You are on page 1of 88

A TEORIA GERAL DA POLÍTICA

DE NORBERTO BOBBIO
Elementos Introdutórios
FOTO DA CAPA: BOBBIO, Norberto. Autobiografia. Roma-Bari: Laterza, 1997, p. 172.
José Dias
Junior Cunha
Valdenir Prandi
(Organizadores)

A TEORIA GERAL DA POLÍTICA


DE NORBERTO BOBBIO
Elementos Introdutórios

Primeira Edição E-book

Toledo - PR
2018
Copyright 2018 by
Organizadores
EDITORA:
Daniela Valentini
CONSELHO EDITORIAL:
Dr. Daniel Eduardo dos Santos – UNICESUMAR
Dr. José Aparecido Pereira – PUCPR
Dr. José Beluci Caporalini – UEM
REVISÃO FINAL:
Prof. Ademir Menin
CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN:
Junior Cunha
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

A teoria geral da política de Norberto


T314 Bobbio: elementos introdutórios /
organizadores José Dias, Junior Cunha,
Valdenir Prandi. – 1. ed. e-book –
Toledo, PR: Vivens, 2018.
88 p.

Modo de Acesso: World Wide Web:


<http://www.vivens.com.br>
ISBN: 978-85-92670-70-2

1. Política. 2. Ideologia Política. 3.


Ciência política. I. Título.

CDD 22. ed. 320.1

Rosimarizy Linaris Montanhano Astolphi


Bibliotecária CRB/9-1610

Todos os direitos reservados aos Organizadores.


Todos os textos aqui publicados são de total e exclusiva
responsabilidade dos seus autores.
Editora Vivens, O conhecimento a serviço da Vida!
Rua Pedro Lodi, nº 566 – Jardim Coopagro
Toledo – PR – CEP: 85903-510; Fone: (45) 3056-5596
http://www.vivens.com.br; e-mail: contato@vivens.com.br
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................... 9

I FILOSOFIA DA HISTÓRIA
Fernando da Rocha ........................................................................ 11

II O PRIMADO DOS DIREITOS SOBRE OS


DEVERES
Gustavo Rohte de Oliveira .............................................................. 17

III PAZ E GUERRA


Eduardo Bartzen da Cunha ........................................................... 37

IV INTRODUÇÃO À POLÍTICA E DIREITO


Fernando da Rocha ........................................................................ 49

V POLÍTICA E DIREITO EM PERSPECTIVA


Medéia Lais Reis ........................................................................... 61

VI REFORMAS E REVOLUÇÃO
Gilmar Alves Dos Santos .............................................................. 71
APRESENTAÇÃO

Com alegria apresentamos aos acadêmicos de


Filosofia e Política esta obra que recolhe trabalhos oriundos
de pesquisa acadêmica em nível de licenciatura, formando um
corpo harmonioso entorno dos problemas filosóficos que
envolvem a teoria geral da política, no pensamento de
Norberto Bobbio.
Pretende ser uma modesta colaboração de alguns
acadêmicos de filosofia da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná, atualmente já licenciados, oferecida como
introdução ao vasto pensamento político de Bobbio.
No primeiro capítulo, o professor Fernando da Rocha
trabalhou o tema da Filosofia da História.
No segundo capítulo, o professor Gustavo Rohte de
Oliveira trabalhou o primado dos direitos sobre os deveres.
No terceiro capítulo, o professor Eduardo Bartzen da
Cunha trabalhou o tema da paz e da guerra.
No quarto capítulo, o professor Fernando da Rocha
trabalhou o tema introdução à política e ao direito.
No quinto capítulo, a professora Medéia Lais Reis
trabalhou o tema política e direito em perspectivas.
No sexto capítulo, o professor Gilmar Alves dos
Santos trabalhou o tema reformas e revolução.

Boa leitura!

Os Organizadores
I

FILOSOFIA DA HISTÓRIA

Fernando da Rocha

Norberto Bobbio, no capítulo doze de seu livro Teoria


geral da Política, disserta a respeito da Filosofia da História. Sua
abordagem primeira é em relação à historicidade ideológica
Europeia, sua grandeza e decadência, história da liberdade.
A tratar da teoria do Estado, Bobbio, fala sobre “a
cidade de Péricles”, livro que apresenta um ótimo Estado, o
qual é fundado na liberdade e democracia, ou seja, um
ordenamento ideal marcado pelo contraste do poder e da
liberdade, modelo a ser seguido. Uma democracia onde as
decisões são pensadas e executadas não em relação aos
poucos cidadãos, mas sim à maioria. Uma busca de
regulamento que dê aos cidadãos um tratamento igual,
semelhante à igualdade vivida na Grécia – igualdade jurídica –
onde a participação das decisões era comum aos cidadãos, o
que garantia ao Estado a união da cidade e o fortalecimento
da pátria.
A ideologia Europeia, com seu modo de conceber a
política, é resultado, resquícios, das guerras persas, povos que
lutavam por liberdade e independência. Quando alcançavam
as vitórias, bons êxitos em suas guerras esforçavam-se para
que a causa primeira de seus confrontos, isto é, a luta pela
liberdade permanecesse junto ao seu povo.
Ao longo da história inúmeros povos sentiram na pele
o egoísmo de um governo tirano que, mantinham-se gloriosos
em detrimento da vida de muitos coitados que sonhavam um
bom governo, o qual lhes garantisse boas condições de vida e
a liberdade. No entanto, a voz, à vontade e o direito desses
12 A teoria geral da política...

povos fora roubado por governos tirânicos que os


exploravam com toda liberdade. Como resultado desta
exploração, temos a forte figura dos governos tirânicos, que,
impunham medo onde os mesmos são existentes:

A fenomenologia da figura do tirano foi se enriquecendo


ao longo dos séculos, mas os traços essenciais
permaneceram os mesmos. Quando Kruschev, no famoso
discurso proferido no XX Congresso PCUS, denunciou
com inesperada veemência os crimes de Stalen, para
espanto dos marxistas e incredulidade dos marxólogos,
Claude Roy (então comunista membro ativo da sociedade
Europeia de Cultura) disse: “Pode-se censurar o discurso
por não ser uma análise marxista”. Mas Macbeth também
não é um texto marxista. Um grito de horror não nem
marxista nem antimarxista. É um grito”. Bem poderíamos
dizer igualmente: também a República de Platão não é uma
análise marxista, mas a histórica figura do tirano nela
aparece em toda a sua trágica grandeza, que transcende a
história e para a qual a história é, ocasionalmente,
imprevisivelmente, cenário para sua extraordinária e
terrificante aparição” (BOBBIO, p. 641).

Sendo a tirania a forma de governo corrompida,


degenerada presente ao longo da história, no cenário da
civilização Europeia é evidente a importância da negatividade,
tirania e o despotismo, para que aquilo que é positivo possa
ser revelado. Um forte governo tirânico que resista às
manifestações, diversas, ainda assim é como se seus dias
estivessem contados, pois, a própria imposição do governo,
que limita e proíbe os povos, dá aos mesmos o anseio de
libertação. Existindo dois poderes a lei fundamental, aquilo
que é necessário e que contribui na vida dos povos, e a lei
ordinária; marcada pelo caráter temporário porque surge nos
grandes momentos de crise.
Houve na Europa um governo livre e um governo
tirânico, os quais foram essenciais para que a Europa se
Filosofia da história 13

caracterizasse segundo sua visão de mundo que, mais tarde, se


demostraria; filosofia da história que transpassa o pensamento
Europeu dando-lhe identidade.
Bobbio recorre a Aristóteles para se fazer
compreensível no que diz respeito ao cenário Europeu. São
distinguidas várias formas de governo monárquico, no
terceiro livro da política, justificando que há povos que são
por natureza escravos, servis, sendo inevitável um governo
tirânico legitimado. Um caráter natural do despotismo é
colocado em evidência, que seus súditos aceitam seu senhor
sem qualquer resistência, sem lamentações; enquanto os
tiranos mandam e desmandam em seus súditos descontentes
com seu poder. A teoria de Aristóteles em relação ao
despotismo se afirma em três pontos: o primeiro são povos
bárbaros, servis, povos do Oriente; em segundo, a relação do
pode ser estabelecida onde houver povos servis, de maneira
natural; terceiro o governante e os governados são como
senhor e escravo.
A monarquia europeia se distingue das monarquias
orientais, pois o governante europeu é limitado pelos
resquícios de ordens aristocráticas, ou seja, ele governa um
povo livre.
Bobbio acredita ser importantíssima a observação de
Maquiavel em relação às formas de governo e, por isso, faz
referência a duas formas de governo presente na obra O
príncipe. Mostra a diferença de governanças e o principal; o
povo é quem dará corpo e características ao governo.
Bobbio fala sobre a sublimação eurocêntrica histórica
da filosofia da história de Hegel como a realização
permanente pela liberdade. Havendo oposição entre o
Oriente e Ocidente, liberdade-despotismo, Bobbio diz
considerando a reflexão de Hegel: “no oriente um só era livre,
no mundo clássico poucos eram livres, no mundo moderno
todos são livres”. (Bobbio, p.646) Sendo assim a história da
14 A teoria geral da política...

liberdade se dá na Europa e, por isso o espírito europeu se


espalhou pelo mundo.
A ideia de que a Europa foi o progresso do
desenvolvimento civil é porque ela é parte da concepção
progressiva da história, uma ideologia sustentada pela
modernidade que faz do progresso europeu ser espalhado e
aderido por muitos. A ideologia europeia carrega uma
dicotomia presente na vida de muitos, na particularidade dos
povos sendo: liberdade-despotismo que é igual, progresso-
imobilidade.
Bobbio estudou a obra de Carlo Cattaneo que é
intérprete da ideologia europeia e pode identificar
importantes movimentos essenciais dessa ideologia. A
começar por duas ideias: a primeira da oposição liberdade-
despotismo, a segunda da oposição progresso e estabilidade
que resulta uma nova concepção fazendo da Europa
fomentadora das nações adormecidas.

[...] nasce a convicção de que a tarefa da Europa é despertar


as nações adormecidas no longo sono dos regimes
despóticos, tarefa para cuja designação se utiliza da
metáfora do “enxerto”, a ponto se censurar os europeus
“que quanto menos tem, menos cuidam da arte divina de
insinuar entre os bárbaros costumes o enxerto de uma
possível cultura (BOBBIO, 2000, p. 647).

O despotismo pode ser visto em duas tradicionais


maneiras; poder sacerdotal e poder militar com traços
marcantes: uniformidade das ideias transmitidas, unicidade de
quem tem poder, exclusividade do princípio inspirador. Ao
pensar sobre a origem do despotismo Cattaneo acredita que
sua origem vem do sistema cultural, regimes sacerdotais, e
pelo sistema institucional, regimes militares, período da
história de negatividade. No entanto esse período despotismo
despertou aos povos o princípio de civilização europeia que
se difundiu entre eles.
Filosofia da história 15

Ao longo da história sociedades ideais foram pensadas


com um único intuito, facilitar a vida dos homens através de
uma industrialização, máquinas, que proporcionaria a
sociedade uma melhor condição de vida. De outro lado havia
os grupos que diziam não a uma industrialização com a
iniciativa de que permanecessem da maneira que estavam,
levando a vida socialmente sem indústrias e sem máquinas,
alegando que estariam livres. Bobbio vê que as sociedades
buscam incessantemente a felicidade e por este motivo
fizeram grandes coisas como: voo, viagem a lua, navegação
pelo fundo do mar. Mas mesmo tendo acontecido estes fatos
grandiosos a sociedade sente-se com falta de felicidade, isto,
sonham com uma felicidade plena a qual não pode ser
alcançada porque se o for a vida perde seu brilho, talvez o
sentido da vida possa ser uma eterna busca pela felicidade.
Bobbio quando aborda a sociedade e seus aspectos
relevantes os acontecimentos, as vontades, frutos da
investigação, identificou duas divergências no meio social; o
universo ético-político que são os desejos do povo e suas
realizações e o universo técnico-científico que se caracteriza
pela idealização, são dois mundos distintos que querem
ganhar espaço entre os homens, mas que nem sempre podem
ser concretizados, por serem pensamentos de grupos
fechados ou que simplesmente não saem do papel.
Bobbio e outros pensadores criticam a ideia de que os
homens tenham direitos porque o meio social defende algo
inexistente, direito do homem, dizendo que os homens
possuem direito os quais não são evidentes, mas que por
defenderem tal direito que na verdade é só uma
instrumentalização de uma investigação civil, manipulam uma
sociedade inteira. Segundo Bobbio um respeitado filósofo
contemporâneo diz: é indubitável que os direitos do homem
são uma das maiores invenções da nossa civilização, pior
ainda era para os homens das civilizações passadas. Walter
Kasper, bispo e escritor, disse: Os direitos do homem
16 A teoria geral da política...

constituem nos dias de hoje um novo ethos mundial, isto é,


uma grande invenção da sociedade. O homem é iludido pela
sociedade de que ele é livre e possuidor de direitos, mas na
verdade os homens são fadados ao sistema em que estão
inseridos e seus direitos é cumprir com as normas já
estabelecidas.

