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Teatro para A Infância e Juventude. Criação e Formação de Público - Revista
Teatro para A Infância e Juventude. Criação e Formação de Público - Revista
Fotos
Acervo Grupo Galpão 86 | Andrea Nestrea 40 | Elenize Dezgeniski 74, 79 |
Erica Buzelin 58 | Fabiano Lana 96, 98, 101 | Gustavo Barbosa 27 |
Guto Muniz 74, 76, 82, 92, 102, 93 | Ilana Bessler 40 | Kiran 44, 46, 47 |
Letícia Carvalho 52 | Lisa Ria 25, 29 | Marcos Prado 54, 56 | Miguel Aun 84,
85 | Paulo Lacerda 64 | Ricardo Carvalho 66, 69, 70 | Ricardo Milani 62 |
Sérgio Coelho 61 | Taís Ferreira 50 | Thiago Jordão 23, 24, 28, 30
Boas leituras!
Equipe do Galpão Cine Horto
Teatro para a Infância
e Juventude: criação e
formação de público
Aspectos da criação no
teatro para crianças e jovens:
dramaturgia, musicalidade e encenação
17
Eugênio Tadeu*
Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais,
é só a fazer outras maiores perguntas.
Riobaldo
Este texto é uma breve relexão sobre o vasto tema do teatro para crian-
ças e adolescentes. Ele é baseado nas experiências com trabalhos artís-
ticos e formativos, desenvolvidos ao longo de mais de vinte anos, e do II
Seminário Subtexto em Diálogo, do Galpão Cine-Horto, cujo tema foi:
“Teatro para a infância e juventude”.
Dentre os assuntos discutidos no referido seminário, destaco a concep-
ção de infância nas produções artísticas dirigidas a esse público: o es-
pectador para o teatro infantil e sua formação.
Esses complexos e instigantes assuntos estão na pauta de artistas de
teatro e de pesquisadores das artes cênicas nas universidades e necessi-
tam, sem dúvida, de uma relexão especíica, pois são aspectos impor-
tantes do universo teatral.
Neste texto, faremos uma breve abordagem sobre esses tópicos na in- * Mestre em
Educação pela UFMG
tenção de provocar outras perguntas e de apontar para algumas pistas (2000). Professor
assistente na EBA/
como propostas de ação. UFMG e doutorando
em Artes Cênicas
Comecemos pelas concepções de infância nas produções artísticas di- – área Pedagogia
do Teatro (ECA/
rigidas a esse público. Qual a concepção de criança está presente em USP). Sua pesquisa
enfatiza a música e a
nossas produções artísticas? Ao produzirmos algum espetáculo infantil, improvisação vocal-
estamos expondo nossas ideias de infância. Esse entendimento é forma- teatral em diálogo com
o universo infantil. É
do no decorrer de nossa vida e tem inluência da construção de infância fundador do Grupo
Roda Pião.
18 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
escolha passará pelo crivo desse adulto, pois ele é quem terá o conheci-
mento daquilo que está sendo apresentado nos teatros e nas praças.
No âmbito desse tipo de formação seria a família que proporcionaria as
primeiras experiências de ver algum espetáculo, pois a criança depende
de seu núcleo social para ter acesso aos bens culturais; no nosso caso,
aos espetáculos teatrais. Sempre queremos transmitir aquilo que nos
provocou uma boa experiência e da qual desejamos compartilhar. Pare-
ce-me, então, que o gosto nesse nível de formação é que prevalece na
experiência de ver teatro. Se o núcleo social ao qual a criança pertence
tiver acesso a esse bem cultural e dele usufruir, é grande a probabilida-
de de esse grupo compartilhar as idas aos espetáculos com a criança.
Ressalto que, os valores atribuídos por esse grupo social ao teatro, não
condicionam essa formação teatral da criança, mas criam possibilidade
de ela ser iniciada nessa constituição por intermédio do apreciar.
Nesse caminho, as perguntas não cessam: – Quais seriam os elementos
que constituiriam esse público? – Que tipo de espetáculo deveria ser apre-
sentado às crianças? – De qual experiência artística estamos falando?
Sabemos que há espetáculos de diferentes concepções. Há aqueles que
optam por uma estética dos estereótipos de uma infância “infantilizada”
e aqueles que procuram estéticas teatrais que não banalizam a criança e
que procuram ampliar a experiência de seu cotidiano. Cada uma dessas
vertentes nos propõe maneiras diferentes de concepções artísticas. A
criança que é levada ao teatro para ver um espetáculo pode ter uma
experiência que lhe agrada ou não, pois cada sujeito tem uma recepção
diferente. Nada nos garante que um espetáculo, do qual temos gosto
por ele, irá afetar a criança da maneira que queremos.
