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Universidade Zambeze

Faculdade de Ciências e Tecnologias

Curso de Engenharia Eléctrica

MÁQUINAS ELÉCTRICAS I

Notas de aulas sobre Máquinas Eléctricas de


corrente contínua

Preparado por:
MSc.: Dmajequete @2021
4. MÁQUINAS DE CORRENTE CONTÍNUA

4.1 Introdução
As máquinas de corrente contínua têm grande importância histórica por seu uso como geradores
de corrente contínua (dínamos) representar o primeiro procedimento para produzir energia
eléctrica em larga escala. Seu estágio de desenvolvimento abrange o período entre 1830 e 1880.
O desenvolvimento da máquina cc centra-se há muito tempo na busca de procedimentos que
transformem a corrente alternada induzida em uma espira ao girar dentro de um campo
magnético, em corrente unidireccional ou de polaridade constante (cc). A primeira ideia do
comutador ou de lâminas colectoras encarregue da rectificação mecânica da tensão do
enrolamento do rotor surgiu em 1831 e se deve a Pixii. No entanto, levou mais 36 anos para
Gramme construir em 1867 um dínamo de armadura de anel com lâminas colectoras actualmente
conhecido. Posteriormente, surgiu a ideia do bobinado em tambor para aproveitar mais
eficazmente o enrolamento da armadura, e os diferentes métodos de auto-excitação dessas
máquinas foram propostos, de forma que em 1886 foi alcançada uma configuração física, cujas
características fundamentais coincidem com os das máquinas modernas. O desenvolvimento de
motores cc segue uma linha histórica paralela à dos dínamos e seu uso se deve ao princípio da
reciprocidade já formulado por Faraday e Lenz.
O modo de operação mais característico das máquinas cc constitui a razão da sua utilização
como motor. A vantagem fundamental dos motores cc em relação aos motores ac tem sido o seu
maior grau de flexibilidade para o controle de velocidade e torque, o que torna muito interessante
sua aplicação em diversos accionamentos industriais: laminadores, tracção eléctrica,
montacargas, etc. No entanto, deve-se destacar que devido ao espetacular desenvolvimento da
electrônica de potência, a aplicação dos motores cc nesses campos, nos quais manteve sua
supremacia até o final do século 20, foi reduzida a favor dos motores ac, cujo custo de fabricação
e a manutenção é reduzido. Por outro lado, o uso de máquina cc como generador está
practicamente obsoleto dado que a corriente alterna apresenta em relação a corrente contínua
muitas vantagens na geração, transporte e distribuição de energia eléctrica, devido à simplicidade

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e economia envolvida no uso de transformadores para transformar tensões ca de um valor para
outro. Actualmente, quando se precisa de corrente contínua para uma aplicação específica,
utiliza-se os rectificadores de silício, que de forma estática e com óptimo desempenho
transformam a corrente alterna da rede em cc.

4.2 Principio de funcionamiento

Conforme dito nos parágrafos anteriores, a máquina cc pode operar tanto em regime gerador
como em regime motor. Portanto, para entender o princípio de geração da fem nos enrolamentos
do rotor, será considerada a armadura em forma de anel conforme indicado na figura 4.1. Neste
enrolamento, à medida que o rotor gira, é induzida uma fem nos condutores dispostos na face
externa do núcleo à medida que são cortados pelo fluxo do estator. Nos condutores internos,
nenhuma fem é induzida, uma vez que o fluxo dos pólos não os atravessa, pois suas linhas de
força são limitadas ao circuito de baixa relutância do anel.
Analisando a figura anterior, observa-se que o sentido das fems nos condutores localizados
abaixo do pólo norte é oposto em sinal à aquele dos condutores localizados abaixo do pólo sul (o
sentido destes, por exemplo, é obtido aplicando a expressão bem conhecida: e = (V x B). Uma
vez que a estrutura da máquina é simétrica, as fems correspondentes à parte esquerda da
armadura serão opostas às da parte direita e, consequentemente, nenhuma corrente fluirá através
do enrolamento.

