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1ª Edição
perfeito, uma garota tão linda quanto a luz do sol, porém, quebrada, ferida e
Agora Samuel não tinha apenas uma vingança a cumprir, mas duas, e não iria
parar até que fizesse os culpados chorarem lágrimas de sangue, movido pela
fome de ver todos dilacerados, louco para ouvir seus gritos e saboreá-los
“Eles deveriam saber que ela não era de nenhum deles. Ao tocarem-
na, desafiaram a besta, selando seus destinos. Dariam seus últimos suspiros
com Enzo Salvatore. O capo, Lorenzo, deu carta branca para meu pai fazer
inferno. Cheguei até a implorar para minha mãe deixar o meu pai e irmos
embora com meus irmãos. No entanto, ela não aceitou; não acreditava em
partir.
treinado desde meus nove anos para ser um soldado. Meu pai me
destino. O que repudiava era aquela crença sem sentido. Os infelizes nos
que era onde pagaríamos por nossos pecados, pecados esses que não
pecados, como os homens que havia matado, não por algo fútil e sem
eles se vangloriavam por isso, dizendo que o defunto tinha merecido por ser
um traidor.
pai, o reverendo. O canto da sua boca tremia. Nós dois éramos os mais
castigados, por sempre vermos tudo aquilo e não podermos dizer nada.
aquelas que seriam castigadas. Raiane e Renan, meus irmãos, estavam com
congregação nos batiam até achar que tínhamos sido castigados e redimidos.
Assim éramos “perdoados”. Porém, quem deveria estar ali era cada um
reverendo. ― Vou começar com Raiane, que está com idade para cometer
Porra! Não havia nada mais fodido do que o crime que cometiam ali
Os lábios de Raiane tremeram quando ela olhou para o nosso pai ali,
ao lado do altar. Ele mandou que ela prosseguisse, então ela fez o que foi
mandado.
Os nossos castigos eram dos piores; as meninas eram obrigadas a ficar
nuas e presas à cruz, onde apanhavam, isso quando não eram molestadas; os
reverendo.
Eu tinha ido atrás de muitas pessoas em busca de ajuda, mas meu pai
Deus. Ninguém me deu ouvidos, sem contar que acabei levando uma surra
por isso. Fiquei amarrado em uma cruz por um dia inteiro e então desisti de
pedir amparo. Decidi resolver o problema eu mesmo. Sabia o que estava por
revistava, pois ali todos achavam que concordávamos com aquela merda.
sacrilégio. Bom para mim, para o que eu tinha em mente, e pior para eles.
― Queria comer, mas minha mãe disse que não era hora, então peguei
Oh, inferno maldito, isso não vai acontecer! Eu estava enfurecido por
filhos; em vez disso, aquele ser abominável iria deixar que alguém a tocasse.
sua frente. Depois pegou o vestido de Raiane com a intenção de puxá-lo para
a última coisa que fizesse. Foi essa decisão que me trouxe ali. Não precisava
perto dela.
todos. ― Como podem fazer essa barbaridade? Como pode fazer isso com
― Ela merece...
todos para lá neste momento ― sibilei, deixando meu ódio sair. Não
daqui em segurança.
lado do púlpito.
― Não vai se safar dessa, Samuel! ― esbravejou meu pai, vindo em
Nenhuma vez correu na direção da filha, que tinha saído dali. Fuzilou-me. ―
e mato apenas pessoas que merecem. ― Como os homens que meu pai me
― Você será castigado por essa atrocidade! ― ela falou com fúria em
seus olhos.
― Não, vocês que vão ser ― rosnei. ― Agora todas vão para aquele
lado.
fúria.
Minha mãe chorava sem parar. Queria ajudá-la, mas os meus irmãos
vinham em primeiro lugar. Depois eu veria o que ela iria querer fazer de sua
vida sem a presença do meu pai. Ele estava caído no chão, ensanguentado e
imóvel.
ao FBI. ― Estava blefando, não tinha vídeo nenhum e muito menos teria a
ajuda dos homens da lei. Entretanto, elas não precisavam saber disso.
de seu homem.
― Não me importo. Sou mais a cadeia ou ir para uma cova do que ver
essa atrocidade sendo cometida pelos miseráveis dos seus maridos aos seus
filhos, algo que vocês, mães, deveriam ter impedido. ― Virei-me e saí da
igreja.
iriam demorar a chegar. Levava uns 15 minutos de carro até ali. Quando
crianças?
vidas, da minha e dos meus irmãos; só sabia de uma coisa: mataria qualquer
um para protegê-los.
deles.
Não tinha idade para ter carteira de motorista, mas sabia dirigir. ― Entrem,
― Mamãe! ― Raiane gritou, indo até ela antes que eu pudesse trazê-la
de volta.
Renan.
― Mãe, vem com a gente ― chamei, ansioso para sair logo dali.
No fundo, eu sabia que ela não gostava das coisas que aconteciam, eu
a ouvia chorar à noite, sozinha. Contudo, ela não tinha forças para fazer
nada, era fraca demais para lutar contra meu pai. Não me importava com
seus motivos para não ter se rebelado, fiz aquilo tudo por ela e por meus
perto do milharal.
minha mãe, quando Bonnie arregalou os olhos de terror. Ela abriu a boca,
mas era tarde demais. Giovanni vinha em nossa direção com uma arma
eliminar o infeliz, ele atirou. Achei que o tivesse matado, pois vi sangue
Foi como em câmera lenta. Vi quando minha mãe tombou para frente
após ser atingida, como também meus irmãos. Antes que eu pudesse ir até
eles, senti uma dor terrível na região do abdome que me fez ofegar.
essa dor eu podia lidar, não com a outra que me consumia por dentro. Caí
para frente, sem ter fôlego para falar nada por um momento.
Pisquei algumas vezes para tentar vê-la. Ela estava abaixada ao lado
do carro, chorando.
― Na árvore da colina tem tudo o que precisa para seguir com sua
Minha visão estava embaçada. Sabia que logo estaria partindo, mas
não queria que isso acontecesse sem fazer Giovanni pagar. Ele merecia coisa
pior.
mesmo.
Não!, eu quis gritar. Ele não podia ter uma morte assim, não depois de
ter tirado tudo de mim. Todavia, não consegui mover um músculo sequer
não consegui ver mais nada, pois a escuridão me levou para um poço sem
da dor.
Dias atuais
Liliane
saber que estava trancada. Entretanto, o pior não era isso, e sim o vazio da
minha mente ao descobrir que não recordava meu passado antes de ser
lugar era cercado de arame farpado, impossível de tentar uma fuga. Podia
Só tive uma colega de quarto. Seu nome era April, mas ela se fora um tempo
atrás, quando fez 19 anos. Ouvi relatos de que ela não tinha sido a única a
partir.
para o meu gosto. O ódio que via em seus olhos fazia meu corpo inteiro
estremecer.
Não havia nada mais temeroso do que não saber o que aconteceria a
trancafiadas, sem poder fazer nada para ajudá-las, pois havia guardas
foram realmente castigadas. De fato, eu nunca havia tentado fugir. Sabia que
Tinha uma mulher que, no último ano, vinha tomando conta de nós,
trazia-nos roupas e comida. Percebi que ela era muito boa, mas eu sabia que
não podia fazer nada. Acreditava que estivesse presa como todas nós
estávamos.
Eu havia chorado muito durante a maior parte de meus dias presa ali,
sair dali se fora no decorrer dos anos, a cada dia, semana e ano que se
passado, mas as únicas imagens que vinham à minha mente eram rostos, nada
crianças, uma menina e outros meninos mais velhos. Um deles era mais
sério. Eu sentia que éramos amigos, mas não conseguia rememorar mais
mais sobre o meu passado. Isso doía demais. Não queria desistir, mas o que
poderia fazer? Não me restava mais nada na vida a que pudesse me apegar.
Deixei minha mente vagar sobre o que poderia encontrar lá fora, uma
vida livre, na qual pudesse sair, conhecer vários lugares, ir para a escola, ter
amigos. Sonhar era tudo o que se podia fazer ali dentro.
A única coisa pela qual eu era grata era o fato de que nenhum daqueles
com que eles me batessem, e até fiquei sem comer. Então, com o tempo,
passei a fazer tudo que me era ordenado, assim não seria ferida.
Pisquei, encarando a senhora que nos ajudava. Ela era boa e, às vezes,
grau. Tinha chegado ali havia menos de um ano, e eu já me sentia ligada a ela
recordava quem eu era, eles me deram aquele nome. Talvez fosse do meu
ao me dizer isso.
Fiquei de pé.
O meu coração estava acelerado, pois fora assim que eles levaram
peguei sua mão, tentando não transparecer meu medo do desconhecido na sua
frente. ― Por favor... ― forcei assim que ela hesitou, virando o rosto com
os olhos molhados.
― Tentei buscar ajuda, mas não sei se vai chegar a tempo de impedir
que o pior aconteça. ― Limpou suas lágrimas. ― Queria poder fazer mais
― Não entendo. Fiquei aqui por anos, mas nenhum veio me machucar.
Por que agora? O que fiz de errado? ― Minha voz falhou. ― Sou obediente.
Franzi a testa.
Ela assentiu.
expulsar a imagem que tinha surgido nela. ― Eu não estava aqui na época,
não consegui.
― Menina...
― Vou dar um jeito de impedir que aconteça qualquer coisa, tá? Essa
Eu poderia ter insistido, mas entendi que saber o que aconteceria seria
meus cabelos.
me fazia sentir algo familiar. Seria em razão das lembranças que eu tinha da
Sacudi a cabeça.
passado quando era pequena, antes de vir para cá. O que é? ― Nenhum dos
― Pela forma como ela descrevia a tal organização, parecia cruel demais.
― Quer dizer que têm muitos trabalhando para eles? ― Como iríamos
tinha fazia anos, era a única coisa que veio comigo do meu passado
desconhecido.
Tinha que sentir esperança nas palavras de Zaira, acreditar que a
pessoa que ela havia chamado viria me salvar. Não podia desistir agora.
― Tem gente boa na máfia, nem todos são sanguinários, nem todos
criança, quando fui levada para lá, sempre fui obediente só para não
apanhar. Mesmo assim, eles iriam me machucar e depois me matar. Não era
justo.
Eu rezava para que uma luz surgisse e viesse me salvar. Nunca tinha
Havia certo desprazer em sua voz. ― Precisa se vestir ― pediu ela, ficando
Forcei um sorriso.
― Sei que não pode fazer nada; se pudesse, já teria feito. Espero que
que eles têm reservado para mim, quero lhe agradecer por ter feito minha
estada aqui no último ano muito melhor. Tive alguns aprendizados graças à
senhora. Não me deixou ficar maluca por estar trancada neste lugar.
para a outra. Depois que ela se foi, Zaira chegou e não me deixou ficar
perdida.
devia. ― Ela olhou para a porta, depois para mim. ― Seja forte no local
não conseguia me recordar de onde era, só sentia que tinha essa fé em mim e,
Fui para o banheiro me trocar. Após pôr o vestido, fiquei ali mais um
pouco, tentando buscar força de onde não tinha para passar por outra
provação.
mundo lá fora ou ao menos sentir como era ser livre como um pássaro, uma
por vir.
lutei, não havia para onde ir. Meus olhos vagavam pelo lugar à minha frente.
Era uma área com um conjunto de casas. À direita havia uma cerca imensa e
com a mão na boca. Pela sua expressão, estava sofrendo pelo que fariam
comigo.
entanto, um dos guardas bateu em seu rosto, fazendo-a cair com a boca
sangrando.
Meu corpo se sacudiu. Tentei ir até ela, mas fui puxada pela cintura,
Meu corpo tremia a cada passo que dava em direção a uma casa. Meu
fim seria naquele lugar? O pavor foi ficando pior, fazendo minha respiração
tornar-se desigual.
Ergui meus olhos para o céu forrado de estrelas, que brilhavam com
sua beleza. Precisava confiar que Deus me ajudaria. Não perderia a fé.
me consumir.
Entramos no local, que parecia ser uma sala imensa com vários
enquanto ela gritava desesperada. Havia mais uma ali, mas essa estava
calada; seus olhos se encontravam fechados, e escorria sangue por entre suas
coxas.
Ela chorava muito e implorava para que ele não a estuprasse. Era
aquilo que aqueles homens estavam fazendo com as duas meninas? O que
Minha filha foi sequestrada, estuprada e morta pelos russos. Antes disso, ela
me pediu para deixá-la continuar virgem até os seus 19 anos, mas não pude
cumprir seu desejo, pois ela foi tirada de mim, assim como vocês foram
sofrimento, ela morreu, e assim acontecerá com todas vocês. ― Sorriu como
Era como se ele tivesse dito aquelas palavras muitas vezes. Estava
oxigênio, pois senti uma pancada na cabeça e nas costas que deixou minha
visão embaçada.
Gritei de dor e terror, sabendo o que estava por vir. Ainda bem que
Zaira não havia me contado sobre isso, pois teria sido pior saber de antemão
o que me aconteceria.
Tirei forças de onde não tinha para lutar, mas foi em vão; ninguém iria
me salvar daquilo, não antes de o pior acontecer. O que eu podia fazer era
desespero.
Um rosto surgiu sobre mim, enquanto mãos rasgavam meu vestido.
― Essa oferenda é para vocês, meus amigos. ― Ouvi uma voz grossa
em algum lugar, mas minha visão ficou desfocada assim que o homem
A dor foi tanta que pensei que estava morrendo, tanto por causa dela
normalmente.
lugar, em mim.
entorpecer. Cada um era mais cruel que o outro enquanto me tomavam com
anos naquele lugar, mas agora ela seria bem-vinda. A esperança que eu tinha
Fechei os olhos, não querendo ver mais nenhum rosto repugnante que
importei... Só sentia que minha alma havia sido arrancada e que nem todo o
clamor que fiz a Deus conseguiria me salvar. Implorava que Ele me levasse
hora.
― Não morra, luce del sole ― uma voz implorou. Seria meu anjo da
Também tentei lhe falar que não tinha mais forças para lutar, pois
lutara tanto na minha vida que acabei desistindo. Ali faria o mesmo. Não
conseguia lidar com aquelas dores, não só a carnal, que estava me matando,
perto de mim. Essa voz era diferente das outras que eu repudiava.
morte ou vindo buscar minha alma? Entendi que era a primeira opção, afinal,
empurrada. Caí e caí até não sobrar nada, além de um vácuo de escuridão.
Samuel
sempre.
nas mãos do meu pai, mas, no final, por minha causa, eles se foram. Teria
Pensei que iria morrer depois que fui baleado, o que teria acontecido
dia, eles tinham ido nos visitar e se depararam com aquela tragédia. Nenhum
deles sabia que aquela seita existia, afinal, embora fossem italianos,
Eu ligava muitas vezes para lhes contar a verdade, mas desistia, pois
fodida, embora eles também pertencessem à máfia. Meu avô foi um dos
capitães antes de morrer. A última vez que liguei para eles antes da tragédia
não conseguisse sair vivo. Devia ter ficado evidente para eles, pela minha
voz, que havia um problema. Foi o motivo de eles irem para lá naquela
época exata.
Fiquei quase 15 dias internado lutando pela vida. No fundo, eu não
desejava ser salvo, porque não tinha mais nada em meu peito.
igreja.
mais. Atualmente, trabalhava para eles, não porque queria, mas somente para
Ainda bem que o filho de Lorenzo, Matteo, não gostava do seu pai por
diversas regras que o atual capo permitia na sua organização, como, por
ouvir isso. Minha vontade era matar todos, e consegui acabar com alguns
Tornaram-se inimigos mortais depois que eles mataram a filha dele, irmã de
Matteo.
Então, em vez de matar Lorenzo como gostaria e ser morto no
― Pode falar?
mudara naquela manhã. Após meu avô morrer, havia alguns anos, ela não se
Franzi a testa, checando-o. Não parecia suspeito, mas, por via das
por controle, mas eu gostava de saber onde pisava para não ser pego de
surpresa.
Pelo seu tom, deduzi que tinha acontecido alguma coisa. Só esperava
que Lorenzo não estivesse morto, pois queria prolongar sua morte até ele
― Fui informado que meu pai tem uma fazenda com várias crianças e
lado.
Saí do quarto ainda falando com ele. Eu tinha meu próprio apartamento
em Chicago, mas, como não gostava de deixar minha avó sozinha, e sua casa
ficava em Evanston, eu ficava ali com ela sempre que não estava
trabalhando.
O sol estava se pondo na direção do lago Michigan, que ficava em
― Ele tem esse lugar há anos, porra! Elas ficam fechadas lá até
da Puta!
Não era diferente do que o povo da igreja fazia no passado. Assim que
pagarem.
quando eu xingava.
Ela ainda estava perto da cerca do vizinho, com ele ao seu lado me
olhando.
Forcei um sorriso.
senhor, que engoliu em seco. Após isso, entrei no carro. Não podia resolver
aquela questão no momento. Por via das dúvidas, mandaria um dos soldados
toda.
lidar com a morte da filha. Eu entendia sua dor. No fundo, não sabia o que
― Faz tempo que não a vejo. Meu pai disse que a tinha mandado como
infiltrada para algum local. Eu confiei nele, ela também falou sobre isso,
mas nunca suspeitei que estava nessa porra de lugar. ― Eu podia sentir sua
fúria.
― Não, ficou sem comunicação por muito tempo, mas então conseguiu
um celular com um dos guardas que não gosta do que acontece lá e ligou
comigo. Entretanto, não faça nada até eu dar a ordem. Sei que o quer morto,
Maldição!
com um tiro na cabeça, mas esse desgraçado não merecia morrer rápido.
Outra coisa, eu tinha a minha avó, então não podia me esconder da máfia
magnitude. Não podia deixar ninguém que fosse importante para mim morrer
por minha causa de novo. Se eu matasse o atual capo, Matteo não teria
escolha, teria que me caçar assim que se tornasse o novo líder. Eu era um
mais.
Era conhecido por ser frio e calculista e gostava do meu autocontrole.
Lutei muito por ele, assim ninguém descobriria meus objetivos. Matteo e
Luca sabiam, pois ansiavam a mesma coisa que eu. Além deles, ninguém
minha avó.
passava das 7h da noite quando eles chegaram em um carro preto, não muito
tempo depois de mim. Afinal de contas, de onde eu morava até ali não
Os dois saíram.
violentar três meninas hoje ― rosnou Matteo com tom letal como uma faca.
portão, que estava protegido por dois guardas, embora eu acreditasse que
houvesse mais.
― Não, e quero que continue assim até o momento certo.
― Não fui notificado da sua presença, Matteo. Acho melhor ligar para
o capo.
Percebia que ele estava a ponto de detonar tudo ali. ― Agora vou falar com
meu pai.
provavelmente estava do nosso lado – pois disse que Lorenzo nos esperava,
Ele me encarou tentando evitar mostrar seu medo, mas vi uma veia
teria feito o que falei. Junto a Luca, eu era um dos executores da máfia.
ou ordenado.
frente.
Estávamos tensos, mas eu era mais controlado do que eles. Minha fúria
estava trancafiada. Não queria estar na pele de meu inimigo quando ela
mas não ousaram dizer nada; todos sabiam da fama de Matteo. Se quisessem
viver, não deveriam entrar em seu caminho quando ele estava a ponto de se
encarando-o.
― O chefe não nos informou que viria, então não pode entrar ―
informou um deles.
cuspia sangue e tentava segurar seu pescoço, e olhou para os outros ao redor.
afastada, iluminada.
Imaginei que ele tinha feito isso porque sabia que, se eu visse algo lá,
certamente não conseguiria deixar de lado. Por isso não reclamei. Não
queria trazer mais problemas a ele. Estava ansioso e torcendo para que não
frente.
Eles tentaram entrar na casa, mas dois dos guardas barraram sua
entrada. Como estava mais longe, no escuro, peguei minha arma com
não fiz nada, pois sabia que ele era dos nossos, já que foi o único que não
― Não pensei que ele fosse vir. ― O homem parecia relaxado. Devia
as árvores além da cerca. ― Tem uma abertura lá. E quem está nas filmagens
é um dos nossos, então sumirá com nossa presença. Por sorte, Lorenzo não
esperamos Matteo. Não dava mais para ouvir os gritos vindo lá de dentro.
vejo alguns querendo abusar das meninas presas nas outras alas.
suspeitaria de nada.
― Alguns, mas não o bastante para ajudar o chefe Matteo a fechar este
Matteo não podia matar o pai, pois perderia o direito de ser capo. E,
se outra pessoa fizesse isso, o novo líder teria que caçá-lo e matá-lo. Ao
mas eu mesmo queria matar Lorenzo. Pelo visto, minha vingança estava a
Havia uma lei que permitia que um membro do alto escalão matasse
outro de seu próprio sangue, inclusive o capo, mas apenas como retaliação
Dessa forma, nós poderíamos nos vangloriar com a morte dos dois. Porém,
isso não será possível, pensei amargo, uma vez que os dois irmãos eram
leais um ao outro.
― Vamos dar um jeito. ― Minha boca era como fel, amarga até o
âmago.
tinha visto o próprio inferno na Terra. Olhou para o guarda. ― Você nos
cobre. Ninguém pode nos ver saindo. Atire antes e pergunte depois.
então segui Luca em silêncio. Pela sua cara, deduzi que coisa boa não tinha
visto lá dentro.
Nos braços de Matteo estava uma garota coberta de sangue até seus
cabelos, que pareciam ser loiros. Ela estava nua e coberta de hematomas em
seu rosto, que estava inchado, o lábio partido como se alguém a tivesse
encarar o antro que me fazia querer dizimar todos aqueles monstros. Claro,
eu era um também, mas até eu tinha regras, algo que eles não tinham.
― Controle sua fúria ― pediu Matteo, com o rosto duro como pedra.
― Quero que a leve daqui. Ninguém pode saber que ela sobreviveu.
Algo tomou conta de mim quando a peguei, pois foi impossível não
pensar que aquilo poderia ter acontecido com minha irmã se eu não a tivesse
tirado daquela igreja e ela não tivesse morrido. Expulsei esse pensamento;
Fui até onde ele informou com ela em meus braços, torcendo para que
― Não morra, luce del sole ― pedi, suplicante. ― Lute pela sua vida.
me com a cor azul. O pior foi ver aceitação naquelas íris, como se ela
soubesse que ia morrer e estivesse bem com isso. Eu não ia aceitar, não
― Não tem outro jeito. Se passarmos com ela conosco no carro, vão
descobrir que está viva. Não são todos os guardas que estão do nosso lado.
Assim que nos aproximamos do portão, o carro parou. Notei que havia
― Estou levando o executor para uma missão. Depois disso terei que
da frente. Não tinha sinal de mentira em sua voz. O cara era bom em
Esperava que logo aquilo tudo fosse reduzido a cinzas, como Sodoma e
Gomorra, lugares dos quais não restara nada após Deus destruí-los; aquele
menina e a coloquei no banco de trás comigo. Notei que sua pulsação tinha
quase sumido. Peguei meu paletó e a cobri, então comecei a fazer massagem
em seus pulsos e pedi que lutasse mais. Ela merecia brilhar no mundo fora
daquela prisão.
Demorou alguns segundos para ela ter uma pulsação mais constante.
― Merda! ― Soltei um suspiro de alívio. ― Isso, Raio de Sol, lute.
preparar para cuidar da garota. Pedi sigilo, não queria ninguém lá quando
chegássemos; não podíamos deixar que soubessem que ela estava viva ou
pior, mais degradante. Não posso ficar do lado dele como antes. Não queria
mando do capo, mas nada como aquilo. Ainda bem que ele não me chamara
― O chefe Matteo será o capo em breve, então poderá ser leal. Ele
acontecesse.
Eu estava farto disso, de ver aquele tipo de barbaridade e não poder
Eu não estava com cabeça para ler seu humor negro; o meu estava pior.
consciência de que, antes, eu não deveria tê-la pegado assim, pois poderia
ter algum osso quebrado, mas não tinha como mudar isso, estava sem
opções.
― Lute um pouco mais, Raio de Sol. Não posso fazer isso por você.
irmãos, mas isso me foi roubado por um homem do qual eu nunca poderia me
vingar.
Ele nos devia, por isso, às vezes, precisávamos dos seus serviços,
embora não fosse o médico da máfia. Eu não queria ir para Albani; se fosse,
― Vou examiná-la. ― Veio até a menina e fez seu serviço. ― Vai ser
fiquei na sala de espera, mesmo querendo estar com ela. Por que essa
emoção estava em meu peito? Nunca havia me sentido assim por um
coração, mas eu não tinha um. Ao menos pensava isso antes daquele cenário.
― Sim?
Era Matteo. Ele com certeza estava ligando para saber como estavam
as coisas.
mim.
Ele deu um suspiro duro. Luca mantinha uma máscara fria. Éramos
parecidos nisso.
― Sabia que meu tio era doente, mas não mais do que meu pai.
se quisesse arrancá-los, tamanha era sua fúria destinada àqueles que deviam
ser sua família, mas nenhum deles sabia o significado dessa palavra.
um propósito. Lorenzo perdeu esse propósito no dia em que sua filha morreu.
Essa tragédia não era desculpa para sua monstruosidade. Para tudo havia um
limite, e ele ultrapassara todos, por isso devia ser extinto da face da Terra.
― O que vamos fazer? Não podemos deixá-lo cometer isso com outras
meninas que ainda estão presas lá. ― Olhei para ele. ― Posso matá-lo, aí
― Não, porque eu teria que matar você, e não quero nem vou fazer
― Não ligo. Só mantenha sua palavra de que minha avó ficará fora
― Não vai fazer nada, porque não vou matá-lo, e fim de história. ―
firmado com sangue. Mesmo Lorenzo sendo o capo, meu juramento foi para
o seu filho, porque eu sabia que ele seria capo quando Lorenzo morresse ou
se aposentasse.
― Não vou fazer nada pelas suas costas. ― Sacudi a cabeça, tentando
controlar minha fúria, não dele, mas de toda aquela porcaria que estava
― Vou dar um jeito nessa merda. ― Era visível que ele estava a ponto
de explodir.
como aconteceu hoje. Sondei e descobri que não tem mais nenhuma que fará
essa idade por três anos. As mais velhas estão na faixa dos 17 agora, então
temos um tempo para pensar em algo. ― Trincou os dentes. ― Ele disse que
faz isso em homenagem a Dalila. Recordo-me de que ela não queria se casar
aos dez anos, de acordo com a lei fodida, então suplicou ao nosso pai para
― Besteira! Sua irmã não ia gostar dessa podridão que ele vem
olhos pelo sofrimento de sua irmã, a qual perdeu da mesma forma que
sangue e suas roupas rasgadas. Com certeza sumiram com ela para deixar os
ele tem muita influência e não sairá tão cedo ― Matteo parecia falar consigo
tirar a vida de outro membro da família, poderia ser morto sem merecer
justiça.
Eu não contava com isso vindo tão cedo, então era melhor focar no que
menina no quarto.
fosse contra, não poderia proteger as meninas que estão presas lá. Preciso de
que não estão na nossa folha de pagamento. ― Sua voz era baixa e letal. ―
Mas não posso fazer isso. Têm pessoas na nossa organização que não gostam
do que Lorenzo faz, mas seguem as regras porque não têm como se recusar a
cumpri-las.
― Não pode mesmo, já que todos os negócios seriam fechados ―
falei com o cenho franzido. ― Isso também não seria de muita ajuda, porque,
que poderia ser benéfico para os meus objetivos, assim não cometeria erros.
brotava à superfície.
― O cargo será de um dos dois, não vou querer outro. ― Matteo
parecia decidido. ― De qualquer forma, nós vamos lidar com isso mais
tarde.
tê-la salvado, mas não o fez, assim como não salvou minha família.
Uma vez, acreditei e tive fé. O rosário no meu bolso comprovava isso.
Contudo, depois veio a minha destruição, levando para longe de mim tudo
que era importante. E, mesmo se eu quisesse ser um devoto, não podia. Era
no passado.
― Mal. Ela tentou ajudar a Lis, mas um dos guardas bateu nela. Outro,
que está do nosso lado, a levou para longe antes que as coisas ficassem
amava a senhora.
― Zaira gosta dessas crianças e ainda mais dessa menina. Disse que
ela era muito gentil, não entrava em briga nem era desobediente. Parece que
socou a parede com força, ferindo sua mão. ― Como eu não soube dessa
merda antes?
veio até nós. Notei que a porta, na verdade, dava para um corredor no qual
havia outras portas.
ansioso demais.
Soou amargo. ― É provável que ela jamais seja mãe caso sobreviva. A
machucaram demais.
controlei.
nada que coloque em risco a vida das outras meninas, nem trazer problemas
expressão.
fundo, não vou atrás eu mesmo porque não confio em mim. Não sei se
meu ombro. ― Esse assunto é tão difícil para você quanto é para mim.
Porém, você é mais controlado do que eu, vai fazê-los sofrer sem chamar
― Sim, sabe como trabalho. ― Fiquei grato por ele me deixar fazer
― Eu sei. Agora preciso ir. ― Suspirou. ― Não quero que ela fique
só.
Não sabia o que estava fazendo ali, mas não iria embora nem deixaria
outra pessoa tomar conta dela. Seria difícil quando ela abrisse os olhos e se
uma coberta sobre ela. Seus cabelos loiros ainda estavam manchados de
― Eu sei que passou por muita coisa, mas não desista agora. ―
que conversava muito comigo quando estive entre a vida e a morte, embora
Peguei sua mão e vi que tinha um rosário em seu pulso. Ela acreditava
morte. Todavia, antes isso à cruz que aquela menina teria de carregar para
sempre. Assim que acordasse, ela teria que lutar com os demônios de suas
psiquiatra, mas não era disso que eu precisava, e sim de vingança. Foquei
nisso, era meu objetivo daquele dia em diante. Qual seria o daquela garota?
Dor.
Tormento.
Vazio.
Desespero.
melhor, pesadelos lúcidos, do tipo que nos consome por dentro e por fora.
àquele vazio, àquele vácuo em meu coração... Era isso o que significava
respiração irregular para saber onde estava. Parecia ser um hospital. Uma
infância? Uma parte de mim sentia que fui feliz nessa época, antes de
estava focada demais na voz, que reconheci do sonho que tive antes de
apagar.
recordava. Pensei que tinha sonhado com meu anjo da guarda. Seu rosto
estava tenso, embora sua face fosse bela e com uma camada de barba. Havia
de olhos arregalados.
Sim, aquele rosto era o mesmo que vi antes de pensar que estava
ele tinha me implorado para lutar mais e não morrer. Agora também
acordasse? Não sabia o que fazer. Temia tentar e ele se alterar, assustado.
embora eu ainda sentisse dores por todo o corpo. Fiquei comovida, porque,
tudo o que aconteceu naquela noite, uma porta foi aberta e um homem entrou.
Apertei minhas mãos, e foi então que notei que meu salvador estava
segurando uma delas. Por que sua presença não me fazia ter medo como
acontecia com o outro homem? Seria por ter sido ele a me salvar? Porque,
― Fique onde está. ― Sua voz saiu mais dura do que um minuto atrás
Pelos seus trajes, o homem era um médico. Fez o que meu salvador
pediu, não se aproximou, o que me deixou aliviada, mas não o bastante para
tirar sua mão da minha, mas não deixei, apertando seus dedos um pouco mais
forte.
palavras.
No fundo, uma parte de mim sabia disso, mas a outra, que tinha medo,
Queria pedir desculpas pela minha reação, mas não poderia fazer
aquilo, e não apenas em razão daquele aparelho sobre minha boca e nariz,
Olhei para sua mão, que eu agarrava com força, depois para sua face.
Se quisesse me fazer mal, certamente não teria me levado para uma clínica.
está?
Fiquei feliz por não ter mais aquilo na minha boca e garganta.
embora quisesse saber seu nome, o porquê de ter me salvado e ainda estar
que eu não conseguia falar ainda. Acreditava que depois me sentiria mais
afirmativamente. E, de toda forma, ele podia me ajudar com a dor física, mas
não com o sofrimento. Não acreditava que alguém pudesse tirar aquele
― Traga algo para dor. ― Não parecia um pedido, mas uma ordem.
― Tudo bem ― aquiesceu o médico, em seguida saiu do quarto.
Quem era aquele homem? Ele parecia poderoso, mas não de um jeito
Como ele sabia meu nome? Zaira teria comentado sobre mim? E como
ela estava? Esperava que bem; recordava-me de que ela tentara me proteger,
mas no final não pôde fazer nada. Ninguém podia ir contra aqueles mafiosos.
minha boca estava seca. Talvez assim minha voz saísse e eu descobrisse
primeiro gole.
― Está com medo de mim? ― Tinha algo em sua voz que não consegui
identificar.
Neguei com a cabeça, deixando claro que não era isso, mas também
não falei o que era. Na verdade, estava comovida com seus gestos ao cuidar
de mim.
acalmava. ― Não precisa ter medo, eu jamais a machucaria. Juro a você que
Queria agradecer-lhe por tudo que me fez e lhe contar que acreditava
não conseguia emitir qualquer som. Sabia que fisicamente não havia nenhum
problema nas minhas cordas vocais. Seria por que eu ainda estava com
medo? Minha mente não permitia que as palavras saíssem, ainda que eu
quisesse pronunciá-las.
Tentei dizer algo novamente, mas nada saiu.
― Leve seu tempo. Quando se sentir melhor, você vai falar. ― Sorriu.
mente sem eu precisar abrir a boca. Percebi que isso ficou evidente em
minha expressão.
Ouvi uma batida na porta, então o médico entrou trazendo uma bandeja
com algo sobre ela. Meu coração voltou a acelerar com aquele medo
aterrorizante. Parecia que o pavor estava em meu cérebro o tempo todo e que
direção.
agora.
medicamento no soro.
― Isso vai tirar sua dor ― prometeu-me, descartando os utensílios
fitando-me. Não demorou muito para a medicação fazer efeito, não só contra
fundo.
Queria dizer-lhe que não era culpa dele o que aqueles monstros
dor e do tormento.
Samuel
esperança de que ela logo ficaria bem, ao menos fisicamente. Quanto à sua
Sabia que não era minha função tomar conta da garota, mas não estava
de forma recorrente, no qual suplicava para que meu pai não matasse minha
família, algo que não pude fazer na vida real. Não houve tempo para sequer
pensar.
sereno, desprovido de todo aquele tormento e medo que via quase sempre
quanto no corpo. Às vezes tínhamos que sedá-la para fazer alguns exames,
que a garota lidaria bem com a presença masculina. A única exceção era eu,
e não entendia o porquê. Era para ela me temer também, mas confiava em
Matteo entrou no quarto após sondar se ela estava dormindo. Como lhe
contei tudo que aconteceu quando ela abriu os olhos, ele sempre mandava
meu lado.
Ri amargo.
uma noite, mas então vieram outras e outras... e ali eu estava. Depois que ela
― Se não quer ficar com ela, posso deixá-la com outra pessoa ― ele
― Você não viu a forma como ela reage ao ver o médico. ― Sacudi a
cabeça. ― Não acho que poderá viver sozinha por um longo tempo. Ela vai
senti algo em meu peito. Isso acontecia sempre que olhava para ela. Esse
sentimento estava ali, enraizando-se a cada dia. Seria compaixão? Por anos
Aquela emoção estranha que tomava conta do meu coração escuro era nova.
acho que ela irá confiar em outra pessoa. Nem sei por que confia em mim.
― Não sei ao certo, mas acredito que até mais tarde. ― Franzi a testa.
― Preciso que faça uma coisa para mim. ― Enfiou a mão no bolso.
quem são essas meninas e onde moravam. Está tudo aí dentro. ― Entregou-
sobre a Liliane.
fazer alguma coisa. Talvez ache uma conexão com as famílias delas.
Assenti.
maioria das garotas, bem como onde moravam antes de ser levadas por
que ainda estão lá. A maioria é daqui, porém, há garotas de outros países
também ― informei.
procura de suas crianças, muitas antigas, outras de poucos meses atrás. Essas
são das meninas que atualmente têm entre sete e dez anos.
deixá-las crescer até ter a idade certa para seu plano macabro... ― Soltou
máfia. Ao menos essa informação não está descrita nos arquivos. ― Copiei
sendo castigada. Vou procurar saber mais sobre ela, e você tente saber mais
sobre a Liliane.
― Sim. Mas só vou poder fazer isso quando ela melhorar. Agora
preciso que o foco dela seja sua cura. ― Sabia o quanto isso seria difícil.
Não passei por algo assim, mas vi como Bonnie ficou devastada. Até o
presente ela não tinha relacionamentos por causa do que teve de suportar.
Embora fosse psicóloga, ainda havia uma barreira. Eu torcia para que um dia
ela pudesse superar. Ao menos, não era avessa a toques, não mais. Houve
uma época em que não os suportava, por isso eu acreditava que Liliane
conseguiria também.
― Não entendo por que não têm informações sobre essas duas
Zaira contou que Liliane tinha oito anos quando foi levada para a
fazenda. Não foi na época dela, afinal tinha chegado ali havia menos de um
ano, mas a menina lhe contou isso. Não recordava muito do seu passado,
famílias importantes. Pode ser que eles não queriam correr o risco de serem
algo para que ninguém descobrisse, deveríamos evitar falar sobre o assunto
ou guardar qualquer registro. Na época, não entendi, mas agora faz sentido.
― Não custa nada pensar sob esse viés. Espero que elas não sejam de
― Seu pai e seu tio vão nos manter cheios de problemas por um
― Vou ver o que posso fazer para descobrir algo sobre Liliane. Não
prometo que será agora. Como eu disse, a cura dela vem em primeiro lugar.
Entendia que ser forçado a contar sobre traumas era doloroso demais.
Deu um suspiro duro. ― Não posso focar nela quando tenho mais meninas
mão no rosto. Estava cansado demais, fazia tempo que não dormia direito.
embora.
recorrentes –, mas não podia fazer isso ali nem queria que ela acordasse e
não me visse.
homem assustador, fui criado de modo duro até os 15 anos e, após a tragédia
para não a assustar, mas a escuridão estava lá... sem fim. Liliane não devia
se sentir segura com um homem como eu. Era um assassino, um executor
capaz de torturar e ter prazer nisso. Se Lily soubesse, com certeza fugiria,
mas para onde iria? O que faria sozinha no mundo desconhecido? Ao menos
seguir sua vida. Podia demorar um pouco, dadas as circunstâncias, mas ela
era uma lutadora. Brigou por sua vida e sobreviveu. Certamente conseguiria
passar por aquilo e se reerguer. Não seria fácil, eu sabia disso, porque a
tê-la tirado de lá, mas a queria cem por cento fisicamente. Suas costelas
sozinha.
Outra razão para eu não a ter tirado de lá ainda era que eu aproveitava
enquanto ela dormia para programar visitas aos homens que a tocaram.
Prometi vingança e manteria essa promessa.
que me vingaria sem chamar a atenção sobre mim. Isso não queria dizer que
seria menos doloroso para eles, porque mereciam o pior. Faria com que a
culpa de suas mortes recaísse em seus inimigos, homens tão horríveis quanto
Lorenzo fazia vídeos dos atos promovidos pela seita. Foi assim que
descobri quem era cada um deles e o que fizeram com Lily e as outras
meninas, além de ter pegado o relatório com o nome dos estupradores com
um dos guardas que estava no local, um dos nossos, que não pôde fazer nada
uma cadeira.
― Ela implorou para não ser tocada. Agora lhe pergunto: você ouviu?
O filho da puta ficou confuso, o que me deixou mais irado, pois não
invés de seguir a lei corretamente, burla todas as regras? Um homem que faz
como você? ― Cada palavra proferida por mim gotejava ácido puro.
quase morta e colei na parede em sua frente. ― Olha como vocês deixaram
uma delas.
― Eu lamento...
― Não, você não lamenta. Para uma pessoa lamentar algo, ela deveria
ter um coração, e posso apostar que você não tem um. ― Apontei para um
não quero que morra só asfixiado, fiz esse buraco para que morra afogado.
Dizem que é uma morte horrível. ― Cruzei os braços. ― Vamos ver o que
irá matá-lo em primeiro lugar. Enquanto você agoniza, olhe para a foto dela.
― Lorenzo nos deu a garota! ― O medo era evidente em sua
expressão. ― Por que ele mandou você me matar se foi um presente dele?
Eu estava calmo por fora, mas por dentro a fúria me consumia. Era
― Não estou aqui a mando de Lorenzo. Ele é outro maldito que logo
aberta.
― Suas súplicas não significam nada para mim. Isso me deixa ainda
sentiria se alguém fizesse com eles o que você fez com essa menina? Teria
prazer?
você!
