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Relatório Renan PROEMUS
Relatório Renan PROEMUS
RIO DE JANEIRO
2022
1
MÚSICAS, NO PLURAL!: UM PORTAL DE ENSINO DE MÚSICA QUE DESAFIA
PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÕES
_______________________________________________________________
Dr. Glauber Resende Domingues (Orientador)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
Rio de Janeiro
Dezembro de 2022
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RENAN SANTIAGO DE SOUSA
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Dr. Glauber Resende Domingues (Orientador )
______________________________________
Drª Luciana Pires de Sá Requião
______________________________________
Ms. Leonardo Moraes Batista
Data: ______/______/_______
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SOUSA, Renan Santiago de. MúsicaS, no plural!: um portal de aprendizagem de Música que
desafia preconceitos e discriminações. Relatório de mestrado (Mestrado Profissional em
Ensino das Práticas Musicais). Orientador: Glauber Resende Domingues. 47 f. Instituto Villa-
Lobos do Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2022.
RESUMO: Estão em voga na atualidade discussões e teorizações sobre como as diferenças culturais influenciam
nas dinâmicas sociais. A educação musical não está alheia a essas questões, visto que diversos trabalhos indicam
que as diferenças de raça, gênero, etnia, sexualidade e religião influenciam nos processos de ensino e de
aprendizagem de Música (ALMQVIST; HENTSCHEL, 2019; PALKKI; CALDWELL, 2018; SOUZA, 2015;
VANDWEELDEN; McGEE, 2007). Contudo, de forma geral, pesquisas também indicam que tais temas não têm
sido tratados no âmbito da formação de professoras(es) de Música com a profundidade que essas questões
demandam (SANTIAGO, 2017, 2021). Nesse sentido, o presente resumo apresenta o processo de construção de
um portal totalmente gratuito de aprendizagem de Música que busca contribuir com a formação inicial e continuada
de licenciandos e professoras(es) a fim de torná-las(os) mais aptas(os) sobre como ministrar um ensino de Música
direcionado para a educação básica que valorize as diferenças culturais e combata diferentes tipos de preconceitos
e discriminações. O desenvolvimento do portal baseou-se em quatro fundamentos teóricos: o multiculturalismo, a
pós-modernidade, as interseccionalidades e a epistemologia decolonial. O multiculturalismo pode ser definido
como um campo teórico e político de conhecimentos que tem como objetivo incluir as identidades historicamente
marginalizadas e excluídas do cotidiano escolar (BATISTA et al., 2013). A partir desse conceito, foram escolhidas
as identidades que seriam destacadas no portal: mulheres cisgêneras e transgêneras, pessoas homoafetivas, pessoas
negras, indígenas Guarani Mbya e candomblecistas, identidades essas que, no contexto fluminense, são as que
mais sofrem com preconceitos e discriminações. Da pós-modernidade, destaca-se a quebra epistemológica que tal
perspectiva efetua no pensamento cartesiano, possibilitando que o conhecimento possa se dar de formas não
necessariamente lineares ou sequenciais (SANTOS et al., 2012). Nesse sentido, não existiria uma “rota” correta,
ou um ponto de início e fim no qual a(o) usuária(o) deveria navegar pelo portal, logo, ela(e) pode começar e
terminar por onde quiser e nem sequer acessar todo o conteúdo disponibilizado, apenas o que lhe interessar. As
interseccionalidades possibilitam o entendimento de que os marcadores identitários, como gênero, raça e classe
social são interdependentes, não sendo possível pensá-los separadamente. Nesse sentido, interseccionando, por
exemplo, marcadores como raça e gênero, surge, a mulher negra, que tem características e demandas diferentes
de mulheres brancas ou homens negros (AKOTIRENE, 2019). No portal MúsicaS no plural, existe a guia
“Conversas plurais”, que, embasada na teoria das interseccionalidades, busca entrevistar mulheres musicistas e
militantes de diferentes contextos identitários. Por fim, o portal também se fundamenta na epistemologia
decolonial que, segundo Queiroz (2015), busca repensar as lógicas de opressão e exclusão que foram construídas
no período colonial, possibilitando que os saberes vistos como periféricos tenham lugar nos currículos escolares e
universitários. Nesse sentido, o portal busca apresentar possibilidade para que os saberes negros, indígenas,
homoafetivos, candomblecistas e femininos saiam da obscuridade curricular e sejam reconhecidos como saberes
legítimos na formação de professoras(es) de Música e nas aulas de Música da educação básica. Tendo como base
tais bases teóricas, o portal foi estruturado com diferentes materiais, como textos, videoaulas, entrevistas e links
externos, além de possibilitar a comunicação e a interação entre as(os) navegantes e o autor do portal. O seu
conteúdo está em consonância as indicações pedagógicas identificadas em uma revisão bibliográfica sobre o tema
e em entrevistas já publicadas em Santiago (2021), realizadas com professoras(es) de Música cujo algum traço da
sua identidade é socialmente estereotipado na sociedade, a saber, mulheres cisgêneras e transgêneras, pessoas
negras, pessoas homoafetivas, indígenas e candomblecistas, ou seja, buscou dar lugar de fala a quem tem direito.
A sua versão atual já pode ser acessada em musicasnoplural.com, contudo, destaca-se que o portal está em contínuo
estado de desenvolvimento, é um devir indefinido.
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LISTA DE FIGURAS
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SUMÁRIO
I CONSIDERAÇÕES INICIAIS....................................................................................7
V UM (NÃO) FINAL.....................................................................................................44
Referências......................................................................................................................45
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I
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
De forma simplificada, pode-se definir cultura como os reflexos das diferentes formas na
qual seres humanos interveem na natureza e na sociedade, gerando significados que modificam
suas percepções sociais e, por conseguinte, como elas(es) atuam socialmente, seja em favor ou
desfavor do status quo (CANEN; MOREIRA, 2001; EAGLETON, 2001; MOREIRA;
CANDAU, 2008).
A partir das possibilidades da definição supracitada, argumenta-se que dentro de uma
determinada delimitação geográfica - que pode ser um país, estado, município, ou até mesmo
uma escola ou universidade - diferentes culturas - isto é, diferentes formas nas quais as pessoas
percebem o mundo e se expressam a partir dessa percepção - compartilham o mesmo espaço
físico, o que pode ser denominado pluralidade cultural ou multiculturalidade (SANTIAGO;
IVENICKI, 2016, 2017, 2018).
As diferenças culturais e a multiculturalidade em si não são problemas a serem
combatidos ou solucionados, muito pelo contrário, as diferenças são positivas e podem
promover aprendizagens mútuas e hibridismos (SANTIAGO; IVENICKI, 2016, 2017, 2018).
Todavia, a questão demanda preocupação quando, por questões políticas, as culturas que
transpassam determinada sociedade são hierarquizadas em “melhores ou piores”, “boas ou
ruins”, “positivas ou negativas”, “dignas ou indignas”, entre outros binarismos (SILVA, 2014).
Nesse sentido, a tendência é que uma cultura seja evidenciada e socialmente promovida
enquanto o restante é desvalorizado, diminuído e, por vezes, proibido. As diferenças de
tratamento oferecidos às diferentes culturas são, portanto, as fontes da desigualdade social e
também dos diferentes tipos de preconceitos e discriminações, dentre os quais a educação e a
formação de professoras(es) não pode ignorar ou posicionar-se de forma neutra (SANTIAGO,
2019).
Dentro desse contexto, a Música e as diferentes formas nas quais a mesma é ensinada e
aprendida não estão alheias às questões sociais e identitárias, pelo contrário, questões
relacionadas às diferenças culturais perpassam diretamente o ensino de Música, influenciando
o modo no qual ele é pensado e praticado (SANTIAGO, 2021).
