesso 30 politico e, logo, lugar de apresentacto da “Sociedade @ si, Basta pensarmos nas grandes manifes tacdes por eleigtes diretas para nos darmos conta da diferenca existente entre as tentatives poltico-adminis- trativas de fechamento da sociedade e uma perticipagio politica visando a verdadoira criago de um esparo pablo, Em outras palavras, 0 espaco administrative, en ‘quanto espaco aberto a todos, tom a aparéncia dé um ttetivo espaco publica, produzido pela livre escolha dos tidadios, quando é, na verdade, um esparo que res- tringe a participagao politica e desresponsabliza os inivi duos de suas acbes. © que 6 Democracia a” Ve-se aqui mais claramente a disting#o entre esta instituigdo moderna ea “forma de governo' democratica no sentido clissico, pois esta pertence aos cidados | livres reunidos em praca pablice segundo normas eriadas / coletivamente e reconhecidas por todos, enquanto aque la colocs-se acima dos individuos, regulando-Ihes a vide privada e publica. Concluindo, a classificarSo clissica de “cidade” ‘em “formes de.governo" pressupde a existincia de uma ‘comunidade politica organizada sogundo os valores do hhomem concebido enquante animal racional politico, Ora, no momento em que estes valores foram postos praticamente em questao pelo advento de uma economia Fagida pelo mercado @ pelas experiéncias revolucionérias modernas tornou-se necessério repensar a questo do, poitco, ‘Vimos a dificuldade de dafinir 0 Estado maderno utlizando apenas as catagorias floséficas léssicas, uma vez que ele representa uma reslidade desconhecida, nascida da sociedade @ da ideologia modernas. Devemos: dlstinguir “cidade” e “Estado”, bem como “constitu ‘s0” no sentido antigo e modemo. imodernidade poll) Logo, 8 nocgo moderna de Estado" repousa sobre uma concep¢o do homem enquanto ani ‘mal -social © @-poltico (Hobbes), 0 que significa que @ nova sociedade isola os individuos uns dos outros fazen: ddo com que as relacbes humanas sejam mediadas pelas rolagBes entre coisas, © Estado reposto pela necessidade de reagir & sociedade maderna ja no & 0 mesmo Estado, pois ole 8 Denis L. Rosenfield Tove de enfrontar a destruig&o do tecido social, @ incapa: cidade da sociedade de assegurar a cada individuo digni- dade social e moral bem como o bemvestar material de | tod08 08 cidade. ADEMOCRACIA Assinalamos nas paginas precedentes que a socie- dade @ 0 Estado modernos situam-se numa posicso dé descontinuidede om relaco a outras formas de orgeni 2a¢Ho do social ¢ do politico. Observamos também que festa descontinuidade no era somente @ causa de uma desorganizagso das relardes sociais entlo existentes,, ‘mes que ela tinha igualmente acarretado, através da ‘emancipacio do morcado de 1 formacio de. uma separagdo entre a estera econémica e 2 esfera /, politica, ‘Assim, 0 advento de uma sociedade de mercado foi lum fator central para o nascimento de novas formas de representaglo politica bem como de novos direitos ¢ I berdades. Isto significa que o espaco economic do mer- ceo garde era nove matudo do poco: ‘A democracia, nascida nesta soctedade, produziu, 30 Denis L. Rosenfield ‘de um lado, valores cuja validade Utrapassa as condiges: histéricas que os geraram e, de outto, estes valores ‘devern a sua existéncia 8s condigBes do mercado. Esta ‘contradig8o est na base dos dilemas atuals das socieda- ‘des que, tentando eliminar 0 mercado, terminaram na vverdade ‘eliminando @ democracia. A’ experiéncia do "socialism real” 6, neste sentido, bastante eloqiente ‘Assim, no devemos, um pouco apressadamente, identficar o fim de uma sociodade de mercado, enquanto mercado auto-regulador, com a eliminag80 do mercado. (© mercado pode perfeitamente deixar de ser um meco- nismo com a virtude que the 6 atribulda da auto-regu lagdo, mantondo as funeGee de ascegurar a liberdade do consumidor, de indicar as mudangas da oferta © da bem como determinando os ganhos do produtor 4) foi eliminada uma determinagSo central da mo- dernidade que veio fazer parte do nosso proprio ser. Ela '5@ incorporou aos nossos habitos e