― Não se preocupe. Eu lhe mandaria o vídeo de como as coisas
aconteceram quando Moor acabasse com eles, mas acho que não sobreviverá
É claro que eu nunca faria aquilo; não matava quem não precisava nem
pessoas inocentes. Quando eliminava alguém, era por seus erros, e não me
― Por que essa veia protetora? Aquela menina tinha família, assim
como você. Ao menos pensou em seu sofrimento? Não fez isso, aliás, só
queria molhar seu pau fodido. ― Descruzei os braços. ― Para o que fez,
sussurrou.
buraco no cofre.
― Você não merece uma morte rápida. Sorte sua que morrerá assim,
afinal não quero chamar atenção. ― Peguei suas bolas e as apertei, fazendo
com que gritasse. ― Esse tipo de grito é minha essência, algo que adoro
ouvir.
porque esse não é meu modo preferido de matar alguém. ― Afastei-me com
pediu! ― rugiu.
você escolher entre ser jogado no oceano ou ser enterrado. O que vai ser?
Um conselho, poupe seu fôlego, pois vai precisar dele. Ninguém irá ouvi-lo
e vir ajudá-lo, assim como ninguém ouviu a garota nem a ajudou em seus
― A boceta dela era apertada quando gozei. Senti prazer com seus
assim para tentar se livrar da agonia. ― Tudo dentro de mim fervia com suas
autocontrole.
Apertei o cabo da faca e fui até ele com um sorriso sardônico. Pude
olhava, adorando ver seu pavor nítido. ― Há algumas táticas de tortura que
uso que não aceleram a morte.
Enfiei a faca sob suas unhas e arranquei pedaços do leito e lascas das unhas,
adorando ouvir seus gritos. ― Na verdade, irei amar mandar sua alma para
o inferno
cuspiu.
poderia fazer sentido quando encontrassem seu corpo; entenderiam que ele
tentou abrir a porta do carro na agonia para se salvar, pois seria a forma
como todos pensariam que ele morreu. Eu não podia feri-lo mais do que
― Sua única missão antes de morrer será olhar para ela. ― Apontei
seus gritos e insultos até restar apenas o silêncio. Mesmo com o pequeno
pensava que estávamos no meio do oceano. O lago era muito grande, e, além
disso, embora a porta tivesse ficado aberta enquanto eu falava com ele,
tampei sua visão do exterior com meu corpo para que não visse nada.
― Merda, você é bom ― disse Luca atrás de mim com tom orgulhoso.
sabem dar ordens, não passaram pelo que passamos. Então, quando suas
― Sim ― respondi.
O cofre estava preso com correntes, então acenei para Moor, que
lado.
nos Estados Unidos era conhecida. Eles possuíam boa parte da Rússia, mas
moravam em Detroit havia mais de uma década. Seus integrantes não temiam
as regras, aliás, todos eram considerados loucos. Cada um deles era letal,
justamente porque nenhum tinha nada a perder. A máfia era controlada por
Sergey, o chefe deles, e seus três irmãos vivos, Demyan, Misha e Kostya.
mapa junto à sua irmã de apenas oito anos. Todos pensavam que foram
raptados e mortos. Podiam ter sido realmente, pois ninguém sabia deles.
Anos mais tarde, após essa tragédia, aconteceu outra. Os pais deles
também estava a outra irmã dos Volkovs. Agora quem estava no poder era o
sucessor. Sergey era jovem quando assumiu o poder, não tinha mais do que
16 anos na época. Atualmente contava com 23. Era um dos homens mais
teve uma morte acidental. Nada poderá ser relacionado a essa máfia. ― Eu
dentro de minha própria organização, o qual eu não podia matar tão cedo.
inquiriu.
― Não será sem motivo. Ele tem uma reunião amanhã lá, então essa
noite sairá em viagem, durante a qual terá o seu acidente. ― Dei de ombros.
― Ele poderia cair da ponte sobre o rio Detroit, mas não vou chegar tão
perto para que a máfia Darkness não desconfie, farei acontecer em outro rio
sondou.
― Não, não é tão longe assim, e o infeliz gosta de dirigir. Além disso,
em sua agenda está marcado que ele passaria em um dos prostíbulos de uma
Eu era um bom pesquisador, tanto por ser um hacker como por ser um
sua morte, pois foi atender o telefonema do seu pai. ― Luca riu,
provavelmente ao se lembrar.
― Foi feito um buraco pequeno no cofre para que a água entre. Com
isso, vai parecer que demorou um pouco para ela entrar no carro. Por isso
machuquei seus dedos, para parecer que ele tentou abrir a porta com
desespero, sem sucesso. Por sorte, as portas de seu carro esportivo não
Luca sorriu.
curioso.
colocado dentro da água. Mais tarde, iria conferir a câmera que deixei
― Você é tão letal quanto eu, se não for pior ― apontei o óbvio.
é mais divertida.
Minha raiva ficou pior quando ele sorriu, analisando-me. Estava a ponto de
me virar e quebrar seus dentes, mas me controlei. Não iria perder o controle
tempos estivesse com as emoções à flor da pele, o que não era comum.
― Acho que estou com inveja por você matar todos, enquanto fico
― Deixa para quando o chefe for capo, aí você terá as mãos cheias
com Liliane?
ao fundo.
Meu corpo inteiro se sacudiu ao ouvir o tormento naquela voz.
terror em seus olhos... ― Sua voz falhou. ― Foi como se eu fosse o próprio
fundo.
ficaria melhor em uma casa. Deixá-la trancada num quarto de uma clínica
piores.
parou de gritar.
esperança era evidente. Nessa hora, quis voltar ao lago para fazer Aguiar
fungando.
― Eu sei, lamento por não ter estado aí. Prometo que na próxima vez
― Se alguém entrar...
segundo.
voz quando achava que estava morrendo, então me esforcei para olhar o seu
rosto. Achei que estivesse de frente a um anjo. Tinha pedido a morte para
Deus, mas, ao invés disso, Ele enviou você. O meu anjo salvador.
Minhas mãos apertavam tão forte o volante do carro que pensei que o
quebrariam.
Olhei para ele para entender o significado do gesto e percebi que não queria
― Por isso não ficou com medo de mim quando abriu os olhos após a
cirurgia? ― Estava curioso quanto a isso desde o início, mas vinha evitando
sentir isso.
Não era salvador de ninguém. Não era aquele homem que ela
meu estômago.
Ela fungou.
― Não, mas para onde vou? ― O medo era evidente em sua voz.
― Aceito ficar com você. ― Sua voz saiu mais rápido do que o
tempo até eu chegar em frente à clínica. ― A linha vai ficar em silêncio por
voltando.
minha vida. ― Encerrei a ligação, assim ela não poderia me ouvir. ― Porra!
disse.
― Não sou o salvador dela! Você que é! ― rugi. Minha explosão o fez
estreitar os olhos, pois eu nunca tinha feito isso. ― Desculpe, chefe, é que
Matteo me dava liberdade para agir, mas ainda era meu chefe, além de
possível. Então ser chamado de anjo e salvador por alguém como ela é
difícil.
Bota difícil nisso, pensei.
― Precisamos que ela fique no escuro. Ninguém pode saber que está
assassino e um cordeiro. O que poderia ser mais fodido do que isso? Nada,
não naquele dia. Em seu lugar estava o médico. Na hora, tudo em mim gritou
em desespero.
meu medo foi maior do que tudo, mesmo que uma parte de mim soubesse que
estivessem adormecidos, porque eles não iam embora. Fazia mais de um mês
Olhei para a porta quando o único homem que não me fazia sentir
a abrir a porta e entregou o aparelho a alguém. Entendi que era para o dono.
― Está tudo bem? ― Sua voz era tão calma que me tranquilizou.
Ele avaliou a coberta, que estava sobre mim até o pescoço e eu a
novo.
― Está. Obrigada por ter vindo. ― Com a sua presença, fiquei cada
Samuel tinha me dito que eu iria embora consigo para sua casa. Estava
feliz, pois não tinha para onde ir caso ele me deixasse sozinha. O que eu ia
fazer? Fiquei a minha vida toda trancada e desconhecia o mundo ali fora.
É que não sabia para onde ir se você me deixasse assim que eu saísse daqui.
Esperava que um dia isso passasse, mesmo que, no momento, não visse
acontecendo brevemente.
indicou.
Assenti.
Olhei para ele ali, mas não se aproximou totalmente. Nunca o fazia,
Balancei a cabeça, então ele cuidou do meu braço com todo o cuidado
para não me tocar. Entendi que temia que eu surtasse, mas, com Samuel, isso
coberta de lado e coloquei uma perna para fora da cama. Ainda bem que
minha bata hospitalar era longa. Prendi a respiração ao sentir uma pontada
nas costas, mas me esforcei para conseguir. Queria sua ajuda, mas temia
surtar caso tocasse meu corpo. A única parte sua que eu havia tocado até
então foram suas mãos. Com o resto do corpo talvez eu agisse de modo
diferente.
sua testa.
suspiro, então tirou seu paletó. ― Posso colocá-lo em seus ombros? Não é
O problema era que eu não tinha roupas ali, então aquilo serviria.
evitando me tocar.
então podemos ir para sua casa. A maioria dessas dores são por eu ter
Não queria ficar ali, surtando sempre que alguém entrasse ou passasse
daquela forma, mas não conseguia evitar quando qualquer um, exceto
Samuel, aproximava-se.
De repente, algo passou pela minha cabeça.
Arregalei os olhos. Queria dizer que sim, mas, na verdade, não sabia.
Entretanto, não podia ficar o tempo todo dependendo de Samuel. Ele tinha
sua vida lá fora e já fazia bastante ao cuidar de alguém impotente que nem
generoso.
― Não, ela se chama Donatella. Zaira não pode sair de onde está, pois
sintonia...
nem me proteger. Como vou fazer alguma coisa por elas? ― Abracei-me,
sentindo um arrepio.
― Vou cuidar disso. Sua única tarefa é ficar boa logo. ― Olhou para
mim.
Como não posso carregar você nos braços, vou pegar uma cadeira de rodas.
― Não precisa ter medo, não vou tocar em você, prometo. Só fique
procura do objeto.
Na hora em que Samuel falou em me pegar no colo, não foi por medo
que fiquei daquele jeito, mas sim porque meu coração se aqueceu ainda mais
muita gente. ― Era assim no que eu tinha ido uma vez. Ali estava a
lembrança da mulher sem rosto. Ela estava comigo em um hospital. Seria
minha mãe? Se fosse, o que deveria ter sentido com meu desaparecimento?
― É uma clínica sob nosso poder. Mandei todos saírem para que
― Oh. ― Ele tinha feito isso porque eu tinha medo de ficar perto de
pessoas? Sim, o fez para facilitar as coisas para mim. Minhas mãos estavam
― Você vai ficar bem. Passou por muita coisa, só precisa de tempo
para se curar. ― Havia algo em sua voz que não consegui identificar, mas
assunto.
― Muitas pessoas que são fiéis e possuem alguma fé... quando passam
Olhei para ele, desviando meus olhos do céu azul. Ele fitava à frente
― Tudo nessa vida acontece por uma razão. Posso dizer que estou
com raiva? Sim, estou. Dizer que minha fé se abalou por um segundo? Sim,
fundo. ― Mas nunca culparei Deus por qualquer coisa. Ele enviou você para
me salvar.
Samuel não respondeu. Seria por que tinha perdido sua família? Isso o
Muitas vezes sonhei com a ideia de que um dia seria possível estar
além das cercas da minha prisão, vendo o mundo, sendo livre... claro que em
desespero.
Pensar em tudo que passei me fez entender por que Samuel não
concordava comigo. Havia uma passagem bíblica que dizia que nada
acontecia na Terra se Deus não permitisse, mas eu não O xingaria por isso.
pagassem, não só por terem me destruído, mas também por fazerem o mesmo
levada para aquele lugar. Só havia uma vaga lembrança daquela mulher sem
rosto e das crianças com quem eu brincava na igreja. Sentia que era feliz lá,
ajuda a Samuel.
livre, mas uma prisioneira em minha própria mente. Como ficaria livre
movimentada.
onde estava. Só quero que tenha em mente que ninguém nunca mais vai
verdade, embora ainda assim fosse realmente apavorante. Não havia como
fundo da drogaria.
assim? Como falaria com as pessoas sem surtar? Não existiria mais uma
A dor perfurava meu peito como uma navalha cega, rasgando-me. Era
ver Liliane de olhos fechados e com o rosto molhado. Nessa hora, quis matar
da pior forma possível todos que a machucaram. Era óbvio que morreriam
aos poucos, mas desejei matá-los naquele momento. Era uma pena que eu
os malditos sofrerem, não ao ver a dor dela naquele instante. Seu sofrimento
mexia com algo em meu peito, deixando-me inquieto e furioso com todos
a ajudasse a aliviar o que estava sentindo. Eu não sabia, fazia anos que não
chorava, provavelmente desde que perdi minha família. Não conseguia mais.
Não havia nada em meu peito, além de abismo e escuridão. Mesmo sentindo
momento: temia que entrasse em pânico. Não sabia o que faria quando
notaria o quanto me afetava vê-la daquela forma. Fazia tempo que eu não me
sentia assim, tomado por uma sensação desesperada de proteção. A última
Nesse momento, eu tinha duas lutas pela frente: primeira, acabar com
cabeça em minha direção, fingi olhar algo à direita, assim ela não me
Minha atenção se voltou para ela, que encontrou meus olhos. Os seus
tinham tanta confiança em mim. Céus, era algo que eu não merecia.
Prossegui e entrei no carro, deixando a sacola com os remédios no
banco de trás. Notei seus olhos vermelhos, mas ela os desviou, fitando a sua
em minha direção.
emocionava àquele ponto, que não havia nada em meu peito que me
permitisse externar daquele jeito, embora isso pudesse estar mudando com a
chegada dela. Pensei que meu coração estivesse morto, mas parecia que
dominarem. Nesse momento, a única coisa que precisava ter em mente era
vingança, tanto a minha como a da Lily, bem como a recuperação da menina
quando não tem nenhuma obrigação ― sussurrou. ― Está fazendo tudo isso
Liliane, o que não era o caso. A senhora não tinha nada a ver com meu
desejo de ajudar a garota; isso vinha do mais profundo do meu ser, e eu não
podia ir contra essa vontade. Poderia dizer que meu chefe havia mandado,
como uma águia. Mas não me sinto assim. ― Olhou para mim com
esperança. ― Será que algum dia conseguirei andar sozinha por aí sem...
libertaria do jugo em sua mente, porque acreditava que sim, ela conseguiria.
― Você está livre para fazer o que quiser, gritar para o mundo, fazer
coisas que nunca fez e tudo o que sonhar. Mas seu medo é compreensível. Só
dê tempo a si mesma.
Nenhum chegará a você, confie em mim. Entretanto, não posso lutar contra os
Ela me olhou com um brilho intenso e esperançoso que fez meu peito
sacudir.
profissional que ajudará você com isso. Pode ser? ― Não queria lhe impor
nada.
tempo. Ninguém obrigará você a falar nada ― afirmei enquanto dirigia para
casa.
Tinha conversado com minha avó sobre Liliane e o que lhe aconteceu e
dito que ia levá-la para nossa casa, assim ela me ajudaria a tomar conta da
― Lhe agradeço por isso. ― Ela ficou olhando pela janela. Deduzi
que estava absorvendo tudo que perdeu presa naquele maldito lugar.
que recordava.
Deixei-a com seus pensamentos até que parei na rua de casa. Percebi
caso, vendido.
Saí do carro e abri a porta para ela. Peguei seus remédios e algumas
roupas que tinha lhe comprado antes de acertar minha conta com Aguiar.
Poderia tê-las dado para ela na clínica, mas não sabia se ela aceitaria se
trocar com alguém ao seu lado. Em casa, teria mais liberdade e poderia se
ela observava ao redor. Podia ver que ela estava com um pouco de dor, mas
tentava esconder.
decoração que a vovó adorava. Ela seguiu até uma estante de livros.
― Lia quando dona Zaira trazia alguns livros para mim ― respondeu.
― Como você não pode subir as escadas ainda, vou deixá-la no quarto
de baixo.
quê, eu não sabia. Será que temia que eu ficasse perto dela à noite?
― No último andar. ― Eu a avaliava para saber o que estava
minha avó caso alguém atacasse a casa, embora uma pessoa tomasse conta
Eu havia pedido que vovó não ficasse visível quando a trouxesse, ao menos
― Pode ficar até eu dormir? ― Sua voz tremeu. ― Não quero ficar
janela.
para o rosário em seu pulso. ― Se por acaso acordar e eu não estiver aqui,
Eu não sabia ao certo o que fazer, mas aproveitei para usar a fé dela;
podia reunir forças, ainda que, mesmo tendo fé, o pavor a tomasse.
Porra! Eu não poderia ficar ali 24 horas por dia. O que faria?
comprei no dia anterior. Pensava em dá-los a ela depois, mas entendi que
Sua voz... Maldição! Isso me atingiu como uma marreta. Ela pensou
que eu simplesmente iria embora assim? Fiquei puto da vida, não com ela,
― Eu não ia sair sem falar com você. Pode ser que isso aconteça às
O que é?
aplicativo. ― Está vendo esse ponto? Mostra onde você está. Então, se um
dia você sair ou alguém a levar para longe, vou saber onde está e trazê-la de
volta.
a testa franzida. ― Tenho a sensação de que já tive um algum dia. Seria das
amnésia. Depois vamos ver isso. Agora deixe-me te mostrar como funciona.
― Cheguei mais perto e me sentei no chão ao seu lado, mas tomei cuidado
a ensinava a usá-lo. ― O meu nome está aqui. Quando quiser falar comigo,
para mim. Atenderei a qualquer momento. Podemos nos falar como fizemos
Seus olhos eram tão intensos e agradecidos nos meus que aqueceram
mais meu coração negro. Por um segundo, travei com a vontade de beijá-la.
Tão logo esse desejo surgiu, forcei-o a desaparecer. Não iria por esse lado.
― Não me agradeça ― pedi novamente, mas sabia que ela não podia
ela esteve na clínica, que tinha pesadelos, então alisava seus cabelos até sua
tormenta passar.
― Estou fazendo-os pagar por isso ― peguei-me dizendo. ― Vão se
um louvor.
Anjo! Não era um termo que eu usaria para se referir a mim, a não ser
que fosse Lúcifer, afinal, ele foi um anjo antes de ter sido expulso do Céu.
me apegar a ela, apenas ajudá-la. Além disso, Liliane não estava pronta para
Fazia três dias que Lily estava em minha casa, e percebi que ficar lá
fazia bem a ela. Estava se soltando mais a cada dia. Isso me deixou aliviado.
Esperava que ela logo estivesse recuperada cem por cento, ao menos
fisicamente.
que a tocaram. Era para ter acertado as contas com o senador Peter Jones,
mas descobri outra oportunidade para pegá-lo em breve, então resolvi ir
― Não posso fazer isso, afinal, foi eu quem o trouxe para cá. Sabe por
caixão.
perna.
Ainda bem que, com esse, eu teria o prazer de não precisar forjar um
acidente. Ele costumava desaparecer para ficar com sua amante, então
adorei ver.
― Tive que forjar isso para não chamar a atenção para mim. ― Sorri.
― Olhe como ele morreu... O seu fim não vai ser diferente. ― Peguei o meu
querendo me matar!
se impor aos mais fracos. Por que não o faziam com os mais fortes? Bando
Peguei a foto de Lily. ― Recorda-se dessa menina? Foi você e seus malditos
amigos estupradores que a deixaram assim, quase morta.
― O Lorenzo a deu...
― Acho que você e Aguiar ensaiaram as mesmas falas, pois foi o que
ele disse também. Deixo dito, você tinha escolha, mas não fez a certa,
preferiu tocar nela e nas outras. Esse foi o erro que o levará para o túmulo.
soltar.
― Claro que posso. Poderia facilitar para você e atirar entre seus
Nos encontramos no inferno, porque é para lá que você vai quando morrer.
Ele começou a gritar, mas seus gritos foram abafados assim que fechei
Com Aguiar, tudo ocorreu bem, ninguém desconfiou que não foi um
Poderia torturá-lo, mas isso anteciparia sua morte, e eu não queria isso.
― Eu sei. ― Suspirei
Aguiar tinha sofrido. Ele estava morto quando o tirei do cofre naquele
não apareceria, pois, da forma como fiz, não tinha deixado qualquer pista de
Aguiar ficou naquele cofre, vendo-o encher lentamente, e agora esse infeliz,
que está preso no escuro, seu oxigênio acabando aos poucos. Dessa forma,
Meu pai foi um homem cruel, que fazia coisas horríveis em nome
daquela seita maldita, muitas delas usando tortura psicológica. Ia sempre aos
mais fracos, era como aqueles homens a quem Lorenzo entregava as garotas,
covarde.
Luca.
― Eu sei, tem alguém em sua cola que vai ficar de olho em seus
Como pretende ir para lá e fazer o que precisa sem chamar a atenção deles?
dia de viagem só para ir? Com o tempo que ficaria lá para executar o
trabalho, depois a volta, teria que tirar uns quatro ou cinco dias para esse
serviço. ― Olhou-me de lado. ― Como a garota vai lidar com sua ausência?
bolar um plano, mas não consegui pensar em nada, não naquele momento.
mesmo, com um tiro na testa, mas ele merecia mais do que isso, e a Austrália
seria perfeita para o que eu tinha em mente.
se apegado à minha avó, poderia deixá-la sozinha com ela, mas vovó teve
que partir em uma viagem de última hora no dia em que Lily se hospedou em
nossa casa, então as duas não se conheciam ainda. Vovó chegaria dentro de
algumas horas, então talvez ainda desse tempo para elas se acostumarem
Arqueei as sobrancelhas.
― Luca, você perde o controle fácil. Se ele disser algo para provocá-
lo a antecipar sua morte, o que acha que vai acontecer? Vai acabar
esmagando o crânio do maldito. E, por mais que eu deseje o mesmo, isso não
pode acontecer. Lorenzo não pode saber que estamos ligados a isso, ou
dia.
― Vou pensar em alguma coisa, afinal, ele não sairá nas próximas
data da viagem.
― Estou puto, furioso demais por não poder massacrar todos e deixá-
Ele me avaliou.
queria ter seu autocontrole férreo para poder lidar com meu pai.
Enzo não era um bom pai, aliás, desconhecia o que significava ambas
conseguir viver com meu pai. ― Antes não o tivesse feito, pensei. Entendia
― Nós temos pais fodidos. Ao menos o seu não está mais respirando.
― E Lorenzo ― comentei.
Bonnie já devia ter chegado a uma hora daquela. Ela ficaria um tempo
― É o que disse. ― Luca olhou para o celular. ― Não tem como você
aquilo.
murmurou.
Podia sentir o medo em sua voz. Isso fez o sangue fugir do meu rosto.
― Só um minuto, Lily, tudo ficará bem. Minha avó chegaria hoje,
então alguém deve ter entrado para ajudá-la com alguma coisa. Você se
lembra do que eu disse? Jamais permitirei que algum mal lhe aconteça
Assim que ela concordou, coloquei a chamada em espera e liguei para minha
avó.
mas olhei os vídeos das câmeras e vi que vovó tinha chegado em casa e o
Parecia que tinha perdido a esposa de décadas fazia pouco tempo, igual
― Vó? A senhora pode pedir ao seu vizinho que saia? A voz dele
ele apenas me ajudou com a bagagem. Mas vou cuidar disso, meu querido.
voltei à ligação com a Lily. ― Raio de Sol, daqui a pouco chego em casa.
Era minha avó. O vizinho a ajudou a levar as malas para dentro, mas ele vai
embora.
― Uma psicóloga. Preciso que fale com uma. Pode ser? ― Esperava
Ela ficou em silêncio por um tempo. Isso não parecia nada bom.
certo.
― Você vai, Raio de Sol. ― Queria estar ao seu lado na consulta, mas
não podia. Ela precisava enfrentar aquilo sozinha. Eu não tinha certeza de
― Boa sorte ao pensar numa forma de sair por alguns dias e deixá-la
a Liliane.
Bonnie era uma loira linda, e eu não falo só de sua beleza física, mas
por dentro também. Sua bondade era incomparável. Eu nunca poderia lhe
trazido de Barcelona, mas a única em quem eu confiava com Lily era ela. Eu
era desconfiado por natureza, e ninguém poderia saber que ela estava viva.
no porta-malas.
nossas vidas, mesmo que um pedaço delas tenha ficado atrás para sempre.
Após Bonnie correr pelo milharal, conseguiu fugir. Assim que acordei
na Itália. O dinheiro que escondi e pedi para que ela pegasse a ajudou até eu
― Você se trancou por trás dessa fachada de concreto que ergueu à sua
volta, Samuel. Muitos fazem isso no intuito de não pensar na dor que
sofreram. ― Suspirou baixo. ― Por que não trabalha em algo menos
perigoso?
pudesse fazer isso, mas não queria. Por mais que tivessem pessoas desleais
daria minha vida, e eles fariam o mesmo por mim. Na máfia Salvatore,
― Sei que não vou ter êxito nisso. ― Sacudiu a cabeça. ― Então me
conte: o que aconteceu com Liliane? Você não me disse nada de concreto.
― Não queria falar por telefone. ― Então narrei para ela tudo o que
aconteceu com Lily, seu cativeiro, a oferenda e o estupro coletivo que quase
a matou.
― Oh, Deus! Como puderam fazer tal atrocidade?! ― Seus olhos
estavam alagados.
com ela, afinal, era avessa àquela vida, eu não sabia se era devido à sua
profissão ou apenas por não gostar de crueldade, ainda que aqueles vermes
É possível ela ter estabelecido esse vínculo de segurança com você por ter
vigia.
― Mas se ela tem essa conexão com você, então deve ter feito algo
voltasse, que não morresse. Não sei como, mas ela me viu a segurando.
Quando acordou, disse que lembrava de mim tentando salvá-la, então ela...
― Eu não sou...
Cortou-me:
― Samuel, você sempre teve esse lado protetor em você. Tentou nos
salvar no passado, e acredito que salvou muitos do mesmo destino que nós.
em meu lugar. ― Uma lágrima solitária caiu sobre sua bochecha. ― Não só
a mim, mas fazia o mesmo a outras crianças também. Sei que, se fosse
adulto, poderia ter feito mais. Vejo que é isso o que vem fazendo agora. ―
Deu um sorriso. ― É assim que você é, não importa que seja um mafioso
com a expressão fria e sem emoção; por trás dessa fachada, sei que é mole
Bufei. Não ia discutir, pois fiz exatamente o que ela disse. Não podia
deixava meu pai puto, porque, após eu assumir a culpa na frente da igreja,
ele não podia fazer nada a não ser me dar o castigo. O que Bonnie não sabia
tirando-me das minhas lembranças sombrias. ― Assim, ela terá mais forças
para lutar? Esperava que sim. O que ela passou faria muitas pessoas
desistirem no caminho.
Estava ali para ajudá-la, jamais deixaria que desistisse. Se ela ficasse
pois nunca tinha acontecido antes nos meus dias na casa de Samuel. Como
estava com medo, liguei para ele, como havia pedido, e no final era só sua
avó e o vizinho.
Uma parte do meu cérebro sabia que eu não precisava ter essa fobia
irracional, mas, às vezes, não conseguia me controlar, era mais forte do que
eu. Por isso queria ficar boa; não queria que aquelas pessoas monstruosas
vencessem, que eu acabasse destruída. Tinha que ser forte e seria, custasse o
que custasse.
Ouvi passos fora do quarto e fiquei tensa, mas não gritei, porque
Samuel disse que era sua avó, que tinha chegado de viagem. Eu não a
― Oi, Liliane, sou eu, Donatella. Quero pedir desculpas por Arnold
ter assustado você. Ele só me ajudou com as malas, mas já foi embora. Não
porta.
protegemos uns aos outros. ― Sua voz soou cheia de emoção. ― Posso
Eu não queria ser uma estranha em sua casa e me esconder nos cantos,
― Claro que pode ― forcei minha voz a soar forte, assim não
A porta foi aberta, e por ela uma senhora de cabelos brancos entrou.
Seus olhos eram parecidos com os do neto, seu sorriso era gentil.
ela não se aproximou. ― Você é tão linda, tem cabelos loiros como raios de
sol.
Seria por isso que Samuel me chamava assim? Não perguntei a ele
quando, algumas pessoas da igreja vêm, mas estão todas ocupadas agora. ―
em seus olhos. Também não a via nos de Samuel. Isso me fez relaxar.
Suspirei com o meu coração acelerado por ter ocorrido tudo bem com
ela. Por um segundo, pensei que Samuel não queria sua avó perto de mim, e
não tiraria sua razão se a tivesse afastado, embora eu não fosse perigosa.
Donatella é tão boa quanto Zaira, pensei. E fiquei feliz que ela
para mim.
Fui ao banheiro, meu corpo rijo de tensão. Esse era um dos piores
momentos, porque eu não gostava de tocar meu corpo, muito menos de vê-lo
pele, embora não adiantasse. Isso me gerava uma onda de choro, raiva e
desgosto.
Nunca pensei que pudesse odiar partes do meu corpo daquela forma,
todos os lugares onde eles tocaram... que usaram... Esperava que a água
Esperava ter forças para passar por isso. Samuel me protegia, mas até
quando? Ele não podia fazer isso para sempre. Além do mais, eu não queria
uma trégua.
peguei um casaco e o coloquei sobre meus ombros, mesmo que não estivesse
com frio, então saí do quarto. Fiquei olhando para a porta dele por um
tempo. Não tinha saído daquele cômodo quando estava sozinha, só nas vezes
em que Samuel me levava até a cozinha, mas agora a dona Donatella estaria
lá.
casa. Não achava que ficaria bem com a presença de um no momento. Varri
meus olhos em todos os lugares conforme seguia para a sala. Esse medo era
algo que eu não podia apenas expulsar; talvez um dia isso passasse.
Senti um cheiro bom vindo da cozinha. Não sabia quanto tempo tinha
ficado no banheiro. Durante meus dias ali, Samuel pedia comida para nós
dois.
Como não vi ninguém, segui com os pés descalços, mas hesitei na sala,
que era separada da cozinha por um balcão, e olhei para o outro cômodo,
― Que bom que saiu um pouco. Está com fome? Tem uma musse de
morango que eu trouxe do restaurante que possuo, a fiz lá, quando cheguei de
viagem mais cedo, antes de vir para cá. Você quer um pouco? ― Indicou a
― Sim ― respondi.
qualquer forma, não importava que ela soubesse; eu não era culpada de nada.
que achou.
Após eu agradecer novamente, ela voltou para seus afazeres na
cozinha.
Grata, era a palavra certa para descrever como me sentia em relação a ela e
ao Samuel.
― É deliciosa ― comentei.
quando criança, só dele adulto com sua avó, além de um senhor que usava
isso pudesse trazer lembranças dolorosas a ela. Mesmo assim, ouvi a voz
― Ele teve um infarto há alguns anos. Sua saúde era debilitada. Mas
sorriso que não alcançou seus olhos. A dor em sua voz era evidente. ― Nós
amamos o Samuel, demos todo nosso amor a ele quando seus pais morreram.
Quis comentar ou dizer que sentia muito pelo que aconteceu tanto com
seu marido quanto com seu filho ou filha, porém um barulho de carro
ele. Minutos depois, a porta da frente foi aberta, e ele entrou, parando ao me
ver sentada ali. Sua expressão era indecifrável. Não tive tempo de pensar
mais a respeito.
― Desculpe ― alguém sussurrou atrás dele, como se tivesse
Meu coração parou um segundo de bater vendo a bela loira entrar. Não
me recordava de ter visto alguém tão linda assim, mas o que me fez esfregar
a região do peito, que doía, foi ver que ela chegou com o Samuel.
Ouvi passos se aproximando, mas não olhei. Sabia que era ele. Samuel
dizer.
Levantei a cabeça e o avaliei. Então eles não estavam juntos? Isso
tirou um peso de mim que eu nem sabia que estava sentindo. Soltei a
comigo.
Assenti, sem saber o que dizer e me sentindo tola com essa miríade de
Samuel por me ajudar, mas ele não era meu para tê-lo só para mim. E,
― Ela é minha avó. ― Samuel a fulminou, mas não parecia ser uma
mesmo tempo.
época feliz, mas que eu não sabia se era real ou fruto da minha imaginação.
Imaginava que ficar presa era capaz de causar ilusões. As lembranças eram
Sua expressão era tão relaxada e solta que não me lembrava de tê-lo
― Não se esqueça de que agora sei lutar. Posso chutar sua bunda nos
por ambos.
Bonnie sorriu para mim como se nos conhecêssemos havia anos, e não
poucos minutos.
ela.
― Pare de querer roubar minha avó sempre que vem aqui. ― O tom
que não fazia isso havia anos. O som saiu estranho, como se fosse de outra
pessoa.
― Viu? Até Liliane acha que você está sendo insensível por querer
Donatella só para si. ― Bonnie piscou para mim, voltando sua atenção à
Virei-me para Samuel a fim de dizer algo; não queria que pensasse que
eu o achava insensível, mas vi um brilho intenso em seus olhos que não tinha
visto antes.
ajudar a lidar com o que aconteceu, mesmo que naquele momento não
imaginasse como. Sabia que existia esse tipo de profissional, mas não
finalidade de vida.
perguntou a mim.
tranquilizador.
Ele se inclinou na altura dos meus olhos; os seus estavam intensos. ― Confie
em mim.
Tentei deixar minha mente e meu corpo calmos. Era hora de enfrentar meus
mim.
minhas mãos.
para continuar:
lembranças invadem minha mente. Hoje ouvi a voz do vizinho, então elas me
― No fundo, eu sei, mas meu corpo e minha mente reagem antes que
avaliando-me.
Não consegui detectar que ela já soubesse. Talvez Samuel não lhe
precisei.
― O que mudou?
desistir, então consegui enxergar seu rosto através da névoa. Pensei que
― Então você o tem como uma âncora? ― Ela ficava atenta a tudo o
que eu falava.
― Não sei, mas, perto dele, essas vozes em minha cabeça não me
terror uma vez quando criança e que tive medo. Atualmente o que sentia era
muito pior do que isso. Nos flashes que tinha do meu passado, eu sentia que
começo foi pior, pois, quando abri os olhos e me vi presa naquele lugar,
entendi que estava sem nenhuma lembrança. Nada, tudo vazio. Foi apenas de
alguns anos para cá que passei a ter esses lampejos de memória. Mas, após o
que aconteceu comigo, as lembranças estão mais frequentes, e isso faz doer
igreja.
― O que tinha lá que a fez se lembrar? ― Tinha algo em sua voz que
não consegui decifrar, diferente do que havia sentido poucos minutos antes.
― Havia crianças; uma menina menor que eu, de olhos claros, ao meu
vezes. Há uma mulher loira, mas não consigo recordar seu rosto, porém ela
― Não sei, mas sinto que não é o mesmo lugar ― comentei. ― Não
me recordo.
também, mas era mais comigo: “Enquanto eu viver, você nunca será
machucada.” ― Pisquei, aturdida. ― Não me lembrava dessa frase até
agora.
― Acredito que sejam suas memórias. Acho que ou esqueceu por ser
jovem, já que mencionou que aconteceu quando pequena, ou por ter passado
― Não force suas lembranças, elas vão retornar com o tempo ― disse
em tom brando.
― Não acho que seja algo pior do que isso, mas foi forte o bastante
para traumatizá-la. Pode ter sofrido uma lesão que a fez perder a memória.
Mas isso é só uma hipótese. Acho que precisará fazer alguns exames ―
alguém.
― Só as imagens e algumas falas, mas nada específico a ponto de
identificar onde morei. Não sei como fui parar lá, se fui raptada. E, se fui, o
que meus pais não devem ter sofrido em todos esses anos? Lembro que sofri
ao ficar trancafiada lá, mas não me deixei vencer, tinha sonhos de ser livre.
Entretanto, agora não posso passar da porta. ― Minha voz soou amarga no
final.
Franzi a testa.
cozinha.
― Oh... ― Pensei que tivesse que falar mais sobre o que me
aconteceu, mas estava aliviada por ter mais um pouco de tempo. Não sabia
que quiser aqui, inclusive colocar a vasilha na pia. ― Indicou a taça no meu
colo.
Respirei fundo. Podia fazer isso, tinha que tentar. Não queria depender
― Que tal fazermos assim... ― Bonnie foi até uma bolsa e pegou uma
caderneta e uma caneta. Fiquei olhando-as, sem saber o que ela queria com
isso. ― Toda vez que fizer um avanço, por menor que seja, quero que
próximas sessões.
com Donatella e comigo, então são dois corações. Creio que terá mais para
verdadeiro.
trajeto. Ouvi passos e evitei ficar tensa. Sabia que era Samuel, pois suas
Sorri, tentando não corar com sua força magnética e sua aura intensa.
falta dela. ― Passou por mim sem me tocar, mas fiquei tensa. Parou ao meu
lado. ― E, quando reagir assim, fará um coração, mas colocará um traço
sobre ele.
em sua voz.
― Ela já vai descer, foi até o terraço pegar umas roupas que tinha
deixado ao sol ― respondeu ele a uma pergunta que não fiz. Tinha me
janela. Não tinha certeza se estava pronta para trocar de lado ainda.
― Se não tiver mais nenhuma dor, posso te levar lá em cima para fazer
isso ― ofereceu.
Sorri.
― Não está doendo. Ainda me sinto rígida, mas vai passar. Só preciso
― Perfeito. ― Sorriu.
Ele não era de sorrir muitas vezes, mas, quando o fazia, era lindo.
Essa observação fez meu coração acelerar e meu rosto esquentar. Ficamos
fazer tudo de uma vez, mesmo que uma parte de mim desejasse isso.
esclareceu.
repreendeu.
― Não vai, me adora demais para isso ― afirmou e depois seu tom
soou provocativo: ― A não ser que eu leve a vovó e, como bônus, a Liliane.
Por um segundo, eu quis pedir que ficassem mais perto, mas não
― Obrigada, eu mesma faço isso. ― Não queria que ele fizesse tudo,
fazia isso desde criança, na fazenda, mas sentia que esse comportamento
vinha das minhas lembranças perdidas. Abri os olhos, deparando-me com
todos me observando.
estava?
― Não sei. Mas deve ter sido na igreja a qual recordo... ― Franzi o
cenho, confusa.
tudo. Algumas memórias estão voltando, mas, sempre que tento me lembrar
nomes.
essas recordações fazia minha cabeça doer. Essa conversa me fez pensar se
eu havia tido aquela família que vivia em minhas lembranças. A mulher sem
olhos azuis.
secar a louça. Peguei meu prato, esperando para eu mesma lavá-lo, mas
sobe essa escada todo dia? Se subir, eu tiro o chapéu para ela.
Ele riu.
― Tem uma mulher que limpa aqui em cima. Vovó só vem quando
lugar. Nele, tinha uma piscina e uma banheira pequena em um canto, rodeada
área coberta.
azul. Respirei fundo. ― Vendo essa beleza, me sinto ainda mais grata por
estar viva, por Deus ter me dado mais uma chance de respirar.
― Não entendo... Ele não a protegeu ― Sua voz soou baixa e um tanto
sombria.
Talvez se sentisse assim pelo fato de ter perdido a sua família. ― Uma
tragédia tanto pode levar você a crer mais em Deus como pode fazer você
― Ele tem o poder de nos livrar de muitas coisas, mas não o faz... Não
que eu mereça algo dele agora, mas você merecia e... ― Não terminou.
― Pode ser. Mas a vida é assim. Não mereço mais que outra pessoa,
tudo faz parte do destino, das linhas que foram escritas antes de nascermos.
inferno, e sinto as consequências disso até agora, mas sou grata a Deus por
ter enviado você para me ajudar a passar por tudo. Muitos não têm essa
dádiva.
meu corpo podia até ser, mas minha mente ainda não estava liberta.
pensar que eu estava sendo leviana, mas não estava. O que aqueles homens
fizeram tinha rasgado minha alma, destroçara-me de forma que eu não sabia
se seria completa um dia, porém era realmente grata por tudo que estava
vivendo agora.
― Quero que todos paguem pelo que fizeram. Tem a justiça dos
― Eles vão pagar caro ― disse ele em um tom de voz que me causou
calafrios. Eu já tinha ouvido esse tom antes, mas na hora estava dolorida e
― Sim, mas acho melhor você não saber sobre isso. Só foque em se
curar.
muito tempo. ― Não vai ter problemas ir contra seu chefe? Zaira disse que,
se alguém faz isso, acaba morrendo. Não quero que nada aconteça a você.
como ele, não faz o que aqueles vermes fazem naquele lugar. ― A verdade
brilhava em seus olhos. ― Ficarei bem, e você também.
bastante para andar por todo o imóvel, só não saía porta afora. Isso viria
com o tempo. Suas sessões com a Bonnie estavam indo bem, ainda que eu
soubesse que, em razão do que ela passou, levaria muito tempo para se curar
ou, ao menos, conseguir seguir em frente com sua vida, talvez anos.