De um lado temos essa constituição de um público que é baseada na
ida ao teatro pelo convívio familiar e, de outro, temos outra abordagem
que é mais especíica e que lida diretamente com a ideia de formar um
público de teatro.
Essa formação refere-se àquela realizada em escolas e cursos de tea-
tro e visa à iniciação na linguagem teatral. É notado que, nesses luga-
20 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
BRINCATURAS E TEATRICES
A arte das cenas para e
com muitas crianças e adolescentes
Espetáculo Casa e com o curso Brincaturas & Teatrices, por exemplo, procurei antes
Mestre Tereré no
Pantanal, o causo organizar e levantar quais seriam as questões necessárias ao processo
do vanerão da
bicharada. Casa de criação denominado “arte-transformação,” sabendo que ninguém
de Ensaio, 2011.
Fotógrafo:
transforma ninguém. Sendo assim, busco uma ação transformadora na
Thiago Jordão qual as crianças e os adolescentes tenham condições de percorrer seus
caminhos com mais consciência e sensibilidade, para que possam ser
os sujeitos de suas ações. Foi este o percurso que escolhi para formatar
esse curso: desenvolver uma metodologia teatral com crianças e ado-
Teatro para a Infância e Juventude: criação e formação de público | 25
dia, entre outras, que são oferecidas nas oicinas durante esse curso. Até
hoje, mesmo conhecendo os sacrifícios que ainda vislumbro no dia-a-dia,
em se tratando de trabalhar a arte das cenas com e para crianças, ado-
lescentes e jovens, com poucos recursos inanceiros e muitos preconcei-
tos, percebo que o processo de transformação é individual e gradativo.
Sabendo que “ser feliz” é cada vez mais complexo e relativo, pode-se per-
ceber que a apropriação da arte na Casa atua como um dos fortes meios
de integração do aluno enquanto um ser cidadão, para que, assim, ele pos-
sa agir com mais autonomia, alegria e mais dignidade em suas escolhas de
vida – já que nossos alunos não tiveram o privilégio de um convívio mais
pleno com a arte. E, a grande via pela qual esta apropriação da arte nos
possibilita não é outra senão a via da educação, tomada aqui em sentido
especiico: por meio de uma metodologia teatral experimental voltada à
cultura da infância e da adolescência, em busca de uma “pedagogia da
alegria e da delicadeza”, no sentido mais amplo da palavra.
Tal pedagogia é dividida em dois semestres: No primeiro, as oicinas de
artes transcorrem de acordo com as turmas e as idades dos alunos, nos
seus diversos segmentos, sempre tomando como base as brincadeiras,
através dos jogos tradicionais (resgate da cultura da infância), jogos tea-
trais, o corpo, a voz falada e cantada; sem deixar de lado a estética, a ale-
gria e o afeto, desde o primeiro até o último ano do curso (5 a 8 anos).
No inal de cada semestre, apresentamos à comunidade um Brincato
(nome inventado pelos alunos, que signiica “brincar de teatro”). O
Brincato é uma aula aberta, sem pretensão de se montar uma peça, no
qual é apresentado, aos pais e à comunidade, um pouco do que apren-
demos nas oicinas no primeiro semestre. As oicinas que são oferecidas
durante o curso de Brincaturas & Teatrices, modiicam-se a cada ano,
de acordo com as necessidades e desejos dos alunos que passam nesse
28 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
O TEATRO, A CRIANÇA E OS
“MUNDOS DE VIDA”:
aspectos existenciais da criação adulta sobre
e para as culturas da infância
Introdução
PRIMEIRA SITUAÇÃO
Na Madrugada:
O Muro Chora e Ri
(sem que ninguém o ouça)
Teatro para a Infância e Juventude: criação e formação de público | 37
SEGUNDA SITUAÇÃO
Na Manhã de Inverno:
O Muro Lamenta a Necessidade das Crianças de Saírem de suas
Camas para Irem para a Escola (mas gosta de ser usado e pre-
enchido)
TERCEIRA SITUAÇÃO
Ao Meio-dia de Domingo:
O Muro Chora sua Solidão e Ri da sua Liberdade
(domingo é seu dia de folga)
QUARTA SITUAÇÃO
No Final de Tarde com Chuva de Verão:
O Muro Morre de Medo (de enchente, de enxurrada, de criança
perdida)
Referências
É PARA CRIANÇAS?
