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TRABALHO E CAPITAL MONOPOLISTA © propésito de Trabalho e Capital Monopolista: a Degradagao de Trabalho no Século XX 6 a anélise dos processos de trabalho na sociedal capitalista, e do modo especifice pelo qual eles sao constvides por meio das relacées de propriedade. Em razto dessa abordagem, Harty Braverman optou por née estabelecer um estudo paralelo especifica com as sociedades hibridas do bloco sovigico. A razd0 dessa omissiio é simples: essas sociedades importaram exatamente o modelo capitalist, sem introduzir modificagées significativas Inicialnente tendo concebido pouco mais cue um estudo das alterndxy cias ocupacionais nos Estados Unidos, © autor ompliou seu interesse de modo « incluir @ evolucdo do process de trabalho “dentro” das ocupacses, bem como as alternéncias de trabalho “entre” elas. Si assim examinados lemas como trabalho ¢ gerincia, ciéncia e mecanizaith capital monopolist, o papel do Estodo, estrutura da classe trabalhoxlors € outros assuntos igualmente relevantes. Pela atvalidade, abrangéncia e originalidade do enfoque, esta 6 wit obra indispensével aos estudioses empenhados em compre processo social em curso. Ga LTC www.grupogen.com. ISBN 978-86-216-11804 9 7RBSZ VON AYY G 330.122 B826tc.3 24 10255361 EDICAO ATUALIZADA SEGUNDO © NOVO ACORDO ORTOGRAFICO, 60 ‘Trapatno & CarrraL Monorousta "© Vejn-se Karl Marx Frederick Engels, Selected Works, vol IM (Moseou, 1970), pp. 66-71 1” Washburn, “Toots and Human Evolution”, p63. |= Michael Argyle, The Socal Pshology of Work (Londres. 1972), p 9 Aristteles, A Politica, 111 2589-38 + Marx, © Capital, vo. * Ch reimpressto, Nova Votk, 1963), pp. 11 Lp. les Babbage. On the Economy of Machinery and Manufactures (Londes, 1832: Caviruto 2 No inicio, o italista, utiliza o trabalho tal como the vem das formas anteriores de produgdo, executando os processos de trabalho tal qual eram executa- dos antes. Os trabalhadores ja esto adestrados nas artes tradicionais da indiistria anteriormente praticada ni € no artesanato das guildas, Fiandeiros, teceldes, vidreiros, oleiros, ferreiros, latoci- ros, serralheiros, marceneiros, moleiros, padeitos e outros continua 4 exercer no emprego do capitalista os oficios produtivos que execu- lavam como diaristas nas guildas e como artesdos independentes. Es- sas primeiras oficinas eram simplesmente aglomeragdes de pequenas lunidades de produgdo, refletindo pouca mudanga quanto aos métodos Lradicionais, de mode que o trabalho permanecia sob imediato controle dos produtores, nos quais estavam encarnados o conhecimento tradi- cional e as perieias de seus oficios. Entretanto, to logo os produtores foram reunidos, surgi © pro- bblema da geréncia em forma rudimentar. Em primeiro lugar, surgiram fiungdes de geréncia pelo proprio exercicio do trabalho cooperative, Ale mesmo uma reunido de artesios stuando independentement> e coordenagio, se tivermos em meate a necessidade de ter-s2 uma oficina € os processos, no interior dela, de ordenar as operagdes, centralizagdo do suprimento de materiais, um escalonamento mesmo ruistico das prioridades, atribuig&o de fungOes, manutengao dos regis tos de custos, fothas de pagamento, matérias-primas, produtos aca- bados, vendas, cadastro de crédito € 0s vileulos de lucros e perdar. CapiraL Monorot Thanatno, Em segundo lugar, empresas como estaleiros e fibricas de viaturas exigiam a mistura relativamente complicada de diferentes tipos de trabalho, como os de engenharia civil ete. De novo, ndo demorou € surgiram novas indistrias, possuindo pouca experiéncia manufatu- reira anterior, entre elas as refinarias de agiicar, fabrieas de sabio & destilarias, enquanto ao mesmo tempo varios processos importantes, ‘como fundigao de ferro, laminaria de cobre ¢ lato, equipamento bé- lico, papel e pdlvora, foram totalmente transformados. Tudo isso & ia fungdes de concepgiio e coordenagio