― O que vai fazer em relação ao senador? Amanhã, ele estará em Port
infernos onde meninas viviam presas e eram dadas em sacrifício. Ainda bem
na boate.
― Por que Samuel não iria? Você e eu não podemos viajar agora ―
disse Matteo ao primo e depois a mim: ― Você pode ficar uns dias fora.
Meu tio anda desconfiado de alguma coisa, ele não acredita que toquei na
― Não, só que estou enganando meu pai. Mas você poderia tirá-la
daqui por uns dias, só por garantia. Leve sua avó também. Podemos dizer
que ela passou mal no trabalho, e você a levou para tirar umas férias na
Liliane, mas não consegui. Acho que tinha muita coisa na cabeça.
menina, que foi machucada de uma forma tão cruel e que devia odiar a todos,
não odiava; havia bondade demais nela para tal sentimento. Acreditava que
ela gostaria que aqueles estupradores pagassem por seus crimes na cadeia,
― Vou conversar com minha avó, afinal, ela precisa realmente ter uma
― Ótimo! Agora preciso ir saber o que meu pai anda fazendo. Não
tive notícias dele o dia todo. ― Suspirou e saiu, mas se virou para mim. ―
Liliane é?
― Não, ainda nada. Mas acredito que ela logo se lembrará. Bonnie
está ajudando-a a melhorar, o que nos faz ter esperança de ela se recordar de
descobrir eventualmente.
― Valeu, cara.
Fui embora pensando ser uma boa ideia levá-la a lugares diferentes
dele, liguei para um velho conhecido. Eu poderia comprar um, mas não via
mas não era. Além de ganhar bem em meu cargo na máfia, tinha outros
negócios por fora no ramo imobiliário, que era uma forma boa e limpa de
investir meu dinheiro, que deixaria para minha avó se acaso viesse a
retornaríamos vivos.
Como esperado, Lazaro emprestou seu jatinho para mim. Ele não era
que ouvia o som do carro parando, ela fazia isso, mas não abria a porta, só
saber o que fazer. Não podia pensar nela de outra forma que não fosse para
em vez de no meu apartamento. Nunca lhe seria grato o suficiente por ela
estar fazendo aquilo por mim e por Liliane, pois se apegara a ela, mas quem
irmão, e era como eu me sentia, achava que ela pensava isso de mim, mas
então, em uma noite, ela me disse que me tinha como um amigo. Era melhor
na ocasião, pensei ter visto dor em seus olhos, só não entendi se foi por
pensar que eu tinha alguém, mas, por vias das dúvidas, decidi esclarecer as
coisas. Bonnie sempre seria uma irmã para mim. Era bom que as duas
do hall.
― Mas lá tem...
Peguei sua mão e a levei para a sala, onde vovó e Bonnie estavam.
franzida de Liliane.
elas.
Após me avaliar por um segundo, ela assentiu, mas eu sabia que teria
― Sim, vou ter que trabalhar lá, então vocês três poderão apreciar o
lugar. ― Virei-me para Lily. ― Não terão pessoas no local, não onde vamos
Não queria dar uma dica de onde iríamos ficar, pois achei melhor
Ela sabia o que eu fazia e não gostava, mas nunca me olhou com outros olhos
restaurante pode dar conta do recado. Isso é um bônus por ser a dona. ―
Ela sorriu, mas tinha um alerta em sua face de que eu a ouviria depois.
Eu era egoísta por usá-la, forçando-a a ir comigo, mas, como não podia
deixar a Liliane e lá teria que sair, as duas ficariam com ela. Além disso,
não gostava da ideia de estar com o oceano entre nós, ainda mais com Enzo
desconfiado de algo.
carino un avvertimento[3].
repentino.
― Certo, agora vou organizar as coisas. ― Sorriu para nós e foi para
― Samuel...
Assentiu.
coisas assustadores.
Uma coisa que aprendi sobre Liliane era que ela sempre vivera sob
uma rotina estipulada, considerando que ficou presa durante anos fazendo só
o que mandavam. Ali também, ela fazia a mesma coisa: levantava-se, tomava
Eu queria que ela fizesse coisas novas, não importava o que fosse, só a
Não permitiria mesmo. ― Vai ser bom espairecer e conhecer lugares novos.
Ouvi dizer que o pôr do sol de lá é muito belo. Poderá vê-lo todos os dias.
― Pôr do sol? ― Ela me olhava como se eu tivesse dito que lhe daria
Ela tinha verdadeira paixão pelo sol, gostava de vê-lo nascer, se pôr
no horizonte e apreciava senti-lo em sua pele. Talvez isso tivesse a ver com
Peguei meu celular e pesquisei uma foto sobre o lugar e seu pôr do sol.
Para mim, era tudo igual, mas a mostrei a ela e vi seus olhos brilhando.
prometi.
― Eu sei que é assustador sair, mas vai ser bom, confie em mim. Vai
Com todos vocês. Mas acho que também vou gostar de ir a esse lugar.
braços e embalá-la, mas não o fiz; isso poderia ir para outro rumo que, em
vez de deixá-la feliz, a deixaria com pesadelos. Por isso eu preferia reprimir
essa vontade, que chegava a queimar meu peito. Era melhor isso a lhe causar
dor.
sorrir brilhante e ir para seu quarto. De repente, minha língua tinha travado.
Parei nesse pensamento, pois não era certo, não era para acontecer
Ela não tinha o conhecimento do que fazia comigo; por mais que essa
guerra estivesse em meu interior, por fora eu não deixava transparecer nada.
― Você está ferrado, meu amigo ― ouvi a voz da Bonnie. ― Ela não
está pronta.
da escada.
Só tome cuidado para ela não perceber o que sente, pois isso pode dificultar
Queria uma dose de uísque, mas minha vó não gostava de manter bebida
alcóolica em casa.
― Adoraria que ela fosse minha neta após se casar com você. ― Vovó
sorriu.
com ela.
Coloquei o copo sobre a mesa. ― Não irei jantar, comi algo antes de vir
para cá. Agora vou subir, antes de vocês duas planejarem meu casamento.
Elas riram, então eu soube que estavam dizendo isso para me provocar
e estavam conseguindo.
Douglas. Todavia, iria faltar algo, e, como não podia sair no momento,
afinal, todos deviam pensar que minha avó estava doente, liguei para pedir
ajuda ao Luca.
― Samuel? ― atendeu.
― Me ofereceu ajuda, lembra? Preciso que faça uma coisa para mim.
acaso necessitasse.
― Do que precisa?
cobra venenosa.
feito. Conheço alguém que cria essas espécies raras. Nada que ligue a nós.
― Certo. Mande levá-la ao endereço que vou enviar, e que esteja bem
protegida. Não tenho tempo de procurar uma aonde vou. ― Chequei minhas
andar com elas, mas, como Liliane não me abraçava como minha avó e
Uma batida na porta me fez olhar para lá. Por sorte, eu a tinha
trancado.
― Posso entrar?
loiros estavam soltos, combinando com as maçãs perfeitas do seu rosto. Ela
― Sua avó disse que você não ia jantar nem descer mais... ― ela
divagava, nervosa.
― Sim, comi alguma coisa antes de vir para cá. ― Zaira me levara
comida quando eu estava na fazenda. ― Por isso vim me deitar mais cedo.
Toda vez que chegava em casa, ficava lá embaixo com ela até que
Liliane estivesse com sono, mas, como teria de arrumar as armas que
eu adoraria beijar.
Sorri.
Ela entrou avaliando o lugar, afinal ainda não havia estado ali. O
quarto era enorme, com uma TV grande em frente à cama king size. Em outra
parede tinha um quadro, por trás do qual havia um cofre com armas e
havia uma sala de jogos onde, às vezes, eu jogava sinuca para me distrair
dos problemas.
fazer isso, entoei como um maldito mantra. Essa noite será longa, pensei
amargo.
Liliane
receio de voar, mesmo que nunca tivesse feito isso antes – se tinha, não
frio.
cambalhotas.
Sua expressão mudou um pouco, mas não pude ler, porque ele logo
sorriu calorosamente.
Acreditei nele; não havia nada que pudesse me fazer não acreditar.
faltava querer sair pela boca? Fora a parte que eu sentia minhas bochechas
ficarem quentes.
filmes de comédia, senti uma coisa diferente ao estar ali, deitada em sua
cama e com ele ao lado, mas sem nos tocar de fato; por alguns momentos,
desejei fazer isso, mas o medo era demais. No entanto, gostei de me divertir
com ele, tanto que acabei adormecendo em sua cama. Quando acordei, não
sabia dizer quando havia tido um sono sem pesadelos. Foi a primeira noite
sem ter um que eu me lembrasse. Não entendia se era por causa do cheiro de
Samuel ou a mera ideia de ele estar ali, no mesmo quarto que eu. Ele tinha
outro menino, que parecia o mais velho. Seus cabelos eram loiros, e seus
Samuel.
seu corpo.
além do menino de olhos azuis, mas agora há outro na lembrança, esse era
mais velho, acho que tinha uns 13 ou 14 anos. Estávamos em um jatinho
lado.
conseguir. Doía pensar que talvez eu tivesse uma família em algum lugar e
mulher sem rosto que parece nos amar. Dentre os meninos, um deles se
parece mais comigo, o loiro de olhos azuis. Ele era mais protetor. Toda vez
― Você disse que vocês eram parecidos, não foi? ― Ele me avaliava.
deve ter sido vendida, como às vezes acontece por aí, afinal, disse que eles
Minha família devia estar sofrendo, sentindo minha falta. Contudo, como
mesma coisa que Bonnie já havia falado. ― Estamos aqui com você e vamos
Relaxei com suas palavras por um momento, mas minha vontade era
não ver pessoas ao redor. Sabia que teria que enfrentá-las em algum
― Meu neto, acho que realmente vou aproveitar minha estada aqui ―
empecilhos.
― Todos nós iremos aproveitar cada segundo ― comentou Samuel. ―
Donatella olhou para ele com os olhos estreitos por um segundo, mas
depois suspirou.
Bonnie bufou.
cabeça.
sorriso.
Ela fez uma careta, mas não disse nada ao pegar sua mala e a de
Donatella.
― Menina, deixa que eu levo minhas coisas ― Donatella pediu com
um suspiro.
fez.
pegar a sua mala, mas Bonnie não permitiu, saiu correndo na frente.
Respirei fundo e o segui para a casa flutuante. Uma coisa que aprendi
era que discutir com Samuel era um desperdício, pois ele sempre vencia.
Passamos pela passarela de madeira. Nas laterais, a água cristalina
malas, depois a levo para passear de barco. Aí poderemos ver o pôr do sol.
Mesmo que meu interior temesse tudo que ele me oferecia, não me
Entramos na casa, que tinha uma sala incrível, com uma visão
deslumbrante para o oceano, aliás, o lugar era todo cercado de vidro, a sala,
acreditava que já houvesse visto algo assim antes e, se tinha, não lembrava.
que eu adorava. ― Viver presa em todos aqueles anos me fazia sonhar com
acredite em mim.
Olhei para ele, ao meu lado. Será que iria mesmo? Sabia que a luta
Mas você estará lá para mim assim como está agora?, desejei
perguntar, mas não consegui. Temia sua resposta. Sabia, precisava dele
comigo.
que meu peito aqueceu. ― Mas por ora vamos nos contentar com este
paraíso.
Sorriu.
― Sim, quero que aproveite cada segundo aqui.
usar biquíni.
Não acreditava que lidaria bem vendo meu corpo exposto e não queria
passar mal na frente do Samuel, igual acontecia toda vez que eu tomava
banho no chuveiro.
banho se não quiser. Nunca faça nada que não queira, ninguém a obrigará.
No final da frase, senti algo em sua voz que me deu um calafrio, mas
sabia que era verdade; Samuel me protegeria para sempre. Por mais egoísta
O caminho até o barco não era longo, até pensei que Bonnie e dona
Ele pilotou até nos afastarmos um pouco da marina. Deduzi que fosse
para nos dar uma visão melhor do pôr do sol, isso se fosse possível ficar
entorno. Havia mais casas flutuantes ao redor, algumas mais distantes, quase
em mar aberto.
― Isso é perfeito, não é? ― Sorri para ele enquanto tirava meu cabelo
do rosto.
Sorriu de volta, assentindo.
― Sim. Acho que trabalho muito, então é bom ter momentos assim. ―
Pilotou por mais um tempo, então parou o barco no meio do nada. Depois
Peguei-a, e meu coração passou a bater mais rápido; era sempre assim.
Nós descemos alguns lances de escada e fomos até a proa, onde nos
sentamos.
― Sei que agem do lado errado da lei e que machucam pessoas, sem
dar a mínima para quem vive ou morre. ― Meu tom soou amargo.
― Sim, dentre outras coisas. Por isso pergunto: por que não está com
medo de mim?
segurando a grade.
perto dele. ― Me salvou daquele lugar, cuidou de mim. Se fosse como eles,
Sua cabeça se virou em minha direção tão rápido que pensei que ele
teria um torcicolo.
― Jamais tocarei em uma mulher sem sua vontade. Nunca fiz isso. ―
Sua voz era controlada, não combinando com seu rosto tenso.
― Por isso afirmo: por mais que seja da máfia, você não é igual
― Ei, Lily?! Olha para mim! ― pediu. Seu hálito quente banhou meu
primeira vez que ele me tocava sem ser nas mãos. Foi tão estimulante que a
aroma até tudo de mau sumir. Seu corpo ficou tenso, mas ele não se afastou
― Vamos nos sentar. ― Sentou-se e me puxou para seu lado, mas não
― Lily? ― chamou-me, fazendo-me olhar para ele. Seu olhar era tão
intenso que me deixou sem ar por um instante. ― Nunca peça desculpas por
isso. Estou aqui para ajudá-la. Posso fazer todos que a quebraram pagarem
mandando-os para o inferno, mas não sou capaz de arrancar essa dor e as
coração: ― e daqui. Não sou capaz disso. A única que pode fazer isso é
Samuel me dava mais forças para lutar. Eu não sabia se era por sua
confiança em mim ou não, mas era grata a ele por estar ao meu lado. Não me
importava com quem ele era ou com o que fazia, só que estava me fazendo
feliz.
Samuel
auge. Tive que buscar todo meu autocontrole para não perder a cabeça e
naquele mesmo momento e matá-lo com meus punhos, aniquilá-lo aos poucos
e fazer seu sofrimento durar dias... Sorte dele que eu não podia matá-lo
assim.
Após deixar Lily no bangalô, saí para fazer o que precisava ser feito.
Disse a ela que iria à cidade, que não era muito longe de onde estávamos.
Fechei a porta do carro tão logo entrei e olhei para ela, que estava à
janela me observando partir. Liliane sempre fazia isso em casa, e ali não foi
seus olhos. Como disse a ela, podia matar todos os envolvidos, mas os
fazer isso, e eu estaria ao seu alcance para ajudá-la no que fosse preciso.
Moor estava vigiando as três, fora de vista para que Liliane não o
visse. Eu a queria recuperada e não voltando a ter crises, o que a visão dele
poderia acarretar.
Saí relutante, sem querer deixá-la, mas era necessário; precisava
pensava nisso, ficava ainda mais puto. É claro que odiava a todos, e os faria
pagar amargamente.
Dirigi alguns minutos até o outro lado da cidade, parei o carro em uma
homens que eu conhecia que não pertenciam à máfia, mas que me ajudava às
vezes quando estava naquelas redondezas. Andei até ele com minha mochila
nas costas e a caixa onde estava a cobra, que eu tinha pegado no jatinho.
Havia falado com Bojo antes, então ele descobriu a rotina do senador
de merda, dos anos anteriores que ele e sua família estiveram ali.
― Não, tomo conta daqui. Leve meu carro para não chamar atenção.
quisesse me atacar. Seria bem irônico ser morto por um réptil antes de ter
minha vingança.
Peter Jones tinha uma rotina, chegava cedo, saía de barco com a
família, depois deixava seus familiares em casa e saía para foder alguma
Ele era casado, pai de meninas com idade menor do que Liliane.
Quando eu pensava nisso, ficava ainda mais revoltado, afinal, ele era pai,
não deveria fazer algo que não quisesse que suas filhas sofressem.
escondido dentro da casa de barcos dele. Por sorte, o infeliz não gostava de
andar com seguranças, pois ficava com muitas meninas menores de idade e,
às vezes, as levava para a casa de barcos. Azar para ele e bom para mim.
Era por volta da meia-noite quando o idiota entrou na casa de barcos
― Terminei com aquela garotinha. A boceta dela era tão apertada que
adorei comê-la. A deixei na praia, então trate de calar a boca dela ― ouvi-o
dizer. ― Pago você para limpar minha sujeira sem abrir o bico. ― Deu um
suspiro e depois continuou: ― Sim. Estou a caminho, espere por mim. Daqui
uma hora no máximo. Vou pegar minha esposa primeiro e deixá-la aqui.
cabaços.
fazendo-o pular. Ameaçou gritar. ― Faça um barulho, e toda sua família vai
ter o mesmo caminho que você tanto gosta de fazer com outras meninas.
Eu jamais faria o que aquele ser abominável praticava, mas ele não
precisava saber disso. O jogo mental, às vezes, era melhor do que punhos ou
até tortura.
Seus olhos se arregalaram quando liguei a luz e ele viu meu rosto.
que fiz para ele enviar você aqui? Fiz minha parte no negócio muito bem.
― Acha que estou aqui por Lorenzo? ― Eu tinha a arma em uma mão,
Muitos que me viam matar achavam que eu era devoto ou rezava para
memória da minha mãe, que me deu o objeto para eu nunca ficar sozinho.
Como não pude matar quem a levou de mim, fazia isso com os insetos que
ouvidas, então as das pessoas que eu matava também não seriam. Era
― Quer que eu atire para você ouvir? Posso fazer isso sem problemas
― Toquei? Será que era uma das vadias que fodi ontem? Seja quem
for, lamento, não foi a minha intenção, fiz porque elas queriam... Posso pagar
mas não podem ― zombei. ― Recorda-se das meninas as quais Lorenzo deu
para você e aqueles outros homens brincarem? É por causa de uma delas que
Não precisava dizer que também era pelas outras duas e as que foram
Ele piscou e tentou fugir, mas fui mais rápido e o peguei pela camisa,
― O pior é que você nem deve se lembrar dela, mas vou refrescar sua
memória. ― Apontei para a foto de Lily machucada, uma prova de como ela
ficou por culpa deles. Eu a tinha colocado na parede, mas o filho da puta
nem notara.
presença daquele homem. ― Bom, isso me dará mais prazer quando estiver
Ele estava com tanto medo que não tinha notado a cobra saindo de
dentro da caixa. Tentou se levantar, mas chutei sua perna, fazendo com que
caísse de novo. A cobra deu o bote e picou seu braço.
Fui até ele, andando perto da serpente, que tentou me picar, mas eu estava
usando proteção contra ela. Empurrei-a para o canto, não querendo que ele
fosse mordido de novo; não queria antecipar sua morte, aliás, queria
contato com nosso sangue, destrói todas as nossas células sanguíneas e causa
hemorragia interna. Uma dose de 0,1 mg por quilo, o ser humano aguenta,
mas uma picada dela pode ter 120 mg. São conhecidas por injetarem doses
que, no final, fosse morta, só queria enfiar seu pau podre nela. ― Fuzilei-o.
― Hoje, ela tem pesadelos e morre de medo de pessoas e toques. Você não
merecia morrer assim, mas tendo seus dedos cortados por mim, sendo
rasgado. Eu arrancaria seu pau e o faria comê-lo. Sorte a sua que não quero
que meu chefe saiba o que estou fazendo. Embora você vá morrer, não será
Ele tentava falar, mas não conseguia. A peçonha estava fazendo efeito.
tão perto de você, mas não consegue alcançá-la. ― Voltei a guardar o vidro
com a proteção, ela poderia me picar em partes do meu corpo que não
para meu celular. Depois descobriria o que fazer com elas. Eram um ás na
manga.
Vênus Bar. Mandei uma mensagem para Bojo procurar saber sobre o local,
depois outra para o mesmo número que tinha ligado para Peter.
arregalados, e ele arfava. ― Está sem ar? O seu sangue está fervendo? Essa
dor não é nada comparada com a que ela sofreu, a que você impôs a ela.
Mesmo vendo-o morrer, desejei que demorasse mais, mas não tinha
Assim que o maldito deu seu último suspiro, joguei o seu telefone no
chão, peguei a foto da Lily e a caixa em que estava a cobra, em seguida saí,
ficaria ali. Todos pensariam que foi uma fatalidade o fato de ele ter
Corri pela mata e cheguei ao local onde Bojo disse que meu carro
Não gostei de ter feito só aquilo, o bastardo merecia muito mais, mas,
por ora, ficaria feliz por tê-lo mandado para o inferno. Logo seria a vez dos
nunca dormia enquanto eu não chegava, não importava a hora que fosse. Por
isso eu a trouxe comigo; não podia deixá-la lá, pois certamente seu estado só
pioraria.
Abrir a porta e entrei. Antes mesmo que olhasse para a direita, onde
era o quarto de Liliane, senti que ela estava à porta. Juro que podia sentir
verdade. Ela não ia gostar de saber o que eu realmente fazia. Aliás, era
capaz de surtar.
― Oh. ― Abaixou a cabeça, mordendo o lábio e remexendo as mãos.
pouco, então notei seus gestos. Mãos trêmulas, assim como os lábios.
dela e toquei seu queixo, levantando-o para que ela olhasse para mim. Seus
não estava pronta para descobrir o que eu realmente queria dela. Uma parte
de mim sentia que a menina também gostava de mim. Podia ver pela forma
como agia quando pensava que eu estava com outra mulher. Não ficava com
se recuperar que nem pensei nisso. Depois precisei me vingar dos monstros
por ela foram mudando, e eu não achava justo ficar com outras mulheres,
doer nela me imaginar com outra pessoa. Sabia disso porque sentia o
Lily era franca, não escondia nada. Meu Raio de Sol só não falou o
que sentia por mim porque nem mesmo ela sabia o que sentia de fato.
― Bom, agora estou aqui. ― Levei-a pela mão até seu quarto. ―
― Não vou a lugar algum, pode dormir tranquila ― disse a ela, que
lado, observando-a.
Parecem bonitas.
falar o significado daquilo para ela. Meu coração. Lily não estava pronta
nada angelical.
quarto não ficaria envolto em escuridão. Ela tinha medo disso, notei nas
luzes acesas.
― Não sei o que significam essas palavras, mas sei que não concorda
comigo por ser da máfia. Você me salvou de várias maneiras, não só naquele
dia, mas de mim mesma diariamente. Me mostrou que posso lutar e conseguir
me reerguer, não me afundar na escuridão sem fim. ― Sua voz era baixa. ―
Por isso eu o intitulo assim, e não há nada que possa fazer para mudar minha
mente.
Eu podia dizer que seria capaz de fazer várias coisas, incluindo o que
fiz mais cedo; isso a faria correr para longe. Entretanto, no fundo, não queria
― Boa noite, Lily ― foi tudo que eu disse, encarando o teto escuro.
― Com você ao meu lado, eu vou ter. ― Havia tanta confiança em sua
segundo.
Liliane
que logo iríamos embora, mas não foi o que aconteceu. Estava adorando
pela praia.
Tinha me apegado àquela família tão profundamente que não suportaria
perdê-la. Tudo que era bom foi tirado de mim. Ao menos, percebia isso
deserto, nunca tinha visto ninguém durante aquele tempo ali. Isso me
estimulou a sair sozinha pela primeira vez. Não iria longe, só alguns metros,
assassinos.
Parei onde estava, pois não tinha para onde fugir. Além disso, estava
pensei.
que ele fizesse a mesma coisa que... Não sobreviveria se acaso aquilo
voltasse a acontecer.
Meus olhos não saíam dele. Seus cabelos eram loiros, e os olhos,
deveria ter notado isso, com tudo o que estava acontecendo, mas tinha algo
menino das minhas lembranças me chamava. Russo, foi esse idioma que
Samuel mencionara.
Nos flashes, o garoto tinha em torno de 13, 14 anos, então era difícil
familiares.
Seus olhos estavam em mim como se me avaliassem, mas ele não se
aproximou.
Eu devia ir embora ou gritar pelo Samuel, pois ele não sabia que eu
tinha saído. Todavia, meus pés pareciam chumbo na areia. Arfei, de olhos
arregalados.
― Não se lembra de mim? ― Havia algo em sua voz que não consegui
Não entendia por que eu ainda estava ali com aquele homem
protetor, e um mais velho, além de uma mulher cujo rosto não consigo me
lembrar ― sussurrei.
Não devia estar ali, falando com um estranho, mas correndo. Porém,
ele não iria me machucar, eu podia ver isso em sua expressão. Além disso,
protege.
lembrar dessas crianças ― pedi. ― Quem são elas? Quem eu sou? Pode me
dizer?
aproximando-se, mas meu corpo congelou ainda mais. Então ele parou com o
cenho franzido. ― Alguém a tocou. ― Não era uma pergunta, aliás, sua voz
além dos dedos, apenas naquele dia em que surtei no barco e coloquei minha
contar.
Ele mexeu com os negócios de alguém e foi descoberto. Têm pessoas atrás
― Sim. Ele pertence à máfia. Mas não ligo para quem seja, o
firmeza.
algumas semanas. Se isso vazar, vai ser morto pelo próprio chefe, porque é
Agora vá até ele e diga para seguir para outro lugar, longe da Austrália. Vou
― Por que você faria isso? ― Respirei fundo, aliviada com o fato de
― Melhor não saber, vai por mim. ― Sorriu, mas o gesto não
diferentes. Diga a Samuel que têm alguns corpos na mata, pois eliminei
― Não posso. Se você for atrás do seu passado, correrá perigo, e não
virá aqui, e será tarde demais. Não quero machucá-lo. Isso faria você sofrer,
poderiam brigar um com o outro, e eu não queria que nenhum deles saísse
ferido.
Corri, mas parei antes de passar pela pedra e olhei mais uma vez para
nada que pudesse me fazer lembrar de quem éramos. Contudo, como disse
diga a ninguém que faço parte do seu passado. Se alguém chegar perto de
Fiz o que pediu. Estava tão contente por ver alguém do meu passado
que, por um segundo, esqueci o medo do que ele disse sobre as pessoas que
Quase tinha sido atacada de novo... se não fosse meu salvador misterioso.
Os homens que matou estavam na floresta. Ainda bem que não os vi.
normalmente de novo.
Ele saiu porta afora só de calção e com uma arma na mão.
― Lily? ― Ele me avaliou, e seu rosto ficou duro. Parecia que tinha
Ou tentou?
Respirei fundo.
Estremeci.
Seu corpo se sacudiu de susto.
mandou uma mensagem pelo seu telefone. A resposta o deixou mais sombrio.
― Não. Mas disse que na floresta tinha alguns homens que, inclusive,
ele matou para me salvar. Afirmou que queriam me fazer mal. ― Encolhi-
me, tremendo.
Queria contar que era o mesmo garoto das minhas lembranças, mas ele
Não sabia por que, mas meu coração doeu com essa ideia.
negócios de alguém e que você matou uma pessoa escondido do seu chefe, e
isso era traição. Disse que iria encobrir tudo para que não recaísse sobre
― Não estou chocada por tê-lo matado, mas pelas razões por trás
disso. Não percebe que pode ser morto ao fazer justiça por mim?! ― Minha
voz se elevou, pegando-o de surpresa, até a mim. ― Não quero que seja
― Jura? Não é o que esse homem disse! Se for pego, será considerado
um traidor, e a sentença é a morte. Não posso perder você, então, por favor,
esqueça essa vingança. Não quero isso se, no final, eu tiver que perdê-lo.
coração. Seu peito tinha tatuagens de várias cores que lhe davam uma beleza
exótica. Fiquei tentada a passar as mãos por elas e beijá-las. Outro lugar em
preocupação.
de costas para ele. Podia sentir seus olhos em mim, mas ele não disse nada.
Fiquei grata por não ter notado meu estado. ― Vamos embora agora. O rapaz
deixar pontas soltas, preciso eliminá-las. Agora entre e arrume suas coisas
― Liliane, não posso deixar esse segredo nas mãos de alguém que
nem sei quem é. Não é só minha vida que está em jogo aqui, mas a do filho
do meu chefe. Nós estamos tentando fazê-lo capo para assim destruir o pai, o
homem que deu você àqueles infelizes. As meninas que estão presas naquele
lugar, se não fizermos nada, terão o mesmo destino que você teve. Minha
Não tínhamos falado muito sobre isso, eu estava tão focada na dor que
sentia que nem pensei nas outras garotas. Nesse momento me senti culpada
por isso. Não queria que elas ou qualquer outra pessoa tivessem o mesmo
― Eu sei que precisa, mas não quero que ele seja morto. ― A dor
que tinha de falar para, assim, evitar que Samuel fosse atrás dele. Além
disso, não gostava de mentir. ― Não sei quem é, mas não suporto a ideia de
― Não, disse que era melhor eu não saber, ou correria perigo. E disse
também que, se você deixasse que eu fosse machucada, ele viria acertar as
isso significa?
― Vou precisar dar uma saída, mas fique aqui. ― Meus olhos se
arregalaram. ― Não vou matá-lo, mas preciso saber quem ele é. Não posso
ficar no escuro.
Assenti, mais calma. Confiava nele, não havia nenhum motivo para não
confiar. Samuel não era de mentir; na verdade, era muito honesto comigo.
uma nova preocupação. Quem era o rapaz que me salvou? Por que não me
contou quem era? Esperava descobrir logo e que ninguém saísse ferido no
processo.
Samuel
buracos, não devia ter permitido que algo daquele patamar não fosse
coisa pior?
― Desculpe, chefe, não a vi sair da casa. Ela nunca fez isso sozinha
aquilo acontecer.
punhos.
― Não. Devem ter vindo da parte de baixo, por aqui não passou
ninguém.
Eu devia ter trazido mais homens, porém não queria chamar tanta
atenção.
antes e pergunte depois. ― Saí dali com a intenção de descobrir o que havia
feliz por aquele homem tê-la salvado. Sentia-me gelado com a ideia de
cadáveres. Em cima dele tinha um pedaço de papel com uma frase que dizia:
mensagem.
― Não precisa checar os cadáveres, não tem nada neles ou com eles
que os ligue a mim. Eram só piões no jogo. O chefe deles era o dono do
Vênus Bar.
você.
― Isso não explica o fato de você saber o que fiz. Por que anda me
sabia que ia matar o meu alvo, até que vi o que fez. Seja como for, aquele
aluguel?
― Posso ou não ser um. No fim das contas, nós somos todos
enigmático.
bagunça. Eu teria feito isso, mas, como suspeitei, você não iria apenas
embora como pedi. Sabia que voltaria para tentar me silenciar. ― Não havia
emoção em suas palavras. ― Mas estou curioso. Ela não sabe que você viria
atrás de mim para me matar, mesmo após ter-lhe dito que não o faria.
casa e imaginando que pudesse ter uma escuta lá, mas meus olhos captaram
Eu não tinha visto nenhum homem, mas não procurei por drones. Mas
que merda!
― Sim, mas isso não vem ao caso. Desviei a atenção deles para outro
― Não preciso da sua ajuda, só quero saber quem é você e por que se
morrerá pela picada de uma cobra qualquer, sua morte será lenta e dolorosa
― Não, eles não merecem morrer assim. ― Seu tom gotejava gelo. ―
Você não pode fazer o que eu posso e vou, então é melhor não ficar em meu
saber quem ele era. Não podia enfrentar um adversário sobre o qual não
sabia nada.
― Gostaria que não tentasse me achar, pois, no final, a única que sairá
machucada será ela. Nós não queremos isso. ― Detectei algo em sua voz,
mas não consegui descobrir o que era. ― Além disso, se alguém do passado
dela souber que está viva, ela correrá perigo. Realmente quer isso? Se
esquartejá-lo.
pouco ― rosnei.
― A proteja, não importa quem precisar matar para fazer isso. ― Ele
que caiu, espatifando-se na praia, mas isso não amenizou em nada minha ira.
Liguei para Bojo e pedi que viesse limpar tudo ali. Era uma área
particular, mas eu não queria correr nenhum risco de alguém ver os corpos, o
antes disso, mas foi bom saber mais. O maldito senador tinha uma casa de
lo.
A morte de Peter não devia ter causado suspeita, mas talvez sim o fato
maldito. Porém, havia muitas jovens naquele lugar que tinham sido
― Desculpe, eu poderia ter visto isso ― Bojo lamentou com tom triste
e enraivecido.
Assenti, não querendo soltar minha fúria sobre ele. Não era sua culpa,
mas minha, por não ter feito o trabalho de casa eu mesmo ao invés de mandar
Assim que ele saiu, liguei para o Matteo. Ele não ia gostar disso.
― Samuel ― atendeu.
estranho.
― Lis conhece esse homem. ― Não era uma pergunta. ― Ele parece
― Não sei, mas ela o viu em suas lembranças, apesar de não saber
quem é. Sua mente está confusa. Mas percebi que se preocupa com o cara.
Uma parte dela deve tê-lo amado no passado, quando criança. ― Só podia
ser isso. Era outra coisa de que eu não estava gostando. ― O miserável não
― Precisamos saber alguma coisa do passado da Lis. Será que ela não
aluguel. Ele sabe dela. Entretanto, se formos atrás dele, poderemos ter
― Sim, meu tio soube o que “aconteceu” com sua avó e acreditou,
viagem foram só para o caso de eles tentarem checar alguma coisa, então
seria melhor todos estarem longe. E, lógico, a desculpa perfeita para você
fazer o que precisava sem levantar suspeitas. Apesar de não ter dado certo,
pois alguém que não conhecemos sabe desse segredo. ― Deu um suspiro
duro.
― Eu sei. Devia ter checado melhor as coisas, não era para ter
― Não se culpe por isso, eu teria feito o mesmo, não ia ver algo assim
― Vamos voltar para casa ― avisei às duas, passando por elas e indo
em direção ao quarto da Liliane, que devia estar lá. Estranhei o fato de ela
de pé.
Estreitou os olhos.
― Não parece ser nada ― ralhou. ― Ouvi gritos, então depois você
preocupado.
Ela está no quarto e não quer abrir a porta ― disse Bonnie. ― Talvez
consiga convencê-la a abri-la para você.
― Querida, por favor, abra. Preciso saber como você está ― pedi
Não demorou muito, e a porta foi aberta. Ver seus olhos vermelhos
acabou comigo.
― Ei, pequena... Lamento tanto por tudo isso recair sobre você...
― Quando ele disse que havia homens perto de mim que tinham a
intenção de... na hora, eu fiquei paralisada, sabe? Fiquei contente por ele ter
me salvado e porque me disse que sabia quem eu era. Desejo tanto descobrir
quem eu sou. ― Respirou fundo. ― Bonnie disse que pode ser que eu não
tornado pior do que o que vivo agora em minha cabeça. Mas eu preciso
saber...
tudo aquilo a tinha afetado. ― Juro que vou descobrir quem você é e a razão
de o desconhecido não ter revelado nada. Talvez ele saiba desse trauma e
queira protegê-la.
piscar. ― Desculpe.
Percebi que ela podia ser doce e meiga, mas também tinha uma veia
― Agora, mas...
certo. Só espero que não deixe o que aconteceu hoje estragar sua evolução.
termos certeza do tipo de amnésia que você possui. Pode ser? Quem sabe ele
― Um médico? ― indagou.
― Uma médica, não preocupe. Agora arrume suas coisas, vou pegar as
minhas. ― Virei-me para sair, mas parei quando ela me chamou. Olhei para
ela. ― Sim?
infeliz; só mudei de ideia após falar com ele e descobrir que se preocupava
enfrentar no futuro, esperava ter êxito, ou teria que quebrar a promessa que
tinha feito a Liliane e matar o homem que a havia salvado fosse ele quem
fosse.
Samuel
seu bem-estar.
prometi. Queria tanto que ela se sentisse tranquila... além de protegê-la para
que não descobrissem que estava viva.
para Lily, ao meu lado. ― Liliane, certo? Sou a doutora Adeline Lopez.
Como vai?
sombrias de lado, claro. Só disse que Liliane tinha sido machucada, por isso
evitava o toque.
antes de chegar ali. Não podíamos simplesmente dizer onde ela tinha estado,
tinha oito anos, e só sei disso porque uma lembrança me revelou. Não sei o
motivo que me levou a ficar com a mente em branco antes dessa idade. Não
lembranças. Você também pode ter batido a cabeça ou alguém pode tê-la
machucado. ― A mulher me lançou um olhar.
onde vim.
causa lesões. Não se trata de nada definitivo. Essas lesões tendem a regredir
tomando.
― Não, senhorita, afinal você não se lembra de nada desde que tinha
oito anos. Para entender melhor, a concussão cerebral pode ser comparada a
por algum tempo, até que ele se recupere e você possa voltar às atividades
perceptível e, por isso, exige mais cuidados. Os sintomas são tontura, dores
vômito e o famoso “ver estrelas”. Em casos mais graves, pode haver a perda
pancada na cabeça.
― Vamos fazer exames, mas tudo indica que seja isso. Assim
detectaram nada grave. Isso foi um alívio. Ficamos de voltar depois para
Evelyn. Quando me viu, despediu-se dela e veio até mim. Depois seguimos
ao médico.
― Não muito, mas sabemos que ela deve ter batido a cabeça ou
não tive êxito com Evelyn. Ela mal se lembra de algumas coisas, era nova
demais na época.
la a lugares diferentes, quem sabe assim suas lembranças voltam aos poucos.
― Pode ser... No entanto, com Evelyn não posso fazer isso. Não dá
para tirá-la daqui por enquanto. ― Entrou no carro; fiquei ao seu lado no
a vigiando ― assentiu.
Ficamos em silêncio até chegar ao cassino, cada um com seus
Entramos pela sala nos fundos, onde Luca se encontrava. Meu telefone
tocou.
― Oi, Foster. O que tem para mim? ― Ele era um dos homens que
deixei atrás dos meus alvos. Ficou de vigiar cada um e me informar sua
rotina.
― Chefe, não vai gostar de saber disso. Olhe a notícia que enviei para
punhos.
estado alterado.
― Olha isso! ― Entreguei-lhe meu celular, com a tela aberta na
No jornal estava escrito que Félix Sparks, um dos homens que havia
tocado em Liliane, foi encontrado aos pedaços em uma viela na Itália. Outro
França.
― Aquele desgraçado fez isso! Falei para ele não se meter, mas não
― Não sabemos...
Cortei Luca:
resolver o problema eu mesmo. ― Não tinha me dito isso, mas o que estava
fazendo mostrava exatamente que era assim que o bastardo pensava. ― Não
― O cara é bom. Parece ter muita fúria nele. ― Luca olhava as fotos
nossa organização!
sim.
que ele obteve os nomes dos indivíduos. Então está com vantagem ―
apontou Luca. ― A única forma seria que nós fossemos atrás dos outros
todos. Deixe que ele faça isso, Samuel. Você ao menos sabe que os malditos
sofreram muito nas mãos desse homem ― disse Matteo. ― Vamos deixar
esse cara cuidar dos outros; você fez seu ponto e eliminou alguns. Nós
vamos focar nas meninas da fazenda, em descobrir quem são os parentes de
― Cerrei a mandíbula.
Estavam cortados aos pedaços, seus órgãos genitais estavam em suas bocas.
Garanto que sofreram muito antes de morrer. Com os outros não vai ser
uma vez.
Eu não sabia o que tinha acontecido, mas parecia que aquilo comovera
forma de impedir que aquele filho da puta pegasse os outros malditos antes
de mim seria descobrir quem o infeliz era. Depois eu acertaria as contas com
Liliane
estava em um sonho lindo e temia acordar e descobrir que tudo não passava
de uma ilusão, embora soubesse que era verdade, pois, graças a ele, passei a
cabeça, mesmo que ainda tivesse pesadelos de vez em quando. Não achava
que aquilo um dia sumiria por completo, porém, com Samuel ao meu lado,
temia que isso acontecesse com o tempo, mas se provou o contrário, nunca
Sabia que era livre agora, não só fisicamente, mas mentalmente também.
assim, a vida toda sendo uma concha fraca e frágil; queria ser forte como aço
ou uma rocha inabalável. Faria o possível para vencer o resto do medo que
Ao longo dos anos, passei a conseguir sair de casa, não muito longe,
só alguns quarteirões dali, bem como a praia, quando não tinha ninguém.
Gostava de ver o pôr do sol de lá, pois era mais lindo do que visto do
terraço.
