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A Modernidade
A Modernidade
Neste terceiro capítulo nos dispomos a reflectir sobre as aporias de uma identidade da
qual se diga pós-moderna, pois uma identidade significa uma essencialidade face a
transitoriedade ou uma unidade na diferença, a qual sirva de referência na contemporaneidade
e, no caso específico, uma abordagem da possibilidade da fixidez cultural identitária do
Homem contemporâneo na concepção halliano.
A pós-modernidade é uma filosofia que se dedica ao que não é fixo pelo que desde
Nietzsche aos Frankfurtianos como Horkheimer e Lyotard dedicam-se a criticar os valores
vigentes até então, declarando a morbidade da razão e as desgraças das invenções
instrumentalistas da modernidade, a alienação da indústria cultural e o movimento súbito a
um estágio novo e líquido do qual se descaracteriza da modernidade e carece de
substancialidade imóvel devido às transformações inesperadas comparáveis ao movimento
quase inidentificável como, à guisa de exemplo, o carro de Jagrená na perspectiva giddeniana
e uma absurdez da repetitividade tal como um tapete rolante.
O pós-moderno ainda tem outro sentido, que vai além do plano epilógico e
necrológico, pois o automatismo do processo mundial esconde ainda outras perspectivas para
além de do assim-por-diante da obediente escada rolante. Está também em andamento algo de
catastrófico e inaudito, que com a escada rolante apenas tem em comum o automatismo, mas
que, fora isso, nos impele para a frente com um tipo de movimento completamente diferente.
Assim, a actual corrente apocalíptica epilógica rompe a barreira do tempo e fala dos
destinos. Surgem desse modo não só necrológios proferidos de antemão sobre a humanidade,
mas também orações fúnebres a fim de adoptar o ponto de vista a partir do qual dir-se-á a
verdade: a própria filosofia pós-moderna.
Com isto diga-se que o sujeito sociológico é o ego interagindo com os elementos
concretos, isto é, aquilo que lhe exterior. O sujeito ainda tem um núcleo essencial intrínseco,
mas este sofre mutações na sua interactividade como se dialectiza com o externo – a cultura -,
da qual partilha a relação intercultural. Nesta visão, a qual o autor, simplesmente a reflecte
como uma transição ao pós-moderno, argumenta-nos uma essencialidade intrínseca no
individuo que é possível sofrer influências extrínsecas e, no entanto, continuar a mesma o que,
logicamente, comporta aporias e é, à partida, uma admissão de uma mescla do em si, o fora de
si e o para si, isto é, um alinhamento dos sentimentos subjectivos com os lugares objectivos
que ocupamos social e culturalmente.
O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se
tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes
contraditórias ou não resolvidas. De igual modo, as paisagens culturais que asseguravam
nossa conformidade subjectiva com as necessidades objectivas da cultura, estão entrando em
colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de
identificação, através do qual nos projectamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais
provisório, variável e problemático. À guisa de exemplo, em Moçambique não existe uma
cultura que seja permanentemente estável e fixa, pois o elemento de globalização,
brasileirização das novelas à nossa sociedade tornou-a maleável, desfigurada e irreconhecível
como acto cultural. Os problemas do passado colonial e a presença comercial árabe para além
de deixar os vestígios físicos como a indumentária, hábitos e culturas alimentares como
também deixaram os elementos simbólicos ou imateriais que prostituíram uma identidade
cultural, vista como fixidez, da qual se possa dizer moçambicana.
Pode-se dizer que a construção da fixidez cultural e uma identidade una é uma fantasia
na pós-modernidade, pois à medida que os sistemas de significação e representação cultural se
multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos
temporariamente.
Tudo começa com o homem moderno que fez surgir uma forma nova e decisiva de
individualismo, no centro da qual erigiu-se uma nova concepção do sujeito individual e sua
identidade. Isto não significa que nos tempos pré-modernos as pessoas não eram indivíduos
mas que a individualidade era tanto vivida e conceptualizada de forma diferente. As
transformações associadas à modernidade libertaram de seus apoios estáveis nas tradições e
culturas. Como na Filosofia nietzschiana que pós em duvida todo constructo religioso
ocidental. Antes se acreditava que essas eram divinamente estabelecidas; não estavam
sujeitas, portanto, a mudanças fundamentais.
Nessa perspectiva as identidades nacionais não são coisas com as quais nascemos, mas
são formadas no interior da representação ou imaginadas. Segue-se que a nação não é apenas
uma entidade política mas algo que produz sentidos – um sistema de representação cultural.
As pessoas não são cidadãos legais de uma nação; elas participam da ideia da nação tal como
representada em sua cultura nacional.
Contudo, a ideia de unificação da identidade cultural por meio da cultura nacional está
sujeita a questionamentos por várias razões. Entre elas, ressaltamos que a maioria das nações
tem culturas diferentes, mesmo através de unificação política, do ponto de vista cultural, por
serem compostas de diferentes classes sociais, como também diferentes grupos étnicos e de
género. Assim, a cultura nacional não atinge todos esses grupos. A ideia de formação da
identidade nacional por meio da cultura nacional torna-se genérica, por supostamente
envolver todos os grupos em uma só formação.
Bibliografia