que na indistria capitalista assumiram a forma de geréncia © capitalista assumiu essas fungdes como gerente em virtude de sua propriedade do capital. Nas relagdes capitalistas de troca, o tem- po dos trabalhadores assalariados era propriedade dele tanto quanto a ‘matéria-prima fornecida ¢ os produtos saidos de sua oficina. No prin- cipio isto no era compreendido, como o atesta o fato de que a guilda, as regras do aprendizado e os estatatos legais, comuns ao modo feudal e corporativo de produgdo, persistiram por algum tempo, ¢ tiveram que ser gradualmente banidos & medida que o capitalista consolidava seus poderes na sociedade ¢ destruia os aspectos juridicos das formagoes sociais pré-capitalistas, Foi em parte por essa raziio que as primeiras manufaturas tendiam a transferie-se para novas cidades que estavam isentas dos regulamentos das guildas e das tradigdes feudais. Com 0 tempo, porém, a lei e o costume foram remodelados para refletir o pre- dominio do contrato “livre” entre comprador ¢ vendedor, com o qual © capitalista adquiria © poder virtualmente itrestrito de determinar os ‘modos téenicos de trabalho. As primeiras fases do capitalismo industrial foram assinaladas por um continuado esforgo por parte do capitalista para desconsiderar ‘a diferenca entre a forga de trabalto e 0 trabalho que pode ser obtido dela, ¢ para comprar trabalho do mesmo modo como ele adquiria suas matérias-primas: como uma determinada quantidade de trabalho, completa ¢ incorporada no produto. Este empenho assumiu a forma de uma grande variedade de sistemas de subcontratagio e “desliga- mento".* Era encontrado sob a forma de trabalho domiciliar na te- celagem, fabricago de roueas, objetos de metal (pregos e cutelaria), relojoaria, chapéus, indistrias de I © couro. No caso, 0 capitalista distribuia os materiais na base de empreitada aos trabalhadores, para 1 Sidney Pollard, de cujo iro The Genesis of Modern Management devo muito material lo, chama este empento "se ne um método de gerénca, pelo me os um metodo deesquivar-se A geréneta”! As OniceNs pa Gerencia 63 manufatura em suas casas, por meio de subcontratadores © agentes ‘em comissdo, Mas até mesmo em indastrias que ndo podiam ser leva- das para casa, como a de earvao, zinco e minas de cobres, os préprios Imineiros, trabalhando na superficie, faziam contratos isoladamente ou fom {urmas, diretamente ou pela mediagdo do empregador subcontra- {udor do trabalho na mina. O sistema persistiu inclusive nas primeiras {iibricas. Nas fbricas de fios de algodao, fiandeiros qualificados eram fencarregados da maquinaria e recrutavam seus proprios ajudantes, em ral criangas, dentre familiares e eonhecidos. Os capatazes is vezes juntavam as fungdes de supervisio a pritica de tomar a seus cuidados lunas poucas miquinas € pagar salario a quem as operasse. Pollard felaciona praticas deste tipo ndo apenas em minas e fabricas de tecido, ‘nas também em fabricas de tapetes e linhas, metalirgicas, olarias, in- diistria de construgdes, obras pablicas, transporte ¢ pedreiras.” Obser- 1e que nos Estados Unidos 0 sistema de contrato era caracteristico ly industria metalirgica até quase o fim do século XIX: fundidores idores especializados nos oficios de ferro ¢ ago eram juma escala mével aos pregos do mercado, € assa- ‘am seus proprios ajudantes. O seguinte relato, de Maurice Dobb, desses sistemas em fins do século XIX ass {io importante: que o modo especificamente capitalista de ge Portanto, de produgdo, ndo se tomou difundido até recentemente, isto #, no curso dos altimos cem anos: “Por volta de 1870, 0 empregador imediato de muitos taba Thadores nio era o grande capitalista, mas 0 subcontatador inter- mediinio, ao mesmo tempo empregado e pequeno empregador de trabalho, De fato, o trabalhador especalizado de meados do século XIX tendlia a ser até certo ponto um subcontratador, «em psicolog «visto trazia as mareas do seu stares. alo