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Logística Reversa e Sustentabilidade

Logística Reversa e
Sustentabilidade
Profa João Carlos Barreto

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Logística Reversa e Sustentabilidade

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Logística Reversa e Sustentabilidade

Sumário
Ciclos fechados na fase de produção 5
Aspectos gerenciais 6
Aspectos técnicos 6
Aspectos operacionais 6
Classificação dos Produtos Retornados 8
Diferenças entre fluxo direto e reverso 8
Relação entre Custos Logísticos Diretos e Reversos 9
Logistica reversa de pós-venda 10
Legislação ambiental: 10
Tabela 1 – Percentual de Retorno de Produtos. 12
Tabela 2 – Fatores críticos para a eficiência do processo de logística reversa. 13
Bons Controles de Entrada 13
 Processos padronizados e mapeados 13
Tempo de ciclo reduzidos 13
Sistemas de informação 14
Rede logística planejada 14
Relações colaborativas entre clientes e fornecedores 14
Logistica reversa – estratégia 18
Instrumento para Aumentar Lucratividade: 19
Protocolo de Kyoto 23
Sustentabilidade no Brasil 24
Desenvolvimento Sustentável 26
Desenvolvimento X Sustentabilidade? 27
Dimensões da Sustentabilidade 28
Sustentabilidade Social 28
Sustentabilidade Econômica 28
Sustentabilidade Ecológica 29
Sustentabilidade Espacial 29
Sustentabilidade Cultural 29
Responsabilidade Socioambiental 30
Terceiro Setor 30
Fundações 31
Entidades Beneficentes 31
Fundos Comunitários 31
Entidades Sem Fins Lucrativos 31
ONG’s (Organizações Não Governamentais) 31
Empresas com Responsabilidade Social 31
Pessoas Físicas 32
Política Ambiental 32
Legislação Ambiental 32
Certificações 33

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Logística Reversa e Sustentabilidade

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Logística Reversa e Sustentabilidade

Caro aluno, neste módulo iremos tratar de um assunto venda até seus centros de distribuição. As siderúrgicas
muito importante e interessante: LOGÍSTICA REVERSA. usam como insumo de produção, em grande parte, a su-
Logística Reversa também conhecida como logística verde cata gerada por seus clientes e, para isso, usam centros
e ligada às questões de SUSTENTABILIDADE. coletores de carga.

A indústria de latas de alumínio é notável no seu gran-


de aproveitamento de matéria-prima reciclada, tendo de-
senvolvido meios inovadores na coleta de latas descarta-
das. Existem ainda outros setores da indústria nos quais
o processo de gerenciamento da logística reversa é mais
recente, como na indústria de eletrônicos, varejo e au-
tomobilística. Esses setores também têm de lidar com o
fluxo de retorno de embalagens, de devolução de clientes
ou do reaproveitamento de materiais para produção.

Este não é nenhum fenômeno novo e exemplos como


o do uso de sucata na produção e reciclagem de vidro tem
sido praticados há bastante tempo. Por outro lado, tem-
A empresa do futuro não se preocupará apenas em fa- -se observado que o escopo e a escala das atividades de
bricar, vender e distribuir. O interesse pela conservação do reciclagem e reaproveitamento de produtos e embalagens
meio ambiente fará com que elas também sejam responsá- têm aumentado consideravelmente nos últimos anos.
veis pelo recolhimento, tratamento e reciclagem dos resí-
duos de seus produtos, como ocorre atualmente em alguns Environmental Footprint = “Rastro” ou “Pegada”
países da Europa, no caso das baterias de telefone celular. Ambiental de uma cadeia de suprimentos é a conseqüência
Usualmente, pensando em logística como o gerencia- causada ao meio-ambiente por fluxos materiais (sólidos,
mento do fluxo de materiais desde seu ponto de aquisição líquidos e gasosos) e energéticos que deixam o sistema
até o seu ponto de consumo. No entanto, existe também definido por ela.
um fluxo logístico reverso, do ponto de consumo até o pon-
Cadeias compostas de fluxos diretos e reversos for-
to de origem, que precisa ser gerenciado. Esse fluxo logís-
mando “ciclos” que fazem materiais usados retornarem a
tico reverso é comum para uma boa parte das empresas.
pontos anteriores da rede para re-utilização ou re-proces-
samento para nova utilização.

Ciclos fechados na fase de produção


• Materiais produtivos obsoletos e consumíveis:
óleo lubrificante usado em processos, paletes e
contêineres de transporte interno em fim de vida
útil, entre outros;

• Refugo de produção;

Por exemplo, fabricantes de bebidas têm de gerenciar • Produtos defeituosos - não atendem aos padrões
todo o retorno de embalagens (garrafas) dos pontos de de qualidade.

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Ciclos fechados na fase de distribuição Aspectos gerenciais


Motivação empresarial (por que fechar o ciclo?)
• Devoluções ou retornos comerciais - produtos
vendidos com uma opção de devolução ao cliente;
• Lucro (custos)

• Entregas erradas - clientes devolvendo produtos • Pessoas (Procon)


porque foram entregues muito cedo, muito tarde,
• Ecologia (PNRS - Política Nacional de Resíduos Só-
com defeito ou fora das especificações do pedido;
lidos – Lei 12.305/2010)

• Recalls - com produtos devolvidos quando defei- Aspectos técnicos


tos reais ou potenciais são identificados pelo pró- • Critérios para aceitar devolução
prio fabricante e os clientes são solicitados a de-
volverem os produtos defeituosos para reposição • Definição: “sem uso” ou “boas condições”
ou reparo;
• O que fazer: limpar, reembalar, reparar, …

• Contêineres de distribuição - como cartuchos de • Tipo de transporte (evitar contaminação do pro-


tinta para impressora, garrafas retornáveis de be- duto “bom”)
bidas, entre outros, que são itens usados para fa-
• Armazenagem
cilitar a distribuição adequada dos produtos;
• Exigências legais e técnicas
• Produtos em final de leasing - devolvidos ao fa-
bricante. Aspectos operacionais
• Perda e recuperação de valor em devoluções co-

Ciclos fechados na fase de uso merciais

• Causas evitáveis de devoluções comerciais


• Itens que deverão retornar aos seus próprios do-
nos ao final do ciclo - itens que sofrem recall ou • Defeitos ou danos no produto (hardware ou sof-
itens sob garantia, que são devolvidos, reparados tware)
e mandados de volta ao usuário.
• Cliente com informações insuficientes a respeito

Ciclos fechados na fase de final de vida da especificação técnica e desempenho do pro-


duto
econômica
• Produtos em final de vida útil - enviados de volta • Cliente com informação insuficiente sobre como
ao produtor ou distribuidor; fazer a instalação do produto

• Cliente com informação insuficiente sobre o uso


• Embalagens em final de vida útil - enviadas de do produto
volta para re-utilização ou reciclagem para uso
como embalagem ou outros produtos. • Perda de valor no tempo de produtos devolvidos.

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Logística Reversa e Sustentabilidade

Classificação dos Produtos Retornados


• Reciclado: é reduzido à forma primária, uso como matéria-prima/aproveitamento de componentes;

• Recondicionado: bom estado, limpeza/revisão;

• Renovado: igual ao recondicionado, envolve mais tempo de reparo;

• Remanufaturado: igual ao renovado, envolve desmontagem e recuperação;

• Revenda: pode ser vendido como novo.

Diferenças entre fluxo direto e reverso

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Relação entre Custos Logísticos Diretos e Reversos

LOGÍSTICA REVERSA DE PÓS-CONSUMO

CANAIS REVERSOS DE PÓS-CONSUMO


1. LEILÕES INDUSTRIAIS.

2. AUTOMÓVEIS.

3. ELETRODOMÉSTICOS.

4. COMPUTADORES E PERIFÉRICOS.

5. BATERIAS DE AUTOMÓVEIS.

6. EMBALAGENS DESCARTÁVEIS.

7. RESÍDUOS INDUSTRIAIS.

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Logistica reversa de pós-venda

Existe uma clara tendência de a LEGISLAÇÃO AMBIENTAL caminhar no sentido de tornar as empresas cada vez
mais responsáveis por todo o ciclo de vida de seus produtos. Isso significa ser legalmente responsável pelo seu destino
após a entrega dos produtos aos clientes e pelo impacto que estes produzem no meio ambiente.

Um segundo aspecto diz respeito ao aumento da consciência ecológica dos consumidores, que esperam que as em-
presas reduzam os impactos negativos de sua atividade no meio ambiente. Isso tem gerado ações por parte de algumas
empresas que visam comunicar ao público uma imagem institucional “ecologicamente correta”.

 Os varejistas acreditam que os clientes valorizam as empresas que possuem políticas mais liberais de retorno de
produtos. Essa é uma vantagem percebida na qual os fornecedores ou varejistas assumem os riscos pela existência
de produtos danificados. Isso envolve, é claro, uma estrutura para recebimento, classificação e expedição de produtos
retornados.

Esta é uma tendência que se reforça pela existência de legislação de defesa dos consumidores, garantindo-lhes o
direito de devolução ou troca.

Legislação ambiental:
• CEE - Diretiva 94/12, OCDE/2001 - Extended Producer Responsibility - EPR: embalagens e resíduos de embalagens.

• Resolução CONAMA no. 9 - 31/08/93: óleos não-recicláveis.

• Resolução CONAMA no. 257 - 30/07/99: Pilhas e baterias.

• Resolução CONAMA no. 258 - 26/08/99: pneus.

• Lei no. 3.369 - 07/01/2000 - Estado do RJ (garrafas e embalagens plásticas); Lei 10.813 (a partir de 25/05/2002) -
Estado de SP (amianto em componentes automotivos).

• PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos (agosto/2010)

• Ecoeficiência em Cadeias Produtivas (Cap 4 - Tópicos emergentes e desafios metodológicos em engenharia de pro-
dução: casos, experiências e proposições - Volume IV, ABEPRO, 2011 – no prelo)

• Consciência ecológica dos consumidores

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Logística Reversa e Sustentabilidade

As iniciativas relacionadas à logística reversa têm trazido consideráveis retornos para as empresas – REDUÇÃO
DE CUSTOS. Economias com a utilização de embalagens retornáveis ou com o reaproveitamento de materiais para
produção têm trazido ganhos que estimulam cada vez mais novas iniciativas.

Além disso, os reforços em desenvolvimento e melhorias nos processos de logística reversa podem produzir também
retornos consideráveis, que justificam os investimentos realizados.

Caro aluno, agora iremos tratar do processo de Logística Reversa e o conceito de CICLO DE VIDA.

