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Segundo Castanheira Neves, a metódica jurídica é uma técnica prático-jurídica que orienta os processos de decisão baseados em normas.

Essa abordagem envolve uma


racionalidade jurídica prático-científica, que tem como objetivo demonstrar as características do direito de maneira sistemática e fundamentada. Para Celso o método é
uma “arte prática e prudente”, e enfatiza a sua importância como uma forma de trabalho e como um componente fundamental da Metodologia Jurídica Romana. Podemos
entender o método como o caminho que percorremos para atingir um objetivo específico, e é importante diferenciá-lo da metodologia. O método é o conjunto de normas,
técnicas e instrumentos concretos utilizados para alcançar o resultado desejado. Já a metodologia é a combinação do método com a palavra grega "logos", que se refere à
construção do conhecimento. A metodologia é uma ciência que se preocupa com a construção do Direito e do caminho para alcançar a compreensão jurídica. Essa
metodologia depende do objeto de estudo, do conceito de Direito e devido ao constante dinamismo e evolução desse conceito, a conceção metodológica também pode
ser alterada. A metodologia está impreterivelmente relacionada com a evolução histórica do Direito e do Pensamento jurídico. O pensamento jurídico é a ratio do sistema
jurídico e foi sendo alterado consoante o contexto social e histórico de cada época, até porque como refere Castanheira Neves, existe um “sistema cultural global”. Desta
forma, até ao século XVIII, tivemos várias conceções de Direito, sendo de destacar três deles, nomeadamente o pensamento jurídico romano (num sentido prudencial), o
pensamento jurídico medieval (num sentido hermenêutico) e o pensamento jurídico moderno (num sentido racional). Em primeiro lugar, o pensamento jurídico romano,
foi influenciado pela cultura grag, mais precisamente pela dialética e era caraterizado por ser formalmente apoiado pelas fontes disponíveis (leges,que eram escassas;
mores maiorum…) e materialmente pela integração de valores de boa-fé, equidade, humanidade e utilidade. Havia uma clara distinção entre ius e lex, sendo o primeiro
objeto da iurisprudentia e o segundo, uma iniciativa estatal. Ademais, constatava-se uma independência entre política e direito, com uma relativa separação de poderes
que, foi sendo gradualmente mitigada. Nesse pensamento, o caso era considerado o prius. Assim, o pensamento jurídico romano se caracterizou como uma metódica
jurisprudencial casuística de uma racionalidade tópico-decisória, que atuava jurídico-analogicamente. Em segundo lugar, o pensamento jurídico medieval por um lado
baseava-se num senso de justiça ético-normativa, por outro lado, devido ao facto da sociedade, nesta época estar fortemente hierarquizada e fundamentada no poder
divino, havia uma submissão cultural e sociológica ao princípio de autoridade. A centralidade do pensamento jurídico estava na interpretatio, a qual estava ligada à
autoridade no Direito romano e canônico (corpus iuris civilis e legislação canônica). O pensamento jurídico tratava-se assim de uma interpretação e hermenêutica, em que
todos os critérios jurídicos derivavam dos textos mencionados acima. Um traço característico desse pensamento era o fato de que os livros de autoridade eram vistos como
a própria verdade, em vez de testemunhos. O objetivo não era propriamente investigar, mas sim compreender a palavra das autoridades por meio da interpretação. O
jurista tinha como tarefa a interpretatio, onde utilizava o Corpus Iuris Civilis como texto de autoridade. Nele está a verdade, por isso convém compreendê-lo corretamente
(comprehensio legis). Essa interpretação ocorria por meio das Glosas (Escola dos Glosadores), que envolvia uma análise exegética da letra dos textos por meio de uma
exegese gramatical-filológica. Posteriormente, houve comentários interpretativos dogmático-construtivistas relacionados à Escola dos Comentadores. Esta escola tinha
como principais caraterísticas o progressivo desprendimento com os textos originais, até porque se começaram a fazer glosas sobre glosas; o objetivo dos comentadores
que se se orientavam de uma forma metodologicamente diferente dos glosadores, através da extensio legis. Aqui era usada mais a dialética, não sendo a interpretatio tao
literal, mas mais criativa; eram utilizados os métodos da escolástica, tendo a doutrina passado a ser uma importante fonte de direito. Esse pensamento se caracterizou por
uma metódica jurisprudencial-dogmática de uma racionalidade hermenêutico-dialética. Com a Escola dos Comentadores, a interpretação passou a ter uma qualidade
criativa ou construtiva, em vez de ser apenas uma filosofia gramatical de exposição do texto. Esse pensamento medieval levou a duas ideias fundamentais, que foram a