REFERÊNCIA

BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de


Janeiro, 2000.
II

O PRIMADO DOS DIREITOS


SOBRE OS DEVERES

Gustavo Rohte de Oliveira

Kant nos introduz um grande e complexo


questionamento quando se pergunta: “se o gênero humano
estaria em constante progresso em direção ao melhor”1, após
grade reflexão o próprio Kant responde afirmativamente. Um
grande sinal do progresso humano é o entusiasmo suscitado
pela Revolução Francesa, que é, sem mais nem menos, o lutar
por uma constituição civil que fosse considerada boa pelo
povo. Para Kant, aquele que são sujeitos a lei são chamados a
reunidos também legislar.
Bobbio segue as linhas de pensamento de Kant, ao
afirmar que o homem tem direitos. Tais direitos que podem
ser inatos, ou seja, aqueles direitos transmitidos a todos os
homens pela natureza, ou os direitos adquiridos que são
transmitidos pela autoridade constituída. Para os autores
citados, a liberdade, “independência de qualquer coerção
imposta pela vontade de um outro”2 é o único direito inato.
Seriam validas a as considerações sobre o progresso
humano de Kant, visto que esse viveu na transição dos séculos
XVIII e XIX e não conheceu, não presenciou e nem viu as
duas grandes guerras mundiais do século XX? Não seria de
esperar que o progresso cientifico e o progresso moral
andassem de mãos dadas? “Hoje, sobre o progresso triunfante
da ciência e da técnica, não temos dúvidas. Sobre o

1 BOBBIO, Norberto. O primado dos direitos sobre os deveres; In:


IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 475.
2 Ibidem, p. 476.
18 A teoria geral da política...

concomitante progresso moral, ao contrário, seria melhor


suspender qualquer juízo”3.
Ao analisarmos os códigos de leis antigos como o
Decálogo, que por muito tempo foi interpretado como lei
natural, o código de Hamurabi e as leis das XII tábuas
percebemos que além das leis serem sempre normas
imperativas de cunho positivo ou negativo (dever ou não
dever fazer) os termos dever e direito são tomados como
inseparáveis, pois não pode existir dever sem direito.
Sendo os direitos e deveres faces de uma mesma
moeda percebemos que por muito tempo a moeda esteve com
a face dos deveres voltadas para cima e a face dos direitos
velada. A promulgação dos direitos do homem foi a inversão
da moeda, ou seja, “que o problema começasse a ser
observado não mais apenas do ponto de vista da sociedade,
mas também do ponto de vista do indivíduo”4. Esta reversão
de pensamento demonstra um especial respeito pela pessoa
que já estava presente na doutrina cristã e de certo modo leva
a ética cristã há uma secularização.
As leis são necessárias para a instauração do governo,
muito mais importante é garantir os direitos que os cidadãos
possuem. Mas qual seria o estado anterior a instauração do
estado moderador dos direitos e deveres? Locke afirma:

Para bem compreender o poder político e derivá-lo da sua


origem, deve-se considerar em qual estado se encontram
naturalmente todos os homens, e esse é um estado de
perfeita liberdade de regular as próprias ações e dispor das
próprias posses e da própria pessoa como se acredita ser o
melhor, dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir
permissão ou depender da vontade de ninguém mais.5

3 Ibidem.
4 Ibidem, p. 477.
5 LOCKE apud Ibidem, p. 478
O primado dos direitos... 19

No caso de Locke, ao se referir ao poder político, se


tem um poder muito mais voltado para a figura do governante
do que dos governados que se rebaixam a somente obedecer.
Esta forma tradicional de conceber o poder político perdurou
por toda a Idade Média e na Modernidade (como é o caso de
Locke). Bobbio ressalta que durante esses períodos a
discussão da filosofia política se reservava somente em julgar
a eficiência do governo e responder a perguntas: “como
conquistar o poder, e como exerce-lo”6 entre outras.
Perante tal concepção, o autor considera que “o
indivíduo é essencialmente um objeto de poder ou no máximo
um sujeito passivo” que possuem mais deveres do que
direitos, que entre todos, o dever de obedecer às leis é o mais
importante.
Aparecem também aqueles que partindo de uma
doutrina dos direitos naturais pressupõem uma concepção
individualista. O individualismo político gera uma sociedade
totalmente desiquilibrada e de constantes conflitos. Para
Hobbes “no estado de natureza só há indivíduos sem ligações
entre si, cada qual fechado na sua própria esfera de interesses
em oposição aos interesses de todos os outros”7. Para
Lamennais esta concepção individualista destrói a obediência
e o dever e com isso o poder e o direito.
Se formos ao fundo desta teoria política
perceberemos que “o individualismo é a base filosófica da
democracia: uma cabeça, um voto. ”8 Nos tempos atuais os
cidadãos imersos na cultura do individualismo político jugam
a totalidade de um estado pela simples opinião pessoal. Ou
seja, os cidadãos modernos escolhem o seu governante, mas
não o governante para o estado, por isso é de se considerar ao
menos razoável, que o governante se dê o direito de governar

6 Ibidem, p. 478.
7 Ibidem, p. 479.
8 Ibidem, p. 481.
20 A teoria geral da política...

ao seu modo e muitas vezes buscando seus interesses


pessoais.
A liberdade para julgar e decidir, levando em
consideração o indivíduo ou o todo, só é possível porque
advém do reconhecimento dos direitos do homem. O direito
dos homens, primeiramente aparecido entre os séculos XVII
e XVIII, já avançou muito, porém ainda não cumpriu o seu
dever principal que é criar uma sociedade de livres e iguais.
A fé jusnaturalista é considerada por Meinecke como
a “estrela polar”, ou seja, um ponto fixo de esperança no
horizonte da sociedade. Na Carta das Nações Unidas
encontramos: “a fé nos direitos fundamentais do homem, na
dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade dos
direitos dos homens e das mulheres, e das nações grandes e
pequenas”9.
Com a afirmação dos direitos do homem e a escrita
das constituições liberais percebemos a mudança dos direitos.
Por exemplo, como afirma a constituição italiana, no seu
artigo 2º: “A República reconhece e garante os direitos
invioláveis do homem”10. A mudança dos direitos é de cunho
interpretativo. Agora os direitos naturais passam a ser direitos
positivos, afirmados politicamente.
Em segundo lugar vemos uma “evolução contínua”
que acontece até os tempos atuais. Dentre inúmeras
conquistas citamos: o direito de associação, reconhecimento
dos direitos políticos, voto feminino, a transformação do
estado liberal em um estado democrático e, a mais importante,
a introdução dos direitos sociais criando um estado
democrático social.
Nos tempos atuais, vivemos uma terceira etapa na
história dos direitos dos homens, que se caracteriza
justamente sob o debate dos mesmos e da sua universalização.

9 Ibidem.
10 Ibidem.
O primado dos direitos... 21

Uma quarta etapa deste processo grandioso e belo é,


como caracteriza Bobbio, a especificação dos direitos. Bobbio
afirma:

A expressão habitual “direitos do homem” já não é


suficiente. É demasiado genérica. Que homem? Desde o
início foram diferenciados os direitos do homem em geral
dos direitos do cidadão, no sentido de que ao cidadão
podiam ser atribuídos direitos ulteriores em relação ao
homem em geral. Mas uma ulterior especificação tornou-
se necessária à medida que emergiam novas pretensões,
justificadas com base na consideração de exigências
especificas de proteção, seja em relação ao sexo, seja em
relação às várias fases da vida, seja em relação às condições
normais ou excepcionais, da existência humana. Daí, em
relação ao sexo, o reconhecimento de direitos específicos
das mulheres em relação às diferentes fases da vida, as
particulares providências, sejam nacionais, sejam
internacionais, para a infância e para os idosos; em relação
as condições normais ou excepcionais, a particular atenção
dirigida aos direitos dos enfermos, dos deficientes, dos
doentes mentais e assim por diante.11

Todas os avanços ou especificações são conquistas da


sociedade mundial e uma revisão constantes da ideia original
que aceita que os homens e mulheres tem direitos. Ao mesmo
tempo que denotam um avanço, notamos simultaneamente
uma dificuldade maior de se garantir e proteger esses direitos,
pois como sabemos o ideal são simples palavras colocadas no
papel, mas o real é a sua aplicação de fato. Para Bobbio o
progresso moral não deve ser medido pelas palavras que
garantem os direitos, mas sim pelos fatos. Bobbio ainda
brinca com o ditado popular “de boas intenções o inferno está
cheio”. Não basta garantir, é necessário trabalhar para que as
palavras se tornem verdadeiramente direitos.

11 Ibidem, p. 482-483.
22 A teoria geral da política...

O autor considera que o mundo só verá a paz e a


liberdade de fato, quando percorrermos o caminho para tal,
enquanto isso já alcançamos muitos direitos, entre os já
citados Bobbio adiciona a liberdade de culto (primeiro direito
depois das guerras religiosas) o direito à privacidade e à tutela
da própria imagem.

2.1 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS


DO HOMEM;

A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi


adotada e proclamada no dia 10 de dezembro de 1948,
durante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Suas
primeiras e mais marcantes palavras, contidas no artigo I,
declaram: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e
devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade”12.
Tal afirmação que está longe de ser nova, remonta à
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789
que afirma: “os homens nascem e permanecem livres e iguais
no direito” e também à Declaração da independência dos
estados americanos de 1776 que afirma:

consideramos incontestáveis e evidentes em si mesmas as


seguintes verdades: que todos os homens foram criados
iguais, que eles foram dotados pelo criador de certos
direitos inalienáveis, que entre esses direitos estão, em
primeiro lugar, a vida, a liberdade, e a busca da felicidade13

12 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em:


<http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em:
07/12/2017, Art. 1.
13 Declaração da independência dos estados americanos, 1776, apud

BOBBIO, Norberto. A declaração universal dos direitos do homem; In:


IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 484
O primado dos direitos... 23

Nas afirmações, aparecem duas palavras muito


importantes. A Liberdade e a Igualdade que merecem, pelo
grau de relevância serem tratadas separadamente e em
seguidas debatidas. Liberdade é o estado de regulação das
próprias ações e das disposições das próprias posses e das
próprias pessoas como julgar ser melhor. Já a Igualdade é a
constatação de que indivíduos da mesma espécie, nascidos
com as mesmas vantagens naturais e com o mesmo uso de
suas faculdades devem ser iguais entre si sem nenhum tipo de
hierarquização imposta.
O fato é que, de relance, podemos pensar que não
somos livres, e nem tão pouco iguais, pois é muito fácil,
perceber que um indivíduo não pode agir como quer se temos
leis que nos controlam, não pode utilizar de posses advindas
de uma operação ilícita, não pode manipular pessoas sendo
essas portadoras de direitos e de uma tal liberdade.
Hipoteticamente, um indivíduo pode não se considerar igual
ao outro, devido a diferenças culturais, aquisitivas, sociais,
naturais, ou das faculdades. Assim não posso considerar que
um indivíduo branco, pobre, cristão, deficiente físico,
residente no Brasil, seja igual ao um negro, rico, mulçumano,
sem deficiências, residente em Dubai.
De certo modo um indivíduo livre, possui liberdade
de expressão que o qualifica a identificar a diferença no outro.
Superficialmente vemos que a liberdade destrói a igualdade.
Bobbio acredita que a primeira parte da expressão: “Todos os
seres humanos nascem livres e iguais”14 não é a descrição de
um fato, mas a prescrição de um dever que não pode ser
tomada ao pé da letra, mas que os seres humanos “devem”
ser tratados como se fossem livres e iguais.
Outro problema pode ser constatado ainda na
segunda parte da expressão que afirma: “[...] são dotados de

14 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em:


<http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em:
07/12/2017, Art. 1.
24 A teoria geral da política...

razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros


com espírito de fraternidade”15, mas bem sabemos que uma
porcentagem dos indivíduos do mundo, mesmo que dotados
do adjetivo de seres humanos, não são dotados de consciência
como é o caso das pessoas com deficiências mentais ou em
situações que a esses assemelhem. Seria possível afirmar então
que tais indivíduos não possuem direitos? Novamente
devemos interpretar que todos os que tem consciência são os
sujeitos do direito e aqueles que não são dotados de
consciência são objetos do direito do outro.
Mas o conceito de liberdade e igualdade não se
conserva como sempre o foi, mas sofreram e sofrem ainda
hoje uma mudança constante. A liberdade por exemplo no
seu significado tradicional não passava de um não-
impedimento, ou seja, a liberdade consistia em não ser
impedido de fazer o que lhe agradasse ou ainda fazer tudo o
que não fosse proibido por lei como expressou Montesquieu
quando afirmou que liberdade é fazer tudo o que as leis
permitem ou como defendido por Hobbes que considerava
que liberdade é agir segundo a natureza e não ser impedido
por forças externas.
Com os contratualista a mudança na interpretação do
conceito de liberdade é visível, pois liberdade não pode ser
mais entendida como não-impedimento, mas como
autonomia, ou seja, dar leis a si próprio. Rousseau como um
bom contratualista afirma no Contrato Social que “a
obediência à lei que se estatuiu a sim mesma é liberdade”16
A transformação da liberdade negativa, como era
encarada até então, que depende de forças externas para a
liberdade positiva que é ter o poder e os recursos necessários
para suas ações, ou seja, considerar a liberdade como auto

15Ibidem.
16 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Abril Cultural: São
Paulo, 1983, p. 37.
O primado dos direitos... 25

realização pode ser considerada como uma segunda


transmutação do conceito tradicional de liberdade.
Para Bobbio atualmente:

A imagem do homem livre apresenta-se como a imagem


do homem que não deve tudo ao Estado porque sempre
considera a organização estatal como instrumento e não
como final; participa diretamente ou indiretamente da vida
do Estado, ou seja, na formação da chamada vontade geral;
tem poder econômico suficiente para satisfazer algumas
exigências fundamentais da vida material e espiritual [...].17

Assim, quando se diz que o ser humano é livre deve-


se ter em mente ao menos três direitos: O primeiro, ter a
esfera da vida pessoal protegida, como por exemplo e
liberdade de religião e de pensamento (garantidas nos artigos
7-10 da Declaração Universal). O segundo, de poder
participar da formação das leis direta ou indiretamente
(garantida no artigo 21) O terceiro, de ter bens próprios que
lhe proporcionem uma vida digna (garantida nos artigos 22-
27).
Também o conceito de Igualdade passou por seguidas
mudanças. Bobbio pressupões que para o exercício da
igualdade são necessários dois pequenos questionamentos.
Igualdade em quê? Para a Declaração “em dignidade e
direitos” sendo os direitos aqueles que a própria Declaração
citará a frente, sendo assim todos são iguais no que se refere
ao porte desses direitos fundamentais.
E entre quem? O princípio da igualdade defende um
tratamento igual para os integrantes de uma mesma categoria
pré-estabelecida. Mas a quem é reservado o dever ou o direito
de estabelecer estas categorias? Que critérios se deveria
utilizar? Poderia se categorizar os indivíduos por mérito?

17BOBBIO, Norberto. A declaração universal dos direitos do homem; In:


IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 490.
26 A teoria geral da política...

Necessidade? Condição? A declaração afirma que todos os


seres humanos são iguais significando que todos os seres
humanos são pertencentes a uma mesma categoria.
O artigo 2 afirma:

Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e


as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção
de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.18

Tal afirmação que coloca em uma única categoria


todos os seres humanos é histórica, pois para Bobbio,
demonstra uma equiparação entre diferentes e uma
eliminação das antigas discriminações sem contar que trata a
todos como seres humanos e não como cidadãos como trazia
a constituição Italiana “Todos os cidadãos têm igual...”19. Por
mais que todos os cidadãos sejam seres humanos uma
constituição como esta poderia não dar o direito de cidadania
a todos, excluindo, talvez, alguns indivíduos.
As maiores transformações do conceito de igualdade
são perceptíveis quando se olha ao passado e se percebe que
muitas das discriminações injustas vem sendo erradicadas.
Entre as discriminações Bobbio as divide em três grupos: em
primeiro lugar as naturais (raça, cor e sexo), em seguida as
histórico-culturais (religião, opinião política, nação, língua e
classe social) e por último as jurídicas (status político ou civil).
A partir da percepção das hipotéticas diferenças pode-
se chegar a discriminações por um processo, dito mental por
parte de Bobbio, que se inicia propriamente quando se dá a
constatação de alguma diferença entre dois grupos (fase 1) e

18 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em:


<http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em:
07/12/2017, Art. 2.
19 BOBBIO, Norberto. A declaração universal dos direitos do homem; In:

IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 493.


O primado dos direitos... 27

por isso considerar que um grupo é superior a outro (fase 2)


e dar-se o direito de oprimir os integrantes do grupo que se
julga ser inferior (fase 3).
Bobbio ilustra este esquema mental utilizando-se um
fator que, em muitas sociedades e em muitos casos é alvo de
discriminações. A raça.