Contudo, o caráter conservador, tradicionalista e quiçá retrógrado no qual a educação
musical, muitas vezes, se dá em ambientes formais de ensino, corrobora para a percepção
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equivocada de que o ensino de Música é neutro em relação às questões culturais, como se fosse
um ente superior e transcendental, posicionado acima dos choques e entrechoques culturais,
que incluiriam questões de raça, gênero, classe, etnia, sexualidade, religião etc. (e.g.
ALMQVIST; HENTSCHEL, 2019, SANTIAGO, 2017; PALKKI; CALDWELL, 2018;
SOUZA, 2015; BATISTA, 2018 )
Essa pseudo-neutralidade da educação musical é nociva na medida em que ao se ignorar
que o ensino de Música é também influenciado pelas diferenças culturais, possibilita-se que tal
ensino, ao invés de ser democrático, emancipador e crítico, se torne discriminatório, excludente
e pouco relacionado com a realidade e com as suas demandas. É necessário, portanto, uma
educação musical que não somente não (re)produza preconceitos e discriminações, mas que
também se posicione positivamente no que se refere ao combate do racismo, do sexismo, da
xenofobia, do heterossexismo, da intolerância religiosa, entre outras formas de exclusão.
De fato, muitos avanços têm emergido nas últimas décadas no que se refere à garantia de
direitos sociais, educacionais nos âmbitos das justiças social, curricular e cognitiva de grupos
que, historicamente, estavam marginalizados e oprimidos na sociedade em geral. Contudo, o
campo da educação musical não tem acompanhado tais avanços na velocidade, dinâmica e
potência que a problemática exige. Geralmente, são atitudes individuais de certas(os) docentes
ou grupos de pesquisa que, literalmente, fazem e trazem a diferença para o ensino de Música,
mas essas atitudes deveriam ser uma ação política do campo como um todo, e assim sendo essa
lacuna na formação de professoras(es) de Música geral um ciclo vicioso que se retroalimenta,
culminando para que a educação musical se mantenha excludente e elitizada.
Figura 1: Ciclo do monoculturalismo na educação musical
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Argumenta-se que, em conformidade com o pensamento pós-colonial (HALL, 2005), os
preconceitos e discriminações têm sua gênese com o advento do período colonial, que forjou o
pensamento social e, até hoje, faz com que a cultura do colonizador seja estimada e valorizada,
enquanto a cultura do colonizado seja subestimada e evitada.
Como se sabe, o ensino tradicional de Música, que supervaloriza o repertório e a
musicalidade europeia, bem como a sua forma de notação musical e ensino de Música, é uma
“herança” do colonizador. Logo, pode-se argumentar que a predominância do ensino tradicional
de Música é reforçada pelo pensamento colonial
Por sua vez, o ensino tradicional de Música – focado na formação de virtuoses e no
aprendizagem da teoria musical ocidental - e os esforços que diferentes grupos que se
identificam com ele fazem para que tal forma de ensino se mantenha hegemônica corrobora
com outras questões, como o fato da universidade manter-se centrada na cultura europeia, o que
pode dificultar a aprovação de indivíduos que se identificam com outras formas de musicalidade
– como a música popular – e, também, tal caráter tradicional e conservador coíbe que temas
multiculturais sejam discutidos no cotidiano das faculdades que formam professores(as) de
Música.
Como consequência, os(as) professores(as) em treinamento acabam por não adquirir
saberes docentes multiculturais, ou seja, não aprendem a como ensinar música de uma forma
culturalmente responsiva e responsável, e tal fato pode proporcionar que tais professores(as)
não venham a valorizar e respeitar as diferenças do seu alunado, o que, por sua vez, poderá
corroborar para a reprodução do caráter monocultural da escola, bem como a reprodução de
preconceitos e discriminações.
O ciclo se fecha a posteriori pois, alguns(mas) estudantes da educação básica, depois de
alguns anos, poderão ser os(as) candidatos(as) a uma vaga na universidade, talvez, para o curso
de Licenciatura em Música e, para tal, eles(as) precisarão se moldar às normas, ou melhor, ao
habitus institucional que, sabidamente, é tradicionalista e conservatorial (PEREIRA, 2014),
caso queiram ser aprovados(as) no Teste de Habilidade Específica. Para “quebrar” o ciclo, se
faz necessário mudanças significativas na educação básica e na formação de professores(as).
Aparecem, portanto, alguns desafios que uma educação musical multicultural no contexto
brasileiro precisa superar. Primeiramente, afirma-se que é importante reconhecer que escolas e
universidades reproduzem a realidade social que, pelo advento do período colonizador, ainda
mantém traços de preconceito e discriminação.
Uma vez reconhecido que tal caráter permeia as escolas e universidades, a educação
musical precisa ser repensada em ordem de não reproduzir as desigualdades socialmente
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estabelecidas e contribuir com a função da escola de contribuir com a mudança do mundo, de
dentro desta para o restante da sociedade.
Para tal, é importante que a formação de professores(as) de Música não apenas inclua a
musicalidade de diferentes culturas nas aulas, mas também as formas com as quais essas
musicalidades são ensinadas no seu ambiente de origem, sem esquecer de explicar aos(às)
professores(as) em formação o porquê destas musicalidades não estarem, habitualmente,
presente nos currículos. Seria importante também outras atitudes, como repensar os programas
dos Testes de Habilidade Específica dos cursos de Licencitura em Música, a fim de que estes
sejam mais inclusivos (SANTIAGO; MONTI, 2018).
Nesse contexto, se sugere que aulas de Música sejam críticas, isto é, valorizem as culturas
das ditas minorias e combatam diretamente todos os tipos de preconceitos, e, para tal, os(as)
professores(as) em formação devem ser preparados(as) para considerar e respeitar os
conhecimentos extraescolares que os(as) estudantes trazem para à escola.
Em suma, é necessário o empreendimento de uma quebra paradigmática potente o
suficiente para que esse ciclo seja interrompido. Essa quebra seria, justamente, um conjunto de
ações empreendidas por diferentes profissionais do campo que, embora sejam diferentes,
tenham o mesmo objetivo: descolonizar a educação musical. Contudo, subsídios teóricos,
pedagógicos e musicais são necessários para instrumentalizar professoras(es) para chegarem a
tal objetivo, tendo em vista que, de forma geral, professoras(es) de Música não têm sido
preparadas a contento para lecionar com as/nas diferenças. Como proceder nessa situação?
1.2 Objetivos
Diante desse problema de pesquisa, o objetivo do artefato que aqui é descrito e analisado
- a saber, um portal online de aprendizagem de Música denominado MúsicaS, no Plural! - é
sensibilizar docentes de Música (já formadas(os) ou em formação) sobre como as diferenças
culturais perpassam a Música e suas formas de ensino, bem como instrumentalizá-las(os) a fim
de elas(es) tenham mais possibilidade de ministrar um ensino de Música decolonial,
emancipador e socialmente inclusivo.
Para se alcançar tal objetivo, buscou-se:
I- Adquirir conhecimento sobre o assunto, junto a professoras(es) cujo algum traço de sua
identidade é socialmente estereotipado com conteúdos intrínsecos à disciplina de Música
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II- A partir desse conhecimento, produzir um portal de ensino de Música com conteúdos
voltados para discussões sobre as relações existentes entre Música e diferenças culturais;
III- Analisar qualitativamente a usabilidade e a experiência das(os) usuárias(os) do
portal.
Como tais objetivos foram alcançados será mais bem detalhado no decorrer do texto.
II
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BASES TEÓRICAS DO PORTAL
O portal MúsicaS, no Plural! foi planejado e desenvolvido tendo como base diferentes
teorias que podem ser consideradas transgressoras pois desafiam o status quo epistemológico,
cultural, fenotípico e político que, em geral, sustenta o ensino de Música.