costumes, const ‘tuindo todo um sistema do roferéneia através do qual ros orientamos om nossas agbes. A sua eliminacto acar- retaria uma desorganizacSo total do jd precério equil: brio da netureza humana; 2} na modernidade engendraram-se formas que asseguram a liberdade do individuo, as diferenciacbes sociais préprias desta forma de organizacBo da existéncia ‘material dos homens e plone liboracSo das paixtes o atv ddades que visam a satisfag0 dos valores provenientes da busca do bem-estar material 0 que é Democracia a 3) rat's do ugares dterminados onde se desdo- bram diferentomente: on valores marie tben-estr, Aer de rod © de eons, soi esate lc expresso, de peneamento ed crgoizag) © pol. teas liberdde pole, 0 aeseo de Todos 90 espace pubic. (0s preblemss do Estado moderna e, particular mented aun foceta Uber, s8o nossos problemas has ua nites e nas suas congulstas Nas suas limites, poe, no stu facasso hist ‘eo, embora oe Inerdesse continua tmocanismos do mereado para libers i Nas suas conquistas, uma vez que os valores democréticos, grapas 8s lutas sociais que os repuseram transformarem, mostraram-se capezes de ampliar-se e de _adaptar-se as exigéncias da sociedad, Assim, constitu se atrevés do dirito de voto um novo espago publico que ‘acolheu em si todos aqueles que, até entio, estavam excluldos da cena piblica e do bem-estar material da sociedade. constiluem a sociedade numa forma de organizacao pol tice aberta 20 seu eperteicoamento da aos cidadios um novo sentido da comunidade, nfo excluindo ninguém, 2 Denis L. Rosenfield por principio, dos assuntos piblicos. Embora a defasagem entre o principio 2 sua apii- cago possa ser muito grande, ela cria novas possibil ddades de ago politica pela construgsio de um espaco ‘comum a partir do qual cada um pode detorminar-se. & ‘somente através de uma pratica politica comum que as lutas sociais podero encontrar caminhos onde as pa: lavras de uns poderio encontrar eco na de outros, erian do condiedee para uma sociablidade politica baseada numa nova relago com as regres evaloresque regem esta sociedade, As novas liberdades © sentido mais amplo da damocracia opte-se enti 20 seu sentido mais estito, pois este, apregoando as vr tudes do mercado como forma de resolugo de todos os ‘males socsis, termina por restringir a noe8o do politico @ lum mero exerccio formal da democracia. Trata-se entio de recuperar, desta forma de instituicé0 politica e de estruturago das relagBes econdmicas, os valores liber ddades que se tornaram nossos, Deve-se portanto dissociar as liberdades conquis tadas no transcurso dos sboulos XIX e XX, que fazem doxavante parte do ser do homem, do desmoronamento dde uma economia baseada na auto-regulaco do mer- cado. A separagio entre 0 econémico e o politico, bem como entre o particular e 0 piblico, vieram a ser determi. hagdes da iberdade, Toda tentativa de "igualé-los” pode Cconduait 20 surgimento de um Estado com pretenses rotaliarias. | | 0 gue é Demoeracia Denis L, Rosenfield © que é Democracia dfssemos conta do que o ato de porcorernevamente sages de nos fasts vr igo quero estava con ‘iovna nosen fmagem, 8igo que fol ctado por este bp proces que faz com que a "edie cheque 00 Fpabiee” 60 "povo" a0 governa do seu “Estado” | A soberania da maioria a soberania das leis Temos pois ne democracta a confiudncis de duas formas de soberania que, na verdade, constituem uma 86: ums Insite sobre 0 papel do povo na criacdo de instiluigdes {que respondem aos ansoios da msloris e, a outra, sobre @ Obietividade e a permanéncia das instituicdes criadas. ‘0 problems consiste entiio em concilar 0 governo dda meiotia com insttuigBes objetivas que, no seu princi- pio, 3 basciom na plutalidade das opinides e em leis que Bssegurem a necesséria rotagBo dos governos subme tidos periodicamente & soberania dos que os elegeram. Teac eed ci ein, os oka igs mc 2 8 it So sooo. OOD 34 ‘e problomes, i | | ‘como se, no fim imagens, | | devéssemos tudo recomerar e, para nossa surpresa, nos | | 1 2 poderemos ver até que ponto @ Constituiedo