Karen Acioly*
Taís Ferreira*
1 Para conhecer melhor o conceito, ver livros do sociólogo francês Pierre Bourdieu.
Teatro para a Infância e Juventude: criação e formação de público | 45
2 FERREIRA, Taís. A escola no teatro e o teatro na escola. 2ª. ed. Porto Alegre: Media-
ção: 2010.
46 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
Espetáculo
Negrinho do
Pastoreio. Oigalê
Cooperativa de
Artistas Teatrais.
Porto Alegre, RS.
Fotógrafo: Kiran
Teatro para a Infância e Juventude: criação e formação de público | 47
O que quero dizer com o airmado nos parágrafos acima? Que especta-
dores somos todos, independente de freqüentarmos uma escola ou de
termos contato com o ensino formal das linguagens artísticas, espetacu-
lares, literárias e audiovisuais. No entanto, ser atravessado por experiên-
cias com as linguagens (fazer, ver, contextualizar) também é abrir novas
possibilidades de leituras e de construção de sentidos e signiicados a par-
tir das artes cênicas. É potencializar a relação dos sujeitos com as artes.
Espetáculo Deus e
o Diabo na Terra
de Miséria. Oigalê
Cooperativa de
Artistas Teatrais.
Porto Alegre, RS.
Fotógrafo: Kiran
48 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
Negar essas experiências dentro dos muros da escola seria uma postura,
no mínimo, inocente por parte de professores, pais e funcionários, pois
crianças pequenas já possuem suas vivências e têm amplo poder de nego-
ciação com diversas linguagens midiáticas, audiovisuais e espetaculares.
Para que o teatro aconteça, deve haver um pacto entre artistas e espec-
tadores, pacto este muitas vezes não verbal, não escrito, não emitido
e que se aprende no ato mesmo de ser espectador, de ir ao teatro, ao
cinema, ao circo, a recitais, a concertos e a shows de música. Mas como
trabalhar este pacto com crianças que não costumam freqüentar casas
de espetáculos? Impondo regras e limites arbitrariamente? Proibindo
a criança de mover-se, falar ou expressar qualquer reação durante o
momento da assistência? Não me parece que esta seja uma introdução
produtiva às vivências com o teatro. Mas como abordar a compreensão
das regras, ou seja, dos pactos a serem estabelecidos no acontecimento
teatral e que potencializam a fruição desse pelos espectadores mirins?
Uma das formas mais produtivas de apreensão dos códigos e dos pro-
cedimentos que estão envolvidos na linguagem teatral é experimentá-
los na prática. Não há manuais escritos que ensinem a ser espectador
e muito menos a fazer teatro. Vivenciando com seus corpos e ações o
fazer teatral, potencializa-se e torna-se outra a relação como espectador
das diversas linguagens cênicas, espetaculares e (por que não?) midiáti-
cas; além de desenvolver aspectos fundamentais de criatividade, imagi-
nação, oralidade e expressão corporal, trabalho em grupo e cooperação,
noções estéticas e éticas, entre tantas outras.
Propiciar às crianças idas ao teatro e fazer destes momentos (festivos)
espaços de conhecer, viver e pensar o teatro é muito importante. Mas
fazer do antes e do depois uma série de atividades obrigatórias como
escrita de textos, desenhos, questionários e tarefas inindáveis pode ter
um efeito contrário e fazer com que os pequenos espectadores asso-
ciem o teatro a mais uma de suas muitas obrigações cotidianas como
crianças contemporâneas. Há que se ter cuidado (e delicadeza), portan-
to, na condução de atividades antes e depois da ida ao teatro.
50 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
Volto a essa que é a pergunta sem resposta, já que cada artista, pai ou
professor, poderá encontrar a sua resposta ao relacionar-se com as diver-
sas infâncias. A mediação direta da escola e dos familiares é necessária
para a relação das crianças espectadoras com os espetáculos? Ou elas já
possuem bagagem suiciente para isso nos dias de hoje? Não estaríamos
limitando as leituras e usos das artes pelas crianças ao direcionarmos
seus olhares e sentires? Um mediador não é um fornecedor de cami-
nhos já trilhados? Por que não permitir a construção de novos trajetos
perceptivos? Será que, no mundo de hoje, necessitamos de facilitadores
que nos deem respostas ou de complicadores que nos interpelem com
perguntas? Como podemos atuar como mediadores que estimulem a
proliferação de percepções e não que tolham as possibilidades de ser
espectador e de construir sensações e sentidos pelas crianças?