Cada teoria dessas é complexa, possuindo histórias, agentes políticos e procedimentos
metodológicos distintos. Não é do objetivo dessa seção pormenorizá-las, muito menos, esgotar
tudo aquilo que cada uma delas pode oferecer, até porque essa empreitada, por si só, já seria
uma pesquisa deveras complexa. Não obstante, pretende-se apresentar essas teorias de forma
resumida, focando o que delas foi aproveitado na esfera intelectual da produção do portal e
como isso foi feito.
Essas teorias são: a pós-modernidade, o multiculturalismo, a crítica decolonial e as
interseccionalidades. A seguir, o texto discorrerá sobre a primeira citada.
2.2. Pós-modernidade
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A educação musical foi bastante influenciada por essa lógica de conhecimento. Entre
outras implicações, muitos métodos de instrumento ou de solfejo são progressivos, isto é,
apresentam exercícios, estudos ou lições numeradas, as famosas “lições um, dois, três etc.”, no
qual deve-se seguir na ordem correta para se obter a verdade, o conhecimento.
Contudo, os ideais modernos também começaram a ser tensionados por outras reflexões
que emergiram com o passar do tempo, tais como a cultura transgeracional do pensamento
marxista, o pensamento freudiano, a linguística estrutural de Ferdinand de Saussure, o projeto
disciplina cunhado por Foucault e a crítica feminista, que, por destacarem o social e o
subconsciente em detrimento do individual e lógico, refutariam o sujeito autocognoscente de
Descartes que sozinho, poderia chegar a noções de verdades (HALL, 2005).
Além dessas novas configurações teóricas, mudanças econômicas e socioestruturais
também têm influenciado na percepção de que a linearidade moderna na produção de
conhecimento não é uma condição sine qua non. Tais mudanças são, principalmente, a
globalização e a ascensão da tecnologia e, consequentemente, dos meios de comunicação.
Nesse sentido, a transmissão do conhecimento se daria linearmente, hoje em dia pode ser
pensada como uma rede, com múltiplos caminhos e possibilidades.
Dentro desse contexto, abre-se espaço para o conceito de rizomas, isto é, uma estrutura
semelhante a raízes, comum em fungos e em espécies vegetais como o gengibre, que, pelas suas
ramificações complexas e interconectadas, não torna possível verificar um começo ou um fim,
mas, pelo contrário, várias possibilidades de entrecaminhos são possíveis no processo de
construção do conhecimento (DELEUZE; GUATTARI, 1995).
Santos et al. (2012), por meio desse conceito epistemológico, propõe um currículo pós-
moderno e rizomático para a educação musical, caracterizado, justamente, pelas múltiplas
possibilidades de trajetórias nas quais se pode adquirir conhecimento sobre Música, sem,
necessariamente, um começo ou um final pré-determinados. O currículo, nesses moldes, seria
fluido, volátil, dinâmico, vivo, construído tendo como base as necessidades, inquietações e
desafios que surgiriam no processo de se ensinar/aprender Música. Seria um currículo ativo,
desenvolvido por quem ensinaprende e por quem aprendensina.
2.3 Multiculturalismo
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apresenta em diferentes áreas, como o direito, a saúde, o turismo etc., com o objetivo de
“gerenciar” essas diferenças a fim de que não ocorram hierarquizações (HALL, 2003).
Nesse sentido, o multiculturalismo poderia ser pensando como uma teoria geral que
abrange quaisquer outras teorias igualitárias que discorrem sobre o combate aos preconceitos e
discriminações, sejam elas teorias mais amplas, como a crítica decolonial, ou teorias focadas
em determinados grupos identitários, como o feminismo, a crítica racial, a teoria queer etc.
(CANEN, 2011).
Dessarte, o multiculturalismo também encontra o seu espaço na educação, podendo ser
definido como “um campo político e teórico de conhecimentos, que valoriza o múltiplo, o
plural, e busca formas de incorporar as identidades historicamente marginalizadas e oprimidas
no cotidiano escolar” (BATISTA et al, 2013, p. 255). Em um contexto educacional excludente,
o objetivo de uma educação multicultural seria, justamente, torná-la mais igualitária e
equânime, ao se focar nas minorias e seus saberes.
Nesse sentido educacional, pode-se pensar em 1) políticas multiculturais; ou seja, leis que
têm como objetivo proporcionar o acesso às escolas e às universidades de pessoas que,
historicamente, estão excluídas do ambiente escolar e universitário. As Leis de Cotas Raciais
para o ensino superior (Lei 12.711/201) e também em seleções para docentes (Lei 12.990/2014),
por exemplo, poderiam ser classificada como políticas multiculturais, por seu caráter
racialmente inclusivo; 2) didáticas multiculturais; isto é, pedagogias culturalmente relevantes
que fogem ao eurocentrismo e buscam ensinar de formas outras. Pedagogias afrocentradas e/ou
indígenas são formas didáticas multiculturais; 3) avaliações multiculturais; que levem em
consideração as diferenças, por exemplo, os vestibulares específicos para indígenas,
quilombolas e pessoas surdas e 4) currículos multiculturais; isto é, políticas currículares, leis
específicas, currículos prescritos ou ocultos que incluam conteúdos e saberes plurais.
Em suma, o multiculturalismo analisa a sociedade como um todo, inclusive a educação,
buscando identificar possíveis ênfases e ausências, a fim de equilibrar possíveis quadros
desiguais e empreender esforços para inclusão de pessoas historicamente marginalizadas e
estereotipadas.
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inclusive, as ameríndias e afro-brasileiras (BATISTA, 2018; QUEIROZ, 2015;
MALDONADO-TORRES, 2019).
Segundo Walsh (2012), a crítica decolonial indica que toda a desigualdade social, o que
abrange também diferentes tipos de preconceitos e discriminações, tem sua origem no processo
de colonização. Esse processo foi extremamente violento e, por meio dele, a cultura e religião
do colonizador foram impostas às(aos) nativas(os) e às pessoas escravizadas e, se não fossem
ações de resistência desses últimos, suas culturas provavelmente seriam totalmente apagadas.
Dentro desse contexto, embora o período colonial tenha se findado oficialmente nas ex-
colônias, ele deixou marcas deveras negativas no pensamento social de tais sociedades que
perduram até os dias atuais, o que corrobora para práticas, conscientes ou inconscientes, de
(re)produção de estereótipos contra mulheres, pessoas homemoafetivas, identidades de gênero
não-binárias, indígenas, pessoas negras, correligionários de religiões de matriz afro-brasileira
em geral, entre outras identidades não normativas.
Walsh (2012) denomina tais marcas como eixos da colonialidade, isto é, os diferentes
aspectos que fazem com que as características trazidas e fortalecidas no período colonial
continuem de pé e ativas. Tais eixos são quatro: a colonialidade do poder, a colonilidade do
saber, a colonialidade do ser, e a colonialidade cosmogônica.
A colonialidade do poder se refere à tendência do poder estar concentrada nas mãos de
alguns poucos cujo perfil coincide com o perfil dos colonizadores portugueses, a saber, homens
brancos cristãos. Essa colonialidade influencia diretamente nas tomadas de decisão que, em
geral, são em desfavor às minorias, tais como aquelas que são priorizadas no portal MúsicaS,
no Plural!, visto que quem decide sobre os direitos das mulheres, dos negros, das pessoas
LGBTQIA+, das pessoas de axé, das(os) indígenas, entre outras identidades, são, em geral,
homens cisgêneros brancos que, consciente ou inconscientemente, muitas vezes, vão contra
decisões que poderiam valorizar essas identidades, justamente, porque assim eles se manteriam
como elites.