Naquele dia, acordei querendo fazer justamente isso, mas não sozinha,
roupas e saí do quarto. Fazia isso direto, mas, naquela manhã, não veria o
Bati à porta do seu quarto, mas ele não respondeu, sinal de que devia
estar dormindo. Toda vez que eu o chamava, ele acordava. Aquela semana
devia ter sido muito corrida para ele, estava chegando tarde da noite do
Durante aqueles anos, o que eu sentia por ele mudou. Antes, era apenas
grata por ele me ajudar; ainda era, mas depois passei a gostar dele como
apaixonaria por um homem perfeito como ele? Era tudo que uma mulher
sentimento diferente por mim, parecia que gostava de mim como fazia com
Bonnie. Ele me tinha como uma irmã também? Só em imaginar isso fazia meu
peito doer. Se eu ao menos percebesse que ele sentia algo, abriria o jogo,
― Por que me olha tanto? ― Aquela voz rouca e sexy fez-me respirar
foi:
― Pensando se te acordava ou não para podermos ver o nascer do sol
juntos.
― Nada, apesar de saber que não era isso que estava pensando. Mas
Meus olhos foram para seu peito e seu abdome, tão próximos a mim
que perdi o fio da meada. Não achava que ele iria gostar de saber o que eu
fazia alguns meses que não temia mais, só ansiava por tocá-lo, mesmo não
podendo tê-lo. Meu corpo estava incendiado por vê-lo daquele jeito.
Meu rosto ficou vermelho por ter sido pega admirando seu corpo. ― Te faz
mal me ver sem camisa? ― sondou com aquela avaliação que fazia com
também. ― Tinha pensado nisso há algum tempo, embora não fosse o que
pensava agora. Entendi que seria melhor dizer isso do que falar a verdade,
pois uma coisa era desejá-lo da forma como o fazia, outra era concretizar
meus desejos. Só havia uma maneira de descobrir, mas, para que isso
Ele riu. Sua risada rouca e gostosa fez meu estômago dar cambalhotas.
― Você está ficando com prática em inventar desculpas para não dar a
escondia bem.
― Não, mas sei que não era nisso que pensava. ― Fez menção de tirar
minha frente.
Ele nunca dormia sem nada. Eu não sabia se era por minha causa,
afinal tinha noites em que eu ia dormir em seu quarto quando tinha pesadelos
e não conseguia mais adormecer. Eu dormia na sua cama, enquanto ele ficava
nós. Sua presença fazia minhas pernas ficarem moles feito gelatina. Contudo,
não fui longe; ele pegou meu braço e me puxou para si. Meu peito bateu em
minha pele.
corpos. Seu cheiro inebriante me fez ficar tonta e de pernas fracas. Não
Samuel sorriu de modo tão perfeito que eu só podia ficar ali, de boca
imagem e depois tatuar. ― Beijou minha testa. Juro que o local ficou
queimando.
Pelos anjos, o que estava acontecendo comigo? Claro que eu sabia que
o amava, mas aqueles desejos pelo seu toque estavam ficando cada dia mais
fortes.
Queria passear com ele. Via-o sair de casa muitas vezes durante os
não estava pronta, mas agora me sentia preparada para dar esse passo
definitivo.
― Sim, já saí algumas vezes sozinha, mas hoje, eu quero ver o sol
Sorri.
framboesa.
― Obrigada.
muitos, era só sair e ir à praia, mas para mim significava dar um passo a
mais para uma mudança que precisava fazer em minha vida. E foi com esse
― Estou decidida a lutar contra isso a cada vez que saio, até chegar o
dia em que eu não sinta mais medo ― assegurei a ele. ― Agradeço-lhe por
fora, tremia a cada passo, que minha respiração ficava cada vez mais
irregular, e meu corpo, tenso, porém, não deixei esse medo me vencer.
― Obrigada por acordar cedo e vir comigo. ― Apertei sua mão que
segurava.
― Não há outro lugar em que eu deseje estar ― asseverou.
dava até para sentar-se, mas ele não o fez, sentou-se na areia e escorou as
Desde alguns meses notei que ele começara a me tocar com mais
frequência. Sabia que estava fazendo isso para me ajudar a lidar com a
questão do toque, e estava dando certo. O problema era que eu ansiava por
mais do toque dele. Era bom, eu me sentia melhor a cada dia e ficaria ainda
― Se não quiser...
― Não, está tudo bem ― falei rápido demais, fazendo-o rir.
Sentei-me onde pediu e fiquei entre suas pernas. Essa posição era bem
íntima, o que me fez sentir como se estivesse sobre chamas, mas no bom
joelhos.
toque. Sua cabeça ficou acima da minha, por ser mais alto que eu. Quem
Ficar tão perto dele estava me deixando quente, o que me fez remexer
perguntar o que era, quando senti algo duro atrás de mim, o que me fez
congelar.
medo. Só pare de se mexer. ― Esse final foi dito quase como uma súplica.
em choque com isso, se não pior, mas agora sabia que ele jamais me tocaria
meu corpo, tinha se excitado. Então isso significava que me queria? Que me
― Lily...
apertar.
baixo.
Essa frase podia ser traduzida de duas formas: jamais me tocaria à
força ou que não sentia nada por mim, então não ia rolar nada. Queria
Meu coração deu batidas dolorosas, porque, em meu íntimo, sentia que
era a última opção. Quanto à primeira, nós dois sabíamos que ele nunca
forçaria uma mulher. Aliás, eu acreditava que elas sempre iriam querê-lo.
Seria por isso que ele nunca demonstrava que me queria? Temia que eu não
pudesse dar o que ele precisava? No fundo, nem eu sei se posso, pensei
amarga.
sempre fazia, mas eu não queria mais pensar nisso, só aproveitar aquele
renascimento. Quero renascer, não posso viver em uma concha para sempre.
com firmeza.
― Obrigada.
― E quanto à lua?
― Sabe? Faz anos que não vejo meu corpo. Tomo banho todos os dias,
mas não me olho, pois, quando o faço, me sinto suja, feia e com nojo... ―
começo, era frequente eu ter lapsos; agora nem tanto, embora eu soubesse
Quando eu pensava nisso, ficava furioso por saber que não podia ajudá-la
matou todos antes que eu pudesse descobrir quem era ele. Poderia ter ido
atrás dos alvos e ficar de tocaia, assim o pegaria, mas isso faria com que eu
Queria poder perguntar ao cara o porquê ele não tinha matado Lorenzo
importava, ainda mais após saber da porra fodida que Lily me disse.
― Por que não me contou sobre isso? ― Tentei controlar minha fúria.
Sabia que ela lutava com seus demônios, mas não que evitava olhar para o
mesmo isso.
consegui lidar com muitos dos meus problemas. Sou mais forte ao seu lado.
― Quero que tenha em mente que é perfeita. Não quero que pense o
contrário. ― Peguei seu rosto entre minhas mãos e fitei seus olhos azuis da
você, ou poderíamos nos falar por telefone caso eu não estivesse em casa ―
rosto.
― Estou aqui para tudo, serei o que precisa que eu seja para enfrentar
não acontece. Viver com vocês aqui me ajudou muito. Às vezes me pego a
pensar no que teria acontecido se você não tivesse me trazido para sua casa.
― Não pense assim. Se não fosse eu, esse Deus em que você acredita
iria enviar outra pessoa para te ajudar. ― Eu não merecia nada d’Ele, mas a
― Você não acredita? ― Olhou para o lago. ― Como pode ver tudo o
Suspirei.
― Estou aqui para isso. Se lhe faltar força, serei a sua até consegui-la
de volta ― afirmei.
fundo.
Antes, era só sua mão, depois passei a tocar seu queixo, seu rosto, a beijar
sua testa e cabelo. Não sabia se ela tinha notado que aquilo era uma pequena
Sabia que precisávamos conversar sobre ela ter que ver alguma
terapeuta, mas não sabia o que fazer em relação a isso, afinal a única pessoa
em que ela confiava era Bonnie, que não estava mais conosco. Talvez isso
começasse a mudar, pois Liliane vinha saindo de casa por sua própria
iniciativa.
Bonnie ficou conosco por um tempo, mas teve que voltar para
Barcelona. Embora viesse algumas vezes por ano, eu sabia que não era o
suficiente, por isso tinha que conseguir outra psicóloga, mas não sabia como
Lily reagiria a isso. Depois eu conversaria com ela, e não só sobre isso, pois
desejava lhe dizer o que sentia. Entretanto, não antes que ela própria
Meus sentimentos por aquela mulher eram fortes demais. Achei que
mas temia que não aceitasse muito bem. Sonhava que ela se declarasse
primeiro, mas não imaginava que isso viria tão cedo. Podia ver, pela forma
tentava esconder de mim. Seria porque não tinha certeza do que sentia?
Forcei-me a não ficar duro como mais cedo. Não pude me controlar
sonhasse com o que eu desejava fazer com ela, não teria feito aquilo. Sua
inocência me matava.
você, será tão bom quanto aqui, se não mais. ― Sorri de lado.
calcada.
― Lily...
sentia isso.
no jardim de casa.
Entramos em casa.
feliz por sua decisão. Só não sabia em que parte do corpo acrescentaria o
desenho, já que ela não gostava de se olhar. Um dia, eu esperava mudar isso,
mas, para alcançar esse caminho, precisava trilhar outro antes, quando lhe
sendo o meu. O som não veio do meu quarto, onde o deixei antes de sair.
Sorriu.
― Vou ajudar vovó com o café da manhã. ― Ela saiu com minha avó.
estranha.
― Merda, isso é grande! Mas Barry não vai se aliar a nós. ― Entrei
no meu quarto.
Shadow era diferente de Barry, claro. Não andavam na lei, como nós,
mas até ele tinha suas regras, coisa que o atual presidente não ligava de
quebrar.
― Kill não vai nos ajudar com sua irmã presa. ― Pensei em um plano.
viva-voz.
― Meu pai dará uma festa lá em poucos dias. Posso colocá-la para
― Eu também.
comecei a esboçar a tatuagem que Liliane pediu. Fiz duas, uma para ela e
outra para mim. Ela não saberia, mas seria um sinal de ligação entre nós.
revelaria o significado das tatuagens. Por ora, seria um segredo meu. Teria
que colocá-la em algum lugar do meu corpo que ela não visse até o momento
certo.
precisaria e ajeitei tudo. Antes de sair à sua procura, uma batida na porta
soou. Eu sabia que era Liliane; vovó só dizia que estava entrando.
que ela podia ver por enquanto. Ainda bem que eu percebia que ela gostava
da visão.
mais necessitado, porém, me segurei para não ter uma ereção de novo. Eu a
queria relaxada e quente por mim, e não em pânico, embora, mais cedo, não
percebi medo nela quando me sentiu duro após ficar se remexendo em meus
braços.
la.
Sacudi a cabeça. Ser um executor era quem eu era, e não mudaria isso.
Tinha certeza de que ela não havia sugerido que eu mudasse de “profissão”,
só declarado que eu era bom naquilo. Eu era o tipo de pessoa que procurava
Entendi o que ela queria dizer e não gostei disso, embora não pudesse
fazer qualquer coisa para mudar seu pensamento, ao menos por enquanto.
Tentaria algo; se não desse certo, tudo bem, eu a ajudaria depois, com o
tempo.
― Você disse que não gosta de olhar seu corpo por achá-lo feio. ― A
― Sim.
― Acredito...
Levantei as sobrancelhas.
― Mesmo?
― Eu...
Sabia que aquilo era mais forte do que ela. Não havia como eu mudar
dessa forma terá uma coisa bela para ver em seu corpo sem temer. ― Não
queria que ela odiasse seu corpo. Sabia que teria trabalho para convencê-la
a não sentir aquilo, bem como do quanto ela era bonita. Tentaria começar
barriga ou na zona lombar, mas acho que você não está pronta para isso
ainda. ― Peguei sua mão. ― A escolha é sua. Acho que seria um novo passo
a dar.
Não queria que ela sofresse por isso ou por qualquer coisa.
paramos.
desistiam ao longo do caminho. Eu entendia quem tinha passado pelo que ela
Ao menos ela me tinha ao seu lado, ajudando-a a lidar com aquela porra
toda.
― Certo. Pegue uma toalha e vá ao banheiro tirar a camiseta. Pode
ficar com os seus shorts. Assim o local fica livre para eu fazer a tatuagem.
caminho.
Porra, isso não está funcionando... Por mais que ela quisesse, ainda
Queria que ela lidasse com o medo de ver seu corpo, mas via que não estava
― No pulso?
tatuagens na região. ― Posso fazer uma pequena, assim dá mais beleza à sua
― É linda essa. ― Apontou uma das que lhe mostrei, que parecia
― Desculpe ― sussurrou.
― Pelo quê?
― Por não conseguir fazer onde sugeriu. ― Ela estava com as mãos
no colo.
minhas mãos.
Só não vai fazê-la onde ainda é um ponto sensível a você. Não se preocupe,
irá superar a tudo com o tempo. Quando fizer isso, poderemos fazer outra lá
ou em qualquer parte do seu corpo. Jamais faça algo só porque eu ou outra
pessoa pediu; você deve fazer só o que quiser e para o que estiver pronta,
Sorri.
― Eu sei que sim. Não conheço ninguém mais forte que você, Luce del
logo acabaria apossando-me de sua boca, algo para o qual eu também não
novamente, mas podia fazer Lorenzo pagar por tudo. Como não podia matá-
lo ainda, tiraria dele aquilo que tanto venerava em sua loucura: as meninas
que prendera. Teria o maior prazer em ver sua queda e participar dela.
― Está calado.
sombrios.
resplandecem o dia. Era um sonho meu que ela sorrisse sempre assim, e eu
momentos.
― Nossa, ficou tão linda! ― Liliane admirava a tatuagem. Um sol
brilhante ficava no meio de uma lua crescente, dando uma beleza a mais ao
desenho.
― Sim, ficou mesmo. ― A pele dela estava vermelha por ser branca
demais. ― Deixei esse espaço entre a lua e o sol para que, se um dia você
Seus olhos me fitaram com tanto amor que meu coração se aqueceu
ainda mais. Antes ela era tão fácil de ler, mas agora estava melhor em
Evitei soltar um suspiro, porque, por um momento, achei que ela fosse
Depois faria a minha tatuagem combinando com a dela. Só não sabia como a
esconderia na região em que Lily fez a dela. Nossas tatuagens eram um elo,
simbolizavam união, então seria melhor fazer a minha no mesmo local. Como
― Precisa passar uma pomada para não infeccionar, mas logo estará
desistido.
― Sorri. ― Sou paciente, e, além disso, é um prazer realizar tudo que você
O mundo podia ser perigoso, mas eu queria mostrar-lhe que ela não
precisava temer viver nele, pois não deixaria ninguém a tocar de novo. Essa
Samuel
Saí do hospital onde Matteo foi internado. Ele havia me ligado naquela
noite para avisar que conseguiu a liberdade de Evelyn, mas o custo foi ter de
levar um tiro de Luca. Também me pedira para buscá-lo, pois já tinha
recebido alta.
Matteo contou que foram à festa que seu pai deu, mas Evelyn atacou
os guardas que tinham ido junto com eles e pediu que Luca atirasse nele só
para dizer que foram atacados e que alguém ajudara a menina a fugir.
O plano não podia ter sido melhor. Claro que o chefe não deveria ter
― Aviso, sim. Não se preocupe, dará tudo certo ― meu chefe disse e
celular a fim de falar com o seu primo. ― Vamos para o lugar marcado.
comentei. Soube disso por uma das minhas fontes. Na verdade, não dava a
mínima para o miserável.
preocupação.
problema, mas pode vir a calhar se usarmos isso a nosso favor. Precisarão
informei.
Ele tinha levado um tiro no ombro. Eu percebia que estava com dor,
mas isso não o impediu de seguir com o plano e se dirigir para o local da
reunião.
homem na sua frente que se assusta. O único com quem não surta sou eu. ―
Levei uma das mãos aos cabelos, embora recordasse que, naquela vez, na
do dia fomos ver o pôr do sol da praia novamente, mas não tinha ninguém no
local.
disso, não de ter Lily por perto, porque amava sua presença, mas porque
ela, e eu não sabia como ela iria reagir. Como o fato de que eu não a havia
não poder ser mãe um dia, embora, para ter certeza disso, fosse necessário
fazer exames.
Queria revelar tudo apenas quando ela me dissesse que me amava, mas
― Pode ser, mas você cuidou dela, a manteve protegida, e garanto que
vai continuar assim até que ela resolva ir embora e continuar sua vida com
sua família.
Na hora, fiquei irado, porque achava que ela tinha sido sequestrada,
não vendida como se fosse um objeto. Desde então eu procurava saber ainda
mais sobre ela, mas as únicas pessoas que sabiam a verdade eram Lily, que
Eu tinha mostrado a ela imagens de alguns que conhecia, mas não tive
êxito, não era nenhum deles. Era como se esse homem não existisse. Sabia
antes. Claro que tinha recaídas, porém eu via a melhora nela a cada dia,
se elevando.
― Sim, ouvi Lily sonhando, ela implorava ao pai para que não a
a vendeu, porém, não posso sair daqui com tantos problemas a resolver.
Luca fez uma investigação mais a fundo depois de mim, mesmo assim
Assim como não pude ir atrás do russo que também sabia de tudo, o
que me fazia perguntar por que não queria que descobríssemos quem ela era?
Não o cacei porque não sabia se o perigo a que ele havia se referido antes
era verdade. A única certeza que eu tinha era de que queria respostas e iria
atrás delas.
sozinhas. Assim que as libertarmos, você estará livre para buscar esse
preciso.
― Obrigado, senhor.
de confiança do chefe.
ferimento.
Shadow seguia na frente dos seus homens. Agora era o atual chefe do
MC Fênix, após a morte do seu antigo presidente. Era um homem alto e letal.
Parou a alguns metros de nós. Não parecia furioso, aliás, sua expressão não
demonstrava nada.
homem raivoso.
sendo que sabia há bastante tempo que eu era seu irmão! ― Kill esbravejou.
ainda mais em Evelyn, por quem ele se dizia apaixonado. Deveria ter uma
ilegível.
demonstrava. Só detectei porque era bom em ler as pessoas, ainda mais ele,
então puxei a sua ficha para investigá-lo. Precisava de tempo e aliados para
tirá-la de lá sem demonstrar que havia traído minha família. ― Não tinha
sido há tanto tempo assim, apenas alguns dias. Por que não tinha dito a
verdade?
atrás dela. Agora mesmo estão caçando Evy para executá-la, já que atingiu
um companheiro na garganta e fugiu logo depois.
― Pelo que sabemos, ele foi morto com a garganta cortada e tiros na
pai, então, na verdade, ele já seria morto na reunião de ontem, mas as coisas
matá-lo; Evy foi mais rápida. Ela tem um gênio forte. Ainda bem que o
deu a ele, mas a menina revidou cortando a garganta de Raul com uma
toda machucada, fui onde meu pai dormia. Minhas mãos apertaram as adagas
para matá-lo, mas não podia, porque, se o fizesse, o meu tio tomaria meu
lugar por direito, e o velho é mais sádico que Lorenzo. ― Cerrou os punhos.
Eu não sabia que ele a tinha conhecido assim. Esse era um dos
voltando ao tópico da reunião. ― Ela disse que têm umas duzentas e que seu
― Sim, descobri há três anos. Fui convocado por ele para participar
daquilo. ― Essa última parte não era verdade; foi um infiltrado que nos
disse. Pensei que ele não queria que vazasse ainda ou não achava
importante. ― Não sou santo, longe disso; tenho sangue em minhas mãos.
Daí a fazer aquela barbaridade? Ao chegar lá, encontrei três garotas mortas
e os homens fazendo a festa. Tive de me controlar para não matar todos, até
Lorenzo, porque a culpa daquilo é dele e do doente do meu tio. ― Fiquei
grato a Matteo por incluir Lily entre as três garotas assassinadas; não queria
quem era cada um deles, exceto Daemon; não descobri nada do seu passado,
como se tudo sobre ele tivesse sido apagado. Ele era conhecido por sumir
sua ajuda para descobrir o passado de Liliane, pois não poderia me ausentar
muito de casa por causa de Lily, ou já teria descoberto, afinal também era
minha irmã foi estuprada e morta. Não acharam o corpo, só havia sangue em
família, ele abomina isso. ― Então arregalou os olhos. ― Seu pai matou os
Dragons? Então por que Nikolai acha que foram os Bravatas que os
assassinaram?
Lorenzo matou a família de Dark, ele e seu irmão, Alexei, deduziram terem
sido seus inimigos, e meu pai saiu ileso. Não entraríamos em guerra com os
Eu sabia que era difícil dizer isso, afinal contávamos com poucos do
esperava.
― Quero limpar toda essa sujeira logo. Assim que os Dragons
que estava doido para Matteo ser uma das vítimas. ― Ainda bem que minha
garotas e crianças sem envolver o FBI e essas merdas. E sem que meu pai
descubra que ajudei, ou estarei morto. ― Pelo seu tom, não parecia temer
sua vida, mas a de todos do seu povo. ― Lorenzo manteve o FBI no bolso
por muitos anos para que fechassem os olhos quanto àquele antro de tortura.
atenção da polícia, além da pedofilia que rola solta na sua máfia, com esses
mais fundo em suas vidas até descobrir a verdade. Era óbvio que alguns
temiam contar o que tinham feito e serem mortos no processo, então muitos
pai louco.
― Pode ser, mas não ficaria sabendo, pois, quando tudo isso acabar,
― Porra, isso não vai acontecer! Acha que não sei sobre vocês,
Salvatore? Não pode se casar com alguém de fora da sua origem mafiosa, e
se mencionar que vai fazê-la sua amante, juro que o mato agora mesmo! ―
esbravejou Kill.
não pertencia a nenhuma máfia? Fosse como fosse, eu não ficaria longe dela.
final, decidirá o que quer fazer da vida, e garantiremos que nenhum perigo
recaia sobre ela, nem sobre ninguém. ― Matteo suspirou. ― Agora vamos
ou morrerei tentando.
― Acho que você está pensando errado nesse caso ― Shadow falou.
― Sobre o quê?
― Veja bem, você não pode matar seu pai ou vai ser acusado de
traição, perderia seu legado. Se o FBI entrar no caso, vão confiscar o que
vocês têm, então precisa de nós para invadir esse lugar, que não sabemos
onde fica, armados até os dentes, para resgatar todas as crianças e moças
tenho pulso firme para controlar o legado, porque não sou a favor do que
fazem ― Matteo anunciou com tom amargo. ― Quando tudo isso acabar,
dos motoqueiros.
não entendi muito bem ― Daemon inquiriu antes que Nasx comentasse algo.
ele oferece as meninas à minha irmã, que morreu, depois as entrega aos
não pode ser morto agora, tenho planos antes disso, mas seu dia chegará.
Espero que, quando acontecer, ele esteja lúcido, assim sentirá o que
mesmo sem querer, precisarei caçar o assassino do meu pai, e o cara deverá
ser muito bom em encobrir todos os rastros. É uma lei da minha família, não
Só por isso aquele maldito ainda respirava nesse mundo; se não fosse,
Shadow.
Lorenzo e manter os seus vivos, e já que eles não podem sair de lá, vamos
ter de atingi-los…
― Porra, não! São boas pessoas e acreditam em mim. Não podem
garotas, mas não à custa de todos do nosso lado que estavam lá.
no ataque.
outro MC.
― Falarei com eles primeiro, para saber o que acham ― falou por
fim.
Ele era conhecido por ser impulsivo, não manter a compostura como
eu e Luca, mas sabia ser letal quando preciso. O homem era brutal, nascera
jovens sofrendo, vendo acontecer com elas o que houve com Lily ou até algo
aliados e soldados. Ele era contra o que Lorenzo fazia. ― Vamos falar com
os outros…
― Eu faço isso…
― Não acho que seja uma boa ideia você ir lá agora, pode gerar
podre seu para anulá-lo como candidato a capo ― disse Frank. ― Eu soube
concordaria com o que fazem com as meninas. É bom ficar longe de lá por
sabia como faria para conciliar aquilo com os cuidados com Liliane. Chegar
tarde todos os dias e sair cedo seria cansativo. Seria uma correria ir embora
para casa, facilitaria se eu ficasse no meu apartamento, mas não achava que
fazenda e ajudou Evelyn, mas foi pego por Lorenzo, que ia matá-lo. Foi
então que Matteo pediu ao pai que, em vez de morto, ele fosse castigado,
sendo mantido prisioneiro, o que seria pior que a morte. O pai acreditou no
filho, embora os planos de Matteo fossem ganhar tempo para salvar o garoto.
para a Itália.
― Pediremos ao Shadow para fazer isso quando os MCs resgatarem
momento.
volta com suas famílias. Era só uma questão de tempo para eu poder ir atrás
motoqueiros.
― Me diz uma coisa: o que foi aquilo de cinto? Kill parecia que
queria matá-lo. Deu a entender que você bateu em Evelyn, mas duvido disso,
não é de seu feitio levantar a mão para uma mulher. ― Eu o avaliava pelo
retrovisor.
Ele ficou em silêncio por um tempo. Isso era estranho. Matteo
geralmente não hesitava em falar nada. Por que não queria me contar? Temia
minha reação?
Suas palavras me pegaram de surpresa. Não, não havia como ele ter
― Pode explicar? Porque não parece algo que você faria de livre e
aqueles anos a respeito dele. ― Merda, você levou um tiro para salvá-la!
― Não levei o tiro só por ela, afinal a sua fuga beneficiaria as outras
― Por que está hesitando tanto? Sei que há uma explicação para isso,
encontrou meus olhos, vendo a resposta clara neles. ― Por isso nos damos
bem desde a adolescência. Pois bem. Evelyn precisa sentir dor física para
lidar com algumas merdas fodidas de sua mente. Se eu não lhe batesse com
meu cinto, controlando a força para não a ferir demais, ela teria provocado
os homens do meu pai e voltado a ser presa naquela maldita cruz por dias,
― A garota faria isso? ― indaguei. Ela devia ter passado por algum
trauma na infância. É claro que ser levada à fazenda tinha feito os sintomas
piorarem.
― Sim. Ela já havia feito isso antes que eu a conhecesse e uma vez
depois, mas a tirei de lá, então ela me pediu que a ajudasse a sentir dor, ou
isso.
Aquela menina não sabia o que seu pedido causaria ao meu amigo e
chefe. Eu podia ver a dor e o abismo em sua expressão por ter tocado nela.
― Acredito que sim, mas, nesse momento, não quero pensar nisso.
verdadeiro capo.
― Não entendo uma coisa. Ele matou o restante dos homens que
tocaram em Lis, mas por que não matou o mandante? Afinal meu pai é o
O cara só não tinha sido descoberto ainda porque não fui atrás dele
com tudo. No momento, salvar as garotas era mais importante, mas logo iria
final do mundo.
― Penso a mesma coisa. Não faz sentido. Ele deve ter uma razão para
isso, porém, vou ter essa resposta só quando o pegar. ― Apertei as mãos no
volante.
Ele tem alguém bom escondendo seus rastros, só pode. ― Matteo parecia
vamos? Acho que você precisa descansar. Como Frank disse, cuidaremos
das meninas.
― Estou bem...
― Não está, posso ver isso. Não precisa aparentar ser forte para mim.
que me liga a cada hora para conferir como estou. ― Suspirou baixo.
― Não foi fácil para ele atirar no próprio primo. Você tem pontos,
― Isso é outra coisa que está me incomodando, deixar que lutem por
mim e ainda permitir que sejam machucados na ação. Não sou covarde. ―
com seu povo, fazendo tudo para libertar aquelas crianças e adolescentes e
com o que acontecer a nós, contanto que tudo seja resolvido. ― Virei o
carro na direção da casa dele. ― Farei o possível para proteger todas.
Confie em mim.
em uma batalha que não deve demorar, mas parece mais preocupado em se
tatuar?
Contei-lhe sobre a que fiz em Liliane alguns dias antes. Já era para ter feito a
― Como anda a relação entre vocês? Ela sabe do que você sente?
que está pronta para um relacionamento. ― Sempre foi meu objetivo desde
paciência e calma por lhe dar tempo até ela estar pronta para um
relacionamento.
― Antes dela, eu não sabia se podia amar, se era capaz disso. Não
queria uma pessoa na minha vida que pudesse ser tirada de mim, mas com
ela descobri que ter um ponto fraco não é de todo ruim, pois o amor nos
deixa mais fortes. Sou capaz de tudo para enfrentar quem ousar machucá-la.
― Assim como fiz com alguns dos vermes repugnantes que a machucaram.
fora da máfia? Não posso mudar isso quando me tornar capo. Eu queria
poder.
Havia muitas leis que ele poderia mudar, mas aquela não era uma
delas, eu sabia.
Matteo não saiu logo do carro assim que estacionei em frente à sua
casa.
anjo de luz. Além disso, Liliane pensa que eu a salvei, quando não fui eu,
sem contar que ainda não informei a ela que pode nunca ser mãe. São
empecilhos que devo enfrentar, e vou fazer isso. Não desistirei dela. A única
descanse um pouco.
Cortei-o:
responsabilidades de um cargo desse nível, mas estarei aqui para o que você
precisar de mim.
Assim que ele entrou em casa, fui para um dos locais onde fazia
onde encontrei a assistente de Culver, Jenika, uma mulher bonita com quem
sabia o porquê, afinal, às vezes, quando eu vinha para ser tatuado, nós
direção ao corredor.
que vim fazer hoje ― anunciei e prossegui para a sala, mas vi seus olhos
arregalados.
― Então vai fazer o nome de uma mulher? ― Culver sorriu assim que
entrei. Ele era um senhor de idade que conheci há alguns anos, quando alguns
infelizes queriam tomar seu lugar. Livrei-me deles, e nos tornamos amigos.
fazê-la, mas é no pulso direito, não ficaria boa. ― Além disso, tatuar com
Culver o faria ganhar um dinheiro a mais. Ele cuidava de uma neta
Sorriu.
― Essa menina deve ser especial para você fazer algo assim. ―
Observou o desenho do sol. ― Suponho que ela esteja com a lua e o sol.
trabalhar ainda.
― Claro, mãos à obra. Aposto que ela vai gostar de você expor o
dela.
para colocar seu nome depois para o caso de alguém descobrir a tatuagem. O
― Fico feliz por você, meu amigo. Essa menina deve ser mesmo
para a bela tatuagem, perfeita como Lily. Um dia mostraria ao meu Raio de
Sol o que ela era para mim, o quanto significava na minha vida: tudo.
Samuel
antro. O nosso trunfo era os MCs, dos quais nos tornamos aliados.
noites foram calmas no decorrer das últimas semanas; algumas, não, como
aquela madrugada, que foi turbulenta, por isso ela veio dormir no meu
quarto, enquanto fiquei no sofá. Liliane sempre dizia que estar ao meu lado
apreciava. Matei apenas alguns deles, fui privado da vingança por causa do
devaneios.
toda sonolenta. Sentei-me ao seu lado e peguei sua mão, apertando-a com
― Pode ficar deitada, o sol nem nasceu ainda. Preciso sair mais cedo
fazenda.
― Vai vir para o almoço? ― sondou ela, parecendo ansiosa com algo.
― Hoje não vai dar. ― Não sabia quanto tempo a operação ia
semanas foram bem corridas; entre ter de ir à fazenda e voltar para casa, e
isso estava me deixando morto de cansaço. Esperava que, após aquele dia,
pareceu ansiosa antes. Às vezes eu a lia como um livro, mas notei que havia
momentos em que não conseguia decifrá-la, pois ela conseguia esconder bem
ajudá-la.
espinafre. Vovó disse que é o seu prato favorito, então aprendi a fazer ―
murmurou.
ainda mais. Era difícil me controlar, porém necessário. Não queria afastá-la
caso me declarasse.
algum imprevisto e não puder vir, então amanhã você faz a receita para mim.
― Esperava que nada impedisse aquilo. ― Vou fazer o possível para vir,
ok?
um pouco.
Saí dali sem querer, mas não podia ficar; precisava organizar alguns
Luca já estavam lá. Eles não estariam no lugar na hora do ataque, isso
nos nossos, mas tomando cuidado com o local do corpo que alvejariam.
menina deu a ideia de dar purgante a todo mundo. Como isso chamaria
nosso lado. Ele não gostava do capo. Até achei que era fiel a ele, mas o
doutor era esperto e escondia o que pensava do chefe. Lorenzo ter mandado
uns dos seus soldados bater em seu filho só porque o médico tinha chegado
atrasado um dia para atender Matteo, que tinha sido ferido, foi a gota d’água.
meninas apenas nas mãos dos asseclas de Lorenzo, mesmo que só por
algumas horas. Houve casos em que alguns deles tocaram em algumas delas.
Lorenzo. Era cada coisa fodida que me enchia de fúria. Logo iria me livrar
eram letais.
― Foram medicados, vão ter alta amanhã. Pedi ao doutor que dissesse
que eles precisavam ficar em observação. Ainda bem que ele está do nosso
lado. Na verdade, sempre foi contra meu pai; era coagido pelo medo e as
― Então temos só hoje para resolver tudo. Amanhã será tarde demais.
Ninguém na fazenda desconfiou de mim por não ter estado ali quando
ação estivesse acontecendo lá. Isso não é para mim. ― Sorri para acalmá-lo.
Matteo assentiu.
alguma delas contasse onde era o local em que tinham sido aprisionadas ou o
nome de Lorenzo ou de algum de nós, os federais não achariam nada além de
acontecer ― ordenou Matteo. ― Vou ficar com meu pai, quero estar lá
Eu também queria presenciar isso, mas, como não podia, era melhor
pagaria caro. Era uma pena eu não poder participar com as próprias mãos da
fazenda, quando na verdade era uma prisão. Um purgatório, para ser mais
exato.
Após checar como andavam as coisas, fui para a sede só para conferir
se tinha deixado passar algo; antes de entrar, entretanto, ouvi gritos de uma
das casas.
O que uma mulher fazia ali? Era para todas as “funcionárias” que
tinham no local terem ido ao hospital. Não era muitas, apenas Zaira, a
cozinheira e a enfermeira.
de modo frio.
O infeliz saiu de cima de sua vítima, e pude ver sua braguilha aberta.
O sujeito era o mesmo que queria nos impedir de entrar ali quando
descobrimos sobre a existência daquele lugar. Silas era o nome do miserável
desprezível.
― Ela queria isso ― afirmou nervoso, vendo a arma apontada para si.
por eu ter aparecido na hora certa. Entrou por uma porta que ficava no canto.
nele, mas para tudo há um tempo. Sua morte chegaria logo, e eu faria o
― Poderia ter feito o mesmo com aquela putinha de quem você cuida.
Acha que não sei que a resgatou daqui? ― zombou. ― Aposto que gosta de
coisa usada...
Orgulhava-me do meu autocontrole, aperfeiçoei-o muito, mas, ao ouvir
minha faca, indo até ele antes que reagisse e pegasse a sua arma. ― Pagará
Era perceptível que o que ele dizia estava entalado em sua garganta há
muito tempo. Deixei que soltasse tudo que estava pensando antes de mandá-
lo ao inferno.
― Você fala demais para alguém morto ― falei com um olhar duro.
ele morreria, assim não iria abrir a boca e contar a Lorenzo sobre Liliane.
― Você está louco se acha que pode ir contra Lorenzo! Assim que eu
impedir esse ataque ou seja lá o que esteja fazendo, vou contar tudo ao capo,
Apertei o cabo de minha faca e fui até ele, acertando seu peito, mas
não consegui impedir que ele acertasse minha lateral com algo afiado. Notei
que era um bisturi. Devia tê-lo pegado na mesa. Amaldiçoei por não ter sido
Sentia que não era um corte profundo, mas rompeu bastante a pele,
pois eu sentia o sangue escorrer. Nem me preocupei com a dor, pois tive
tanta na vida que me acostumei com ela.
― Você não merece sequer pensar nela. ― Enfiei minha faca em sua
barriga enquanto segurava o pulso da sua mão que agarrava o bisturi para
mas ninguém sabia, só ele, que me viu fazia pouco tempo com ela em minha
casa, após ter me seguido. O filho da puta queria algo contra mim para
informar a Lorenzo, mas ainda bem que o ataque à fazenda veio antes de ele
abrir a boca.
Samuel
arregalados.
duro.
Ela piscou, tirando sua atenção do cadáver no chão e encarando-me.
mas acho que nunca estarei ― sussurrou. Encolheu-se ao ouvir mais tiros. ―
Finalmente eles chegaram, os homens que vão resgatar essas meninas. Meu
toda forma, muitas pessoas não tinham opção de sair depois que entravam ou
― Seu marido?
― Jakob. Ele é um dos que foram para o hospital, mas não sabe que
fui convocada a estar aqui hoje no caso de alguém passar mal de novo ―
murmurou.
Jakob era o soldado que me ajudou a tirar Liliane dali alguns anos
hospital.
Assenti, colocando a mão na ferida, que doía. Tirei a mão, olhando a
hemorragia.
― Está ferido. Me deixe dar uma olhada ― pediu, vindo até mim. ―
ocorreria bem. Ainda assim, por via das dúvidas, logo que ela terminasse de
cuidar daquele corte, eu iria até lá para checar como andavam as coisas.
― Precisará de pontos. Ainda bem que não foi fundo a ponto de atingir
Assenti e me deitei na maca que havia ali, mas, antes de ela continuar,
meu telefone tocou. Olhei para a tela, vendo o nome do meu Raio de Sol.
― Pode primeiro me deixar atender essa ligação? ― pedi a ela.
Franziu a testa.
sondou.
― Tudo bem. Vou pegar o material para suturar a ferida. ― Ela não
queria, mas me deixou a sós, indo para a salinha onde se escondeu antes.
importasse em sentir um pouco mais de dor... Por ela, valia a pena, e eu não
Tinha uma nuance em seu tom que passei a conhecer bem durante os
anos.
― Teve alguns pensamentos ruins? ― Era uma pergunta retórica,
afinal ela havia me ligado fora de hora, e, na noite passada, seus sonhos
foram bem agitados, por isso foi dormir no meu quarto, pois, ao meu lado,
ficava mais calma. A meu ver, ela se sentia segura comigo, então ficava mais
― Sim, mas agora, que estou falando com você, tudo melhorou.
esperava que um dia declarasse o que sentia por mim. Eu não irei fazê-lo
antes dela; se inda não tinha feito, era porque não estava pronta.
― Que bom. Fico feliz que esteja melhor. ― Apertei o pano sobre o
flancos eram maiores, ainda que os cortes não fossem profundos, como o
meu.
Eu poderia lhe dizer sobre tudo o que estava acontecendo naquele dia,
mas não achei que fosse bom para ela. Não sabia como voltaria para casa à
noite com aquela ferida e não queria preocupá-la com meus negócios
sombrios.
― Fico feliz em saber disso. Estou animada para você provar o que
vou fazer. ― Agora tinha mais vida em sua voz, diferente de quando ligou.
de mais do que três pontos. Eu entendia um pouco sobre isso, afinal já tinha
quando perguntei o que estava fazendo. ― Sua voz parecia estranha... morta.
muda.
estendia em meu peito. Tentei ligar para ela, mas o telefone chamava sem
estava em casa.
franzido.
que fosse sua culpa o que aconteceu, embora ela não soubesse disso.
― Nada, só costure essa merda logo. Preciso resolver algumas coisas.
― Como ir até a Liliane e esclarecer que não houve nada do que ela
pensou.
apenas três pontos. Eu sabia que uma batalha se desenrolava ali fora, mas
minha mente estava em Liliane e no que eu queria dizer a ela, então era isso
que eu faria, e que tudo se fodesse. Queria esclarecer tudo para Lily, afinal
Porém, não foi por isso que não fui correndo até ela, e sim porque
Além disso, precisava checar se tudo dera certo com a libertação das
meninas e pegar Pablo; eu era sua carta de alforria da máfia, ao menos até
à sua frente. Por sorte, não eram do nosso lado, e sim do de Lorenzo.
Avistei Daemon.
correndo para a lateral da floresta, onde antes tinha uma cerca, que foi
removida. A ruiva que reconheci como sendo Evelyn foi atrás dele, assim
― Não sei, mas posso jurar que foi o que Matteo pediu para Vip fazer
falando.
A única coisa que pedimos para que Shadow fizesse foi forjar a morte
de Pablo, que estava no calabouço daquele lugar. Agora seria uma boa hora
para fazê-lo desaparecer, assim ninguém saberia dele.
câmeras funcionar, mas eu não acreditava que Lorenzo pensaria nisso assim
― Está pronto para ir? ― perguntei assim que cheguei até ele. ― O
que esteve preso por anos. ― Sempre pensei que o inferno fosse na Terra,
pudesse ver o abismo em seus olhos. ― Pena que Lorenzo não está nestas
Enquanto ligava o carro, telefonei para ela, mas não atendeu. Isso era
incomum, pois, toda vez que eu ligava, ela atendia rapidamente, como se
ficasse com o telefone o tempo todo. Isso só me dizia uma coisa: Lily estava
Deixei Pablo no esconderijo e fui para casa, mas antes liguei para
infarto ― respondeu.