autoridade dos textos que motivavam o pensamento e, a racionalidade que pretendiam transmitir ao direito, transformando-o em um todo racional suscetível de ser
articulado. Em terceiro lugar, quanto ao pensamento jurídico Moderno, nesta época O Direito passou a ser tido como ciência. Cresceu o jusracionalismo, pelo que
começou a haver uma divinização da razão. Desenvolveram-se assim, ideias como a autonomia da vontade privada e a liberdade individual que levaram a uma nova
perspetiva de que a explicação jurídica poderia ser compreendida pela razão e apresentada de forma sistemática (posteriormente chamada de científica). As normas de
autoridade e razão que antes moldavam o pensamento jurídico foram substituídas pela razão e experiência (tendo mudado o conceito de razão, que transitou de um
critério material e judicativo, para auto-fundamentada em axiomas e deduções desenvolvidas, passando a razão a ser considerada como um critério de validade científica).
Assim, podemos chamar a essa explicação jurídica de metodologia empírica com uma explicação matematizada e racionalizada do mundo. Aqui, estamos no âmbito de
uma identificação normativa e de uma recusa da possibilidade filológica. Com a incorporação da razão moderna, baseada em axiomas e na lógica formal, o pensamento
jurídico começa a funcionar da mesma forma, seguindo a mesma lógica. Dessa forma, o pensamento jurídico passa a ser dedutivo e sistematicamente organizado. Nessa
época, o Direito passou por uma transformação e se tornou um sistema mais organizado, o que deu origem à ideia de legislação sistemática e codificação, conhecido como
direito positivo. Esse movimento teve como objetivo garantir a proteção das expectativas e segurança jurídica. Como resultado, surgiram duas escolas jurídicas distintas,
nomeadamente a Escola Exegese e a Escola Histórica. A Escola Exegese é uma escola de pensamento jurídico francês que surgiu após a Revolução Francesa na qual se
aplicava o Código Civil de Napolão. Defendia que o direito era uma expressão da vontade geral, e que o papel do jurista era interpretar as leis codificadas pelo legislador.
Em outras palavras, o direito era visto como uma construção positivista, baseada nas normas escritas no código. Por outro lado, a escola histórica, surgiu no final do século
XVIII, tendo Savigny grande importância no assunto, e na qual o Direito se manifesta na história e exprime-se no espírito do povo, não sendo produto da vontade do
estado.
In
casu, parece relevante evidenciar o trabalho da Escola de Exegese, indo no sentido da crítica feita por Kaufmann, uma crítica em sentido analítico (Castanheira Neves).A
Escola da Exegese é conhecida por sua fidelidade irrestrita ao texto da lei. Através desse princípio, a escola segue uma abordagem lógico-formal para a aplicação prática do
direito, o que é frequentemente descrito como uma metodologia lógico-dedutiva. O que está em causa é o uso frequente do silogismo judiciário pela escola da exegese,
que é um método formal de aplicação do direito que consiste em uma argumentação lógica com duas premissas e uma conclusão, que é amplamente utilizado por essa
escola de pensamento jurídico. Ou seja, o pensamento jurídico é um sistema lógico que se baseia no uso do silogismo judiciário, o que na prática significa que há uma
norma de direito positivo que representa a premissa maior, que inclui uma hipótese e estatuição. Em seguida, há uma premissa menor que se refere a uma situação de
fato. A conclusão é o resultado da aplicação lógica da premissa maior à premissa menor. (#Kaufmann critica esta subsunção, já que “as realidades não se podem encobrir
com teorias”.) O silogismo começa com a análise dos factos que resultam de diferentes relatos e combinações, aos quais é atribuída uma importância relativa com base
numa análise de ponderação. Nessa análise, certos factos são considerados como provados em detrimento de outros. É importante destacar que essa factualidade é uma
construção do intérprete, que utiliza os diferentes elementos disponíveis para construir uma narrativa coerente. Karl Larenz argumenta que não existe apenas um
silogismo, mas sim dois. O primeiro é o silogismo judiciário, que é usado para determinar a consequência jurídica e envolve a premissa maior, a premissa menor e a
consequência. No entanto, para alcançar a premissa menor, é necessário recorrer a um segundo silogismo, que também é lógico-dedutivo. A vida real é imprevisível e
acontece mais rápida do que o Direito, o que invalida a aplicação sistemática da subsunção. Não é possível prever todas as situações fáticas possíveis com normas perfeitas
ou globais. Essa abordagem é incompatível com uma concepção de direito que valoriza sua transformação e enriquecimento no momento de sua aplicação prática-
normativa.
