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Laércio Mendonça Góes

laercio.goes.adv@gmail.com
Professor Dr. Emanuel Freitas da Silva
Universidade do Estado do Ceará
Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas - MPPPP (turma 21 –
Amapá)
1-Como, e em que medida, é possível pensar o Brasil a partir da ideia de
“poliarquia”? Responda a partir dos elementos pontuados por Robert Dahl.
Quando pensamos em nosso país, com um regime político democrático, na
perspectiva de uma poliarquia, nos remete a uma análise inicial da nossa
Constituição Federal de 1988, segundo a qual nos termos do artigo 1º assim
estabelece:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei nº 13.874, de
2019)
V - o pluralismo político.

Robert Dahl nos dá a ideia de uma poliarquia, na medida em o Estado é


responsivo a todos os cidadãos, a partir da convivência do pluralismo partidário, é
possível aos cidadãos brasileiros natos e naturalizados as oportunidades
fundamentais de que o autor nos fala, ou seja, de formular suas preferências. De
expressar suas preferências a seus concidadãos e ao governo através da ação
individual e da coletiva, de ter suas preferências igualmente consideradas na
conduta do governo, ou seja, consideradas sem discriminação decorrente do
conteúdo ou da fonte da preferência.

As oportunidades das quais nos fala Robert Dahal nos parece o caminho para
que senão vivenciar na plenitude a ideia de poliarquia, mas nos permita o exercício
da cidadania, pela qual nos seja garantido o direito de contestação, o que nos
remete a uma maior amplitude da oposição, da contestação pública e da competição
política, ganhando destaque o surgimento e o fortalecimento de partidos políticos
que defendam causas que busquem uma amplitude maior inserção social e da
participação política, e também permitam uma maior participação de vários
segmentos sociais, que não têm representatividade, mas que no entanto tem suas
causas que precisam ser defendidas.

Nessa perspectiva de direito de contestação, não podemos esquecer que


nossa sociedade é formada por segmentos sociais e por ideologias políticas de
todos os espectros, perpassando por ideias conservadoras, liberais e socialistas e a
história tem nos mostrado que em determinados momentos históricos determinadas
forças predominam, o que permite perceber que há limites para que nossa
sociedade alcance a experiência de uma poliarquia, nos moldes defendidos por
Robert Dahl, uma vez que na perspectiva do autor “as poliarquias podem ser
pensadas como regimes relativamente democratizados e liberalizados, fortemente
inclusivos e amplamente abertos à contestação pública.”

No caso específico do Brasil, na media em que houver maiores oportunidades


de expressão, organização e representação de preferências políticas, maiores serão
a variedade de preferências e interesses passíveis de representação política, o que
nos permite inferir que esse é o caminho que pode ser trilhado pela sociedade
brasileira para que de fato tenhamos uma poliarquia, sem esquecermos no entanto
que existem limitações representadas pelas forças conservadoras e reacionárias.

2-Como posso analisar a ideia de “Brasil acima de tudo”, tal como projetado na
última disputa presidencial, a partir da ideia de “comunidade imaginada” definida por
Benedict Anderson?

A ideia de comunidade imaginada nos remete à ideia de nação, e ao


recorrermos a categoria conceitual de comunidades imaginadas, não podendo nos
furtar de discutir o significado de nação, nacionalidade, nacionalismo, que são de
difícil definição na visão de Benedict Anderson, que ao citar Hugh Seton-Watson nos
possibilita compreender a razão de ser tarefa difícil chegar a uma definição uma vez
que na sua visão o mesmo é levado a concluir que não é possível elaborar nenhuma
definição científica de nação, mas o fenômeno existiu e continua a existir, ou seja,
sua existência é irrefutável.

No texto de Benedict Anderson encontramos ainda a visão de Tom Nairn para


quem a teoria do nacionalismo representa a grande falha histórica do marxismo, o
que permite a conclusão de que o nacionalismo demonstrou ser uma anomalia
incômoda para a teoria marxista e justamente por isso a teoria marxista preferiu
evitá-lo, em vez de enfrenta-lo, sendo a nacionalidade e o nacionalismo produtos
culturais específicos, sendo necessário para melhor compreendê-los, considerar
suas origens históricas e ,de que maneira seus significados se transformaram ao
longo do tempo, uma vez que estes dispõem de uma legitimidade emocional
profunda nos dias de hoje.