― Espere... o quê? ― O maldito não podia morrer daquela forma, ele
― Quem está aí com você? ― Pela forma como falava, não parecia
― Luca e meu tio. Estamos torcendo para meu pai sair dessa. ― Sua
voz soou preocupada no final, mas não era apreensão ali. Ele apenas não
queria que Lorenzo morresse daquela forma. Eu apostava que eram aqueles
avisei.
― Tome seu tempo. Fiquei sabendo que, ao fazer o que pedi, você foi
ninguém ouvir.
A enfermeira devia ter se antecipado e revelado a ele sobre a facada
Esperava que sim, porque, se Lily tivesse se machucado, alguém iria sangrar.
Assim que a tranquilizei, liguei para Moor.
― Espero que esteja com ela sob suas vistas. ― Acelerei o carro
enquanto falava.
― Liguei algumas vezes para relatar que ela saiu da casa. Agora está
Estou a caminho.
― Sim, chefe.
estivesse com raiva de mim por ter demorado a vir atrás dela, também
estava contente por ela ter saído de casa. Perguntei-me quais as razões para
Liliane ter feito isso. O que pensava? Estaria ela querendo ir embora e me
Então ele começou a se mover. Saí do carro às pressas e corri pela areia,
Não precisei andar muito, avistei-a em uma área deserta. Não tinha
ninguém por perto, só dois homens em uma barraca à distância, sendo que
Ela olhava para o imenso lago, imersa em seus pensamentos, mas seus
Ao som da minha voz, suas costas ficaram eretas. Ela nunca reagira
enxurrada de fúria contra mim mesmo, porque fui eu que a deixei assim. A
dor que se estendeu em meu peito era pior do que a que eu sentia naquela
Estava feliz ao lado de Samuel e vovó, mas, depois que ele fez a
não conseguia me olhar nua, como poderia dizer ao Samuel que o amava?
Como poderíamos ser um casal de verdade? Como eu lhe daria o que ele
precisava?
Doía fundo pensar que eu não era completa. Queria ser, mas como
Sempre pensei que ele não estava com ninguém, e meu mundo ruiu quando
ouvi a voz de uma mulher interagindo com ele quando lhe telefonei. Samuel
estava com outra, enquanto eu estava ansiosa para fazer um jantar para ele.
Tinha passado a manhã toda animada e sentindo a sua falta, afinal trabalhou
Eu devia ter dito antes que o amava, mas era tarde demais. Eu o havia
perdido para outra pessoa, tudo por não ser uma mulher igual às outras. Se
fosse, teria lhe confessado meus sentimentos e dito que podia ser o que ele
quisesse, mas não, não tive a capacidade! Nem podia sair de casa sem ele,
exceto quando ia à praia. Como ele poderia querer uma mulher assim?
estava sangrando.
Saí de casa, querendo fugir da dor que me consumia, mas sabia que,
sentei na areia, pondo a mão no peito e desejando arrancar aquela dor, mas
era impossível.
Tinha conseguido lidar com cada passo dado até ali, mas não sabia o
que fazer com aquela dor. Estava angustiada, sofrendo por Samuel ter
seguido em frente.
Poderia ficar feliz por estar mais uma vez do lado de fora e admirar a
perfeição daquele lago imenso, mas o buraco em meu peito impedia tal
sentimento.
Por que Samuel não me revelou que está vendo alguém? Bem, não
seria mais fácil, de qualquer jeito ia doer, pensei amarga, embora não teria
poderia levar aquela mulher para lá. Além disso, quando ele saísse, eu me
perguntaria se estava com ela. Ou talvez até a trouxesse para morar em sua
Logo uma ideia me veio à cabeça. Poderia ir morar com Bonnie! Não
dependeria dela, claro, poderia arrumar um emprego. Não sabia como nem
qual, só precisava ir para longe dali. Bonnie sempre me ajudava, ainda que,
atualmente, nós nos falássemos mais por telefone. Sentia sua falta.
Peguei meu celular no bolso do short e liguei para ela. Tinha chegado
― Oi, Liliane! Como vai você, querida? ― perguntou ela assim que
atendeu.
Está chorando?
Prometo que vou lutar para conseguir um emprego e não depender de você.
não pudesse ficar em sua casa, para onde poderia ir? Não tinha dinheiro e
Alisei meu peito como se isso fosse fazer a dor parar, então contei a
― Oh, Lily, tem certeza de que ele estava com outra? As aparências
enganam.
― Pelo que ela falou, parecia ser isso mesmo. Além do mais, eu o
vir à praia!
― Sim, estou.
― Fico feliz por você estar dando um passo desse. O que a motivou a
curiosidade.
― Estava farta de tanto medo, por isso resolvi sair a primeira vez.
― Depender dos outros não é ruim até certo ponto. No seu caso,
entendo que queira trilhar o seu próprio caminho, embora os motivos pelos
quais anseia fazer isso sejam errados, afinal você quer fugir dele. ―
relaxada.
― Claro que sim, mas acho que deve falar com Samuel antes. Depois
que conversarem, se ainda quiser vir, as portas estarão abertas. Mas promete
ouvi-lo antes?
Eu não iria embora por ele ter ficado com outra pessoa, ele era livre
para fazer o que quisesse. Só não podia ficar ali, esperando que, a qualquer
hora, aquela mulher ou outra qualquer aparecessem. Não suportaria ver isso.
Entretanto, ela estava certa; não custava nada conversar com Samuel,
era o mínimo que eu podia fazer depois do tanto que ele havia me ajudado.
Uma parte de mim queria correr para longe, assim não o ouviria confessar o
que tinha feito com outra mulher, pois Samuel não era de mentir.
― Prometo ― garanti.
pensar que não sei se poderia dar o que ele precisa caso me amasse.
praia.
pediu. ― Não sei, mas algo me diz que não é nada do que você pensa.
fundo, não culpava Samuel. Nunca tinha visto nenhuma nuance de que ele
estivesse interessado em mim, apenas me tratava bem. Seria normal ele ter
Também era por isso que eu não podia ficar. Não queria que se
Samuel devia ter deduzido o que eu sentia após ter encerrado a ligação
Fiquei de pé, pronta para voltar para dentro de casa. Tinha dado um
passo gigante ao resolver sair sozinha, alguns meses antes, e dera certo; o
Fazíamos isso sempre. Até então eu não havia conseguido lembrar quem eles
estivesse dentro de uma fornalha. Tinha planos de ficar boa, mas queria fazer
isso com ele ao meu lado. Sua presença me dava mais força, provavelmente
porque eu o amava.
algo corriqueiro.
Pisquei aturdida.
cuidar disso.
casa. Nossa casa! Queria que fosse... No entanto, não era hora de pensar
― Lily...
― Samuel, depois conversamos. Agora você está sangrando. ―
Estava aflita.
― Não ligo. Só não quero ver essa dor em seus olhos. ― Sua voz saiu
em um sussurro de dor.
― Raio de Sol...
suplicante.
― Tudo bem. ― Entendi suas razões. Não queria preocupar sua avó.
Achei que já soubesse do neto, mas seus olhos estavam em mim. Correu e me
rouca.
Encolhi-me por dentro ao vê-la assim. Devia ter-lhe dito algo quando
saí.
Sorri.
emocionada pelo carinho que tinha por mim. ― Peço desculpas por ter saído
assim.
― Tudo bem, mas o que aconteceu? ― sondou, olhando entre mim e
Samuel.
ofegante.
camiseta.
daí mostra que não está bem. Agora vamos cuidar disso. Sente-se ali. ―
Indiquei a cadeira.
gaveta de baixo.
limpando o sangue.
tentou...
Fiquei feliz por ele tê-la defendido, fosse ela quem fosse.
ser atacado dessa forma, não importava se ela estivesse com o amor da
minha vida.
que havia colocado fazia pouco tempo, e virou o braço para mim. ― Acha
que, se eu estivesse com outra pessoa, teria colocado o seu nome aqui?
alma! ― declarou com fervor. ― Não fico com ninguém desde que a
resgatei.
Arregalei os olhos.
― Pode ser, mas não acho justo ficar com alguém, sendo que a única
disso agora.
― Sou uma idiota também, por fazer suposições antes de falar com
forma. Ainda bem que ele não tinha estado com ninguém, que tinha me
― Sinto muito por ter sofrido. ― Tocou o contorno dos meus olhos,
sentimentos. ― Sorri.
e se eu...
calma.
Ouvir isso dele era muito importante para mim, mas tinha cansado de
esperar ficar pronta. Fazia tanto tempo que eu desejava aquilo, e agora o
tinha ali, ao meu alcance. Não custava nada tentar. Levei o meu rosto ao
sensação do mundo.
― Olhos em mim, Raio de Sol ― ele pediu nos meus lábios. Fiz o que
pediu e notei que temia que eu surtasse. Isso me fez amá-lo ainda mais, se
fosse possível.
um momento, achei que tinha perdido tudo, e então descobri que um milagre
havia acontecido em minha vida. Samuel era o milagre que Deus enviara
Olhei para aquele rosto perfeito tão próximo ao meu, sentindo seus
lábios macios roçarem a minha boca. Porra, não havia nada melhor do que
aquilo.
que sentia, devia ter deixado meus sentimentos mais claros, embora o fizesse
às vezes, pois a forma como eu a tocava mostrava que a amava, mas ela não
teria como saber disso, afinal nunca havia namorado ou tido algo nem
Mesmo o beijo sendo casto, foi o melhor da minha vida até então. Meu
Suas mãos foram até minha barriga, fazendo-me gemer. Não pude
segurar o som.
me esquecido da dor.
Ela riu.
― Não, acho que foi por eu ter corrido para chegar até você.
minha mão.
― Não lamente, está tudo bem. Esse local sangra fácil. ― Não queria
que se sentisse culpada. ― Só vou trocar essa calça suja, então podemos
conversar.
Não queria atender, mas podia ser importante, não podia me dar ao luxo de
tela.
― Então a Lily pediu para morar com você? ― Cheguei perto dela,
― Sim. Deu a entender que você ficou com outra mulher. Ficou? ―
Frisou a pergunta.
acelerar um pouco com meu toque. ― Ela nunca irá embora daqui, não é?
― Não irei ― respondeu Lily meio ofegante. Seus olhos diziam que
jamais me deixaria.
Sorri pelo que meu toque fazia com ela, a forma ansiosa como
almejava mais. Sabia que teria um caminho longo a percorrer ainda, só tinha
subido um degrau. Agora era lutar para ir para o próximo e o próximo, até
chegar ao topo.
Liliane, aquele beijo não tinha sido mais do que um selinho. Fiquei com
― Tudo bem, estou feliz que vocês se acertaram, estava rezando para
para Lily.
você me amava.
― Eu sei, por isso sou estúpida por não ter perguntado antes em vez
de agir como uma menina apaixonada com ciúmes. ― Suas mãos vieram
― Não há motivo para ter ciúmes, sou só seu, Raio de Sol ― declarei.
Sorriu.
― Não, eu nem queria. Já te contei qual era o meu medo, mas, como
― Não fui eu que a salvou naquele dia, foi meu chefe. O nome dele é
Ela piscou.
― Não sabíamos sobre a fazenda, o que acontecia lá, até que Zaira
sempre.
Ela estremeceu com a lembrança.
do lado de fora, dando cobertura a ele e Luca, mas fez isso porque sabia que,
― Sim. Eu estava de vigia quando ele saiu com você... Aquela visão.
você.
― Foi ele que ordenou que cuidasse de mim? ― Tentei avaliar como
ela estava reagindo a tudo aquilo, mas seu rosto estava em branco.
ela entendesse. ― Consegui tirar você daquele lugar, mas sua pulsação
estava fraca. Enquanto a carregava em meus braços, só queria que
continuasse viva. Não sabia que você ouviria, mas pedi que lutasse pela
vida.
fim.
― Fico grato que tenha ouvido e lutado para estar aqui, ao meu lado.
Só queria que você sobrevivesse. ― Apertei sua mão, que ainda segurava.
― Não acho que Ele ouviria alguém como eu, um assassino, alguém
forma, após você acordar, me falou que acreditava nele, então suspeito que o
afirmou convicta.
― Pode ser.
Ela piscou.
― Meu plano era esse. Não podia sair por aí acabando com todos de
uma vez, embora fosse meu desejo. As mortes não deviam ser relacionadas à
máfia, pois Lorenzo podia desconfiar, e as coisas sairiam mal. Ele podia se
livrar das outras meninas, bem como desconfiar do objetivo de seu filho.
restavam. Não sei como descobriu os nomes, mas se livrou deles antes que
eu pudesse evitar.
é?
Sacudi a cabeça.
as meninas libertas, vou atrás dele e descobrirei quem é. ― Era algo que, se
― Vai atrás dele para... matá-lo? ― Sua voz falhou, enquanto ela
colocava a mão no peito. ― Meu coração bate forte quando penso nisso.
― O que descobriu?
para ele não fazer aquilo. ― Eu poderia ter-lhe dito isso antes, mas achei
melhor guardar comigo. E como, após o seu sonho, ela não mencionou nada,
têm são você, que não lembra, e o russo, por isso pretendo achá-lo, para
― Queria poder recordar. A única coisa que sinto é que esse homem
da praia e as outras crianças, bem como a mulher sem rosto, de algum modo
sussurrou.
Evelyn quanto a aliança que fizemos com os MCs, assim como a queda do
lugar.
segurança das outras meninas. ― Suspirei. ― Ele será um bom capo assim
surpreso com o fato de o russo não ter feito isso. Ele deve saber de Lorenzo.
todo modo, Lorenzo infartou hoje. Dá para acreditar? Ele merecia morrer de
― Não tenho medo de você. Só é estranho ver esse seu lado feroz,
― Isso muda o que sente por mim? ― Não sabia se queria ouvir a
perigo jamais faria tal coisa. ― Indicou o meu ferimento, que tinha parado
com que me olhasse. ― Também amo você mais do que tudo no mundo.
Quando senti seu calor e sabor de framboesa, quase perdi o fio da meada,
mas controlei meu impulso de acelerar da forma como gostaria. Não queria
assustá-la.
peito, enquanto retribuía com tanto vigor quanto o meu. Ainda sentia que
ainda só nos beijássemos. Não ousei ir mais a fundo, estava indo com calma.
estava em coma, o que tornou Matteo capo. Isso era bom, mas surgiram
Meu amigo e chefe precisou se livrar de muitos deles. Boa parte dos
da família, mas não tocaram nas jovens esposas. Tinha muita honra em nossa
naquele assunto.
― Espero que tenha boas notícias. Estou até agora aqui, e não consigo
coxa direita. Senti-a ereta por um segundo, mas a fiz relaxar com o toque
as fotos e tudo que consegui descobrir sobre eles para você. Um deles me
chamou a atenção. Após você verificar as informações, conversamos. ―
lendo cada linha escrita sobre eles. Alguns eram matadores por linhagem
vestido com jaqueta de couro, de cabelos loiros e olhos azuis, parecido com
ela.
Lyn, o Fantasma.
assim como seu mentor, Lyn. ― Suspirei. ― O estranho é que não há nada
do passado dele antes de ter se tornado quem é.
― Sabe seu nome? ― Ela levou a mão até a tela, tocando na imagem
abismo neles.
― Para mim?
Babochka...
― Certo ― interrompi-o. ― O que está escrito nessa mensagem, além
ele a mandou.
“Minha Babochka,
Você se tornou tão linda. Lamento não estar ao seu lado. Sinto tanto
por não ter sido capaz de impedir que aqueles miseráveis a tocassem.
Quero que saiba que, assim que eu soube que estava viva, procurei-
a, mas não tive êxito, até vê-la naquele dia na praia. Eu a reconheci na
hora, embora esse rosário que carrega também tenha ajudado com isso.
Fui eu que o dei a você, afinal parecia amar quando íamos à igreja nos
domingos.
Princesinha linda, não sabe o que sinto por não a ter protegido. Não
posso fazer muito agora, a não ser fazer todos pagarem caro, mesmo
sabendo que nada é suficiente para apagar o que você sofreu.
Posso jurar que eles estão sofrendo a cada dia. Inclusive irei fazer
Eles a deixaram com medo do mundo. Você não sabe, mas era uma
menina valente, mesmo com apenas oito anos, adorava lutar conosco, e
seu sonho era ser um soldado. Não sabia que, em nossa família, lutar não
é permitido a mulheres, mas recordo que insistiu tanto com nosso pai que
ele cedeu. Pensou que, com o tempo, você acabaria desistindo, mas eu
sabia que não faria isso; a ferocidade que tinha não podia ser apagada
com o tempo.
Hoje mesmo, ainda que não se recorde das coisas, sei que essa
ferocidade está escondida em algum lugar em seu interior, por isso não
Sei que ainda não é capaz, mas em breve será, sinto isso. Eu até lhe
família, quem vendeu nós dois como se não fôssemos nada. Saberei quem
tirou tudo de mim, quem matou nossos pais e minha outra bonequinha
linda.
ainda mais ao saber que alguém da própria família foi capaz de fazer algo
souber quem foi, você corre perigo. Espero que Samuel a mantenha
lágrimas.
― Ele disse que nossos pais e nossa irmã... Será que é a mulher sem
queria mentir para ela, então optei pela verdade, mesmo que fosse dolorosa.
consigo entender algo: quem nos traiu? Foi mesmo nosso pai? Pelo que ele
Era verdade. Pela forma como o russo escreveu, deu a entender que
ela.
― Vou lhe dar algo que o faça vir até mim. ― Escrevi uma mensagem
― Sim. Ele busca quem vendeu vocês dois, e, pela forma que
mencionou, os pais pareciam sentir sua perda. Acredito que não saiba que o
pai de ambos foi o mandante. ― Não gostei de saber disso, afinal tinha
Algo que o russo disse me chamou a atenção. Parecia que ele não
― Chefe ― falou.
― Vou enviar alguns documentos que preciso que analise. Espero que
Sacudi a cabeça.
― Leia tudo com atenção e busque fundo a verdade por trás dessas
reportagens, pois tem algo aí que não está batendo. Suspeito de que estejam
vivos. ― No fundo, queria que estivessem; só assim para eu ter minha vez
enviar ao russo. Agora era só esperar que ele entrasse em contato comigo.
― Pode contar comigo, chefe. Ligo logo que tiver notícias ―
irmão.
voz falhou.
veria que isso seria algo impossível. Ela não tinha nascido para ser uma
― Não irá fazer nada que não queira ― prometi a ela. ― E o russo
disse que, se você não desse conta de fazer o serviço, ele mesmo faria.
― Ele vai atrás de Lorenzo! ― Olhei para ela, ainda sentada no meu
embora não pudesse ter certeza de que não o mataria, afinal ele poderia
― Aviso, sim. ― Beijei seus lábios de leve. ― Lamento por seus pais
e sua irmã.
― Talvez seja melhor não se lembrar, pois a dor pode ser pior. ―
Ela me avaliou.
Eu não sabia quando estaria, mas queria fazer aquilo logo, contar-lhe
tudo sobre o meu passado. Só precisava estar com a mente aberta, e naquele
monstro sem barreiras para concretizar sua vingança. Aquilo era visível em
suas palavras e atos. O fato de ele estar por todo aquele tempo com os
bom era que, se ele não tinha matado nenhum deles, eu daria um jeito de ter
minha oportunidade com os infelizes, mas primeiro precisava localizar o
que ele iria para lá, até fiquei algumas horas de tocaia, mas nada de o infeliz
aparecer.
Eu estava no hospital de novo, mas era hora de desistir; Beast não iria
dando bem como capo, só houve alguns imprevistos com os vermes que não
― Luca.
fundo.
por não querer entregar as garotas com quem são casados e os traga aqui, ao
― É uma pena que esses gritos que ouvi não sejam os seus.
deles.
Por tantos anos estive impotente devido ao velho asqueroso do Lorenzo. Não
minha vingança chegara; podia não ter quem eu queria, mas aqueles
serviriam.
Sorri com frieza vendo os homens presos e nus diante de mim. Seus
medos eram meu alimento. Alguns diziam que eu não tinha alma; nessas
― Você não sabe com quem está mexendo... ― sibilou John. Ele era
Alguns dias antes, descobri onde seria a reunião que o mercado negro
teria com seus convidados. Falei com o capo e apreendi o grupo inteiro.
e outros em outra sala ao lado. Eram tantos que foi necessário dividi-los, e
alguns ainda foram mortos no processo.
― Seus vermes, ainda falta o pior de nós, mais poderoso do que você!
Merda, se tinha faltado um, isso não era nada bom, ainda mais após
conta dos que estão na outra sala. Faça-os sofrer antes da morte ― disse
senador.
todos que eu queria ver sofrer por machucarem mulheres e crianças. Eu era
um bastardo de coração frio, sim, porém, tinha minhas regras: não curtia
― Por favor, me deixe ir! Prometo que não vou mais a lugares como
cuspindo o líquido.
― Mandando todos para o inferno. Vocês não merecem uma bala, isso
não os faria sofrer. Terão uma morte muito dolorosa, seus malditos, igual
em seus olhos por nos matar! ― urrou outro, vendo o fogo se aproximando.
morrer queimados.
Patrick Petrova? Bosta! Isso ficaria feio. Ele era o chefe de uma das
correndo perigo de novo. Por mais que eu a quisesse comigo, não permitiria.
bem? Não sabia se seria capaz. Nos últimos meses ela vinha se esforçando
para conseguir lidar com seus medos. Estava mais independente, indo mais
cada passo seu. Conversei com vovó sobre isso, e ela me contou que Liliane
queria me fazer uma surpresa assim que conseguisse lidar com aquele seu
outro medo, de estar entre pessoas. Fingi que não sabia. Estava orgulhoso da
minha menina linda. Se ela queria me fazer uma surpresa, que assim fosse, e
eu não deixaria nada nem ninguém entrar em nosso caminho. Dizimaria todos
se fosse necessário.
― Tenho até pena da pessoa a quem for dirigida essa fúria iminente ―
comentou Luca chegando perto de mim. Matteo estava ao seu lado com a
― Merda, isso vai ser uma merda fodida! Patrick Petrova! Porra! ―
rosnou o capo. ― Não preciso dessa porcaria toda agora, com tantos
problemas.
― Verdade, sem contar com a menina por quem você está louco ―
apontou o primo.
absorto nos últimos dias, mas percebi que Matteo estava interessado em
Irina, a irmã caçula dos Dragons, que morava em Chicago com um nome
falso.
outro cômodo.
― Você está fodido ― afirmei para Matteo. ― Vai ficar longe dela?
Avaliei-o de perto.
― Acha que não sei disso? ― Sacudiu a cabeça. ― Vou lidar com as
coisas. Agora me diz o que anda tanto fazendo no hospital? Parece que vigia
Eu ainda não tinha lhe contado nada, estava esperando falar com o
infeliz ser irmão de Liliane? ― Controlei minha voz, que soou fria.
― Não, mas o amor pode direcionar sua lealdade mais a ela do que a
Perguntei-me se sua história com Irina tinha ido mais a fundo e se ele
havia esquecido Evelyn, embora eu achasse que ele nunca tinha amado a
ruiva de verdade.
fodido.
― Bota fodido nisso. Não lhe contei ainda, mas Beast não matou todos
indagou Luca.
creio que estejam sendo castigados em algum lugar. Ele está guardando os
monstros para que a própria Liliane possa se vingar, por isso achei que ele
iria atrás de Lorenzo para matá-lo. Eu só quero saber onde eles estão.
sofrendo muito.
Matteo mencionou.
sentando-se no sofá.
demais.
― Matteo se sentou.
― O que é?
― Tem certeza?
― Sim. Enzo sabia há algum tempo e não nos disse. Estou apurando os
fatos. Nós só soubemos depois que Luca ouviu uma conversa de Enzo ao
telefone.
Tínhamos grampeado seu celular para descobrir caso ele tivesse a
intenção de ir atrás de alguma das meninas que foram libertas e estavam com
suas famílias.
― Não sabemos onde ela está. Vou precisar verificar a fundo isso para
saber o que aconteceu, pois foram anos achando que ela estava morta. ―
Sacudiu a cabeça. ― Seja qual for o motivo, espero que ela esteja bem.
― Ele só sabe que ela está viva, mas não o lugar em si.
― Como ele descobriu sobre ela, mas não sabe onde está? ― Tinha
com ela pode levá-la para longe. Preciso ver onde estou pisando.
Eu sabia que ele tinha razão, mas, antes que comentasse algo, meu
telefone tocou.
apaixonados.
― Não fale besteira ― rosnou o capo.
ligação, olhei para Luca. ― Não se esqueça da menina Morelli a qual está
aguardando.
Fechou a cara, e saí antes que ele soltasse sua fúria dirigida a mim.
Sabia que fazia algum tempo que ele não ia mais à Itália ver a garota. Não
― Raio de Sol, tudo bem? Aconteceu algo? ― Fazia tempo que ela
coisas?
Antes que ela terminasse de falar, saí do galpão como um maldito raio,
Fiquei feliz em saber disso e queria vê-lo, mas não conseguimos localizar
seu paradeiro. Era só esperar que ele entrasse em contato comigo. Eu sabia
que entraria.
meu redor, especialmente estranhas, e pensei que o melhor lugar para isso
era o restaurante da vovó. Ela se prontificou em me auxiliar na cozinha.
que queria. Lutei tanto desde que fui resgatada para não ficar dependente dos
trabalhar. Trilharia meu caminho, mas queria fazer isso com Samuel ao meu
lado.
agora ― Samuel me disse quando estava de saída mais uma vez para tentar
― Por que não quer isso? ― sondei curiosa. Ele não escondia a raiva
― Não se preocupe, vou impedir que ele faça isso. Além do mais,
Lorenzo está vegetando, não sentiria nada caso fosse morto. Tanto eu quanto
Beast queríamos que ele sofresse aqui, não apenas no inferno, afinal tudo o
Eu sabia que ele merecia pagar por tudo que fez, mas Deus sabe de
membro não poder matar Lorenzo, bem como, caso alguém de fora o
aquele homem cruel, se ele matasse alguém da família, então sua sentença
seria a morte.
quando iria ver a minha. Meu coração doía ao imaginar que não iria ver
Nos últimos dias, havia recordado o sonho que tive com o meu pai.
Tinha algo estranho nele, não era parecido com um sonho. Parecia tão real...
Por que o meu irmão não acreditava que fosse o nosso pai o traidor? Sua
Sol.
sua bondade, seu carinho. Era um homem que muitas mulheres pediam a
Deus, mas eu fui abençoada com seu amor. Graças a Deus e ao chefe dele,
― Sim?
― Agradeça ao seu chefe por ter salvado minha vida. ― Um dia
você.
medo de ficar perto de pessoas estranhas. ― Queria poder sair com ele, ir a
apta a seguir adiante. Uma senhora me ajudava quando vovó saía, seu nome
― Você ama muito meu neto. ― Não era uma pergunta. ― Fico feliz
pelos dois.
estabelecimento.
travar.
― Está indo bem, Babochka. ― Era uma voz que eu parecia conhecer
arregalados.
Estava em choque por vê-lo ali. Não era medo, aliás, no fundo, estava
― Não me quer perto de você? ― Tinha uma nuance em sua voz que
― Por que deu essa pista se não ia aparecer lá? ― sondei, querendo
entendê-lo.
― Precisava mantê-lo ocupado, assim ele não iria atrás dos outros que
― Por que não os matou ainda? Saiba que não vou matar nenhum
com frequência.
Sacudi a cabeça.
― Não ligo para o que faça com eles, só não vou eu mesma me vingar.
Quero seguir minha vida e não posso fazer isso se tiver de pensar neles a
cada segundo. ― Fazia anos que lutava contra os meus demônios, contra o
Assentiu.
Sorriu. Agora parecia ter calor em seus olhos. ― Estou feliz que esteja
Sua expressão se fechou, e ele olhou para a janela do local, mas não
parecia ver nada do que havia do lado de fora. O abismo dominava seus
olhos claros, tão lindos, o que não acontecia com a criança de minha
imaginação.
somos sombras de nosso antigo eu. ― Sabia que ele não falaria. Fosse o que
vidas diferentes agora, mesmo assim não conseguimos tirar da cabeça tudo
Pela forma que ele falava, parecia que teve o mesmo caminho que eu.
― Não tem outro nome com que possa ser chamado além de Beast?
Sorri.
notei mais coisas... Não sei ao certo, é meio confuso. Parecia mais uma
eu suplicava para ele não fazer aquilo, mas é confuso. Eu queria ver a
recordar direito.
― Não, mas tínhamos uma casa nas Maldivas, íamos para lá direto.
Samuel?
― Acho que posso resolver isso. ― Pela sua voz, parecia bem
esperançoso.
― Como?
locais aos quais ia quando era criança. ― Ele parecia convicto de que sua
machucar você.
― Sei que me protegerá, não é isso. Não posso ir sem Samuel, e vocês
dois...
fato? Quem sou eu? ― Precisava saber ao menos nosso sobrenome. A única
coisa que eu sabia era o nome dele, mas isso não ajudaria muito a descobrir
seus olhos.
era saber que Samuel não gostaria daquilo. Entretanto, eu queria recordar
tinha uma chance de isso acontecer, eu aceitaria o seu oferecimento, mas não
protetor? Esperava que ele entendesse que eu precisava fazer aquela viagem.
― Vovó? ― Ele riu parecendo deliciado. Notei que aquela reação era
rara nele.
― Gosto dela como se fosse minha avó. Não quero que se preocupe
caso eu saia do nada. Vou dizer a ela que irei para casa mais cedo.
Depois que eu soube que Andreas era meu irmão, peguei-me a pensar
muito nele. Desejava conhecê-lo, entender por que ele viera a ser quem era.
Preferi não tocar nesse assunto por ora, sabia o quanto era doloroso.
― Obrigada. Prometo que não vou demorar ― falei, aproximando-me
Andreas se afastou, e eu saí, mas olhei uma última vez para ele.
― Estou feliz por ter um irmão, ainda mais tão lindo como você. ―
pronta para chamar Samuel. Esperava que entendesse meu desejo de saber
do meu passado.
― Obrigado.
Assenti e olhei para vovó.
― Ele não vai fazer nada, confio nele. Preciso saber mais de mim, por
isso vim avisar que pretendo sair. Não quero que fique preocupada.
― Menina, isso é impossível. Não deve sair assim, precisa falar com
― Vou ligar para Samuel e avisá-lo. Preciso recordar mais sobre meu
passado.
― Sei que meu neto vai dar um jeito de conseguir ajudá-la com isso
sem que você tenha de ir só com seu irmão. ― Percebi que ela temia que eu
saísse sozinha.
Ela pareceu mais relaxada e saiu, deixando-me a sós para falar com
seu neto. Liguei para ele, que, como sempre, atendeu logo.
― Raio de Sol, tudo bem? ― Era essa sua pergunta quando eu ligava
― Beast? Que raio ele faz aí?! ― rosnou com uma fúria capaz de
mas antes quero que prometa que não vai machucá-lo ou brigar com ele ―
supliquei. Percebi, pelos sons ao fundo, que ele estava entrando no carro.
― Liliane...
― Ele só veio conversar e sugeriu me levar a lugares aos quais fui
aparelho estava.
irmã.
Houve silêncio do outro lado, depois um som agudo que indicava que
― Vou levá-la comigo. Acho que sei uma forma de fazê-la se lembrar.
Bom, é uma teoria, vamos ver se funciona. ― Ele soltou um suspiro duro
após ouvir algo do outro lado. ― Vou esperar você no restaurante de sua
avó. Espero que venha sozinho, não estou a fim de me livrar de ninguém
Suspirei.
ouvir minhas palavras, embora não fosse nada que eu precisasse esconder.
― Desculpe por chamá-lo, mas não posso ir sem ele. Samuel e vovó
ficariam preocupados.
― Ia sair com ele sem me dizer? ― Não tinha emoção em sua voz.
― Jamais iria sem você. Por isso liguei, porque preciso ir, mas com
machuque.
juntos. Sabia que não tínhamos garantias, mas sentia que daria certo. Com
Saber disso me fez ver vermelho, tanto que podia sentir a bile subindo
Tentei ligar para Moor enquanto dirigia rumo ao restaurante, mas ele
não atendeu. Isso não era um bom sinal. Chequei as câmeras do restaurante e
vi Beast sentado a uma mesa na parte da frente, próximo à entrada do lugar.
Sua atenção estava na direção dos fundos, onde ficava a cozinha. Sabia quem
possibilidade de ele machucar Liliane. Devia ter alertado Matteo, mas ele
estava com tantos problemas que eu não queria acarretar mais um. Outro
motivo para eu não contar a ele era o fato de saber que ele me mandaria
redor, sondando se Beast estava ali sozinho. Não vi nada à vista, mas podia
― Sim, vovó.
Esperava que, ao fazer isso, não caísse em uma armadilha e fosse
atacado e morto, mas não era provável. Se Beast quisesse aquilo, já teria ao
menos tentado.
― Vou lidar com tudo, vovó, não se preocupe. ― Deixei-a e fui até
Ele sorriu.
― Não carece disso, não vim aqui para machucá-la, como já deixei
claro. ― Ele não parecia nada preocupado em levar um tiro. Ou pensava que
opção.
― Jura? E aquele seu comparsa que sinto nos olhando? ― zombei.
― Se você...
sua voz.
Nós dois nos levantamos, e eu me virei para olhá-la. Ela estava perto
lábios.
pensava, mas com Liliane. Ela estava superando seus medos ao trabalhar ali,
a checar é grande.
Eu não gostava disso, mas não havia uma chance no inferno de ela ir a
sua fúria.
para lá.
Cerrei a mandíbula.
― Não é medo. ― Dei um passo até ele por instinto, mas Lily apertou
saber tudo sobre ele. ― Vamos, preciso de respostas. Acredito que terei
dessa ideia.
esperançosa.
Darkness. Dois dos filhos do casal Volkov foram dados como desaparecidos.
Um deles era o filho mais velho; a outra era uma de suas filhas. Anos mais
desaparecida!
“Deus é promessa”.
emocionada.
Liliane corou.
― Obrigada.
Ele não estava exagerando; a minha menina era tudo aquilo e muito
mais.
― Seu nome e o dela não são russos como os dos seus irmãos.
Geralmente famílias russas gostam de dar a seus filhos nomes de sua origem
― mencionei.
russos.
― Vou começar dos caçulas até os mais velhos. Faina era a caçulinha
das mulheres... Ela tinha apenas três aninhos quando a vi pela última vez e
aconteceu? Foi nosso pai? Não, é impossível, afinal ele morreu também.
Encarou a janela lá fora com seus pensamentos longe. ― Voltando aos nomes
seus olhos.
― Então está com sorte, são sete com você. Depois de Faina vem
Kostya, hoje com 19 anos, seguido por Misha e você, com 23.
― Sim. Vocês dois não são idênticos, mas são gêmeos ― assentiu
Andreas. ― Ele era muito protetor com vocês duas, mas mais com você.
― Luta em arenas...
Não queria que Lily soubesse o que seu gêmeo fazia, a forma como
lutava. Não achava que ela lidaria bem com isso. Misha, assim como
soubesse que nenhum dos dois fugiria de uma disputa. Os Volkovs ganhavam
muito dinheiro com lutas clandestinas, tinham muitas arenas pelo mundo
afora.
verdade.
― Demyan tem 25 anos, depois dele vem o Sergey, com 27. Ele é o
Ele não tinha falado tudo que seus irmãos faziam. Eu não queria Lily
― Tenho 29 anos.
de Lorenzo, pensei. ― Por que não assume o seu lugar de direito? Afinal é o
primogênito.
Fiquei curioso por ele não ter feito isso antes. Acreditava que tivesse
um motivo.
― Nenhum deles pode saber que estou vivo. ― Encarou a nós dois.
― Quero descobrir quem nos vendeu. Além disso, estou perto de ter o poder
que preciso para fazer a máfia Darkness vir a mim implorar misericórdia.
no final se prostraram aos seus pés, implorando ajuda. É isso que quer fazer?
― Não entendo. Nossos irmãos fariam algo assim? Eles eram crianças
na época. Seria impossível, não? ― Por suas palavras, ela não acreditava na
possibilidade.
em casa, que era superprotegida. Alguém de fora entrou, nos pegou dormindo
e nos levou assim ― estalou os dedos, ― em um passo de mágica? Isso não
existe. Só podia ser alguém que queria se livrar de mim, só não sei o motivo.
Seja qual for, irá pagar caro. Irei mostrar à ele como o inferno é realmente.
machucado. Não acredito que aquele menino das minhas lembranças tenha
feito isso. De toda forma, na época tínhamos apenas oito anos. Quem fez isso
― Recordo que eu dormia, então uma mão cobriu minha boca e nariz,
mas, antes que eu pudesse ver quem era, tudo ficou escuro. Acordei no
inferno em que fiquei por anos. ― Tanto sua voz quanto sua expressão
estavam mortas.
meus pais.
― Pela forma que fala, não parece acreditar que seja seu pai o
― Não acredito que seja nosso pai. Sempre pensei que pudesse ser um
dos nossos tios, Fyodor ou Maksim, ou até alguns dos nossos primos. A lista
é grande, mas nunca pensei no nosso pai, porque sinto que não foi ele. Na
verdade, agora tenho certeza disso, após Liliane sonhar com nosso pai a
vendendo. Suponho que seja nosso tio Fyodor, que era gêmeo idêntico a
eu o ajudaria.
― Torturá-lo não resolveria nada, a única coisa com que se preocupa
é com a imagem perfeita de poder que passa nas colunas sociais. Vou
destruir a imagem do culpado, depois o farei pagar, ele e quem quer que
esteja aliado ao infeliz. O império Volkov vai virar cinzas e então será
reconstruído.
― Posso ver fotos da família para saber como são agora? ― pediu
Dei o meu para ela, que procurou pelo sobrenome. Logo apareceram
as imagens da sua família. Ela se deteve numa foto do rapaz chamado Misha.
Os dois eram parecidos mesmo, ainda que não fossem gêmeos idênticos.
O carro parou, mas não notei onde. E única coisa que me importava
altos. O pior era que ela lutava e, se permanecesse assim, iria se machucar.
A dor apertou meu peito ao vê-la daquela forma. Era minha culpa por
inconsciente.
para que ela não surtasse quando o visse ao acordar. De acordo com os
exames, ela estava bem, por isso a trouxe para minha casa, mesmo ainda
aguardando-o.
olhando?
olhando o histórico do navegador. As últimas imagens vistas por ela era uma
de Sergey quando criança e outra dele adulto, todo brutal, sem expressão, ao
tempestade.
― Se foi mesmo ele, não pode ter feito sozinho, e você acredita que
seu pai jamais faria isso, então deve ter sido o seu tio, que parece com seu
pai na lembrança de Lily. ― Quando pegasse o maldito, eu o faria sangrar.
estrondou o quarto.
― Quero estar nessa com você ― avisei. ― Tanto com esse maldito
como com seu tio, caso a tenham vendido, pois ela só foi abusada por causa
disso.
Entregou-me o celular. ― O inferno deles tem que ser aqui na Terra, assim
Lily não fará parte disso. Ela não vai matar ninguém. ― Não a deixaria fazer
aquilo nunca.
― Ela me contou que não vai participar e até me pediu que encerrasse
tudo, pois quer seguir sua vida e não pensar no passado. Sinto que minha
irmã ficou mais forte desde a última vez que a vi. ― Olhou para Liliane.
Está indo bem, embora devia ser uma surpresa para mim. ― Eu estava
orgulhoso da minha menina. ― Ficar indo atrás de suas memórias talvez não
― Se não fosse por eles, ela não teria que lutar para ser forte, ela
Ela era uma criança valente. Só agora está voltando a ser assim após passar
Custo a acreditar que ele fez algo assim. Porra, ele só tinha 12 anos da
― Então não quer mais que ela se lembre do que aconteceu? ― Franzi
a testa.
― Não se o custo for lhe trazer dor. Vou buscar respostas do meu jeito.
― Chegou perto dela e tocou seu rosto. ― Depois do que aconteceu hoje,
acho que têm coisas em nossas cabeças que precisam permanecer enterradas.
― Sim. Antes, eu também queria que ela recordasse, mas agora penso
que é melhor deixar quieto. ― Estava furioso por ter de concordar com
aquilo.
― Agora preciso ir embora. Mas, antes, peço que não conte a ninguém
Estreitei os olhos.
algumas laranjas podres no nosso mundo, ainda faltavam mais algumas que
Meu chefe tinha desconfiado de mim mais cedo naquele dia, algo que
nunca havia acontecido antes. Jurei que nunca mentiria para ele. E agora?
embora.
