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VIEIRA, Padre Antônio. Sermão da Sexagésima. Pregado na Capela Real, no ano de 1655.

Fonte: Sermões Escolhidos. V. 2, São Paulo: Edameris, 1965.

Elisabete Jouse Venancio do Nascimento ¹

Resenha:

O Sermão da Sexagésima, faz parte da obra Sermões do escritor, religioso, filósofo e orador
barroco Padre Antônio Vieira. Foi testemunha crítica da consolidação do Brasil Colônia.
Nascido em 06 de fevereiro de 1608, em uma casa da rua dos Cônegos, próximo da Sé de
Lisboa, em Portugal. Aos 6 anos de idade veio para o Brasil e estudou no Colégio dos Jesuítas
da Bahia. Foi enviado para Lisboa devido as suas qualidades como orador e conhecedor da
situação da Colônia, daí, conquistou grande prestígio junto à corte de D. João IV, que o
admirava muito , e o chamava de “ lábia” de Vieira. Em 1661, voltou para o Brasil, e por 10
anos, atuou como missionário no Maranhão, catequizando os índios.

O Sermão da Sexagésima, de Padre Antônio Vieira é de uma temática religiosa, e tem por
objetivo convencer as pessoas se converterem à religião Católica. Dessa forma, ele usa
passagens bíblicas para escrever seus Sermões. Dividido em 10 partes, o autor menciona Deus,
os homens, o pregador e o evangelho como temas para os seus Sermões.

Assim, no primeiro capítulo, ele mostra que a culpa é do pregador e da veracidade de sua
doutrina, criticando , portanto, outros pregadores e a ineficácia de seus discursos. O autor
utiliza a metalinguagem para sua ideia central: Pregar é semear. Ele utiliza figuras de
linguagem, que tornam o texto mais expressivo, como : metáfora, comparação, hipérbole, etc.
Incutiu na mente dos fiéis os dogmas da Igreja Católica, pois após a Reforma Protestante, a
Igreja foi perdendo seus fiéis.

Vieira, através da parábola do Semeador, Fala que as sementes representam a palavra de


Deus. Os espinhos , as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os corações
dos homens. Os espinhos representam os corações embaraçados pelos cuidados, riquezas,
delícias e nestes afoga – se a palavra de Deus. As pedras, são os corações duros e obstinados,
onde seca – se a palavra de Deus, e se nasce , não cria raízes. Os caminhos, são os corações
inquietos e perturbados com a passagem das coisas do Mundo, umas vão, outras vêm, outras
atravessam e todas passam, assim , é pisada a palavra de Deus, porque desatendem ou a
desprezam . A terra boa, são os corações bons dos homens e nestes prende e frutifica a
palavra de Deus e se torna fecunda e multiplica cem por uma.

No terceiro capítulo, o Padre questiona o porquê da Palavra de Deus fazer pouco fruto, no
entanto, como é comum boa Sermões, o pregador fazer o uso das perguntas e ele mesmo
tende a responder. Esse recurso permite conduzir/prender o raciocínio lógico do ouvinte. Ele
atribui a isso, três possibilidades de resposta: as falhas advindas do pregador, do ouvinte ou de
Deus.

¹Graduanda do segundo período do curso de Letras-Português pela Universidade Federal de


Alagoas. Trabalho para composição de parte da nota da AB2, da disciplina de Literatura de
Língua Portuguesa 1, Professor Murilo Alves.
De acordo com o missionário, no quarto capítulo, há cinco circunstâncias que podem ser
consideradas no pregador: a pessoa que é, a ciência que tem, a matéria que trata, o estilo que
segue e a voz com que fala. Para ele, ter o nome de pregador não importa. Importa sim, as
suas ações, a vida, o exemplo e as obras. Segundo Vieira, as palavras são vazias se não forem
acompanhadas pelas ações.

O quinto capítulo, o escritor fala sobre o estilo que é usado nos púlpitos, que por ser tão
empeçado, dificultoso e afectado, um estilo tão encontrado a toda natureza, deve ser fácil e
natural. Ele compara a pregação com a maneira de semear, ou seja, o discurso deve ser feito
de modo natural e simples como a semente que cai na terra. Mas, para ela germinar e
crescer, é necessário que ela caia de três modos: Há de cair com queda, cadência e com caso.
A queda é para as coisas, porque hão de vir bem trazidas e em seu lugar, hão de ter queda. A
cadência é para as palavras, porque não hão de ser escabrosas, nem dissonantes ; hão de ter
cadência. O caso é para a disposição, porque há de ser tão natural e tão desafetado que pareça
caso e não estudo.

O sexto capítulo, Vieira chama a atenção sobre a matéria que os pregações tomam em grande
quantidade, levantam muitos assuntos, mas não segue nenhum. No entanto, o sermão há de
ter somente um assunto e uma só matéria, para que haja o entendimento da pregação da
palavra de Deus e com isso, haja a conversão.

O jesuíta, fala no sétimo capítulo, sobre a ciência que falta em muitos pregadores, e que
muitos vivem do que não colheram e semeiam o que não trabalharam. Por tanto, o pregador
tem que pregar o seu e não o alheio. O furtado não é bom para semear, ainda que o fruto seja
de ciência. Ele faz uma comparação com a rede de pesca e a pregação, onde Cristo fez dos
apóstolos, pescadores de homens, daí , então pregadores.

No oitavo capítulo, Vieira demonstra através da metáfora, que a causa que a buscamos é a voz
dos pregadores e que o efeito da voz dos pregadores deve incutir nos ouvintes. A nuvem tem
relâmpago, trovão e raio: o relâmpago para os olhos, o trovão para os ouvidos e o raio para o
coração. Então, o relâmpago, alumia; o trovão, assombra; o raio mata. O raio fere um a um , o
relâmpago a muitos e o trovão a todos. Por isso, a voz do pregador dever ser como um trovão
do céu , que assombra e faz tremer a todos. Pois a voz forte tem efeito mais benéfico para o
ouvinte.

No nono capítulo, o escritor fala sobre a palavra como causa. No entanto, essas palavras dos
pregadores, são apenas palavras, mas não são palavras de Deus. Pois, se fossem de Deus ,
surtiriam efeito e dariam frutos, até mesmo as que caíram nas pedras e nos espinhos. Mas,
como são palavras dos próprios pregadores, não tem efeito algum sobre o ouvinte .

O missionário, no último capítulo, concluo sendo categórico em seu discurso, e contraria os


dominicanos que pregavam discursos pré – estabelecidos por moldes. Por isso, Vieira era o
que sempre procurava a verdade, elaborando assim , um verdadeiro tratado sobre ética e
retifica. Seu paradigma era essencial para o pregador que realmente aspirava a moral do
ouvinte com os dogmas do cristianismo. Para ele , os ouvintes devem se sentir frustrados com
suas atitudes. E que o melhor pregador não é o que atrai aplausos para si, mas o que transfere
medo no indivíduo diante de suas atitudes.

Padre Antônio Vieira, era um exemplo de pregador, pois refletia em suas próprias palavras os
seus atos, dando aos ouvintes motivos para autorreflexão de seus atos. O sujeito, no entanto,
passa a duvidar de si e do mundo, motivos que fazem jus aos desenganos do período Barroco.

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