A colonialidade do saber indica, equivocadamente, que o único saber legítimo e digno de
ser difundido é o saber europeu, sendo o restante pautado como saberes não legítimos, menos
significativos, ou até mesmo não sendo consideradas formas de saber. Essa colonialidade
corrobora para que, por exemplo, os conhecimentos e as musicalidades indígenas, afro-
brasileiros, femininos e LGBTQIA+, perpassem pouco os currículos escolares e universitários
(FRAGOSO, 2017, 2018; SOUZA, 2015; BATISTA, 2018; OLIVEIRA; FARIAS, 2020,
SANTIAGO, 2017, 2021)
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A colonialidade do ser favorece para o entendimento equivocado de que a melhor
representação física do ser humano coincide com o fenótipo do colonizador, a saber, as
características da raça branca dentro de uma perspectiva de cisgeneridade e com uma expressão
heterossexual de gênero. Isso tem potencial de “patologizar” ou mesmo “desumanizar” as
pessoas que fogem a essa regra, como pessoas andrógenas, não-binárias, negras e indígenas,
sendo que estes últimos, muitas vezes, são vistos com seres humanos inferiores, em
“desenvolvimento”, ou até como um “não humano” (SANTIAGO, 2021).
Por fim, se tem a colonialidade cosmogônica, que está relacionada à desvalorização das
diferentes formas de religião e de espiritualidade. Segundo Walsh (2012), no contexto sul-
americano, a única religião que, de forma geral, é bem aceita, é o Cristianismo, que foi
justamente a forma de fé trazida pelo colonizador e que, não à toa, é a religião oficial do Brasil,
um país plural. As outras crenças, inclusive as indígenas e de matriz africana, são vistas como
religiões inferiores, crendices, feitiçarias, mitos etc.
Essa matriz colonial encontra amplo espaço na educação musical. Queiroz (2015),
analisando o ensino superior de Música no Brasil, verificou que, de forma geral, a cultura e
musicalidade europeia é hegemônica, abrindo espaço para poucos movimentos de resistência.
Santiago e Ivenicki (2017) também contribui para a discussão, trazendo dados empíricos
produzidos em universidades cariocas, indicando que os licenciandos em Música que
contribuíram para a pesquisa, de forma geral, mostram-se insatisfeitos com formação que
recebiam para ensinar músicas afro-brasileiras e indígenas. Semelhantemente, professoras(es)
universitárias(os) de Música têm dificuldades em tratar sobre temas relacionados às diferenças
de gênero, de sexualidade e de suas interseccionalidades em suas aulas (SANTIAGO, 2019).
Nesse contexto de que a presença da colonialidade na sociedade como um todo e na
educação musical é um fato, a crítica decolonial nos convida a observar a sociedade e identificar
como a mesma está presente no nosso cotidiano e, a dessa forma, tentar desconstruí-la. Assim
sendo, se o conhecimento feminino, transgênero, LGBTQIA+ e de matriz indígena e afro-
brasileira não está presente nas salas de aula, é necessário empreender esforços para que ele
passe a estar.
2.5 Interseccionalidades
Dentro dos estudos sobre gênero, busca-se entender como feminilidades, masculinidades,
não-binaridades, androgenidades, entre outras possibilidades, são construídas
socioculturalmente e como essas construções impactam a sociedade (LOURO, 2014). Nesse
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contexto, surge o pensamento interseccional, que surge a partir do feminismo negro que
identificou lacunas significativas no tratamento oferecido às mulheres brancas e às negras
(AKOTIRENE, 2020).
Para entender o exposto, recorrer-se-á às características do feminismo no momento do
seu surgimento. Segundo Louro (2014), os estudos sobre gênero têm a sua gênese juntamente
com o início do movimento de caráter identitário conhecido como feminismo, entendido, de
forma simplória, como um campo teórico e político que busca defender, empoderar e visibilizar
mulheres. No século XIX, a “primeira onda do feminismo” tinha em sua agenda questões como
o sufrágio feminino, o direito ao estudo e ao trabalho em profissões socialmente marcadas como
“masculinas”, bem como direitos sobre o próprio corpo. Porém, essas reinvindicações iam ao
encontro dos interesses de apenas um certo grupo de mulheres: as cisgêneras, brancas, de classe
média ou das elites, moradoras de centros urbanos, cristãs e oriundas de países ocidentais.
Assim sendo, pode-se perceber que as reinvindicações daquilo que Louro (2014) chamou de
“primeira onda do feminismo” não iam em direção dos interesses de todas as mulheres.
Nesse contexto, teóricos como Akotirene (2018) e Domingues (2018) contribuem
afirmando que diferentes marcadores identitários podem se intercruzar, gerando construções
mais amplas e complexas: as interseccionalidades, que originalmente, têm a raça como base de
análise. Dentro desse entendimento interseccional, pode-se afirmar que o conceito de “mulher”
não é universal, à medida que “não existe a mulher, mas várias e diferentes mulheres que não
são idênticas entre si, mas que podem ou não ser solidárias, cúmplices ou opositoras” (LOURO,
2014, p. 36).
Como consequência do exposto, expressa-se que o pensamento interseccional também
fortalece a necessidade de entendermos o feminismo como um movimento social de caráter
identitário plural, abrindo possibilidades outras, como o feminismo negro, o feminismo lésbico,
o transfeminismo, o feminismo indígena, o feminismo islâmico, entre outras formas de
feminismo (LOURO, 2014). É necessário, portanto, analisar como cada construção de gênero
se intersecciona com outros marcadores, tais como raça, sexualidade, religião e etnia.
Buscou-se nessa seção teórica sumarizar as quatro teorias que nortearam teórico e
metodologicamente a produção do portal MúsicaS, no Plural!. Na próxima seção, o portal será
finalmente apresentado, detalhando-se como tais teorias estão nele contidas.
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III
O PORTAL: APRESENTAÇÃO E ESCOLHAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS
18
À data da escrita desse relatório (novembro de 2022), ao se digitar no navegador o
endereço musicasnoplural.com, a seguinte tela será apresentada:
Vários elementos são dignos de destaque nessa página inicial. Logo no início, há um dos
logos e a frase convidativa: “como usar o portal?”. Clicando na imagem, a usuária será
direcionada a esse vídeo: https://youtu.be/ZiSOEaaCOnA?t=355, no qual o portal é apresentado
e a forma de utilização, descrita abaixo, é pormenorizada. Embora essa opção esteja disponível,
assistir ao vídeo não é uma condição sine qua non para se entender a estrutura do portal, visto
que ela é bastante intuitiva.
Ainda na página principal, há uma barra de buscas. Por meio dela, a(o) usuária(o) poderá
procurar por conteúdo utilizando palavras-chaves e, automaticamente, será direcionada(o) a
uma página que indicará os resultados, sem, necessariamente, ser necessário buscar os itens no
menu principal. Por exemplo, ao se buscar o termo “gênero”, será apresentada a seguinte página
de resultados:
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Fonte: https://www.musicasnoplural.com/search-results?q=g%C3%AAnero, acesso em 13/11/2022
20
do que esse quantitativo, alguns seriam compactados sobre o nome “mais menus”, logo,
preferiu-se trabalhar com um número no qual todos os menus apareceriam.
O submenu Sobre tem como objetivo explicar a proposta e o objetivo do portal MúsicaS,
no Plural!.
O texto inicial ressalta que o objetivo do Portal é relacionar educação musical e diferenças
culturais. Daí, provém o nome MúsicaS, no Plural!, que indica que, a despeito das universidades
hipervalorizarem a música de concerto, existem infinitas possibilidades musicais que também
deveriam ser valorizadas no âmbito acadêmico e, que tais músicas ressoam em um contexto de
pluralidade, no qual as pessoas que as compõem, regem, interpretam, tocam, cantam,
ensinaprendem, aprendensinam e consomem, também são plurais.