Figura 4.1: Máquina cc com induzido em anel (tipo máquina de Gramme)

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Para usar a fem da armadura e levá-la para um circuito externo, devem ser conectadas as escovas
de saída A e B, localizadas no eixo transversal dos pólos para que possam aproveitar a máxima
fem do enrolamento. Essas escovas dividem o enrolamento em dois ramos em paralelo com a
mesma fem. Em cada um desses ramos, a fem deve ter o mesmo sentido, caso contrário não se
utilizaria na totalidade todas as fems geradas no enrolamento (como caso limite, se as escovas
estiverem dispostas sob os centros dos pólos, a tensão entre elas seria zero). O eixo que forma o
alinhamento das escovas é denominado linha neutra. Esta linha é muito importante, pois indica
as posições em que se produz a inversão da fem nas bobinas da armadura passando as espiras
correspondentes de um ramo paralelo ao outro.
Nota prática: A posição exacta da linha neutra é determinada experimentalmente movendo o
colar das escovas até encontrar o ponto onde ocorrem as faíscas mínimas nos aneis colectores.
Em induzidos em anel e também naqueles com um enrolamento imbricado simples, o número de
circuitos ramificados coincide com o número de pólos. Se chamarmos 2p o número de pólos e 2c
o número de circuitos ramificados ou ramos em paralelo, teremos:

Imbricado simples: 2c = 2p (4.1)

Nos enrolamentos ondulados simples, o número de circuitos ramificados é sempre igual a 2,


qualquer que seja o número de pólos da máquina, ou seja:

Ondulado simples: 2c = 2 (4.2)

Existem também enrolamentos imbricados múltiplos e ondulados em série paralela (de Arnold)
em que o número de circuitos ramificados segue leis diferentes das anteriores, mas que não serão
consideradas neste tema.
Para calcular a fem produzida na armadura de uma máquina cc deve-se levar em consideração
que em cada bobina do enrolamento se obtém uma fem alternada, de tal forma que no semi
período da mesma o fluxo concatenado varia entre os limites +Փ e -Փ (fluxo dos pólos);
consequentemente, o valor médio da fem obtida na bobina no tempo mencionado será:

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∫ (4.3)

onde T indica o período da corrente. Como a frequência da tensão gerada está ligada ao número
de pólos 2p e à velocidade de rotação n em rpm para a relação:

(4.4)

A fem média numa espira do induzido será:

(4.5)

Conforme as escovas da máquina colectem as fems induzidas nas diferentes bobinas durante o
semi período, a fem resultante no induzido será igual à soma das fems médias das diferentes
bobinas que compõem cada ramo paralelo do enrolamento. Se este consistir em Z condutores que
formam Z/2 bobinas e está dividido pelas escovas em 2c circuitos ramificados, cada ramificação
terá Z/4c bobinas conectadas em série, que levando em consideração a equação (4.5) produzirá
uma fem resultante de magnitude:

(4.6)

Na qual . é uma constante determinada para cada máquina. Desta expressão 60c deduz

que a fem pode ser regulada variando a velocidade do rotor ou mudando o fluxo do indutor
ajustando a corrente de excitação dos pólos.
Em geradores esta fem é obtida como consequência do movimento do rotor pela acção de uma
entrada de energia mecânica e pode ser utilizado em um circuito externo conectando uma carga
eléctrica que fará circular a corrente pelo induzido.
Nos motores, a rotação da máquina é resultado da interacção do fluxo do indutor com as
correntes da armadura quando ela está conectada a uma rede cc, o que causa uma fem de reacção
no rotor que se opõe ao sentido da corrente, o que se denomina de força contra-electromotriz
(fcem).

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Em qualquer dos regimes que a máquina cc estiver a funcionar, a passagem da corrente contínua
através dos condutores do induzido causa um torque electromagnético no rotor que tem um
carácter resistente para caso de regime de gerador e um carácter motor quando a máquina
acciona uma carga mecânica (ou seja, quando opera no regime motor cc).
Para calcular a magnitude desse torque, deve-se levar em consideração que se Ii é a corrente total
do induzido, a corrente que flui pelos condutores do rotor numa máquina com 2c circuitos
derivados será Ii/2c. Se for denominado de Bmed o valor médio da indução dos pólos nos
condutores do induzido e L o comprimento dos mesmos, a força média resultante em cada
condutor, de acordo com a lei de Laplace, será:

(4.7)

e que tem sentido tangencial ao rotor. Se for denominado de R o raio do rotor e Z de número de
condutores da armadura, será obtida a magnitude do torque:

(4.8)

Uma vez que a superfície d induzido compreendida no passo polar da máquina é igual a:

, Então o valor do fluxo por polo será:

(4.9)

A equação 4.8 determina o torque da máquina em função do fluxo por polo:

(4.10)

Donde é uma constante determinada para cada máquina.

