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O SILÊNCIO DO APRENDIZ

MM MAURO GARDIN


G13 YORK RITE
Introdução

Nesta peça trataremos sobre O Silêncio do Aprendiz, os seus vários


significados, como reflexão, ordem, disciplina, prudência, bem como na
Maçonaria.
A palavra Silêncio é derivada do latim “silentiu” e significa interrupção de
ruído ou estado de quem se cala. Segundo o Dicionário Aurélio, silêncio é
definido como o estado de quem se abstém de falar, de quem se cala; privação
de falar; interrupção de ruído; segredo, sigilo. Na Maçonaria, o silêncio tem vários
significados:
O silêncio no primeiro grau, que importa entender a sua simbologia
O silêncio na iniciação.
O silêncio na visão ritualística.
O Silêncio como exercício do pensamento e da reflexão.
O silêncio como crescimento do Aprendiz e qual o seu significado e
importância?

Desenvolvimento

O silêncio na Maçonaria tem inúmeros significados, traduções,


expressões, respeito, comportamentos, juramentos e reflexões. Pode ser
observado em vários momentos e situações que ocorrem durante as sessões,
no quotidiano e comportamento de um Aprendiz, a começar pelo seu juramento,
no trabalho da pedra bruta e a sua responsabilidade em ser luz. Lembro-me que,
quando fui iniciado na ordem, alguns amigos que hoje reconheço como Irmãos,
me aconselhavam que observasse mais do que falasse, cada sessão tinha algo
novo, cada símbolo, o painel, as colunas, o piso, o altar, as luzes, a prancheta,
a pedra, bruta, a pedra polida, o tecto, a lua, o sol, as estrelas, a circulação em
loja, os sinais, o toque, as palavras e o próprio ritual das sessões. Estava atento,
livre a aprender e a reflectir em cada significado pois me disseram: “Tudo aqui
tem um porquê!”
O Silêncio é a origem de todas as verdadeiras Iniciações.
Quando o profano chega ao templo para a sua iniciação, ele tem os seus
olhos vendados; nesse momento ele já está em silêncio, dá-se início a uma
reflexão profunda, os seus sentidos como a audição e o olfacto ficam mais
aguçados pois tudo é muito novo. Então, ouve do Experto: “sou o vosso guia.
Tende confia em mim e nada receeis”.
Na Câmara de Reflexão que o silêncio assume um dos maiores impactos,
de aprendizagem, pois o candidato talvez não tenha há muito tempo uma
oportunidade igual de ficar a sós, em atitude contemplativa, em meditação, para
que possa ocorrer a maturação silenciosa da sua alma, fazendo as suas
declarações.
Diz o Experto: “Profano., este local irá auxiliar-vos a meditar
profundamente. Assim, eu vos deixo entregue às vossas reflexões. Não estareis
só, pois Deus, que tudo vê, será testemunha de vossa sinceridade neste
importante momento da vossa vida… Meditai e pensai antes de cada resposta”.
Na Iniciação, ao longo do cerimonial, durante os interrogatórios, podemos
encontrar por diversas vezes pausas silenciosas para que o candidato possa
reflectir sobre aquilo que acabou de ouvir. As perguntas formuladas, têm por
finalidade, além de causar um impacto psicológico, a avaliação da sua
personalidade e do seu carácter. Voltar-nos-emos a deparar com o silêncio ao
realizarmos as viagens, cada viagem tem a sua reflexão, o seu silêncio, o seu
“porquê”, feita com absoluto silêncio, principalmente na terceira viagem.
Na visão ritualística, antes de entrarmos no templo na sala dos Passos
Perdidos temos uma reflexão feita por um dos irmãos a convite do irmão Mestre
de Cerimónias; esta reflexão tem como objectivo desprendermo-nos do mundo
profano e nos entregarmos à nossa sessão.
Na abertura dos Trabalhos ouvimos o 2º Diácono responder ao Venerável
Mestre “que deve zelar para que os Irmãos se mantenham nas suas colunas com
respeito, disciplina e ordem”.
No transcorrer dos Trabalhos, os Vigilantes anunciam o silêncio das
colunas, “Reina silêncio na coluna do sul Irmão 1° Vigilante”, “Reina silêncio em
ambas as Colunas, Venerável Mestre”. O que significa que democraticamente
foi concedido o direito à palavra.
Encerramos a Sessão jurando pelo silêncio sobre tudo o que foi visto e
falado em Loja, o Venerável Mestre ainda uma vez chama a si os Obreiros,
confirmativamente.
“ Meus Irmãos, os trabalhos estão encerrados e a nossa Loja fechada.
Antes, porém, de nos retirarmos, juremos o mais absoluto silêncio sobre tudo o
quanto aqui se passou”
Pelo que está feito estes manifestam-se em uníssono pelo sinal, pela
bateria e pela aclamação. É, mais uma vez, a confirmação de cada um do seu
juramento de Iniciação.
O Juramento do Silêncio é um procedimento ritualístico e ao prestá-lo
devemos TODOS (inclusive as Luzes – pousando o Malhete sobre o altar e o
Guarda do Templo embainhando ou colocando a Espada sobre a sua cadeira),
dizer:
“EU O JURO”

O Silêncio nada mais é do que um perpétuo exercício do pensamento.


Calar não consiste somente em nada dizer, mas também em deixar de fazer
qualquer reflexão dentro de si, quando se escuta alguém falar.
Não se deve confundir silêncio com mutismo. Segundo Aslan o primeiro é
um prelúdio de abertura para a revelação, o segundo é o encerramento da
mesma.
O silêncio envolve os grandes acontecimentos, o mutismo, esconde-os.
Um assinala o progresso, o outro a regressão.
Dizem as regras monásticas que o silêncio é uma grande cerimónia, pois
Deus chega à alma que nela faz reinar o silêncio.