Que existam diferenças de raça entre diferentes grupos


humanos é um mero juízo de fato e que não implica ainda
qualquer discriminação; que essas diferenças sejam vistas
como reveladoras da superioridade de uma raça sobre a
outra já é um juízo não deriva necessariamente a
discriminação (poder-se-ia, por exemplo, sustentar que a
raça considerada superior tem o dever de ajudar, proteger,
educar, a raça considerada inferior); a discriminação racial
(o racismo) nasce apenas em um terceiro momento, isto é,
quando se sustenta que a raça superior tem o direito,
exatamente porque superior, de oprimir ou, no limite de
aniquilar a raça inferior.20

Esta exemplificação, nos permite perceber que a


discriminação, seja ela sobre qualquer diferença nunca se dará,
de fato, na primeira fase; até mesmo porque a nossa liberdade
de expressão nos dá este direito. Dependendo de como se
interpreta a superioridade presente na segunda fase, o
preconceito pode ou não estar presente, mas sem dúvidas,
sempre na terceira fase a discriminação estará a machucar o
outro.
A Declaração condena no artigo II, mesmo que não
diretamente o racismo, a disparidade de sexo, a intolerância
religiosa, o fanatismo político, opressão nacional e colonial e
o domínio de uma classe sobre a outra. Mas pode-se também
constatar que infelizmente todas essas discriminações fazem
parte da história humana e mesmo perante um cenário de

20 Ibidem, p. 494.
28 A teoria geral da política...

constantes conquistas de igualdade soa como o desabafo a


frase de Bobbio: “mas como é longo ainda o caminho!21 ”.
Bobbio teme chegar o tempo em que novas formas de
discriminação surjam ou ainda que algumas discriminações
históricas, presentes até hoje, continuem sendo moralmente
aceitas como a superioridade dos adultos perante as crianças.
Enfim, a unidade do gênero humano defendida na
mais magnifica assembleia política que a história até então
registrou que consiste em “um dos princípios fundamentais
da mensagem cristã e um dos pontos cardeais da concepção
socialista do homem e da história22” tem na declaração um
enorme potencial de se tornar real e soberana em todos as
nações.

2.2 OS DIREITOS, A PAZ E A JUSTIÇA SOCIAL;

2.2.1 Os direitos do homem e a paz

Quais seriam os problemas fundamentais do nosso


tempo? De fato, percebemos que os problemas do direito do
homem e o problema da paz ainda não estão por completos
resolvidos, e outro fato é que se ambos não se resolverem
logo, podemos arcar as consequências, visto que a
sobrevivência do homem depende da paz e o progresso civil
provém unicamente dos direitos do homem.
Bobbio prefere pensar os problemas juntos, como se
fosse um único desafio da sociedade, pois, “um não pode ficar
sem o outro”23. Tal consideração bobbiana decorre de uma
correta interpretação de alguns documentos feita por ele.

21 Ibidem, p. 494.
22 Ibidem, p. 495.
23 BOBBIO, Norberto. Os direitos do homem e a Paz; In: IDEM. Teoria

Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 497.


O primado dos direitos... 29

A Carta das Nações Unidas faz memória do “flagelo


da guerra”24 vivenciado em dose dupla no século XX, para
apelar a necessidade da paz e clama “a fé nos direitos
fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa
humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres,
e das nações grandes e pequenas”25 para o progresso da
humanidade.
O caminho para a paz e o progresso humano seria o
reconhecimento da dignidade e dos direitos do ser humano
com afirma a Declaração Universal dos Direitos do Homem,
que constitui “o fundamento da liberdade, da justiça, e da paz
no mundo”26
Também a Conferência de Helsinque contribuiu para
melhorar as relações entre as nações participantes (33 estados
europeus, EUA e Canadá) afim de “assegurar condições nas
quais seus povos possam gozar de uma paz verdadeira e
duradoura” e a proteção dos direitos do homem.
Após tal analise desses três documentos importantes,
pode-se comprovar de que de fato esses são os principais
problemas do nosso tempo e que precisam serem tratados
com a verdadeira maturidade da razão humana. Se existissem
alguns céticos que duvidassem da razão humana - fato que
provavelmente nunca ocorreria, pois, a dúvida é também um
movimento da razão – facilmente poderiam achar argumentos
que sustentassem sua hipótese com a verdadeira ausência de
razão presente nas afrontas às nações vizinhas” pela busca do
poder e à dignidade humana que são tão atacados.

24Ibidem, p. 497.
25 ONU. Carta das nações unidas. Disponível em:
<http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf>. Acesso
em: 07/02/2017, Preâmbulo.
26 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em:

<http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em:


07/12/2017, Preâmbulo.
30 A teoria geral da política...

Bobbio apresenta alguns argumentos para sustentar a


indissolubilidade da união entre paz e direitos do homem. Tais
argumentos apresentamos a seguir:
1. Sendo o direito à vida um direito primário previsto
no art.3 da DUDH que rege “todo indivíduo tem direito a
vida”, na ausência da paz, ou seja, a guerra este direito se esvai
e ainda toda nação em guerra pede aos seus concidadãos o
sacrifício da vida pela nação. Logo, percebemos que sem a paz
não há direito a vida.
2. Em uma situação de guerra efetiva diz-se: Inter arma
silent leges, ou em uma tradução um pouco forçada, “entre arma
as leis se calam”. Essa triste realidade se concretiza quando
em meio à guerra, além de se desconsiderar o direito à vida,
também se suspende a defesa do direito de liberdade, que
nesse caso um governo pode até se tornar tirânico.
3. Os direitos do homem também são ameaçados nas
ameaças de guerra, ou seja, estado de guerra potencial. A
guerra fria como chamamos. Nestes momentos, até mesmo
as democracias podem se tornar despóticas e o direito de
sobrevivência do grande Estado prevalece sobre o direito de
liberdade da nação menor.
4. A soberania dos Estados sobre os direitos é que
abre as portas para a guerra e a quebra dos direitos. Para
Bobbio:

Os direitos do homem só poderão ser verdadeiramente


garantidos quando forem criados os instrumentos
adequados para garanti-los não só no interior do Estado,
mas também contra o estado ao qual o indivíduo pertence27

Deste modo, ele vê a necessidade de proteger-se do


próprio estado que por vezes pode tornar aos modelos
tirânicos contra sua própria população.

27BOBBIO, Norberto. Os direitos do homem e a Paz; In: IDEM. Teoria


Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 500.
O primado dos direitos... 31

5. Todo indivíduo humano, além do direito à vida, tem


o direito de ter o mínimo indispensável para a manutenção da
vida. O princípio não matar deveria ser interpretado como,
não deixar que as pessoas passem por dificuldades (fome,
sede, saúde e etc.) e por isso venham a morrer. O fato é que
os nem todos os países são homogêneos no quesito de renda,
há os que tem muito e gastam com o supérfluo e os que tem
pouco e não conseguem dar o necessário. Bobbio reflete:

As somas necessárias para dar a cada habitante do mundo


o alimento, a água, a educação, os cuidados e as moradias
necessárias foram estimadas em dezessete bilhões de
dólares. Certo, é enorme. Mas é aproximadamente aquilo
que o mundo gasta em armamentos a cada quinze dias.28

Assim Bobbio finaliza, defendendo uma solução


pertinente e acima de tudo possível, não é uma utopia, é a
solução posta à frente dos que podem fazer a situação
melhorar. Já que as armas não servem para nada, a não ser
para a guerra, porque não as usas para mudar o mundo?
Infelizmente, enquanto houver a guerra, este
problema - que na visão de Bobbio é a ferida do mundo – não
terá solução. A paz e os direitos só são garantidos quando o
mundo perceber que a ganancia, o poder, o dinheiro não são
as maiores riquezas que o mundo pode oferecer.

2.2.2 Sobre os direitos sociais

A maioria dos direitos que são apresentados na


Declaração Universal dos Direitos Humanos são de cunho
individual, mas o homem, como bem recordou Aristóteles na
Política, é um “animal político”. Aristóteles soube observar
que o homem por si não se basta, ele necessita do outro e por

28 Ibidem, p. 501.
32 A teoria geral da política...

isso é que se constitui em sociedade e por isso também a


Declaração de 1948 prevê direitos sociais.
Na história percebemos que esses direitos, ditos
sociais, foram sendo deixados de lado não só pelos governos
de direita, como se é de praxe, onde se dá maior valor aos
direitos de liberdade e a liberdade econômica, mas também,
pelos esquerdistas devido à queda ou ainda a baixa estima de
muitos de seus governos, que pelo contrário deixavam de lado
os direitos de liberdade.
Que triste realidade constatada! Um governo
supervaloriza e defende um determinado direito e outro o
renega. Os governos parecem não conseguir colocar em
prática a brilhante ideia aristotélica do meio termo ou da
temperança. Motivos? Somente um: ideologia.
Já sabemos que o homem não é somente pessoa moral
(portador de direitos de liberdade), mas também pessoa social
(portador de direitos sociais ou de justiça) e entre esses se
encontra os direitos políticos. Essa rede sustenta a
democracia, como defende Bobbio: “pode-se dizer
sinteticamente que a democracia tem por fundamento o
reconhecimento dos direitos de liberdade e como natural
complemento o reconhecimento dos direitos sociais ou de
justiça”29. É preciso conceituar que os direitos individuais são
inspirados nos valores primários de liberdade, enquanto os
direitos sociais baseados nos valores de igualdade.
Deste modo vemos as democracias pós-guerra,
podem ser nominadas liberais e sociais simultaneamente.
Passamos de uma democracia liberal à uma democracia social.
Em países como Espanha, Itália, França as constituições
exprimem uma preocupação com os direitos sociais, a justiça
e o trabalho.
Sobre este último a constituição italiana afirma
categoricamente: “a República reconhece a todos os cidadãos
29BOBBIO, Norberto. Sobre os direitos sociais; In: IDEM. Teoria Geral
da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000, p. 502
O primado dos direitos... 33

o direito do trabalho e promove as condições que tornem


efetivos esse direito”. Vemos que o trabalho deve ser
garantido a todos, sem distinções e o estado deve ser o
responsável de prover as vagas de emprego e que as condições
de trabalhos sejam dignas dos cidadãos.
Quais são os direitos sociais previstos na Declaração?
Entre todos os direitos previstos ressaltamos alguns que são
mais importantes para a sociedade: 1) o direito à segurança
social previsto no Art. 22 que afirma: “Todo ser humano,
como membro da sociedade, tem direito à segurança social”30;
2) o direito ao trabalho garantido pelo Art. 23 “Todo ser
humano tem direito ao trabalho”31 sendo que a este direito
incluem-se a garantia de boas condições de trabalho,
remuneração justa e igualitária sem discriminações e de
formação de sindicatos; 3) o direito à educação previsto no
Art. 26 “Todo ser humano tem direito à instrução”32 sendo
esta gratuita nos anos básicos a fim de promover a tolerância
e a amizade entre todos para a manutenção da paz.
De bom grado, é examinar os direitos sociais previstos
na constituição brasileira de 1988, que em 2015 recebeu a
emenda que afirma no Art. 6º:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o


trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.33

30 ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em:


<http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em:
07/12/2017, Art. 22.
31 Ibidem, Art. 23.
32 Ibidem, Art. 26.
33 Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, Art. 6º. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>
. Acesso em: 07/02/2017.
34 A teoria geral da política...

Agora cabe-nos faze uma avaliação desses direitos e


dentre todos cito o desemprego e a educação, pois de certo
modo estão interligadas. O fato é que mesmo com o direito
de se haver trabalho a todos para que cada homem seja o
responsável de sua manutenção, não muda muito a realidade
em si. Em certas regiões os problemas do desemprego são
reduzidos, mas em outras regiões a situação é pouco mais
complicada.
Segundo dados fornecidos pela mídia, no último mês
de 2016, 12 milhões de pessoas estavam sem emprego34 no
Brasil. Diz o noticiário “a taxa de desocupação no Brasil
atingiu exatos 11,9%, a maior desde que o IBGE começou a
fazer essa pesquisa, em 2012”35.
Não seria de duvidar que estes números altíssimos
estariam ligados à falta de instrução? Sabemos que a educação
pública brasileira não se encontra no seu melhor período e por
mais que mudanças estejam sendo ensaiadas a situação não se
converterá tão breve. SEGNINI em seu texto “educação e
trabalho uma relação tão necessária quanto insuficiente”36
afirma:

A qualificação [...] expressa relações de poder no interior


dos processos produtivos e na sociedade; implica também
o reconhecimento que escolaridade e formação
profissional são condições necessárias, mas insuficientes,
para o desenvolvimento social. [...] nesse contexto,

34 JORNAL NACIONAL. Desemprego no Brasil atinge mais de 12 milhões, um


número recorde. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2016/12/desemprego-no-brasil-atinge-mais-de-12-
milhoes-um-numero-recorde.html>. Acesso em: 07/12/2017.
35 Ibidem.
36 SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Educação e trabalho: uma relação tão

necessária quanto insuficiente. Disponível em:


<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
88392000000200011>. Acesso em: 07/02/2017.
O primado dos direitos... 35

educação torna-se fundamental como um fim em si


mesma.37

Portanto, vemos que a educação é um dos quesitos


que influencia na taxa de empregos e que somente quando a
educação brasileira se tonar, ao menos, convincente teremos
uma redução no desemprego no Brasil.
Seria de bom grado citar também a situação atual dos
demais direitos constituídos (saúde, alimentação, moradia,
transporte lazer, segurança, previdência social, proteção à
maternidade e à infância e a assistência aos desamparados),
mas sabemos que temos muitos problemas, tantos que
poderíamos parodiar à João38: Temos muitos problemas. Se
fossem escritos um por um, penso que não caberiam em
poucos livros.

REFERÊNCIAS

BOBBIO; Norberto. A declaração universal dos direitos do


homem; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de
Janeiro, 2000.

BOBBIO; Norberto. O primado dos direitos sobre os


deveres; In: IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de
Janeiro, 2000.

BOBBIO; Norberto. Os direitos do homem e a Paz; In:


IDEM. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000.

BOBBIO; Norberto. Sobre os direitos sociais; In: IDEM.


Teoria Geral da Política, Campus: Rio de Janeiro, 2000.

37 Ibidem.
38 Cf. Jo 21, 25
36 A teoria geral da política...

BRASIL, República Federativa do. Constituição da República


Federativa do Brasil, 1988, Art. 6º. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/consti
tuicao.htm>. Acesso em: 07/02/2017.

JORNAL NACIONAL. Desemprego no Brasil atinge mais de 12


milhões, um número recorde. Disponível em:
<http://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2016/12/desemprego-no-brasil-atinge-
mais-de-12-milhoes-um-numero-recorde.html>. Acesso em:
07/12/2017.

ONU. Carta das nações unidas. Disponível em:


<http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pd
f>. Acesso em: 07/02/2017.

ONU. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em:


<http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>.
Acesso em: 07/12/2017.

ROUSSEAU; Jean-Jacques. Do contrato social. Abril Cultural:


São Paulo, 1983, p. 37.

SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Educação e trabalho: uma


relação tão necessária quanto insuficiente. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S0102-88392000000200011>. Acesso em: 07/02/2017.
III

PAZ E GUERRA

Eduardo Bartzen da Cunha

Ao entrarmos em relação com o fabuloso autor


Norberto Bobbio, primeiramente nos deparamos com uma
série de escritos que são ligados à área do direito e da política,
sendo ele um autor muito presente em assuntos
contemporâneos e atuais, tendo uma linguagem escrita sem
muita dificuldade de compreensão e uma vasta bibliografia de
base utilizada pelo mesmo.
No início de seus escritos sobre paz e guerra, que
estão presentes no livro teoria geral da política, ele apresenta
a definição do que é a paz e a guerra, expressando que os dois
são termos antitéticos e como por exemplo, vida-morte,
ordem-desordem, sendo representados de forma contraria
contraditora quando comparado ao outro

O conceito de paz está tão estreitamente ligado ao conceito


de guerra que os dois termos “paz” e “guerra” constituem
um exemplo típico de antítese, como análogos “ordem-
desordem”, “concórdia-discórdia”, harmonia-
desarmonia”. Dois termos antitéticos podem estabelecer
entre si uma relação de contrariedade, na qual um excluem
o outro e ambos excluem um terceiro, ou então
estabelecem entre si uma relação de contrariedade, na qual
um exclui o outro, mas ambos não excluem um terceiro.
(Bobbio, 2000, p.509)

Tanto o termo guerra quanto o termo paz se eliminam


mais na conjuntura de paz-guerra o meio termo é trégua na
conjuntura de guerra-paz o meio termo é guerra fria,
38 A teoria geral da política...

dependendo da conjuntura empregada temos a mudança do


meio termo, assim sendo, no caso paz-guerra, a trégua é tida
como uma não guerra com um direcionamento para a paz e,
no caso da guerra-paz, a guerra fria não é um combate de
guerra, mas também o estado de paz não está presente.

Quando por paz se entende o estado de não-guerra e por


guerra o estado de não-paz ora contrários, quando o estado
de paz e o estado de guerra são considerados como dois
estados extremos, entre os quais são possíveis
configuráveis intermediários, tal como, por parte da paz o
estado de trégua, que não é mais guerra mais ainda não é
paz e, por parte da guerra, o estado não-guerreada, do qual
é exemplo típico a chamada guerra-fria, que não é mais paz,
mas ainda não é guerra (BOBBIO, 2000, p. 511).

No que tange a força terminológica, a guerra é sempre


o termo superior, pois segundo Bobbio, a paz necessita da
guerra para existir, ou seja, o indivíduo só pode pensar ou
vivenciar a paz após passar por momentos de guerra e
tribulação, se não o estado de paz passa a ser somente uma
ideia imaginada que não será vivenciada.
Para o historiador Tucídides, uma das importâncias da
guerra são justamente o fato de ela existir, pois ao haver a
consumação da guerra, existira a possibilidade de relatos
históricos e também ocorrera mudanças significativas em
ambos o participastes da mesma. No acontecimento da
guerra, a mesma proporciona uma nova fase nos dois grupos
que se enfrentam e, como o acontecimento de uma guerra não
pode ser apagado da história, é possível representar a
mudança de fase que ocorre nos grupos em questão.
Bobbio, apresenta que a guerra é consequência da paz,
pois sempre pensamos a guerra como qualquer forma de
revolução, opressão e desordem, e como caminho contrário a
deserdem vem a ordem dita como paz, sendo apresentada
Paz e guerra 39

como uma possível solução e também como uma


consequência de uma revolução:

Partindo da constante que, dos dois termos do par, o termo


forte é a guerra e o fraco é a paz, estado de paz só pode ser
definido se definido primeiramente o estado de guerra.
Podemos dizer que existe um estado de guerra quando dois
ou mais grupos políticos encontram entre si em uma
relação de conflito cuja solução é confiada ao uso da única
(BOBBIO, 2000, p. 513).

Para determinarmos o que seja a paz é necessário que


antes apresentemos que seja a guerra, e simplificadamente o
estado de guerra existe quando dois os mais grupos estejam
com dificuldade de se entenderem entre si e, para sanar
qualquer rusga é obrigatória a utilização de força.
Quando é apresentado o termo força, devemos pensar
e força ou ação física, ou seja, quando é utilizado o contesto
de violência física capas de infringir sofrimento, tortura e
morte a outro indivíduo apesar de não existir semente este
tipo de violência.
Ao pensarmos violência, nos é apresentado duas
formas diferentes de gerar violência, uma dela é chama de
violência verbal, que é a violência mais praticada na sociedade
atual, na qual um indivíduo é capas de menosprezar ou se
colocara de forma superior ao outro e denegrir sua imagem
perante a sociedade. Mas também existe a violência física, com
frequência ela é praticada em toda a sociedade, mas seu valor
punitivo é muito maior do que a violência verbal, pois ele
agride fisicamente o outro indivíduo por determinadas
funções diferentes, algumas não tão ruim e outras sem
qualquer necessidade.

Para caracterizar a guerra como modo de solucionar


conflitos, não basta fazer referência ao uso da força
entendida como violência licita e autorizada. A guerra é
40 A teoria geral da política...

sempre em primeiro lugar uma força exercida


coletivamente: como tal, é tradicionalmente diferenciada
do duelo, que coloca frente a frente dois indivíduos ao qual,
todavia se assemelha porque, como duelo também a guerra
é um exercício de força disciplinado por regras e tem o
objetivo de resolver controvérsias através da razão das
armas (BOBBIO, 2000, 515).

Em primeiro lugar, a guerra sendo definida como uma


forma de usar a força bruto como forma de resolução de algo
não é resolver, mas sim obrigar e oprimir o outro indivíduo
ou grupo referente e, neste caso não teria nenhum tipo de
razão que defendesse este argumento.
Grande parte das guerras ou revoltas que acontecem
tem um proposito e, muitas vezes ocorre pelo fato de não
serem respeitadas as fronteiras, em outras palavras
ultrapassarem limites pressupostos, logo, o grupo em questão
invade uma local que não poderia ser invadido por ele
tornando ele irregular, mas isso não justifica a foto da
existência de guerra, mas somente como fundamento para a
existência de conflitos.

Um estado em relações internacionais antitético ao estado


de guerra, com frequência é definido negativamente, o
termo “paz” tem também um significado especifico, e
neste caso positivo, quando usado para indicar o fim e a
conclusão de uma determinada guerra (BOBBIO, 2000, p.
516).

Podemos de forma sintética dizer que o termo paz


pode ser dito com não guerra e, o termo guerra como o de
não paz, assim um existe por ganancia do homem e o outro é
o que pode ser tirado de bom de um conflito sanguinário que
gera atrocidades na memória e marcas para a vida toda.
No que tange a paz, existem dois tipos de paz
existente em uma sociedade que vivencia conflitos, a paz
positiva e a paz negativa, que são estruturas primordiais para
Paz e guerra 41

uma revolução cultural e que denotara segurança para os


atingidos:

Sobrepõe a ela uma definição positiva, que deriva de


entender extensivamente “paz” como negação tanto de
guerra quanto de violência. Diferenciando, portanto, duas
formas de violência pessoal na qual está incluída a forma
especifica de violência que é a guerra, e a violência e a
violência estrutural ou institucional que estringe duas
formas de paz (BOBBIO, 2000, p. 517).

Na paz positiva temos a descrição de uma sociedade


na qual não existe nem violência e nem guerra, ou seja, a paz
positiva é a ausência tanto da violência quanto da guerra. Já a
paz negativa, que por definição é a ausência de violência ou
qualquer tipo de conflito como por exemplo a guerra ela
também é a ausência da desigualdade e da injustiça,
principalmente social, dessa forma, não havendo desigualdade
social, a chance de acontecer uma guerra é bem menor do que
se existisse uma guerra.
Ao definirmos o que é a guerra e o que é a paz,
percebemos que em ambos os termos existe alguma ideia
moral presente, representado algo como sendo bom e outro
como sendo ruim. No caso do termo bom, vemos por
significado mais qualificado a paz, pois ela representa
tranquilidade, responsabilidade, valores que são fundamentais
para o não acontecimento de violência.
Já o termo cabível a guerra é o mal, tanto pelo fato da
guerra ser algo subscrito como violento e mal, quanto pelo
fato de nenhuma violência contra o outro ser algo bom. Algo
que faça sofrimento e gera mortes só poderá ser chamado de
mal, pois seu agravante extermina a vida.
Todo o juízo apresentado sobre algo, sempre será
feito a partir da perspectiva e da relação que o indivíduo que
está como juiz da situação apresenta perante sua vivencia com
42 A teoria geral da política...

o mesmo, ou seja, só pode ser dado juízo sobre a guerra e a


paz que já vivenciou na pele ambos os resultados.
Após a verificação de valores em ambos os termos,
podemos dizer que os mesmos termos também podem ser
pensados juridicamente, tanto a paz como sendo correta ou
certa, tanto a guerra como sendo errada e incorreta, mas a
partir disto temos várias ideias que tentam tornar a guerra algo
licito, dentre tantas o caso da guerra e direito, guerra de
segurança e progresso.
Na guerra e direito, no princípio da antítese existente
tratamos o direito como um conjunto de normas e deveres
que foram estabelecidos por alguma autoridade que foi
tomado a decidir de forma impositiva sobro o resto da
população, impedindo a sim a proliferação de conflitos num
âmbito de guerras.

O objetivo principal do direito, como foi dito, é estabelecer


a paz, mas para estabelecer a paz é preciso em certas
circunstâncias usar a força para trazer a razão a aqueles que
não respeitam as regras; nas relações internacionais e essa
força é a guerra (BOBBIO, 2000, p. 520).

Para garantir a paz entre países se torna obrigatório o


uso da força, é um tanto contraditória quando se pensa a
guerra como uma forma de prevenir a guerra trazendo paz,
pois os fins não justificam os meios, não se pode pensar em
paz utilizando da guerra como meio para alcançar
tranquilidade, pois isso seria uma imposição de algum estado
superior.
O estado, na tentativa de garantir a segurança de seus
habitantes, tem por direito punir os que ameaçam a segurança
de todos, mas essa punição é justamente para garantir que os
mesmos não pensem em acabar com a segurança de todos.
Quando pensamos no conceito de paz que é definido
como a ação logo após o fim da guerra, deixamos o termo mal
apresentado, dando a entender apenas uma parcela que esta
Paz e guerra 43

palavra tem a nos apresentar de modo que só nos referimos a


ela como uma palavra de não guerra:

Exatamente porque a paz foi sempre considerada a


negação da guerra, o problema da paz foi sempre colocado
como o problema de uma paz parcial que deveria pôr fim
a uma guerra parcial ou a um período limitado no período
da guerra em um lugar da terra, como fim de uma
determinada guerra ou de uma série de guerras limitadas,
não como fim de todas as guerras possíveis (BOBBIO,
2000, p. 525).

Grande parte do que diz respeito a paz está sempre


voltado ao sentido cristão da palavra, pois foi através de Cristo
que a mesma passou a ter um significado mais santo e que
demonstrava esperança e amparo quando pensado através de
Cristo.
A única forma existente de paz que podemos pensar
de forma mis completos seria com Hobbes, do qual apresente
a ideia de um estado onde todos estão contra todos, assim,
para que não haja nenhum tipo de guerra é necessário que
todos os indivíduos abram mão do egoísmo e passei a viver
pacatamente, apresentando assim a possibilidade de uma paz
perpetua e universal.
Neste estado apresentado por Hobbes, o individua
passava a deliberar para o estado o poder de passar a espado
todos os que tentassem transgredir qualquer tipo de infração
na tentativa de acabar com outro indivíduo pensando
somente em seu benefício próprio.
Dentre tantos motivos que são apresentados por
Bobbio como justificativa para a guerra temos: Teoria da
guerra justa: Belicistas e pacifista, guerra como um
procedimento judicial, guerra de defesa na era atômica, guerra
de defesa preventiva na era atômica, guerra como teoria
finalística, guerra como Progreso civil e técnico.
44 A teoria geral da política...

Na teoria da guerra justa: belicista e pacifista, entra-se


em cheque primeiramente o valor, pois, como nenhuma
guerra é igual a outra, cada valoração será diferente,
dependendo do motivo em questão, mas, para a guerra como
processo bélico podemos perceber que não faz sentido existir,
pois se um estado se armar contra o outro, o segundo também
se armara para se defender, consequente mente criara uma
mundo no qual todos estão armados, mas se todos os estados
se desarmassem, uma segurança muito maior iria existir.
Já pensando na ideia belicista, só que sendo pensada
de maneira inversa, traria a paz e deixaria um clima de falta de
preocupação presente em todos os habitantes, pois se
nenhum estado estiver com domínio de armamento, a chance
de acontecer a guerra é muito pequena.
Já na guerra como procedimento judicial, vemos uma
série de falhas, pois primeiramente, não pode ser dado o aval
de existência de uma guerra através da justiça, pois não ode
um estado ou um grupo de indivíduos decidir sobre a
existência e a necessidade de uma guerra
Se pensássemos a guerra como componente judicial,
em grande parte dos casos, a punição caberia ao mais fraco
que por vezes pode também ser o inocente, ao em vês de
punir o culpado, pois na guerra que é derrotado é sempre o
mais fraco.

A distinção entre situações nas quais os conflitos são


solucionados habitualmente com acordos e situações em
que em que os conflitos são solucionados até mesmos com
o uso da força corresponde a distinção com estados
agonístico, regido por regras substanciais e processuais que
preveem várias formas de conflito e os modos de sua
pacifica resolução (BOBBIO, 2000, p. 514).

Em todos os indivíduos, existe presente uma parcela


na qual seu ser é comandado por um espirito agonista, da qual
seu pensamento está voltado em resolver tudo através de
Paz e guerra 45

violência e com qualquer tipo de disputa, tornando o “homem


o lobo do homem” como é dito Hobbes em seus escritos.
Na guerra de defesa na era atômica, temos o que
podemos chamar de lato senso, na qual estra presente a
guerra, mas ainda não existe combate físico podemos também
chamar de guerra de armamento na qual a arma em questão é
toda nuclear e, ambos se enfrentam na circunstância de
armamento, ou seja, os mesmos se ameaçam em quantidade
de produção armamentista, e perdera que conseguir intimidar
o outro, neste caso se qualquer tipo de confronto físico.
Nesta modalidade de guerra bélica o perigo está
justamente ligado ao fato de a potência que conseguir mais
requisitos armamentícios e, a partir disso buscar superioridade
perante todos, justamente pelo fato dela ter uma capacidade
bélica superior à de qualquer outra potência.
Com esse caso de armamento nuclear, temos outra
modalidade de guerra existente, que seria a guerra de defesa
preventiva na era atômica na qual, o objeto de defesa em
questão busca a destruição do armamento do outro, em outras
palavras, o inimigo ataca o armamento do outro, para deixá-
lo sem suporte para a guerra, mas neste casso só é válida a
destruição no sentido nuclear, onde se desativa o armamento
do inimigo.
Este modo de prevenção da qual uma potência ataca
o armamento da outra, dentre as possibilidades, em pontos
aparenta não se tão prejudicial, mas o que acontece é que se
começarem a destruir o armamento de todos, o estado que
manter o seu percentual nuclear alto terá domínio sobre os
demais, neste caso, se todos os estados eliminassem seu
armamento traria um tratado de paz total, mas no momento
em que as relações são humanas, a chance de acontecerem
roubos e enganação é grande e terra qualquer tipo de forma
de enganação para aproveitar o fim do armamento.
Como sabemos, é muito provável que ocorram muitas
guerras, dentre as quais, destruirão muito a população, e na
46 A teoria geral da política...

teoria finalística, da qual nos encaminha para o fim, temos


comprovado que futuramente só os mais fortes sobreviverão,
ou seja, quando futuramente ocorrer muitos casos de
destruição em massa da população e essa teoria finalística vem
justamente para dar valor a guerra como uma forma de
escolher que sobrevive e, neste caso não seria uma escolha,
mas sim uma luta, da qual somente os mais fortes
sobreviverão.
Dando força e esta teoria, Darwin, o criador da
seleção natural dos mais fortes descreve, que no futuro
quando não existir comida e alimento para todos, somente os
mais fortes sobreviverão, mas qualquer juízo feito nesta ideia
demonstra que isto é negativo, todos os seres humanos têm
direito a vida, não se pode dar esse direito somente aos mais
importantes e fortes.