Se a equação 4.6 for levada em consideração, a equação acima pode ser expressa como uma
função da fem do induzido, resultando em:

[N.m] (4.11.a)

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Esse torque será resistente no caso de transformação da energia mecânica em energia eléctrica,
ou seja, em um gerador, e de rotação no caso de um motor, ou seja, quando a energia eléctrica se
transforma em energia mecânica. Em qualquer dos casos, o numerador da equação (6.11.a)
representa a potência electromagnética que é aplicada à máquina (em regime de gerador) ou que
é extraída dela (regime de motor), e que é, em última análise, o produto do torque pela
velocidade angular, ou seja:
[W] (4.11.b)

Para melhor compreensão do fenômeno da produção de torque em máquinas cc, está


representada na figura 4.2 uma máquina cc funcionando no regime de gerador. A máquina é
accionada por meio de um motor principal no sentido anti-horário e, em seguida se produz fems
nos condutores cujos sentidos são mostrados na mesma figura. Ao conectar uma resistência de
carga entre as escovas, surgem correntes que circulam nos condutores do induzido, que, ao
reagirem com o campo magnético indutor, provocam um torque electromagnético que se opõe à
rotação e, portanto, possui um carácter resistente em relação à acção da máquina primária. Para
manter a velocidade do gerador o torque da máquina primária deve ser suficiente para equilibrar
esse torque resistente, juntamente com as perdas de torque, devido ao atrito, ventilação, etc.

Figura 4.2: Máquina de c.c. funcionando como generador.

Quando a máquina cc funciona como um motor, é lhe aplicada uma tensão de alimentação cc ao
induzido que provoca uma circulação de corrente pelos condutores desse enrolamento, cujos

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sentidos são mostrados no esquema da figura 4.3. A interação dessas correntes com o fluxo
indutivo cria um torque anti-horário que força a máquina a girar. Isso leva ao aparecimento de
uma fem no induzido cujo sentido é idêntico ao estudado para o caso do gerador, visto que a
rotação em ambos os casos é coincidente.
Consequentemente, a fem gerada opõe-se à corrente que circula pelos condutores e por isso
recebe o nome de força contra-eletromotriz. O movimento do motor será mantido enquanto o
torque de rotação electromagnético produzido for maior que o torque resistente exercido pela
carga mecânica conectada ao eixo da máquina.

Figura 4.3: Máquina de c.c. funcionando como motor.

4.3 Reacção do induzido

Quando uma máquina cc funciona sem carga (funcionando, por exemplo, como gerador), não há
corrente na armadura e o fluxo no entreferro é produzido apenas pela força magnetomotriz do
indutor. Quando o circuito da armadura é fechado através de uma resistência de carga, uma
corrente que flui através dos condutores do rotor que dão origem a uma fmm que combinada com
a do estator, produz o fluxo resultante no entreferro da máquina.
É conhecida como a reacção do induzida ao efeito exercido pela fmm deste enrolamento sobre a
fmm do indutor, e isso faz com que a forma e a magnitude do fluxo no entreferro variem em
relação aos valores que a máquina apresentava em vazio. Para estudar o fenômeno da reacção da
armadura, considera-se por simplicidade, uma máquina bipolar (fig. 4.4) trabalhando na zona

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não saturada de sua característica magnética. Desta forma, o princípio de sobreposição pode ser
aplicado tanto para fmm bem como aqueles que representam as distribuições de fluxo magnético
no entreferro. Em outras palavras, em vez de combinar as fmms do indutor e do induzido para a
obtenção do fluxo resultante, ele será obtido somando as distribuições do campo magnético
produzido por cada fmm actuando de forma independente.

Figura 4.4: Reacção do induzido numa máquina cc.