Deixo o leitor com essas questões, como fruto da outra questão, em
aberto, para que nos deem a pensar...
Espetáculo Miséria,
servidor de dois
estancieiros.
Oigalê Cooperativa
de Artistas Teatrais.
Porto Alegre, RS.
Fotógrafo:
Taís Ferreira
51
A FORMAÇÃO DE PÚBLICO
PARA O TEATRO INFANTIL
Paulo Merisio*
Este breve texto abordará, dentre tantos, dois aspectos que parecem
fundamentais para a discussão em torno da formação de público para o
teatro infantil. O primeiro aspecto está associado justamente à ideia da
experiência, numa abordagem que toca em conceitos que vêm subsi-
diando as discussões em torno da pedagogia do espectador. O segundo
está ligado a elementos presentes na própria cena que podem estimular
um exercício crítico e participativo no momento mesmo da fruição do
espetáculo. E, como a prática artística está intrinsecamente vinculada à
minha produção relexiva, me cercarei de exemplos de experiências da
trajetória de meu grupo de teatro, a Trupe de Truões, de Uberlândia.
Há uma parábola de Walter Benjamim, intitulada Omelete de Amoras, na
qual um rei pede que o cozinheiro consiga repetir o paladar daquela ome-
lete, ameaçando-o de morte, caso fracasse. O rei, ainda criança, estava
fugindo com seu pai de um ataque inimigo e eles encontraram abrigo na
casa de uma senhora que lhes prepara a omelete. O cozinheiro, então, se
* Doutor em Teatro
oferece ao carrasco respondendo conhecer todos os truques da receita, pela UNIRIO. Professor
do Curso de Teatro
mas apontando sua incapacidade de agradar ao rei, pois jamais consegui- e Coordenador do
Programa de Pós-
ria resgatar os temperos que lhe deixaram aquela impressão: Graduação em Artes
Cênicas da UNIRIO.
Dirige, desde 2002, o
Faltará o perigo da batalha e o seu picante sabor, a proximidade grupo uberlandense
Trupe de Truões, no
do pai na loresta desorientadora, a emoção e a vigilância do qual é coordenador
fugitivo perdido. Não será omelete comida com o sentido alerta pedagógico do Ponto
de Cultura (MG)
do perseguido. Não terá o descanso no abrigo estranho e o calor Trupe de Truões.
do fogo amigo, a doçura da inesperada hospitalidade de uma ve- Membro do Conselho
Administrativo do
lha. Não terá o sabor do presente incomum e do futuro incerto. Centro Brasileiro de
Teatro para a Infância
(Benjamim, 1995, p. 220) e Juventude - CBTIJ /
Biênio 2010-2012.
Jogos de
experimentação
de sombras.
Instituto
Tereza Valsé –
Uberlândia/ MG,
2008. Fotógrafo:
Letícia Carvalho
Assim, Simbá, por exemplo, possui um cenário que não identiica uma
ambientação, mas que se permite ser diferentes espaços, em função da
narrativa (Figuras 03 a 05). Nesta perspectiva, também se coloca a atu-
ação, pois os atores navegam entre a função de narradores e diversos
personagens – membros da família do Simbá, marujos, seres marinhos,
etc. A completude da cena se dá pelos espectadores, de todas as idades.
E esta experiência, ao estimular um processo de abertura para a imagi-
nação, colabora, por meio da cena, na formação do espectador. Finalizo
esse texto com uma história que vivenciamos com um espectador de Sim-
bá, de 4 anos, que exempliica esta relação: ao saber que teríamos nova
apresentação do espetáculo, ele insistiu muito para a mãe que o levasse
novamente. No inal da apresentação, ele estava chorando. A mãe então,
preocupada, lhe perguntou se ele não havia gostado daquela apresenta-
ção; e ele respondeu: – Não, mãe, é que eu estou emocionado.
Referências Bibliográficas
BENJAMIN, Walter. “Rua de mão única”. Obras Escolhidas II. 5. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1995. pp. 219-220
BROOK, Peter. A porta aberta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1999
56 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
Érica Lima*
Fazer experiência
2 Cf. Nota de Leandro Konder in: BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no
auge do capitalismo. p. 146 (grifo meu).