esté disso- Giada do processo de determinaco da sociedade por ola mesma, tondo se tornado um conjunto de leis imposto & rnagdo. Ela & bem legal sem ser no entante legitima, pois, Ihe faz falta 0 necessério respaldo daqueles que vive & ppensam sogundo as suas regras. Ou seja, se nao ocorre lum proceso de recriagdo da lei, esta pode tomar-se formal o artificial, de tal maneira que surge uma nova recessidade politica, a de transformar as leis existentes mediante a elaboragao de ums let superior. A legitimi ade pode situar-se do lado da etaborac3o de uma nova Constituiglo, enquanto a legalidade pode vir a ser uma. usurpacie dos direitos da maioria, ‘Um conceito to propalado como ode “Assembléia Constitute” recobre precisamente a exigéncia de supe- rar um tal impasse politico. Se analisarmos as duas pala ‘ras que © constituem, veremos quo a primeira designs lume reuniso de cidadios, eleitos pela nago, que tém ‘camo objetivo explicito elaborar um novo conjunto de leis, enquanto a sogunda denots este objetivo, esta meta ‘como sendo uma condicao fundamental para um reer ‘contro da naco consigo mesma. (O conceito de “Assembléia Constituinte” ver a ter ‘uma importincia fundamental quando o Estado encon- tra-se desacreditado, tendo a Constituicdo anterior se tor- nado um instrumento a servigo daqueles que no visavam senfo & permanecer no poder. A rigor, néo se deveria rai flr de Consus, ua vor qu, aout da uni arjieeia conan ie ceo Constituigso que desune em vez de unir no & mals pro- priamente uma Constituicdo. Denis L. Rosenfield © que é Democracia a Assinale-so tambim que uma tal Assombldia 6 necessariamente extraordinatia, pois uma neva Const ‘wigho tomourse necessara psio vezi intituconel no «ual cai’ © pas, desoroanizando ainda mat 09 rlogdos Soci poltcas, Portanto, no ® pode confundir um poder const tuint,clramente eteito pare cup uma tl tare com © poder legislativo em suas tareas habitats, pols a! Constiuigao, uma ver insttuld,transcende 0 eto quo # ge!0u e passa vegor a vida poitica da noyao. A ‘sober mia reside no povo, mas sto ho quer dior que a Conet {uigdodova oscar ou transfrmar'se segundos conor tures poltias ou mesmo os dosti previséios ox fe. dito da maior, como acontece froqdontomente ho teagd0 0 alguns fotos polico que soctem frome ‘A pura vontade da maori conjugada com a precs ‘iedade as leis poder torna-so um importante fator do instablidade institucional, criando. cond mas prigosas aventura polices / Seberana das le, propria da democraia, fndase no “povo", na "rape" sem contudo desoWver se nt outs arunéca momentanes dona malta, Hannah Avert escrevendo a presto da Revoluese Amrcana: puma muito ola expresso, quo 0 gna do ove sna Cano reside “host extaorinao pedor de Conse {uo detave de ontem com o nos dos sSelse nor 38 Denis L. Rosenfield ‘Trata-se de dois lados do mosmo conceito, 0 primeira indicando 0 ato politico de instituigdo de uma nova forma {de governo @ o sagundo 0 processo de consolidago das novas instituiedes que se despegam do tempo visando lnira sociedad segundo novos principios. A “coisa publica” e a “coisa material” Uma das condigtes da sociedade democrética & 3 no confusio, tebrca e prética, entre a “coisa piblica’” ‘2 “coisa material”, uma vez que este deslocamento de ‘sentido anuncla uma modificaro do significado dos va- lores que regem esta forma de Estado, Deste modo a sociedade, em vez de ser regida pela liberdede police, € ‘determinada por uma outra forma de Estado onde predo. rminam os valores de uma igualdade materialmente com- preendida, ‘J4 Tocqueville havia assinalado que o bem-estar materiat era compativel com um governo despético. A liberdade poltca, ao contrrio, pressupde a capacidade {dos homens de agirem e discurearem sob o Gnico império dale ‘Uma sociabilidade regida apenas pela preocupac3o do“bem-estar” desune os homens, isolando-os uns dos ‘outros e fazendo com que percam a nocdo do que & ‘comm, Neste sentido, 86 a liberdade @ capaz, uma vez que se tome o principio reitor da atividade poitice, de impedie a sociedade de