Para Benedict é necessário avaliar o conceito de nação para oferecer uma


definição operacional, existindo três paradoxos que causam irritação nos teóricos do
nacionalismo, ou seja, a modernidade objetiva das nações aos olhos do historiador
versus sua antiguidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas; a universalização
formal da nacionalidade como conceito socio-cultural, pois no mundo moderno todos
podem, devem e hão de “ter” uma nacionalidade; o poder “político” dos
nacionalismos versus sua pobreza e até sua incoerência filosófica.

Tom Nairn, mesmo sendo simpático ao nacionalismo afirma que “o


nacionalismo é patologia é patologia da história do desenvolvimento moderno, tão
inevitável quanto a neurose no indivíduo, tendo uma tendência interna de cair na
loucura”.

Ao abordar a categoria de comunidade imaginada o autor nos afirma que


qualquer comunidade maior que a aldeia primordial do contato face a face e mesmo
ela, é imaginada, sendo a nação limitada, porque mesmo a maior delas que chegue
a agregar um bilhão de pessoas possui fronteiras finitas.

Analisando o slogan Brasil acima de tudo, utilizado na última eleição


presidencial nos remete à categoria de nação enquanto sociedade imaginada, tendo
seus defensores a ideia de comunidade imaginada pressupondo-se valores
culturais, econômicos, ideológicos morais e religiosos capazes de sustentar a
comunidade imaginada, buscando nas raízes culturais a base que justifique a
comunidade imaginada pelos defensores do “Brasil acima de tudo”, uma vez que na
visão de Benedict Anderson não existem símbolos mais impressionantes da cultura
moderna do nacionalismo do que os cenotáfios e túmulos dos soldados
desconhecidos, para demonstrar, por exemplo, a força do aspecto cultural.

O Brasil é uma comunidade imaginada, porque independentemente da


desigualdade e da exploração que possam existir, para os defensores do
nacionalismo, a nação é sempre concebida como uma profunda camaradagem
horizontal, o que justifica que essa fraternidade tornou possível, nos dois últimos
séculos, que milhões de pessoas tenham não tanto matado, mas sobretudo tenham
se mostrado dispostas a morrer por essas criações imaginárias limitadas, o que nos
permite concluir que a ideia de nacionalismo leva a que um determinado grupo por
conceber uma sociedade imaginada a partir de sua visão de mundo esteja disposto
a defender um projeto político que tenha como propósito, colocar o “Brasil acima de
tudo”, chegando à irracionalidade e à intolerância a qualquer indivíduo ou grupo que
manifeste opinião divergente.

3-A crítica da democracia como regime dos “desejos ilimitados dos indivíduos”, na
forma de “ódio”, pode ser observada, contemporaneamente, a partir de que
elementos? Cite casos e analise-os à luz da discussão de Rancière.

Inicialmente a respeito da discussão apresentada por Rancière em sua obra


“O Ódio à democracia”, nos remete à necessidade de discutirmos o que seja
Democracia, haja vista que segundo o autor a evidência que assimila democracia à
forma de governo representativo, resultante da eleição, é recente na história, sendo
a representação o oposto da democracia, sendo portanto uma forma de
funcionamento do estado, fundamentada inicialmente no privilégio das elites
“naturais” e desviada aos poucos de sua função pelas lutas democráticas.

Os desejos ilimitados dos indivíduos, na forma de ódio permite revisitar o


pensamento de Rousseau, que segundo o autor, tinha razão ao denunciar o círculo
vicioso de Hobbes que pretende provar a insociabilidade natural do homem
alegando intrigas de corte e maledicências de salão.

Para Rancière a palavra democracia não designa propriamente num uma


forma de sociedade, nem uma forma de governo, sendo a sociedade democrática
apenas uma pintura fantasiosa, destinada a sustentar tal ou tal princípio do bom
governo, sendo as sociedades tanto no presente quanto no passado, organizadas
pelo jogo das oligarquias, não existindo governo democrático propriamente dito, pois
os governos se exercem sempre da minoria sobre a maioria.

Em sua obra o autor traz algumas narrativas como a de uma jovem que
mantém a França em suspense com o relato de uma agressão imaginária entre
outros exemplos, sendo inútil procurar o que une acontecimentos de natureza tão
distinta, pois centenas de filósofos ou sociólogos já forneceram a resposta em
livros, artigos, cuja causa deve-se à democracia, ou seja, o reino dos desejos
ilimitados dos indivíduos da sociedade de massa moderna.