era s6 nos oficios sinda no estigio de trabalho externo « produgio doméstica que este tipo de rlago predominava, com Sets mestres armeiros ou fazedores de pregos ou eeleiros € fe faueitos de viauras, ov agentes © comisdrion com tebathadores ‘domieiliages sob suas ordens. Até nos ofcios fabris o sistema de subeontrataglo era comum: sistema com suas oportunidades para tirania sérdida pelo pagamento em géneros, dvidas ¢ salrios pa {20s em labernas, contra © que os primeiros movimentos sindica- Tistas mantiveram dura e prolongada lula, Nos altos-fornos havia ‘os alimentadores ¢ 06 retiradores, pages pelo capitalista de acordo ‘com a tonelagem da produgdo do fornoc empregando turmas de homens, mulheres, meninos ¢ cavalos para abastecer o forno ou controlar a fundiglo, Nas minas de earvio havia os subemprei- 64 ‘TRaBaLto & CaPrTaL Monoronists teiros que faziam um contrato com a geréncia para explorar uma galeria ¢ empregavam seus prOprios ajudantes, Alguns deles ti- ‘nham até 150 homens sob suas ordens, o que exigia um supervisor cchamad doggie (cachorrinho) para superintendero trabalho. Nas ss havia © mestre-laminador, nas fundigdes de lado e fi- ‘chefe que ts vezes empregava até Vinte ‘ou trinta:alé operaias em fibricas de botBes empregavam me- ninas como ajudantes. Quando comegaram as primeiras fabricas fem Birmingham para ariefatos metilicos “nto se concebia a ideia ‘da que o empregador. como era natural, devia encontrar o local, a fibrica © os materisis, e que devia exetcer a supervisio sobre os ppormenores do processa manufaturciro™* Embora todos esses sistemas implicassem o pagamento de sali- rios por tarefa ou & base de subcontrato, nto se deve supor que isto fasse seu aspecto essencial. Os pagamentos por unidade produzida, sob vrias formas, ainda so comuns atualmente, ¢ representam a conver- sio do salirio por tempo numa forma que tenta, com éxito muito de- sigual, arrolar o Hoje, contudo, o pagamento por pega feita esti combinado com 0 ja sobre 0s processos do trabalho, controle que as vezes € exercido mais coativa- mente do que era quando se uilizava.a forma de pagamento por tempo. (0s primeiros sistemas de tarefas domiciliares e de subcontratagdo re- presentavam uma forma de transig2o, fase durante a qual o capitalista into havia ainda assumido a fungdo essencial de diregd0 no capitalismo industrial e © controle sobre @ processo de trabalho: por esta razdo era incompativel com o desenvolvimento geral da produgdo capitalista, © sobrevive apenas em casos especias. Esses métods de encarar o trabalho traziam as mareas das origens do capitalismo industrial no capitalismo mereanti, que compreendia a compra e venda de mercadorias, mas no sua produgio, e procurava tratar 0 trabalho como qualquer outra mercadoria Tendia a mostrarse inapropriado, ¢ de fato acomteceu rapidamente, muito embora sua s0- brevivencia fosse assegurada por algum tempo devido & extrema desu- niformidade do desenvolvimento da tecnologia, ¢ & necessidade que a tecnologia tha de incessantemente percorter de novo o seu caminho € recapitular, nas indistrias mais novas, as fases do seu desenvolvimento historic Mas, sobretudo, eram Hiitadospor, As OniceNs pa Geréncia 65 “susnepsdte do star ross de dos Baseado uma riditientar divisio do trabalho, como observa Pollard, of SiSt@3) A Enquanto o empenho de coi ir © controle direto sobre a forga de trabalho, aliviava o capitalista das Incertezas desse sistema pela fixagdo de determinado custo unitério, ‘40 mesmo tempo punha fora do alcance do capitalista muito potencial de trabalho humano que pode tornar-se disponivel por horas estabele- 1s, controle sistemitico e reorganizagio do proceso de trabalho. Esta funeto a geréncia capitalista logo assumiu com uma avidez $6 ‘comparivel com sua primitiva timidez, O controle de turmas grandes de trabalkadores antecede de muito, ides edificios, arenas, monume sete. que datam da antigui- dhade © dos tempos medievais. Encontramos uma divisio elementar de {rubalivo nas ofieinas que produziam armas para os exércitos romanos, {© os exéreitos das épocas pré-capitalistasexibem formas primitivas das priticas eapitalistas posteriores.