3 Cf. LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos.
Teatro para a Infância e Juventude: criação e formação de público | 59
uma criança, mas encontrar uma zona de vizinhança com ela. É explorar
como faz uma criança, numa “concepção cartográica” e não “arque-
ológica”: é dedicar-se aos meios, aos percursos, aos deslocamentos. Na
“concepção cartográica”, ao contrário da “concepção arqueológica”,
trata-se de um inconsciente cujos objetos não estão “afundados na ter-
ra”, mas “levantam voo”. Interessam os meios, os trajetos, os devires.4
E isso é poesia. Isso remonta também à atividade infantil do recortar e
colar, experiências fundamentais da infância, como nos lembra Com-
pagnon: “Imagino que, quando bem velho – se eu icar bem velho – re-
encontrarei o puro prazer do recorte: voltarei à infância”.5
Se Benjamin localizava as causas da “pobreza de experiência” da época
moderna na catástrofe da guerra mundial, Agamben nos lembra que hoje
não é necessária uma catástrofe para a destruição da experiência: “a pa-
cíica existência cotidiana em uma grande cidade é, para esse im, perfei-
tamente suiciente”.6 Segundo o ilósofo italiano, estaríamos condenados
hoje a uma “vida nua”, em que tudo é necessário e, portanto, nada é
possível; em que o estado de exceção estaria se consolidando como a
nova normalidade, seja no campo da política internacional, principalmen-
te a partir do 11 de setembro, seja no dia-a-dia do cidadão, extenuado
por uma mixórdia de eventos e notícias “extraordinários”, mas que não
se convertem em experiência, ou asixiado pelo consumismo desenfrea-
do. Encontramo-nos expropriados de experiência, não porque não exis-
tam mais experiências, mas porque estas “se efetuam fora do homem”,
que “olha para elas com alívio”. Liberados, mas também expropriados do
páthei máthos, experimentamos a opressão de um cotidiano repleto de
eventos signiicativos, que não se traduzem em experiência.
Mas, ao mesmo tempo em que Agamben reconhece, na contemporaneida-
de, aquela pobreza de experiência identiicada por Benjamin na modernida-
de, ele acredita numa experiência futura, já em germe. Ele “aposta” na in-
Dramaturgias próprias
Mas se há, por um lado, um querer-dizer da infância, há, por outro lado,
um público que nos assiste. Se é problemático imaginar que se sabe
da infância, também o é ignorá-la por inteiro. Ao longo do percurso,
fomos nos encaminhando para a construção de dramaturgias próprias,
na busca de falar mais diretamente a este público, ao invés de partimos
de textos pré-existentes. Os processos foram se tornando cada vez mais
coletivos e os talentos individuais dos integrantes passaram a ser colo-
cados a serviço das montagens Assim, integrantes passaram a escrever,
dirigir e fazer cenograia e igurino.
Em Fantasmas, Monstros e Assombrações, foi o tema do medo que deu
ensejo ao surgimento de um musical que brinca com os medos infantis. Em
E se o mundo fosse uma grande brincadeira de criança?, foi o olhar infantil
Espetáculo
Fantasmas,
monstros e
assombrações.
Grupo Real
Fantasia.
Fotógrafo:
Sérgio Coelho
62 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
Espetáculo Uma
Professora Muito
Maluquinha.
Grupo Real
Fantasia.
Fotógrafo:
Ricardo Milani
Teatro para a Infância e Juventude: criação e formação de público | 63
Concluindo
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da experiência e ori-
gem da história. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005
BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalis-
mo. São Paulo: Brasiliense, 1989. Obras escolhidas; v. 3.
COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2007.
DELEUZE, Gilles. Critica e clínica. São Paulo: Ed. 34, 2006.
Espetáculo E se
o mundo fosse
KONDER, Leandro. Nota. In: BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire:
uma grande um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989. Obras
brincadeira de
criança? Grupo escolhidas; v. 3.
Real Fantasia. LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos: Gilles Lipovetsky com
Fotógrafo:
Paulo Lacerda Sébastien Charles. São Paulo: Editora Barcarolla, 2004.