Destaca-se que esse texto no submenu busca indicar que o Portal não busca ser exaustivo,
como se quisesse trazer toda a pluralidade do Brasil e do mundo para o seu interior. Essa
empreitada seria impossível de ser realizada. Um dos objetivos do Portal é, como diz o título,
possibilitar que as pessoas tracem os seus próprios caminhos e adquiram conhecimento dentro
21
dos seus contextos, sempre por meio do diálogo e interação. O autor desse texto, por exemplo,
buscou aprender sobre música indígenas com nativas(os) de uma aldeia do Rio de Janeiro,
estado onde reside, contudo, pessoas de outros lugares traçariam seus caminhos, possivelmente,
com indígenas mais próximos, a fim de conseguir interagir e ter uma aprendizagem mais
aprofundada.
Após o vídeo, segue um pequeno texto chamado “Educação Musical e diferenças
culturais”, que mostra a urgência de um ensino de música decolonial, já com links para os
assuntos citados. A utilização dos links também é uma tentativa de fazer com que os conteúdos
do Portal sejam conectados de forma rizomática, isto é, quando um texto cita um assunto que é
tratado por outro texto, por um vídeo, por uma conversa plural ou por um link externo, a fonte
em vermelho indicará que se trata de um link para outro conteúdo. Nos vídeos, tal ancoragem
é feita oralmente, ou seja, fala-se que existe um texto, outro vídeo, uma entrevista ou uma
entrevista que também discorra sobre determinado assunto. Assim sendo, todos os submenus
do Portal estão conectados.
Figura 5: Links externos
Também é nessa seção que se expressa que o portal discorrerá, principalmente, sobre
questões de raça, gênero, sexualidade, etnia e religião, marcadores esses que são concebidos
como os que melhor resumem a experiência humana (SANTIAGO, 2021).
22
Contudo cada um desses marcadores é “um mundo”. Nesse sentido, de posse do
multiculturalismo, que prioriza as identidades mais oprimidas e marginalizadas, delimitou-se o
foco do Portal em conteúdos relacionados à: pessoas negras (raça), mulheres cisgêneras e
transgêneras (gênero), pessoas homoafetivas (sexualidade), indígenas (etnia) e candomblecistas
(religião). Tais marcadores foram interseccionados em alguns momentos.
3.3 Vídeos
Os vídeos foram gravados com um celular Samsung Galaxy M21s, com câmera de 64
Mega Pixels, e o áudio foi captado com microfone condensador KP-M0021, ambos conectados
em um notebook Lenovo BD1H3KOJ, Intel(R) Core(TM) i3-6006U CPU @ 2.00GHz 1.99
GHz. O software de captura de vídeo e áudio foi o OBS Studio e o editor foi o VSDC Free
Video Editor, ambos gratuitos. As imagens, como o logotipo, foram produzidas no InkScape
ou obtidas na internet. Após gravados e editados, os vídeos foram publicados no YouTube e
anexados ao Portal.
Tais vídeos têm formato de videoaulas e tratam principalmente de assuntos teóricos
ligados às diferenças de raça, gênero, sexualidade, etnia e religião, visto que tal conhecimento
é importantíssimo para instrumentalizar professoras(es) de Música para atuarem positiva e
criticamente com a pluralidade cultural dos diferentes espaços educacionais. Alguns vídeos
dessa categoria são: “Quem tem raça” e “Religião, poder e educação musical”.
Além de vídeos teóricos, também vídeos teórico-práticos, que buscam mostrar como esse
referencial teórico apresentado pode se converter em ações práticas em salas de aulas. Para
adquirir esse conhecimento em específico, aproveitou-se as entrevistas feitas com pessoas
negras, pessoas homoafetivas, indígenas, candomblecistas e mulheres, bem como a revisão
bibliográfica anteriormente feita em Santiago (2021). Um exemplo de vídeo feito nesse modelo
foi “A educação musical na luta contra o machismo e a homofobia”.
Também foram feitos vídeos com caráter mais prático, sem muita discussão teórica, como
por exemplo “Instrumentos musicais da diáspora africana” e “Como transformar um violão e
violino em, respectivamente, um mbaraka e uma rawe”.
Clicando em qualquer título, a(o) usuária(o) será encaminhada para uma nova página com
mais informações.
23
Figura 6: Página ao se clicar em um título de vídeo
3.4 Textos
24
Tratam-se de textos totalmente originais e nunca antes publicados, referenciados
teoricamente e com o objetivo de serem didáticos e acessíveis ao público-alvo do Portal. Foram
escritos e revisados no MS Word 2003 e transpostos para o editor de texto no Wix, onde eles
foram formatados e onde os links internos foram inseridos. A Figura 6 apresenta o que a(o)
usuária(o) vê ao clicar no citado submenu.
Clicando em qualquer título, a(o) usuária(o) será direcionada para outra página, no qual
o texto selecionado estará disponibilizado. Por exemplo, ao clicar em “Preconceitos velados e
reproduzidos em aulas de Música”, ter-se-á a seguinte tela:
Figura 8: Clicando em um texto
25
Fonte: Adaptado de musicasnoplural.com/preconceitosediscriminacoesveladasemaulasdemusica
Acesso em 14/11/2022
O uso de figuras, fontes com cores diferentes e a utilização de textos destacados buscam
tornar a leitura mais prazerosa e menos cansativa. Nos textos, também há links internos para
conteúdos que são tratados em outros textos, vídeos, conversas plurais ou repertório.
No final de cada texto, há a lista de referências citadas, dessa forma, a(o) usuária(o)
poderá acessar mais conteúdo sobre o assunto lido.
À época da escrita desse relatório, o Portal MúsicaS, no Plural! contava com doze textos,
que totalizavam quase cem páginas de material escrito. A intenção é que esse número venha a
aumentar.
3.6 Repertório
26
Figura 10: Submenu Repertório
27
Figura 11: Tuwe Tuwe
28
toma forma, pois são convidadas mulheres com diferentes marcadores identitários, por
exemplo, mulheres negras, mulheres periféricas, mulheres trans etc.
Clicando em um dos títulos, a(o) usuária(o) chegará a uma página semelhante a essa
retratada na Figura 12:
29
3.8 Inter(AÇÃO)
Como já se foi explicitado, o portal MúsicaS, no Plural! foi produzido por meio de uma
plataforma de desenvolvimento de websites que, embora tenha suas vantagens, também possui
limitações, sendo uma das principais delas a pouca quantidade de caixas de comentários que
disponibiliza sem cobrar adicionalmente para tal.
Em um mundo pós-moderno e globalizado (SANTOS et al., 2012), a falta de interação
das(os) usuárias(os) com o conteúdo produzido no portal e com outras(os) usuárias do portal é
um problema grave, pois esse portal só será verdadeiramente plural se as(os) visitantes puderem
também se expressar e interagir entre si, dentro das regras gerais de respeito e de convivência.
A priori, o problema citado seria amenizado sugerindo que as(os) usuárias(os) usassem o
YouTube para comentar e interagir, contudo, isso se daria fora do portal, em um ambiente com
regras e dinâmicas diferentes.
Nesse sentido, pensou-se no desenvolvimento de um blog, isso é, um pequeno website
dentro do portal. Esse blog foi denominado Inter(AÇÃO) e busca justamente suprir a carência
de caixas de comentários nos outros submenus.
Ao entrar no menu em questão, a(o) usuária(o) entrará em um blog com seis postagens
fixas:
Figura 14: Submenu Inter(AÇÃO)
30
O primeiro post, denominado “Inter(AÇÃO), espaço para discussão geral sobre os
assuntos do portal MúsicaS, no Plural!”, busca explicar a proposta e provocar uma discussão
geral sobre todos os temas tratados. Existe também o “Espaço livre (de preconceitos)”,
postagem que, por não ter um objetivo específico, pode ser usada para divulgação de trabalhos,
bate-papo, etc. As outras postagens são direcionadas para discussões mais específicas para cada
um dos submenus já apresentados, a saber, Textos, Vídeos, Repertórios e Conversas Plurais.