As escolas jurídicas mencionadas foram cruciais para a emergência do positivismo jurídico no século XIX. Durante os séculos XVIII e XIX, a ciência jurídica começou a se
aproximar das ciências naturais para obter mais legitimidade como uma disciplina científica. A fim de resolver os problemas que surgiam, o direito precisava ser codificado
em instrumentos fechados e auto-suficientes. Todo esse desenvolvimento jurídico foi moldado pela razão humana e culminou na identificação do direito com as leis, que é
uma das principais características do positivismo jurídico. Nesse contexto histórico em que o direito é identificado com as leis, há uma compreensão estabelecida do
método jurídico. Segundo Castanheira Neves, esse método acaba por ser o conhecimento interpretativo do direito positivo vigente, uma vez que o método jurídico se
identifica com o conhecimento do direito positivo vigente. Isso se deve ao fato de que o direito é positivado nas leis, e, portanto, a doutrina de aplicação prática do direito
acaba se tornando um conhecimento dogmático e interpretativo das leis vigentes. Paolo Grossi critica o Sistema Positivista do Direito, que coloca a Lei como a única fonte
prática de Direito, apesar de existirem outras fontes. Ele argumenta que a rigidez hierárquica dessas fontes impede sua aplicação prática. Grossi atribui a origem desse
problema à Exegese, quando as fontes eram relegadas a um papel secundário. Dessa forma parece que o papel ativo do jurista se perdeu. Atualmente, o método jurídico é
visto de forma crítica como essencial para a realização do direito e sua concretização na prática. O direito não é uma entidade plena, acabada e fechada em si mesma, mas
sim um sistema aberto que depende da densificação do momento aplicativo, já que sua vocação é prático-normativa e existe para ser aplicado. Durante a aplicação,
surgem significados que não estavam previamente definidos no direito positivo. Além disso, o direito positivo não é perfeito, apresentando falhas, vazios e lacunas.
Durante a modernidade, o Direito se tornou muito formal e limitado, não aberto a influências de outras áreas do conhecimento. Paolo Grossi enuncia “que talvez nós
juristas não tenhamos plena consciência disso, mas ainda somos, em boa medida, os herdeiros e as vítimas da grande redução iluminista”.
Em resumo, atualmente estamos em um momento de superação do modelo legalista tradicional do século XIX, com uma crítica intensa a esse modelo e uma mudança para
uma conceção anti-formal, juridicativo-decisória e prático-normativa do direito. No entanto, apesar dessa mudança de perspetiva, ainda temos dificuldade em nos afastar
totalmente do Direito positivo tradicional que estamos acostumados a seguir. Em termos pessoais, parece que somos herdeiros e vítimas da visão iluminista que reduziu o
Direito à Lei. Apesar disso, não devemos subestimar a importância da Lei como base para reivindicar direitos e como fonte de estabilidade e segurança jurídica. No entanto,

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como comecei a dizer, o Direito e seu método são uma arte, não devendo manter a segurança e a estabilidade jurídica sendo frios e fechados, mas sim sendo abertos e
atentos.

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