Não tenho qualquer dificuldade para perceber os limites da


busca de paz entendida exclusivamente como não-guerra.
Mas considero que o único modo de superar esses limites
seja tornando-nos conscientes, e dando-nos conta de que
o problema da paz é um dos grandes problemas que os
homens são conclamados a resolver de tempos em tempos
(BOBBIO, 2000, p. 517).

A problema de buscar a paz na sociedade vem se


agravando a cada período de existência, pois é muito mis fácil
lutar por seus direitos e conquistas do que buscar a paz e a
tranquilidade através de acordo, pois nos acordos a divisão é
metrada para todos ganharem a mesma quantia e, se existe a
luta perante o que está em disputa, a quantidade total será do
vencedor.
Não é de agora que todas as guerras acabam gerando
novas invenções para a sociedade e, Bobbio justamente
apresenta esse ponto, da qual as guerras garantem a sociedade
inovações e, a partir disto remonta um argumento que diz
respeito a quantas inovações poderiam ser criadas com novas
Paz e guerra 47

guerras, das quais o mesmo serve como incentivo para criação


de novas guerras e conflitos devastadores, mas com um
progresso evolutivo.
De forma alguma podemos pensar em uma maneira
de impulsionar a existência de outras guerras somente pelo
fato de elas trazerem desenvolvimento a sociedade em pouco
tempo, a pesar de que num período de guerra devido ao fato
da vontade por vencer, acabem forção aos estados uma
evolução e melhorias constantes para garantir a vitória:

Tanto o pacifismo democrático quanto o pacifismo


socialista podem ser inseridos na categoria mais ampla de
pacifismo institucional, vale dizer, naquela teoria ou
conjunto de teorias que considera como causa principal das
guerras o modo pelo qual são reguladas e organizadas as
relações de convivência entre indivíduos e grupos.

A paz só não existe em nossa sociedade atual pelo fato


de na educação ser destinada a violência, pois dês de pequenos
aprendemos que para sermos pessoas importantes
passaremos por cima de nossos colegas, e assim começa a
surgir o pensamento individualizado na mente de todos. O
pacifismo deveria ser apresentado inicialmente para nossas
crianças, para buscarmos uma solução para os próximos que
habitaram nosso lar.
O pacifismo democrático não visa a eliminação do
estado, mas a sua transformação, de modo que o poder dos
governantes seja controlado pelos governantes na confiança
ou na ilusão de que, se todos os estados fossem governados
democraticamente o conflito entre estados jamais chegaria a
fase final do conflito armado.
Para uma sociedade melhor, seria preciso mudanças
drásticas na sociedade, da qual reformada e com vinculação
de paz de todos os estados, a pacifismo poderia pairar sobre
a nossa vida, mas seria necessária uma reforma total, tanto de
48 A teoria geral da política...

pensamento como de leis e formas de viver que expressam a


atualidade.
Pensando de forma radical, Bobbio ousa dizer que
para termos a paz seria necessário que voltássemos ao paraíso
de adão e Eva e a nossa mancha de pecado fosse apagada de
nossa humanidade, podendo assim voltar a viver de forma a
colocarmos o pacifismo como ideia para nossa vida, mas,
sabemos que isso nunca vai acontecer, e assim esta explicito
que o homem nuca vivera em paz.
O que sabemos é que da sociedade atual, vivemos
somente de uma paz parcial e que não garante muita
segurança, pois a qualquer instante poderemos estar
vivenciando uma guerra em nossa sociedade, e grande parte
das vezes já vivemos em guerras absolutamente loucas que
nos fazem somente buscar nossos direitos ao em vez de
pensarmos um uma sociedade melhor.

REFERÊNCIA

BOBBIO; Norberto. A filosofia política. In: IDEM. Teoria


geral da política: a filosofia política e as lições clássicas. Rio de
Janeiro: Campus, s.d. p. 509 - 573.
IV

INTRODUÇÃO À POLÍTICA E DIREITO

Fernando da Rocha

Norberto Bobbio, no capítulo quarto de seu livro


Teoria geral da Política, disserta a respeito da Política e Direito.
Uma vez que os homens se organizam de forma normativa,
isto é, onde suas ações são correspondentes a regras e leis,
estes estão expostos a um poder Político, seja em uma
pequena comunidade; família, tribo, ou até mesmo, o que é
mais comum, na cidade, na pólis.
A Política cumpre a função de nortear as ações dos
indivíduos pertencentes a uma comunidade, um território. Na
esfera da Política, um território, em que o Poder Político
funciona, não é legal as ações de individuação, valorizar um
indivíduo em detrimento de outro, ao contrário, uma
sociedade estipula entre todos os indivíduos ações comuns;
pois o poder é o meio em que um sujeito tem para condicionar
as ações de outro. Relação do governante e governado, patrão
e empregado.
Comum ao longo da história, o poder, sempre esteve
presente. Podendo afirma-lo uma ação natural da natureza
dos animais, como é o caso de que: entre os animais não
racionais o mais forte é o líder, até que outro mais forte seja
capaz de derrota-lo e por consequência tornar-se-á o líder.
Com os homens, seres racionais, não é muito diferente; desde
os primórdios, os homens associavam-se a formas de poder,
isto obviamente porque precisamos de referências para
progredir e, ao mesmo tempo estarmos confiantes e seguros
sem nos preocuparmos com assuntos que diz respeito aos
líderes, sejam eles líderes políticos ou religiosos, enfim; houve
50 A teoria geral da política...

sempre várias formas de poder como: monarquia, oligarquia,


burocracia entre outros.
Bobbio escreve a respeito das três formas típicas de
poder do clássico da Política de Aristóteles: o poder do pai
sobre seus filhos, do senhor sobre os escravos e do
governante sobre os governados. Essa tripartição das formas
do poder permite-nos julgar qual forma de poder é bom e qual
é ruim, bom governo e mau governo. Das três formas de
poder apresentadas, duas delas, são reprovadas, isto é, se em
prática é um mau governo: é o caso do poder paterno em que
o governante não vê que os seus governados possuem
maioridade e, por consequência, trata-os como filhos
impedindo-os de caminharem mais convictos de si mesmos;
também o poder do senhor sobre o escravo, aonde o
governante conduz a cidade de modo a realizar seus próprios
interesses.
Sendo assim, o poder político deve contemplar o bem
comum presente na forma de poder entre governante e
governado, onde ganham ambas as partes. Logo, o poder
político possui critérios distintos: “a função que ela exerce, os
meios dos quais se serve, o fim ao que tende” (BOBBIO,
Norberto, Teoria Geral da Política, p.217).
Afinal! Qual é o fim da ação Política?

Remonta à Antiguidade – e, portanto, foi transmitida ao


longo dos séculos e chegou até nós – a afirmação de que o
fim da política é o bem comum, entendido como bem da
comunidade distinto do bem dos indivíduos que a
compõem. A distinção entre bem comum (bonum commune)
e bem própria (bonum proprium) é, aliás, aquela que desde
Aristóteles serve para distinguir as formas de governo boas
das formas de governos corruptas: o bom governo é aquele
que se preocupa com o bem comum, o mau olha o próprio
bem, vale-se do poder para satisfazer a interesses pessoais
(BOBBIO, 2000, p. 218 e 219).
Política e direito 51

Desta forma, o governante se empenha aos interesses


públicos, ao interesse de todos, e de forma alguma aos
interesses privados, ao menos assim é que deveria ser.
Maquiavel, no capítulo XVIII de O Príncipe, escreve quais
são as qualidades que um governante de Estado deve ter; é
que o mesmo precisa combinar a qualidade da raposa, isto é,
a astúcia estar atento às necessidades de seu povo, e a
qualidade de um Leão, a força, aquele que comanda e define,
ou seja, tem as rédeas ao seu controle.
Para Hans Kelsen, o estado é uma ordem coativa, isto
é, se necessário, o Estado recorre à força em relação àqueles
que não cumpriram aos conjuntos de normas estabelecidas,
essa técnica pode e é, utilizada para diversos objetivos,
principalmente quando o Estado está em risco de se dissolver,
a ponto de que, não havendo a força deixará de existir.
Das várias decisões que o governante deve tomar com
relação à política, algumas delas: política religiosa, política
econômica, política escolar, entre outras, pois são muitas as
escolhas, ele as toma certo, de que, pessoas estão ao seu favor
e é vitorioso o grupo político que possui mais força. Isto
porque as cidades são, geralmente, democráticas; logo, as
decisões tomadas são aprovadas pela coletividade da maioria,
mesmo que está grande massa não tenha refletido tão bem a
respeito de suas decisões.
Não refletir a respeito de suas decisões é comum
àqueles que não são detentores de bens, isto porque o poder
econômico favorece aos que possuem poder. Enquanto isso
os despossuídos, os trabalhadores, são facilmente induzidos
por um poder ideológico detentor da força, um poder
soberano que, poucas vezes, está a favor da grande massa, ou
seja, dá todos os aparatos necessários aos possuidores do
poder, em detrimento dos cidadãos que, se quer, sabem de
tamanho poder existente.
O autor ressalta que, quando o poder político não
atinge seus objetivos através das mensagens, pela classe
52 A teoria geral da política...

dominante, será necessária a força física, isto para dominar aos


desobedientes e frear qualquer manifestação dos mesmos.
Sabe-se, no entanto, que agir desta forma é imposição de um
grupo mais forte a outro, é guerra.
Carl Schmitt vê a imposição de força como a relação
de amigos e inimigos, cujo conflito resulta a guerra, uma
máxima de força que tem por objetivo a resolução dos
conflitos.

Uma vez que o poder político é definido como aquele


poder que se serve em última instância da força física para
alcançar os efeitos desejados, ele é também aquele poder
ao qual se apela para resolver os conflitos cuja falta de
solução teria por efeito a desagregação interna da
comunidade política – o desaparecimento dos “amigos” –
e a sua supressão a partir do exterior – a vitória dos
“inimigos” (BOBBIO, 2000, p. 222).

Bobbio quando escreve a respeito da política mais


sociedade, deixa claro que toda ação política é uma ação social
que deve contemplar todos os grupos sociais que juntos
formam a grande comunidade, a pólis. Em reflexo de uma
transformação histórica, lenta, são presentes grandes forças
em um Estado que por si mesmo, através de relações
conflitivas, buscam fronteiras para adentrarem o conforto do
poder, daí entendemos a distinção do poder político, poder
econômico e o poder ideológico.
Na obra de Aristóteles sobre a Política, ele enfatiza
que o homem é um animal político, ou seja, o homem
necessita viver em sociedade o que não significa que todos
eles adotaram a um mesmo grupo social, isto é, o Estado é
composto por vários grupos e suas ações correspondem as
suas máximas; logo, é como que a sociedade se subdividisse
em partes, como é o caso dos grupos religiosos, vida
contemplativa, e dos grupos políticos, vida ativa. Esses grupos
sociais lutam se manifestam, porque pretendem alcançar fins
Política e direito 53

de interesse comum ao seu próprio grupo, e por última


instância a todos que pertencem ao Estado.
Bobbio traz presente em sua obra a importante luta de
poder entre os grandes pilares de uma sociedade. Eis que o
cristianismo se institucionalizou na sociedade e se difundiu,
tornando-se muito forte, um risco ao poder político. Tendo
presente o poder político, temporal, e o poder religioso,
espiritual, houve problemas de distinção de ambos, até por
que quem detém o poder, fará de tudo para não deixar de tê-
lo.
Sendo assim, duas forças acabam se distinguindo de
acordo com este quadro: o poder político, temporal, é aquele
que governa os territórios “força física”; enquanto o poder
religioso conduz os indivíduos à conquista dos bens
espirituais:

[...] Os defensores e os detentores do poder temporal


pretendem atribuir ao Estado o direito e o poder exclusivo
de exercer sobre um determinado território, e em relação
aos habitantes desse território, a força física, deixando a
igreja o direito e o poder de ensinar a verdadeira religião,
os preceitos da moral, de salvaguardar a doutrina dos erros,
de levar os indivíduos rumo à conquista dos bens
espirituais, primeiro entre todos, a salvação da alma
(BOBBIO, 2000, p. 224).

Segundo o autor, a moral é o resultado de um


problema em relação à esfera política, espiritual e econômica.
Por ser um plano distinto, deontológico, a moral possui
caráter de uma ciência do dever e da obrigação, a natureza da
ação política, e não do plano ontológico, isto é, do ser em si,
comportamento daquele que age politicamente.
A ação moral passa pelo crivo de aprovação e
reprovação em relação à esfera política, normativa, ao que se
obedece. A conduta moral é considerada boa ou má de acordo
54 A teoria geral da política...

com aquilo que é próprio e lícito a política moral de cada


Estado.
Maquiavel deixa claro que, para julgar uma ação boa
ou má é necessário olhar, aguardar, o fim da mesma; porque
o resultado de uma ou de várias ações, não coerentes, ao que
o Estado juga como má conduta, podem tornar-se ações
honrosas e apreciadas. Violar a moral presente em uma
comunidade era um grande risco, pois, caso não obtivesse
sucesso, se os fins não justificassem os meios, certamente o
príncipe receberia desprezo e uma enxurrada de críticas, as
quais poderiam leva-lo ao afastamento do Estado. Sendo
assim, o homem político tende a um fim. A vitória contra o
inimigo e a conservação do que conquistara é o fim último de
um bom príncipe.
Mas não eram só os príncipes que deixavam das
condutas morais. Também os cidadãos agiam contrários às
regras morais comuns, e eram avaliados com intenção de que
pudessem detectar se havia boa explicação a sua oposição a
ação moral comum. Há uma única moral presente no Estado
que elimina a ideia de duas morais.

Uma resposta desse tipo ao antigo problema da oposição


entre moral e política permite manter crença na ideia que
não há duas morais, uma pública e uma privada, uma válida
para os indivíduos e uma outra para os Estados, mas que a
moral é uma só, válida para todos, salvo casos especiais,
nos quais torna-se lícito aquilo que em geral é proibido, não
apenas para o Estado, mas também para os indivíduos
(BOBBIO, 2000, p. 229).