65
O TEATRO NA ESCOLA E A
FORMAÇÃO DE ESPECTADORES:
Relações possíveis
(1) ser usada para realizar todas as festas escolares, ilustrando as da-
tas comemorativas; (2) criar um grupo teatral com os alunos talen-
tosos, excluindo os demais; (3) montar espetáculos, dando ênfase
exclusiva ao produto teatral; ainal, onde está a importância dada
ao processo de aprendizagem e desenvolvimento do educando?; (4)
agir como facilitador de conteúdos, ajudando as outras disciplinas;
Teatro para a Infância e Juventude: criação e formação de público | 67
Bibliografia
TIO VÂNIA –
AOS QUE VIEREM DEPOIS DE NÓS:
A verdade dividida
Yara de Novaes*
Toda vez que começo a dirigir um espetáculo, começo-o com aquela “in-
tuição amorfa” da qual fala Peter Brook. Não sei nada além dessa intuição,
não sou capaz de dar nenhuma resposta deinitiva ou um comando cer-
teiro para atingir um alvo estético. O que me move é uma grande paixão
por aquele trabalho, pois, se não for atingida por ele, sou capaz de perder
a vontade de soltar o balão de ensaio, deixo de consultar o barômetro e
abandono o jogo. Meu único fundamento, desse modo, é a união da-
queles elementos díspares e compositivos do grupo de criadores com que
estou trabalhando e a certeza de que aquele trabalho precisa acontecer.
Chegamos ao texto de Tio Vânia depois de lermos outros tantos e,
quando decidimos montá-lo, a impressão foi de que estávamos conta-
* Atriz, professora e
minados pelo “vírus tchecoviano”. Mas nos faltava ainda o diagnósti- diretora teatral. Assina
co. Tchékhov, reletindo sobre a reconciliação entre os homens, sobre a direção do espetáculo
Tio Vânia – aos que
a vida que poderia ter sido e que não foi, sobre o trabalho, a beleza e vierem depois de nós,
do Grupo Galpão,
a natureza como as únicas saídas para o mal-estar de todos nós viven- estreado em 2011.
Espetáculo Tio Vânia, Grupo Galpão.
Bastidores . Fotógrafo: Guto Muniz
dos, como reiterava o mestre. Tarefa é aquilo que fazemos para chegar
ao objetivo da cena. Ela responde à pergunta: o quê estou fazendo? Já
ação é aquilo que acontece espontaneamente, algo que não é preten-
dido ou programado. Frequentemente confundíamos uma coisa com
Espetáculo Tio
Vânia, Grupo
Galpão. Estréia
nacional. Festival
de Curitiba 2011.
Bastidores.
Fotógrafo:
Elenize Dezgeniski
Espetáculo Tio Vânia, Grupo Galpão. Estréia nacional. Festival de Curitiba 2011. Fotográfo: Elenize Dezgeniski
80 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
CONSIDERAÇÕES SOBRE
O PROCESSO DE ECLIPSE1
Jurij Alschitz*
Início. Quando tentamos determinar o conceito teatral de um deter-
minado dramaturgo, temos que levar em conta a maneira como perce-
bemos sua obra e as conclusões que tiramos de seus trabalhos, dentro
de um ponto de vista ilosóico. Na busca por este ponto de vista, co-
meçamos a trabalhar nesta peça de teatro e chegamos à conclusão que
o ponto de vista ilosóico de Tchékhov muda constantemente. E esta
inconstância é exatamente seu “ponto de vista” – Tchékhov é contra
dogmas, contra unilateralidade, contra autoridades ditatoriais e contra
pontos de vista convencionais. E nós gostamos disso!
Modelo de Dramaturgia. Algumas das características mais importantes
dos modelos criativos e ilosóicos da maioria dos autores contêm nor-
malmente uma clara hierarquia de ideias, objetos, eventos, qualidades e
acontecimentos, que são estabelecidos pelo autor e modelados de uma
forma especíica. Porém, o modelo de Tchékhov para o mundo não con-
tém esta hierarquia. O território de seu sistema criativo e ilosóico é
comandado pelo “Sr. Sorte”. Durante nosso trabalho sobre esta peça
teatral, tentamos transmitir a força do acaso, a relutância em catego-
rizar e classiicar tudo e todos, e a não iltragem de ideias, elementos
que deinem este sistema de Tchékhov. A dramaturgia é concebida de * Jurij Alschitz é
diretor e pedagogo
uma maneira na qual a livre existência de episódios, criados a partir de teatral. Formado pela
renomada escola
diferentes histórias do autor, não se apresentam como uma cadeia de GITIS de Moscou; é
seletos eventos. Tais episódios são pensamentos, opiniões e ideias in- fundador, juntamente
com Anatoli Vassiliev,
dependentes, que ganham vida nas mãos do acaso. A coincidência não da Escola de Arte
Dramática, também
pode ter um único signiicado, uma única entrelinha, e um único humor. em Moscou, e hoje
coordena a European
É semanticamente e emocionalmente variada. Por isso, as cenas, monó- Association for Theater
Culture. Assina a
direção do espetáculo
1 Texto escrito pelo Diretor e Pedagogo Jurij Alshitz para o programa do espetáculo “Eclipse”, do Grupo
Galpão, estreado em
Eclipse, do Grupo Galpão. 2011.