Ao clicar em uma postagem, a(o) usuários verá o seguinte:
Na perspectiva de que o blog foi pensado somente para viabilizar a interação entre as(os)
usuárias(os), não se pretende, pelo menos inicialmente, adicionar novas postagens.
3.9 Links
Não se busca afirmar que o portal MúsicaS, no Plural! foi o primeiro portal ou website
que buscou relacionar diferenças culturais e educação (musical). Pelo contrário, existe uma
gama grande de possibilidades de se aprender sobre o assunto na internet e, por meio do
submenu Links, a(o) usuária(o) do portal é convidada e continuar aprendendo em outros meios.
Essa interrelação entre conhecimentos é também um dos pressupostos da epistemologia pós-
moderna e do currículo rizomático (SANTOS et al., 2012).
Clicando no submenu “Links”, obter-se-á a seguinte tela:
31
Figura 16: Submenu “Links”
Clicando em um link externo, a(o) usuária(o) será direcionada(o) para tal endereço
desejado. À data da escrita desse relatório, havia vinte links disponíveis, mas obviamente, esse
número tende a crescer. As(os) usuárias(os) são convidadas(os) a sugerir links externos via e-
mail, bem como alertar quando algum link ficar indisponível.
3.10 Cont(r)ate
32
Fonte: Adaptado de musicasnoplural.com/contrate, acesso em 15/11/2022
3.11 Doe
Por fim existe um submenu no qual a(o) usuária(o) do portal, caso tenha gostado do
conteúdo e/ou queira que o projeto se desenvolva, poderá fazer alguma doação via PIX. Essa
guia se torna importante na medida em que o portal é totalmente gratuito, mas possui despesas
para se manter ativo.
A(o) interessada(o) fará a doação de qualquer valor para a chave
musicasnoplural@gmail.com, enviará o comprovante para esse e-mail e, como forma de
agradecimento do autor, receberá Guia para Avaliações Multiculturais em Aulas de Música,
que poderá lhe ajudar a analisar em que medida suas aulas ou a sua instituição está valorizando
as diferenças e desafiando preconceitos.
Figura 18: Submenu “Doe”
33
IV
TESTAGEM DO PORTAL: RESULTADOS E DISCUSSÃO
34
com perguntas abertas, com características opinativas e com perguntas sugeridas. Apesar de
impossibilitar a análise quantitativa, esse tipo de questionário tem potencial para analisar,
concomitantemente, a usabilidade do artefato e a UX.
Para se produzir os dados qualitativos, procedeu-se da seguinte forma: as(os) estudantes
foram solicitadas a entrar no endereço musicasnoplural.com. Não houve qualquer elucidação
do funcionamento do portal nem de qualquer ponto de partido ou de término da experiência.
As(os) usuárias(os) puderam usar o website da forma que quisessem.
No mesmo dia da divulgação do endereço, foi solicitado que, após elas(es) tiverem usado
o portal suficientemente para terem uma impressão sólida, escrevessem um texto opinativo,
sem número de mínimo ou máximo de linhas, explicando como foi a experiência. Esse texto
poderia ser escrito livremente, mas para auxiliar no processo de escrita, algumas perguntas
provocativas foram feitas : “Qual é o objetivo do portal? Como ele está estruturado? O que me
chamou a atenção (positiva ou negativamente)? O que eu gostei? O que eu não gostei? O que
eu faria diferente? O que eu já sabia sobre o tema tratado no portal? O que eu aprendi ao visitar
o portal? Eu utilizaria alguma coisa do portal na minha prática docente? Recomendaria para
algum(a) colega professor(a) de Música? Continuarei a visitar o portal para aprender mais?”.
Após produzidos, os dados qualitativos foram verificados, analisando em que medida
as(os) usuárias(os) mensuram a facilidade de usar o portal (usabilidade) e expressam a sua
satisfação estética, atribuição de significados e resposta emocional, que segundo Desmet e
Hekkert (2007), são aspectos fundamentais para se mensurar a UX. Os resultados serão
apresentados e discutidos a seguir, considerando as categorias listadas acima.
4.2 Usabilidade
Vários trechos das escritas das(os) estudantes apontaram uma maior facilidade ou
dificuldade de se usar o portal. Algumas estudantes indicaram facilidade em usar o portal:
Logo de início notei uma organização bem agradável, a seção “sobre” consegue
explicar bem o objetivo do portal e as seções seguintes mostram que esse objetivo está
sendo cumprido (Homem Branco).
A barra de rolamento funcionou bem, inclusive gostei muito dos textos. O menu
principal no celular ficou um pouco escondido para a importância dele, mas no
computador funcionou bem. (Homem branco)
Gostei muito. Funcionou muito bem, inclusive, deixei uma mensagem para testar
o funcionamento do fórum. Obviamente, o projeto ainda está um pouco incipiente,
mas com o tempo tende a melhorar (Homem branco)
35
Apesar desses elogios, em geral, a maioria dos trechos que discorriam sobre a usabilidade
do portal foram em tom de crítica construtiva. De forma geral, a organização foi criticada.
Deixo uma última crítica apenas à organização das seções: seria interessante uma aba
inicial que funcionasse como linha do tempo para que os usuários possam
periodicamente acessar o portal e saber o que foi acrescentado recentemente. O fato
de cada seção mostrar todos os conteúdos de uma vez também me incomodou, pois,
pode se tornar um problema conforme novos conteúdos forem adicionados. Uma
sugestão seria a separação por tópicos, por exemplo, ao clicar em “vídeos” o usuário
poderia ser levado a uma área com diferentes tópicos e, dentro deles, encontrar com
mais facilidade o conteúdo desejado. (Estudante de FMEM – 2022.2)
Em geral o portal tem cara de blog, especialmente porque o conteúdo é todo original.
Mas o fator marcante dos blogs é a página inicial em formato de linha do tempo, para
que o público acompanhe o conteúdo conforme vai sendo lançado. (Estudante de
MEM I – 2021.1)
O vídeo lá no final foi onde a ficha caiu sobre o site e sua intenção. Mas para o
principal guia de uso do site, ficou difícil de achar. Além disso, o vídeo podia ser mais
curto. (Estudante de MEM I – 2022.1)
Faria cada tópico linkavel com uma página com os links dos artigos/textos/vídeos
em sequência, com o título, foto e/ou um pequeno resumo, para melhor
visualização de cada um; não só uma listinha com os nomes quando você passa o
mouse por cima do assunto. (Estudante de FMEM – 2022.2)
Aqui tem um texto explicando o site, mas ele é extenso, sério e carece de algumas
informações que encontrei depois no vídeo de apresentação. Fora isso, no celular ele
fica parecendo um super textão, e até o momento eu não estava entendendo que o
objetivo do site era acadêmico. Acho que um público leigo iria tentar mil coisas antes
de ler. (Estudante de MEM I – 2022.1)
Os conteúdos (vídeos, textos e repertório) são [sic] bem produzidos e didáticos, com
possibilidade de leitura em Português, espanhol e inglês, porém notei que nos vídeos
nem sempre as legendas incluem todos os 3 idiomas, o que pode impossibilitar o
acesso por completo do portal de uma pessoa que fale apenas inglês ou espanhol
(Estudante de FMEM – 2022.2).
Ao tentar encontrar site através de buscadores na internet, não encontrei com
facilidade. Somente após associar o nome do autor que o buscador Google me levou
ao portal. Talvez isso ocorra por falta de estratégias e ferramentas que aperfeiçoem a
busca (Estudante de MEM II – 2022.1)
De fato, não é fácil configurar com o Wix o portal para ser navegado em dispositivos
móveis. É necessário gastar mais tempo nessa empreitada. Semelhantemente, possibilitar que o
portal seja mais facilmente encontrado no Google também é um desafio a parte, que demanda
não só tempo como também investimento monetário.