Toda norma moral diz respeito a ações possíveis,


sendo que o sujeito pode ou não por sua vontade aderir à ação
moral sendo livre o cumprimento da mesma. Isto porque
haverá momentos em que a ação contraria se faz necessária,
pois, o sujeito pode não ter outra escolha a anão ser o não agir
segundo o preceito moral.
Política e direito 55

Max Weber apresenta uma distinção em relação ao


cumprimento da moral. Segundo ele, Weber, as condutas,
ações, são avaliadas com base em princípios dados, isto é,
podem ser vistas com base em suas consequências: será boa,
se for bem-sucedida; se for malsucedida, é má.
Vê a ação moral como ética da convicção ou ética da
responsabilidade. A primeira são os indivíduos que respeitam
e adotam princípios de conduta como sendo absolutamente
verdadeiro, eliminando qualquer outra hipótese; a segunda são
os indivíduos convencidos de que fizeram o que deveria ser
feito, tendo por objetivo final conquistar o resultado ao qual
se propôs.
No que diz respeito à Política e Direito, tendo o
direito como um conjunto de normas, a política tem
influência em dois pontos: a primeira enquanto a ação política
utiliza-se do direito, e a segunda enquanto o direito que
delimita, poda, norteia a ação política.
Hobbes afirma que é a autoridade que cria as leis, e
que a sabedoria assim como a palavra não gera lei; são
impotentes frente ao poder e a força, fundamentando-se em
um positivismo jurídico que cessa o direito natural.
Sendo o direito um produto do poder fica claro a
ordem já exposta, havendo uma definição entendida a ordem
jurídica como é o direito positivo em ordem coativa, isto é, há
de fato um conjunto de normas que são para os
transgressores, podendo ocorrer à ação de força física.
Santo Agostinho não considera o direito ser produto
do poder, pois, acredita que o que distingue a comunidade
política de ladrões é o cumprimento ou não das leis ideais de
justiça. Não sendo justo que o poder seja mais louvável que o
próprio direito, em relação a tudo o que se pode conhecer e
explorar.
O autor apresenta uma nova distinção entre o poder
legítimo e o poder ilegítimo, uma vez que a relação entre
política e direito se inverte, isto é, agora é o direto que justifica
56 A teoria geral da política...

o poder político e não mais o poder político que produz o


direito. Até então, o poder político se caracterizava pelo poder
econômico e poder ideológico.
Agora surge uma distinção entre poder de fato e poder
de direito, onde a moral exige justificações à má conduta, já a
boa conduta não precisa ser justificada “(...) não precisa de
nenhuma justificação quem desafia a morte para salvar um
homem em perigo, mas precisará apresentar uma justificação
quem o deixa morrer.” (BOBBIO, Norberto, Teoria Geral da
Política, p.234).
Das várias desigualdades humanas, a desigualdade
estabelecida pelo poder é a qual deveria apresentar mais
justificação, pois, esta legitimação que faz ser um direito a
imposição de deveres e a obediência como dever, ou seja, é
uma relação de força-poder, a respeito desta conduta diz
Rousseau: “O mais forte nunca seria suficientemente forte
para ser sempre o senhor se não transformasse a sua força em
direito e a obediência em dever” (BOBBIO, Norberto, Teoria
Geral da Política, p.235).
É considerado poder legítimo aquele que detém, goza
justo título enquanto é autorizado por um conjunto de
normas estabelecidas em uma comunidade que, dá direito a
seu líder de comandar enquanto esses membros da
comunidade os obedecem. A confiança dada ao líder, espécie
de autorização, rapidamente se transforma de um simples
poder em autoridade, de um poder legítimo a um poder de
fato.
Logo, não é a sabedoria que faz a lei, mas sim a
autoridade. Ou ainda, não é o rei que faz a lei, mas a lei que
faz o rei, isto é, não possui o simples poder por ser soberano
e legítimo, goza de uma autoridade que fora atribuída a ele,
sendo ele superior as suas próprias leis, uma vez que ele tem
a autoridade de reformula-las.
É exigido, portanto, que o rei, governante não
governe segundo ao seu próprio capricho, mas sim em
Política e direito 57

conformidade com as regras estabelecidas em um estado, a


uma comunidade, um povo. A legitimidade auxilia o cidadão
a distinguir o poder de direito e o poder de fato, bom governo
e mau governo. Segundo Platão os governantes deveriam ser
servidores das leis, de maneira a evitar o poder de fato para
que a cidade não chegue a ruina e alcance os bens necessários
para ser considerado um bom estado cujo governante governa
em prol de seu povo e não de si mesmo.
O conceito de poder é igual para os juristas e os
politólogos, ambos usam o mesmo significado de poder o que
os faz ver um ao outro. Há uma ligação estreita entre o direito
e o poder. O direto no sentido objetivo são as normas que
valem em última instância à coação, podendo agir de força
física; já o direito em sentido subjetivo é aquele que obterá
sucesso sem o amparo da coação.

Com relação ao direito objetivo, o poder, entendido,


segundo a definição mais comum que remonta a Bertrand
Russell, como “produção de efeitos desejados”, intervém
seja no momento da aplicação das normas. Na teoria do
direito subjetivo, os juristas chamam habitualmente de
“poder” uma forma específica de situação subjetiva ativa
que consiste na capacidade, atribuída pela ordem a certos
sujeitos, de produzir efeitos jurídicos (BOBBIO, 2000, p.
234).

O poder e o direito podem ser considerados duas


faces de uma mesma moeda, isto porque uma dá o sustento a
outra. Sendo assim, o poder pode ser anterior ao direito como
também o direito pode ser anterior ao poder. Há ligação entre
esses conceitos e a distinção será dada a partir do ponto de
vista do interessado.
Bobbio diz: “O poder sem direito é cego, mas o
direito sem poder é vazio.” (BOBBIO, Norberto, Teoria Geral
da Política, p.240). Ou seja, são dois conceitos que, em prática,
58 A teoria geral da política...

culminam em um mesmo ideal, tendo por pano de fundo o


bem comum.
Bobbio acredita que a teoria política é, em última
instância, a implicação do poder, isto é, quais os caminhos
para conquista-lo, como governar para conservá-lo evitando
a perda do poder. Essas são questões pertinentes àquele que
governa e aos candidatos que querem chegar ao governo.
Ao longo da história a política é o campo onde se
evidencia o dever da obediência e o direito a resistência, onde
a resistência à opressão tornasse um tema muito discutido,
pois, trata-se do direito e do dever seja dos governados ou dos
governantes. A questão é que esses dois fenômenos, o dever
da obediência e o direito à resistência, estão sempre presentes
de maneira extrema (resistência/obediência) ou (contestação/
aceitação), há uma norma envolta ao sistema que nos faz ora
agir passivamente, mecanicamente, ou então se adere ao
sistema em seu todo se comportando ativamente.
A resistência se compreende pelo comportamento de
ruptura em relação às ordens constituídas, o que é contrário à
obediência e contrário a aceitação é a contestação que recebe
crítica em relação à ordem constituída.
Bobbio aprofunda seus estudos em relação ao
movimento da resistência uma vez que a resistência é algo
comum na sociedade e que lhe causa interesse. Sendo assim,
pretende trazer presente e contextualizar as razões históricas
e indicar como se caracterizava a resistência em um período
anterior e nos dias atuais, a fim de refletir questões como: o
porquê da resistência hoje? Como a resistência se caracteriza?
Bobbio levanta dados que o auxilia na compreensão
acerca da resistência. Por primeiro o processo de
industrialização que não diminui e é sempre crescente, o que
faz do Estado e dos funcionários uma classe ativa, superior a
uma economia coletivista e ideológica.
A resistência, hoje, vista como problema é um
fenômeno coletivo, isto é, em relação ao sujeito ativo e em
Política e direito 59

relação ao sujeito passivo. Na grande massa da sociedade há


comportamentos herdados de conceitos religiosos que, por
sua vez, refletem e constatam meios de direito a resistência,
não muito distinto do que se encontra nos escritos dos séculos
XIV e XV.
Com a intenção de melhores condições ao Estado e
aos que o compõem, os cidadãos, é impensável uma prática
que há muitos séculos passados fora adotada, onde os
controladores do estado, os reis, chefes, eram mortos em
nome de um estado, mundo melhor. Para Hobbes, todos os
Estados são bons simplesmente por ser estado. Mas hoje os
Estados são maus simplesmente por ser estado. Isto para
dizer que nós corrompemos o Estado.
Há várias formas de resistência. A mais evidente é a
resistência passiva que é a resposta de um agir não violento,
mas que conquista os seus objetivos, como é o caso de uma
greve ocupacional.

REFERÊNCIA

BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de


Janeiro, 2000.
V

POLÍTICA E DIREITO EM PERSPECTIVA

Medéia Lais Reis

Bobbio inicia o capítulo 4, cujo título é Política e


Direito, falando das características do poder político,
explicando o uso do termo “política” para designar a esfera
de ações, que faz referência direta ou indiretamente à
conquista de poderes, em uma comunidade de indivíduos
sobre um território.
A relação política principal, segundo Bobbio, se dá
entre governantes e governados, onde se dá uma relação
política principal, e uma relação de poder. Desde a antiguidade
a relação política se estabelece no que diz respeito as várias
formas de poder do homem.
Do grego krátos, força, potência e archia, autoridade,
nascem os nomes das várias formas de governo, ainda usadas
até hoje, como: aristocracia, democracia, monarquia, e assim
por diante para designar formas de poder político. Bobbio cita
as três formas típicas de poder, segundo Aristóteles, com base
na sociedade: o poder do pai sobre os filhos, do senhor sobre
os escravos, do governante sobre os governados, o último é o
poder exercido na pólis (que em grego significa “cidade”, ou
como Aristóteles define: comunidade autossuficiente de
indivíduos que convivem em um território). Aristóteles diz o
interesse do homem nas formas de poder, nas quais se exerce
o poder: paterno no interesse dos filhos; o senhoril no
interesse do senhor, o político no interesse de todas as partes,
que é chamado bem comum.
A relação do poder político é uma das inúmeras
formas que existe no homem em relação de poder, para
62 A teoria geral da política...

caracterizar o poder político temos três formas: a função que


ele exerce os meios do qual ele serve, o fim ao qual ele tende.
As metáforas mais utilizadas para definir a natureza do
governo, diz que a tarefa do governante pode-se entender
como uma profissão ou uma arte (em grego téchne). Ao
governo é geralmente atribuído o papel da mente, ou alma,
para mostrar que ele desempenha uma função superior que
está na função de guiar, dirigir e comandar. Já no modelo
tecnomorfo as profissões ou artes mais levadas em
consideração são o pastor, o timoneiro, o auriga, o médico o
tecelão. O pastor protege o rebanho do ataque dos lobos, o
timoneiro conduz a rota do navio e os marinheiros, o auriga
guia os cavalos, o médico cura as doenças e as chagas do
corpo evitando a morte, o tecelão compõe o tecido, todas
essas metáforas são utilizadas para exemplificar a função de
guiar de dirigir, de intervir e prevenir, essas metáforas servem
para indicar os traços principais das funções do governo até
hoje, que são divididas em legislativa, executiva, judiciária.
Na função legislativa, o poder político direciona
positivamente, comandando, ou negativamente, proibindo, os
que compõe a comunidade, diante da função executiva
consegue que esses fins sejam executados, exercendo a função
judiciária, pois se os conflitos que nascem da sociedade não
são solucionados o governo age de modo a fazer justiça.
Bobbio pergunta nesse capítulo qual é o fim da
política, e responde se embasando na ideia Aristotélica de bem
comum, para ele a finalidade da política é o bem comum de
todos os indivíduos que compõe a sociedade, o bom governo
é aquele que se preocupa com o bem comum, diferenciando
assim as formas boas das formas más de governo, o mau
governo enxerga seu bem próprio, satisfazendo seus
interesses pessoais. Para Bobbio, uma coisa é o juízo de valor,
outra é o juízo de fato. O juízo de fato apenas diferencia a
ação das ações políticas das ações não-politicas, também a
ação do mau governo se encaixa na categoria geral da política,
Política e direito 63

é mais comum ouvir dizer que a política se faz por indivíduos


interessados exclusivamente em obter vantagens individuais.
O conceito de bem comum encontra duas grandes
dificuldades: a variedade de significados históricos e a
dificuldade de encontrar procedimentos adequados para
verificar cada situação.
Para Hans Kelsen, o Estado é uma ordem coativa, um
conjunto de normas que para serem cumpridas pode até
mesmo ser utilizada a força, para haver uma ordem social,
pode ser definido como uma técnica de ordem social. Se o
Estado deixa de cumprir os objetivos mínimos de uma
sociedade, reunidos em uma comunidade política, o Estado
deixa de existir ou se dissolve, o objetivo mínimo do Estado
é cumprir a ordem pública interna e internacional, seja qual
for o tipo de Estado.
Quando falamos de bem comum, devemos pensar nas
decisões que cada governo deve tomar em relação a temas
mais variados e utilitaristas para uma comunidade, como:
política escolar, política religiosa, política econômica etc.
assuntos fortemente divididos em uma comunidade
fortemente dividida em classes contrapostas, é provável que o
interesse da classe dominante seja assumido, sendo até mesmo
sendo aplicado coercitivamente enquanto interesse coletivo.
Como bem lembra Bobbio, a definição de política de
Carl Schmitt, a política coincide com a esfera na qual se
desenvolvem as relações entre amigos e inimigos, e,
consequentemente, a ação política consiste em agregar os
amigos ou desagregar os inimigos. A expressão mais
característica da política vem a ser a guerra, exatamente como
meio para a solução dos conflitos.
64 A teoria geral da política...

