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ELETRÔNICA

DE POTÊNCIA I

Fauzi Marraui
Noções de cicloconversores
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar o princípio de funcionamento de cicloconversores.


 Reconhecer a estrutura dos cicloconversores.
 Identificar os limites da frequência de saída.

Introdução
Os cicloconversores são equipamentos que podem ser denominados
conversores de frequência, pois geram uma tensão de corrente alter-
nada (CA) na qual a frequência pode ser variada diretamente a partir da
tensão de entrada. Esses sistemas são largamente utilizados na indústria
e possuem diferentes aplicações.
Neste capítulo, você vai compreender como os cicloconversores funcio-
nam, bem como as principais estruturas empregadas, e ainda identificará
os limites da frequência de saída recomendados para esses equipamentos.

Funcionamento e aplicações de cicloconversores


Os conversores CA-CA podem ser definidos como aqueles que, a partir de
uma tensão de entrada alternada, produzem em sua saída uma tensão também
alternada, porém, com características distintas da inicial, podendo ser distin-
guidos em valor eficaz de tensão, em frequência ou em ambos.
Em um sistema, quando a frequência de saída produzida é diferente daquela
presente na entrada, a conversão ocorre a partir dos chamados cicloconversores.
De acordo com Barbi (2006), o cicloconversor é destinado a converter uma tensão
alternada de uma determinada frequência em uma tensão alternada com frequência
inferior, sem passagem por estágio intermediário de corrente contínua. Isso quer
dizer que a conversão de uma frequência em outra ocorre de maneira direta.
Existem outros arranjos que podem ser implementados para se obter
uma frequência de saída desejada, mas que ocorrem de maneira indireta.
2 Noções de cicloconversores

Uma opção, segundo Ahmad (2000), é utilizar conversores controlados por


fase, em que primeiramente se deve converter a corrente alternada (CA) em
corrente contínua (CC) com emprego da retificação e, em seguida, a inversão.
A partir disso, já é possível reconhecer uma das vantagens dos cicloconversores,
que fornecem a frequência de saída desejada em apenas um estágio.
Ainda conforme Ahmad (2000), um cicloconversor é um conversor dual
operado de modo a fornecer uma tensão de saída alternada. Para haver eficiência,
eles costumam operar na faixa de frequência de zero até menos de um terço da
frequência da fonte. Contudo, antes de você compreender o princípio de fun-
cionamento e de que modo o conversor dual deve operar para garantir a função
desejada, é importante conhecer onde esse tipo de sistema pode ser utilizado.

Um conversor dual, também denominado quatro quadrantes, é aquele que pode


operar como um retificador ou como um inversor com fluxo de corrente em ambas
as direções. Dois conversores completos podem ser ligados em contraposição para
formar um conversor dual.

Aplicações de cicloconversores
Os sistemas do tipo cicloconversor possuem diversas aplicações, sendo em-
pregados principalmente nas situações descritas a seguir.

 Acionamento de motores de corrente alternada: quando empregados


em acionadores CA, em que se dá a partida no acionador do motor pela
redução da tensão e da frequência de entrada, os cicloconversores são
capazes de obter, a partir da frequência fixa da rede, uma frequência
variável que, ao ser aplicada a um motor de indução, permite a variação
da velocidade (BARBI, 2006).
 Aeronaves e geração eólica: quando empregados em sistemas geradores
de frequência constante e velocidade variável, como no caso de aero-
naves e geração eólica, os cicloconversores fornecem tensão regulada
de saída com frequência constante, independentemente das mudanças
de velocidade na parte móvel principal (AHMAD, 2000).
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Além disso, alguns locais onde são empregados esse tipo de sistema são
fábricas de cimento, moinhos e usinas de moagem de minério (Figura 1).

Figura 1. Instalação do sistema de acionamento sem engrenagem para


moinhos, utilizando cicloconversor.
Fonte: ABB ([2011], documento on-line).

Princípio de funcionamento
Considerando um conversor dual de 3 pulsos, alimentando uma carga indutiva,
de modo a garantir uma condução contínua, a tensão média, de acordo com
Barbi (2006), é dada pela seguinte expressão:

Pode-se expressar o ângulo α variando de acordo com uma função de


controle do conversor dual da seguinte forma:

Portanto,

Dessa forma, entende-se que a tensão média na carga do sistema variará


proporcionalmente à função F(t). A Figura 2 ilustra essa proporcionalidade: o
primeiro gráfico (a) representa a função de controle, e o segundo gráfico (b), a
forma de onda referente à tensão na carga, ambos variando em um período T.
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Figura 2. Formas de onda em um cicloconversor.