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Logística Reversa e Sustentabilidade

Por trás do conceito de logística reversa está um con- Todas essas alternativas geram materiais reaproveita-
ceito mais amplo, que é o do “ciclo de vida”. A vida de um dos, que entram de novo no sistema logístico direto. Em
produto, do ponto de vista logístico, não termina com sua último caso, o destino pode ser o seu descarte final.
entrega ao cliente. Produtos se tornam obsoletos, danifi-
Bem, agora para fixar melhor todas essas questões e
cados, ou não funcionam e devem retornar ao seu ponto
principalmente sobre o ciclo de vida do produto e o pro-
de origem para serem adequadamente descartados, re-
cesso logístico reverso assista o vídeo a seguir.
parados ou reaproveitados. Do ponto de vista financeiro,
fica evidente que além dos custos de compra de matéria-
-prima, de produção, de armazenagem e estocagem, o vídeo fonte
ciclo de vida de um produto inclui também outros custos
http://www.youtube.com/watch?v=QCoQgRuu050
que estão relacionados a todo o gerenciamento do seu
fluxo reverso.
A natureza do processo de logística reversa, ou seja,
Do ponto de vista ambiental, esta é uma forma de ava- quais as atividades que serão realizadas dependem do tipo
liar qual o impacto de um produto sobre o meio ambiente de material e do motivo pelo qual estes entram no siste-
durante toda a sua vida. ma. Os materiais podem ser divididos em dois grandes
grupos: produtos e embalagens. No caso de produtos, os
Essa abordagem sistêmica é fundamental para planejar
fluxos de logística reversa se darão pela necessidade de
a utilização dos recursos logísticos de forma a contemplar
reparo, reciclagem, ou porque, simplesmente, os clientes
todas as etapas do ciclo de vida dos produtos Nesse con-
os retornam.
texto, podemos então definir logística reversa como sendo
A tabela 1 abaixo mostra taxas de retorno devido a
o processo de planejamento, implementação e controle do
clientes, típicas de algumas indústrias. Note que as taxas
fluxo de matérias-primas, estoque em processo e produtos
de retorno são bastante variáveis por indústria e que, em
acabados (e seu fluxo de informação) do ponto de consu-
algumas delas, como na venda por catálogos, o geren-
mo até o ponto de origem, com o objetivo de recapturar
ciamento eficiente do fluxo reverso é fundamental para o
valor ou realizar um descarte adequado.
negócio.
O processo de logística reversa gera matérias reapro-
veitadas que retornam ao processo tradicional de supri- Tabela 1 – Percentual de Retorno de Produtos.
mentos, produção e distribuição.

Esse processo é geralmente composto por um conjun-


Indústria Percentual de retorno
to de atividades que uma empresa realiza para coletar,
separar, embalar e expedir itens usados, danificados ou Vendas por catálogo 18 - 35%
obsoletos dos pontos de consumo até os locais de repro-
Computadores 10 - 20%
cessamento, revenda ou de descarte.
Impressoras 04 - 08%
Existem variantes com relação ao tipo de reprocessa-
mento que os materiais podem ter, dependendo das condi- Peças automotivas 04 - 06%

ções em que estes entram no sistema de logística reversa. Produtos eletrônicos 04 - 05%

Os materiais podem retornar ao fornecedor quando   O fluxo reverso de produtos também pode ser usa-
houver acordos nesse sentido; podem ser revendidos se do para manter os estoques reduzidos, diminuindo o risco
ainda estiverem em condições adequadas de comerciali- com a manutenção de itens de baixo giro.
zação; podem ser recondicionados, desde que haja jus-
tificativa econômica; podem ser reciclados se não houver
possibilidade de recuperação.

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Logística Reversa e Sustentabilidade

Esta é uma prática comum na indústria fonográfica. Tabela 2 – Fatores críticos para a eficiência do
Como essa indústria trabalha com grande número de itens processo de logística reversa.
e de lançamentos, o risco dos varejistas ao adquirir esto-
que se torna muito alto. Para incentivar a compra de todo
o mix de produtos, algumas empresas aceitam a devo- Processos Ciclo de
Bons Controles
Mapeados e Tempo
lução de itens que não tiverem bom comportamento de de Entrada
Formalizados Reduzido
venda. Embora esse custo da devolução seja significativo,
acredita-se que as perdas de vendas seriam bem maior
Relações
caso não se adotasse essa prática. Sistemas de Rede
Colaborativas
Informação Logística
No caso de embalagens, os fluxos de logística rever- entre Clientes e
Acurados Planejada
Fornecedores
sa acontecem basicamente em função da sua reutiliza-
ção ou devido a restrições legais, como na Alemanha,
por exemplo, que impede seu descarte no meio am-
Bons Controles de Entrada
biente. Como as restrições ambientais no Brasil com re-
No início do processo de logística reversa, é preciso
lação a embalagens de transporte não são tão rígidas,
identificar corretamente o estado dos materiais que retor-
a decisão sobre a utilização de embalagens retornáveis
nam para que estes possam seguir o fluxo reverso correto
ou reutilizáveis se restringe aos fatores econômicos.
ou mesmo impedir que materiais que não devam entrar
Existe uma grande variedade de contêineres e embalagens
no fluxo o façam. Por exemplo, identificando produtos que
retornáveis, mas que têm um custo de aquisição conside-
poderão ser revendidos, produtos que poderão ser re-
ravelmente maior que as embalagens oneway. Entretanto,
condicionados ou que terão de ser totalmente reciclados.
quanto maior o número de vezes que se usa a embalagem
Sistemas de logística reversa que não possuem bons con-
retornável, menor o custo por viagem, que tende a ficar
troles de entrada dificultam todo o processo subseqüente,
menor que o custo da embalagem oneway.
gerando retrabalho. Podem também ser fonte de atritos
entre fornecedores e clientes pela falta de confiança sobre
as causas dos retornos. Treinamento de pessoal é ques-
tão-chave para a obtenção de bons controles de entrada.

 Processos padronizados e mapeados


Uma das maiores dificuldades na logística reversa é
que ela é tratada como um processo esporádico, contin-
gencial, e não como um processo regular. Ter processos
corretamente mapeados e procedimentos formalizados é
condição fundamental para se obter controle e conseguir
melhorias.

Dependendo de como o PROCESSO DE LOGÍSTICA


Tempo de ciclo reduzidos
REVERSA é planejado e controlado, este terá uma maior
ou menor eficiência. Alguns dos fatores identificados como Tempo de ciclo se refere ao tempo entre a identifica-
sendo crítico e que contribuem positivamente para o de- ção da necessidade de reciclagem, disposição ou retorno
sempenho do sistema de logística reversa são comentados de produtos e seu efetivo processamento. Tempos de ciclo
a seguir: longos adicionam custos desnecessários porque atrasam a

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geração de caixa (pela venda de sucata, por exemplo) e Os varejistas tendem a considerar que os danos são cau-
ocupam espaço, dentre outros aspectos. Fatores que levam sados por problemas no transporte ou mesmo por defei-
a altos tempos de ciclo são controles de entrada ineficien- tos de fabricação. Os fornecedores podem suspeitar que
tes, falta de estrutura (equipamentos, pessoas) dedicada ao esteja havendo abuso por parte do varejista ou que isto
fluxo reverso e falta de procedimentos claros para tratar as é conseqüência de um mau planejamento. Em situações
“exceções” que são, na verdade, bastante freqüentes. extremas, isso pode gerar disfunções como a recusa para
aceitar devoluções, o atraso para creditar as devoluções e

a adoção de medidas de controle dispendiosas.
Sistemas de informação
Fica claro que práticas mais avançadas de logística re-
A capacidade de rastreamento de retornos, medição versa só poderão ser implementadas se as organizações
dos tempos de ciclo, medição do desempenho de fornece- envolvidas desenvolverem relações mais colaborativas.
dores (avarias nos produtos, por exemplo) permite obter
informação crucial para negociação, melhoria de desem-
penho e identificação de abusos dos consumidores no
retorno de produtos. Construir ou mesmo adquirir esses
sistemas de informação é um mesmo desafio. Praticamen-
te inexistem no mercado sistemas capazes de lidar com o
nível de variações e flexibilidade exigida pelo processo de
logística reversa.

Rede logística planejada


Da mesma forma que no processo logístico direto, a
implementação de processo logístico reversos requer a
definição de uma infra-estrutura logística adequada para
lidar com os fluxos de entrada de materiais usados e fluxos
A logística reversa tem sido citada com freqüência e de
de saída de materiais processados. Instalações de proces-
forma crescente em livros modernos de logística empresa-
samento e armazenagem e sistemas de transporte devem
rial, em artigos internacionais e nacionais, demonstrando
ser desenvolvidos para ligar de forma eficiente os pontos
sua aplicabilidade e interesse em diversos setores empre-
de consumo onde os materiais usados devem ser coleta-
sariais e apresentando novas oportunidades de negócios
dos até as instalações onde serão utilizados no futuro.
no Supply Chain reverso, criado por esta nova área de
logística empresarial.

Relações colaborativas entre clientes e No Brasil, mais recentemente, seu interesse empresa-
fornecedores rial te sido demonstrado por inúmeras palestras, seminá-
rios, associações, empresas e universidades e o interesse
No contexto dos fluxos reversos que existem entre va- acadêmico pela sua inclusão como disciplina curricular em
rejistas e indústria, onde ocorrem devoluções causadas cursos de especialização em logística empresarial.
por produtos danificados, surgem questões relacionadas Entendemos a logística reversa como a área da lo-
ao nível de confiança entre as partes envolvidas. São co- gística empresarial que planeja, opera e controla o flu-
muns conflitos relacionados à interpretação de quem é a
xo de as informações logísticas correspondentes, do
responsabilidade sobre os danos causados aos produtos.
retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao

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Logística Reversa e Sustentabilidade

ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos Tereflalato) usadas como embalagem de refrigerantes e
canais de distribuição reversos, agregando-lhes valo- outras bebidas, iniciou-se em 1989 e alcançou níveis de
res de diversas naturezas: econômico, ecológico, le- produção de 6 milhões de garrafas por ano em 1998, o
gal, logístico, de imagem corporativa, entre outras. que corresponde a mais de 70% da embalagem do setor
Sendo a literatura ainda escassa e dispersa nesta área, o de refrigerantes. Este expressivo crescimento é devido
foco principal desta série de artigos é o de apresentar uma principalmente à sua transparência e duas vantagens
sistematização e estruturação dos principais conceitos, re- logísticas na distribuição direta, substituindo a embalagem
sumindo não só a literatura existente como os exemplos, de vidro retornável.
casos e aplicações da logística reversa em empresas in-
ternacionais e nacionais, fruto de um intenso trabalho de
pesquisa que temos realizado nos últimos anos.

Seria infindável a lista de autores analisando o acele-


rado ritmo de redução do ciclo de vida dos produtos nas
últimas décadas, como forma e busca de diferenciação
mercadológica, motivada por evoluções técnicas de per-
formance em processo ou na aplicação, motivada pela re-
dução de custos em geral e em particular os logísticos,
além de outras razões.