** As oficinas romanas para artefatos metal, poteria, curtume, vidrara, olaria etéxteis, assim como gran- les estincias agricolas, reuniam vintenas ée trabathadores sob uma fling arcadamene diferente \s foram construidas com 0 |. sem “outro objetivo a ilo ser a juela época e seus sucessores. © Sobre ise, esceve David Landes: “0 manufaturero que quisesse aumentar a pro iyo tinh ue der mats trabalho da maa de obra jarecrutada. Agu, contudo, ele de novo caia nas eontradiges intemas do sistema. E no tnka modo algum de complir eve wabalhadores a certo rimero de horas de trabalho: 0 tecelNo, 0 artesto domici ls ea sehor do seu tempo, comejando e parando quando descjasie. E enquanto © ‘nprexador podia aumentar as taxas da pesa com o objetivo de estimular a diligenca, tle zeal achava que isto de ftoreduzia a produgdo” Landes também resume outras ‘omtaigdes inemas” desse nado de orgnizacio india.” +m geral”, eereveu Mara em carta 4 Engels, “0 eéteito & importante para 0 de- senvolsimento econmico, Por exemple. foi no exéreito que oF antigos primeitamente sesenvolveram plenamente 0 sistema de sslirio, A dviso do trabalho dentro de um ufos tame peimeiramente efetuada nos enéreitos”™ ¥e 66 ‘TRawmaLHo & Carita Monoroutsta ‘As manufaturas, subsidiadas pelo Estado produziam armas ou artigos de luxo e gozavam dde um monopélio real ou legal, € grandes encomendas de compradores nao comerciais, tribunais ou exércitos.* A administragdo exigida em tai situagdes permanecia elementar,e isto era tanto mais certo quanto ‘6 trabalho era feito por escravos, e as vezes supervisionado também, por escravos, O capitalista, porém, lidando com o trabalho assalariado, que representa um custo para toda hora no produtiva, numa sequéncia de tecnologia rapidamente revolucionadora, para a qual seus préprios cesforgos necessariamente contribuiram, e espicagado pela necessidade de exibir um excedente e acumular capital, ensejou uma arte inteira- mente nova de administrar, que mesmo em suas primitivas manifesta- ‘gdes era muito mais completa, eutoconsciente, esmerada e calculista do que qualquer coisa anterior. Houve mais precedentes imediatos em que se inspirasse 0 pri- mitivo capitalismo industrial, sob a forma de empresas mercantis, lavouras ¢ estincias agrie capitalismo comercial inventou 0 | com seus controles € conferéncias internos; e do capital mercantil 0 capitalista industrial também her- dou a estrutura das filiais subdivididas entre gerentes responsaveis. As estancias agricolas ¢ lavouras coloniais proporcionavam a experi- Encia de uma rotina supervisora bem desenvolvida, sobretudo desde que muita mineragdo primitiva (e 0s trabalhos de construgao para esse fim) era feita nas estincias agricolas da Inglaterra sob a supervi- sto de estancieiros. ‘© controle sem centralizagio do emprego era, sendo impossi- vel, certamente muito dificil, e assim 0 requisito para a geténcia era 4 reuniio de trabalhadores sob un tinico teto. O primeiro efeito de tal ‘mudanga era et ccontraste com 0 ritmo autoimy incluia muitas intertupgdes, meio-expedientes c feriados, e em geral impedia a extensio da jornada de trabalho para fins de produzir um excedente nas condigdes téenicas entio existentes. Assim & que Gras escreve em Industrial Evolution: “Era simplesmente par fins de dseiptina. de modo que os trabatha” ores pudessem ser eficazmente controlados sob a supervisio de um ‘capatar. Sob um tcto, au ambiente pequeno, cles podiam comegat ‘0 trabalho de madrugsda e continuar até 0 por do sol. ixando-se Periods para repouso e alimentagio. E sob pena de perda de todo temprego eles poiam ser mantidos por todo 0 ano.”