Fonte: Barbi (2006, p. 155).

Assim, segundo Barbi (2006), pode-se concluir que um conversor dual,


quando comandado adequadamente, pode funcionar como uma fonte de tensão
alternada. Desse modo, enquanto um conversor dual estiver realizando a função
de converter uma tensão alternada em outra, será denominado cicloconversor.
Fazendo a função de controle F(t) variar senoidalmente, produz-se uma
tensão alternada senoidal, como representado na Figura 3.

Figura 3. Tensões e correntes senoidais no cicloconversor.


Fonte: Barbi (2006, p. 156).
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O gráfico (a) representa a função de controle F(t), o gráfico (b), a tensão na


carga e o gráfico (c), a corrente fundamental na carga. O ângulo ϕ é definido como o
ângulo de atraso da fundamental da corrente em relação à fundamental da tensão na
carga, sendo assim, as formas de onda da Figura 3 referem-se a uma carga indutiva.
No gráfico da Figura 3, é possível observar que existem dois grupos distintos
por onde a corrente circula: grupo positivo (P), que se refere ao conversor p, e
grupo negativo (N), que se refere ao conversor n. Durante cada ciclo da tensão
de saída, ambos os conversores devem operar como retificadores e inversores.
O Quadro 1 representa o ciclo de funcionamento.

Quadro 1. Ciclo de funcionamento dos conversores n e p

vL iL Grupo P Grupo N

+ + Retificador -

- + Inversor -

- - - Retificador

+ - - Inversor

Fonte: Adaptado de Barbi (2006).

Pode-se representar um cicloconversor por meio de sua topologia e/ou


representação esquemática. A Figura 4 ilustra a topologia de um cicloconversor
monofásico de 3 pulsos, e a Figura 5, a sua representação esquemática.

Figura 4. Topologia de um cicloconversor monofásico de 3 pulsos.


Fonte: Barbi (2006, p. 157).
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Figura 5. Representação esquemática de um


cicloconversor monofásico de 3 pulsos.
Fonte: Barbi (2006, p. 157).

Outras estruturas de cicloconversores, com diferentes graus de comple-


xidade, podem ser empregadas a partir do seu princípio de funcionamento.
A seguir, confira algumas delas.

Estruturas de cicloconversores
Como a estrutura básica de um cicloconversor é equivalente à de um conversor
dual (com comando adequado), ou seja, de dois retificadores em paralelo,
as possíveis configurações se estendem para quantos tipos de retificadores
existirem.
Em geral, as tensões de entrada desses sistemas são trifásicas balanceadas,
enquanto as tensões de saída podem ser monofásicas ou trifásicas. O valor
eficaz da tensão de carga, ou seja, a tensão eficaz que o cicloconversor pode
produzir na saída, é obtido pela seguinte equação:

Onde,
= valor eficaz de um ciclo da forma de onda de entrada que é aplicada
na carga;
m = número de pulsos (múltiplo de 3).
Noções de cicloconversores 7

Para não haver falhas de comutação, o ângulo α deve ser sempre maior
que zero, portanto:
= menor valor que o ângulo α pode assumir sem falha de comutação.
Barbi (2006) seleciona três estruturas de cicloconversores como sendo
de maior interesse prático e de uso mais difundido na indústria, quais sejam:
cicloconversor trifásico de 3 pulsos, trifásico de 6 pulsos para cargas isoladas
e trifásico de 6 pulsos para cargas não isoladas.
A Figura 6 representa o cicloconversor trifásico de 3 pulsos com ponto
médio.

Figura 6. Cicloconversor trifásico de 3 pulsos com ponto médio.


Fonte: Barbi (2006, p. 158).

Essa estrutura de cicloconversor é considerada a mais simples, sendo


constituída por 3 conversores duais de 3 pulsos, os quais são alimentados
pelos mesmos enrolamentos secundários do transformador. Nesse caso,
a função do transformador é a adaptação da tensão da rede à carga e,
caso seja retirado do sistema, não alterará em nada o funcionamento do
cicloconversor.
Os cicloconversores trifásicos de 6 pulsos em ponte são constituídos
por 3 conversores duais de 6 pulsos. Nessa estrutura, há a necessidade de
isolamento na entrada ou na saída do sistema devido ao fato de não haver
ponto em comum entre a fonte e a carga do circuito. A Figura 7 representa
esse tipo de estrutura, em que a entrada é comum aos 3 conversores e as
cargas são isoladas entre si.
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Figura 7. Cicloconversor trifásico de 6 pulsos, em ponte, para cargas isoladas.


