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O COMPOSITOR NA SALA DE AULA A 25 0 QUE & MUSICA? Nesta discussdo exp6e-se um: ‘ cepgdes errdneas, através desta questa’ Hieron decon- sica? A interessante conclusio alcangada re que é mé- tas ao cendrio musical de nossos dias, e. ain vis- nao seja compativel com o Oxford English Dictior ‘a ela talvez os cadernos de apreciagao musical, 08 es! mary ou com n i itudantes merecern o beneficio de uma definigdo de musica que seja util eviva™ SCHAFER: — Lembro-me de um professor que tive que pe- dia para a gente descrever uma escada circular sem usar as maos — uma coisa muito dificil de fazer, mas nao impossi- vel. Bem, hoje vou fazer a vocés uma pergunta que é tam- bém dificil de responder, embora também nfo seja impos- sivel. Achei que poderiamos discutir juntos e ver se pode- mos estabelecer uma definicdo. A pergunta é: “O QUE E MUSICA?” Uma das piores coisas que podem acontecer na nossa vida é continuarmos a fazer coisas sem saber bem o que elas sAo ou por que as fazemos. Vocés todos estado es- tudando musica ha alguns anos e esperamos que continuem por muito tempo ainda. Mas 0 que é essa coisa com a qual vocés gastam tanto tempo? Alguma definigao? Hesitantes no comego, depois mais vigorosamente, fo- ram surgindo definigdes, que eram escritas no quadro: Musica € alguma coisa de que voct gosta. a Musica é som organizado com ritmo e me a. Musica é som agradavel ao ouvido. Musica é uma arte. F Musica é uma atividade cultural relativa ao som. OS SCHAFER: — FE suficiente pare comerat Poms de Tetrabalhé-las, se necessario. ‘amos Exar que voce £05- perto. Primeiro: “Musica ¢ alguma bie “primeiro disco que ta’. Schafer vai ao toca-discos @ bac rie pave Brubeck, pode .. Por acaso é a ly f do dco “Tien Further Out. Isso € musica? Rp. MURRAY SCHAFER 26 “sins”? misturados. eof} Juvem-se “Sins . CLASSE “s Os que néo gostam de jazz, por fay, SCHAFER: Aleuns se levantaram. Schafer, a um dos Hh : Disa pe Vocé nao gosta de jazz? - a i odeio! ; — Nao, hal ALUNO: s concorda que era miisica o que voee scHAFER: — Ma ouviu? ; — Sim. ‘ had SMAFER — Ha algo estranho aqui. Musica é definidg co mo “algo de que voce gost ”*, Ouvimos jazz. Voces con. cordaram que ouvimos musica; porém, Se voces nao gos. tam de jazz, como pode ser musica? J ALUNO: — Ha algo errado na definigao. SCHAFER: — Obviamente, é insatisfatéria. H4 algo muito pessoal em dizer que musica é algo de que vocé gosta. A grande questo é: quem é ‘‘vocé’’? e 0 que da a “‘vocé”” 0 direito de distinguir entre musica e ndo-musica para as outras pessoas? O que quer que musica seja, esta claro que nao pode depender do gosto de uma sé pessoa. Precisa ser alguma coisa mais geral do que isso. Vamos ver a terceira definigao: ‘‘musica € som agrada- vel ao ouvido’’. Aqui eliminamos 0 controvertido “‘vocé”’, gue era muito pessoal, e substituimos por uma espécie de eeecolctivo — todos os ouvintes de musica. O que ALUNO: — Bem, ha alguns sons que sao agradaveis ao ou- vido de todos, e outros, que so desagr: i adaveis. Os sons da tua no séo misica. i ee: — Um carro na rua cantando os freios — é TODOS; — Nao! bem, an Por qué? Pausa: nenhum comentdrio. Tudo @ isso mais tarde, Vg SSUnto por um momento e voltar - Voces t nao Pode ser musi £5 todos concordam que ruido Ms ver, musica? Sinais de assentimento, Mulio bem, va- er vai até o tiy soe Plas vezes, Isso 6 mira oofPANO e toca ritmicamente, 80 € mis) CLASSE; — Sim) ica? No fundo d, a € Percutida vane Uma