Em 1970, foram lançados 1.365 novos produtos nos


Estados Unidos; em 1986, este número foi de 8.042; em
Um dos indicadores do crescimento desta “descarta-
1991, o número cresceu para 13.244 e, em 1994, alcançou
bilidade” é o aumento do lixo urbano em diversas partes
a marca de 20.074 novos produtos lançados, de acordo
do mundo, conforme comprovam os dados da Prefeitura
com dados de New ProductsNews.
Municipal de São Paulo, através do Limpurb (departamen-
Exemplo clássico de bens como ciclo de vida rapida- to de limpeza pública urbana da cidade de São Paulo): o
mente decrescente são o dos computadores e seus pe- lixo urbano cresceu de 4.450 t/dia em 1985 para 16.000
riféricos, que se revelam expressivos na visão da logísti- t/dia em 2000, na cidade de São Paulo, decrescendo as
ca reversa quando observamos alguns dados o Instituto quantidades de lixo orgânico e aumentando a de produtos
Gartner Group estimando em 680 milhões as vendas de descartáveis.
computadores no ano de 2005 e de 150milhões o número
deles que serão descartados somente nos Estados Unidos. A obsolescência e a descartabilidade crescentes
dos produtos observadas nesta última década têm-se
O nível de obsolescência atual naquele país é de 2:3, ou seja,
refletido em alterações das estratégias dentro das próprias
a cada três computadores produzidos dois tornam-se obsoletos,
organizações e, principalmente, em todos os elos de
com tendência de que esta razão se torne 1:1 nos próximos anos.
sua rede operacional. Essas alterações se traduzem por
Em 1960, a produção mundial de plástico será de 6 milhões
aumento de “velocidade de resposta” desde a concepção
de toneladas por ano e, em 1994, passou a 110 milhões de
do projeto do produto até sua colocação no mercado, pela
toneladas.
adoção de sistemas de alta “flexibilidade operacional”
No Brasil, a produção de plásticos teve um aumento que permitam, além da velocidade do fluxo logístico, a
de cerca de50% entre os anos de 1993 e 1998, valores capacidade de adaptação constante às exigências do
altos quando comparados com o crescimento dos metais cliente. A ainda adoção de “responsabilidade ambiental”
comuns. em relação aos seus produtos após o consumo, identificado
Ainda no Brasil, o consumo de garrafas descartáveis como “EPR” (Extend Product Responsibility), a chamada
de PET (denominação da resina constituinte Polietileno “Extensão de Responsabilidade ao Produto”.

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Logística Reversa e Sustentabilidade

Explica-se, desta forma, a crescente implementação da estoques em canais propicia excelentes resultados econô-
logística reversa em empresas líderes do mercado em di- micos quando direcionada às regiões de melhor giro, tanto
versos setores, constituindo-se parte integrante de suas no mercado nacional como em mercados internacionais,
estratégias empresariais. aproveitando a diferença de estações climáticas entre he-
A natureza de VALOR AGREGADO, ou recapturado, misférios.
varia entre os setores empresariais e em seus diversos
segmentos de negócios. Em conseqüência, observam-se O objetivo estratégico econômico na logística reversa
um espectro de aplicações e de interesses na implementa- de pós-consumo pode se constituir, por exemplo, na eco-
ção e de interesses na implementação de retorno de bens nomia realizada pelo aproveitamento de ligas de chumbo
de pós-venda e de pós-consumo, bem como diferentes es- de baterias usadas – que são reutilizadas integralmente
tágios tecnológicos de aplicação da logística reversa entre na fabricação de baterias novas, de ligas de alumínio das
os diversos setores empresariais. latas de bebidas descartadas - igualmente utilizadas na
Certamente, o objetivo estratégico econômico, ou de fabricação de latas novas. Esses casos ou setores em que
agregação de valor monetário, é o mais evidente na im- o produto de pós-consumo é aproveitado devido à sua
plementação da logística reversa nas empresas. Porém, matéria-prima constituinte representam normalmente es-
observa-se que mais recentemente dois novos fatores in- tratégias de viabilidade econômica do setor. O comércio

centivam decisões empresariais em sua adoção: o fator de bens durável usados, como automóveis e máquinas

competitividade e o ecológico. operatrizes e geral, representam importantes atividades


econômicas.

A análise a seguir considera exemplos de aplicações


A empresa Xerox, como estratégia de comercialização
da logística reversa, nos quais alguns desses objetivos se
de suas copiadoras, estabeleceu desde 1960 uma rede
destacam de forma mais nítida, embora sempre existam
reversa, utilizando a coleta do tipo Take-Back, desmonta-
outros ganhos ou valores agregados simultâneos que se
gens dos produtos, seleção de destino e reutilização dos
traduzem como ganhos empresariais marginais.
mesmos, com ou sem remanufatura, em produtos novos
de sua linha, dando as mesmas garantias e repassando as
economias de custos aos seus clientes, além da recompra
dos equipamentos, garantindo um nível de competitivida-
de elevado no mercado. O projeto do produto foi ideali-
zado de forma a facilitar a desmontagem e componentes
de alta intercambialidade, garantindo flexibilidade em sua
reutilização.

O esquema da empresa nos Estados Unidos, constitu-


ída por 50 centros de distribuição reversos operados por
empresas terceirizadas, dois centros nacionais de distri-
buição reversa e diversas plantas e remanufatura ao longo
do país.
O objetivo estratégico econômico na logística reversa
de pós-venda evidencia-se, por exemplos, na comerciali- Na venda de uma nova máquina, a data de entrega e
zação de saldos ao final de estação ou de promoções de de desinstalação são planejadas executadas pelas empre-
vendas no varejo, que serão comercializados em mercados sas terceirizadas nos diversos centros de distribuição, con-

secundários de ponta de estoques, outlets e lojas de “tudo ciliando as operações. Estas empresas se encarregam da

por 1 dólar”. A redistribuição proveniente de excesso de desinstalação de produtos usados, da seleção e do destino

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Logística Reversa e Sustentabilidade

a ser dado aos produtos e componentes. Em alguns casos, descartados, como matéria-prima secundária na fabrica-
os equipamentos serão submetidos a reparos nos centros ção de novos produtos, como fibras de poliéster para ta-
de distribuição regionais e destinado à locação de equipa- petes, acolchoados, confecções esportivas, agasalhos, etc.
mentos usados, enquanto em outros casos o equipamento O objetivo ecológico ou de imagem corporativa na lo-
é enviado para um dos centros nacionais de distribuição gística reversa constitui-sede ações empresariais que vi-
reversa, onde será realizada nova seleção e destino.
sam contribuir com a comunidade pelo incentivo à reci-
clagem de materiais, às alterações de projeto para reduzir
impactos ao meio ambiente, entre outros.

A substituição da embalagem de poliuretano pelo pa-


pel no grupo McDonald´s visando à redução do impacto
e melhoria em reciclagem e o projeto do automóvel Volvo
reciclável, no qual as condições de desmontagem foram
facilitadas, são exemplos de objetivos desta natureza.

O objetivo de competitividade por diferenciação de ní-


vel de serviço ao cliente evidencia-se pelos exemplos da
empresa farmacêutica Bristol-Meyrs Squibb, que estabele-
ceu a logística reversa como prioridade estratégica visan-
do equacionar o retorno de medicamentos que perdem
Nos casos de modelos de grande venda nos Estados validade no mercado, oferecendo um nível de serviço dife-
Unidos, a decisão poderá ser a de transportá-los a uma renciado a seus clientes.
planta de remanufatura, onde será executada a desmon- A empresa de cosméticos americana Estée-Lauder,
tagem completa com reaproveitamento dos componentes além de oferecer um serviço diferenciado a seus clientes
em condições de uso em novos equipamentos. Aqueles ao implantar tecnologia de informação em sua logística re-
considerado sem condição de uso em novos equipamen- versa, obteve enormes economias pela redução de perdas
tos. Aqueles considerados sem condição de uso vendidos e pela possibilidade de redistribuição de produtos.
como sucata para a reciclagem dos materiais constituintes.
As conhecidas empresas varejistas Wall Mart, Kmart e
Sears possuem diversos centros de distribuição reversos
O caso Xerox é um dos exemplos de empresas em que a
nos Estados Unidos, e contratam terceiros para operá-los
logística reversa e os cuidados na montagem da rede rever-
de forma a dar suporte ao crescimento de devolução de
sa em nível internacional fazem parte da estratégia empre-
produtos, função de políticas de liberalização de devolução
sarial, com excelentes resultados. A revalorização logística
espontânea de mercadorias.
dos equipamentos usados garantida pela rede reversa até
as consolidações em centros de distribuição reversos espe- O objetivo de satisfação de legislação na logística re-
cializados leva à revalorização econômica e tecnológica pelo versa é caracterizada por situações em que existem impe-
reuso de seus equipamentos e componentes, e à revalo- dimentos de destinação final de um produto. A legislação
rização ecológica, reduzindo o impacto ao meio ambiente obriga ao fabricante a coleta e destino dos produtos de
obtendo um resultado positivo em sua imagem corporativa pós-consumo, obrigando os diversos elos da cadeia a acei-
junto aos clientes e à comunidade em geral. tar devoluções de embalagens de seus clientes e a respon-
sabilizar pelo retorno de produtos perigosos.

As empresas Dupont e Welman, nos Estados Unidos, Empresas de óleo lubrificante, lâmpadas fluorescentes,
adotaram a logística reversa como estratégia em suas em- bateria de celulares, entre outros produtos, no Brasil são
presas, montando redes reversas que permitem a recu- responsáveis pela logística reversa de retorno de seus pro-
peração de valor de filmes e outros produtos de poliéster dutos de pós-consumo de acordo com legislação expressa.

17
Logística Reversa e Sustentabilidade

 Agora meus caros alunos, vamos ver a importância Acrescentando a estes dados do segmento de pós-
economica da Logística reversa. -venda outros exemplos na área da logística reversa de
pós-consumo, tal como a indústria de ferro/aço – que con-
some mais de 30% de matérias-primas secundárias -, a
indústria do alumínio (cerca de 20%), a do plástico (cerca
de 20%), pode-se avaliar a importância para estes setores
do fluxo de matérias-primas secundárias garantidas pela
logística reversa na mesma proporção com que compõem
o produto de venda destes setores.

Ou seja, que o valor econômico movimentado pela lo-


gística reversa na cadeia do ferro/aço, por exemplo, é de
mais de 30% do valor de venda do produto do setor (no
Brasil, mais de US$ 2 bilhões / ano).