Fonte: Barbi (2006, p. 158).

O circuito da estrutura representada pela Figura 7 é recomendado, se-


gundo Barbi (2006), para a alimentação de máquinas trifásicas de corrente
alternada, pois elas possuem enrolamentos estatóricos isolados um do outro.
Em contrapartida, existem casos em que as três fases da carga não podem ser
isoladas entre si, sendo necessário o emprego de um transformador com três
saídas isoladas, como ilustra a Figura 8.

Figura 8. Cicloconversor trifásico de 6 pulsos, em ponte, para cargas não isoladas.


Fonte: Barbi (2006, p. 159).
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Assim, a estrutura representada pela Figura 7, com cargas isoladas, é mais


econômica em relação à estrutura para carga não isoladas, representada pela
Figura 8.

Limites da frequência de saída


Para identificar quais são os limites recomendados da frequência de saída,
você deve compreender de que forma as harmônicas das tensões de saída
dependem dessa frequência.
De acordo com Barbi (2006), as harmônicas têm origem na forma como
a tensão de saída é produzida a partir de fragmentos de senoides das tensões
de entrada. Considerando os cicloconversores com corrente em circulação,
as frequências das harmônicas dependem da estrutura do sistema, ou seja, do
número de pulsos pelos quais ele é composto, das frequências das tensões de
entrada e das frequências das tensões de saída. A título de exemplificação,
a equação a seguir representa essa relação considerando um cicloconversor
de 12 pulsos.

onde:

 p = número inteiro de 1 a ∞;
 n = número inteiro de 0 a ∞;
 f H = frequência das harmônicas;
 f i = frequência de alimentação;
 f0 = frequência de saída do cicloconversor.

Além disso, segundo Guimarães (2016), um maior número de pulsos dis-


ponibiliza menos conteúdo harmônico à carga, assim como ilustra a Figura 9.
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Figura 9. (a) Tensão média e corrente de carga; (b) tensão de saída para cicloconversor de
6 pulsos; (c) tensão de saída para cicloconversor de 12 pulsos.
Fonte: Guimarães (2016, p. 30).

Sendo assim, o cicloconversor de doze pulsos produz menos harmônicos


que um cicloconversor de seis pulsos. Como pode ser visto, a forma de onda
exemplificada pelo gráfico (c) da Figura 9 (12 pulsos) é mais fiel à senoide de
referência, gráfico (a) da Figura 9, do que à forma de onda mostrada no gráfico
(b) referente ao cicloconversor de 6 pulsos. Portanto, é possível comprovar um
menor conteúdo harmônico da tensão de saída devido ao aumento do número
de pulsos, mas acarreta um aumento no custo do equipamento, já que haverá
a necessidade de um maior número de tiristores compondo o sistema.
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Além disso, se a frequência de saída se aproxima da frequência de entrada,


os harmônicos também aumentam; por isso, conforme Barbi (2006), para os
cicloconversores trifásicos de três pulsos, é recomendável limitar a frequên-
cia de saída a um valor máximo igual a um terço da frequência de entrada,
conforme a seguinte equação:

Para os cicloconversores em ponte, esse valor máximo é igual à metade da


frequência de entrada. Portanto, pode-se concluir que a qualidade da forma
de onda de saída é deteriorada significativamente com o aumento da tensão
e da frequência de saída, de forma que, se a frequência atinge o valor limite,
o conteúdo harmônico da corrente aumenta drasticamente. Esse valor limite
normalmente é igual a 33% e 50% da frequência de entrada para os ciclocon-
versores trifásicos em meia ponte e ponte completa, respectivamente.

ABB. ABB comissiona o primeiro projeto de acionamento de moinho sem engrenagem no


Canadá. [S. l.: s. n., 2011]. Disponível em: http://www.abb.no/cawp/seitp202/4afff639c
f3c89cd832578bf006aaaec.aspx. Acesso em: 2 jul. 2019.
AHMED, A. Eletrônica de potência. São Paulo: Pearson, 2000.
BARBI, I. Eletrônica de potência. 6. ed. Florianópolis: Edição do Autor, 2006.
GUIMARÃES, É. Proposta de um cicloconversor híbrido de entrada trifásica e saída monofásica
com baixo índice de distorções harmônicas da tensão de saída. 2016. 193 f. Dissertação (Mes-
trado) — Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Uberlândia, Uber-
lândia, 2016. Disponível em: https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/22311/3/
PropostaCicloconversorH%C3%ADbrido.pdf. Acesso em: 2 jul. 2019.

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