grande lata de lixo. Também °2es, ritmicamente. ies O COMPOSITOR NA SALA DE AULA un sCHAFER: — Isso ¢ musica? CLASSE! sCHAFER: — surpreso. Oh! Ha uma diferenga? Podem me dizer qual? ALUNO: — O timpano soa numa altura definida, e a lata de lixo é sé ruido. SCHAFER: — Pode alguém me dizer qual a altura definida do timpano? TIMPANISTA: — Eu acho que é “LA”. SCHAFER: — Tudo bem. Tocando o timpano. Classe, can- tem “‘LA’’. Confusdo total. Hd tantas alturas diferentes quanto alunos. Um estranho “LA”. Risos. Acho que erra- mos ao pensar que o timpano tem altura definida. E verda- de que, as vezes, ele toma 0 tom de outros instrumentos na orguestra quando toca com eles; mas de fato nao tem altu- ra definida. O som que produz é tao ruido quanto o da lata de lixo. Segue-se uma breve discussao sobre a diferenca entre vi- bragées regulares e irregulares. O que se afirma é ser isso o que distingue os sons de altura definida do mero ruido. Em seguida, Schafer vai novamente ao timpano e @ lata de lixo e percute os dois do mesmo Jjeito. SCHAFER: — Agora, o que vocés acham disso? Ainda pen- sam que um é musica e 0 outro nao? ALUNO: — Hé alguns outros instrumentos, ds vezes empre- gados na orquestra, que produzem tuidos do mesmo modo que a lata de lixo — por exemplo, a bigorna. SCHAFER: — Certo! Vocé pode achar outros? vozEs: — Sinos! Lixas! Apitos! Sirenes! Maquinas de escrever! SCHAFER: — Bom! Quero que vocés pensem por um mo- mento nessa questdo: a lata de lixo produz ou nao musica? Voltaremos ao assunto daqui a pouco. Mas vamos conti- nuar com a nossa definicéo de musica: ‘‘Sons agradaveis ao ouvido”’. Para nos ajudar, proponho um trabalho. Pe- guem seus instrumentos e estejam prontos para tocar. 28 R. MURRAY SCHAFER Os estudantes tomam seus instrumentos. Toda a orques- tra estd representada. SCHAFER: — A tarefa é a seguinte: vocés foram contrata- dos por Alfred Hitchcock para escrever a musica de seu mais recente filme de horror. Na cena em que estamos trabalhan- do hoje, a vitima esta entrando numa casa escura. O assas- sino se esconde atras da porta e, num certo momento, tapa a boca da vitima, golpeando-a. Como vamos reforgar esta cena dramatica com musica? Muitas sugest6es stio dadas. Para acompanhar a entra- da da vitima na casa, a classe decide fazer um trémulo gra- ve € suave nas cordas, que vai crescendo aos poucos é, en- tao, € cortado de repente, no momento em que a vitima abre @ porta fatal. Quando o assassino salta, a orquestra inteira toca um acorde em sforzando. Mas que acorde? Isso vira outra discussao. Alguém sugere que ndo importa qual, desde que seja forte. Experimenta-se Sol maior. A classe rejeita porque é muito brilhante. Alguém sugere Sol menor. Repete- se a seqiiéncia com Sol menor. A classe ainda nao estd sa- tisfeita. Acham “‘muito convencional”’ e “‘ndo o bastante assustador’’. SCHAFER: — Acho que o Sr. Hitchcock concordaria com vocés. Uma coisa estd clara: para ilustrar esta situacdo ten- sa ¢ brutal, precisamos de um acorde de maxima tensdo. Posso fazer uma sugesto? Cada um vai conversar com seu vizinho, ver que nota ele quer tocar, e entdo escolher uma diferente Para si. Escolham qualquer nota, mas toquem o mais forte possivel. Prontos ao meu sinal de entrada! A classe se diverte com essa sugesta i igestdo, mas estd ansiosa para experimentd-la, O resultado é impressionante! Osom produzido é verdadeiramente terrificante. © COMPOSITOR NA SALA DE AULA 2» UM CANTOR: — Nao sabemos nenhuma cangdo de horror. SCHAFER: — Digam, o que vocés fariam se alguém pulas- se de tras de uma porta e ameagasse vocés com uma faca? CANTOR: — Eu gritaria. SCHAFER: — Entao? Todos os olhos brilham. CANTOR: — Quando vocé atacar o acorde, quer que a gente grite? SCHAFER: — Com toda a forca dos pulmdes! Pronto? Va- mos la! A seqiiéncia é repetida, dessa vez, com as vozes. O som é tao terrificante que algumas meninas tapam os ouvidos e estremecem. Trés pessoas aparecem na porta perguntan- do “‘O que aconteceu’’? Todos estéo certos de que Hitchcock ficaria encantado. SCHAFER: — Agora, ninguém tem qualquer duvida para de- cidir se esse som foi agradavel ao ouvidos com certeza, nao foi. Porém, como som, ele serviu perfeitamente a nossa pro- posta. Considero que foi um som musical porque era a tri- lha sonora (‘‘musical’”’) que nos foi pedida para o filme. Mas, se é assim, 0 que acontece com a nossa definicao de musica ‘‘Som agradavel ao ouvido’’? Pensem sobre isso até A campainha toca; acabou a aula. No dia seguinte: SCHAFER: — Estamos ainda tentando definir ‘‘O que é mu- sica’’. Ontem fizemos musica para um filme de horror. Hoje quero comegar tocando uma gravacdo. Nela ha um narra- dor que é acompanhado por orquestra e coro. Ele é um dos poucos sobreviventes do exterminio dos judeus pelos nazis- tas, no ghetto de Vars6via. Esta descrevendo a cena que tem na memoria. R, MURRAY SCHAFER 30 Um sobrevivente de Varsévia, de Schoenberg, € tocado, bra com seu texto confuso, um misto de pathos e ddio, 4 intensamente dramatica. Quando acaba, a classe, que con- in grande numero de judeus, estd obviamente chocada e profundamente emocionada, Somente quando a classe se recobrou foi possivel continuar, SCHAFER: — Embora possa ter ficado alguma diivida a res- peito de nossa experiéncia de ontem, foi musica legitima, acho que ninguém pode negar que o que acabamos de ou- vir agora foi experiéncia musical poderosa e emocionante. Alguém quer dizer algo sobre isso? = ALUNO;: — Acho que a musica foi eficiente ao descrever a tragédia. Houve momentos em que ilustrou perfeitamente © texto. Por exemplo, nas palavras ‘‘suspiros e gemidos’’, a orquestra inteira produziu um tipo de som doloroso que deu muita forca ao texto. OUTRO ALUNO: — Achei que o acompanhamento para o oficial alemao foi especialmente eficaz. Fez dele uma cria- tura odidvel. UM TERCEIRO ALUNO: — Para mim, a seccdo mais drama- tica foi quando o narrador acha que esta ouvindo 0 coro dos judeus mortos, e, entéo, repentinamente, eles irrom- pem 0 canto. SCHAFER: — Este é 0 ponto marcante da pega. Antes dis- so tinha sido completamente negativo. Vocés usaram as pa- lavras “‘doloroso”’ e “‘odioso’’ para descrever esta obra. Po- rém, quando 0 coro dos judeus mortos entra, 0 elemento Positivo ressalta; o seu canto tem uma determinagao tortu- rada e perseguida, que transmite luta e muita forga. E co- mo s¢ © compositor estivesse dizendo: “‘Mesmo que vocés ee is pao judeu, nunca poderao matar sua meméria.”’ N € Nos interessa agora é encaixar essa peca na de- finigto de misica como “Som agradavel ao setts Tenho medo que sejam incompativeis, Uma delas Precisa cair fora. ALUNO: — A definicao é que preci i sa SCHAFER: Sim, tam! " ea R : bém tenho medo disso, Uma defini- a Been incluir todos os membros da familia a = Bae . le! inir, Ela liga todos, Vocé nao Pode ter uma de- que deixe algo de fora. Vamos contrapor mais uma © COMPOSITOR NA SALA DE AULA u das definigdes a Um Sobrevivente de Varsdvia, “Musica & som organizado com