Os dados econômicos sobre logística reversa aqui Sendo áreas de longa tradição, muitas vezes os valores
apresentados, baseiam-se em estimativas projetadas por econômicos envolvidos na atividade são considerados par-
algumas pesquisas realizadas nos Estados Unidos, e em te integrante do negócio do setor.
pesquisas em logística reversa de pós-consumo em alguns
setores no Brasil. Como os dados são setoriais e o interes-
se é recente, acreditamos que as estimativas atuais sejam Logistica reversa – estratégia
ainda conservadoras. No entanto, pode-se inferir o poten-
cial de ganho e as oportunidades de desenvolvimento nes- Papel Estratégico dos Retornos

ta nova área.
• Razões Competitivas 65,2%
Nos Estados Unidos, pesquisas estimam em cerca de
US$ 35 bilhões os custos de retorno de bens, ou, cerca de • Canal “Limpo” a jusante na CS 33,4%
0,5% do PNB do país, ou 4% dos custos logísticos totais • Proteger a Margem 18,4%
(US$ 862 bilhões).
• Aspectos de disposição legal 28,9%
Somente o mercado de peças de automóveis remanufa-
turadas naquele país foi de US$ 36 bilhões, de acordo com • Política de longo prazo é mais que resposta tática
a Automobile Parts Rebuilders Association, com a atuação ou operacional a um problema ou situação.
de 12 mil empresas dedes montagem de automóveis e de
• Manter o produto “novo” e interessante ao cliente.
remanufatura de peças em atividade atualmente o país.
• Reduzir risco dos participantes da cadeia de supri-
Pesquisa em setores compreendendo computadores,
mentos a jusante de comprar produtos que não
equipamentos de rede, equipamentos de automação, em-
conseguem vender.
balagens retornáveis e eletrodomésticos da “linha branca”,
ainda nos Estados Unidos, estimou que o custo total da • Permitir ao cliente o retorno do produto, manten-
logística reversa foi de US$4,7 bilhões. do estoques baixos e compras JIT.

O instituto de pesquisa em informática Gartner Group • Aumentar a capability em logística reversa au-
prevê um valor de US$11 bilhões de retorno de bens no menta o custo do cliente em trocar de fornecedor.
segmento do e-commerce nos Estados Unidos, um dos se- Exemplo: aceitar de volta produto defeituoso ou
tores de maior potencial para a logística reversa. não-vendido e creditar valor ao cliente.

18
Logística Reversa e Sustentabilidade

Instrumento para Aumentar Lucratividade:


• Embalagens retornáveis

• Reciclagem de embalagens

• Redução dos materiais de embalagem.

• Reaproveitamento de partes usadas

• Centralized Return Centers

• Estoque - menor risco com itens baixo giro

Então agora vamos ver alguns vídeos sobre Logística Reversa para exemplificar e fixar alguns conceitos.

vídeo fonte youtube (vídeo de aprox. 6 minutos)


http://www.youtube.com/watch?v=cfHKKw9NNlo
vídeo fonte youtube (vídeo de aprox. 3 minutos)
http://www.youtube.com/watch?v=ML71aObeRbg

Vamos agora trabalhar no tema SUSTENTABILIDADE.


Desenvolvimento sustentável, segundo a Comissão Mundial de Ambiente e Desenvolvimento (WCED, 1987 –
Brundtland Report), é o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a habilidade de as
gerações futuras atenderem suas próprias necessidades.

19
Logística Reversa e Sustentabilidade

Durante as décadas de 1970 e 1980 tornou-se cada vez temperadas subtropicais e tropicais e 40% das pastagens
mais claro que os recursos naturais estavam sendo dilapida- temperadas foram convertidas para a agricultura. Espe-
dos em nome do “desenvolvimento”. Estavam se produzindo cialistas em meteorologia têm fortes razões para acreditar
mudanças imprevistas na atmosfera, nos solos, nas águas, que a mudança de clima, em conseqüência do desmata-
entre as plantas e os animais e nas relações entre todos eles. mento amazônico esteja afetando o regime de chuvas
Foi necessário reconhecer que a velocidade da transforma- em toda a América do Sul, inclusive na Bacia do Prata. A
ção era tal que superava a capacidade científica e institucio- fumaça das queimadas também estaria alcançando o sul
nal para minimizar ou inverter o sentido de suas causas e do continente, com graves conseqüências para o clima
efeitos. Estes grandes problemas ambientais incluem: do planeta;

1) Aquecimento global da atmosfera: combustíveis 5) Extinção de espécies;


fósseis dominam o suprimento mundial de energia,
fazendo com que as emissões resultantes de gases 6) Degradação do solo: a produção de alimentos é à
efeito estufa causem mudanças na temperatura e base de muitas economias, mas ameaça os ecossis-
aumentem os riscos de mudanças climáticas. Os temas dos quais depende. O modo que escolhemos
modelos climáticos prevêem que enchentes, secas para produzir alimentos pode determinar o futuro
e fortes tempestades devem se tornar cada vez de pastagens, florestas, ecossistemas. Acompanhar
mais freqüentes e severas, custando vidas, colhei- o crescimento da população e reduzir a desnutrição
tas e progresso econômico. A demanda acelerada existente demandará uma produção de alimentos
por energia gera crescimento econômico, mas ame- bem maior e com menos impacto ambiental. A pro-
aça o clima da Terra; dução mundial de grãos utiliza mais água, mão de
obra e terra do que qualquer outra atividade, além
2) Esgotamento da camada de ozônio da estratosfera; de desgastar e contaminar o solo com agentes quí-
micos e pesticidas. A produção de alimentos ecolo-
3) Crescente contaminação da água e dos solos pelos gicamente eficaz é hoje uma das principais metas
derramamentos e descargas de resíduos industriais do desenvolvimento econômico e humano.
e agrícolas: a disponibilidade de água é o mais pre-
ocupante problema de recursos que o mundo en-
frenta hoje. A água é essencial para todos os seres
vivos, tem moldado as sociedades humanas por
milênios e é à base de atividades como refrigera-
ção, processamento de alimentos, síntese química
e irrigação. A crescente escassez de água e o alar-
mante declínio na biodiversidade aquática eviden-
ciam práticas e políticas falhas em diversas partes
do mundo para a proteção do recurso mais impor-
tante da vida. Veremos adiante o que as empresas,
ambientalistas e governo estão fazendo para tornar
processos industriais mais eficientes, estimular o
reuso e combater o desperdício, contribuindo assim
para a preservação dos recursos hídricos; A preocupação da comunidade internacional com os li-
mites do desenvolvimento do planeta datam da década de
4) Destruição da cobertura florestal/desmatamento: 60, quando começaram as discussões sobre os riscos da
aproximadamente 30% da área potencial de florestas degradação do meio ambiente.

20
Logística Reversa e Sustentabilidade

Tais discussões ganharam tanta intensidade que leva- timos ao crescimento contínuo dos primeiros. Assim, foi
ram a ONU a promover uma Conferência sobre o Meio bem aceito pela comunidade internacional.
Ambiente em Estocolmo (1972).

No mesmo ano, Dennis Meadows e os pesquisadores


do “Clube de Roma” publicaram o estudo Limites do Cres-
cimento. O estudo concluía que, mantidos os níveis de
industrialização, poluição, produção de alimentos e explo-
ração dos recursos naturais, o limite de desenvolvimento
do planeta seria atingido, no máximo, em 100 anos, pro-
vocando uma repentina diminuição da população mundial
e da capacidade industrial.

Em 1973, o canadense Maurice Strong lançou o con-


ceito de eco-desenvolvimento, os caminhos do desenvol-
vimento seriam seis: satisfação das necessidades básicas;
solidariedade com as gerações futuras; participação da A partir das últimas décadas a questão ambiental tor-
população envolvida; preservação dos recursos naturais e nou-se uma preocupação mundial. A grande maioria das
do meio ambiente; elaboração de um sistema social que nações do mundo reconhecem a emergência dos proble-
garanta emprego, segurança social e respeito a outras cul- mas ambientais. A destruição da camada de ozônio, aci-
turas; programas de educação. dentes nucleares, alterações climáticas, desertificação, ar-
mazenamento e transporte de resíduos perigosos, poluição
Esta teoria referia-se principalmente às regiões sub-
hídrica, poluição atmosférica, pressão populacional sobre
desenvolvidas, envolvendo uma crítica à sociedade indus-
os recursos naturais, perda de biodiversidade são algumas
trial. Foram os debates em torno do eco-desenvolvimento
das questões a serem resolvidas por cada uma das nações
que abriram espaço ao conceito de desenvolvimento sus-
do mundo, segundo suas respectivas especificidades.
tentável.
Entretanto, a complexidade dos problemas ambientais
Outra contribuição foram às declarações que afirma- exige mais do que medidas pontuais que busquem resol-
vam que a causa da explosão demográfica era a pobreza, ver problemas a partir de seus efeitos, ignorando ou des-
que também gerava a destruição desenfreada dos recur- conhecendo suas causas. A questão ambiental deve ser
sos naturais. Os países industrializados contribuíam para tratada de forma global, considerando que a degradação
esse quadro com altos índices de consumo. Para a ONU, ambiental é resultante de um processo social, determina-
não há apenas um limite mínimo de recursos para propor- do pelo modo como a sociedade apropria-se e utiliza os
cionar bem-estar ao indivíduo; há também um máximo. recursos naturais.

No ano de 1987, a Comissão Mundial da ONU sobre o Não é possível pretender resolver os problemas am-
Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), apresentou bientais de forma isolada. É necessário introduzir uma
um relatório que diz “desenvolvimento sustentável é de- nova abordagem decorrente da compreensão de que a
senvolvimento que satisfaz as necessidades do presente existência de certa qualidade ambiental está diretamen-
sem comprometer a capacidade de as futuras gerações te condicionada ao processo de desenvolvimento adotado
satisfazerem suas próprias necessidades”. O relatório não pelas nações.
apresenta as críticas à sociedade industrial que caracteri- O modo como se dá o crescimento econômico, compro-
zaram os documentos anteriores; demanda crescimento metendo o meio ambiente, seguramente prejudica o pró-
tanto em países industrializados como em subdesenvolvi- prio crescimento, pois inviabiliza um dos fatores de pro-
dos, inclusive ligando a superação da pobreza nestes úl- dução: o capital natural. Natureza, terra, espaço devem

21
Logística Reversa e Sustentabilidade

compor o processo de desenvolvimento como elementos Logo, a educação ambiental que tenha por objetivo in-
de sustentação e conservação dos ecossistemas. A degra- formar e sensibilizar as pessoas sobre os problemas (e
dação ou destruição de um ecossistema compromete a possíveis soluções) existentes em sua comunidade, bus-
qualidade de vida da sociedade, uma vez que reduz os cando transformar essas pessoas em indivíduos que par-
fluxos de bens e serviços que a natureza pode oferecer à ticipem das decisões sobre seus futuros, exercendo desse
humanidade. modo o direito a cidadania torna-se instrumento indispen-
sável no processo de desenvolvimento sustentável.
Logo, um desenvolvimento centrado no crescimento
econômico que relegue para segundo plano as questões Bom caros alunos vamos ver agora sobre as CONFE-

sociais e ignore os aspectos ambientais não pode ser RÊNCIAS MUNDIAIS.