Quando a máquina cc trabalha em vazio, apenas actua a excitação dos pólos e desta forma é
obtida uma distribuição do campo magnético no entreferro que é constante e máxima em baixo
de cada pólo, e que diminui rapidamente no espaço interpolar até chegar a zero na linha neutra.
Na figura 4.5 se mostra um esquema desenvolvido da máquina da figura 4.4 com a distribuição
da indução magnética correspondente no vazio (sem corrente na armadura). Teoricamente, a
curva anterior deveria ter amplitude constante e de sinal diferente em cada pólo, e ser nula no
espaço interpolar, mas não é o caso, devido aos fluxos de dispersão que aparecem nas sapatas
polares, que fazem a forma de B(rx) na prática trapezoidal, conforme mostrado na figura 4.5. Ao
fechar o circuito do induzido, são criadas correntes que produzem uma fmm de forma triangular,
como pode ser demonstrado analiticamente aplicando o teorema de Amper a circuitos fechados
cuja largura é igual a um passo polar. O eixo desta fmm coincide com a linha das escovas, de
forma que se estiverem dispostos na linha neutra, a fmm do induzido será máxima nesta linha

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interpolar; em consequência a fmm da reação induzida tem cáracter transversal em relação a fmm
do indutor (fig. 4.4).

Figura 4.5: Distribuição da indução magnética produzida no entreferro pelos polos

Na figura 4.4 os pólos são mostrados em traços para indicar que sua acção não é levada em
consideração. Essa distribuição pode ser facilmente entendida observando que do ponto de vista
magnético os condutores podem ser considerados conectados entre si, conforme mostrado pelas
linhas tracejadas na figura 4.6. Desta forma, os condutores localizados entre os eixos verticais
CC1 e DD1 agem como se fossem bobinas concêntricas que produzem uma fmm que tem seu
máximo no eixo AA1. Da mesma forma, as correntes nos condutores à esquerda de CC1 e à
direita de DD1 produzem uma fmm que tem seu máximo no eixo BB1.
Em relação a esta distribuição de fmm haverá uma distribuição radial de indução correspondente.
Observa-se que esta curva B (α) apresenta algumas depressões nos espaços interpolares devido
ao facto de nestas zonas a relutância ser muito maior do que em baixo dos pólos porque há um
entreferro maior. Para considerar o efeito da reacção da armadura na distribuição do fluxo do
indutor, as curvas das figuras 4.5 e 4.6 terão que ser sobrepostas, resultando no diagrama da
figura 4.7. Examinando a indução resultante no entreferro, pode se deduzir importantes
consequências. Em primeiro lugar, a reacção do induzido deforma a curva de indução de baixo

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de cada pólo, fortalecendo o campo de um lado do pólo e enfraquecendo-o do outro, ou seja,
forma-se exactamente o mesmo campo transversal do induzido como no caso de a máquina
síncrona com carga resistiva.
Se a máquina não estiver saturada, esta magnetização transversal não modifica sua fem, já que o
fluxo permanece constante; Porém, se houver saturação, o B resultante terá um valor inferior ao
esperado nas saídas dos pólos, o que faz com que o fluxo total diminua e surja um efeito
desmagnetizante que reduz o valor da fem de saída. Outro efeito a ser considerado nesta situação
é o possível aumento de tensão entre faixas do colector consecutivas ocasionado pela passo das
espiras correspondentes pela zona de reforço do escoamento dos polos, o que pode levar a um
faiscamento no colector.
Finalmente, outra consequência também de relevo que pode ser claramente deduzida da figura
4.7 é o deslocamento da linha neutra devido à reacção do induzido. Portanto, quando a máquina
trabalha em vazio, a linha neutra magnética coincide com a linha neutra geométrica ou linha
média entre os polos (ponto N), e quando a corrente flui pela armadura e a máquina está
operando como gerador (caso da fig. 4.7), a linha neutra magnética avança em um ângulo
(ponto M) em relação ao sentido de rotação do rotor.

Figura 4.6: Força magnetomotriz (fmm) no entreferro e indução produzida no induzido.

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Figura 4.7: Deformação do campo magnético no entreferro devido a reacção do induzido.

No caso de operação no regime motor, um raciocínio análogo indicaria que a linha neutra
magnética está atrasada em relação à linha geométrica. Este deslocamento da linha neutra
magnética acarrecta um forte faiscamento no colector, pois durante a comutação, a escova
correspondente provocará um curto-circuito em uma secção do enrolamento na qual uma
determinada fem é induzida porque há fluxo nessa área. Para evitar este fenômeno, as escovas
terão que ser movidas até que a linha neutra real seja encontrada, ou seja, no diagrama da figura
4.11, a escova deverá ser movida da posição N para M (avançando as escovas quando a máquina
trabalhar como gerador e retardando-os quando funcionam como motor).
Esta operação é mostrada mais claramente na figura 6.12. Deve-se observar que todos os
condutores à esquerda do eixo da escova DC conduzem a corrente de saída para o plano da
página, enquanto todos os condutores à direita conduzem a corrente de entrada.