84 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
Espetáculo
Eclipse, Grupo
Galpão. Ensaios.
Fotógrafo:
Miguel Aun
Espetáculo
Eclipse, Grupo
Galpão. Ensaio.
Fotógrafo:
Miguel Aun
Final. Se imaginarem nossa peça teatral como uma estrada, essa seria
uma estrada que termina abruptamente após uma placa. Depois disso,
não há nada para guiar o espectador, que deve contar apenas consigo.
Cada espectador caminha nessa estrada, dependendo de seus próprios
recursos humanos, para frente ou para trás, longe ou perto, ou ica no
mesmo lugar reletindo, sem dar nenhum passo. Boa sorte a todos!
Todas as obras de Tchékhov são caracterizadas por grandes variações de
estilos e sistemas criativos. Assim que um estilo criativo começa a se cris-
talizar, Tchékhov nos oferece um inteiramente novo. Por isso, decidimos
nos distanciar dos clichês teatrais das obras de Tchékhov e atuar em cena
utilizando um estilo que se tornou o cartão de visita da arte Russa e que,
de muitas maneiras, determinou o desenvolvimento da arte avant-gar-
de2 mundial. O estilo avant-garde Russo é conhecido através das obras
dos seguintes artistas: dos pintores Malievich e Kandinsky, do composi-
tor Schostakovich, do poeta Maiakovisky, do diretor de cena Meyerhold,
dentre outros artistas. A primeira vista, esse estilo é muito distante da po-
ética de Tchékhov, porém, o risco artístico que tomamos é justiicado pelo
fato de que Tchékhov estava certamente de pé sobre a nascente da arte
avant-garde do século XX, tendo determinado o rumo da dramaturgia
avant-garde. Não é por acaso que Samuel Beckett disse, por várias vezes,
que aprendeu muito com Tchékhov. E mais uma coisa... Quando traba-
lhamos sobre obras de Tchékhov não devemos esquecer que seu persona-
gem favorito, Constantin Trepliov, de sua peça A Gaivota, foi quem disse:
Jurij Alschitz com
os atores do Grupo
“Precisamos de formas novas. Formas novas são indispensáveis...!”
Galpão em seu
estúdio na Alemanha.
Acervo Grupo Galpão 2 No dicionário Le Robert, “avant garde” escreve-se assim, com “e”.
Cine Horto em Foco
89
CONEXÃO GALPÃO
Uma experiência teatral na formação de
professores e alunos do ensino fundamental
Reginaldo Santos*
O ensino de teatro na prática educacional
Espetáculo Manga, E o espetáculo? Qual assistir? Qualquer um? Alguns professores não
Mangueira, Meu
Pé de Brincadeira. se preocupam nem com a faixa etária destinada para um determinado
Projeto Conexão
Galpão Cine Horto. espetáculo. Após a ida, cobram questionários ou resenhas sobre a peça
Fotógrafo:
Guto Muniz
assistida, sem instigar o senso critico do aluno, deixando-o na passivi-
dade. (ABRAMOVICH, 1976).
A experiência do teatro
O teatro, por natureza, pode buscar esse caminho, não se baseando nos
ins precedentes dos meios, pelo contrário, utilizando os meios como
Cine Horto em Foco | 95
ação, sendo que esta ação pode sugerir os ins. Eisner 5 (2008) sustenta
que a arte, em geral, dá mais ênfase para a exploração e a descoberta do
que para a previsão e o controle. Temos a tendência de fazer coisas que
sabemos como prever e controlar, principalmente em sala de aula, dian-
te do aluno. Eisner, em um discurso encomendado pela Dewey Society,
argumenta: O que pode a educação aprender das artes sobre a prática
da educação? Nesse discurso, ele sugere novas visões sobre a educação,
outros valores para sua concretização, outras suposições sobre as quais se
possa construir uma concepção de prática escolar mais generosa, na qual
a incerteza precisa ter o seu próprio lugar nos tipos de escola que nós cria-
mos. O ambiente educacional precisa se abrir à incerteza, promovendo a
surpresa, a exploração e a descoberta em sala aula.
Referências
ABRAMOVICH, Fanny. “Teatro na Educação: o que é ainal? “In: BRA-
SIL. Ministério da Educação e Cultura, Serviço Nacional de Teatro.