― Antes de ir, me diga uma coisa: por que não matou Lorenzo? Foi só
por querer que a própria Lily se vingasse dele? ― Estava curioso. Algo me
sofresse enquanto esperava que ela estivesse forte o bastante. Mas há outra
razão. Existe alguém que procuro para fazê-lo sangrar, e Lorenzo sabe dele.
pesado. ― Demorou três anos para isso acontecer, mas o cara deve ter me
visto por aqui, olhando a área, então se escondeu. Quando me afastei, ele
rastrear quem eu quiser. Foi através dessa última conversa que ele recebeu
uma notícia que não esperava. Foi por isso que o maldito enfartou ―
grunhiu.
― Que sua filha está viva e que tudo aquilo de homenageá-la foi em
aquelas garotas por causa de uma menina morta, mas que na verdade está
bem viva.
― Sabe dela?
― Na verdade, soube hoje, antes de Lily ligar e dizer que você estava
Ele assentiu.
― A única coisa que sei é que ela mora em Nova Jersey. Pode
que, se ela morava ali, no mesmo estado do irmão, não sabia dele.
não gostando disso. Matteo não ia gostar de saber que tinha um espião em
nossa organização.
que não o procurasse. Pode confiar nele. ― Suspirou. ― Também sei dos
problemas que estão tendo com Nikolai e Petrova e gente do seu próprio
cerrados.
― Não tenho, mas meus irmãos têm, e eu tenho alguém que os espiona
para mim, então sei das coisas. ― Deu de ombros. ― Antes que pergunte
quem é, peço não faça nada com ele ainda, vou precisar de sua ajuda depois,
na hora certa para que vaze uma mensagem aos meus irmãos.
― Certo, também não quero Lily envolvida em nada disso. Até pensei
em deixá-la ir, mas... ― Olhei para ela, depois tornei a encará-lo. ― Minha
ajuda?
― Sim, com uma informação falsa que vazará, mas na hora certa. ―
Seu telefone tocou. Ele olhou para a tela e desligou, olhando para a irmã
mais uma vez. ― Você a ama. Sei disso; se não o fizesse, ela não estaria ao
revelou o nome do homem que procurava, mas não me importei, contanto que
paradeiro de sua irmã, mas ele não atendeu, então telefonei para Luca.
― Samuel ― saudou-me.
― Sabe do chefe? Estou tentando ligar para ele, mas não consegui.
― Ele teve que resolver uma coisa no hospital, mas logo vai estar
aqui. O que é?
― Soube por uma fonte segura que a irmã dele mora em Nova Jersey,
― Sim, está, vovó. Não deu para irmos aonde o irmão dela sugeriu. ―
Após isso, fiquei esperando minha menina acordar, ansioso porque não
sabia como estava sua mente naquele momento. Esperava que ela não tivesse
nenhuma sequela.
tudo que ela passou, mas eu estava realmente preocupado com Lily.
― Não. Achei que íamos viajar com meu irmão. O que aconteceu? Por
preparando para ir aos locais aos quais eu ia quando criança, para tentar
recordar algo, então minha cabeça começou a doer, e não lembro mais de
nada. ― Piscou, ainda com a mão na cabeça. ― Foi isso que aconteceu? Eu
apaguei?
― Então não se lembra de ter descoberto sobre seus outros irmãos? ―
Fiquei chocado por ela ter esquecido tudo aquilo. Teria que ir ao médico
Não queria mentir, mas dizer-lhe sobre Sergey poderia piorar seu
que viveram.
― É estranho... Por que estou aqui? E onde meus outros irmãos estão?
― Estão bem. ― Não era realmente uma mentira, exceto pela irmã
caçula, Faina.
preocupado, mas a médica disse que você ficaria bem. Acho que anda
― Era para ser uma surpresa. Eu amo trabalhar lá, é tão relaxante ―
Sorri.
sempre.
demorará alguns dias para voltar. ― Não era bem uma mentira, embora eu
que nenhum deles estivesse, só o tio. Eu tinha certeza de que esse estava
conhecer os demais. ― Eu queria mesmo isso, não desejava ter de lhe dar
uma notícia ruim caso Sergey fosse realmente culpado e fizesse algo contra
Andreas.
― Na próxima vez vou estar mais alerta para não desmaiar. Estarei
comigo.
Estava grato por sua crise não ter deixado nenhuma lembrança sombria
mais sobre mim, mas ele não quis, alegando estar ocupado. Achei estranho,
Eu sentia que algo tinha acontecido no dia em que saí com ele e meu
irmão, que havia desaparecido do mapa. Não que fosse presente antes.
Quando perguntei a Samuel o que aconteceu e ele me disse que
conversado sobre meus outros irmãos. Então por que eu não recordava?
saber mais sobre mim tinha a ver com meu desmaio e que era por isso que
dia seguinte após eu surtar no carro? Falou com ela em outra língua, por isso
não entendi. Na hora, fiquei frustrada, pois achei que fôssemos uma equipe.
Éramos namorados, mas ele escondia coisas de mim. Até pensei em discutir
com ele quando voltamos para casa, mas ele teve que sair após seu chefe
chamá-lo.
Eu contava tudo a ele. Por que não podia fazer o mesmo? Além disso,
Isso gerava muita desconfiança, não que ele tivesse com outra, pois
Samuel não era desses caras, mas de que havia coisas que ele não estava me
contando, por isso se mantinha mais distante de mim. E tudo isso aconteceu
Estava decidida a não deixar passar. Não permitiria que nossa relação
se deteriorasse assim. Ele não devia hesitar em me tocar; eu ansiava por isso
e muito mais.
com ela, mas no fundo não sabia se estava pronta para enfrentar uma
mesma sintonia.
― Pensei ter entendido você dizer que queria jantar fora hoje ―
comentou, avaliando-me.
Quando falei com ele mais cedo sobre um jantar, estava pensando em
casa mesmo, não porque achava que não estava pronta para sair, mas sim por
Seu corpo se sacudiu. Ele tentou esconder, mas notei como enrijeceu.
― O que eu fiz?
que acha que não preciso saber. Anda escondendo coisas de mim,
mentindo...
Interrompeu-me.
― Não menti...
garganta.
meio de uma conversa com meu irmão. Você ― apontei o dedo em sua
direção, com a voz se elevando ― disse que aconteceu por eu estar cansada,
mas não acredito nisso, não pela forma como vem agindo, fugindo de mim
― Eu não...
― Lily, somos mais que namorados. Você é a coisa mais preciosa para
aquele dia! E por que não me toca? ― Cruzei os braços sobre o peito,
esperando.
frustrada.
punhos.
fazia muito isso, mas estive guardando minhas emoções por muito tempo.
necessito dia e noite, como o ar que respiro. Só peguei leve por causa do
que aconteceu no carro. Temia que isso lhe trouxesse outro lapso.
embora ficasse feliz ao ouvi-las. Significavam o quanto ele ansiava por mim,
mim sobre isso? ― Sacudi a cabeça, magoada. Sabia que era algo assim.
― Estávamos falando sobre seus irmãos, e você pediu para ver fotos
deles. Enquanto as olhava, acredito que alguma imagem deve ter trazido
― Sim. Tinha uma foto de um deles já adulto junto ao tio que é irmão
gêmeo idêntico de seu pai. Aposto que é por isso que você vê seu pai
vendendo-a no sonho.
― Será que um dos meus irmãos e o meu tio nos venderam? A imagem
de qual dos meus irmãos me fez surtar? ― Ainda bem que estava sentada.
Como alguém da própria família podia fazer algo assim? Era crueldade
demais.
― Creio que tudo esteja relacionado ao seu tio, Fyodor. Andreas foi
― Sergey? ― Ouvir esse nome fez minha cabeça doer. Levei a mão à
testa.
― Por isso eu não queria contar. O que está por trás dessa lembrança
é torturante demais para você. Toda vez que ela se aproxima de sua
consciência, sua cabeça dói. ― Respirou fundo. ― Por isso não falei nada.
saber da verdade.
― Você é preciosa para mim, mais do que minha própria vida. ― Não
havia mentiras em suas palavras. ― Sem você, o ar que respiro não teria
serventia.
Pigarrei, emocionada.
mão. ― Não quero segredos entre nós. Quero sentir que confia em mim.
― Confio em você ― afirmou. ― Só não contei porque temia que
sofresse.
― Você esconder coisas de mim me faz sofrer. Sinto que não confia o
bastante em mim, que não acha que eu seja forte o suficiente para lidar com o
que vier. ― Apertei sua mão. ― Adoro o fato de você querer me proteger,
mas não preciso disso. Se eu estiver com você, posso lidar com qualquer
seus braços.
falhou. Tocou meu rosto. ― No fundo, fico feliz por não se lembrar de nada.
nada.
― Contei sobre o seu surto para ela hoje. Liguei para saber o que
precisava revelar e ia fazer isso hoje, mas você me forçou antes. ― Sorriu
torto e lindo. ― Fica ainda mais linda quando está com raiva.
coisas.
Corei.
primeiro foi meu salvador, depois meu amigo, agora é meu namorado. Antes,
mal me tocava, depois segurava minha mão, então passou a me beijar. Amei
cada experiência ao seu lado, mas quero mais com você. Acho que, para
darmos outro passo, já que você teme que eu surte, devíamos treinar. ―
aceitar estarmos juntos só nos beijando para sempre? Pelo que sei, homens
conseguir, ainda assim ficarei ao seu lado. Sou controlado o bastante, além
disso posso cuidar de mim mesmo. Tenho medo por você, porque falar e
molhada entre as coxas. Por um segundo, isso me fez perder o fio da meada.
― Não sei como vou reagir. Você tem razão, falar que estou pronta é
uma coisa, agir é outra. O que peço é para tentarmos. Não saberemos do que
ter pesquisado antes sobre como um casal podia dar prazer um ao outro, mas
temi que isso fosse demais. Na verdade, queria aprender e sentir tudo com
Samuel.
centro.
sentimentos.
Estava tão bom, mas, quando sua mão foi até minha coxa, gelei
Sentia que Samuel ia tirar sua mão, mas não deixei. Não queria dar
que de medo.
― Lily...
para sentar-se em seu colo e me abraçou. Fiquei chorando ali, com a cabeça
em seu ombro.
― Olhe para mim. ― Ele pegou meu rosto entre suas mãos, e não tive
escolha a não ser fitá-lo. ― Você me dá tudo que preciso. Tudo! Não pense o
contrário. Eu te amo demais, não importa quanto tempo eu tenha que esperar.
Aguardaria a eternidade se fosse imortal, mas, como não sou, vou esperar a
agora.
― Estarei aqui para você ― jurou, beijando minha testa com uma
você.
Sorriu.
faminto.
Avaliei-o para ver como estava lidando com tudo aquilo, mas não
consegui ler sua expressão. Ele era bom em esconder o que sentia.
braços.
cozinha.
― Não quero sair, quero jantar com você aqui, ao meu lado. ―
Depositou-me na cadeira.
servir a mesa...
― Eu faço isso ― anunciou, fazendo-me franzir a testa. ― Sei que é
capaz, mas você fez o jantar, então eu o sirvo. Ensinamento da vovó, que nos
Sorri emocionada por ele falar com tanto carinho da sua avó. Nossa
― Às vezes custo a acreditar que isso seja real, que existam homens
― Não vamos tocar nesse assunto. Eu sei que não tenho uma...
falando.
― Você me disse em italiano que sou seu coração e sua alma. Se não
acreditasse que tivesse uma, jamais diria isso, não é? ― Ri de sua cara
perplexa. ― O que foi? Estou aprendendo sua língua com a vovó. Devo
dizer que adoro quando você diz palavras para mim em sua língua materna.
Sorriu.
― Haverá mais delas, ainda mais quando eu estiver com meu rosto
enterrado entre suas pernas. ― Pegou o vinho e colocou a língua para fora,
traçando a taça.
― Ótimo. Acho que sei como começar com o treino de um jeito que
― O que você...
― Fizemos do seu jeito, e não deu certo; agora farei do meu. Acredito
Tinha certeza de que logo quebraria aquela barreira também, assim como fiz
mas seu trabalho foi corrido, e ele teve que fazer uma viagem à Rússia com
seu chefe.
Na hora sugeri ir com ele, como quando fomos à Austrália, afinal não
queria ficar longe dele. Porém, Samuel me disse que não podia, pois não me
após ele chegar machucado no dia do resgate das meninas. Agora estava em
outro país, onde podia estar correndo perigo. Isso me afligia, mas eu não
Uma vez dona Zaira me disse que ser da máfia tinha seu lado sombrio,
mas havia também a lealdade familiar. Pela forma como Samuel era próximo
ao seu novo capo, pelo jeito que falava dele, havia muito carinho e
admiração entre ambos. Eu nunca tiraria algo assim dele, mesmo se tivesse
esse poder. Só rezava para que ele ficasse protegido e voltasse seguro para
mim.
familiares.
por mim. Esperava que um dia tivesse essa chance. Também queria ver dona
Zaira. Até pedi algumas vezes ao Samuel que me ajudasse a encontrá-la. Ele
disse que o faria assim que voltasse. Fiquei contente com isso. Nunca seria
suficiente agradecer-lhe o que ela fez por mim dentro daquela prisão ao não
ainda assim não era suficiente para me deixar cansada e adormecer. Não
― Eu sei, mas é tão vazio sem ele aqui. Esta casa parece maior do que
é ― sussurrei.
― Faça um esforço ― pediu ela, sentando-se à minha frente no sofá.
Assenti.
prioridade para eu conseguir lidar com o trauma por que passei e superá-lo.
― Sim. Tentamos dar um passo a mais antes de ele partir, mas na hora
não consegui, gelei de medo... Não dele, mas ao pensar na dor que passei
― Samuel ficou ao meu lado. Às vezes penso que ele é muito bom
para ser verdade, para ser real. Desacredito que existam homens como ele.
― Samuel sempre foi assim, desde criança. Salvou minha vida mais
Sempre achei que algo sombrio tinha acontecido com ela, mas nunca
me disse nada, então achei que não estava pronta para falar. Um dia estaria,
eu confiava nisso.
― Minha vida não foi fácil. Uma criança deve receber carinho e
proteção dos pais. ― Abriu a bolsa e pegou uma garrafa de bebida. ― Acho
que vou precisar disto para termos esta conversa. Não é uísque ou Martine,
― Você anda com bebidas? ― indaguei confusa, pois não era de seu
garrafa.
― Estava?
Ela assentiu.
participava de uma seita. Falo assim porque ninguém que preze a palavra de
Deus de verdade usaria uma igreja para o que eles faziam com os seus
geral pequenas falhas que jamais deveriam ser levadas em conta. ― Sacudiu
a cabeça com desgosto evidente. ― Porra, não havia nada mais fodido! Nos
pais!
que ouvi.
anos!
aqueles anos com pessoas que deveriam significar proteção, mas, em vez
― Oh, meu Deus! ― Saí do meu lugar e me sentei ao seu lado. ― Seu
minha mãe que me ajudasse a cada vez que era castigada, forçada a...
Meu coração acelerou quando imaginei que ela havia passado pelo
pois era a minha. Ainda doía pensar no assunto, embora eu tenha melhorado
tivesse alguém que a amasse daquela forma. Ao menos ela tinha amigos que
quando fiz dez anos... meu pai me entregou a um dos membros após eu ter
respondido. Não podia ver toda aquela porcaria calada. Não contava que ele
― Bonnie...
― Eles também...
Bebeu mais um gole da bebida. ― Eu queria fugir, mas para onde iria uma
menina da minha idade na época? Não tinha família ou estrutura para fazer
tal coisa.
adolescentes?
― A cidade toda era devota dessa seita, não havia ninguém a quem eu
pudesse pedir socorro. O único era Samuel, mas ele era da minha idade e
passava por maus tratos como eu. Então não podia fazer muita coisa a não
conseguido a liberdade.
mas a tomei de sua mão. Bonnie não era de beber assim. No fundo, eu
entendia por que estava recorrendo ao álcool, mas tinha de ajudá-la, pois
horrorizada demais.
Finalmente entendia a dor que via nos olhos de Samuel. Nunca
tínhamos falado sobre o assunto, mas eu sabia que era doloroso demais para
― Pois têm muitas assim neste mudo ― falou e deu um suspiro duro.
― Elas acreditavam que aquilo tudo tinha um propósito, que era para um
bem maior. Todos fodidos! ― zombou com repulsa. ― Como não viam que
respirava por aí. Sorte dela que Samuel não mata mulheres, ou estaria morta.
― Olhou-me. ― Tentei fugir de tudo isso, mas não podemos fugir dos
― Lutei muito para chegar onde estou hoje, mesmo assim você pode
para revelar o meu passado a você. Às vezes acho que devo abandonar
Bonnie.
― Mas ainda tem esse empecilho que não a deixa ter relações sexuais
Pisquei.
― Não faço. Até tentei uma vez, mas senti repulsa e não consegui,
ficar...
― Deve ser isso. O amor cura algumas feridas. O toque, que eu tanto
temia, com Samuel consegui superar. Na verdade, anseio por ele. ― Apertei
sua mão. ― Sei que não estou cem por cento, mas estou chegando lá. Creio
que vou conseguir dar esse passo. Sabe por quê? ― Não esperei que
que respiro.
um dia não testo essa teoria? Queria encontrar um amor igual ao seu e de
Samuel.
― Obrigada por estar comigo, por ser essa pessoa maravilhosa, tão
doce. Fico feliz por meu amigo e irmão te amar. Vocês merecem um ao outro.
estavam mortos e suspeitava que o pai dele os tinha matado, após ouvi-lo
falando em seu pesadelo logo quando acordei na clínica, mais de três anos
antes.
― Desculpe, Liliane. Isso é ele quem tem de contar.
― Sou eu que lhe agradeço por ter me ajudado inúmeras vezes. ― Era
grata tanto a ela como a vovó e Samuel. Tinha com eles uma família que me
Liliane com seu medo de um toque mais íntimo, mas tive que fazer uma
viagem com meu chefe para a Rússia. Ele teve de ir para lá a fim de proteger
sua irmã.
Matteo descobriu que Dalila, agora Samira – seu atual nome –, foi
adotada quando criança por uma mulher, que morreu. Estava fazendo
faculdade e namorava ninguém menos que Nikolai Dragon. Entretanto, ela foi
ela acabou fugindo. O chefe e eu a seguimos até sua antiga cidade, onde sua
irmã viveu até se mudar para Nova Jersey havia alguns anos.
estávamos. Na hora, achei que a guerra tão esperada fosse acontecer ali, mas
Matteo com a irmã dos Dragons quanto a de Nikolai com Samira fizeram
fazer Sergey e seu tio pagarem caro. Só não o tinha feito até então porque
Ele tinha ficado lá após Nikolai ser baleado. Logo ambos retornariam.
― Sim, acabei de pousar. Deseja alguma coisa? ― Peguei minha
mochila.
coisa.
― Não vou demorar a chegar aí. Enquanto isso, tome conta de tudo ―
ordenou.
Pode ser? Lily sempre me pede para vê-la. ― Entrei em um Uber e segui
para casa.
muito para atenderem. Devia ter pegado o número de dona Zaira; depois
faria isso.
― informou.
― Eu sei, queria falar com você sobre vir visitar Liliane. Ela sempre
carinho pela minha garota. ― O senhor Matteo relata para mim como anda o
estado dela. Ele disse que ela enfim está conseguindo lidar com o que
aconteceu.
ultrapassava o auge.
― Sim. Sou grato a você por ter tentado ajudá-la naquele dia ― falei
Sacudi a cabeça.
― Liliane é incapaz de tal sentimento. Ela entende que você também
― Que bom, fico muito feliz. Pode marcar, que vou vê-la, sim!
Assim que acertei de trazê-la para ver Lily dentro de alguns dias,
desliguei, ansioso para ver minha garota. Antes de continuar meu caminho
para casa, parei na boate, que vendia alguns produtos de sexy shop, e
No dia em que fiz o que ela meu pediu, algo me dizia que não daria
certo, não por eu ser duvidoso, mas por ser realista. Sabia dos seus
que a técnica que eu usaria a ajudaria a se soltar mais. Antes do sexo, ela
precisava confiar em mim nesse sentido, não só com seu corpo, mas também
redor. ― Cadê Lily? Achei que ela fosse trabalhar com a senhora.
― Não, ela mal dormiu esses dias em que você esteve fora. A menina
estava indo trabalhar esgotada, então pedi que ficasse e descansasse, mas
não quis. Por isso, essa madrugada, em razão de sua insônia, dei um
Franzi a testa.
― Ela não me contou isso. Eu até lhe perguntava se estava bem toda
― Acho que ela não queria que você soubesse. Até me pediu que não
Eu não podia acreditar que minha viagem tinha desencadeado aqueles sonhos
― Não são pesadelos, perguntei isso a ela. Liliane sente sua falta. ―
andar.
chegado cedo para vê-la ainda dormindo ou ao menos antes que fosse ao
trabalho.
adormecida.
do seu cheiro, do seu gosto, de tudo dela. Porém, como não vinha dormindo
bem nos últimos dias, eu a deixaria descansar um pouco mais. Enquanto isso,
fui tomar banho, pensando que também precisava de um bom sono. Ficar
aqueles dias longe dela também não permitiu que eu dormisse bem, além de
toda tensão e correria. Esperava não ter que sair de casa tão cedo.
braços ao seu redor e devorando sua boca. Enquanto isso, suas pernas se
envolveram ao meu redor. Levei uma das mãos aos seus cabelos. A outra
segurava sua bunda, firmando-a para que não caísse. Saboreava seus lábios
de modo faminto. Seu sabor era meu alimento. Com seu corpo quente contra
o meu, não pude controlar minha ereção, e Lily ainda não estava pronta para
isso.
― Não acredito que voltou! ― declarou nos meus lábios, após isso
Achei que estivesse sentindo meu pau duro, embora eu tivesse feito de
― Não escovei os dentes, devo estar com mau hálito. ― Ela parecia
realmente preocupada com isso, o que fez uma cor linda tingir suas
bochechas.
Relaxei e puxei sua cabeça para beijá-la de novo, mostrando que não
me importava.
Riu deliciada.
― Por que não me contou que viria hoje? Teria acordado antes.
fazer uma surpresa e consegui. Essa cor em seu rosto é tão linda.
em meu pescoço.
duro. ― Não precisa temê-lo. Ele não vai a lugar nenhum até você estar
pronta.
― A forma como você fala é como se ele não pertencesse a você. ―
Olhou-me de lado.
― Não ligo. Estava pensando, durante esses dias em que esteve longe,
que estou pronta. ― Ela parecia ter decorado essas palavras; ficou claro
Suas pernas ainda estavam à minha volta. Mantive meu pau longe de seu
centro e tentei não me esfregar nela como um cachorro no cio. Sou mais
sacrifício ter que ir com calma, mas freei o beijo, ignorando seus protestos.
― Samuel... ― Eu sabia que a insistência não era por ela estar louca
por sexo. Talvez estivesse um pouco, mas não era só isso. Liliane queria
tentar e saber se iria entrar em pânico. Para que isso não acontecesse, eu
vermelha.
Sorri e saí da cama, tentando manter meu controle. Era difícil, pois,
irregular.
― Presente? ― Foi até a mesinha e abriu a sacola, pegando um dos
itens que comprei. Era uma lingerie vermelha. Arregalou os olhos para mim.
― Isso é...
Ela me interrompeu:
― Eu sei, mas você quer que eu vista isto? ― questionou com a voz
falha.
Suspirei.
― Não me importo que use isso ou nada. Você é linda de todo jeito.
― No fundo, entende, mas está com medo. ― Fui até ela e peguei sua
mão. ― Estive pensando. Sei que teme o sexo devido ao que aconteceu, mas
o que faremos não é nada comparado àquilo. Quero lhe mostrar o verdadeiro
prazer sexual.
medo de eu vê-la nua. Se fosse, não sentiria prazer, não ficaria quente
quando digo que vou chupar sua boceta até matar a minha fome dela. ― Sua
noto a luxúria, no outro, noto que passou a odiar seu corpo. Então pensei: se
― Pensa que reluto um pouco por achar que não gostará do meu
corpo? ― Piscou.
― É uma teoria. Então vamos tentar lidar com isso para ir para o
próximo passo? ― Toquei seu rosto. ― Deseja tentar? ― Esperava que sim,
pois não podia forçá-la. Ela precisa querer aquilo. ― Lily, eu amo seu
corpo, assim como a amo. Desejo passar a língua e beijar cada centímetro
seu. ― Beijei seu rosto quente. ― Quero ouvir seus gemidos quando eu fizer
amor com você. Não faremos hoje, mas logo. Por ora, adoraria vê-la nessas
roupas.
Como falei, não era a roupa em si, mas sim ela confiar em si mesma,
Minha vontade não era sair, mas sim ficar com ela em meus braços para tirar
inquiriu.
― Não, porque não irá resolver. Não quero que entre em pânico de
sua orelha, fazendo com que ela tremesse toda. ― Tão tentadora... Amo tudo
em você.
do quarto.
― Vou lhe dar um tempo enquanto como alguma coisa. ― Não queria
povoava minha mente desde que ele foi viajar, então me derreti em sua boca
e braços. Uma parte de mim sentia que eu estava pronta. Fiquei feliz quando
ele retribuiu o carinho com o mesmo vigor. No entanto, tudo mudou após ele
era demais, embora fazia tempo que eu não sentia isso, desde que Samuel
começou a me ajudar a lidar com o trauma. Bem, cada dia eu sentia que era
dar tempo. Eu realmente precisava disso, assim ele não veria a minha
indecisão.
Seja forte, Liliane, pensei como um mantra. Não podia temer a tudo o
tempo todo.
segurando-a com força. Confiava em Samuel, nas palavras dele quando dizia
que eu era bonita e que não havia nada a temer. Ele me deixava quente em
linda do mundo. Uma parte minha acreditava seriamente nele, mas outra, uma
pequena parte do meu cérebro, temia que estivesse apenas massageando meu
ego. Além disso, tinha medo de surtar quando ele me olhasse tão pouco
vestida. Sabia que era errado não gostar do próprio corpo, mas foi por causa
Porém, não podia ceder a isso. Samuel era meu tudo, ajudou-me
inúmeras vezes, fez com que eu me apaixonasse perdidamente por ele. Eu era
mais forte que os demônios que queriam me destruir ainda mais do que
tentaram um dia.
meu cérebro.
olhei para ver como ela ficou em meu corpo; temia que os meus nervos não
aguentassem.
sentia como se uma bola de chumbo esmagasse meus ombros, mas então
Com ele ao meu lado, eu estava no céu, longe do inferno em que vivi e
para o qual nunca mais retornaria. Samuel, o meu anjo vestido de justiceiro,
era a minha redenção, a minha luz. A cada respiração que eu dava, confiava
Samuel
privacidade; só queria saber o que ela estava fazendo. Por um bom momento,
entanto, não pude ver sua expressão. Seus ombros demonstravam que ela
Talvez não tivesse sido uma boa ideia. Não queria forçá-la a nada.
me querer destroçar aqueles malditos. Era bom que em breve eu teria minha
Estava a ponto de entrar no cômodo e dizer a ela que não íamos fazer
nada para o qual não estivesse pronta, que eu podia esperar o tempo que
e entrou no banheiro.
O meu peito doía por vê-la assim, sem poder ajudá-la. Se fosse por
atormentavam.
Era uma lição para mim, afinal protelava lutar contra os meus havia
muito tempo. A perda dos meus irmãos e da minha mãe era uma questão
difícil de lidar, mas eu o faria, embora a culpa da morte deles nunca sumiria.
Logo eu diria tudo a Lily sobre aquele assunto. Se ela está conseguindo
banheiro. Podia ver, pela alça da peça fora da toalha em torno do seu corpo,
percebesse, e fui até perto dela, que me fitava com os olhos arregalados.
bom.
agora?
Sorri, puxando-a pela mão até um espelho de corpo inteiro que havia
― Não quero, mas achei que fossemos treinar. ― Olhou para a cama.
― Essa cor fica tão perfeita em você, assim como em suas bochechas
― Qual?
― Fazer você amar seu corpo como eu. ― Apontei para o espelho. ―
quisesse me ver!
― Não vai resolver eu ver a beleza dele, pois você não acreditaria se
adorar.
era um psicólogo, mas tinha aprendido algumas coisas com Bonnie durante
adorado sua submissão no quarto, mas esse não era o caminho agora; meu
― Sim, com tudo que há em mim. ― Ela arfava. Ao menos não senti
por isso ela não se via como era e talvez sentisse medo de que eu pensasse a
mesma coisa que eles quando olhasse seu corpo. Tentei não pensar mais
nisso, ou minha fúria estragaria aquele momento lindo. Agradecia por não
ver pavor em sua expressão, ainda que seus olhos ainda estivessem
chão, mas não apreciei seu corpo no mesmo instante. Queria admirá-lo
Suas mãos ficaram ao lado do corpo, mas ela não abriu os olhos.
― Sabe o que eu vejo? ― sussurrei, arrastando minha voz, tornando-a
Sacudiu a cabeça com a respiração irregular, mas não era medo, então
continuei, pois minhas palavras estavam mexendo com ela da forma que eu
queria:
― Não...
fundo.
à minha frente.
― Pois para mim você é a coisa mais esplendorosa que Ele pode ter
em mim? Acha que estou mentindo? ― Deixei meu tom sair magoado no
superior da lingerie, de onde descia uma faixa de renda que prendia a parte
com todas as letras. Morrer era sempre um risco no meu ramo de “trabalho”,
rosto no reflexo, depois descendo o olhar pelo corpo. Quanto mais baixo
― Seu coração não é negro, e, sim, você tem uma alma ― ela
Pressionei as mãos em seu ventre, fazendo com que ela encostasse a bunda
Arfou.
― Este é o meu desejo, não só pelo seu corpo, mas por sua alma
também, por tudo em você. ― Beijei seu pescoço. ― Acredita que a almejo
Assentiu.
― Fale. Quero ouvir a sua voz. ― Precisava saber o que estava
ainda mais: ― Não preciso estar presente nessa hora, isso é com você. Faça
isso até colocar nessa cabecinha linda que você é perfeita, que é tudo que
amo.
seu lado, creio que passarei por isso, assim como passei pelos outros
― Nua?
Estreitei os olhos.
― Não disse isso, sei que não faria ― afirmou. ― É só que será
difícil ignorar esse desejo explodindo dentro de nós, embora eu ache que
Ela bufou.
― Creio que todas as mulheres o desejam ― comentou com tom
enciumado.
lugar certo, bunda empinada, cintura estreita, seios do tamanho ideal para
mim. Respirei fundo, controlando meu pau diante dessa imagem. Não era
― Quando acho que não é possível te amar mais do que já amo, você
Universo inteiro.
Colei meus lábios aos dela para provar o quanto a venerava e a amava
treino com minha própria imagem estava indo bem. A cada dia eu sentia que
uma camada de incerteza e medo ia caindo por terra. Entendia o que Samuel
estava tentando fazer. Queria que eu confiasse nele com meu corpo. Eu já o
fazia, mas existia aquela parte do meu cérebro que resistia. Porém, a cada
devaneios.
porque finalmente veria Zaira, uma mulher que me ajudou tanto naquele lugar
horrível. Ela era uma luz lá dentro para mim e, eu apostava, para as outras
meninas também.
― Ela também está ansiosa por vê-la. ― Ele me puxou para a sala,
onde dona Zaira estava conversando com Bonnie. Vovó tinha saído havia
pouco tempo.
a vi, meu coração se aqueceu por dentro. Estava com tantas saudades dela!
― Oh, minha menina! Sinto tanto por não ter protegido você... ― Sua
voz se quebrou.
― Não foi sua culpa. Jamais pense isso. ― Os únicos culpados eram
obrigação. Aliás, sua função não era se preocupar com nenhuma de nós.
Mesmo assim, estava lá, nos ajudando a não enlouquecer ou temer o que
viesse.
Ela suspirou.
― Deus me perdoe, mas Lorenzo não merece viver. Creio que o que
ele está passando agora seja castigo devido a toda a crueldade que fez. ―
Sacudiu a cabeça.
― O importante agora é vivermos nossas vidas. Não quero deixar o
passado tomar conta de mim e da minha vida. ― Eu tinha lutado muito para
chegar aonde estava e acreditava que estaria ainda melhor com o tempo.
― Fico feliz pelo menino Samuel cuidar de você tão bem. Rezei tanto
a Deus por isso, por você, pelas outras meninas, até pelas que não
Seu semblante ficou triste com a menção às meninas que tiveram suas
fosse líder de uma máfia poderosa, estaria num hospício há muito tempo, de
― Muitas meninas perderam sua vida de forma cruel por algo que não
graças a Deus.
família e forjou a morte da menina para ela não ter de retornar ao mundo da
máfia, para que tivesse uma vida longe de tudo isso. ― Sua voz soou baixa.
O som que saiu de minha garganta era uma mistura de pesar e repulsa.
― O menino Matteo mudou essa lei. Graças aos Céus, sua bondade é
infinita. ― Tinha muito carinho em sua voz ao falar sobre ele e Dalila.
― Achei que ele estivesse feliz por ela estar bem. ― Franzi a testa.
― Não é isso, é que ela está namorando Nikolai Dragon. ― Então ela
narrou que a mãe de Dalila não só forjou a morte da filha, mas colocou a
Então Nikolai estava com Dalila, e Irina com Matteo? Isso devia ser
obra do destino, unindo-os após tanto sofrimento, afinal nenhum deles tinha
mundo era muito injusto. Ainda bem que havia também muita bondade,
pessoas como dona Zaira, Matteo, Samuel, vovó, Bonnie, que cuidaram de
mim e me ajudaram. Com mais pessoas assim, eu esperava que um dia nosso
mundo melhorasse.
― Verdade, menina. Espero que tudo se resolva. ― Suspirei, e ela
sorriu para mim. ― Estou tão feliz por você estar bem. Queria ter vindo
Franzi o cenho.
― Coragem?
remorso.
― Não tinha como você ter feito nada, era uma prisioneira lá. ― Era
questão do meu passado, quem havia vendido a mim e meu irmão, assim ele
estava bem.
Não contei sobre o meu irmão a Zaira. Samuel disse que, por
Seria um sonho toda essa dor ficar para trás, mas ainda restavam as
assim preferia.
ver.
Não sabia havia quanto tempo estava ali após Zaira partir, mas devia
momento tudo se dissipará e vamos acordar, pois não é real? Sinto isso às
todos os dias ao seu lado são ― comentou ao meu ouvido, abaixando a voz,
― E você não?
Franzi a testa.
― Por que você não será beneficiado também? Não quer o mesmo? ―
brinquedos que vão lhe dar prazer ― declarou com uma voz calma, que não
― Sim. Eles são prazerosos e lhe mostrarão uma parte do sexo que
você não conhece e espero que ame. ― Beijou meu rosto. ― Depois deles,
― Vai gostar desse treino também, pode confiar, mas, para isso,
prazer.
Um tremor passou pelo meu corpo, deixando-me molhada. Um mero
toque ou palavra dele me deixava fervendo, por isso acreditava que estava
Interrompeu-me:
― Já foi avisada.
― Falei que ia passear com minha garota e ter uma noite agradável. ―
fazer círculos com os dedos em minha coxa. ― Sua boceta está molhada
cada minuto.
― É bom que esteja molhada. Vai ajudar ainda mais no treino que
olhei para sua boca, imaginando o que ele disse naquele dia que ia fazer com
ela...
― Não acontecerá hoje o que está em seu pensamento, mas em breve
vou usar minha língua entre suas pernas, degustar desse sabor, provar se tem
do seu toque.
― Brinquedos que vão deixá-la quente e farão você gozar. Só não são
tão bons quanto a minha língua e meus lábios sugando seu broto molhado.
― Você escondeu tudo isso de mim, essas palavras sujas. Não sabia
teria fugido de mim. Agora está pronta. ― Deu um sorriso torto e lindo.
esperou por muito tempo. Muitos teriam desistido e partido para outra.
― Desistir não faz parte do meu vocabulário ― disse sério. ― Além
disso, quem ama de verdade espera o tempo que for. Fui o que você
― Casado com você, tendo uma vida ao seu lado, dando tudo que
― Não quer fazer isso comigo algum dia? ― Tinha uma nuance em sua
voz que não entendi. Seria preocupação com a minha resposta? Ele não
diversão? Li sobre ela uma vez, mas, quando eu me casar, quero algo
diferente ― sussurrei.
― Lily, eu estava brincando. ― Sua expressão ficou séria.
agradecida.
― Não pensei muito à frente, mas quero meus amigos, minha família
assistindo... e você esperando por mim no altar. Não preciso de mais nada.
― Sua família?
― Espero que, até lá, eu conheça meus irmãos e que você e eles se
primeiro saber se estão ou não aliados ao tio, assim como Sergey deve estar.
veio mais uma recordação do menino de olhos claros. Fechei os meus olhos,
― Claro que posso. Você é metade de mim, mas sou mais velho que
convicção e ferocidade.
Sorriu para mim com os olhos tão brilhantes que fez meu coração
― Lembrou-se disso?
― Foi uma das lembranças que você esqueceu naquele dia. Na hora,
eu estava mais preocupado com você, porém, tem razão, era para eu ter dito
antes, mas temia que, se dissesse, você fosse à sua procura. Isso pode ser
perigoso. ― Sua expressão era séria, assim como seu tom. ― Peço
desculpas por lhe ocultar algo assim. Prometo que não farei de novo.
Não fiquei com raiva dele, pois no fundo entendia sua preocupação
após o meu surto, mas agora eu estava melhor e estaria ainda mais logo.
― O que ele não deve ter sentido quando fui vendida? Quando
desapareci do mapa? A minha mãe... O que ela não deve ter passado com
Samuel.
Eu confiava que ele faria mesmo isso, embora não mudaria nada, pois
não me traria de volta tudo que perdi nem desvaneceria todo o sofrimento
que passei.
Liliane
completa novamente.
― Samuel...
olhando-me de lado.
Não era por isso que eu estava hesitante, mas sim por pensar que ele
momento em razão de tudo que perdi, porém, agora não era hora para isso;
― Pode ser qualquer um, não ligo mais para a presença das pessoas,
Eu estava ansiosa pelo nosso treino, mas sair com Samuel também era
muito bom.
Não passou muito tempo até que ele estacionou diante de outro
edifício maior que o anterior, rodeado por paredes de vidro, o que dava uma
beleza a mais. Saiu do carro, abriu a porta para mim e pegou minha mão.
cintura.
foi isso que chamou minha atenção, e sim a vista das paredes de vidro: dava
― Sinto muito. Sem reserva, não posso fazer nada, pois não temos
― Chame Leonel, diga que Samuel Mancini está aqui. ― Foi tudo que
ele falou.
― Indicou o local.
Samuel não era rude com os outros, só não era espontâneo como era
comigo, vovó e Bonnie. No geral, com os outros ele era muito sério.
― Sim, claro, por aqui. ― A moça seguiu à frente e nos levou ao local
pedidos.
Arregalei os olhos.
― O dono?
ombros.
― É lindo! Então por que vovó não vem cozinhar aqui?
experimentar?
fraca.
dissipará?, pensei.
Ele sorriu.
mostrando uma camisa preta. Tinha uma corrente grossa no pescoço e uma
barba leve e parecia ser jovem, mais ou menos da minha idade, porém, o
rosto era duro, como se fosse esculpido em gelo ou pedra. Seus olhos eram
O rapaz tinha como foco Samuel, pois não desviou o olhar dele um
segundo.
pouco mais forte, porém, tão fria quanto. Isso me fez sobressaltar, mas não
me movi.
cavalo e barba mais cheia. Os dois se pareciam, então supus que fossem
Minhas mãos tremiam no meu colo, mas eu não ia surtar. Não posso
viver assim, não se queria ser a mulher que tanto Samuel quanto eu mesma
que quer que atingisse meu namorado. Sou forte para isso, pensei.
― Devia ter mais vigias ao invés de só um ― o de olhos claros falou.
em russo. Não entendi nada, mas pelo tom das palavras a conversa não era
de pé e de braços cruzados.
― Acho que vocês dois estão deixando a moça aqui confusa ― disse
O de olhos claros riu, mas seu riso pareceu mais o rugido de um leão e
― Isso não vai acontecer. Vamos conversar agora. ― A mão dele veio
minha frente se desfez, não pude mais manter o pavor trancafiado, saiu como
― Liliane, meu anjo, sou eu... ― Essa era única voz capaz de me tirar
pelo visto, não tinha. Eu tremia nos braços do meu namorado. Pisquei,
encontrando seus olhos. Eles me deixaram mais calma, bem como seu cheiro
inebriante.
gemido de medo...
do jovem.
― Desculpe. Eu fiz isso? ― Estava com raiva por ter surtado assim.
olhar estava duro, mas agora a dureza ia dando espaço a um tormento vivo.
Esse olhar... era tão familiar, igual ao do menino das minhas lembranças.
Como não tinha visto isso antes? Talvez sua expressão brutal tivesse
Aquele olhar...
