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Ana Luiza Gallo, Gabriel Monteiro, Gabriela Castelo, Larissa Rodrigues, Manuela Martins e

Sara Guimarães
DGM 2 - Sociedade e Cultura

RELATÓRIO TÉCNICO - TRABALHO FINAL

● Questão prática:
Escolhemos apresentar uma reportagem do Fantástico que foi ao ar no dia
29/01/2023 e um filme da netflix de 2021 com direção de Luiz Bolognesi e produção em
associação com a Hutukara Associação Yanomami e o Instituto Socioambiental.
A reportagem do Fantástico entrou na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, com
o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Junior Hekurari, e o novo secretário
da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), Weibe Tapeba. Os repórteres Sônia Bridi
e Paulo Zero acompanharam de perto a distribuição de remédios e alimentos, mostrando o
resgate de mães e crianças doentes na comunidade. Eles foram também recebidos por
Renata Capucci e Maria Scodeler no podcast do Fantástico, em que contaram seu
comovente testemunho sobre a crise humanitária que ali encontraram - comunidades
ilhadas pelo avanço do garimpo ilegal, além de famílias inteiras vítimas de desnutrição,
malária, pneumonia e contaminação por mercúrio.
A reportagem foi ao ar na semana em que uma série de imagens que escancaravam
a fome e a morte da população indígena yanomami viralizaram nas redes sociais, ganhando
a atenção do Governo Federal e da Comunidade Internacional. O presidente Lula anunciou
ter assinado, no dia 30/01, um decreto para dar poder às Forças Armadas e aos ministérios
da Defesa, Saúde, do Desenvolvimento Social, da Família e dos Povos Indígenas para
barrar a atuação de garimpeiros ilegais nas terras indígenas Yanomami, dando assistência
nutricional e médica a esse povo.
O grupo escolheu incluir na apresentação os primeiros 1:54 minutos da reportagem
(disponível em: https://globoplay.globo.com/v/11322087/), bem como um trecho falando
sobre o descaso do Estado, especialmente no governo Bolsonaro (07:59 - 09:38).
O filme "A Última Floresta" está disponível na netflix e ganhou inúmeros prêmios
nacionais e internacionais, entre eles o Prêmio Platino de Melhor Documentário, o Prêmio
do Público no Festival de Berlim e o de Melhor Filme no Festival de Seul.
Escrito por Luiz Bolognesi e Davi Kopenawa Yanomami, ele retrata a vida e a cultura
de uma comunidade Yanomami isolada na Amazônia. No longa, o xamã Davi Kopenawa
tenta manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de
garimpeiros traz morte e doenças para a comunidade. O diretor de fotografia Pedro J.
Márquez procurou (e conseguiu) transmitir essa interpretação espiritual, mostrar a beleza, a
força e resistência do povo Yanomami.
Colocamos na apresentação o trailer do filme disponível no link:
https://www.youtube.com/watch?v=WAVOR3Ob1_g

● Playlist: https://open.spotify.com/playlist/07U0cjeKJYa7VCPpgbOHkY?
si=eedb950e018e4ba3

Quanto às referências musicais encontramos o álbum “AmarElo” do rapper, cantor e


compositor Emicida, e o álbum “Txai” de um dos cantores mais influentes da música
brasileira, Milton Nascimento.
No álbum “AmarElo”, Emicida faz menção às lutas diárias que diversos grupos
minoritários passam no Brasil, transmitindo uma mensagem crítica e de reivindicação
cultural do que é deles tirado. Para um exemplo disso, o artista acaba usando tanto na capa
do álbum em si quanto em publicações promocionais de divulgação, fotografias de Cláudia
Andujar, uma ativista e fotógrafa suíça, que desde os anos 70 defende os indígenas
Yanomami e em uma série de fotografias documenta a vida dessa comunidade.

Imagem de Cláudia, fotografada na


comunidade Yanomami Catrimani, em
Roraima, no ano de 1974. Foi usada como
imagem de divulgação e capa da faixa
exclusiva do álbum AmarElo que se
encontra no Deezer.