ritmo e melodia,” B agora? Havia rit- mo e melodia na pega de Schoenberg? ALUNO; — Nao acho que se possa dizer que havia melodia. SCHAFER O que vocé entende por melodia? ALUNO: Bem, alguma coisa que se possa assobiar ou cantar. OUTRO ALUNO: Nao concordo. Acho que havia melodia ai, mesmo se vocé nfo puder assobid-la. Talvez possa haver melodias to tristes quanto alegres, Até o acompanhamen- to para ‘‘suspiros ¢ gemidos”’, talvez, pudesse ser descrito como melodia. SCHAFER: — Tudo esta dependendo da nossa definigado de melodia, néo? Para comegar, uma melodia é feita de qué? ALUNO: — Uma série de sons. SCHAFER: — Que sons? ALUNO: — Poderia ser qualquer um. SCHAFER: — Estes? Vai ao piano e toca cinco ou seis sons disjuntos, em re- gistros e dindmicas diferentes. ALUNO: Suponho que poderia, mas nado é uma melodia mui- to boa. Risos. SCHAFER: — Provavelmente vocé esta certo, mas lembre- se: estamos procurando definir o termo e nao tentando dis- tinguir entre melodias boas e ruins. ALUNO: — Mas uma melodia nao precisa ter alguma ordem se é para expressar uma certa emogio? SCHAFER: — Gostei do que vocé disse. A sucessiio parti- cular de sons que o compositor escolhe — sua tessitura, di- namica, instrumentagdo —, tudo isso dé um certo carater & melodia e, por sua vez, obtém uma certa resposta emo- cional dos ouvintes. A série de notas que acompanha **ge- midos e suspiros’’ de Um Sobrevivente de Varsdvia tem um cardter emocional do mesmo modo que o movimento coral da ‘9% Sinfonia de Beethoven’’ tem um carater completa- mente diferente, porque a intengao do compositor é di- ferente. 32 R. MURRAY SCHAFER ALUNO: — O mesmo se aplica ao ritmo? SCHAFER: — Vocé pode responder a isso. Schafer bate um ritmo regular e, depois, outro ao acaso. Ambos so ritmos? ALUNO: — Devem ser, mas um é mais organizado que o outro. SCHAFER: — Bom! Um ritmo pode ser qualquer seqiiéncia de apoios que organizamos ou desorganizamos a vontade, dependendo do efeito particular que queiramos. Ha alguns meios de organiza¢Ao que chamamos metro (como em poe- sia) e outros de desorganiza¢ao, como 0 rubato (tempo rou- bado), sincope, ritardando, acelerando, e assim por dian- te, ou pela superposi¢do de metros diferentes, que assim con- fundem os simples apoios decisivos de cada metro indivi- dual. Podemos querer desorganizar completamente os apoios para obter um efeito especifico. Por exemplo, se eu puser uma série regular de pontos no quadro e disser a vo- cés que cada um deles é um apoio. Posso entéo confundir a regularidade desses pontos, acrescentando varios outros em volta deles, de tal modo que, apesar de a primeira série ainda estar presente, vai ser difi- cil distingui-los. : ee — Parece que Um Sobrevivente de Varsdvia faz SCHAFER: — De certo ‘ . Varsévi to modo, sim. Um Sobrevivente de ‘arsévia é uma peca ritmicamente mais complexa do que, di- © COMPOSITOR NA SALA DE AULA 33 gamos, uma sinfonia de Beethoven; mas nunca s¢ pode con- fundir complexidade ritmica com falta de ritmo. A falta de ritmo é 0 puro caos ~ embora mesmo isso possa ter 0 seu lugar. naa podemos resguardar, para nossa definig&o, as pa- lavras ritmo e melodia, se nos lembrarmos de us4-las do jeito que foi discutido, Melodia é simplesmente uma seqiiéncia organizada de sons; ritmo, uma seqiiéncia organizada de apoios. A palavra-chave é “organizada’’. O fato de que 0 compositor pensou nisso transforma-a numa coisa muito diferente dos ruf{dos que ouvimos na rua, por exemplo. Mas quero pedir a vocés