Esses problemas de usabilidade, contudo, não atrapalharam totalmente a experiência dos
usuários que, de forma geral, parecem entender que o MúsicaS, no Plural! ainda pode ser
melhorado:
A maioria desses apontamentos são apenas detalhes que me importunaram na minha
experiência pessoal, que não vai ser a mesma que a de todo o mundo. Acho que o
portal está num bom caminho em geral, especialmente quanto ao conteúdo e ao
cenário político e educacional atual. (Estudante de MEM I – 2022.1)
Em geral, um website só tem potencial para nos tocar em dois sentidos: a visão e a
audição, sendo que ambos os aspectos estiveram presentes nos textos das(os) estudantes. O
trecho a seguir indica uma opinião positiva em relação à satisfação estética.
Todavia, a maioria dos trechos que discorriam sobre aspectos estéticos criticaram o portal.
Duas em especial não entenderam o propósito do logotipo do portal, que deveria parecer-se
com um pandeiro.
37
Ao adentrar no site, notei que a figura do pandeiro não faz link com nenhuma parte
portal. Talvez isso ocorra porque o mesmo está em construção, mas isso não faz muita
diferença. (Estudante de FMEM – 2022.2)
Enfim sobre o site eu amei achei bem instrutivo e bem direto, só uma coisa que não é
muito é o pandeiro, achei que era uma panela a princípio depois entendi o que era,
bom não vejo como um problema, mas foi a única coisa no site que não peguei assim
que entrei. (Estudante de MEM I – 2022.1)
O pandeiro, visível na Figura 2, criado pelo autor no InkScape, deveria ser uma marca do
canal, trazendo-o para próximo de expressões musicais negras e populares, mas parece que a
qualidade final da arte não auxiliou. O letreiro, também visível na Figura 2, que serviria como
uma forma da(o) usuária(o) identificar o que ela(e) poderia encontrar no portal também não foi
bem recebido:
Essa arte menos rebuscada, minimalista, embrionária, incomodou mais estudantes, bem
como as cores usadas:
Apesar da ótima experiência que eu tive com os conteúdos do site, algo que me
incomodou durante tudo o que vi e assisti foi a arte minimalista do site. O branco na
maior parte do site faz com que os textos pareçam livros, o que dificulta um pouco o
interesse por ler todo o conteúdo. (Estudante de FMEM – 2022.1)
O site é riquíssimo de temas e referências, videoaulas etc., e um embasamento
acadêmico de pesquisa que dá muita credibilidade ao conteúdo. Por outro lado, achei
o projeto ainda embrionário, talvez incipiente, que pode melhorar muito. No primeiro
acesso notei que o layout do site é simples, típico de páginas em construção. Mas,
acredito que pode se tornar um portal de grande acesso e fonte de pesquisas.
(Estudante de MEM II – 2022.1)
De fato, o website não tem uma apresentação estética profissional, tendo em vista que ele
não criado por um web designer. As críticas são pertinentes, sem dúvida, e muito há a ser
melhorado nesse sentido, mas é positivo perceber que, aparentemente, o layout simples é
compensado por um bom conteúdo.
Todavia, aspectos estéticos também atrapalham no conteúdo em questão, sobretudo, a
qualidade do áudio:
38
Tenho para mim que, no futuro, se possível for, a qualidade do áudio dos vídeos
precisa ser melhorada. (Estudante de MEM II – 2022.1)
Agora confesso que a filmagem e o som do vídeo o [sic] tornou inferior. O som tinha
vezes que falhava, principalmente nas partes em que as meninas [Quarteto de Cordas
Nina’s] tocavam notas agudas, o que então atrapalhou a divulgação da performance
das meninas (Estudante de FMEM 2022.2)
A questão da qualidade do áudio foi, de fato, algo que trouxe grande inquietação para o
autor. Foi adquirido um microfone condensador profissional para a gravação dos vídeos, pois
se foi ensinado na aula de Música e Tecnologia do professor Afonso Figueredo, oferecida no
âmbito do PROEMUS, que a qualidade do áudio é imprescindível para uma boa videoaula.
Todavia, não é suficiente ter um bom microfone se a placa de áudio do computador que receberá
os sinais sonoros não for da mesma qualidade e, no momento, não havia possibilidades de um
computador melhor ser adquirido. Contudo, as melhorias de áudio feitas a posteriori no
software VDSC Free Edition tornaram os vídeos minimamente audíveis.
O portal tem por objetivo fomentar conhecimento e reflexões acerca das atividades
musicais executadas pelas classes minorizadas, tal qual os povos originários. Esmiuça
a ótica decolonial do assunto Música, trazendo essa vertente sempre para o campo da
educação musical. (Estudante de FMEM – 2022.2)
Ser uma espécie de acervo sobre mais expressões musicais do que geralmente
temos fácil acesso, não só auxiliando o aprendizado como o ensino delas
(Estudante de FMEM – 2022.2)
Eu gostei muito do nome do site. Toda vez que descubro um novo canal no YouTube,
site no Google ou conta no Instagram, um dos fatores que para mim mais chamam
atenção é o nome daquele objeto, ou trabalho ou marca etc. Isso acontece,
particularmente comigo, que entendo que pra ter chegado naquele nome, uma espécie
de valores a respeito do trabalho foi [sic] levado em consideração. O nome diz muito
disso, principalmente, como aparece na aba de pesquisa com a letra dentro do
parêntesis indicando a pluralidade “música(s) no plural”. E de acordo com algumas
coisas que pesquisei e assisti no site, o nome cumpre o seu papel e divulga aquilo que
apresenta, que é a pluralidade e diversidade cultural que existe no mundo musical
(Estudante de FMEM – 2022.2)
Me chama atenção o próprio nome da página “Música(s)”, que remete à pluralidade
musical existente e à ótica decolonial da música e ada educação musical citadas acima.
(Estudante de FMEM – 2022.2)
39
De fato, a ideia era que o nome do portal fosse potente o suficiente para ser tanto
pedagógico como um grito de resistência em favor da pluralidade musical e de seus sujeitos.
Na perspectiva de que o portal buscava instrumentalizar professoras(es) de Música para
ministrarem uma educação musical decolonial e antidiscriminatória, algumas(uns) estudantes
indicaram possibilidades pedagógicas e acadêmicas do portal.
O site já possui uma grande riqueza de temas e referências, vídeo aulas interessantes
e um embasamento acadêmico que passa confiança. Vejo ali uma semente de um
grande canal de comunicação sobre a pluralidade na música, se as estratégias
adequadas forem empregadas. (Estudante de FMEM – 2022.2)
Achei de extrema importância a sua fala de que quando formos ensinar elementos de
outras culturas para as pessoas das nossas culturas, devemos tomar cuidado para não
reproduzir preconceitos sobre aquilo que estamos ensinando. Às vezes preconceitos
quando vamos ensinar reproduzimos preconceitos dentro de nós que nem percebemos.
À exemplo disso, tem o fato do indígena tocar violão usando apenas a mão direita. Se
não buscássemos conhecer o porquê dele fazer isso, como você disse, julgaríamos ele
como menos musical que os violinistas que existem e falaríamos que sua técnica está
precária, mas explicando o contexto cultural e religiosos entendemos que é uma
questão de espiritualidade. Excelente exemplo e explicação. (Estudante de FMEM
– 2022.2)
Gostei muito dos vídeos e dos textos, são elucidativos quanto a proposta do portal.