“E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o


vosso coração”
Jeremias 29:13
Os mistérios na Maçonaria devem ser velados em silêncio, pois em
relação ao mundo profano os nossos segredos existem com o objectivo de não
os poluir pelos que não se encontram preparados para os entender, e nada é
mais perigoso do que a verdade mal compreendida.
Somente o homem capaz de guardar o silêncio será disciplinado em todos
os outros aspectos do seu ser, e assim se poderá entregar à meditação.
O silêncio é a virtude Maçónica que desenvolve a discrição, corrige os
defeitos, permite usar a prudência e a tolerância em relação aos defeitos e faltas
dos semelhantes.

“ Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os


lábios é prudente”
Provérbios 10:19

“ A sabedoria do prudente é entender o seu próprio caminho…”


Provérbios 14:8ª

O Silêncio não é só a ausência de ruído ou barulho, nem se pode


confundir com mutismo. Normalmente, tendemos a fugir da solidão, do silêncio,
da responsabilidade e damos preferência aos reflexos ilusórios e à busca de
satisfações, facilidades e alegrias.
O mutismo é a regressão, o mutismo esconde, é negativo e cala. O
mutismo é calar negativamente perante uma realidade que chama por nós.
O Silêncio, pelo contrário, é propiciador do exercício do pensamento e da
reflexão. O Silêncio é proactivo e positivo. É pensando e reflectindo, obviamente
em Silêncio que chegamos a conclusões, logo que se evolui, que há progresso
e abertura.

“ O prudente vê o mal e se esconde…”


Provérbios 22:3ª

“…. Portanto sede prudentes como as serpentes e simples como as


pombas”
Mateus 10:16b
Pensar antes de reagir é uma das ferramentas mais nobres do ser
humano nas relações interpessoais.

“O que guarda a sua boca e a sua língua, guarda das angustias a sua
alma”
Provérbios 21:23

“…. Guardarei os meus caminhos, e não pecarei com a minha língua;


refrearei a minha boca…”
Provérbios 39:1

Só o silêncio preserva a sabedoria quando somos ameaçados, criticados,


injustiçados.
“Esperei com paciência pelo Senhor; Ele se inclinou para mim, e ouviu o
meu clamor”
Salmos 40:1

Cada vez mais as pessoas estão a perder o prazer de se silenciar, de


interiorizar, reflectir, meditar.

“Sonda-me, ò Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os


meus pensamentos. Vê em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho
eterno”
Salmos 139:23,24
O silêncio não é para se aguentar para não explodir, o silêncio é o respeito
pela própria inteligência.
“A boca do justo produz sabedoria em abundância”
Provérbios 10:31a

O silêncio e a tolerância são o vinho dos fortes, a reacção impulsiva é a


embriaguez dos fracos.

“O que guarda a sua boca preserva a sua alma, mas o que muito abre
os lábios tem perturbação”
Provérbios 13:3
O silêncio e a tolerância são as armas de quem pensa, a reacção instintiva
é a arma de quem não pensa.

“ A boca do tolo é a sua própria destruição, e os seus lábios um laço


para a sua alma”
Provérbios 18:7

O Silêncio é o exercício do pensamento e da reflexão. O Aprendiz Maçom


cultiva a virtude do silêncio, porque não tem ainda a capacidade do comentário,
do falar; deve apenas ouvir, meditar e tirar as próprias conclusões, até poder
digerir o alimento que lhe é dado. O trabalho do Aprendiz é melhorar,
aperfeiçoar-se. É o trabalhar aa pedra bruta.

Conclusão

Vimos que o silêncio está presente na vida do Aprendiz, na iniciação


quanto iniciado, nos rituais, nas sessões e que ele tem inúmeros significados,
não é manter-se calado, não é deixar de falar, falar com sabedoria, no momento
certo, ter apreso a reflexão, saber meditar nos seus actos, nas suas reacções,
nas suas razões, no seu EU, vencendo as suas paixões, deste modo conseguirá
fazer progressos na ordem com laços de fraternidade.
O silêncio do Aprendiz Maçom (quanto mais cedo este o perceba, melhor
não é mais do que um ensurdecedor diálogo consigo próprio, uma discussão que
o que tem de bom trava com o que tem de mau, uma conversa com a criança
que nos esquecemos de ser, com o adulto ponderado que, às vezes, deixamos
para trás de nós próprios, com o experiente e sabedor ser que, de qualquer
forma, o decurso do tempo mostrará que existe em nós, nós é que, muitas vezes,
não damos por ele e não nos damos ao trabalho de inquirir se ele existe.
É no silêncio que o Aprendiz Maçom vai amaciando as asperezas da
pedra bruta que é ele próprio. O silêncio do Aprendiz Maçom é a primeira prenda
que a Loja lhe dá. Deve o Aprendiz Maçom utilizá-la como uma ferramenta. Se
a utilizará bem ou mal, ele próprio – e só ele – o avaliará.
Ele saberá fazer-se reconhecer Maçom, pelo Esquadro, pelo Nível e pela
Perpendicularidade, pois não sabendo ler nem pronunciar, ele recebe primeiro
para dar depois, através do seu “silêncio”.

Referências
Lavagnini, Aldo – Manual do Aprendiz Franco-Maçom; Varoli Filho, Theobaldo –
Curso de Maçonaria Simbólica;
Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia (Nicola Aslan)
“OBSERVANDO MELHOR O RITUAL” – (Cartilha em elaboração) Valdemar
Sansão
Vade Mecum de Leis, Regulamentos, Códigos e manuais.
MM∴ AA∴ LL∴ AA∴ Rito Escocês Antigo e Aceito, Ritual de aprendiz.

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