™ As Onicens Da Gerencia 67 Dentro das oficinas, a geréncia primitiva assumiu formas rigidas fe despoticas, visto que a criagdo de uma “forga de trabalho livre” exi- {gla métodos coercitivos para habituar os empregados as suas tarefas € ‘manté-los trabalhando durante dias e anos. Pollard observa que “havia regides do pais em que indistrias modernas, sobretudo as t@x- staladas em grandes editicios, no estivessem associadas com prisdes, reformatorios e orfanatos. Esta ligagaio & em geral subestima- da, sobretudo por aqueles historiadores que pressupdem que os novos: lrabalhos recrutassem apenas trabalho livre”. Ele acha to generali- ado este © outros sistemas de coerpio que ¢ levado a concluir que %o modemo proletariado industrial foi levado ao seu papel no tanto, pola srativo ou recompenen monet, mas pela computa, fora © AS compulsdes legais e uma estrutura informal de castigo no sei das fabricas foram frequentemente ampliadas num completo sistema social que abrangia jurisdigdes inteiras. Pollard di exemplo da em- presa de produfa ferro por um pr lo XVIII esta firma empregava mais de mil trabalhadores, es- palhafos pelos servigos centrais, armazéns e empresas maritimas. Um notiv! Livro de Leis sobreviveu a esta empress do sé “A firma fornecia © uma pensio aos pobres, do, tres professores o-funeral © Neste método de total dominagdo econdmica, espiritual, moral & Fisica, escorado pelas constrigdes legais e policiais de uma servil ad- ‘ministrago da justiga numa zona industrial segregada, percebemos 0 precursor da empresa citadina, comum nos Estados Unidos em passado recente, como um dos sistemas utilizados mais frequentemente de con- ¢ total antes do advento do sindicalismo industrial Em todos esses primeiros esforyos, 05 capitalistas estavam tatean- do em diregao a uma teoria e pratica da geréncia, Tendo criado novas relagdes sociais de produgto, ¢ tendo comegado a transformar © modo de produgao, viramse diante de problemas de administragdo que eram diferentes no apenas em escopo, mas também em tipo, em relago as 68 ‘TranaLno © Caprrat Monorouista caracteristicas dos processos de produgdo anterior. Sob as novas ¢ es peciais relagdes do capitalismo, que pressupunham um “contrato livre de trabalho", tiveram que exirair de seus empregados aquela conduta, disria que melhor serviria a seus interesses, impor sua vontade aos tra= bathadores enquanto efetuassem um trabalho em base contratual vo- luntaria, Essa empresa partilkava com a primeira a caracterizagio que Clausewitz atribuia a guerra: é movimento num meio resistente porque implica © controle de massas refratarias, Como o capitalismo eria uma sociedade na qual ninguégm por hi- potese consulta qualquer coisa sendo o interesse proprio, e como pre- valece o contrato de trabalho entre as partes nada mais prevendo sendo evitar que uns prevalegam sobre os de outros, a geréneia tora-se um instrumento mais perfeito e sutil. Tradig8o, sentimento e orgulho no, trabalho desempenham papel cada vez menor ¢ mais esporidico, € S10 considerados por ambas as partes como manifestagdes de uma natureza ‘melhor que seria tolo favorecer. 0 verbo 10 manage (administrar, gerenciar), vem de manus, do latim, que significa mao. Antigamente significava adestrar um cavalo, nas suas andaduras, para faz3-lo praticar 0 manége. Como um cava- leiro que utiliza rédeas, bridio, esporas, cenoura, chicote; e adestra- ‘mento desde 0 naseimento para impor sua vontade ao animal, capi talista empenha-se, através da geréncia (management), em controlar. E o controle ¢, de fato, o conceito fundamental de todos os sistemas gerenciais, como foi reconhecido implicita ou explicitamente por to- dos os tedricos da geréncia,* Lyndall Urwick, 0 rapsédico historiador do movimento de geréncia cientifica e ele proprio consultor adminis trativo por muitas décadas, compreendia claramente a natureza his torica do problema: ‘Nas oficinas do “mestre’ medieval, o controle baseava-se fbedigncia