para lembrarem sempre que também essa organizacaio pode, algumas vezes, criar um efeito de- sorganizado, pois, mesmo quando desorganizamos 0s sons, estamos, assim, ainda organizando-os. Assim, a segunda definig&éo do quadro — Musica ésom organizado com ritmo e melodia — pode parecer perfeita- mente correta, se considerada mais amplamente. Schafer, entao, vai ao timpano e toca. Mas e agora? E melodia? ALUNO: — Nao. Sé ritmo. SCHAFER: — Pode ser musica entéo? ALUNO: — Eu... realmente nao sei. Da ultima vez que vo- cé tocou, nds dissemos que era musica, mas agora... nao sei. SCHAFER: — Lembrem-se do que eu disse um momento atr4s a respeito de tornar a definig&éo mais ampla, para en- volver o que esta para ser definido. Nunca facam a coisa em si ser a propria definicéo. Deve haver outro caminho por perto. Sigam seus instintos. ALUNO: — Entdo, ainda é misica. SCHAFER: — Ainda? Tao surpreso? O que vocé diria en- t4o acerca da definigao? ALUNO: — Nao acho que esteja errada da maneira como esté colocada, porém parece que nao é absolutamente ne- cessério ter ritmo e melodia para haver musica. SCHAFER: — Vamos providenciar melodia e ritmo em nos- sa definicéo modelo, mas no é absolutamente necessdrio que ambos estejam sempre presentes. Esta bem? CLASSE: — Sim. SCHAFER: — Muito bem. Outra pergunta entéo: um ho- mem esté martelando um prego numa tabua. Esta fazendo R, MURRAY SCHAFER a4 musica? A furma considera pensativamente. E como aque- a velha questo da lata de lixo. Se eu bato nela, estou fa- a? Expressdes pensativas. Um carro canta og zendo mus V freios na rua. E miisica ALUNO: — brilhantemente. Nao, senhor, porque 0 som dos freios nado esté organizado. SCHAFER: — Bom! Mas isso ainda nos deixa com o carpin- teiro martelando e a lata de lixo. ALUNO: — A respeito da lata de lixo — nds decidimos que poderia ser usada como um instrumento musical, quero di- zer, para efeitos sonoros especiai: SCHAFER: — Se eu escrever uma peca chamada ‘‘Polca da lata de lixo”’ e quiser ter uma lata de lixo de verdade tocan- do durante a pega, essa percussao pode ser mtisica? ALUNO:— Poderia, mas nao acho que seria muito inte- Tessante. SCHAFER: — Isso nao vem ao caso. Nao estamos fazendo distin¢ao entre musica boa ou md, mas apenas tentando des- cobrir © que € musica. Se nessas condicées ela pode ser mu- sica, porque nao o seré quando o lixeiro a joga no caminhao? ALUNO: — He nado tem a inteng&o de fazer musica. SCHAFER: — Essa é a resposta que estavam: ! Gentine posta qi 0s procurando! ALUNO: — Bem, vocé decidiu usar a lata de li instrumento musical ¢ o lixeiro, nao, a 6 eee diferenga. SCHAFER: — Exatamente! A palavra qu: 6G, 30°? Faz uma grande diferenca, ay Pee ee 7 cionalmente para ser ouvido, ou nao. Nao existe inten mo de que 0s sons da rua sejam ouvidos; sao incids endo os fabricantes de automéveis pudessem fazer fi lentais. Se ciosos — estou certo que os fariam, embora. eee salen te, se possa pensar que os freios, do Mesmo mod. =n buzinas, sao sinais de alerta, Isso quer dizer = que as ao de que sejam ouvidos, embora nao pelos ate A inten- motivos, mas antes porque os sinais nos argu Proprios jminente. Mas e um som que é Produzido incid, do perigo e nao tem esta outra proposta? ¢ g ‘Coane entalmente ALUNO: — Ele nao esta fazendo misica cagiay artela © COMPOSITOR NA SALA DE AULA 35 porque nao tem intengao de fazé-la. Os sons que ele esta produzindo so apenas incidentais; 0 importante 6 marte- lar os pregos. OUTRO ALUNO: — Mas, professor, € se 0 