5.1 POLÍTICA E SOCIEDADE

Para iniciar esse capítulo Bobbio irá dizer que toda


ação política é uma ação social, mas, nem toda ação social é
política. Bobbio irá trazer nesse tópico para justificar o título
vários filósofos gregos, principalmente Aristóteles e sua obra
sobre a Política, e logo já cita uma passagem da referida obra
que diz que o homem é um animal político, entende dizer que,
diferente de outros animais, o homem não pode viver senão
em sociedade, tanto que São Tomás de Aquino viveu em uma
época na qual já ocorreu a nítida distinção entre duas
sociedades, a religiosa e a política. A distinção entre a esfera
social, que pertence a política, e a esfera individual, à qual
pertence a ética, entre a vida ativa, que se desenvolve na
sociedade, e a vida contemplativa que diz respeito ao
indivíduo isolado. O pensamento antigo tem diante de si uma
única sociedade perfeita, a pólis, ou a sociedade política
propriamente dita, que abraça em seu seio as sociedades
menores.
Bobbio irá trazer em seu texto duas formas de
sociedade: A Igreja e o Estado. O poder político precisa
continuamente enfrentar um poder distinto, que, além do
mais, afirma desde o início que a própria supremacia sobre os
poderes terrenos, através do princípio: “o imperador está
dentro da igreja, não acima da igreja”. A demanda de liberdade
religiosa é uma típica forma de liberdade a partir do Estado,
diz Bobbio.
Já entre poder e economia e poder político pode
também ser representada como um tipo de confusão entre
direito público e direito privado, como efeito de uma
concepção privada do público que impede a nítida separação
entre os interesses dos privados e o interesse do Estado.
Política e direito 65

5.2 POLÍTICA E MORAL

Uma coisa é perguntar qual é o espaço que a ação


política ocupa no universo social ou das ações interindividuais
e de grupo, uma pergunta que consiste em determinar a
natureza da ação política; outra coisa é perguntar como deve
se comportar aquele que age politicamente, se há regras de
comportamento que diferenciam a ação política de outras
formas de ação. Também este é um problema que versa sobre
a chamada autonomia da política, mas é uma autonomia que
é possível demonstrá-la, que diz respeito não a sua esfera de
aplicação, mas ao sistema normativo ao qual obedece. Chama-
se autonomia da política o reconhecimento de que o critério
com base na qual se considera boa ou má uma ação que
pertence a categoria da política. É distinto o critério com base
na qual se considera boa ou má uma ação moral. É um
problema que é comumente apresentado nos seguintes
termos: uma ação que é considerada obrigatória na moral é
também obrigatória na política.
Uma resposta desse tipo de antigo problema da
oposição entre moral e política permite manter a crença na
ideia de que há duas morais, uma pública e uma privada, uma
válida para os indivíduos e uma outra para os Estados, mas a
moral é uma só, válida para todos, salvo casos especiais, nos
quais torna-se lícito aquilo que em geral é proibido, não
apenas para os Estados, mas para os indivíduos.
Todas as normas tanto as morais como as jurídicas ou
de costume, dizem respeito apenas as ações possíveis, as ações
que podem ser cumpridas segunda a vontade do sujeito ao
qual se dirigem. A necessidade não lei.
66 A teoria geral da política...

5.3 POLÍTICA E DIREITO

O problema da relação entre moral e política é um


problema de distinção entre dois critérios de avaliação das
ações, o problema da relação entre política e direito é um
problema bastante complexo. Quando por direito se entende
um conjunto de normas, o sistema normativo, dentro do qual
se desenvolve a vida de um grupo organizado, a política tem
a ver com o direito sob dois pontos de vista: enquanto a ação
política se exerce através do direito, e enquanto o direito
delimita e disciplina a ação política.
A ordem jurídica é o produto do poder político. Onde
não há poder capaz de fazer valer as normas por ele
estabelecidas recorrendo também em última instancia à força,
não há direito. Não é a sabedoria, mas a autoridade que cria a
lei, como bem lembra Norberto Bobbio em frase de Thomas
Hobbes.
O direito natural explica as razões pelas quais apenas
o direito positivo, e não o direito natural, é para os juristas
aquilo que corretamente pode ser chamado direito, afirmando
que, diferentemente das normas do direito positivo, que são
estabelecidas por uma autoridade humana, as normas do
direito natural são consideradas válidas não porque sejam
efetivamente aplicadas, mas porque são pressupostas justas
por serem derivadas da natureza e indiretamente da razão ou
da vontade divina.
O direito é um produto do poder, a ligação entre
poder político e direito é simples: uma vez definida uma
ordem jurídica, entendida exclusivamente como direito
positivo, na qualidade de ordem coativa, ou seja, na qualidade
de conjunto de normas que são feitas valer contra os
transgressores também recorrendo a força, e nisso consiste
habitualmente a diferença entre o direito e a moral, entre o
direito e o costume: a existência de uma ordem jurídica
dependente da existência de um poder político. Os princípios
Política e direito 67

permitem estabelecer uma ideia universa: dar a cada um o que


é seu, ou cada um faça aquilo que dele lhe espera. Não é mais
o poder político que produz o direito, mas o direito que
justifica o poder político.
O contrário do poder legitimo é o poder de fato, o
contrário do poder legal é o poder arbitrário. Toda a história
do pensamento político ocidental está atravessada pela
pergunta: “é melhor o governo das leis ou o governo dos
homens?” Desde Aristóteles a resposta está em pauta e já se
inicia com uma frase que nos faz refletir: “a lei não tem as
paixões”, paixões essas que encontramos em cada homem.
Pela sua origem seja derivada da natureza das coisas e
transmitida por tradição ou descoberta pela sapiência do
legislador, a lei permanece no tempo como um depósito da
sabedoria popular e da sapiência civil que impede as mudanças
bruscas. O poder dos governantes é regulado por normas
jurídicas e deve ser exercido com respeito as essas regras. O
tema da legalidade sempre serviu para distinguir o bom
governo do mau governo, a começar por uma passagem de
Platão na qual se lê que os governantes devem ser os
servidores das leis.

5.4 DO PODER DO DIREITO E VICE-VERSA

O principal conceito que estudos jurídicos e políticos


tem em comum é sobretudo o conceito de poder. Os dois
conceitos: direito e poder tiveram secular história do
pensamento jurídico e político, das duas formas de
fechamento o poder jurídico é mais grave que o político. A
ligação é estreita tanto se por direito se entende o direito em
sentido objetivo, ou seja, um conjunto de normas vinculantes
que se fazem valer recorrendo em última instancia a coação,
quanto se por direito se entende o direito em sentido
subjetivo, pelo menos em uma de suas inúmeras acepções. Na
teoria do direito subjetivo, os juristas chamam habitualmente
68 A teoria geral da política...

de poder uma forma especifica de situação subjetiva ativa que


consiste na capacidade, atribuída pela ordem e certos sujeitos
de produzir efeitos jurídicos.
Uma vez estabelecido que no âmbito da teoria geral
do direito o campo de referência do poder é a produção e
aplicação de normas jurídicas, temos como consequência que
norma jurídica é poder podem ser considerados, e foram de
fato mais ou menos conscientemente considerados, como
duas faces da mesma moeda, com a consequência de que o
problema da relação entre direito e poder que é o objeto das
observações aqui expostas, pode ser olhado seja do ponto de
vista da norma, seja do ponto de vista do poder: antes existe
o poder e depois o direito.
O Estado nada mais é do que o conjunto de normas
que são efetivamente observadas em um determinado
território: antes existe o direito e depois o poder. O poder sem
direito é cego, mas o direito sem poder é vazio. Somente
através do exercício do poder nos diferentes níveis os sistemas
das normas válidas tornam-se também efetivo pode ser
considerado uma norma jurídica. No fim chegamos a mesma
conclusão de que existe um poder legitimo distinto do poder
de fato: o que torna legítimo o poder é o direito, e o que torna
efetivo o direito é o poder.
Para exemplificar o continuo e complexo embate
entre direito e poder entre o poder que produz as normas do
sistema que por sua vez regulam o poder e as normas que
regulam o poder por sua vez, impondo respeito, faz sim com
que sejam habitualmente obedecidas. O direito é um produto
do poder, não importa se esse poder é poder originário do
povo ou o poder derivado de um governante.
Política e direito 69

5.5 A RESISTÊNCIA A OPRESSÃO HOJE

O problema título desse tópico voltou a se tornar


atual, uma característica marcante é a crença no
fortalecimento do Estado.
Há uma diferença entre não fazer aquilo que é
mandado e fazer o contrário daquilo que é mandado: diante
da intimação de desocupar uma praça, sentar-se no chão,
podemos trabalhar a resistência passiva não apenas não
fazendo aquilo que se deve fazer, mas também fazendo mais,
fazendo demais.
As várias formas de desobediência civil devem ainda
ser distintas das técnicas de pressão não violenta que
interferem nos interesses econômicos. Também estas podem
ser diferenciadas segundo consistam em abstenções, como a
grave ou o boicote, ou em ações como a ocupação de uma
terra, de uma casa, ou de uma fábrica.
Enquanto a resistência passiva consiste em
comportamentos comissivos e omissivos, o poder do veto é
geralmente institucionalizado, ou seja, depende de uma norma
secundaria autorizadora, enquanto as várias formas de
resistência passiva nascem fora do quadro das instituições
vigentes, mesmo que algumas delas venham a ser em algum
momento institucionalizadas. Em suma o poder de veto e a
resistência passiva são tanto estruturalmente quanto
funcionalmente, duas coisas distintas.
As várias formas de desobediência civil têm em
comum a sua finalidade principal, que é mais a de tornar difícil
a obtenção da finalidade visada pelo outro do que o substituir.

REFERÊNCIA

BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política, Campus: Rio de


Janeiro, 2000.
VI

REFORMAS E REVOLUÇÃO

Gilmar Alves dos Santos

6.1 SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA DA


DISTINÇÃO

O tema trabalhado nessa resenha será a mudança


política, e os seus desdobramentos, bem como a questão
reforma e revolução. O objetivo é mostrar o modo como
esses movimentos devem fazer para conseguir os resultados.
As palavras reforma e revolução em Bobbio está ligada
com os movimentos operários e na transformação da
sociedade no sentido socialista. Sendo que em cada partido
formado pelos operários possuem várias facções, nesse caso
é como se fossem pequenas alas dentro desses partidos com
algumas questões divergentes. É utilizado como exemplo para
mostrar as diferenças entre essas alas no movimento operário,
a democracia e a ditadura. Enquanto os reformistas são fiéis
ao método democrático, na ala revolucionária é a ditadura do
proletariado. É visto grandes diferenças entre os termos, pois
reformar é consertar algo, sem modificar tudo, e revolução
denota uma grande mudança capaz de destruir toda a base de
um sistema. Em uma reforma as estruturas continuam e
somente algumas partes são mexidas, portanto a essência de
algo continuam lá. Como exemplo vemos em Teoria Geral da
Política de Norberto Bobbio (2001, p.577, 578):

Pensemos no primeiro dos “vinte e um pontos” para a


admissão dos partidos comunistas na Terceira
internacional, aprovados pelo II Congresso da Terceira
Internacional, em 6 de agosto de 1920, no qual não se deve
72 A teoria geral da política...

falar na ditadura do proletariado como se fosse uma


simples expressão aprendida de cor, mas “ deve ser
divulgada de tal modo que pareça necessária a cada simples
trabalhador” etc.

Foi através Congresso da Terceira Internacional, em


que a questão da ditadura do proletariado foi difundida como
sendo de ordem necessária para o trabalhador. A ditadura do
proletariado não é a mesma ditadura dos governos que não
são eleitos pelo voto popular, mas sim o domínio de uma
classe, como exemplo a operária. E esse domínio pode ser por
governos, sendo de forma democrática e como exemplo
vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio
(2001, p. 578):

Como exemplos típicos e extremos das duas estratégias,


podem ser considerados, respectivamente, o Partido
Trabalhista Inglês, do qual uma matriz particularmente
importante foi a Sociedade Fabiana, constituída em 1883,
que, ao tomar o nome do cônsul romano Quinto Fábio
Máximo, o Contemporizador, quis indicar na gradualidade
das reformas o caminho a ser seguido para alcançar sem
abalos violentos uma sociedade socialista e os partidos
comunistas, pelo menos em sua origem e durante boa parte
de sua história, os quais nascidos logo após a Revolução de
Outubro, tendo acolhido a doutrina leninista e a prática
bolchevique da conquista do poder, e solidamente atados
aos princípios da terceira internacional, repudiaram
abertamente o reformismo, consideraram os partidos
reformistas não mais como aliados mas como adversários
a serem combatidos, aderiram à tese da inelutabilidade da
revolução para a derrubada do capitalismo.

Os partidos se utilizaram de diversas interpretações


dos pensamentos de Marx e Engels, sobre como fazer as
reformas nos países que eram desenvolvidos
economicamente e possuíam governos democráticos, haviam
Reformas e revolução 73

divisões até mesmo nos partidos que se declaravam marxistas.


Bem como o Partido Social-Democrata Alemão na época da
segunda Internacional. E também o Partido Socialista
Italiano. O problema foi causado pelas diferentes maneiras de
como as obras de Marx foram interpretadas. Como eram
grandes as disputas, causada por Bernstein, que o marxismo
foi dividido em duas partes: marxistas ortodoxos e os não
ortodoxos. Há também a disputa entre mencheviques e
bolcheviques sobre como uma sociedade atrasada devem
fazer para chegar ao socialismo. Como acontecimento, houve
a cisão entre os socialistas, ligados ao pacto de unidade de
ação com os comunistas e social democrata da Itália. Sendo
que o marxismo entrou em crise mais tarde.
Os limites encontrados no sistema revolucionário, são
as estratégias que os movimentos reformadores precisaram
fazer para chegar a esse fim, mas que propriamente não diz
respeito a esse fim. Para isso é preciso, levar em consideração
a maneira como se dá a mudança e não o seu fim. Por isso, é
preciso haver a diferenciação, entre o fim diferencial e o fim
último. Haja vista que o fim intermediário, envolve a
estratégia da conquista do poder, e o fim último diz respeito
a maneira de como se dá a transformação da sociedade para o
socialismo, ou seja, sem classes. A questão da conquista e
manutenção do poder se dá em quem conquista uma grande
maioria. De outro modo se fortifica quem consegue conquista
a maioria dos parlamentares, sendo que que o grupo
dominante e o que possui mais cadeiras vai se impor sobre os
outros. O processo democrático é importante para uma
sociedade, mas ele por si só não consegue fazer a que
transformação da sociedade. Já os movimentos
revolucionários devem estar sempre preparados para a ação,
sendo que o que importa é o fim, e por isso a importância se
dá em relação a estratégia definida. Para mostrar o que
reforma e revolução podem coexistir juntos vemos em Teoria
Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.582):
74 A teoria geral da política...

Dito de outro modo, reformas e revolução não são


incompatíveis porque as causas de mudança que são as
reformas produzem necessariamente, ou podem produzir
concomitantemente com outras causas, o efeito que é a
revolução, isto é, a mudança radical de uma sociedade.

Nos movimentos operários o tema reforma-


revolução, foi dominante desde a sua origem. Mas isso não
significa que o termo teve o seu nascimento com os
movimentos operários, e sim com a Revolução Francesa. É
dado que a Revolução Francesa se tornou exemplo para as
posteriores, tanto no que tange a algo positivo, e negativos,
como escrito nos livros, principalmente de histórias.
Como exemplo vemos em Teoria Geral da Política de
Norberto Bobbio (2001, p.583, 584):

E nasceu com a Revolução Francesa, a revolução por


excelência, o modelo de todas as revoluções posteriores, já
que foi colocada em oposição, positiva ou negativamente,
segundo os diferentes pontos de vista, à era precedente,
chamada, quase por antonomásia, a era das reformas ou
dos princípios reformadores.

A maneira com que foi feito a Revolução Francesa, se


tornou indiscutivelmente exemplo para qualquer grupo que
quisessem fazer revolução. Se pode dizer que existe antes e
depois, mesmo que o termo revolução não fosse estranho à
linguagem política, haja vista que no Livro V da Política de
Aristóteles já se utilizava o mesmo. De outro modo antes da
revolução era utilizado para designar reforma, que envolvia a
crise religiosa em que a Europa vivenciou a partir do século
XVI, no que culminou o nascimento das novas ciências e
técnica, junto com a formação dos grandes Estados, e o
mundo moderno. O único fenômeno histórico até então que
podia ser comparado à revolução, era a reforma. É preciso
Reformas e revolução 75

levar em consideração, sobre os significados dos termos


reformas e revolução nos dias atuais.
Eles se modificaram, partindo para uma radicalização,
ou seja, foram retomados pelos movimentos operários.
Portanto, as demandas se tornaram outras, sendo
administrativas, para o melhor andamento do Estado, visando
uma fluidez no sistema, como podemos ver em Teoria Geral
da Política de Norberto Bobbio (2001, p.588):

Reforma fiscal, instituição dos cadastros, abolição de


tributos e das alfândegas, regulamentação do crédito e dos
juros, política anonária, construção de pontes e estradas,
reforma penal, luta contra os privilégios do clero,
providências para favorecer a circulação de mercadorias e
o desenvolvimento do comércio.