denominado de desenvolvimento, pois de fato trata-se de A partir do século XX, o processo de industrialização que
mero crescimento econômico. Pode-se considerar, portanto, foi iniciado no XIX com a Revolução Industrial, se acentuou.
desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento O período entre guerras (1919-1939) foi marcado pela crise
que tratando de forma interligada e interdependente econômica em 1929, recessão e desemprego em massa nos
as variáveis econômica, social e ambiental é estável e EUA e Europa. Após a Segunda Guerra (1940-1945) os Es-
equilibrado garantindo melhor qualidade de vida para as tados Unidos e a União Soviética despontam como as gran-
gerações presentes e futuras. des potências industriais, uma vez que a Europa estava em
“reconstrução”. Com a experiência socialista na URSS man-
É certo que a implementação do desenvolvimento sus- teve-se até fins da década de 1980 dois sistemas políticos
tentável passa necessariamente por um processo de dis- e econômicos distintos e antagônicos. A tensão decorrente
cussão e comprometimento de toda a sociedade uma vez da concorrência entre as duas potências ficou conhecida na
que implica em mudanças no modo de agir dos agentes História como Guerra Fria.
sociais. No processo de implementação do desenvolvimen-
Foi com a criação da Organização das Nações Unidas
to sustentável a educação ambiental torna-se um instru-
(ONU) nos anos 50, com vários organismos internos que se
mento fundamental.
iniciam programas específicos para o estudo do desenvolvi-
mento econômico e das conseqüências ambientais da indus-
O sucesso das ações que devem conduzir ao desenvol-
trialização. Os relatórios e conferências específicos sobre a
vimento sustentável dependerá em grande parte da influ-
questão ambiental surgem a partir dos anos 70. Vamos ver
ência da opinião pública, do comportamento das pessoas,
as mais importantes:
e de suas decisões individuais. Mesmo considerando que
existe certo interesse pelas questões ambientais há que
reconhecer a falta de informação e conhecimento dos pro- • Clube de Roma (1972);
blemas ambientais.
• Ecodesenvolvimento (1973);

• Declaração de Cocoyok (1974);

• Dag-Hammarskjöld (1975);

• Relatório Brundtland (1987);

• Rio 92 – Conferência Mundial sobre Meio Ambien-


te e Desenvolvimento (1992).

Podemos incluir na lista a Conferência Rio+10 (Joha-


nesburgo, 2002) e assinatura do Protocolo de Kyoto em

22
Logística Reversa e Sustentabilidade

fevereiro desse ano (2005), como um acontecimento mar- anos após o informe (1997) em Kyoto no Japão, é assi-
cante para a tentativa de solução dos problemas ambien- nado o Protocolo de Kyoto. Nele tem-se pela primeira vez
tais advindos da industrialização. um acordo que compromete os países do Norte a reduzir
suas emissões. As negociações em torno das metas para
Vejamos a seguir os pontos mais importantes da dis- essa diminuição permaneceram em discussão ainda por
cussão apresentados pelos relatórios e suas sugestões seis anos. Basicamente o protocolo “compromete a uma
para a resolução desses problemas. série de nações industrializadas a reduzir suas emissões
em 5,2% em relação aos níveis de 1990 para o período
de 2008-2012. Esses países devem mostrar um progresso
visível no ano de 2005, ainda que não se tenha chegado a
um acordo sobre o significado desse item”.

  Assim, em 16 de fevereiro de 2005 o Protocolo en-


tra em vigor, com a assinatura de141 países. Para entrar
em vigência ele deveria ser assinado por, no mínimo, 55
governos, que somariam 55% das emissões de CO2. Em
Protocolo de Kyoto 2001, o presidente norte-americano George W.Bush “de-
clarou que os EUA, responsáveis em 1990 por 36,1% das
emissões dos países industrializados, abandonariam o pro-
As discussões científicas em torno da questão climática
tocolo, por ser danoso à sua economia”.
(aquecimento global) começam em 1988, na primeira reu-
nião realizada em Toronto, no Canadá, entre cientistas e Este fato, apenas confirmaria a tendência da política
governantes. Já nesta primeira reunião os cientistas apon- econômica norte-americana em privilegiar seus interesses.
tavam para a gravidade do aumento da temperatura nas Entre as medidas para a redução das emissões de gases
próximas décadas. estufa tem-se:

Em 1990 aparece o primeiro informe com colabora- • reforma dos setores de energia e transportes;
ção científica internacional. O IPCC (sigla em inglês para
Painel Intergovernamental Sobre Mudança Climática) ad- • promoção do uso de fontes energéticas renováveis;

vertia sobre a necessidade de estabilizar a emissão de • eliminação de mecanismos financeiros e de merca-


CO2(dióxido de carbono) na atmosfera, principal causador do inadequados aos fins da Convenção de Kyoto;
do efeito estufa. A diminuição deveria ser em torno de
60% na década de 90. • redução das emissões de metano no gerencia-
mento de resíduos e dos sistemas energéticos;
A Convenção Marco sobre a Mudança Climática, duran-
te a Eco-92, teve a assinatura de mais de 160 governos. • proteção de florestas e outros sumidouros de car-
Com isso, esperava-se “evitar interferências antropogêni- bono. Um dos mecanismos mais comentados são
cas perigosas no sistema climático”. Dentro da perspectiva os chamados Créditos Carbono.
da sustentabilidade esperava-se proceder de forma que
Estes são “investimentos financeiros” que um país caso
os países industrializados mantivessem suas emissões de
não consiga (ou não queira) reduzir sua emissão dentro
“gases estufa”, em 2000, nos níveis de 1990. Assim, todos
de sua meta, enviará para outros países, principalmente
os países deveriam dentro do “princípio da responsabilida-
aqueles em “desenvolvimento” para investir em progra-
de comum” (Nosso Futuro Comum), ter a responsabilidade
mas de reflorestamento, reciclagem, ou qualquer outra
de proteger o clima, começando pelos países do norte.
atividade que auxilie na redução do aquecimento global.
Em 1995 um novo informe do IPCC deixa clara a influ- Um dos pontos em aberto no Protocolo é a punição aos
ência na mudança climática por motivos humanos. Dois países que não cumpram suas metas até 2012.

23
Logística Reversa e Sustentabilidade

“Segundo o acordo, caso um país não cumpra a meta O relatório aborda a questão ambiental no Brasil e no
no primeiro período de compromisso, ele teria de pagar mundo, trazendo informações sobre as ações que estão
a dívida no segundo, já que o protocolo prevê uma nova sendo tomadas pelos executivos atuantes em grandes em-
etapa com a estipulação de cortes além de 2012”. O Brasil presas brasileiras.
assinou a carta de ratificação do acordo em 23 de julho de
Trabalho baseado em amplo levantamento de dados e
2002. Mesmo não sendo obrigado a reduzir sua emissão
em entrevista realizadas com 109 executivos de logística
de gases por ser um país em desenvolvimento. No entan-
das maiores indústrias do País.
to, é responsável pela produção de 250 milhões de tonela-
das de carbono – dez vezes menos que os EUA. Capítulo 1 - Análise estruturada da questão ambiental
no planeta, discutida de forma macro e abrangente. Apre-
Os programas desenvolvidos pelo governo brasileiro senta-se as emissões de gases de efeito estufa em diversos
para “implantação da convenção do clima” são: países, as matrizes de emissões e sua projeção para 2030.

Aborda ainda os compromissos adotados pelo Brasil para


• Programa Nacional de Racionalização do Uso dos
a redução das emissões. Os investimentos em energia limpa
Derivados do Petróleo e do Gás Natural;
que vêm sendo feitos no mundo. Percepção das empresas
• Programa Nacional do Álcool (Proálcool); brasileiras sobre os possíveis impactos das mudanças climá-
ticas nos seus negócios.
• Programa de Redução de Emissões Veiculares.
Capítulo 2 - Trata especificamente da sustentabilidade

A discussão do Protocolo de Kyoto entre os ambien- ambiental na logística e na supply chain.

talistas acentua a influência humana nas mudanças cli- Analisadas as emissões causadas pelo transporte no
máticas e a responsabilidade dos países industrializados. Brasil, comparativamente com outros países. Análise das
Uma crítica à abordagem dos problemas ambientais e do ações do governo brasileiro em prol de um crescimento
desenvolvimento pode ser feita se considerarmos os efei- sustentável, englobando questões voltadas à legislação e
tos históricos de todo o processo. Em 2012 quando o prazo fiscalização.
para os primeiros resultados terminar é que poderemos
Capítulo 3 - Apresenta os resultados das entrevistas
avaliar com certeza o alcance dessas medidas.
feitas com os executivos de logística do Brasil.

Identifica as ações sustentáveis adotadas pelas empre-


Sustentabilidade no Brasil sas do País que buscam reduzir o impacto ambiental das
atividades logísticas, identifica as barreiras à implementa-
Panorama “Logística Verde: Iniciativas de sustentabili-
ção dessas ações e as oportunidades de ganho para as em-
dade ambiental das empresas no Brasil 2011”.
presas que atuam de forma sustentável na sua cadeia de
suprimentos.

Capítulo 4 - Traz uma complementação do terceiro,


apresentando todos os resultados detalhados da pesquisa
de campo realizada pelo Instituto ILOS. Traz tabelas e gráfi-
cos descritivos, segmentados por setor e nível de maturida-
de da empresa, permite uma comparação muito rica entre
companhias com características distintas.

