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" 14/05/2022
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A primeira é da Carta da Terra, assumida pela UNESCO em 2003. Sua frase de Tarso Genro Marcelo Guimarães
abertura assume tons apocalípticos: “Estamos diante de um momento Lima João Adolfo Hansen Afrânio
crítico da história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher Catani Benicio Viero Schmidt Gilberto
o seu futuro… A nossa escolha é: ou formar uma aliança global para cuidar Bercovici Walnice Nogueira Galvão
da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a destruição da Daniel Brazil Érico Andrade Roberto
diversidade da vida” (Preâmbulo). Bueno José Luís Fiori Leonardo
Avritzer Roberto Noritomi Vladimir
A segunda afirmação severa é do Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti Safatle Lucas Fiaschetti Estevez Jorge
(2020): “estamos no mesmo barco, ninguém se salva por si mesmo, ou nos Luiz Souto Maior Airton Paschoa
salvamos todos ou ninguém se salva” (n. 32). Claudio Katz Remy José Fontana Maria
Rita Kehl Jean Pierre Chauvin Michael
A terceira afirmação é do grande historiador Eric Hobsbawn em sua Roberts Ricardo Musse João Feres
conhecida obra A era dos extremos (1994) em sua frase final: “Não sabemos Júnior Luciano Nascimento Ricardo
para onde estamos indo. Contudo, uma coisa é certa. Se a humanidade quer Gebrim Elias Jabbour Fábio Konder
ter um futuro aceitável, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do Comparato Thiago Bloss de Araújo
presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio nessa base, vamos Rafael R. Ioris Juarez Guimarães André
fracassar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da Singer Luiz Bernardo Pericás Celso
sociedade é a escuridão” (p. 562). Favaretto Eugênio Bucci Marilia
Pacheco Fiorillo Ladislau Dowbor
Em outras palavras: o nosso modo de habitar a Terra, que inegáveis Alexandre Aragão de Albuquerque
vantagens nos trouxe, chegou ao seu esgotamento. Todos os semáforos Antônio Sales Rios Neto Ricardo
entraram no vermelho. Construímos o princípio da autodestruição, podendo Antunes Paulo Martins Julian
exterminar toda a vida com armas químicas, biológicas e nucleares por Rodrigues Flávio R. Kothe
múltiplas formas diferentes. A techno-ciência que nos fez chegar aos limites Manchetômetro Luiz Roberto Alves
extremos de suportabilidade do planeta Terra (The Earth Overshoot) não tem Kátia Gerab Baggio Slavoj Žižek Eugênio
condições, por si só, como o mostrou o Covid-19, de nos salvar. Podemos Trivinho Antonino Infranca Paulo Sérgio
limar os dentes do lobo pensando que lhe tiramos, ilusoriamente, sua Pinheiro Leonardo Sacramento
voracidade. Mas esta não reside nos dentes, mas em sua natureza. Leonardo Boff Marcos Aurélio da Silva
Marilena Chauí Jorge Branco Luís
Portando, temos que abandonar o nosso barco e ir além de uma nova agenda Fernando Vitagliano Antonio Martins
mundial. Chegamos ao fim do caminho. Temos que abrir um outro diferente. Michael Löwy Ricardo Abramovay
Caso contrário, como disse em sua última entrevista antes de morrer Gilberto Lopes Armando Boito Marcus
Sigmund Bauman: “vamos engrossar o cortejo daqueles que rumam na Ianoni Flávio Aguiar Boaventura de
direção de sua própria sepultura”. Somos forçados, se quisermos viver, a Sousa Santos Ricardo Fabbrini
nos recriar e reinventar um novo paradigma de civilização. Mariarosaria Fabris Valério Arcary
Paulo Nogueira Batista Jr Otaviano
Helene Marjorie C. Marona Mário
Maestri Iury Tavares Luiz Renato
Dois paradigmas: do dominus e do frater
Martins Sergio Amadeu da Silveira
Vejo nesse momento o confronto entre dois paradigmas: o paradigma do Alexandre de Freitas Barbosa Henry
dominus e o paradigma do frater. Em outra formulação: o paradigma da Burnett Luiz Carlos Bresser-Pereira
conquista, expressão da vontade de poder como dominação, formulada pelos Everaldo de Oliveira Andrade José
pais fundadores da modernidade com René Descartes, Isaac Newton, Francis Raimundo Trindade José Micaelson
Bacon, dominação de tudo, de povos, como nas Américas, na África e na Lacerda Morais Rubens Pinto Lyra
Ásia, dominação das classes, da natureza, da vida e dominação da matéria Alysson Leandro Mascaro Ronald Rocha
André Márcio Neves Soares Chico
até em sua última expressão energética pelo Bóson Higgs.
Alencar Celso Frederico Alexandre G. de
O ser humano (maître et possesseur de Descartes) não se sente parte da B. Figueiredo Luis Felipe Miguel Plínio
natureza, mas seu senhor e dono (dominus) que nas palavras de Francis de Arruda Sampaio Jr. Thomas Piketty
Bacon “deve torturar a natureza como o torturador faz com sua vítima até Marcos Silva Tadeu Valadares Paulo
que ela entregue todos os seus segredos”. Ele é o fundador do método Capel Narvai
científico moderno, prevalente até os dias de hoje.
Esse paradigma entende a Terra como mera res extensa e sem propósito,
transformada num baú de recursos, tidos como infinitos que permitem um
crescimento/desenvolvimento também infinito. Ocorre que hoje sabemos
cientificamente que um planeta finito não suporta um projeto infinito. Essa
é a grande crise do sistema do capital como modo de produção e do
neoliberalismo como sua expressão política.
Por isso por ele passa a esperança, como princípio mais que com virtudes,
como aquela energia indomável que sempre projeta novos sonhos, novas
utopias e novos mundos, vale dizer, nos fazem caminhar na direção de
novas formas de habitar a Terra, de produzir, de distribuir os frutos da
natureza e do trabalho, de consumir e de organizar relações fraternais e
sororais entre os humanos e com os demais seres da natureza.
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