Fotografia de crianças Yanomami por


Claudia Andujar, utilizada na capa do
álbum. Essa fotografia foi exibida na
exposição que apresentamos na
primeira parte do trabalho, “A Luta
Yanomami” no Instituto Moreira Sales
em 2018.

Em inúmeras ocasiões Emicida se mostrou um grande admirador do trabalho


artístico e político de Andujar, como nesta curta entrevista que ele concedeu ao Thyago
Nogueira: https://www.youtube.com/watch?v=K8nZiZhyc30.
Nela, ele reforça a importância do reconhecimento dessa cultura e a sensibilidade do
trabalho de Claudia, que muitas vezes adquire tom de denúncia e promove a empatia diante
dos tempos de ruptura que temos vivido no Brasil.
Focando agora no álbum “Txai” de Milton, ele foi produzido após uma viagem para a
Amazônia feita pelo cantor há 33 anos, em colaboração com a campanha mundial de apoio
à Aliança dos Povos da Floresta, coordenada pela União das Nações Indígenas e pelo
Conselho Nacional dos Seringueiros.
O álbum foi construído através de diálogos ao longo de 17 dias com indígenas, e
apresenta, de maneira imersiva, com arranjos instrumentais impecáveis e uma transmissão
de sensações ao ouvinte, uma exaltação à cultura de diversas dessas comunidades.
O termo “Txai” em si faz menção a esse fator da união e do conhecimento de novas
pessoas, culturas e a geração de ligações a elas, pois vindo da língua dos indígenas
Kaxinawá, a palavra significa “mais que amigo”.
Quanto a exaltação da cultura Yanomami, pode-se citar as faixas:

1. “Overture”, que conta com um discurso do líder Davi Kopenawa em sua língua, mas
traduzindo diz:
“Os brancos estão estragando a nossa floresta e se nós não a defendermos vamos
acabar.. eles tiram coisas da escuridão debaixo do chão e isso alastra epidemias
entre nós… por isso o céu e a terra também ficarão doentes e se a gente morre, se
todos os pajés yanomami e seus espíritos morrem, o céu vai acabar desabando
sobre a terra, o universo vai se desfazer e o céu vai obscurecer para sempre”, o que
nos lembra também do que foi dito em seu livro “A Queda do céu”.

2. “Yanomami e nós (Pacto de vida)” de Milton com Fernando Brant. É possível ver nela
como a exaltação dessas culturas acontece mas também como a música foi usada
como ferramenta de denúncia da situação desses povos, que até hoje segue
sofrendo de preconceitos, descaso governamental, violências diversas e de seu
genocídio:
"Ter de resisti à dor, à dor.
Sem comprender por que à dor, à dor.
Ter de suportar viver à dor, à dor.
E sem merecer à dor, à dor.

Se é esse o meu destino, quem é o algoz que o traçou.


Quem me contaminou.
Quem me doou a dor.

Homem não existe para ser só animal.


A sua história é mais que corporal.
Abre o sentido para ter, a liberdade.
Com todo mundo que é seu igual,
e solidário.
Pensará...
Amará...
Sonhará...
Saberá...
Que a felicidade da cidade não tem que o mato matar."
● Produto de Design

O produto de design escolhido foi o livro "A Farsa Ianomâmi", do coronel Carlos
Alberto Lima Menna Barreto. Nele, Menna Barreto busca defender, a partir de acusações
falsas, argumentos sem embasamento e um conjunto de documentos controversos, que o
povo yanomami não existia antes que a fotógrafa Claudia Andujar e organizações
internacionais com interesses na Amazônia o inventassem, procurando se beneficiar da
demarcação da terra indígena para roubar nossa floresta. No
final de sua obra, o coronel propõe ações como a anulação da
reserva indígena e a regulamentação do garimpo na região.
3000 exemplares de "A Farsa Ianomâmi" foram
publicados pela biblioteca do Exército em 1995, mas ainda
hoje ele circula em arquivos gratuitos pela internet, tendo sido
inclusive recomendado algumas vezes por Olavo de Carvalho.
Nesse sentido, podemos estabelecer uma nítida relação entre
o livro e a atual crise humanitária dos Yanomami, tema do
nosso trabalho. Isso porque a tese de Menna Barreto não é
uma opinião isolada, mas sim uma visão enraizad adentro do
Exército, senão doutrinária, acerca da questão indígena e
ambiental. Visão essa que se assemelha especialmente à
política do governo de Jair Bolsonaro.
Segundo o historiador João Pedro Garcez, que estudou a obra em questão durante
seu mestrado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), "Parece que o governo
Bolsonaro fez um tipo de gestão de acordo com o livro porque, neste, os indígenas são
colocados como uma massa de manobra de interesses estrangeiros. Então, eles são vistos
como inimigos do Brasil. Dentro dessa racionalidade, faz sentido deixá-los na beira da
morte, porque eles não fazem parte da ideia de Brasil que está presente no pensamento
militar", acrescenta o pesquisador, referindo-se ao genocídio do povo yanomami.