― Misha? ― indaguei.
calma.
estarmos em uma cobertura com uma bela vista, mas não notei ao redor,
fiquei tensa. Foi mais por hábito do que outra coisa. Ele se deteve, notando
― Não ― respondi.
sussurrei, dizendo isso ao meu cérebro e a eles. ― Por saber quem você é,
não tenho mais medo. Eu reagia assim a Andreas, mas já não faço mais ―
mas seu tormento estava escondido, embora eu pudesse ver uma nuance dele
Arregalei os olhos.
― Sim, há pouco tempo, mas não era para vocês saberem ainda. ―
passo até Samuel, mas entrei na frente de sua fúria desenfreada contra o meu
namorado.
Samuel me escondeu atrás de si, mas não era preciso; o rapaz havia
― Está bem?
― Não vou surtar. Só quero saber o que está acontecendo. Por que
Avistei Andreas entrar na sala, o que fez meu coração bater mais
― Devo estar fazendo algo errado, já que vocês três invadiram meu
Os três o ignoraram.
― Andreas? ― indagou Demyan, piscando, parecendo custar a
― Onde esteve todo esse tempo? ― Misha olhou entre mim e ele. ―
Os dois, aliás.
Andreas.
― Beast? O que seu chefe pediu para fazer com ele? ― Andreas
Meu coração acelerou com essas palavras. Isso não podia acontecer!
― Por que não voltou de onde estava para assumir seu lugar de
― Fyodor nos vendeu como gado, não ligando para o que acontecesse
O veneno gotejava em seu tom. Entretanto, não creio que foi isso que
fez Misha dar um passo para trás, olhando-me. Demyan se escorou na parede
como se não tivesse mais forças. Eles no fundo deviam saber que tinha
ela sonhou que nosso pai nos vendia. Era o rosto dele na lembrança. Então
me diz, irmão, acredita que nosso pai faria isso? Um homem que doou um de
seus próprios rins para salvar Kostya quando quase morreu por problemas
renais? ― Sua voz era carregada de fúria, mas não parecia ser contra nossos
irmãos.
― Papai jamais faria isso! Ele morreu para tentar salvar nossa mãe e
sala e no escritório do nosso pai. Durante o incêndio, nossa mãe ficou presa.
Ele até foi salvá-la, mas ela pediu para ele tirar Faina de lá primeiro, então
ele saiu da sala, mas voltou logo depois para tentar salvá-la novamente. Foi
quando... tudo se dissolveu em fogo. ― Sua voz saiu falha no final. Misha
Não pode ter sido ele, pois nos protegia com sua vida.
― Exato. Se não foi nosso pai que Liliane viu, então com certeza foi
suspirou.
― Nós dois? E Kostya? Acha que ele estaria junto a eles? Nosso
cabeça. ― E Sergey? Merda, sei que ele é um monstro, mas todos somos, de
Nenhum de nós três faz isso. No fundo sabemos que nossa lealdade a ele se
― Por isso viemos até Samuel, para conseguir ter uma palavra com
Beast e nos aliarmos a ele. Beast expôs na mídia vários negócios sujos de
― Kostya... Onde ele está? ― inquiriu Andreas. ― Por que não veio
com vocês?
― Quando saímos, Sergey não deixa que Kostya venha junto. Ele acha
que vamos desertar, então o usa para nos manter na coleira ― respondeu,
flashes de nós quando crianças, mas não tinha nomes nem um local para
tentar buscar ajuda e, de toda foram, não podia. ― Contei-lhes sobre como
abri os olhos na fazenda sem recordar nada do meu passado. Após algum
de como quase morri, se não fosse por Samuel e o chefe dele me salvarem.
Narrei também acerca da minha recuperação, sobre como Samuel foi meu
beirava a ira.
reapareceu em seus olhos mil vezes pior do que antes. ― Vou estraçalhar
todos eles!
cuidou de alguns dos outros, e o que restou, Andreas ficou de cuidar deles,
não é?
Eu queria que essa parte de meu passado fosse encerrada. Não queria
ouvir mais sobre aqueles homens. Já bastava quando eu tinha pesadelos com
― Não tive tempo, os últimos meses foram corridos para mim, mas
vou fazer isso logo. Prometo que nenhum será mais mencionado na sua frente
― disse Andreas olhando para mim, depois contou aos meus irmãos o que
Andreas.
― Vou fazê-los pagar caro. Por culpa deles, não posso nem abraçar
você. ― Pela forma que falou, isso o estava matando. ― Saber que está viva
e bem aqui, na minha frente, e não poder tocar em você... Sabe o que é isso?
Eu queria muito dizer que ele podia fazer aquilo, que eu saberia lidar
com o medo, mas e se eu não conseguisse? Ele não me fará mal, pensei
assim, ainda mais de ir embora com aquela tortura em seus olhos. Mesmo
que tivesse se tornado um homem, ainda era aquele garotinho protetor que
me amava mais que sua vida. Seu sorriso lindo se foi, e no lugar dele agora
Estreitou os olhos.
joguei em seus braços sem nem mesmo pensar. Não gostei de sentir a dor na
nosso tio Fyodor. Ele tinha um arsenal lá, então eu quis dar uma olhada.
Misha não queria que eu viesse sozinha, por isso me trouxe, embora
― De quem foi a ideia de vir aqui? ― perguntou meu tio após nos
― Fui eu, tio, queria ver suas armas. A Liliane tentou me impedir,
mas não ouvi ― Misha falou antes de mim, enquanto apertava minha mão
falar a verdade, quando ouvi um baque. Pisquei, não acreditando que meu
tio havia esbofeteado o rosto de Misha, que chegou a virar a cabeça pela
força do impacto.
Nunca gostei do meu tio Fyodor, ele era um monstro. Uma vez o vi
bater em sua namorada. Já o meu outro tio, Maksim, era bom, eu gostava
dele.
levantou sua mão com o cinto, fechei os olhos, esperando. Ouvi o baque do
cinto, mas não senti dor, então abri os olhos, vendo Misha recebendo a
― Por favor, tio, não o machuque mais! Não vamos mais entrar
aqui! ― implorei, mesmo sabendo que era uma fraqueza. Não me importei
com isso, só não permitiria que ele continuasse a bater no meu irmão.
me encolher.
Não foi preciso ele ordenar duas vezes. Peguei o braço de Misha, e
― Você não devia ter feito isso! ― Chorei, tocando sua boca
machucada.
essa promessa.
pagar o preço que fosse! ― Sua ferocidade era tremenda, mesmo que
deixou feliz.
tanto em ver esse rosto mais uma vez... Pedir perdão por não ter conseguido
protegê-la.
Respirou fundo.
― Éramos crianças, não tinha como você ter feito nada. O importante
é que Deus me deu mais uma chance de viver. E, assim, conheci Samuel. ―
Sorri para meu namorado. ― Ele está me ajudando a me curar dos traumas.
de mim.
― Sim.
interrompeu.
irmão.
― Sim ― respondi a verdade.
Samuel. ― Preciso falar com Beast e tentar fazer uma aliança com ele para
Sergey.
assassino frio.
― Suspirei. ― Pelo que você disse, parece que Kostya está preso. O que
― Nada, mas Sergey o usa para fazermos o que ele quer ― disse
mais velho.
decisão.
bom demais para o nosso mundo. Seu sonho é entrar em uma faculdade e ser
jogador de futebol, nada que Sergey esteja disposto a deixá-lo fazer. ― Seus
Fazemos tudo que ele manda, contanto que deixe Kostya longe de tudo.
aceitou?
― Na verdade, ele não sabe o que tivemos que fazer para que ficasse
permitiu que ele ficasse de fora. ― A escuridão estava nos olhos do meu
irmão gêmeo.
Fosse o que fosse, parecia que tinha levado um pedaço de cada um deles.
mim para Andreas ― uma parte de mim tinha esperança de que estivessem
nossos pais e a doce Faina (ela e Kostya eram iguais nesse departamento),
só nos restou o nosso irmão caçula, e por ele fazemos tudo. Éramos só nós
três contra o mundo, pois Sergey há muito tempo deixou de ser a nossa
família.
― É por ver como protegemos Kostya que Sergey o usa, dizendo que
vai fazê-lo matar alguém ou coisa pior se não lhe obedecermos ― falou
Demyan.
tiveram que fazer para que nada chegasse a ele. ― Se fosse comigo, iria me
sentir culpada.
pois não dá para continuar assim. ― Misha tocou minha cabeça. ― Agora
que sei que está viva e bem, preciso estar livre para vir vê-la na hora que eu
quiser.
Todos vocês.
coisas.
Meu coração deu uma batida dolorosa com sua partida. Quando
Andreas foi embora, senti sua falta, mas com Misha só a ideia parecia pior.
― Eu sentia que, mesmo estando feliz, ainda faltava uma parte de mim.
Achei que fosse as lembranças, mas agora vejo que não. ― Toquei seu
coração. ― Era você, aliás, todos vocês. ― Olhei para Demyan e Andreas.
― Vocês e Kostya.
Misha me abraçou forte por um tempo, parecendo não querer me soltar
mais.
― Também senti que faltava metade de mim. Agora sinto que estou
palavra.
machucariam.
emocionado.
comentei.
Achei que teria receio ao ser tocada por eles, mas era tão bom ser
amada assim. Por muitos anos, naquele lugar, senti-me sozinha; agora, não
mais.
Sentia que algo terrível acontecera a ele, assim como ocorreu comigo.
E não era só eu a notar isso; pelas suas expressões, meus outros irmãos
também perceberam.
Assim que os três saíram, Samuel veio me abraçar.
― Não era a noite que eu tinha em mente ― comentou ele, mas não
nova família quanto da antiga, que eu esperava que se tornassem uma só.
Samuel
Franzi a testa ante a ligação. Até pensei em não a receber, pois estava
meu momento especial com a irmã deles. Não ia deixá-los fazer isso de
novo.
ocupado. O que é tão importante para me ligar? ― Após ele sair ontem à
noite com Misha e Demyan para deixar os irmãos por dentro do seu plano,
eu não soube mais deles. Não quis saber, pois assim não esconderia mais
nada do meu chefe. A única coisa que queria era matar os vermes que
meus irmãos.
― O tempo está corrido, e é por isso que estou ligando. Vou resolver
tudo quando pegarmos Sergey e Fyodor. Eu os quero juntos nesse local onde
matá-los, simples. ― Teria feito isso eu mesmo, mas entendia que era um
― Não é simples assim. Misha não contou antes, mas a nossa irmã
Faina está viva, e, até pouco tempo, o único que sabia dela era Sergey. Se os
dois se voltarem contra ele, o infeliz vai fazê-la pagar por isso. ― Trincou
os dentes. ― Também foi por esse motivo que eles nunca o mataram, não foi
Franzi a testa. Quando foi dito que os irmãos dela estavam seguindo as
ordens de Sergey por causa da ameaça ao irmão caçula, achei estranho, pois,
se fosse só uma simples ameaça, os dois mais velhos teriam matado Sergey.
Eu teria feito isso no lugar deles, então supus que devia ter outro motivo, só
não sondei na hora porque não queria que Lily ouvisse até ter certeza do que
era.
― Ela não tinha morrido no incêndio? ― Lembrei-me de Misha
relatar que o pai levara a filha para algum lugar e voltara para salvar a
no escritório?
queriam partir, ele lhes contou que nosso pai entregou Faina para ele e foi
resgatar nossa mãe. Revelou também que ficou lá, encarando as chamas
como se fossem uma obra de arte enquanto nossos pais morriam nelas ―
pensei.
― Por que essas gravações não surgiram antes? ― Não fazia sentido.
― Antes, Misha e Demyan não suspeitavam que nosso próprio irmão
tivesse mandado matar nossos pais. Depois que souberam, foram à procura
morriam. ― O asco era evidente em sua voz. ― Seja como for, descobriram
a placa do carro que a levou, mas não deu em nada. Tenho pessoas
estava chateado com tudo isso. Esperava que não respingasse em minha
― Não sei, mas temo que sim. Nada bom vem dele, e não, ele não
mantém contato com ela. Acho que é para ninguém descobrir nada.
― Busque alguém em quem Sergey confia. Tem que ser próximo dele
talvez ajude. ― Se tivéssemos mesmo essa sorte, eu poderia matar todos que
― Sim, vou fazer isso. Só entrei em contato com você para lhe pedir
um pouco mais de tempo a fim de encerrar tudo isso. Sei que me deu um mês,
mas acho que, se nenhum deles mantiver contato com Faina, irei demorar um
nada ao meu chefe por enquanto. Eu não gostava disso, mas que escolha
tinha? Esperava que, depois, Matteo não ficasse muito puto comigo.
― Tudo bem. Também vou ver o que posso fazer para tentar localizá-
la...
Liliane, isso a colocaria em perigo. Já basta não saber onde Faina está e o
que está acontecendo com ela. ― Praguejou. ― Essa porra é tão fodida.
― Por que eles não contaram para Liliane? ― sondei, embora tivesse
uma suspeita.
― Não sabem como Faina está e nem o que está se passando com ela.
Misha não queria preocupá-la, e ele tem razão. Agora que Lily está indo
bem, não devemos estragar tudo. ― Suspirou. ― Preciso ir, mas, antes,
saiba que não posso lhe agradecer o suficiente por tomar conta dela, por
ajudá-la.
Nós nos falamos mais um pouco, então ouvi passos. Avisei a ele para
momento.
Entrei na sala da cobertura, deparando-me com a mulher mais perfeita
do seu irmão. Andreas tinha razão, era melhor Liliane não saber sobre Faina
bem.
surpresa?
Sorri.
― Ótimo. Tome seu café e, depois, tire suas roupas. Vou esperá-la no
quarto.
― Sim, mas...
carpete ao lado da cama, assim ela não os veria a princípio. Só queria que
― Deite-se ― pedi, não saindo do meu lugar até que ela fez o que
pedi, então admirei a mulher esparramada na minha cama. Não havia nada
― Confia em mim?
minha frente nas últimas semanas, agora iríamos para o próximo passo. Eu
mostraria a ela que sexo não tinha de ser doloroso conforme sua péssima
experiência. Além do mais, aquilo não foi sexo, e sim um estupro coletivo.
Não, eu não queria pensar nisso agora; naquele momento, iria deleitar
formato de um pênis.
Ela piscou.
― Isso é...
que ela gostaria, afinal ficava quente com minhas palavras. Agora mesmo eu
Quando falei que íamos usar brinquedos, até pensei que ela fosse
pesquisar sobre o assunto, mas Liliane não o fez. Minha garota não era
curiosa e adorava descobrir as coisas comigo. Meu peito inchava com isso,
para o espelho.
Sacudiu a cabeça.
olhos.
Assenti e me sentei na cama, escorando as costas na cabeceira e a
puxei para que ficasse entre minhas pernas, com suas costas apoiadas em
meu peito. Atrás dela, eu tinha uma boa visão de seu corpo no espelho.
colocando sobre um dos ombros, deixando o outro livre para eu beijar atrás
de sua orelha. ― Sente-se arrepiada? Meu toque faz você pulsar aí embaixo
e querer gritar?
― Ótimo, então vai amar a sensação que esse vibrador irá dar a você.
― Controlei meu pau, pois só vê-la com as pernas abertas quase me fazia
― É ruim? ― Temi que ela não tivesse gostado, mas, vendo a forma
― Não, é bom, mas por que não faz em mim? Adoro quando me toca
― Quer que eu use o vibrador em você? Não o fiz antes porque temia
― Amo tudo em você, seu cheiro, sua forma de querer me fazer bem, amo a
forma que parece enxergar minha alma, então jamais o repudiaria. Aliás, eu
o almejo tanto que dói. Não quero esses brinquedos, quero você todinho, as
suas mãos em mim, seu cheiro na minha pele, cada pedacinho seu.
― Liliane...
― Estou pronta para você, para nós, pois eu o amo ― afirmou com
convicção.
― Não vai ser demais, confio a minha vida e alma a você. ― Tocou
meu rosto. ― Sei que vou amar cada coisa que fizermos agora e depois.
adorava, com a forma como ela gemia de necessidade, parecendo que doeria
― Você é lindo! ― Alisou meu peito, descendo pela minha barriga até
disse o que tinha vontade de fazer com você e que queria descobrir o sabor
que tem?
Ela engoliu em seco, olhando para minha boca, mas assentiu, corando.
debaixo de mim. ― Com a outra mão, segurei o outro seio dela e o apertei
delicadamente. Quero que Lily só sentisse prazer, não dor, embora existisse
prazer com uma pitada de dor. Os dois juntos podiam ser muito bons, mas
pensei que isso não se aplicava a Liliane, não com tudo que ela tinha
passado. Queria lhe dar tudo o que ela precisava e ansiava. Se fosse só
desejava como nunca tinha feito na minha vida, mas o que eu estava sentindo
Como Samuel podia pensar que eu temia seu toque? No começo, podia
ter acontecido, mas após todos aqueles anos? Eu o almejava tanto que doía.
Não me importei com os sons que saíam de minha boca, nem me
jeans.
feliz com o toque dele. Aquelas novas sensações que só ele podia me dar me
Sorriu.
― Isso não é nem perto do que quero fazer com você. ― Seu hálito
quente me fez tremer. ― Quer conhecer a sensação de como é ter sua boceta
chupada?
Gemi.
― Sim...
― Não aí. O meu centro está... ― Minha voz sumiu quando senti sua
― Sim, tem o mesmo gosto de sua boca, a cereja do meu bolo. O meu
Cada chupada dele me fazia sentir mais prazer, então a coisa mais
imaginava que a intimidade entre duas pessoas pudesse ser tão bom assim, e
nem bem tínhamos começado. O que tive antes não era nada como aquela
sensação. Naquela época e lugar, roubaram tudo de mim; ali, eu estava
que eu não estava surtando, mas amando cada coisa que fazíamos. ― Sinto
― Samuel, estou completamente feliz, pois agora sinto que posso ser a
quando digo que estou pronta para ser sua de todas as maneiras?
― Você sempre foi mulher para mim. ― Beijou meus lábios. ― Sente
esse gosto? É o meu sabor preferido. Sei que está pronta, confio em você
mais que tudo na vida.
― Então tire as calças. Quero vê-lo nu, assim como está me vendo
Ele se afastou e saiu da cama, o que me fez sentir falta de seu calor,
mas não ficou longe muito tempo, apenas o suficiente para tirar a calça e a
cueca boxer. Seu corpo era perfeito, cada pedacinho dele. O homem era sexy
como o pecado.
Estava ereto e era muito grande. Uma parte de mim temia ter algum
receio, mas nada descrevia a forma como eu estava me sentindo com sua
simetria perfeita. Nada nele me fazia temer, aliás, deixava-me muito viva.
corpo, então fitei seus olhos ansiosos, temendo a minha reação. ― Não
Estendi minha mão para ele. ― Me diz uma coisa: como você se satisfazia
no banheiro sozinho?
Estava havia muito tempo curiosa quanto a isso, a forma como ele ia
para o banheiro quando nossas sessões de amassos ficavam muito ativas. Era
bom falar, assim ele via que eu estava pronta e não temeria mais que eu
surtasse.
Assenti.
livro de romance erótico nem pesquisado sobre o assunto, ainda era muito
inexperiente.
Ele colocou a mão em seu membro viril, tão duro, cuja cabeça saía um
Não havia nada mais lindo que aquela visão, e, por incrível que
Uma parte sua ainda parecia temer que eu surtasse. ― Mas vou parar de me
masturbar, pois quero gozar dentro dessa bocetinha que está pulsando por
mim.
meu rosto.
― Confio em você.
Senti-o entre minhas pernas, pronto para mim, mas não entrou, só
membro rígido para dentro de mim. Arfei, fechando os olhos ante a plenitude
― Lily, quero ver seus olhos... ― Ele parou de se mover assim que
Ele também era perfeito, mais que isso, era o homem que me ajudou a
ficar curada e chegar aonde estava agora, livre do passado, daquele medo,
Enrolei minhas pernas nas suas, fazendo com que ele entrasse mais em
― Ah... ― Minha voz falhou com um movimento mais intenso que ele
fez.
palavras em italiano. Isso sempre me deixava mais eufórica por ele, se fosse
possível.
dele. Nada foi como eu pensava. É claro que eu sabia que ia amar tudo que
Seu rosto ficou tenso, e seus olhos focaram nos meus. O fogo ardente
estava em seu olhar, como brasas. A forma como ele gozava era linda.
― Nunca achei que pudesse amar alguém como amo você! ― declarou
― Saiu de mim, mas me puxou para seus braços, beijando minha testa.
― Você sempre foi completa para mim, meu anjo, mas entendi o que
está dizendo. Também sinto que uma parte de mim se foi há muitos anos,
sentidos.
Liliane
Durante os meses seguintes, não pensei que pudesse ser mais feliz do
que já era. Ao estar livre das amarras do passado, podia seguir em frente.
É claro que às vezes as lembranças ruins vinham. Provavelmente,
nunca esqueceria o passado por completo. Era uma coisa com que eu tinha
amavam, e eu também os amava. Isso ajudava muito quem um dia foi tão
foco nos estudos, eu esperava que em pouco tempo estivesse me dando bem
em todas as matérias.
Samuel ficou em êxtase quando lhe contei minha ideia. Estava mais do
que na hora de eu enfrentar a sociedade. Naquele dia, ele iria comigo, mas
parecia que o seu chefe estava com problemas, então precisou sair para
encontrá-lo. Resolvi ir com Bonnie em vez de esperar outro dia. Sabia que
estava pronta.
Bonnie tinha retornado à sua cidade fazia algum tempo, mas voltou
dias.
― Por que não mora aqui? ― sondei pouco antes de sairmos de casa.
ame Barcelona, sinto muita falta de todos. Além disso, resolvi dar uma pausa
em meu trabalho.
― Não fui eu que fiz, foi você mesma, e Samuel a ajudou. Não posso
levar o crédito por isso. ― Encarou a praia pela janela. ― Após o que
conversamos, notei que não estou apta para a minha função, não agora.
Preciso me descobrir.
― Bonnie, somos humanos e falhos. Não pode se culpar por não estar
chamou atenção. Senti atração, melhor do que foi com o anterior, mas na
hora não consegui, senti repulsa dele e de mim e corri ao banheiro para
pessoas que passaram pelo mesmo trauma que eu, nem pensei em me curar.
Devia ter feito isso antes. Seja como for, não é um adeus à minha profissão,
― Inclusive estudar.
Os dois merecem.
da calçada, Bonnie pisou no freio, levando nós duas para frente. Ainda bem
Um dos homens que estavam nos carros de trás gritou algo. Eles
estavam do nosso lado, mas eram poucos, não tinham como vencer. Nós
estávamos no meio do fogo cruzado. Era uma sorte que as balas não nos
Pela forma que ele falava, parecia saber quem nos atacava. Seria um
inimigo de Samuel? Teria algo a ver com o problema que ele tinha ido
resolver?
Minhas mãos tremiam, mas não gritei ou gemi de medo. Não vou
estragado.
Sergey? O meu irmão malvado? Esse nome fez doer minha cabeça.
Coloquei a mão nela para aliviar a ardência. Sabia que não devia olhá-lo,
que devia fingir que não estava ali, porém, não resisti e encarei o homem em
nossa frente.
Era alto, de olhos claros, mas tão sombrios como uma noite sem lua.
homem o matasse? Nem o chamava de irmão, não um ser que tinha feito
meus, e não pude mais desviar um segundo enquanto o gelo tomava minha
mordaça.
― Ela não vai a lugar nenhum com você ― rosnou um dos soldados
ferozmente.
― Vou fazê-lo pagar caro por me desafiar, seu inseto. ― Não tinha
nenhuma emoção na voz de Sergey. Tão diferente dos meus outros irmãos.
zumbido em minha cabeça, que doía cada vez mais? ― Foi ferida?
Uma bala atingiu o para-brisa, que rachou um pouco. Pelo jeito, havia
armas que quebravam vidros à prova de balas. Entretanto, não liguei muito
Então aquela não era uma luta de Samuel, mas da minha família?
― Podem matar o resto, já que ela não virá a mim... ― falou com um
suspiro duro.
Meu sangue gelou. Olhei para Bonnie, ao meu lado, que estava com os
havia chance de eles continuarem vivos se eu não fosse até Sergey. Não
meu irmão.
metros dele. O estranho foi que não notei mais ninguém no local. Teria ele
― Não farei isso se vier comigo ― falou com aquela frieza de dar
calafrios.
fui mais rápida e bati a porta do carro. Dei mais alguns passos na direção de
Sergey. Tudo dentro de mim dizia para eu correr, mas não podia fugir.
direção.
Um dos homens que estava me protegendo correu até mim para me
impedir também. Eu estava a ponto de pedir que ele ficasse escondido atrás
― Não, senhorita... ― Sua voz morreu quando ele caiu no chão, mole
Olhei para Sergey, que apontava a arma para o rapaz cujo nome eu
Meu corpo travou no local, cerrando os punhos, com uma fúria que me
tomou como nunca havia sentido. Fuzilei meu irmão, que sorria como um
maníaco.
no chão e puxando meu braço com força, fazendo com que minha pulseira
punhos e cotovelos, não me importando com sua arma. Na hora nem liguei
arfar. Podia sentir meus olhos se fechando, mas, antes que pudesse dizer algo
Passado
fazendo nos últimos dias. Eu tinha vindo deitar-me com ele para não ficar
sozinha. Sempre ia até Misha, mas ele e meus outros irmãos foram com
minha mãe a Detroit para ajeitar a nossa nova casa, onde iríamos morar. Eu
desejei ter ido, mas não queria faltar aos meus treinos, e foi uma luta para
fazer Misha ir sem mim. Meu irmão gêmeo e eu éramos inseparáveis, os dois
desde crianças, era uma cidade que eu adorava. “Papai, não vende a nossa
casa, por favor”, cheguei a implorar para ele, mas não teve jeito.
Andreas, mas ele estava tão cansado que preferi não o despertar. Então fui
procurar meu pai ou Sergey para saber que sons eram aqueles.
Fui ao quarto de Sergey, que ficava do outro lado do corredor na
forma de L, mas não o encontrei na cama, depois fui ao do meu pai, mas
também não o achei. Pensei em ir ao do meu tio, mas ele não estava em casa,
tinha ido fazer uma viagem. Talvez fosse meu pai e meu irmão que estavam
fazendo os ruídos.
ninguém. O barulho lá fora cessou, então decidi voltar para a cama, mas, ao
Corri atrás deles, ofegante e com medo de o meu irmão ter passado
mal.
Andreas.
As costas de papai ficaram eretas, mas ele se virou, olhando para algo
atrás de mim. Foi então que notei que aquele homem não era meu pai, mas
meu tio.
― O que ela faz aqui? Devia ter ido com sua mãe ― grunhiu.
Virei-me para ver com quem ele falava, então vi Sergey com uma
expressão vazia.
― Ela insistiu para ficar treinando, ninguém conseguiu fazer com que
― Para onde o está levando? ― Tinha algo errado ali, muito errado,
desacordado...
sombrio.
tremendo.
― Ele não pode ficar aqui, estragaria meus planos e os de seu pai, e
Eu estava com medo, não sabia do que ele estava falando. Que planos
coração acelerado.
― Vamos, Liliane. ― Meu tio pegou meu braço, dando-lhe um aperto
feroz. Gritei mais alto. Ele me deu um tapa na cara. ― Cale a boca! Você vai
assustadores.
em meu braço.
Eu queria gritar, fugir para longe, mas não consegui me mover. Papai
não podia estar naquilo. Ele nunca me mandaria embora assim. Eu estava
com muito medo do que estava acontecendo. Meu tio e meu irmão me dariam
com vocês. ― Encarou meu tio. ― Eu disse que tinha um plano para ela.
Tio Fyodor sorriu para meu irmão como se ele tivesse dito que lhe
daria o Universo.
queixo, fazendo meu corpo tremer, mas não me movi, com medo demais. ―
outro homem e olhou para meu tio e Sergey. ― Negócio fechado. Vou ficar
com ela.
Mercadoria? Negócio? Eles estavam me vendendo para aqueles
homens? Como um tio e um irmão podiam fazer isso com a sobrinha e irmã?
importando para meu clamor e choro. ― Esqueça sua família, ninguém quer
você aqui, nem seus irmãos, nem sua mãe, nem seu pai. Acredite ou não, foi
Como meu tio podia nos vender a estranhos que podiam nos machucar
ou matar?
Fuzilei Sergey. ― Como pode se sujeitar a tal coisa comigo e Andreas, seus
irmãos?
― Eu vou ser o chefe um dia, não Andreas. O trono tem que ser meu,
e, para isso, ele precisa sumir, e você também, por ter decidido ficar. ―
estavam ali pareciam não se importar para o que acontecia. Deviam ser
por estar sendo levada com aqueles homens sabe-se lá para onde. Pior, o que
fariam comigo?
Tentei lutar, mas como, se eram adultos, fortes e tantos? Eu não
poderia vencê-los.
meu oxigênio.
minha família! Misha! O que ele sentiria quando descobrisse que eu tinha
sumido?
Corri, mas não fui muito longe. Um rosnado veio de algum lugar atrás
de mim. Seria a minha morte? Eles iriam me matar? Antes que eu pudesse
sequer pensar em mais alguma coisa, senti uma pancada na cabeça, caindo na
escuridão.
Dias atuais
Samuel
O meu telefone tocou assim que deixei Matteo em casa após nossa
reunião sobre alguns desertores que não aceitavam o comando dele, os que
verme.
Fosse como fosse, o maldito tinha ido tarde. Finalmente tínhamos nos
restado mais nenhum, embora sempre tivesse uma maçã podre no meio das
outras.
maldito infiltrado dos Volkov só para saber caso ele fizesse algo contra o
meu povo. Podia estar escondendo a verdade do meu chefe sobre os irmãos
fica no meio do nada, é mais uma prisão do que escola. ― A sua voz era fria
como gelo.
― Assim que a pegar, você sabe que Sergey vai descobrir tudo. Como
tocou naquela porra de lugar. ― Seu tom saiu letal com uma faca afiada. ―
Fyodor.
império dele. Foi uma luta boa, devo dizer. Quem ousou ir contra o meu pai
está preso, e logo vou lidar com eles, mas agora meu foco é Sergey. ―
Suspirou. ― Estou mandando alguém para vigiar Liliane só no caso de ele ir
atrás dela. Tinha alguém meu lá, mas precisei dele na luta dessa noite.
― Não sei, por isso estou ligando. Não a deixe longe de suas vistas,
meus homens de olho nela e em Bonnie. ― Fiquei furioso com Moor alguns
mas eu entendia que eram dois contra um, e ele sempre vigiou e protegeu
Lily muito bem, além do mais eu estava junto a ela. Embora eu tenha
uns segundos.
Vovó não sairia da igreja até mais tarde, foi cozinhar para alguma
― Não tem sinal de nenhuma das duas, só da sua avó, que foi levada a
uma ambulância...
― Ela está bem, só disse que foi assaltada, acho que para não trazer
quebrando.
deu em nada, era como se Lily estivesse em casa. Olhei as câmeras e não a
vi em canto nenhum. Sergey devia tê-la tirado dela. Tornei a ligar para
Andreas. ― O infeliz deve ter tirado o rastreador dela. Vou destruir essa
Se fosse assim, eu sabia que elas ficariam bem até ele obter o que
queria.
― Acho bom, e, se seu irmão tocar nela, juro pelo maldito Céu que
Agora que ela estava indo tão bem, eu não podia deixar que aquele
infeliz estragasse tudo. Que nada nem ninguém a tivessem machucado, ou...
― Porra!
carro.
ideia do que fazer para que Sergey aparecesse mais rápido. Podia mandar
uma mensagem a Andreas contando-lhe o meu plano, mas não ia ficar ali,
seu nome real seja Andreas, o irmão mais velho de Sergey. ― Suspirei após
dizer o que precisava. Olhei para os homens que estavam com Matteo. ―
bem e assentiu para seus homens, que saíram, mas não tirou sua atenção de
mim.
― Sim. ― Contei a ele meus motivos por ter omitido a verdade e tudo
pode ter levado Lily e Bonnie. Preciso resgatá-las. ― Levei minha mão aos
sensação.
suspiro.
― Sim, é a coisa mais medonha que já senti. Prefiro mil vezes estar
olhei para um canto, onde avistei Caco com o telefone em seu ouvido.
Apostava que estava ligando para seu chefe. Esperei que ele desligasse e
olhei para Matteo. ― Chame Caco aqui, depois explicarei. Só peço que
confie em mim.
― Agora confia em mim? ― Era perceptível que ele não gostou muito
de eu não ter dito nada à ele, mas não era questão de confiança, e sim de
cumprir uma promessa. Eu o entendia, jurei-lhe lealdade e depois omiti a
verdade. ― Depois que isso acabar, vamos ter uma conversa sobre lealdade
e juramento.
chamou, o meu telefone tocou, e o atendi sabendo quem era. O nome piscou
na tela.
― Sim, Sergey ligou para meu irmão e exigiu falar comigo. Não sei
― Não pode...
― Uma porra que não posso! ― esbravejei, fazendo Caco me olhar.
Matteo.
ponto de explodir.
recuperasse, eu estava sobre ele com a faca em sua garganta, mas não o
cortei.
― ameacei.
parecendo me temer, ou, se o fazia, escondia bem. Vamos ver até quando
fica com essa cara de paisagem. ― Você não contou a ele sobre os
passava ao seu chefe de merda. Eu, por outro lado, só omiti o fato de ter
falado com meus cunhados, não contei nada sobre nossos negócios a ninguém
contei nada antes, foi porque tinha um motivo. Você tem um para ter se aliado
a Sergey Volkov?
― Não estou...
― Não minta! ― Com uma das mãos, apertava a faca em sua garganta,
e, com a outra, enfiei a mão em seu bolso e peguei o celular dele. ― Acho
que vou ter que descobrir para quem ligou agora há pouco
Sua cor, que já era normalmente branca, ficou ainda mais pálida. Eu
onde ele está. Agora pergunto, sua vida vale mais que a lealdade ao seu
chefe? ― Estava sem tempo, não podia esperar pelo encontro que Sergey
tinha marcado. Além disso, as duas podiam nem estar com o infeliz na hora.
pergunta.
leal por nada, ao contrário de você, que nos vendeu por dinheiro ― rosnei.
Torturar o infeliz seria bom, mas eu corria o risco de ele não saber o
paradeiro de Sergey. Era melhor fazer algo que tivesse certeza, não queria
correr riscos.
Ele pareceu pensar. Observei-o durante esse tempo após saber quem
ele era e notei que o verme gostava de dinheiro. Quem pagasse mais seria o
― Não quebro uma promessa que fiz. Estou atrás dos tubarões, não de
― Vou ligar e tentar descobrir onde ele está, mas não acredito que iria
― Diga que você descobriu onde Fyodor foi levado e que vai
Assentiu e telefonou.
― Chefe, descobri onde o seu tio está preso ― falou, e não parecia ter
Eu não gostava de traidores por isso, eles tinham duas caras, nunca se
Assenti.
para um colega meu rastreá-lo. Não demorou muito para eu saber que estava
seguinte...
Orquestramos fazer uma emboscada a Sergey. Talvez não fosse fácil,
meninas.
― Tenho que ir. Depois nos falamos, e aceito qualquer castigo que
queira me dar por eu ter omitido algo tão sério de você. ― Talvez minha
morte estivesse mais próxima do que eu podia imaginar. O castigo por omitir
― Na verdade, ele não pode prometer nada disso, quando sua própria
― O que eu disse foi que eu não mataria você, e não vou, mas não
mencionei o que seu chefe, a quem deve lealdade, faria ― pronunciei. Fitei
Matteo. ― Seja o que for que decidir, vou estar lá para receber. Agora
preciso ir.
Ele assentiu. Após isso corri para o meu carro, ansioso para encontrar
vendeu...
Gemi com a mão na cabeça, tentando aliviar a dor, não aquela que eu
Agora me recordava de tudo: a minha família, minha mãe, meu pai e meus
irmãos; a noite em que eu e Andreas fomos levados. Como alguém era capaz
Pisquei mais, tentando ajustar a visão à escuridão, até que foquei nela
ali, ao meu lado. Notei que era ela que me chamava, mas meus ouvidos
E vovó?
― Sim, sou eu. Faz horas que estamos aqui, neste lugar. Parece ser um
que significa.
Lágrimas desciam por minhas bochechas por tudo que perdi e não
outros irmãos tinham morrido, as palavras e o som de tiro que Bonnie tinha
ouvido podiam significar isso. Antes, mesmo sabendo que eram meus
irmãos, eu não sentia amor por eles, não de verdade; o único que vinha um
pouco mais às minhas lembranças era Misha, mas, agora, tudo tinha voltado
sua cabeça.
nossas cabeças. Então aquilo não era um galpão, mas um porão fedido. A luz
amarras.
Íamos nos livrar só de Andreas. Era ele que estava estragando meus planos.
teria para cometer tal atrocidade?! ― rugi. ― Sabe o que passamos? O que
aqueles homens me fizeram? O que Andreas passou a ponto de hoje não
conseguir ser tocado? Tem alguma noção? E tudo isso para quê? ―
desdenhei. ― Por que não nos matou logo? Teria sido melhor se o tivesse
feito!
inseto.
― Eu deveria ter feito isso, mas pensei que era melhor vender vocês e
assim ter uma aliança no futuro. É uma pena que não os matei. Se soubesse
que iam dar tantos problemas e que Andreas retornaria, teria feito isso sem
― Por quê? Não fizemos nada a você, nem nossos pais, muito menos
família cruéis àquele ponto. ― Como pôde destruir a sua própria família?
― Você não entende! Aquele homem que morreu junto à puta de nossa
mãe foi o irmão do meu pai, Fyodor. Meu pai é esse que está vivo e que
tonta.
― Sua tola, a nossa mãe estava destinada ao filho mais velho dos
Volkov, Grigori, mas gostava de Fyodor. Como eram gêmeos, quem nasceu
primeiro levava o direito ao trono, ou seja, Grigori. Iris, a nossa mãe, não
dessa relação, nasceu Andreas. ― Sua voz saiu dura, sem emoção. ― O pai
Mamãe não gostava do nosso avô, pois ele era cruel. Uma vez a ouvir
decidiu sumir por um tempo, mas não foi longe, estava pensando em voltar e
sequestrar nossa mãe, mas Grigori soube dos planos do irmão e o prendeu
em um calabouço.
O quanto minha mãe havia sofrido com tudo aquilo, amando um, mas
― Não sei como, mas Fyodor fez amizade com os guardas, e eles o
ser Grigori para todos. Na época, nossa mãe só tinha Andreas e a mim.
Pisquei.
― Todos vocês são de Fyodor, menos Faina e eu. Nossa mãe sabia
que era Fyodor, e mesmo assim ficou do lado dele ao invés do de seu
que viveu conosco até você nos vender, e ele era bom, nos amava
incondicionalmente. Era Fyodor, com certeza. Porque, pela forma como você
fala, Grigori jamais seria capaz disso, dessa bondade. ― Pelo visto, nem o
pela casa. Descobri o porão, onde ficavam as masmorras. O lugar era cheio
que eu era seu filho e que o lugar de chefe era meu por direito no futuro, e
não de Andreas.
ser a minha mãe assim que eu soube do que ela foi capaz de fazer, deixando
― Fyodor fez uma viajem a negócios para a Rússia. Com isso resolvi
soltar meu pai para que tomasse sua vida de volta, mas ele desejava
vingança, por isso só saiu do lugar em que estava preso. Aproveitando que o
irmão impostor estava viajando, Grigori fez uma visita à nossa mãe,
enfrentando-a por dormir com o irmão e ter uma família com ele enquanto
Interrompi-o.
― Se eles estavam brigando e minha mãe jamais trairia meu pai, então
duvido que ela tenha se entregado a Grigori por livre e espontânea vontade...
não deve se negar ao seu marido, ele estava no direito de tomar o que era
seu. Foi quando Faina foi gerada. Era a vingança perfeita contra o meu tio
traidor.
Meu estômago estava embrulhado com tanta crueldade, e eu não era a
única; podia ouvir um som de asco vindo de Bonnie. O que minha mãe não
― Foi bom ver o sofrimento dela após tudo que aconteceu. Pensei que
― Minha mãe nunca lhe fez nada para você sentir esse ódio por ela ―
rosnei.
― Sim, ela fez, tirou-me o lugar que era meu por direito! ― Parecia
com meu pai sempre que podia para que ele me ensinasse tudo o que eu
Pelos Céus, o pai havia ensinado o filho a ser o monstro que era agora!
monstruosidade dele não tinha tamanho ou idade, afinal fez isso ainda jovem.
Sacudiu a cabeça com raiva.
― Para você, é fácil falar, não foi sua vida que foi roubada por aquele
maldito Fyodor! Por isso gostei de quando ele chegou e descobriu que meu
pai tinha se deitado com Iris, fugido do cativeiro e matado os guardas que
meu pai queria. Nenhum deles nunca desconfiou de mim. ― Sorriu maligno.