que os costumes da época exigiam dos aprendizes € diaristas ao homem que 0s contratava para o servirem. Mas. na {ase posterior da ceanomia domestica, a unidade familiar indusiral «ra contolada pelo teceldo, apenas na medida em que ele tinha que ompletarcerta uantidade de pano de acordo com determinado par fri. Com o surginento do modermo grupo industrial em grandes tibricas, em zonas urbanas, todo 0 processo de controle passou por uma revolugdo funcamental, Era agora o proprictirio ou gerente de Tingwell por exemplo: “A gertncia ficaz implica controle. Em ccrto sentido 05 teemos sto intercambivels, visto que gerénca sem controle no € coneebivel As OnacEns pa Genéncia 69 uma fbrica, isto 6, o “empregador” como veio a ser chamado, que tina de obter ou exigir de seus “empregades” um nivel de obedign ‘cae de cooperacao que the permitisse exercer controle. Nao havia Tinteresse pessoal no Exit da empresa 4 nao ser na medida em que permitisee um meio de via." Nato era o fato de que anova ordem fosse “moderna”. ou “gran- ‘ou “urbana” que eriava a nova situagdo, mas sim as {que agora estruturam © proceso produtivo, e © antagonismo fire aqueles que executam © processo © os que. \eficiam dele, tram os que executam, 08 que empreendem extrair dessa forga de trabalho 4 Yontagem maxima para 0 capitalista, Notas | Sianey Pollard, The Genesis of Modern Management A Study o the Industrial Revox Inlon i Great Britain (Cambridge, Mass., 1968), p38 Pthidem, 9p. 38-47, 4 Knhenine Stone, “The Origins of Job Suuctures in the Stel Industy”, Radical America (Noversbo- Dezembro, 1973), pp. 19-68 Fe aurice Doh, Studies in tne Development of Capuatam (Nova York, 1947), pp. 206-07. Fv 8. Landes, The Unbound Prometheus: Teclological Change and Industri Developmentin Western Europe from 17501 the Presen (Cambridge, Inglaterra Nova 1969), pp. S89. ‘ar Maree Frederick Eng Michael Angle, The Social Paychology of Mork (Londres. 1972), pp Pollatd, The Genesis of Modern Management, p.7. NS. Gas, fndustrial Evolution (1930). 77: cto in ibidem, pp. 11-12 adem pp. 168.207 "deme 56, William Henry Leffingwell, Office Managemen: Principles and Practice (Chicago, York e Londres, 1925), p35. Tyndall Unwick © EF. L. Brosh, The Making ofScemific Management, vo. 1 (In later, 1946), pp. 1-11 Selected Works, vl, | (Moss0u, 1969), pp 529-30. Cariruto 4 (Os economistas clissicos foram os primeiros a cuidar, de um pon- 10 de vista tedrico, dos problemas da organizagio do trabalho no seio das relagdes capitalistas de produgio. Podem, pois, ser chamados os. primeiros peritos em geréncia, ¢ seu trabalho foi continuado na iltima parte da Revolugo Industrial por homens como Andrew Ure e Charles, Babbage. Entre esses homens e © proximo passo, a formulagdo com- pleta da teoria da geréncia em fins do século XIX e prineipios do século XX, hii uma lacuna de mais de meio século, durante a qual verificou-se lum enorme aumento no tamanho das empresas, os inicios da organiza- 40 monopolistica da industria, e a intencional e sistemética aplicagao da ciéncia a produgdo. O movimento da geréncia cientifica iniciado por Frederick Winslow Taylor nas tltimas décadas do século XIX foi ensejado por essas forcas. Logicamente, desenvolvimento da tecnologia, no qual seu papel foi minimo.* altam-the as caracteristicas de uma verdadeira ciéncia Porque suas pressuposigdes refleten nada mais que a perspectiva do, +E importante apreender esta questo, porque dela decorre a apicagdo universal do taylorismo ao teabalho em suas virias formas eestigios de desenvolvimento, seja ual fora natureza da tecnologia empregada. A gerénca cientifica diz Pte F- Drucker, "no se preocupava com a tecnologia. Na verdad, cla encarava ferramentasetéicas amp Genéxcra Crevririca ‘capitalismo com respeito as condigdes da produgo. Ela parte, nlo obs- {nte um ou outro protesto em contrario, ndo do porto de vista humano, ‘mas do ponto de vista