A aglutinação das demandas ambientais no Brasil co-


meçou a se dar nos anos 1970. Durante a ditadura mili-
tar (1964-1985), há uma série de movimentos sociais que

24
Logística Reversa e Sustentabilidade

tentam encontrar respostas para seus problemas locais. O tização. Algumas campanhas tiveram atuação nacional,
movimento ambiental soma-se aos outros movimentos do como a Campanha Nacional contra o Desmatamento da
período; moradia, transporte, saúde, etc. Segundo Pedro Amazônia em 1978; contra a inundação de Sete Quedas no
Jacobi, “a aproximação das lutas ambientais e sociais no rio Paraná (1979-1983). Também contra a construção das
Brasil, deu origem ao socioambiental ismo”. A partir dos usinas nucleares no Rio de Janeiro no período 1977-1985.
anos 90 houve uma crescente influência na “promoção de
estratégia para um novo estilo, sustentável, de desenvol- Segundo Jacobi essas campanhas obtiveram repercus-
vimento”. são internacional e ajudaram na multiplicação depressões
contra o governo brasileiro. Na década de 1980, com a crise
econômica e a crítica em relação ao modelo de desenvol-
vimento adotado surgem também maiores pressões inter-
nacionais para a crise ambiental.Houve articulações entre
Organizações Não Governamentais (ONGs) européias e nor-
te-americanas com as entidades brasileiras. Caracterizou-se
também, esse período, por “iniciativas para aprimorar os
instrumentos legais de gestão ambiental” (legislação), es-
colha de parte dos ambientalistas em entrar em instituições
políticas (Partido Verde) e uma buscadas ONGs ambientalis-
tas em se profissionalizar e se aproximar das ONGs sociais.
Uma das deficiências do movimento ambientalista era não
Esse movimento teria tido maior relevância na socie- possuir “nenhum diálogo ou repercussão na população mais
dade brasileira em meados da década de 70, quando os excluída, levando muito pouco em consideração as dimen-
primeiros grupos estruturados aparecem e com o estímulo sões socioeconômicas da crise ambiental”.
da Conferência de Estocolmo em 1972. Houve uma con-
fluência entre as agências ambientais estatais e algumas Desde os anos 1990, no entanto, o movimento ambien-
entidades ambientalistas. Essa relação, no entanto, dava- talista brasileiro teria conseguido superar essas barreiras.
-se em termos de conflito e cooperação. “A principal crítica Haveria uma série de parcerias estabelecidas entre os am-
é à excessiva tolerância com as indústrias pela poluição bientalistas e as ONGs ou movimentos sociais. Exemplos:
provocada e à morosidade dos processos de fiscalização. (a) aproximação entre com os seringueiros da Amazônia e
o apoio das ONGs à criação das reservas extrativistas (que
A cooperação se fortalece a partir de aproximações res-
teriam ficado conhecidas internacionalmente após o assassi-
tritas a pequenos grupos da sociedade civil e pessoas que,
nato de Chico Mendes em 22 de dezembro de 1988); (b) in-
dentro das estruturas federal e estadual, acreditavam na
teração das ONGs com o Movimento Indígena, incorporando
importância de proteger o meio ambiente. Outras ques-
a luta tradicional dos índios pela proteção de suas terras e a
tões diretamente ligadas ao agravamento da degradação
preservação do meio ambiente; (c) aproximação com setores
ambiental, tais como crescimento populacional e déficit de
do Movimento dos Sem Terra (MST), incluindo a “variável
saneamento, não faziam parte da agenda dessas organiza-
ambiental na luta pelo acesso a terá”; e, (d) aproximação
ções, contribuindo para uma visão limitada da realidade”.
junto a diversas associações de bairro, que procurariam ago-
ra incluir a questão ambiental em suas demandas.
Esses grupos se concentravam na região sul-sudeste
e eram compostos por ativistas que desenvolviam uma Como podemos perceber pela enumeração de ações e
série de atividades. Exemplo: comunidades rurais, educa- parcerias, haveria uma tendência no movimento brasileiro
ção ambiental, trabalhos de proteção e recuperação de em buscar uma ampliação de suas ações, nos âmbitos po-
ambientes degradados, proteção a ambientes ameaçados lítico e social. No entanto, muitos desafios ainda precisa-
etc. Muitas ações eram feitas como denúncias e conscien- riam de solução. “O socioambientalismo do século XXI tem

25
Logística Reversa e Sustentabilidade

uma complexa agenda pela frente. De um lado, o desafio viverem em harmonia no conceito de desenvolvimento
de ter uma participação cada vez mais ativa na governabi- sustentável. Hoje, a clássica questão econômica da es-
lidade dos problemas socioambientais e na busca de uma cassez tem um enorme peso sobre oprocesso decisório
ambientalização dos processos sociais. De outro, a neces- dos agentes econômicos, sejam famílias ou empresas. Por
sidade de ampliar o escopo de sua atuação com enge- essa razão, compreender cada um destes conceitos aju-
nharias institucionais que ampliem seu reconhecimento na da a explicar a intrincada rede de ações e reações que a
sociedade e estimulem o engajamento de novos atores”. sociedade humana criou e as necessidades de construção

Temos, assim, uma introdução à história do movimen- de um modelo econômico sustentado. Dessa forma, antes

to ambientalista no Brasil. As implicações da ideologia de apresentar definições do assunto em foco desta apos-

adotada pelo movimento que podemos identificar como tila, éfundamental desviarmos nosso olhar para os dois

uma mistura entre o biocentrismo e o antropocentrismo, conceitos construtores da expressão que tem produzido a

identifica-se, por sua vez, nas ações que são realizadas maior revolução no uso dos fatores de produção desde a

pelo movimento, com o Desenvolvimento Sustentável. A Revolução Industrial.

sustentabilidade e a gestão de recursos, como dito aci- O debate acerca do conceito de desenvolvimento é
ma, são as palavras de ordem para qualquer ação que bastante rico no meio acadêmico, principalmente quanto à
seja direcionada ao meio ambiente. Principalmente, para distinção entre desenvolvimento e crescimento econômico,
que estas possam ser aceitas pelos organismos governa- pois muitos autores atribuem apenas os incrementos cons-
mentais. Muito da discussão em torno do desenvolvimento tantes no nível de renda como condição para se chegar
sustentável incentiva aparticipação da sociedade civil. Até ao desenvolvimento, sem, no entanto, se preocuparcomo
mesmo, aponta essa participação como essencial na solu- tais incrementos são distribuídos. Deve-se acrescentar que
ção da crise ambiental. apesar das divergências existentes entre as concepções de
desenvolvimento, elas não são excludentes. Na verdade,
A variedade de ONGs, movimentos e grupos especializa-
em alguns pontos, elas se completam.
dos em ações protecionistas e de cobrança para aplicação
das legislações adequadas, criaria aimpressão de um amplo O desenvolvimento, em qualquer concepção, deve re-

movimento favorável às indicações do Nosso Futuro Co- sultar do crescimento econômico acompanhado de melho-

mum. No entanto, de 1987 a 2005 percebemos que há uma ria na qualidade de vida, ou seja, deve incluir “as altera-

distância muito grande entre o discurso das Nações Unidas ções da composição do produto e a alocação de recursos

e a realidade global. Principalmente, dos países periféricos. pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar
os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza,
Nos países periféricos muito da questão ambiental, mes-
desemprego, desigualdade, condições de saúde, alimenta-
mo com as ações dos movimentos ecológicos, perde ênfase
ção, educação e moradia). Os debates sobre o desenvolvi-
ao ser confrontado com os problemas da miséria edistri-
mento econômico foram acirrados no período posterior à
buição desigual das riquezas. Os partidos políticos com en-
segunda grande guerra.
foque ambiental, como oPartido Verde (PV) brasileiro não
Com o término do conflito bélico, que foi resultado de
atinge as camadas da população mais pobres. Mantendo-se
fatores econômicos, políticos e históricos muito profundos,
como demanda identificada com as classes média.
que não cabe analisar aqui, otema foi encarado por todos
os países, principalmente os aliados, que visavam livrar
omundo, e, obviamente, seus próprios territórios, dos pro-
blemas que os perseguiam (e ainda perseguem) nos perí-
odos anteriores: guerra, desemprego, miséria, discrimina-
Desenvolvimento Sustentável ção racial, desigualdades políticas, econômicas e sociais.

À princípio, as palavras desenvolvimento e sustenta- Essa preocupação revelou os anseios de progresso e


bilidade parecem um tanto quanto conflituosas para con- de melhoria das condições de vida das nações e regiões,

26
Logística Reversa e Sustentabilidade

que podem ser vislumbrados tanto na primeira Declara- Desenvolvimento X S u s t e n t a b i l i d a d e ?


ção Inter-aliada de 1941, como na Carta do Atlântico, do
mesmo ano, que expressavam o desejo de criar condições “Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às

para que todos os homens possam desfrutar de segurida- necessidades do presente sem comprometer a possibilida-

de econômica e social. Tais intenções foram reafirmadas de de gerações futuras atenderem suas próprias necessi-

em diversas declarações e conferências que sucederam o dades, sobretudo as necessidades dos mais pobres”.

período de guerra. O debate sobre o tema é acirrado pela Visa promover a harmonia entre os seres humanos e
conceituação econômica do termo desenvolvimento. a natureza. É a fusão do crescimento econômico com res-
Os economistas vêem surgir a necessidade de elaborar ponsabilidade ambiental, social e espacial.
um modelo de desenvolvimento que englobe todas as va-
Esse conceito foi apresentado em 1987 no Relatório
riáveis econômicas e sociais. Sob o prisma econômico, de-
Brundtland – Nosso Futuro Comum, que foi elaborado pela
senvolvimento é, basicamente, aumento do fluxo de renda
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi-
real, isto é, incremento na quantidade de bens e servi-
mento, criada pelas Nações Unidas e presidida pela então
ços por unidade de tempo à disposição de determinada
Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlen Brundtland. Esta
coletividade.O desenvolvimento deve ser encarado como
ação faz parte de uma série de iniciativas que reafirmam
um processo complexo de mudanças etransformações de
uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado
ordem econômica, política e, principalmente, humana e
pelos países industrializados e reproduzido pelas nações
social.Desenvolvimento nada mais é que o crescimento –
em desenvolvimento, e que ressaltam os riscos do uso ex-
incrementos positivos no produto e na renda – transfor-
cessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade
mado para satisfazer as mais diversificadas necessidades
de suporte dos ecossistemas.
do ser humano,tais como: saúde, educação, habitação,
transporte, alimentação, lazer, dentre outras. Fica muito claro, nessa visão das relações homem-meio
ambiente, que não existe apenas um limite mínimo para
É desta maneira que o desenvolvimento passa a ser
o bem-estar da sociedade; há também um limite máximo
entendido como uma resultante do processo de cresci-
mento, cuja maturidade se dá ao atingir o crescimento para a utilização dos recursos naturais, de modo que se-

auto-sustentado, ou seja, talvez alcançar a capacidade de jam preservados. Os pontos centrais do conceito de de-

crescer sem fim, de maneira contínua. Em nome do desen- senvolvimento sustentável, contidos no relatório

volvimento buscam-se valores crescentes: mais mercado- Nosso Futuro Comum, também se tornaram referência
rias, mais anos de vida, mais publicações científicas, mais para o delineamento de outro conjunto de intenções, a Agen-
pessoas com títulos de doutor, dentre vários outros.Dessa da 21 “... tipo de desenvolvimento capaz de manter o pro-
maneira, na procura pelo crescimento sempre está presen- gresso humano não apenas em alguns lugares e por alguns
te o sentimento deque o bom é quando se tem mais, não anos, mas em todo o planeta e até um futuro longínquo.
importando a qualidade desse acréscimo.
Assim, o “desenvolvimento sustentável” é um objetivo
Nesse sentido, são consideradas desenvolvidas as so-
a ser alcançado não só pelas nações ‘em desenvolvimento’,
ciedades capazes de produzir continuamente. É por isso
mas também pelas industrializadas. «... atende às necessi-
que as nações perseguem o desenvolvimento (este como
dades do presente sem comprometer a possibilidade de as
sinônimo decrescimento econômico) com o objetivo de
gerações futuras atenderem suas próprias necessidades.
acumular cada vez mais bens, sem, no entanto,se preocu-
par com os efeitos dessa acumulação desenfreada.Mesmo
Ele contém dois conceitos chaves:
com tanta controvérsia, o crescimento econômico, apesar
de não ser condição suficiente para o desenvolvimento, é i) o conceito de ‘necessidades’, sobretudo as ne-
um requisito para superação da pobreza epara construção cessidades essenciais dos pobres do mundo,
de um padrão digno de vida. que devem receber a máxima prioridade;

27
Logística Reversa e Sustentabilidade

ii) “a noção das limitações que o estágio da tec- • a luta constante pela melhoria da qualidade de
nologia e da organização social impõem ao meio vida dos cidadãos, que não deve ser reduzida ao
ambiente, impedindo-o de atender às necessi- bem-estar material;
dades presentes e futuras. Em essência, o de-
• a promoção da igualdade de oportunidades;
senvolvimento sustentável é um processo de
transformação no qual a exploração dos recur- • a inclusão dos cidadãos nos processos de decisão
sos, a direção dos investimentos, a orientação social, a promoção da autonomia da solidariedade
do desenvolvimento tecnológico e a mudança e da capacidade de auto-ajuda dos cidadãos;
institucional se harmonizam e reforçamo poten-
cial presente e futuro, a fim de atender às ne- • a garantia de meios de proteção social fundamen-
cessidades e aspirações humanas”. tais para os indivíduos mais necessitados.