Em outras palavras com o surgimento de novas


demandas o Estado precisou-se modernizar, pois as questões,
possuíam caráter diferenciado dos existentes até então e se
tornaram imprescindível fazer algo para acompanha-la. A
legislação foi utilizada para introduzir as mudanças propostas
pelos partidos das reformas, sendo que o príncipe com a ajuda
de seus conselheiros era o único intérprete e criador. E a lei
era o instrumento para controlar o povo, haja vista que a
história das sociedades era estudadas pelos eruditos, que
capitavam os espíritos das leis, de maneira a conseguir a
ciência da legislação.
Já no movimento reformista dos operários, a busca
era as transformações de poder existente, que no caso era
atender as necessidades das classes operárias, promovendo
melhores condições. Surgiam grandes organizações,
sindicatos, partidos, com o intuito das grandes
transformações econômicas e sociais. No caso é a mudança
entre o Estado e cidadãos, poder estatal e base social. É a
sociedade que faz com que as suas demandas sejam atendidas
76 A teoria geral da política...

pelo Estado para promover os seus desejos, de maneira que a


máquina estatal se torna instrumento de utilização do povo.
Em relação ao problema da legalidade do movimento
reformista, é que o reformista se mostra legalista, tendo em
vista que o mesmo deve respeitar as regras do jogo, que no
caso são as regras constitucionais. As regras do movimento
reformista se dão no parlamento, e sendo que quem possuir
mais cadeiras no parlamento, podem fazer mudanças em
benefício da classe operária. Por outro lado, o revolucionário
não é um legalista, é que a revolução não traz uma reforma,
mas sim uma mudança brusca de rumo criando uma nova
ordem.
O legalismo reformista busca uma via pacífica para o
socialismo, contrapondo a violência revolucionária. A
respeito disso vemos em Teoria Geral da Política de Norberto
Bobbio (2001, p.594):

Mesmo sem recorrer à citação marxiana obrigatória,


segundo a qual a violência é parteira da história, é um dado
de fato incontestável que todas as revoluções, ou, mais
precisamente, todos os fatos históricos que são incluídos
na categoria das revoluções caracterizam-se por períodos
mais ou menos longos de ações coletivas violentas.

Para mostrar o quanto se mostram diferentes a forma


de se fazer reforma e revolução, é preciso falar das estruturas,
que sustentam as mesmas, que no caso são os partidos e os
sindicatos. Mesmo que os sindicalismos foram
revolucionários, na questão das ideias e doutrinas, a estratégia
do sindicato é reformista. Enquanto que o campo
revolucionário pertence ao partido. A revolução é uma
ruptura praticada por um grupo que enfrenta o governo e a
constituição, sendo com o uso da força e desafiando as leis.
Essa ruptura quebra um sistema em favor de um novo
homem. Como efeito o resultado deveria aparecer para toda
uma sociedade, e não somente para as instituições política. No
Reformas e revolução 77

caso não deveria ser uma troca de poder da elite entre si, mas
sim de uma classe social para outra. Ou seja, a revolução seria
o benefício trazido para essas classes de proletariados, para
mostrar como se dão os elementos fundamentais da ideia
moderna dessa revolução. Sobre isso em Teoria Geral da
Política de Norberto Bobbio escreve (2001, p.612): “O Êxodo
é a partida dos hebreus, o povo de Deus, reduzido à
escravidão, para a terra prometida guiados por um líder
carismático, Moisés¨. E também como exemplo vemos em
Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.617):

“A revolução é a revolta da classe universal destinada a


libertar a humanidade da miséria e da opressão (Marx) ou
a revolta dos escravos (Nietzsche)?” __ ou a mudança__
“A revolução é o evento destinado a fazer com que a
humanidade passe do reino da necessidade ao reino da
liberdade, ou o início da era do niilismo?”.

A revolução em Marx, é a famosa luta de classes entre


empregados e patrões, exploradores e explorados, e nesse
sentido é preciso haver a revolta das classes. E que devem ser
feitas com todas as armas possíveis, sem respeitar normas,
constituições vigentes, e com desrespeitos para com as leis, e
possui o intuito de livrar a humanidade da miséria e opressão.
E no caso de Nietzsche a revolução, possui um caráter
negativo, pois consiste na negação de todos os princípios
religiosos, políticos e sociais.
O problema do reformismo de Carlo Cattaneo e as
reformas, é apresentado por Alessandro Levi, em sua
monografia. Para Levi, Cattaneo não é um revolucionário, e
isso se deve em função de que sendo um positivista coerente
e mesmo não guardando as tradições nacionais. Tendo em
vista que mesmo que ele foi aberto para com as questões
comuns naquela época, através de um espirito reformador,
nas questões políticas e na economia não foi um
revolucionário. E nesse sentido ele foi um progressista sobre
78 A teoria geral da política...

isso vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio


(2001, p.618):

Apresentado o problema do reformismo de Cattaneo,


Alessandro Levi, na sua conhecida monografia, sustenta
que “ um positivista coerente, mesmo quando não é um
conservador das tradições nacionais (...), não é, não pode
ser, um revolucionário, no sentido comum que se costuma
dar a este termo, isto é, um fautor de mudanças políticas
ou sociais, imprevistas e violentas” e conclui, com razão,
que “Cattaneo teve um intelecto aberto, sagaz, iluminado
de radical reformador, mas não foi na economia , como
não era em política, um revolucionário. Poderíamos
considerá-lo, antes, com uma inadequada, mas expressiva
palavra, que durante um período esteve em voga no nosso
jargão político, um progressista”.

Para que se possa entender o reformismo ou o


progressismo de Cattaneo é preciso levar em conta a
concepção geral da história. Já que a obra do historiador e
filósofo dirige e se completam num esboço geral da filosofia
da história.
Bobbio, para falar do progresso escreve que em
Cattaneo, que a confiança no progresso, se dá pela convicção
e as vezes o seu avanço pode não ser em linha reta. Para
mostrar como se dá essa questão vemos em Teoria Geral da
Política de Norberto Bobbio (2001, p.619): Em outro trecho:
“O progresso das legislações [é] tortuoso como o curso dos
rios, a qual é, contudo, uma transação entre o movimento das
águas e a inércia das terras”. Que o progresso as vezes não
segue um caminho certo, pois é preciso ver o movimento da
humanidade.
É citada como “aberrações” as três doutrinas, no caso
a primeira doutrina é a dos que defendem a ideia das
sucessivas evoluções sociais. E para fazer a defesa de tal ideia
reduziram os séculos em dias, fantasiaram a um mundo sem
Reformas e revolução 79

propriedade. A segunda doutrina é a dos que entenderam mal


a justificação histórica do passado, justificando a necessidade
de voltar as coisas ao início. A terceira é a doutrina dos
tranquilizados com a justificativas geral dos fatos, e que
acreditaram na capacidade intelectual das multidões, portanto
recaem no fanatismo do Oriente.
Ferrari sustenta, endurecendo e deformando, a ideia
de que a sociedade é um sistema, e que sendo sistema não
tolera uma contradição, e que onde existe a contradição essa
sociedade vai morrer, e é substituído por um outro sistema, e
no caso a história é uma sucessão de sistemas. Cattaneo em
um de seus ensaios da maturidade sobre a psicologia das
mentes associadas, também desenvolverá a ideia da sociedade
como um sistema. Para compreender qual é o ponto de
partida que Cattaneo assume diante do desenvolvimento
histórico e qual é a sua ideia de progresso, é preciso levar em
conta esses dois pontos críticos. Sobre isso vemos em Teoria
Geral da Política de Norberto Bobbio (2001, p.622):

Antes de mais nada, não é verdade que todo povo forme


sempre um sistema, se por sistema se entende as
organizações das ideias desse povo em torno de um
princípio único, mas é verdade, ao contrário, que, “quanto
mais civilizado um povo, mais numerosos são os princípios
que encerra em seu seio”; onde por “ princípios” se
entende, como surge a partir da exemplificação que
imediatamente se segue, “ a milícia e o sacerdócio, a posse
e o comércio, o privilégio e a plebe”, tanto as instituições
políticas quanto as formas econômicas ou as diferentes
classes que compõe o todo social, com consequência de
que as nações “tornadas sistemas” ( e são aquelas fundadas
em um único princípio, como, por exemplo, as nações
totalmente militares ou totalmente sacerdotais, com uma
economia ou totalmente agrícola ou totalmente comercial,
e sem conflito de classe) são aquelas que, tendo
permanecidas estacionárias, não deram, pelo menos até
agora, contribuições positivas para o progresso civil.
80 A teoria geral da política...

Para que uma nação consiga obter um progresso


contínuo, é preciso que haja conflitos de princípios dentro da
mesma a respeito disso vemos em Teoria Geral da Política de
Norberto Bobbio (2001, p.622, 623):

“A história é o eterno conflito entre os diferentes


princípios que tendem a absorver e uniformizar a nação”
Cai por terra também, portanto, a tese de que a história seja
uma sucessão de sistemas e como tal tenha um
desenvolvimento em etapas obrigatórias.

O que caracteriza o fenômeno revolucionário, é o


mostrar se de um novo elemento social, que no caso é uma
nova classe que reclama por novos direitos. E no caso essa
mudança dessa classe pode ser considerada parcial, pois ela
parte para um sistema novo, não perdendo algo do antigo
sistema, portanto o que ela faz é uma adaptação. A respeito
disso vemos em Teoria Geral da Política de Norberto Bobbio
(2001, p.625):

Uma sociedade em movimento não pode ser considerada


um sistema porque nela coexistem e conflitam entre si
diferentes princípios, nos quais o novo está destinado a
superar o velho sem que, contudo, o velho seja totalmente
eliminado, donde a conclusão de que “ uma sucessiva
transação entre os sistemas rivais jamais pode ser
considerada a destruição de um sistema, nem a formação
absoluta de um outro, já que a renovação recai somente
sobre algumas partes [uma vez mais o conceito de “parcial
inovação”]; aquilo que Romagnosi expressava ao dizer que
o progresso se faz quase por encaixes’.

No caso do reformismo de Cattaneo, não se consegue


entender através do conhecimento geral da história. Sendo
que o processo histórico não segue uma linha reta, estando
como um rio, que no caso é progressivo. Como ele confia no
progresso, em que é preciso a utilização do intelecto do
Reformas e revolução 81

homem. Já que o providencialismo histórico estimula um


comportamento conservador, o simplismo dos uniformistas
justifica o comportamento revolucionário.
A revolução é uma febre em que não atinge todas as
pessoas, e as reformas é um produto consciente da mente
humana. Portanto como na obra Mudança Política de
Norberto Bobbio, trata das Reformas e Revolução ocorrida
na história, se devem levar em conta algo particular de cada
uma. Portanto revolução é algo que toma um rumo
totalmente diferente, perdendo a sua essência. Já as reformas
mudam algo, sendo um processo mais amenos, que vai manter
toda uma base de sustentação. O objetivo primordial dessa
obra foi mostrar como Bobbio trabalhou a questão mudança
política. Já que foi utilizado vários elementos da história para
poder ilustrar e mostrar de fato como as coisas foram
acontecendo. Portanto foi utilizado vários elementos para
conseguir tal resultado.

REFERÊNCIA

BOBBIO, Norberto. A lição dos clássicos. In: IDEM. Teoria


geral da política; a filosofia política e as lições clássicas. Rio de
janeiro: Campus, s. d. p. 577-637.
OS ORGANIZADORES
JOSÉ DIAS

Licenciado em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo -


RS (1996) e Bacharel em Teologia pela Unicesumar (2014);
Especialista em Docência no Ensino Superior pela
Unicesumar (2015); Mestre em Direito Canônico pela
Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano,
Roma, Itália (1992); Mestre em Filosofia pela mesma
Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano,
Roma, Itália (2006); Doutor em Direito Canônico também
pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano,
Roma, Itália (2005); Doutor em Filosofia também pela
Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano,
Roma, Itália (2008). Atualmente é professor Adjunto da
UNIOESTE, no Campus de Toledo-PR, onde é
Coordenador do curso de Licenciatura em Filosofia;
Pesquisador do Grupo de Pesquisa “ÉTICA E POLÍTICA”,
da UNIOESTE, CCHS, Campus de Toledo-PR; parecerista
de revistas filosóficas e juristas.
E-mail: jfad_br@hotmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9950007997056231
JUNIOR CUNHA

Graduando do curso de Licenciatura em Filosofia pela


Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo-PR. É
estagiário da Biblioteca Universitária da UNIOESTE-
Campus Toledo. Bolsista – no período de 01 de junho de 2016
a 31 de março de 2017 – do Programa Institucional de Bolsa
de Iniciação à Docência (PIBID), vinculado a CAPES/MEC.
Bolsista – no período de 1 de abril de 2017 até 31 de março
de 2018 – do Projeto de Extensão Teatro em Ação, vinculado
ao Programa Universidade Sem Fronteiras-USF, financiado
com recursos do Fundo Paraná. Atualmente desenvolve
pesquisa nas áreas de Teatro e Filosofia com enfoque em
William Shakespeare.
E-mail: juniorlcunha@hotmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7824455868007103
VALDENIR PRANDI

Possui Licenciatura Plena em Filosofia pela Faculdade Padre


João Bagozzi - (Registrado Ministério da Educação
Universidade Federal do Paraná) (2011-2013). Atualmente é
professor - Secretaria de Educação do Estado do Paraná.
Possui Licenciatura Plena e Geografia pela Faculdades
Integradas da Terra de Brasília - Brasília - DF (2007 - 2009).
Possui Licenciatura Plena em Pedagogia (Segunda
Licenciatura) pelo Centro Universitário de Jales (UNIJALES)
- Jales - SP (2015 - 2016). Pós-Graduação modalidade Lato-
Sensu: Centro Universitário Leonardo da Vinci
(UNIASSELVI): Metodologia de Ensino de Filosofia e
Sociologia - Indaial - SC (2014 - 2015). Faculdade da Aldeia
de Carapicuíba (FALC) Pós-Graduação em Deficiência
Intelectual, Auditiva e Visual e a Prática Educativa Inclusiva -
Carapicuiba - SP (2014 - 2015). Faculdade União Cultural do
Estado de São Paulo (UCESP - Faculdade) Pós-Graduação
em Educação ambiental e Sustentabilidade - Araçatuba - SP.
(2015-2016). Participação em Cursos e Eventos - Participou
do Curso de Capacitação do Programa Qualificação
Pedagógica, Secretaria Municipal de Educação de Grandes
Rios - PR. (2011).
E-mail: pnmeval@hotmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1471897487879813

You might also like