do capitalista, do ponto de vista da geréncia de Juma forga de trabalho refratiria no quadro de relagdes sociais antag6- nieas, Nao procura descobrir ¢ confrontar a causa dessa condigdo, mas nes ta como um dado inexordvel, uma e« L. es trabalho em geral, mas |. Entra na oficina ndo como representante da ciéncia, mas ‘eomo representante de uma caricatura de geréncia nas armadilhas da eléncia, Toma-se necessirio um completo © pormenorizado esbogo dos principios do taylorismo a0 nosso histérico, ndo pelo que ele é popu- irmente conhecido — cron6metro, aceleramento ete. —, mas porque film dessas trivialidades reside uma teoria que nada mais 6 que a ex- plicita verbalizagae do modo capitalista de produglo, Mas antes de ee ee ‘eee Taylor tinha pouco em comum com aqueles fsiélogos ou psi loyos que procuraram, antes ou depois dele, juntar dados sobre as ca- pcidades humanas num espirito de interesse cientifico, Registros © tvaliagdes como os que ele fez slo imaturos ao extiemo,e isto tomou- os vulneriveis a eritica como a que fez Georges Friedmann aos seus diversos “experimentos” (a maioria dos quais no pretendiam ser expe- Fimientos absofutamente, mas demonstragdes foryadas e hiperbslicas. Friedmann trata © taylorisrmo como se fosse uma “eiéncia do traba- iho”, quando na realidade ele pretendia ser uma ciéncia do trabalho dle outros, nas condigdes do eapitalismo.* Nao é a “melhor maneira” tle (abalhae “em geral” o que Taylor buseava, como Friedmann pat presumis, mas uma resposta ao problema especific de cOMOCOMIrolaTE 86 ‘TRABALHO & Capital Monoronista melhor o raat ainado — isto 6, fog de tatulho comprada¢ a os casi sc paces conceit de contole 0 canto fl 0 apr sate hen staves da sin histria, ae com Taser ee algun dimes brecedenes. session do controle gerne soe o tale any de Tiylrincatam, progessnament: a reunite de ted tuna ofcna ea nag a jorada de taba: aspera eee balhadores prepara deatcatodiigts tae rao execu ds norma conta dstodes (convene ew aban local de raul et) qe se supinhainertnt ns aplesaeg gas de minimos de produgdo ete. Um trabalhador esta sob controle geren- Gil quando su extents 6 variate plano nek raente nove anon com \dmitia-se em geral antes de Taylor que a geréncia tinha o diteito de “controlar” o trabalho, mas na ritica esse direito usualmente significava apenas a fixagao de taretas, com pouea interferéncia direta no modo de executi-las pelo trabalha. dor. A contribuigdo de Taylor foi no sentido de inverter essa prética € Substitui-la pelo seu oposto. A geréncia, insistia ele, s6 podia ser um empreendimento limitado e frustrado se deixasse ao trabalhador qual- quer decisdo sobre o trabalho. Seu “sistema” era tio somente um meio Para que a geréneia efetuasse o controle do modo conereto de execugio de toda atividade no trabalho, desde a mais simples a mais complicad Nesse sentido, ele foi o pioneiro de uma revolugdo muito maior na divisdo do trabalho que qualquer outra havida, Taylor criou uma linha singela de raciocinio e a expos com uma légica ¢ clareza, franqueza ingénua e zelo evangélico que logo con- quistou fortes seguidores entre capitalis:as e administradores. Sua obra comegou por volta de 1880, mas foi S6 1a década seguinte que iniciou suas conferéncias, artigos e publicagdes, Sua propria formagiio era fi mitada, mas apreendeu de modo superior a pritica nas oficinas, visto ue trabalhou por quatro anos num misto de aprendizado em dois off ios, o de modelador e maquinista, A divulgagio das ideias de Taylor nao se limitou aos Estados Unidos e Ing/aterra; em pouco tempo ele se fomou conhecido em todos os paises industriais. Na Franga foi chama- da, falta de expresso mais adequada para geréncia, l'organisation scientifique du travail (mudada posteriormente, quando a reagio contra Genewera Crmwrieica 87 © taylorismo comegou, para organisation rationnelle du travail). Na ‘Alemanha, suas ideias eram conhecidas simplesmente