Ó ódio à democracia, segundo Rancière, não é novidade, sendo tão velho


quanto a própria democracia, sendo a palavra democracia um insulto inventado na
Grécia antiga por aqueles que viam a ruina de toda ordem legítima no inominável
governo de multidão, tendo continuado como sinônimo de abominação para todos os
que acreditavam que o poder cabia de direito aos que a ele eram destinados por
nascimento ou eleitos por suas competências.

Segundo Rancière,Marx soube estabelecer um padrão de pensamento que


ainda não se esgotou, ou seja, as leis e as instituições da democracia formal são as
aparências por trás das quais e os instrumentos com os quais se exerce o poder da
classe burguesa, sendo a luta por uma “democracia real”, uma forma de superação
dessas aparências.

No contexto de uma sociedade dividida em classes, o ódio à democracia


fundamenta-se pelo mal causado pelo respeito às diferenças, do direito das
minorias, sendo os críticos da democracia, os primeiros a aplaudir a América quando
esta trata de espalhar sua democracia pelo mundo através da força das armas.

Especificamente, no caso americano o ódio à democracia se materializa na


invasão do capitólio, quando em sessão, os deputados daqueles país reconheceriam
a vitória de Joe Biden, nas últimas eleições americanas que escolheram o nov
presidente do país.

Os discursos antidemocráticos como forma de justificar o seu ódio alegam


que o governo democrático é mau quando se deixa corromper pela sociedade
democrática que quer que todos sejam iguais e que todas as diferenças sejam
respeitadas, sendo o novo ódio resumido em uma tese simples, ou seja, só existe
uma democracia boa, a que reprime a catástrofe da civilização democrática, sendo
um caso emblemático o discurso de ódio contra negros, mulheres, homossexuais
entre outros grupos, durante a campanha presidencial no Brasil, em 2018, feito pelo
então candidato Jair Bolsonaro.
4-Em que medida conceitos ou ideias apresentadas durante a disciplina
podem auxiliar na configuração de seu objeto de pesquisa? Responda citando ao
menos dois autores.

A elaboração do projeto de pesquisa “ O Ideb enquanto condutor de políticas


públicas para a educação básica”, poderá ser melhor fundamentado a partir da
perspectiva de Marx Weber, quando da análise da categoria conceitual de
dominação legal, a partir da qual qualquer direito pode ser criado e no que tange ao
estudo do Ideb, a formulação de novas políticas públicas para a melhoria do
desempenho dos estudantes, nas avaliações em larga escola é um direito que se
deve buscar.

Uma outra categoria de weber é a luta, uma vez que na nossa democracia
representativa, partidos que tenham uma afinidade maior com a democratização do
acesso ao conhecimento, dentro da rena da disputa política, poderão viabilizar seus
projetos políticos, na formulação de políticas públicas na área educacional, pelo
exercício do poder, enquanto oportunidade existente dentro de uma relação social,
que permite a alguém(partido), impor a sua própria vontade mesmo contra a
resistência e independentemente da base na qual esta oportunidade se fundamente.

Hanna Arendt também é uma filósofa que trará muita contribuição para a
elaboração do projeto em tela, visto que a partir da visão de que a política é uma
atividade dos homens sobre o mundo, é possível, a partir da liberdade de agir, é
uma forma de se fazer o improvável e o impensável, sendo a politica uma ação
para a liberdade.

Dentro de uma perspectiva de pluralidade humana, Arendt nos apresenta o


homem como um produto humano mundano, e produto da natureza humana,
sendo assim é possível a concepção de políticas públicas educacionais que
permitam um aprendizado por partes dos alunos, capaz de lhes proporcionar bons
resultados, quando submetidos às avaliações realizadas pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Educacionais-INEP.

Arendt nos apresenta a possibilidade do pensamento político basear-se na


capacidade de formação de opinião, o que pode ter reflexo no exercício dessa
capacidade dentro do interior da sala de aula, promovendo assim o
desenvolvimento do pensamento crítico, sendo uma forma de se combater os
preconceitos existentes em nossa sociedade, especialmente quanto às
possiblidades da política promover a melhoria da vida social.

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