Teatro na Educação: subsídios para seu estudo. RJ, 1976. pp. 7 – 9
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Jul/Dez 2008
ROSSETO, Robson. “O espectador e a relação do ensino do teatro com
o teatro contemporâneo”. R.cient./FAP, Curitiba, v.3, pp.69-84,
jan./dez. 2008
Ações formativas
com professores
da rede pública.
Fotógrafo:
Fabiano Lana
102 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
Projeto Conexão Cinema. Seu Nonô conta histórias aos alunos. Foto: Guto Muniz.
Teatro e Política
105
isso, seu reconhecimento como direito deve ser incontestável em qual- Leonardo Lessa Ator,
integrante do Grupo
quer sociedade. Ainda que tardiamente, em 10 de dezembro de 1948, Teatro Invertido (BH/
MG) e do Movimento
esse reconhecimento foi publicado na Declaração Universal dos Direitos Nova Cena.
Coordenador Geral do
Humanos. A Constituição Federal de 1988 também confere aos cida- Galpão Cine Horto.
106 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
na liberação econômica e na
lei do Estado mínimo – onde
o posicionamento estatal é
de se afastar cada vez mais
do fomento direto, deixan-
do que o setor privado e o
livre comércio regulem e ad-
ministrem o país – a política
cultural, que já era assunto
secundário, passa a ser, li-
teralmente, renunciado por
ambas as partes: poder pú-
blico e sociedade civil. O fenômeno das leis de incentivos (tributários),
que tem na lei Rouanet seu principal modelo de total transferência das
obrigações constitucionais do Estado para com o inanciamento à cul-
tura, delegando ao mercado o poder de decisão do que será fomentado
com recursos públicos; também teve como conseqüência, uma crescen-
te despolitização do segmento cultural que, tal qual o poder público,
renunciou a seu direito de participar efetivamente da estruturação das
políticas para o setor.
Esse ciclo vicioso, à luz do debate iniciado no Governo Lula sobre um
novo marco regulador para o inanciamento à cultura do país, expresso
no projeto de lei Pró-Cultura, tem chances de se encerrar. Entretanto, a
108 | Subtexto . Revista de Teatro do Galpão Cine Horto
Referências Bibliográficas
Introdução
Em 2005, as Câmaras Setoriais foram implantadas no âmbito do Con-
selho Nacional de Política Cultural para serem espaços permanentes de
diálogo entre o Estado, a Sociedade e o Setor Privado, na elaboração e
pactuação de propostas de políticas públicas e diretrizes para o Plano
Nacional de Cultura. Instaurou-se um novo modelo de relação entre Es-
tado e Sociedade Civil, que passaram a dialogar e pactuar sobre o fazer
teatral no país. Essas características continuam a ser impressas no atual
Colegiado Setorial de Teatro.
O Plano Setorial de Teatro articula-se com o Plano Nacional de Cultura
e tem como objetivo subsidiar o plano geral com as especiicidades do
setor do teatro, em todas as suas formas e necessidades, e colaborar
no planejamento e implementação de políticas públicas culturais para
a proteção e promoção da diversidade cultural brasileira, através da lin-
guagem cênica teatral.
A proposta da área de Teatro está fundamentada nos resultados obti-
dos na I Conferência Nacional de Cultura, nos trabalhos realizados pela
Câmara Setorial de Teatro e pelo Colegiado Setorial de Teatro, nas prio-
ridades setoriais da Pré-Conferência Setorial de Teatro e nas levantadas
na II Conferência Nacional de Cultura.
O documento inal foi elaborado pelo atual Colegiado Setorial de Tea-
tro, a partir da leitura do Plano Nacional de Teatro, que nos foi legado
pela composição anterior, sob os parâmetros do novo Plano Nacional de
Cultura e seus cinco eixos.
Temos, a nosso favor, a constante consulta às nossas bases nos estados
e diversas entidades às quais estamos todos ligados: movimentos de
base locais, organizações das companhias, grupos, artistas e produtores
independentes, diversas redes organizadas de teatro e, principalmente,
representações na Pré-Conferência Setorial e na Conferência Nacional,
formando uma extensa rede de consulta.
Teatro e Política | 119
* * *
CAPÍTULO I - DO ESTADO
CAPÍTULO II – DA DIVERSIDADE
Antônio Edson
Arildo de Barros
Beto Franco
Chico Pelúcio
Eduardo Moreira
Fernanda Vianna
Inês Peixoto
Júlio Maciel
Lydia Del Picchia
Paulo André
Rodolfo Vaz
Simone Ordones
Teuda Bara