escorregar neste terreno Ingreme podendo condusi-laa tania, Em vez de desunir os indivi 0 que é Democracia duos, @ tberdade 0s une, em ver de distanci-los, ela 0s aproxima, Fica claro que esta concepeSo da liberdade no se cconfunde de modo nenhum com o livre-arbitrio de vontade particular. A sua signticaco repouss, 30 con: wari, na criagBo de tm espaco comum onde os homens se retinem para delzearem juntos sobre seus problemas coletivos, no somente sobre os grandes problemas do Estado mas sobro tudo 0 que diz respeito, do bairro & escola, a seus assuntos comuns, Somente assim podem © incividvos desiigar-se dos seus negécios privados, intervindo na resolugso dos problemas da coletividade, Deve:se aqui distinguir 0 dominio poiitice do social « familiar, cada qual quardando as suas proprias esferas de validade com as regras que thes s80 proprias, A pas- ssagem de um dominio ao outro da-s0 no interior de um todo cuja articulaeao impede, em principio, a usurpacso de uma esfera por outra. Dizemos bem "em principio” ois, na pritica, as fronteiras #0 muito menos nitid 1, no Sendo jamais definitivas. Cada cultura organiza-se de ‘uma forma determinada @ em cada uma, supondo a sua estrutura politics como democratica, estas transigdes so objeto de confitos, debates e mudangas, 10 que & especitico a0 Estado democrético & precisamente @ aceitardo do confizo e da discussio, sobre as suas proprias formas de estruturacio sem, entretanto, pdr em questo © principio que @ informs Assim: sendo, a sociedade assegura-se de um movimento de expanséo das suas liberdades. Perece-nos da maior importincia esta distingso entre 0 piblico © 0 privado, s6 capaz de assogurar 0 desenvolvimento do espaco pablico e a capacidade indi- » Denis 1. Rosenfield vidual de agir, evitando toda reduce superficial do polt tico ao individual e do individual 20 social. Ela €, por assim dizer, 0-“espirto” da democracia num processo de interagdo entre ambas as esferas permitindo a circulago das idéiase aintervengo politica de cada um. H. Arendt estabolece um bonito contraste entre 0 |piblico, onde cada um & visto e ouvido, @ o privado, garde recolhimentoe de reflexdo. E no movimento que leva de um @ outro, saindo do "fundo opaco' do privado para a “visibiidade"” do pubiice ou, inversamente, ret fando-se da luz ptblica para 0 descanso sem rho do privado, este lugar que é tocado apenas por alguns raios de luz, que a linerdade pode realizar-se enquanto princi- pio de organizagsio do sociale do politico, A adminisiragao do social Entretanto, estas condigBes nocossérias da demo- cracia nl sio condigbes suficientes, considerando que o ‘esp2¢o pilbico, no Estado moderno, esta estreitaments Vinculado a0 esparo administrativo sob a forma da repre- \ sentaglo poltica ¢ sob as formas da administragdo eco- \\némice,financoira, fiscal e social ‘0 mecanismo administrativo encontra-se colocedo ‘acima dos homens, embora os cidados possam, ainda {que eles no 0 facam sempre, exercer sobre ele um controle periédico, Porém, 0 problema reside no fato de {que 0 dominio econdmico-financeiro tende 2 tornar-se independente de qualquer controle politico como se fosse neutro e ge sityasse fora do alcance do piblico. como se 0 primade do econdmico — @ da sua forma de 0 que é Democracia a dominago —, fato hist sco de modemidede,tvesse se Tornado natural oj no admisso creas. ‘Obuerva-se nas democracasocientas que a lei ies mudam a aquipe no poder som no entanto moet Brofundamente com os mecanismos econbmices, do} tomada de decisbes, A administracao, sob a sua forma Polica,&eficazmente controlade pelo perouidece de Siigdes baseadae no suléglo universal onquanto a saivaedo db “co nat” tome ua Toms ‘uase natural, no posendo supostamente configure de outra mansira. rs aaaneaane Um exemplo bestante eloqiente& a nosso nego ciagio da dvda externa. Prima, o Estado, contolane ot governs naseox de uma tara miler Bo ti legtimidede para conti uma tal dvds. Segundo, soles tee nardaa suborinogdo as ets do FM pon

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