Trinquei os dentes.
― Seu monstro!
tivesse elogiado.
Devia ter sido em uma dessas vezes que nos pegou no quarto dele e
bateu em Misha, porque papai jamais teria feito aquilo. Eu achava que papai
não devia ter fingido ser Grigori algumas vezes. Recordava-me de saber que
meu tio estava em tal lugar, e, de repente, papai desaparecia. Às vezes era
Contudo, no dia em que meu irmão apanhou, aquele não era papai, eu tinha
― Como pôde fazer isso?! Ela era sua mãe também! ― Era evidente o
Eles eram traidores, mereciam o pior. O plano era fazer com que sofressem
lugar por direito, sabia que era hora de me livrar de Fyodor e, como um
tranquei toda a casa, então o fogo se alastrou. Sabia que ela estava no
escritório. Não sabia que Faina estava em casa, ela sempre ficava na casa da
árvore.
pela janela pela qual tinha pulado após terminar o serviço, quando vi Fyodor
entregou a menina e falou para eu correr enquanto entrava para salvar Iris.
― Olhou para um isqueiro em sua mão, que eu não tinha notado antes. Isso
― Meu Deus! Como alguém pode ser doente dessa forma?! ― Ainda
bem que Faina havia sobrevivido, mas meus pais não o fizeram, morreram
nas mãos do próprio filho, ainda que meu pai apenas o tivesse criado.
preocupado com seu pai e sua irmã, então é um sociopata também. Eles têm
avaliando-o.
rosto.
― Vamos embora, já falamos demais. Vou pegar meu pai e matar todos
aqueles bastardos infelizes dos seus irmãos e pegar Faina de volta ― disse,
puxando-me dali. Então ele ainda não havia matado meus irmãos.
ali.
família!
Antes que saíssemos do local, tiros soaram lá fora, fazendo com que
Algo explodiu lá fora, então ele nos deixou e subiu a escada correndo com
Quem estaria atacando-o? Fosse quem fosse, eu não ia ficar ali para
suas amarras! ― Levantei-me e fui até ela, tentando soltar as cordas que a
prendiam. Meu coração estava acelerado, temendo que ele voltasse antes de
eu conseguir.
― Não acho que seja esse o plano dos meus outros irmãos. ―
a escada. Abri a porta devagar, espiando. Não vi ninguém lá; os tiros vinham
da frente do lugar, então sairíamos pelos fundos. Não pensei mais, só peguei
seguirem-na.
fez com meus pais ― rosnou Misha e me fitou. ― Proteja minha irmã.
passado, que o seu pai era Grigori, e Fyodor, dos outros, e que foi ele que
morreu para salvar a mulher que amava. Tinha um drone do lado de fora,
nossas armas e óculos de visão noturna, afinal tinha escurecido havia pouco.
à esquerda e à direita.
dela, mas isso chamaria a atenção dos infelizes. Não demorou muito para eu
ouvi o grito de Liliane. Segui a direção do som e então parei, indo devagar,
Santini até comentou que adoraria estar na fila, mas não foi convidado para o
O que aconteceu com ele? ― Detectei raiva em sua voz. Algo estava
Canadá.
Liliane piscou e correu para meus braços. Eu devia ter pensado antes
de tê-lo matado na frente dela, mas não parecia preocupada com isso, só
― Eles estão bem. Estou falando por escuta com seus irmãos. ―
Coloquei o pequeno aparelho na orelha dela. ― Pode falar com eles, estão
eu não sabia se era porque não queria falar ou porque não queria preocupar
vezes.
escuta de Liliane às pressas e falei com Andreas. ― Está vendo esse clarão
ele.
nocauteássemos e fez uma barreira de fogo entre nós e vocês, e olha que o
impedi de explodir mais locais ― Misha falou e elevou ainda mais o tom:
― Corra na direção contrária do fogo! No final há um rio. Veja se consegue
― Está tudo bem com Bonnie? Ela parece estar com dor pelo suspiro
― O quê? ― Ele falou com ela, mas não ouvi, ocupado em chegar
― Vou ter que levá-la, seu tornozelo está torcido ― disse Andreas
Devia ser ruim para ele, afinal eu sabia que era contra o contato físico.
Eu poderia tentar achá-lo, mas isso nos atrasaria. Não podia deixar que o
pedi.
queria me separar dela, mas certa hora já não a encontrei mais, e, se gritasse,
dizer-lhe nem isso para não a preocupar. ― Ela ficará bem, não se preocupe.
Ouvi o suspiro dele, mas, como não disse nada, fingi não ter escutado.
os malditos que estavam querendo nos matar. Meu único foco agora era nos
tirar vivos daquele lugar. Com os homens, podia lidar, mas não com o fogo,
então, quem entrasse em meu caminho, eu iria dizimá-los até as cinzas.
Literalmente, pensei.
Liliane
uma rocha e saiu mata adentro. Se eu soubesse que eram ele e meus irmãos
ainda mais, vindo em nossa direção, mas eu não entraria em pânico. Isso só
atrasaria Samuel, que ainda tinha que lutar contra aqueles infelizes que nos
perseguiam e atacavam.
― Um morto, mas têm dois ou três atrás de nós ainda. Precisamos ir.
― Rebocou-me para frente. ― Misha disse que não estamos longe do rio.
O meu coração ficava cada vez mais acelerado com nossa fuga. Não
som da cascata que tinha ali. De dia, era o local mais perfeito que eu já tinha
mas quem estaria com tudo aquilo? ― Você as leva através do rio, e eu tomo
pé direito no chão, mas sua expressão foi de dor. Mesmo assim insistiu,
porém caiu para frente. Andreas chegou antes que caísse no chão e a pegou.
Nenhum deles passará desse rio. ― Era notável a verdade em cada palavra.
― Não têm, podem pular. Estive aqui algum tempo atrás checando a
Fui até Andreas e toquei seu peito, fazendo-o tremer, mas ele não se
afastou.
Ele pegou minha mão de seu coração e me puxou para seus braços,
apertando-me delicadamente.
respirei fundo antes que a água me atingisse. Estava gelada. Nadei para a
Suspirei de alívio.
― Vamos embora? ― Ele pegou Bonnie, e saímos do rio, continuando
a andar pela mata. Eu não tinha caminhado por ali, não que recordasse. ―
― Não dá para ver, estou enxergando por causa dos óculos de visão
e outro cara, que reconheci daquele dia em que surtei. Parecia que se
chamava Lyn.
para o helicóptero.
nossa direção.
A lua na clareira estava brilhante, e os faróis da aeronave voadora
ajudavam a ver com clareza. Misha correu até mim, pegando-me nos braços
dor.
Fui até ela, pegando sua mão, ansiosa para sairmos daquele lugar.
olhos.
Todos entraram no helicóptero, um dos grandes, pois coube todos nós.
tudo hoje.
que eu ouvisse.
do chefe de Samuel.
― O que seu chefe tem a ver com o que estão falando? ― sondei.
Todos me olharam, mas não disseram nada, apenas Samuel, que pegou
a minha mão.
perguntaram se você vai querer ver ou não. Na minha opinião, não acho uma
Não detectei nenhuma mentira em sua expressão, mas, pela dos outros,
parecia haver um problema, mas o que era? Seria porque não me queriam
― Eu sei que eles podem ter me destruído por um tempo, mas hoje
deles. ― Não irei me juntar a vocês. Entendo que precisam disso, mas só
quero seguir minha vida com Samuel e tentar recuperar tudo que me foi
Bonnie precisa ir por causa do seu pé, e você, pela sua cabeça. Afinal o que
aconteceu?
― A única psiquiatria que ele verá será uma que o fará se sentir como
pior que o inferno. Ele sentirá na pele tudo que passei. ― O veneno estava
em sua voz.
Mesmo ela dizendo que daria uma pausa em sua profissão como
Fiquei olhando para ele, assim como todos, mas ninguém disse mais
nada. Fiquei ali, com meu coração apertado. Uma vez, a minha alma foi
que meu irmão tivesse a mesma sorte. Talvez sua alma gêmea esteja mais
próxima dele do que imagina, pensei. Bonnie seria ideal. Os dois mereciam
queria ouvi-los. Era só ter fé em Deus, pois, assim como Ele me deu a
felicidade, iria concedê-la aos dois e aos meus outros irmãos.
Samuel
nelas suplicará para morrer logo, mas não terá tanta sorte assim ―
respondeu, abrindo a porta da grade que cercava os homens.
Todos que já não tinham morrido estavam lá, menos Grigori e Sergey.
― Onde seu tio e seu irmão estão? Queria ter minha vez com eles.
ambos. Ainda é muito cedo para suas mortes, a minha vingança está só
começando. Mas prometo, no dia em que eu for dar fim a eles, te chamarei.
cabeça.
Sorri frio.
― Você sempre terá prazer ao sentir seu punho conectado com carne e
avançamos sobre eles. Abati um, soltando a fúria reprimida que estava
apertando-o. Não pude vingar a morte de minha família, mas o fiz por Lily,
Nunca serei grato o suficiente por salvá-la e ainda tomar conta dela.
tratada, e depois, a única pessoa cuja presença ela suportava era eu, então a
qualquer forma, sou grato por ela corresponder aos meus sentimentos.
― Não precisa. Sou um soldado de Matteo. Jurei não mentir para ele,
e fiz isso ao não falar de vocês. Agora vou arcar com as consequências
desse ato.
― E se ele resolver matá-lo? Minha irmã não vai ficar bem com isso
― apontou Misha.
― Matteo não vai me matar. ― Ao menos, eu esperava que não, mas o
aqui.
― Antes de ir, quero lhes comunicar que vou me casar com a irmã de
vocês ― informei.
as sobrancelhas.
― Espero que aprovem, mas, se não o fizerem, vou casar-me com ela
aprovação de todos.
― Eu nem sabia que ela estava viva, embora desejasse tanto isso, e
agora a tenho próxima novamente. Vejo o quanto ela é feliz e que o ama de
consequências.
Fiquei feliz por eles aceitarem bem. Isso deixaria minha menina
Saí de lá e li a mensagem.
“Venha agora”, só isso. Pela forma como ele escreveu, as coisas não
iriam bem para o meu lado. Fosse o fosse, eu lidaria com sua demanda. Jurei
honrá-lo, e iria cumprir o que quer que me ordenasse. Tinha chegado a hora
do chefe. Ele tinha sobrevivido, pois algum tempo antes sua irmã ligou
avisando que sua mãe foi parar no hospital, então ele me pediu liberação e
saiu às pressas. No fundo sou grato, ele é um bom soldado e amigo. Sinto
pelos outros que eram fiéis e leias. Quando penso nisso fico mais puto e
― Ela estava sentada em uma cadeira, com os olhos húmidos. Fui até ela e
me abaixei, tocando seu rosto molhado, depois fuzilei meu chefe. ― O que
isso; se o fizesse, estaria morto, embora morresse com prazer, mas antes o
muito me enfrentar, quando sua mulher veio suplicar para eu não o matar ―
O que ele disse me acertou no peito. Olhei para Liliane, que mordia o
Suspirei.
― Omiti coisas do meu capo. Não deveria ter feito isso, então mereço
ser castigado e vou aceitar a punição... ― olhei para Matteo ― seja ela qual
for.
me avaliava.
braços para ela não tentar fazer besteira. Parecia que a sua intenção era
verdade.
covarde que se escondia atrás de sua mulher, era homem para enfrentar os
Matteo. ― Você me salvou uma vez! Um homem capaz disso não pode
mandar matar um dos seus! Dona Zaira disse que vocês são como família,
mas que tipo de família é essa, se, por qualquer coisa, querem matar o seu
pessoal?
― Lily...
Ela me interrompeu, não tirando sua atenção do meu chefe, que não
disse nada.
Meu chefe finalmente sacudiu a cabeça, e pude ver, por trás de sua
― Até parece que vou sair ― rosnou. ― Não saio daqui sem ele, de
Dona Zaira entrou, seguida por Luca e mais alguém, mas, antes de eu ver
de novo.
tornou forte. Observei sua expressão. Não a via com medo assim havia anos.
Procurei saber o que ela olhava, foi quando vi o homem que entrou sorrindo
para Matteo.
Lily chegou ainda mais perto de mim, como se quisesse entrar em meu
corpo e fugir daquela pessoa. Nem parecia a garota que estava enfrentando
Matteo pouco antes. Encarar alguém estranho não era tão difícil quanto ver
com Matteo no dia anterior sobre Santini, e ele disse que o infeliz não
trabalhava sozinho, não sem aqueles dois. Não achei que meu chefe os traria
Liliane?
― Eu não...
palavra.
concordou.
Eu não acreditava que Lily conseguiria sair dali sozinha, ainda mais se
tivesse de passar por aqueles imundos. Saí do escritório com ela ao meu
lado.
― Vamos tomar algo na cozinha. A menina Irina está lá, assim vocês
quinze anos, os olhos e cabelos delas não tinham mudado nada. Eu havia
O que eu faria não era só por ela, mas por todas as meninas que
seu governo.
― Sim, por isso eu trouxe vocês. Vamos para o porão, tem alguém lá
Grigori, mas eu era paciente quanto a esses. Enquanto isso, aproveitaria com
aqueles.
Eles foram atrás de Luca, que os levou para baixo. Eu estava a ponto
meu castigo.
Percebi que o que fiz realmente o estava matando. Isso foi como um
soco, pois Matteo e eu estávamos juntos havia muito tempo. Ele esteve do
meu lado nos momentos ruins e bons, lado a lado comigo, confiou em mim,
mas então estraguei tudo ao não lhe contar sobre os irmãos de Lily.
― Não vou justificar meus erros. Não foi por não confiar em você que
não contei, embora isso não justifique a minha decisão. Andreas me pediu só
um tempo até seu plano estar em ação, aí eu contaria tudo a você ― falei
com um suspiro. ― Lamento por quebrar a confiança que tinha em mim e por
assim não seguiria o selo dos Darkness. Os Volkovs são só meus cunhados e,
espero, aliados. Minha lealdade está com você ― declarei. ― O meu capo,
amigo e irmão.
Era a verdade, eu não iria para outra organização, era fiel, mesmo que
fosse expulso. Esse pensamento apertou meu peito, porque não queria ir
afastar dele.
― Entendo que por causa de seu amor por Liliane, pensou que tivesse
que ficar do lado da família dela, e aceito isso, mas não quando minha
organização está envolvida. Maldição, tinha um infiltrado dos Volkovs aqui,
soltasse nada, a não ser o que eu queria para pegar Sergey e Grigori.
esconder algo assim de você foi ruim, eu me senti mal também. Só queria
que essa porra acabasse logo e que Liliane ficasse bem longe de tudo isso,
mas no final ela foi sequestrada e quase morta por eles e por um maldito
incêndio na mata.
Ele me avaliou.
liderança.
― Não estou pedindo isso, jamais o faria. Sou um dos seus soldados;
se desobedeci a uma ordem, o mínimo que você tem que fazer é me dar um
castigo. Aceito isso e vou recebê-lo seja o que for. ― Não me desviei de
seus olhos, querendo que visse a sinceridade neles, embora meu peito se
possivelmente sua raiva de mim também contribuiu com o estrago que fez no
sujeito.
― Se assim tiver que ser, será ― assenti. Não queria morrer, não
quando tinha um futuro com Liliane pela frente, mas não fugiria da minha
sentença.
vou matá-lo, pois é mais leal do que pensei. Se fosse algum outro, estaria
implorando por perdão e que eu não o matasse, mas posso ver que aceitaria
morrer ― declarei.
― Vá embora. Depois vejo qual vai ser o castigo que vou lhe dar. ―
― Santini...
duros como aço ―, é meu, e você vai pegar Lis e ir embora agora, antes que
eu mude de ideia e, em vez de soltar essa fúria que estou sentindo nos
Não discuti, não por temer apanhar dele, mas sim porque obedecia às
suas ordens, além disso estava feliz por poder ficar com Liliane, ainda que
― Não vai ser preciso, pois jamais farei aquilo novamente ― jurei e
duas vezes e corri para vê-lo e suplicar pela sua vida, afinal ele não fez nada
cômodo, o medo de que pensei nunca mais sentir tomou posse de mim.
Não, não pensaria mais naqueles monstros, que estragaram não só a minha
tudo.
― Vai ficar tudo bem, Raio de Sol ― disse ele ao meu lado.
chefe. Ainda bem que Samuel estava vivo e inteiro. Eu temia que o seu capo
o matasse.
respondeu.
Assenti. Uma parte de mim ficou aliviada por saber que não fariam
gostar dele por ter me salvado, mas isso não vai acontecer, se ele está
pensando em matá-lo...
sendo machucado.
― Não vamos falar disso. Tenho uma surpresa para você. Na verdade,
estava preparando-a para a noite, mas acredito que eu tenha que antecipar as
― Samuel...
sentença ao quebrá-lo é a morte. Apesar de tudo, ele não vai me matar. Estou
muito grato a ele por me dar mais uma chance. Então, seja qual for a punição
que ele decidir, vou recebê-la. ― Apertou minha mão. ― Agora não quero
Quis retrucar, mas faria o que ele estava me pedindo. Fiquei ansiosa
― Você ia fazer essa surpresa à noite? Como ela está pronta agora, se
― Vovó cuidou das coisas para mim, pedi sua ajuda. Bonnie a auxiliou
Fiquei feliz em saber que todos se reuniram para aquela surpresa. Isso
me fez pensar.
― Sim, mas, de certa forma, é uma surpresa para mim também, afinal
não sei como ficou, só pedi algo romântico que mostrasse o amor que tenho
Pronta?
― UAU! ― exclamei.
― Vamos seguir a trilha para ver onde vai dar? ― Sorriu, e seguimos
andando.
para o quarto. Após entrarmos, dei um passo à frente, mas ele ficou atrás de
mim. O quarto tinha balões em forma de coração suspensos no teto e mais
uma parte de mim estava morta. Porém você me fez reviver no momento que
a conheci, aquele anjo perfeito brilhante como um raio de sol. Hoje sou o
homem mais feliz deste mundo por tê-la em minha vida e ficaria ainda mais
feliz se você, Liliane Volkov, aceitasse ser minha esposa. ― Seus olhos
respirar.
tinha certeza de que você amaria. ― Beijou o anel no meu dedo e depois
Sorri.
― Seu toque é como um vulcão. Toda vez que o sinto, acho que vou
Tirei suas roupas, enquanto ele fazia o mesmo com as minhas. Logo
― Combustão não chega nem perto do que você me faz sentir ― ele
mim.
Fazer amor com Samuel era como andar sobre as estrelas. Eu nunca
tinha feito isso, claro, mas podia imaginá-las ainda mais brilhante de perto,
estava séria. Afastei-me para ver seu rosto, mas ele não permitiu. ― Sei que
não devia falar nesse momento perfeito, mas não quero mais guardar para
mim. Se vamos dividir uma vida juntos, quero que saiba do que aconteceu
― Não acredito que isso seja possível. Ouvi dizer que salvou muitos
batia acelerado.
― Ela te contou o que aconteceu? ― sondou com a voz distante.
― O que aconteceu com ela, sim, mas não a respeito de sua família.
Acho que não queria invadir sua privacidade e preferia que você mesmo me
Não respondeu nada por um tempo, até achei que não ia mais falar,
― Por muito tempo tenho arquitetado tudo, a minha fuga e a dos meus
irmãos, Raiane e Renan. Os dois iam completar sete anos, e eu sabia o que
isso significava. ― Sua voz soou letal: ― Todos faziam parte de uma seita.
Ainda bem que eu já tinha superado a raiva desde o dia em que Bonnie
acontecesse essa atrocidade com meus irmãos, então organizei tudo. Naquele
dia fui armado com a intenção de matar todos os malditos pedófilos naquela
Tinha uma lei que não permitia entrar armado lá, por isso fui com a intenção
de acabar com aquela coisa fodida, e sabia que aqueles monstros não
Sua respiração ficou pesada. Eu sabia que logo viria o pior. Bonnie
tinha me contado essa parte, mas havia mais coisa naquela história horrível.
reverendo tocando minha irmã. ― O asco era evidente em sua voz, como
também em meus pensamentos, mas não o interrompi, pois não queria que ele
A dor estava em sua expressão. Isso cortou meu peito, pois eu não
dizendo que ia conosco, mas, antes de eu ter tempo de ficar feliz, Giovanni,
o homem que se dizia meu pai, apareceu atirando em todos nós. Recordo que
minha mãe caiu, depois meus irmãos. Eu ia revidar, mas aconteceu tão
A última coisa que me lembro é dele tirando sua própria vida e dizendo que
― Você não podia ter feito nada ― finalmente falei e, dessa vez, me
afastei para olhar seu rosto. Ele deixou, ou estava sem forças para impedir.
A dor que vincava sua expressão era tortura pura. ― Estava ferido.
Olhou o teto, mas parecia não o ver.
enterro deles, pois tinha se passado muito tempo. ― Inspirou fundo, mas
sob as quais era possível ver uma cicatriz que eu já tinha percebido. Toquei
o local. ― Seu pai era um monstro. Por pouco não o matou também.
― Sim, ele era ― respondeu. ― Nem pude fazer com ele o que
desejava por tirar tudo de mim. Restava apenas Lorenzo, pois deixava aquilo
para derrubar o pai. E, no final, nem pude matar Lorenzo também. O velho
infeliz teve que ficar em coma antes de eu vê-lo destruído e no final morreu,
nunca será com você nem nunca descontarei em você ― disse-me em voz
baixa.
Tirei minha atenção de sua cicatriz e encontrei seus olhos agora cheios
de remorso.
― Jamais sentiria medo de você. Sei que iria preferir cortar um braço
faz o que você fez por sua família, por Bonnie e por mim nunca iria
minha testa. ― Felicidade é uma palavra fraca para o que estou sentindo
agora.
Absorvi essas palavras e seu toque.
Ele sorriu também. Fiquei contente por aquela sombra sair de sua
expressão.
você, e ainda ser feliz. Pode realizar isso? Me fazer ainda mais feliz?
Por ele, eu realizaria tudo que estivesse ao meu alcance e ainda mais.
Como não podia tirar a dor das suas lembranças, eu lhe daria o que pudesse
exame que eu tinha feito para saber se podia ser mãe ou não. Quando recebi
a notícia de que talvez não pudesse ser mãe, fiquei em choque, nunca havia
pensado nisso, mas conversei com Samuel e, mesmo se eu ainda tivesse essa
poderíamos adotar uma criança. Fosse como fosse, eu tinha colocado aquilo
Samuel ficou do meu lado como sempre, e eu não podia estar mais
feliz. Todavia, não era só isso que estava me deixando inquieta. Enfim veria
meus irmãos Faina e Kostya. Fazia tantos anos que eu não os via que não
― Ainda está cedo para que eles cheguem aqui ― disse Bonnie
sentada no sofá com o pé com a tala para cima. No dia seguinte ela tiraria “a
resultado cabe a nós dois. ― Uma parte de mim temia o resultado do que
Não demorou muito para Samuel entrar seguido por Andreas, Demyan
chão. ― Estava com saudades. Não sei como conciliar esse longo espaço
Samuel.
― Acho que não é hora para uma briga de irmãos ― Demyan entrou
lado dele tinha cabelos loiros e olhos claros também, um rosto juvenil,
embora seus olhos escondessem algo escuro. Viver trancada por tanto tempo
todos nós tínhamos morrido enquanto esteve presa todos aqueles anos
naquele internato.
― Oi, é bom rever vocês dois. Um se tornou tão alto e lindo como um
modelo. ― Sorri para Kostya, depois para Faina. ― E você está ainda mais
linda.
isso.
para vocês.
quanto o mundo.
sorriso.
para Misha.
Kostya se afastou, soltando a mão da senhora.
los.
Fui ajudar vovó e, quando entrei na sala com uma das tigelas de
― Eu consigo subir.
Olhei para a escada. Não podia vê-los dali, mas sabia que ela tentava
subir, mas, mesmo com o pé quase sarado, ainda devia estar dolorido.
― Esse menino sofreu tanto. Posso ver em seus olhos tão lindos,
fundo, querendo que meu irmão fosse feliz, assim como minha amiga.
― Deus tem um plano para tudo, menina. Quem sabe os destinos deles
não foram cruzados por um motivo? ― Trazia uma bandeja com a outra
subimos as escadas.
― Eu estava falando que vocês têm uma bela vista aqui ― disse
Faina, suspirando.
― Sim, adoro este lugar. ― Olhei para o lago após colocar a tigela na
mim.
sacudiu a cabeça.
Faina sorriu vendo a interação dos nossos irmãos. Eu sabia que isso
devia ser tão estranho para ela quanto era para mim, afinal, algum tempo
atrás, não tínhamos nada disso, nem sabíamos que era possível. Então, do
realizada.
dizia nada.
estávamos agora, mas deixei de fora as partes sombrias. Não queria estragar
o momento.
Os homens foram jogar sinuca, enquanto as mulheres ficaram à mesa
animação.
― Aceito! Ainda bem que não vou usar essa coisa. ― Bonnie apontou
para o pé.
ansiosa.
Ela era um amor de pessoa, tão diferente do seu irmão, que também
era meu por parte de mãe. Eu não sabia de Sergey e no fundo não queria
olho em nós.
Bonnie franziu a testa.
― Nossa família tem regras. Uma delas é que as mulheres são criadas
Fitou-me com um olhar significativo. ― Sei que ela está segura aqui,
protegida até, mas, enquanto Faina não se casar, só poderá se ausentar com a
Kostya estreitou os olhos. Pude ver que ele estava prestes a retrucar,
mas falei primeiro, pois sabia que tinha um significado nas palavras do meu
irmão:
Faina.
― Na igreja ― respondi.
― Vamos ter que discutir como vamos fazer para conciliar nossos
casamento.
― Fala isso porque não ouviu as outras tradições! Tem uma em que o
Bonnie arfou.
― Bom saber, assim não me caso com um russo, pois, se meu marido
para a lua ― falou e sorriu para Samuel. ― Embora eu esteja animada com
os micos.
― Então não vai se casar com a nossa irmã ― disse Misha. ― Você
Ele olhou para Misha como se quisesse pisar nele como um inseto.
Podemos conciliar as duas tradições de modo que seja bom para ambas as
decidir quais devem ser seguidas ― anunciei. ― Agora voltem a jogar e nos
Mais tarde naquela noite, após meus irmãos irem embora, perguntei a
Samuel:
― Por que meus irmãos insistiram na tradição de Faina não ficar longe
de um dos irmãos? Não recordo de muitas delas, mas acho que essa não
existe.
ficando meio feia lá, todos querendo a liderança. Acredito que terão que
quase a tarde toda, só conversava o básico. Eu sabia que aquilo tudo era
novo para ele, então o entendia. Esperava que ele pudesse se encontrar,
Revenge, embora eu ache que possa lidar com os dois. ― Suspirou e mudou
Pode abrir.
― Seja qual for o resultado, saiba que estarei sempre ao seu lado ―
― Você não tem nenhum problema que a impeça de ter filhos um dia
― Não tenho?
― O que é aquilo sobre deixar a noiva nua? ― Ele parecia saber das
tradições da Rússia.
roupas, igual a uma múmia, e a escondem para que o noivo a ache. Quando
consegue deve lutar com a noiva e vencer, só então ele pode tirar as roupas e
tomar posse de seu corpo, selando a união. ― Tocou minha pele, fazendo-me
arrepiar.
aliás, quero estar sem nada. ― Peguei sua camisa e a tirei, empurrando-o
para a cama, onde caiu sentado.
― Ah, sim?
Sua respiração engatou quando tirei seu cinto e puxei sua calça,
― Lily...
fome. Coloquei-o em minha boca. Nunca havia feito isso, mas tínhamos
conversado algumas vezes sobre o assunto, e ele disse que era como chupar
um pirulito, então fiz como sugeriu. Apreciei seu gosto. A princípio, achei
que não ia gostar, mas vê-lo gemendo por mim deixava-me ainda mais
excitada.
― Por mais que eu ame sua boca em meu pau, hoje quero gozar dentro
Revirei os olhos assim que ele acertou um ponto mágico dentro do meu
corpo.
beijando-me faminto, mostrando tudo o que faria por mim, mas nem
precisava, pois eu faria o mesmo por ele, o meu noivo, em breve marido.
Meses depois
Samuel
necessário.
seria minha.
Eu estava indo para casa após um dia cheio com coletores que estavam
devendo, quando tive que fazer uma visita, pois fui chamado por meu chefe.
não foi a traição que o deixara com raiva, pois acreditava que ele confiava
em mim nesse caso, mas sim o fato de ele achar que eu não confiava nele o
bastante para dizer. Percebi que isso o magoou. Devia ter revelado tudo, não
só pelo juramento que fiz a ele, mas também por ser meu amigo e estarmos
mas parou assim que entrei e me fitou. Não conseguir ler seu humor.
Fiz o que mandou, mas não disse nada, esperando que falasse algo.
― Casar-se? ― Não entendia o que isso tinha a ver comigo, mas não
que Jade vai viver na mesma cidade em que ele e os irmãos vivem. Como os
Destruttores têm negócios em Milão, vão ceder uma parte a nós, então eu sei
que logo Luca vai embora para acompanhá-la e assim tomar conta dos
seguir ordens.
― Não, mas vai saber após se casar. No fundo, o amor sempre
prevalece. Ele não vai querer deixar sua noiva longe da família.
Perguntei-me se ele pensava assim com Irina, mas ela já vivia nos
me.
Eu não sabia se era uma ordem ou não, mas, de qualquer forma, fiquei
que ficou de me dar, mas não o fez durante todos esses meses que passaram
― comentei.
― Nunca foi sobre castigar ou não, Samuel. No fundo, eu sei que não
minha vida a você. Não é só meu chefe, mas meu amigo também. Tinha muita
coisa para você tomar conta, eu não queria jogar mais isso sobre suas costas,
sendo que eu podia lidar com tudo sem precisar de sua ajuda.
assimilar tudo. O bom foi que resolvi meus problemas. Agora, com a
chegada de minha filha, espero que continue em paz por aqui e que essa luta
podia aceitar, mas, a longo prazo, isso não estava nos meus planos. Merda!
― Não. Como você e Luca são meu braço direito, e ele vai para
Milão...
― Não faria isso por Liliane? Caso ela quisesse ficar ao lado da
família dela?
Dei um suspiro.
― Isso porque não foi criada com os Volkovs, mas Jade Morelli foi
criada com os irmãos. Luca vai fazer tudo que ela deseja. Outra coisa, a
mesmo se ele não for, quero você como meu consigliere. Luca tem
problemas com cargos. A única pessoa que o fará ir por esse caminho é sua
Interrompeu-me.
― Samuel, não muda muito o que você já vem fazendo, é um dos meus
homens mais leais, um que faria e faz qualquer coisa por esta organização e
por nossas famílias. Lutou ao nosso lado em muitas batalhas, e vencemos. É
o mesmo que fará ao assumir esse cargo, a única diferença é que não será
em arquitetar planos, então fará só isso. Além do mais, esse cargo lhe dará
Estar com Liliane mais tempo era bom; os últimos meses foram muito
casamento. Foram ela, vovó, Bonnie e Faina que fizeram tudo. Então
acreditei que esse cargo seria bom para mim, se no final eu teria mais tempo
em que morrer, assim como reforço o meu juramento de não esconder nada
do meu capo. Serei leal a você como venho sendo esses anos ― anunciei.
me diz, como andam os seus cunhados? Como Beast está lidando com seu
novo cargo de chefe? Afinal era só o braço direito de Lyn, o chefe da Dark
Revenge.
podres. ― Suspirei. ― Embora eu sinta que Andreas faz isso pelos irmãos.
― Não quando foi vendido, mas depois. Uma fonte me disse que sua
Sacudiu a cabeça.
voz. ― Isso não é o pior; também permitem que os garotos sejam molestados
acontecido com meu cunhado, assim como com a Lily, mas não tão hediondo
assim. Era asqueroso demais até para nós, mafiosos, que convivíamos com a
― Fiquei com essa cara também quando soube. Ele foi resgatado
depois de anos por Lyn, que agora tem sua organização não só de assassinos
descobri nada.
― Ele mesmo veio me procurar alguns dias atrás, pedindo uma aliança
entre nós, não só entre nossas máfias, mas com a organização dele, o ramo
de resgate. ― Fitou-me. ― Perguntou se poderia ter sua ajuda em um dos
― Que a escolha é sua. Como esse caso mexe diretamente com você,
acho que é uma escolha sua, não minha, embora o cargo de consigliere
facilite muito caso opte por ajudá-lo. ― Deu um suspiro duro. ― Não serei
contra, aliás, sou a favor de dizimar essa escória da Terra. Com seu novo
cargo, você pode ajudar mais a Dark Revenge. Esse nome, vingança
sombria, combina com o que fazem para dizimar essa escória maldita.
Quando eu achava que já tinha visto tudo, aparecia aquilo. É claro que eu
Assenti.
― Obrigado.
Fiquei feliz com a nova função. Antes, achava que não ficaria, pelo
meus afazeres e jamais fugia das atribuições que me eram dadas. Era
Liliane
presa e foi liberta pelo seu príncipe encantado. Tirando as partes sombrias,
minha vida daria uma boa história, uma que eu desejava que não se
encerrasse tão cedo, aliás, que durasse por muitos e muitos anos.
Samuel não fugiu de sua tarefa, ele realmente pagou os micos, que foi ele ter
de fazer mímica. Até pedi aos meus irmãos que deixassem isso de fora, e
eles concordaram, mas meu noivo não aceitou, dizendo que regras eram
final.
meus pensamentos.
quando não tinha lembranças, esse rosário me trouxe muita paz. ― Suspirei,
ajeitando o véu.
pulso. ― Um símbolo de afeto das pessoas que nos amam e que se mantêm
cabelo.
― Vamos.
― Foi mal.
Ele tinha ocupado o cargo por direito, embora eu sentisse que havia
feito isso pelos irmãos. Parecia que realmente gostava de trabalhar com seu
chefe na outra organização, Lyn.
que foram presos e treinados para serem assassinos. Era um gesto nobre
deles. O mundo era cruel e a cada dia ficava pior. Bem, não o mundo em si,
não queria que amasse alguém mais do que a mim? ― ele questionou,
suspirando.
― Uma parte de mim ainda se sente assim, mas a outra está contente,
alguém contra quem não luto por estar levando você embora é ele. É um
homem que sei que entraria na frente de uma bala para salvá-la, assim como
eu.
e realizada.
― Hoje é um dia para ser feliz, então seja. ― Sorriu. ― Agora vou
Ele saiu, e não demorou muito para Andreas vir ocupar o seu lugar.
momento.
sempre uma luz. ― Olhei para Bonnie, que andava alguns metros à frente.
Ele seguiu meu olhar. ― Temos que agarrá-la e não soltar nunca.
meio próximos após ele a ter ajudado na floresta naquele dia. Mesmo que
que um sentimento nascia ali. Esperava que eles ficassem juntos no futuro.
para a superfície. Confie em mim, estive lá. ― Respirei fundo. ― Faça igual
Samuel fez comigo, comece aos poucos, sendo seu amigo, depois os
sentimentos vão começar a florescer, tão poderosos quanto o sol, e, por mais
que lutem contra, será como lutar contra uma onda gigante.
minhas palavras e foquei em meu dia perfeito. Acreditava que um dia seria a
vez dele.
ele.
altar, tão perfeito como um anjo. Seu rosto estava reluzente, seu sorriso era
― A partir de hoje, ela é sua para cuidar, respeitar e zelar até o final
que ele gostaria de se referir ao nosso amor também, mas não podia dizer
nada assim, pois todos acreditavam que alguém poderia me usar contra ele.
nossos votos, mas nada romântico pôde ser dito. Não importava; nós
família, teríamos que fazer naquele momento uma tatuagem que simbolizasse
que não conseguiria e temia que, de alguma forma, os exames que eu tinha
feito no passado estivessem errados, mas fiz outros, que deram o mesmo
assunto.
Funcionou. Nós dois fizemos uma viagem pela Itália, onde conheci
lugares lindos.
contar para o Samuel assim que ele chegasse. Por isso resolvi fazer um
jantar romântico.
Organizei tudo para o jantar e fiquei esperando-o chegar, ansiosa
em êxtase.
― Grávida?
Misha ficou em silêncio por alguns segundos, então ouvi sua voz
controlada.
Levantei-me, animada.
― Vá dizer a ele. Posso contar aos nossos irmãos ou você mesma faz
isso?
― Também te amo.
em casa, mas parou, olhando a mesa enfeitada com velas e flores, em estilo
um jeito de vir mais cedo. ― Beijou meus lábios. ― Estava com saudades.
que eu amava fazer e parecia que, com o tempo, queria mais e mais, mas
seu prato.
comemorando?
a ele.
fora.
― Nunca achei que pudesse ser mais feliz do que neste momento. ―
― Sei que sempre nos protegerá. ― Eu não tinha medo quanto a isso.
sabendo daquilo.
Ele sorriu, pegando-me nos braços, e coloquei minhas pernas e braços
à sua volta. Depois fomos para o nosso quarto comemorar um nos braços do
Vazio, escuridão e raiva faziam parte da minha vida desde que tudo foi
tirado de mim. Antes era luz, amor e proteção, depois só houve dor, caos e
mas ser abusado sexualmente ano após ano por homens repugnantes que
ficavam de pau duro só por ver garotos lutando foi o pior. Isso levou tudo de
Segui para onde estava um dos dois homens que me fizeram ser quem
Assim que entrei na cela, olhei para o meu irmão. Não, podíamos ter o
sorriu.
mesmo e depois para mim. ― Não importa o que faça, não vou quebrar.
― Todos dizem isso, mas vai depender do que for dado a você. ―
Sabia por experiência própria que lutar não adiantaria nada. Eu o havia feito
muito, por anos, mas não adiantou.
― Vai fazer homens me estuprarem igual fizeram com você? Por isso
estou nu? ― zombou. ― Não importa se acha que não tem alma; no fundo,
único motivo: não posso ver um, que o mato, e não por bondade, pois não
tenho isso ― falei de modo frio. ― E dá para fazer você pagar sem precisar
― Uma vez fui lá, na arena Prometheus em que você estava preso, e o
vi lutar de forma feroz, com um ar de vingança, uma que não seria capaz de
― Que pena. Agora vou fazê-lo pagar. Aí, quando implorar, quem
sabe tiro você da miséria. ― Se fosse por mim, ficaria nela para sempre. ―
Está preso há pouco tempo. Vamos ver como reage a anos de cativeiro sob
friamente.
um jeito de sair daqui e fazê-la pagar caro. Vamos ver se ela ainda aguenta
Cerrei meus punhos, com a fúria crescendo tão forte que agi sem
pensar, lançando-me para ele e socando sua boca tão duro que sua cabeça
chegou a virar, mas parei ante sua risada. O bastardo havia me pegado.
emoções, mas tem, pois se importa com essas pessoas. ― Riu zombeteiro
embora meus instintos me induzissem a continuar socando-o até sua vida ser
ceifada.
― Não custava nada tentar. ― Deu de ombros. ― Seja como for, não
se, mas estava bem preso. ― Hoje será na parte da frente, amanhã e depois,
em todos os buracos que você tem. Vamos ver se, no final, ainda vai estar
com essa confiança toda. Tenho prática nisso. Caso desmaie, tenho sais
― Conheço cada grito de cada tortura. Sabe por quê? Vivi isso por
enquanto um maldito verme me tomava de toda forma que achava que tinha
torturado e sofrendo coisas piores. Você vai ficar o mesmo tempo, para
Algum tempo depois, meu telefone tocou. Até pensei em não atender,
estar me sentindo mal, porém, não estava. Finalmente me sentia vingado, por
que a salvei naquela noite na mata, quando estava sendo atacada pelo seu
não tinha nenhuma emoção, nada que me conectasse a alguém a não ser
Então o que me chamava atenção nela? Seria a escuridão que eu via em seus
olhos, assim como via nos meus? Parecia que ela vivia em uma luta interna
com seus demônios, da mesma forma que eu lutava com os meus diariamente.
Atendi a ligação, mas, antes que ela falasse, ouvi palavras que me
Salvatores):
Miguel
Rafaelle
Spin-off Miguel
Stefano
Série MC Fênix:
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Nasx
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Série Dilacerados
Você é minha
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Site: romancesivanigodoy.com
[1]
Nota da autora: “Pequeno raio de sol” em italiano.
[2]
Nota da autora: Preciso falar com Doroteia e preparar tudo, afinal nem sabia que ia viajar.
[3]
Nota da autora: Um aviso seria bom.
[4]
Nota da autora: Pare de chamar suas vítimas de “peixes”.
[5]
Nota da revisora: irmão, em italiano.
[6]
Nota da revisora: meu coração, em italiano.
[7]
Nota da autora: Adeus, princesa.
[8]
Nota da autora: meu coração, minha alma.