Dimensões da Sustentabilidade Sustentabilidade Econômica


Para discutir a sustentabilidade, é necessário a reflexão
relacionada ao local onde habitamos, ou seja, o Planeta O conceito é redutor já que também os recursos eco-
Terra. Ao discutirmos isso, temos que necessariamente nômicos têm de ser preservados, assim como o espaço de
abordar temas específicos como: saúde, habitação, eco- manobra para as gerações futuras. Além disso, asustenta-
nomia, pobreza, miséria, educação eoutros aspectos que bilidade ecológica só pode ser alcançada por sociedades
interferem diretamente na nossa qualidade de vida. que desenvolvam comportamentos economicamente sus-
tentáveis. Os seus princípios residem sobretudo:
Desse modo, todos os aspectos que, de alguma forma,
interferem nas nossas açõese, ao mesmo tempo, produ-
zem impactos nas comunidades envolvidas, alterando o • na organização de estruturas econômicas de lon-

meio que as cercam devem ter especial atenção e crite- go prazo que devem responder às exigências de
riosa observação. Apenas baseado neste pressuposto que sistemas estáveis;
será possível definir novas políticas de desenvolvimento,
• na preservação do capital real, como infra-estru-
as quais possam contribuir para o efetivo alcance da eqüi-
turas e edifícios;
dade sócio-econômica, sem que isso signifique produzir
uma perspectiva sombria à existência do Homem na Terra. • na estabilização do valor monetário, prevenindo
a inflação;
Sustentabilidade Social
• no fato dos custos dos benefícios e serviços deve-
rem ser pagos pela geração que deles beneficia-
Esta dimensão social da estabilidade realça o papel dos
-se;
indivíduos e da sociedade, eestá intimamente ligada à no-
ção de bem-estar. Os princípios da sustentabilidade social • na restrição parcial ou total do endividamento,
clarificam o papel dos indivíduos e a organização da socie- pois cada geração deve, pelo menos, preservar o
dade e, tendo por objetivo aestabilidade social beneficiam seu próprio capital recebido da geração dos seus
também as gerações futuras. Estes são: pais e passá-lo à geração seguinte;

• a garantia da auto-determinação e dos direitos • no uso eficaz dos recursos;


humanos dos cidadãos;
• na garantia de todos os serviços econômicos se-
• a garantia de segurança e justiça através de um rem produzidos de forma transparente e tendo
sistema judicial fidedigno eindependente; em conta todas as despesas;

28
Logística Reversa e Sustentabilidade

• no fato de os impostos pagos por cidadãos e em- • concentração excessiva nas áreas metropolitanas;
presas serem orientados para asua capacidade de
• destruição de ecossistemas frágeis, mas vitalmen-
pagamento;
te importantes, por processos de colonização des-
• na negociação de pactos inter-gerações justos, que controlados;
não coloquem em desvantagem as gerações futuras.
• promoção de projetos modernos de agricultura
regenerativa e agroflorestamento,operados por
Sustentabilidade Ecológica
pequenos produtores, proporcionando para isso o
acesso a pacotes técnicos adequados, ao crédito
Sendo o ambiente fundamental para a vida, é natural
e aos mercados;
que estes aspectos tenham dominado a discussão inicial
em volta da sustentabilidade. • ênfase no potencial para industrialização
descentralizada, associada a tecnologias de nova
Até porque é contemporânea das primeiras percepções
geração (especialização flexível), com especial
de risco ambiental e ameaças à vida no planeta. Os princípios
atenção às indústrias de transformação de bio-
fundamentais associados à sustentabilidade ambiental são:
massa e ao seu papel na criação de empregos
rurais não agrícolas;
• a restrição ao uso de energias não renováveis
(como o petróleo) que só devem ser usadas me- • estabelecimento de uma rede de reservas natu-
diante compromisso de criação proporcional de rais e de biosfera para proteger abiodiversidade.
fontes de energia alternativas;

• o uso cuidadoso das energias renováveis que nun- Sustentabilidade Cultural


ca devem ser consumidas deforma a exceder a
sua capacidade de regeneração; Os aspectos culturais e educacionais desempenham um
papel fundamental para asustentabilidade, pois incorporam
• a limitação de descarga de substâncias no meio
os princípios básicos da sociedade e a sua forma de vida.
ambiente que não deve ultrapassar a capacidade
Num mundo onde cada vez mais culturas se cruzam e apro-
de assimilação do mesmo;
ximam-se, muitas vezes através de processos dolorosos, é
• os riscos e o perigo para a vida humana provoca- fundamental encarar o desafio da diversidade cultural co-
dos pelo Homem devem ser evitados. As questões moforma de enriquecimento coletivo, salvaguardando es-
ambientais estiveram sempre no cerne do concei- pecificidades culturais ao mesmo tempo que se constroem
to de sustentabilidadee também sempre que se sentimentos maiores e mais abrangentes com que os indiví-
verificavam perigos iminentes para a sobrevivên- duos se possam identificar.
cia da espécie humana. Recentemente, assumiu
maior peso a abrangência da dimensão ambiental, Os princípios que regem a sustentabilidade cultural e
estendida a todas as espécies, à preservação da educativa são a criação de condições para o desenvolvimen-
biodiversidade e dos ecossistemas. to da personalidade de adolescentes e jovens através de:

Sustentabilidade Espacial • a garantia de condições mínimas como estruturas


apropriadas, condições de bem-estar, solidarieda-
Voltada a uma configuração rural-urbana mais equi-
de, justiça e liberdade;
librada e a uma melhor distribuição territorial de assen-
tamentos humanos e atividades econômicas, com ênfase • a transmissão de valores fundamentais e do senti-
nas seguintes questões: do de responsabilidade e ordem social;

29
Logística Reversa e Sustentabilidade

• a atenção dada pela sociedade à complexidade empresas de saúde; as empresas automobilísticas, empre-
dos sistemas e à dinâmica de mudanças criando sas de transporte emobilidade, e assim sucessivamente.
competências para enfrentar os seus riscos e de- Cada negócio encontraria sua verdadeira função social, em
safios; um mundo em que as relações de poder e consumo devem
ser repensadas.
• facilitar a educação com objetivos profissionais
e investir no desenvolvimento de um sistema de
Terceiro Setor
educação sólido entre gerações.
O primeiro setor é o governo, que é responsável pelas
Responsabilidade Socioambiental questões sociais. O segundo setor é o privado, responsá-
vel pelas questões individuais. Com a falência do Estado,
Embora já haja diversos exemplos de práticas de ges- o setor privado começou a ajudar nas questões sociais,
tão socialmente responsável, ainserção da sustentabilida- através das inúmeras instituições que compõem o chama-
de e responsabilidade social às práticas diárias de gestão do terceiro setor.
ainda representa um grande desafio para grande parte da
Ou seja, o terceiro setor é constituído por organizações
comunidade empresarial brasileira. Aassociação desses
sem fins lucrativos e não governamentais, que têm como
conceitos à gestão dos negócios deve necessariamente
objetivo gerar serviços de caráter público. Portanto, gene-
expressar ocompromisso efetivo de todos os escalões da
ricamente, o terceiro setor é visto como derivado de uma
empresa, de forma permanente e estruturada.
conjugação entre as finalidades do primeiro setor e a me-
O compromisso do público interno traduz a qualidade todologia do segundo, ou seja, composta por organizações
da inserção do tema na cultura organizacional. Em outras que visam a benefícios coletivos.
palavras, uma organização não consegue ratificar a sua
O espaço criado pelo terceiro setor se configura, en-
identidade sem que seu público interno – seus colabora-
tão, como aquele de iniciativas de participação cidadã. As
dores mais diretos – o faça em suas relações cotidianas.
ações que se constituem neste espaço são tipicamente ex-
É por conta disso que a sustentabilidade e a responsabili-
tensões da esfera pública não executadas pelo Estado e
dade social empresarial não podem ser atribuídas apenas
caras demais para serem geridas pelos mercados.
em nível institucional, mas precisam ser ratificadas pelo
público interno que reconstrói um contexto organizacional
mais inclusivo. • As organizações que fazem parte deste setor apre-
sentam as seguintes características:
A educação corporativa e os sistemas de gestão têm
um papel essencial nisto. Essa nova visão pressupõe um • Estruturada: possuem certo nível de formalização
processo de profunda mudança na cultura organizacional de regras e procedimentos, ou algum grau de or-
e, conseqüentemente, nos processos, produtos e, em úl- ganização permanente;
tima análise, nos modelos de negócio.Em muitos casos,
• Privada: estas organizações não têm nenhuma re-
a alta direção está comprometida com a sustentabilida-
lação institucional com governos, embora possam
de empresarial, mas não encontra mecanismos para fazer
dele receber recursos;
com que seu público interno assimile este conceito e mude
sua postura. • Não distribuidoras de lucros: nenhum lucro ge-
Por outras vezes, a lógica de mercado, que pressiona rado pode ser distribuído entre seus proprietários
pela minimização de custos e maximização de resultados ou dirigentes. Portanto, o que distingue essas or-
no curto prazo, impede uma reflexão maior sobre a função ganizações nãoé o fato de não possuírem ‘fins
social de cada negócio. Em última análise, o ideal seria lucrativos’, e sim, o destino que é dado a estes,
que as empresas de medicamentos fossem, na realidade, quando existem;

30
Logística Reversa e Sustentabilidade

• Autônoma: possuem os meios para controlar publicados números que vão desde 14.000 a 220.000enti-
sua própria gestão, não sendo controladas por dades existentes no Brasil, o que inclui escolas, associações
entidades externas; de bairro e clubes sociais.