por racionali- ucdo; as empresas alemas estavam talver a frente de todos na pritica dessa técnica, mesmo antes da Primeira Guerra Mundial.” faylor era 0 sabichio de uma familia abastada da Filadélfia. De- pois de preparar-se para Harvard em Exeter ele de repente abandonou os siuidos, aparentemente revoltado contra seu pai, que orientava Taylor Para a sua prOpria profissdo de advogado. Ele entao tomow a iniciativa, @xtraordindria para alguém de sua classe, de comegar o aprendizado, do um oficio numa firma cujos proprietarios eram das relagdes sociais dde seus pais. Quando completou ‘Seu aprendizado, empregou-se num trabalho comum na Midvale Steel Works, também de amigos de sua fumilia e tecnologicamente uma das companhias mais avangadas na Inlstria siderdrgica. Nos poucos meses que passou no emprego como {unciondrio e maquinista diarista foi nomeado chefe de turma com a fwsponsabilidade do departamento de tomos mecénicos. Em sua constituigaio psfquica Taylor era um exemplo exagerado do personalidade obsessiva-compulsiva: desde a mocidade ele conta- Yi seus passos, media o tempo de suas vérias atividedes e analisava feus movimentos a procura de “eficiéncia”. Mesmo depois de ficar importante © famoso tinha algo de engragado no aspecto, € quando sparecia na oficina despertava sorrisos. O retrato de sua personalidade, «jue surge de um estudo recentemente feito por Sudhit Kakar, justifica chamd-lo, no minimo, de maniaco neurético.* Esses tragos ajustam-se W cle perfeitamente por seu papel como profeta da moderna geréncia apitalista, visto que 0 que € neurdtico no individuo, no capitalismo é Normal e socialmente desejivel para o funcionamento da sociedade. Logo depois de tomnar-se chefe de turma, Taylor entrou em luta ‘80m os operdrios sob suas ordens. Devido a que esta luta foi um exem- plo clissico da maneira pela qual as relagBes antagénicas de produgio se exprimem na oficina, nio apenas no tempo de Taylor, mas antes \lepois, e desde que Taylor tirou de sua experiéncia as conclusdes que sloveriam modelar seu pensamento subsequente, é necessério citar por ‘oxtenso aqui, um trecho de sua descrigdlo dos fatos.* O seguinte relato, * "Neste capitlo parecer extratos de grande extenslo dos diversos cscritos de Taylor, Iwo porgue Taylor and a fonte mas valiosa para qualquer etudo da gerénca cientfica Nas tempestades da oposiglo que ve seguiu ao tayoeismo, poucos se ascaram a apresen. exemple to groseramente como o fez Tayler, em sn ingen pressuposigdo de que & pessoas sesaas, inclusive traalhadores,perceberiam a suprema raionalidade ‘TrawaLio & CaPiTaL Monovotssra tum dos varios que ele deu da batalha, é tirado de seu testemunho, vinte cinco anos depois, ante uma Comissao Especial da Cimara de Repre- sentantes dos Estados Unidos: “Ora, 8 ofciada Midvale Stst Works era de trabalho por turefa Todo o trata era praticamente feo pr arta eal dis e nite — cinco noites por semana e seis ds, Duss tra a homens acomiam. ura pra acinar as maginas nie os aus para oper-is dunt odin Nis que éros 0 opeririosdaquelaofcin tinhamos a poe dug cuidadsament orainada para tudo o guessed alee Limittvaos a produao cerca de um tro, soho cade gas The Principle of Scientific Management pp. 107-109. se tambén Geeencia Centivica ut Friedman, Indus Socten p. 63. The Principles of Slenafic Management, p11 idem, 9.36. Ibid, 22 Shop Neagements pp. 9899. The Principles of Scenafic Management, pp. 37-38. Titers Testimony before the Special House Comte, pp. 235-6, Tem, pp. 78.71 The Principles of Selentific Management. 62. Shop Management. V5. The Principles of Sciennfic Management, pp. 63,39. Lillian Gifbeth, The Psychology of Management (1514), em The Weaings of the Gil «, William R.Spriegele Clack E Myers, eitoes (Homewood, I, 1953), p. 408 Alfred Marshal, ndusiry and Trade (Lond, 1918, 1932), pp. 391-393. Shop Management 108,

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