carpinteiro esti- ver assobiando enquanto martela? SCHAFER: — Vocé respondeu. ALUNO: — Suponho que o assobio é musica mesmo que as marteladas nfo o sejam. SCHAFER: — Isso esta ficando vm pouco ou um tanto filo- séfico. Para comegar a assobiar, 0 carpinteiro deve ter ou- vido o som do martelo. E o que sugeriu 0 assobio a ele, mesmo que a sugestdo tenha sido subconsciente. E assim © martelo se tornou um tipo de musica para ele e, desde que forne¢a o acompanhamento ritmico para sua melodia, se torna parte da musica para nds também. ALUNO: — Se eu estiver jantando, o som dos talheres ba- tendo na louga nao é musica, mas, se eu encher de agua al- guns copos e percuti-los, isso se torna musica. Certo? SCHAFER: — Vocé respondeu. A intencfo faz a diferenca. Agora vamos ver onde a palavra “‘inten¢ao”’ fica na nossa definic&o de musica. Ja decidimos que ‘‘Musica é som or- ganizado’’. Sabemos também que a misica pode incluir cer- tos aspectos como ritmo e melodia. Acabamos de concluir, agora, que musica é som ‘‘com intengao de ser ouvido”’. Alguém gostaria de experimentar unir essas conclusdes nu- ma definigaéo? . ALUNO: — Musica é... uma organizagdo de sons... com rit- mo e melodia... com intengao de serem ouvidos. SCHAFER: — copiando no quadro. Vamos colocar entre pa- rénteses ‘‘ritmo’’ e ‘‘melodia’’, uma vez que ja sabemos ser possivel existir musica sem eles e que também, se fOssemos dar uma definicdo completa, teriamos que considerar ou- tros aspectos do som. MUSICA £ UMA ORGANIZAGAO DE SONS (RITMO, MELODIA ETC.) COM A INTENGAO DE SER OUVIDA. ALUNO: — E sobre aquelas outras definigdes de musica pas mo “‘uma arte e uma atividade cultural relativa ao som’? R. MURRAY SCHAFER 36 _ fi um outro assunto. Para considerd-la, temos tudo de novo e perguntar 0 que é arte?” ¢ é cultura?”’. E, como 0 sinal vai tocar dentro de “O que ec vamos deixar para uma outra vez. Mas pelo ada a algumas conclus6es que nos permitem 1c uma definigao, apesar de, sem diivida, ser SCHAFER: ~ que comecar trés menos chegar ; formar a base de ; 9 mais refinamento. ; ALUN: __ Professor, ontem quando come¢amos essa dis- cussao fui ao diciondrio para procurar a definigéo de ma- sica. Essa definigéo ¢ diferente da nossa. > SCHAFER: — Vocé copiou? Pode nos dizer qual é? ALUNO: — Sim. Ele diz: “Musica — a arte de expressar ou excitar emogao pela combinac¢do melodiosa e harmoniosa dos sons; qualquer som agradavel.”’ SCHAFER: — Esta perto de uma que eliminamos, nao? Is- so pode dar algo mais para pensar. Vou deix4-los com este pensamento: definigdes explicam ‘‘coisas’’. Quando as coisas mudam, as definig¢ses também mudam. Talvez a musica te- nha mudado, desde que o seu diciondrio foi escrito. Tal- vez, quem sabe, um dia, um de vocés escreva um diciond- rio € possa dar uma definicdo atualizada. ALUNO: — Professor, isso é esperar muito. SCHAFER: — Tudo bem. Vamos apenas esperar por isso: que nosso pequeno debate tenha dado a vocés algo em que Pensar ¢ que talvez estejamos mais proximos de entender © que estamos fazendo cada vez que entramos nesta sala de musica. O sinal toca, Isso foi musica? Classe dispensada. MUSICA DESCRITIVA O verdadej caminho nan” PFOPOsito dessa discussao era descobrir um 10 Para ' dos alunos. parpeier 4 potencialidade de improvisacao ParECEU-N0S um meet Se COM “imitagaio da natureza’”’. Para relaxar os alunos e Preparé. 0S para todo eficiente tis que se Seguiram, “Petiéncias de improvisaco mais

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