• Voluntária: envolvem um grau significativo de


participação voluntária (trabalho não remunera-
Fundos Comunitários
do). A participação de voluntário pode variar en-
Community Chests são muito comuns nos Estados Uni-
tre organizações ede acordo com a natureza da
dos. Em vez de cada empresa doar para uma entidade, to-
atividade por ela desenvolvida.
das as empresas doam para um Fundo Comunitário, sendo
que os empresários avaliam, estabelecem prioridades, e
Fundações administram efetivamente a distribuição do dinheiro. Um
dos poucos fundos existente no Brasil, com resultados
São as instituições que financiam o terceiro setor, fa-
comprovados, é aFEAC, de Campinas.
zendo doações às entidades beneficentes. No Brasil, temos
também as fundações mistas que doam para terceiros e ao Entidades Sem Fins Lucrativos
mesmo tempo executam projetos próprios. Temos poucas
fundações no Brasil. Depois de 5anos, o GIFE - Grupo de Infelizmente, muitas entidades sem fins lucrativos são,
Instituições, Fundações e Empresas - com heróico esforço, na realidade, lucrativas ou atendem os interesses dos pró-
conseguiu66 fundações como parceiras. No entanto, mui- prios usuários. Um clube esportivo, por exemplo, é sem
tas fundações no Brasil têm pouca atuação na área social. fins lucrativos, mas beneficia somente os seus respectivos
Nos Estados Unidos já existem 40.000 fundações, sendo sócios. Muitas escolas, universidade se hospitais eram no
que a 10o colocada tem10 bilhões de dólares de patrimô- passado, sem fins lucrativos, somente no nome. Por isto,
nio. Nossa maior fundação tem 1 bilhão. estes números chegam a 220.000. O importante é dife-
Devido à inflação, seqüestros de dinheiro e congelamen- renciar uma associação de bairro ou um clube que ajuda
tos, a maioria de nossas fundações não tem fundos. Vivem os próprios associados de uma entidade beneficente, que
de doações anuais das empresas que as constituíram. Em ajuda os carentes do bairro.
épocas de recessão, estas doações mínguam, justamente
quando os problemas sociais aumentam. O conceito de fun-
ONG’s (Organizações Não Governamentais)
dação é, justamente, o de acumular fundos nos anos bons
Nem toda entidade beneficente ajuda prestando serviços
para poder usá-los nos anos ruins. A Fundação Bradesco é
a pessoas diretamente. Uma ONG que defenda os direitos
um dos raros exemplos de fundação com fundos.
da mulher, fazendo pressão sobre nossos deputados, está
ajudando indiretamente todas as mulheres. Nos Estados
Entidades Beneficentes Unidos, esta categoria é chamada também de Advocacy
Groups, isto é, organizações que lutam por uma causa. Lá,
São as operadoras de fato, cuidam dos carentes, idosos, como aqui, elas são muito poderosas politicamente. Na
meninos de rua, drogados ealcoólatras, órfãos e mães sol- legislação brasileira, essas entidades também podem ser
teiras; protegem testemunhas; ajudam a preservar o meio caracterizadas ou definidas como OSCIP’s – Organizações
ambiente; educam jovens, velhos e adultos; profissionali- da Sociedade Civil de Interesse Público.
zam; doam sangue, merenda, livros, sopão; atendem suici-
das às quatro horas da manhã; dão suporte aos desampa-
Empresas com Responsabilidade Social
rados; cuidam de filhos de mães que trabalham; ensinam
esportes; combatem a violência; promovem os direitos A Responsabilidade Social, no fundo, é sempre do indi-
humanos e a cidadania; reabilitam vítimas de poliomelite; víduo, nunca de uma empresa jurídica, nem de um Estado
cuidam de cegos, surdos-mudos; enfim, fazem tudo. São impessoal. Caso contrário, as pessoas repassariam as suas

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Logística Reversa e Sustentabilidade

responsabilidades às empresas e ao governo, ao invés de treal (1987), que determinava a redução de 50% na pro-
assumirem para si. dução e consumo dos CFC›s, a II Conferência das Nações
Mesmo conscientes disso, vivem reclamando que os “ou- Unidas sobre o Meio Ambientee Desenvolvimento – RIO92
tros” não resolvem os problemas sociais do Brasil. Porém, (1992), de onde saiu o documento Agenda 21, e o Pro-
algumas empresas vão além da sua verdadeira responsabi- tocolo de Kyoto (1997), para a redução da emissão de
lidade principal, que é fazer produtos seguros, acessíveis, carbono e gases na atmosfera.
produzidos sem danos ambientais, e de estimular seus Atualmente já está em discussão a formulação de um
funcionários a serem mais responsáveis. O Instituto Ethos novo protocolo para asubstituição do protocolo de Kyoto,
–organização sem fins lucrativos criado para promover a além da tendência mundial de ações governamentais que
responsabilidade social nas empresas - foi um dos pioneiros apóiam uma gestão empresarial verde, ou seja, com de-
nesta área. senvolvimento sustentável, etambém de criam instrumen-
tos de regulamentação de fiscalização.
Pessoas Físicas
Legislação Ambiental
No mundo inteiro, as empresas contribuem somente
com 10% da verba filantrópica global, enquanto as pes-
A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), regida
soas físicas, notadamente da classe média, doam os 90%
pela Lei nº 6.938 de 31 de Agosto de 1981, apresenta
restantes. No Brasil, a nossa classe média doa, em média,
como alguns de seus instrumentos:
23 reais por ano, menos que 28% do total das doações. As
fundações doam 40%, o governo repassa 26% e o resto
• o estabelecimento de padrões de qualidade am-
vem de bingos beneficentes, leilões e eventos.
biental;

Política Ambiental • o zoneamento ambiental;

• a avaliação de impactos ambientais;


A preocupação com o meio ambiente entrou na agenda
em escala mundial a partir dos anos 1970, com o devido • o licenciamento ambiental;
reconhecimento de sua gravidade, quando, em meio à cri-
• a criação de áreas legalmente protegidas;
se econômica, se passou a perceber que o Boom do pós-
-guerra havia redundado em problemas de outra natureza, • a aplicação de penalidades disciplinares ou com-
como níveis de poluição altamente comprometedores da pensatórias ao não cumprimento das medidas ne-
qualidade devida e elevado risco de esgotamento dos re- cessárias à preservação ou correção de degrada-
cursos naturais. ção ambiental.

O debate veio à evidência com a realização da I Con-


ferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e De- A Lei 6.938/81 apresenta, ainda, a estruturação do

senvolvimento (Conferência de Estocolmo), realizada em Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), composto

1972, constituindo-se um marco fundamental na política por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito
ambiental global, representando oprimeiro fórum de dis- Federal, dos territórios e dos Municípios, responsáveis
cussões dos problemas ambientais. pela proteção e melhoria da qualidade ambiental. O órgão
Resultaram desta conferência, a “Declaração sobre o superior do SISNAMA é o CONAMA (Conselho Nacional do
Ambiente Humano” ou “Declaração de Estocolmo” e o Pro- Meio Ambiente), com a função de assistir ao Presidente da
grama das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). República na formulação de diretrizes da PNMA. O órgão
Desde então, a política demonstra a preocupação com o central do SISNAMA é o IBAMA (Instituto Brasileiro de
meio ambiente, como aelaboração do Protocolo de Mon- Meio Ambiente), com a função de promover, disciplinar

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Logística Reversa e Sustentabilidade

e avaliar a implementação da PNMA. Dentre outras leis, a melhoria das condições de vida de crianças e
podemos citar também: adolescentes;

• ISO 14000 - é apenas mais uma das certifica-


• Lei 9.605 – Lei de Crimes Ambientais, de 12 de
ções criadas pela International Organization for
Fevereiro de 1998;
Standardization (ISO). O ISO 14000 dá destaque
• Lei 9.433 – Lei Nacional de Gerenciamento de Re-
às ações ambientais da empresa merecedora da
cursos Hídricos, de 8 de Janeiro de 1997;
certificação;
• Lei 10.257 – Estatuto das Cidades, de 10 de Julho
de 2001; • AA1000 - foi criado em 1996 pelo Institute of Social
• Lei 9.985 – Sistema Nacional de Unidades de Con- and EthicalAccountability. Esta certificação de cunho
servação (SNUC), de 18 de Junho de 2000; social enfoca principalmente a relação da empresa
• Lei 4.771, alterada pela Lei 7.803 – Áreas de Pre- com seus diversos parceiros, ou stakeholders. Uma
servação Permanentes e Reservas Legais, de 20 de suas principais características é o caráter evoluti-
de Março de 2002; vo, já que é uma avaliação regular (anual);
• Resolução do CONAMA nº 001/86 – Avaliação de
• SA8000 – A Social Accountability 8000 é uma das
Impactos Ambientais;
normas internacionais mais conhecidas. Criada em
• Resolução CONAMA nº 237/97 – Licenciamento
1997 pelo Council on Economic Priorities Accredita-
Ambiental.
tionAgency (CEPAA), o SA8000 enfoca, primordial-
mente, relações trabalhistas e visa assegurar que
não existam ações anti-sociais ao longo da cadeia
produtiva, comotrabalho infantil, trabalho escravo
ou discriminação. Além das mudanças impostas
pelo mercado, a certificação também carrega no
seu bojo aspectos que podem ser considerados be-
néficos na medida em que colaboram para um sis-
Certificações tema gerencial mais eficaz, reduzindo desperdício
e ampliando a produtividade das empresas.
No intuito de estimular a responsabilidade social em-
presarial, uma série de instrumentos de certificação foi
criada nos últimos anos. O apelo relacionado a esses selo
sou certificados é de fácil compreensão. Num mundo cada
vez mais competitivo, empresas vêem vantagens corpora-
tivas em adquirir certificações que atestem sua boa práti-
ca empresarial. A pressão por produtos e serviços social-
mente corretos faz com que empresas adotem processos
de reformulação interna para se adequarem às normas Para finalizar este conteúdo, sugerimos assistir os víde-

impostas pelas entidades certificadoras. Um certificado os sobre sustentabilidade. Até mais!

desse nível, consagrado mundialmente, é acomprovação


das boas práticas empresariais. Entre as certificações mais vídeo fonte youtube (vídeo de aprox. 8 minutos)

cobiçadas atualmente, enumeramos as seguintes: http://www.youtube.com/watch?v=WYQauL2ZIJk

• Selo Empresa Amiga da Criança - Selo cria- vídeo fonte youtube (vídeo de aprox. 4 minutos)

do pela Fundação Abrinq para empresas que não http://www.youtube.com/watch?v=KPVqTotfqHU

utilizem mão-de-obra infantil e contribuam para

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