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A Sociolinguística Variacionista: Fundamentos, Pesquisas, Pontos Críticos
A Sociolinguística Variacionista: Fundamentos, Pesquisas, Pontos Críticos
PONTOS CRÍTICOS
Ivandilson Costa
RESUMO: Este artigo trata da reconstrução do histórico da Sociolinguística Variacionista que teve
como texto fundador o trabalho de Weinreich, Herzog e Labov. Partirá de uma explanação histórica, ao
que se seguirá uma exposição dos principais conceitos operacionais básicos, desenvolvidos por esta
Disciplina. Apresentará ainda uma síntese das pesquisas basilares quanto à construção de seu
arcabouço teórico-metodológico. Culminará com a discussão de alguns de seus pontos nevrálgicos,
segundo já apontados pela literatura.
ABSTRAC: This article treats about the historical reconstruction of Variationist Sociolinguistics which
had worked as a founding text of Weireich, Labov and Herzog. This paper will start from a historical
explanation, to be followed by a statement of the main basic operational concepts developed in this
subject. Also submit a summary of the basic research on the construction of its theoretical-
methodological framework. It is going to culminate with a discussion of some of its neuralgic, according
to the literature already mentioned.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Com essa nova perspectiva teórica dá-se o que comumente se costuma a chamar de
virada paradigmática na linguística, promovendo o estudo do uso e a
interdisciplinaridade com áreas como sociologia, história, antropologia, neurociência, a
semiótica e etc., o que faz da área uma das que mais crescem os estudos acoplados a
outras áreas. Os grandes questionamentos da ciência estariam voltados a questões como
“quem diz o quê? Onde? Quando? Como? Por quê?” e o principio geral é o de que todas
as línguas possuem variação a depender de fatores como idade, sexo, profissão,
contexto entre outros.
Há, no entanto, nos estudos sociolinguísticos, vertentes com diferentes focos, são três os
grandes grupos: A sociologia da linguagem; A etnografia da fala ou da comunicação, a
qual trata de fatores externos à língua mas principalmente o que acontece na
comunicação; A teoria da Variação ou mudança (Variacionista), que se inicia com o
texto de Herzog, Labov e Weinreich de 1968 e introduz o postulado da heterogeneidade
ordenada ou sistemática, na qual a mudança é vista como passível de ser descrita e a
comunidade seria o foco de estudo, em que se identificam pelo que pensam da língua e
como a usam.
Embora haja diversas vertentes de estudos na sociolinguística, o que nos interessa neste
trabalho é a sociolinguística variacionista, sobre a qual traçaremos um breve histórico
da ciência, os principais postulados e suas contribuições para o estudo da língua, além
de expormos os principais pontos críticos desse ciência que tem sido cada vez mais
estudada em diversos países.
Esse texto não trazia uma teoria propriamente dita, mas propostas concretas acerca dos
fundamentos empíricos para uma teoria da mudança, como uma espécie de
direcionamento para se estudar as variações e se referiam a critérios considerados
criativos para estudar a mudança linguística numa comunidade ou grupos urbanos
complexos. Sendo um dos estudos mais criativos para a época, o texto abria caminho
para outros estudos de cunho social e que influenciaria fortemente a ciência linguística
estruturalista centrada em comparativismo.
(1) às descobertas empíricas que têm importância para a teoria, das quais
a teoria tem de dar conta, e que indicam direções para a pesquisa frutífera;
(2) A certas conclusões tiradas dessas descobertas quanto à complexidade
mínina da estrutura linguística e a domínios para definir tal estrutura;
(3) A métodos para relacionar os conceitos e postulados de uma teoria à
uma evidência empírica, ou seja, à uma evidência baseada em regras para o
acordo intersubjetivo entre os investigadores.
Esses fundamentos são parte de uma investigação teórica mais ampla sobre a evolução
histórica da língua, já que neste período, a grande preocupação da linguística além de
descrever o estado da língua era tentar prever as mudanças que ocorreriam na língua, o
que não se tornou possível, até então.