Inclusive vale a pena guardar esse material, que pode ser usado em projetos,
monografias e trabalhos académicos em geral. (Estudante de FMEM – 2022.2)
Gostei muito do vídeo Tuwe Tuwe música ganesa da etnia ewe-fon, achei bem
didático. Enquanto ouvia pela primeira vez, fiquei pensando, ‘poxa, mas gostaria de
saber o que está sendo dito nessa canção’, e logo depois aparece no vídeo você
colocando não só a letra com a tradução, mas também ensinando a como entoar a
canção. (Estudante de FMEM – 2022.2)
40
Entretanto este é um site no qual eu recomendaria para outros professores de música
e para aqueles que têm interesse em conhecer um pouco mais sobre a nossa pluralidade
cultural. Além de recomendá-lo, é um site em que com certeza voltarei em minha
docência para continuar aprendendo e recordando músicas e preceitos importantes
(Estudante de FMEM – 2022.2)
Gostei a parte de repertórios não ter só uma música, mas também uma explicação
sobre ela, facilitando o entendimento e também no caso de um professor querer
usar em aula. (Estudante de FMEM – 2022.2)
Não sei se no vídeo “Oreru nhamandu tupã” foi feito depois do vídeo Tuwe Tuwe,
mas dá para perceber uma grande melhora [no áudio e na edição] no anterior para esse
[Concerto das Nina’s]. Gostei muito da edição que você fez colocando o vídeo do
próprio povo entoando a questão que você estava ensinando em um mesmo vídeo,
achei mais visual e mais limpo da forma que fez a explicação da canção pelo
computador e não puramente pelo quadro. As alterações enriqueceram o trabalho
(Estudante de FMEM 2022.2)
Por fim, após a leitura dos textos enviados pelas(os) estudantes, verificou-se que
emoções, positivas e negativas, foram instigadas por meio do portal MúsicaS, no Plural! Se as
impressões relacionadas à estética e usabilidade foram parcialmente negativas, as respostas
emocionais foram, praticamente, todas positivas:
Uma das coisas que me chamaram mais a atenção foi a divulgação do vídeo Quarteto
de cordas Ninas (quarteto de cordas formado por mulheres e que se dedica a divulgar
a obra de mulheres), eu achei incrível ver um quarteto de cordas formado por mulheres
pretas. E eu e identifiquei muito, porque sou preta e toco violino, e confesso que no
meio das cordas não é muito comum ter mulheres pretas. Eu amei, achei esse vídeo
muito inclusivo e de uma pluralidade inimaginável. Parabéns! (Estudante de FMEM
– 2022.2)
41
é onde elas quiserem. O sentimento de representatividade traz não somente a alegria, mas o
sentimento de união e a potência para resistir.
De forma geral, o conteúdo do portal foi indicado como seu baluarte. Temas relacionados
às diferenças estão pulsando na sociedade na atualidade, mas os cursos de Música mantêm-se,
em sua maioria, no século passado, mas as pessoas que por eles perpassam, principalmente
as(os) estudantes, são sujeitos da atualidade, que vivem essas questões fora da universidade.
Uma estudante afirmou que tem “certo conhecimento sobre tópicos como sexualidade, questões
de gênero etc., pois são assuntos recorrentes na minha vivência pessoal” (Estudante de FMEM
– 2022.2). Nesse sentido, discutir esses assuntos na universidade, é um fator emocional positivo.
Outros relatos parecem confirmar o exposto:
Um assunto que me marcou e me despertou bastante curiosidade foram os vídeos que
tratam sobre a religiosidade e os indígenas. Por trazer referências de músicas e como
proporcionar um ensino musical em que respeita a história e cultura desses povos.
Conteúdos no qual, assim que tiver oportunidade, teria prioridade em mostrar para os
meus alunos em sala de aula. (Estudante de FMEM – 2022.1)
Destaco ainda no espaço CONVERSAS PLURAIS o bate papo com Vivian Fróes,
pessoa que não tive ainda o prazer de conhecer pessoalmente, mas com quem cursei
disciplinas em formato remoto na Escola de Música da UFRJ, em pleno auge da
pandemia de COVID-19. Que felicidade a presença desse material no
musicasnoplural.com (Estudante de FMEM – 2022.1).
No geral o portal me agradou muito e achei conteúdos que com certeza me auxiliarão
muito na minha forma de trabalhar como futuro educador. Possui assuntos
extremamente atuais e importantes como o racismo e a homofobia, certamente são
leituras e vídeos exemplares e dignos de divulgação. Trazer discussões que
normalmente não são ligadas à música algo importantíssimo pois põe a música em
sua posição antropológica e não apenas como entretenimento. (Estudante de FMEM
– 2022.2)
Gostei da maneira em que o site aborda diferentes temas para os docentes aprenderem
e mostra a importância de trabalhar esses assuntos em sala de aula. Algo inovador na
qual eu não tinha tido contato até hoje e acho muito importante esse tipo de incentivo
para com os professores, trazendo discussões no meio dos educadores sobre como ser
um educando mais humano e multicultural. (Estudante de FMEM – 2022.2)
Como certeza, qualquer pessoa que entrar nesse site sairá com um conhecimento mais
amplo a respeito da diversidade que existe no meio musical e que devemos respeitá-
las e apreciá-las da mesma forma que fazemos com as músicas europeias e norte-
americanas. (Estudante de FMEM – 2022.2)
Certamente, visitarei o portal mais vezes para fins de aprendizado pessoal e para que
possa ter maior bagagem musical. Com essa bagagem, terei mais possibilidades ao
dar aulas para meus futuros alunos. (Estudante de FMEM – 2022.2)
42
A presente seção trouxe os resultados e os discutiu tendo como base teorias que buscam
avaliar a usabilidade e a experiência de usuárias(os) de novos artefatos. De forma geral, a
empreitada indicou que, embora o portal tenha sido indicado como promissor por sua iniciativa,
conteúdo e objetivos, questões relacionadas à usabilidade precisam ser melhoradas a fim de
oferecer à(ao) usuária(o) uma melhor experiência. As sugestões de modificação foram as
seguintes: 1) Melhorar ou modificar o logotipo; 2) Empreender esforços para que o endereço
do portal seja mais facilmente encontrado no Google;3) Retirar/modificar o posicionamento do
letreiro; 4) Melhorar o layout geral do portal, a fim de que ele tenha uma aparência mais
profissional; 5) Melhorar o áudio e a imagem dos vídeos; 6) Estruturar melhor a lista com os
títulos dos textos e vídeos, classificando-os, possivelmente, por assunto (raça, gênero,
sexualidade etc.); 7) Adicionar mais conteúdo, a fim de que o portal saia de seu estado
embrionário; 8) Melhorar a navegabilidade do portal em aparelhos móveis; 9) Incluir legendas
em inglês e espanhol para os vídeos e 10) Colocar os conteúdos em ordem cronológica,
indicando assim se se trata de conteúdo mais recente ou mais antigo.
Contudo, não se pode ignorar as ponderações positivas encontradas nos textos que, se
sumarizadas, indicam o seguinte:1) Trata-se de conteúdo original e relevante; 2) Conteúdo com
forte embasamento teórico; 3) Se melhorado, as possibilidades são promissoras;
Conclui-se com o exposto que os erros detectados não impedem o uso do portal e que o
conteúdo, de certa forma, compensa tais erros, além de poderem ser corrigidos com um esforço
ponderado.
43
V
UM (NÃO) FINAL
44
Referências
ALMQVIST, Cecilia Ferm; HENTSCHEL; Linn. The (female) situated musical body: aspects
of caring”. Per Musi, n. 39, Music and Gender: 1-16, 2019.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10a ed. Rio de janeiro: dp&a;
2005.
45
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JOKELA, T. et al. Methods for quantitative usability requirements: A case study on the
development of the user interface of a mobile phone. Personal and Ubiquitous Computing,
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