● Referências:

MOREIRA, Mateus. Livro de coronel que negava a existência dos Yanomami reflete crença
difundida no Exército, avaliam especialistas. g1, 2023. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/01/25/livro-de-coronel-que-negava-a-existencia-
dos-yanomami-reflete-crenca-difundida-no-exercito-avaliam-especialistas.ghtml>. Acesso
em: 12 fev. 2023.

FANTÁSTICO. O testemunho de Sônia Bridi e Paulo Zero sobre a tragédia Yanomami. g1,
2023. Disponível em: <https://g1.globo.com/fantastico/podcast/isso-e-fantastico/noticia/
2023/01/29/isso-e-fantastico-o-testemunho-de-sonia-bridi-e-paulo-zero-sobre-a-tragedia-
yanomami.ghtml>. Acesso em: 12 fev. 2023.

NORONHA, Danielle de. A Última Floresta: Entrevista Com O Diretor De Fotografia Pedro J.
Márquez. abcine. Disponível em: <https://abcine.org.br/site/a-ultima-floresta-entrevista-com-
o-diretor-de-fotografia-pedro-j-marquez/>. Acesso em: 13 fev. 2023.
TEORIA conspiratória do Exército guiou ataques de Bolsonaro aos Yanomami, dizem
especialistas. Instituto Humanitas Unisinos, 2023. Disponível em:
<https://www.ihu.unisinos.br/626151-teoria-conspiratoria-do-exercito-guiou-ataques-de-
bolsonaro-aos-yanomami-dizem-especialistas>. Acesso em: 14 fev. 2023.

WERNECK, Natasha. Lula sobre yanomamis: 'O governo brasileiro acabará com o garimpo'.
Estado de Minas, 2023. Disponível em:
<https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2023/01/30/interna_politica,1451149/lula-sobre-
yanomamis-o-governo-brasileiro-acabara-com-o-garimpo.shtml>. Acesso: 12 fev. 2023.

ALVIM, Mariana. Publicado pelo Exército, livro que diz que yanomamis não existem inspirou
políticas que levaram à crise humanitária. BBC, 2023. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgxn8l41x24o>. Acesso em: 14 fev. 2023.

MUNIZ, Erika. Milton Nascimento em louvor aos indígenas. Revista Continente, 2018.
Disponível em: <https://revistacontinente.com.br/coberturas/festival-de-inverno-de-bonito-
2018/milton-nascimento-em-louvor-aos-indigenas>. Acesso em: 12 fev. 2023.

NETO, Arman. Txai, de Milton Nascimento: um sopro de vida em meio ao ódio. Medium,
2020. Disponível em: <https://medium.com/impress%C3%B5es-de-maria/txai-de-milton-
nascimento-um-sopro-de-vida-em-meio-ao-%C3%B3dio-8588f7e0836a>. Acesso em: 12
fev. 2023.

MOURA, Beatriz. claudia andujar, abaporu e de la soul: as referências visuais de amarelo,


do emicida. Casa Natura Musical, 2020. Disponível em:
<https://casanaturamusical.com.br/amarelo-emicida-capa-do-disco/>. Acesso em: 13 fev.
2023.

https://www.youtube.com/watch?v=K8nZiZhyc30

https://twitter.com/emicida/status/1189543839306080261

https://globoplay.globo.com/v/11322087/

https://www.youtube.com/watch?v=zebydKnPInI

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