Esses princípios apontam alguns caminhos para uma investigação com realismo social
na pesquisa linguística, o que depois fora mais elaborado nos textos de Labov sobre a
estratificação social do “r” em Nova Iorque e sobre o inglês falado na ilha de Martha’s
Vineyard, no estado de Massachusetts (EUA). O postulado parte do princípio de que,
correlacionando-se o complexo padrão linguístico com diferenças concomitantes na
estrutura social, será possível isolar os fatores sociais que incidem diretamente sobre o
processo linguístico. Dessa forma, concebe os seguintes fatores:
No que diz respeito ao método, a pesquisa trabalhou com questionário lexical, perguntas
acerca de juízos de valor, bem como um texto para leitura especial. Além da entrevista
formal, foram feitas observações em muitas situações espontâneas (apenas como
controles suplementares). Foi ainda elaborada uma escala de medição de seis pontos
indo da forma-padrão da Nova Inglaterra [aI] até a totalmente centralizada [ēI].
40 Positiva 63 62
19 Neutra 32 42
6 Negativa 09 08
Já a Macy’s, de status social médio, estava situada na Herald Square, esquina da rua 34
com a 6.ª Avenida, perto da zona das confecções, junto com Gimbels e Saks na rua 34 e
outras lojas de preço e prestígio medianos. Notou-se que, para esse caso, apresentava-se
um valor intermediário de /r/.
A loja S. Klein, por sua vez, possuía um status socioeconômico inferior. Estava
localizada na Union Square, rua 14 com Broadway, não muito longe do Lower East
Side, ambientes mais ligados à classe operária. Para esse caso, os dados revelaram que
os valores de /r/ foram os mais baixos.
A noção de variante engessa então as relações sociais em categorias fixas, não avaliando
que essas categorias sociais podem ser complexas redes de relacionamentos que
Lavandera (1992) postula ainda que qualquer teoria que pretenda compreender a vida e
a organização social por meio do estudo dos princípios que regulam a comunicação
verbal deve conceder prioridade à eleição de uma teoria social. E abarca a noção de
contexto social, compreendido como aquele que reúne a organização interna da
sociedade, com suas tensões, diferenças internas, subgrupos. Por conseguinte, o estudo
da linguagem em seu contexto social consiste no estudo dos materiais linguísticos
produzidos no seio das estruturas sociais.
Nessa perspectiva, van Dijk (2012) enfatiza que tal tradição sociolinguística tem
basicamente consistido em enfocar fenômenos de proporções menores, gramaticais e
não estruturas do discurso “que vão além da sentença”, e aposta que até o presente
muitos poucos foram os projetos que recolheram sistematicamente os dados necessários
para tal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, a disciplina não prescindiu, ao longo de sua trajetória de pesquisas, de
ser alvo de críticas localizadas, tal como pusemos em discussão na última seção deste
artigo. A despeito disso, uma resposta às lacunas aqui apresentadas possivelmente pode
ser recolhida em uma eventual aliança entre o variacionismo e outros aportes, vale
dizer, como a própria vertente interacional, pela consideração de fatores como a
situação social engendrada na comunicação face a face, as fontes de variabilidade
Uma caracterização socioantropológica, portanto, com o apoio dos estudos baseados nos
métodos de análise de redes viriam a contribuir com a elaboração de um perfil
sociolinguístico dos alunos mais consistente, com uma consequente preparação de
material didático e estratégias pedagógicas mais adequadas.
REFERÊNCIAS
DIJK, Teun van. Discurso e contexto: uma abordagem sociocognitiva. São Paulo:
Contexto, 2012.
Doutoranda em Letras/Linguística pela UFPE. Bolsista da CAPES.
Doutorando em Letras/Linguística pela UFPE. Professor do Departamento de Letras da UERN.