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Mônica Feitosa

Yasmim Rodrigues

Lei n° 14.321/2022 - Direito Penal - Altera a Lei n° 13.869/2019 para


tipificar o crime de violência institucional.

Pode se dizer que o fato gerador que levou a alteração da lei 13.869/2019 foi
o caso Mariana Ferrer, após ter os vídeos de sua audiência publicados. O crime
retornou a ter relevância em reportagens e manchetes após o julgamento de estupro
em Santa Catarina, em que a vítima, Mariana Ferrer, durante a audiência acabou
humilhada pela defesa do acusado.
Mariana Ferrer em 2019, era uma digital influencer que através de suas redes
sociais, realizava trabalhos de publicidade. Seu caso ficou conhecido após a vítima
relatar publicamente sua versão dos fatos, ela relatou que ao participar de um
evento em 15 de dezembro de 2019 em um beach club de luxo em Florianópolis
(SC), no qual era embaixadora do estabelecimento Café de La Musique, foi drogada
e estuprada por um dos frequentadores. Ela expostos na internet que foi levada a
uma área desconhecida do estabelecimento, onde teve o estupro consumado, e que
lhe foi negada ajuda por seus amigos, levando a especular que seus amigos
compactuaram com os atos do agressor.
Posteriormente, após sua denúncia e instaurado o processo, foi realizada a
audiência via videoconferência do caso, que foi gravada e divulgada pelo The
Intercept Brasil, acompanhada da análise da sentença, fato que gerou imensa
comoção aos usuários das redes sociais que tiveram acesso ao conteúdo citado.
Pois, a violência institucional ficou literalmente escancarada, e também a
revitimização de Mariana. A vítima foi humilhada pelo advogado de defesa, ele
manipulou fotos de trabalho de Mariana para tentar constrangê-la, fotos essas que
foram manipuladas para parecer que eram fotos íntimas, e em um certo momento o
advogado fala em alto e bom tom que: “Jamais teria uma filha do nível dela”.
A violência institucional no caso da Mariana, começou já desde o início da
audiência, onde a mesma foi constrangida pelo juiz e promotor do caso, para que
ela virasse a câmera para eles verem o local onde ela estava.
O Judiciário, que era para ser um lugar de acolhimento para a vítima, acabou
sendo um pesadelo, foi humilhada e constrangida pelo advogado de defesa do
comerciante André Aranha, e o Juiz e Promotor do caso não interferiam em relação
a essas humilhações.
Por causa da grande repercussão do caso, foi criada a lei 14.321/22 que
altera a lei 13.869/19, que criminaliza a conduta do agente que gere a indevida
revitimização as vítimas de crimes violentos e também o agente público que permite
que um terceiro intimide uma vítima que tenha sofrido crime violento, que foi o que
aconteceu com Mariana Ferrer.
Conforme a Lei 14.321, a violência institucional se caracteriza, como o crime
praticado por agentes públicos contra vítimas ou testemunhas de crimes violentos,
sendo a pena aplicada em privativa de liberdade e multa. Assim sendo, ela
introduziu na lei n° 13.869/2019 Lei Contra o Abuso de Autoridade, o art.15 – A,
vedando explicitamente a hipótese da prática de condutas que possam traumatizar
reiteradamente a vítima, bem como punir os agentes que praticarem tais atos e
quando os agentes não intervenham quando alguém a fizer, durante a persecução
penal. Vejamos o referido artigo:

“Violência Institucional

Art. 15-A. Submeter a vítima de infração penal ou a testemunha de crimes


violentos a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a
leve a reviver, sem estrita necessidade:

I - a situação de violência; ou

II - outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou


estigmatização:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

§ 1º Se o agente público permitir que terceiro intimide a vítima de crimes


violentos, gerando indevida revitimização, aplica-se a pena aumentada de
2/3 (dois terços).

§ 2º Se o agente público intimidar a vítima de crimes violentos, gerando


indevida revitimização, aplica-se a pena em dobro.”

A Lei n° 13.869/2019 define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por


agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de
exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. Lembrando que, as
condutas descritas na lei constituem crime de abuso de autoridade quando
praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
pessoal.
Embora seja o caso Mariana Ferrer que trouxe uma repercussão nacional, ela
foi apenas uma de milhares de vítimas, que após buscar a Justiça para solucionar
um crime, foi desamparada e ridicularizada por agentes que deveriam assegurar
seu acolhimento, e atendimento necessário. E mesmo que o Estado, crie leis
tipificando como crime certos comportamentos por parte dos profissionais que
estão na linha de frente do Estado, se faz necessário a introdução de capacitações
e treinamentos eficazes.

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