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Figura 4.8: Desfasamento das escovas da linha neutra real

Desta forma, e conforme indicado nos parágrafos anteriores, uma fmm da reacção do induzido
F; que coincide com o eixo das escovas, pode ser decomposto em duas partes: um eixo
longitudinal ou directo Fd que tem um carácter desmagnetizante ou antagônico, uma vez que se
opõe a fmm de excitação Fe, e que pode ser considerado como sendo produzido pelos condutores
compreendidos no ângulo 2 (graus eléctricos), conforme mostrado na figura 4.9a, e outra
componente transversal F, produzido pelos demais condutores agrupados, conforme indicado na
figura 4.9b, abrangendo (180 ° -2 ) graus eléctricos.
Para calcular a magnitude de ambas fmms pode se considerar um induzido de condutores Z
distribuídos em circuitos derivados 2c que conduzem uma corrente total Ii, tendo a máquina 2p
polos. Nessas circunstâncias têm-se:

(4.12)

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E uma vez que são necessários dois condutores do induzido para formar uma espira, o número de
ampervoltes por polo será:

(4.13)

Uma vez que cada polo ocupa uma extensão de 180° e há apenas 2 graus eléctricos ocupados
por condutores responsáveis pela reacção de desmagnetização, a magnitude do fmm Fd
correspondente será:

[AV/polo] (4.14)

Figura 4.9: Fmm antagónica e transversal.

De forma análoga, a fmm transversal é produzida por condutores compreendidos em um ângulo


de 180° -2 , resultando em um valor de Fr:

(4.15)

Resumindo, e especificando os parágrafos anteriores, pode-se dizer que:

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a) Quando as escovas estão localizadas na linha geométrica neutra, a reacção da armadura é
totalmente transversal e sua fmm vem expressa pela equação (4.13), que leva a um deslocamento
da linha neutra magnética que provoca uma faísca no comutador.
b) Se as escovas forem movidas para a verdadeira linha magnética neutra, o faiscamento do
comutador é evitada, mas aparece uma reacção antagônica, definida por (4.14), que se opõe à
acção do indutor e que deve ser compensada por um aumento idêntico da fmm dos polos.

Como a reacção do induzido é proporcional à corrente de carga, o deslocamento das escovas


deve variar em função do regime da variação da carga da máquina. Isso seria uma operação
altamente complexa que os fabricantes das máquinas cc tentaram evitar. Por esse motivo, na
prática, nas máquinas cc de média e alta potência o deslocamento da linha neutra é evitado
anulando o efeito da reacção transversal. A solução mais eficaz é neutralizar a reacção do
induzido ao longo de toda a sua periferia, incorporando um enrolamento de compensação. Para
isso, são feitas nas extremidades dos polos ranhuras paralelas ao eixo da máquina nas quais são
colocados os condutores dispostos em série com o circuito externo, de modo que neles a corrente
flua no sentido oposto à dos condutores do induzido que estão abaixo. Na figura 4.10 é mostrado
um esquema desse tipo que contém 4 condutores por polo, que quase compensam o efeito de
reacção transversal do induzido.
No caso ideal, será necessário incorporar no enrolamento de compensação tantos condutores
quantos houver no induzido e assim a reacção transversal total da máquina será nula e não haverá
deslocamento da linha neutra. Como esses enrolamentos aumentam consideravelmente o custo
de uma máquina, aumentando também as perdas em cobre, eles são usados apenas em máquinas
de alta potência que têm que suportar oscilações repentinas de carga.

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Figura 4.10: Enrolamento de compensação

Na maioria das máquinas cc, para eliminar o deslocamento da linha neutra geométrica com
variações de carga e assegurar uma melhor comutação, são utilizados os chamados pólos
auxiliares, interpolos ou polos de comutação, que são pequenos núcleos magnéticos que são
colocados na linha neutra teórica, que são providos de um enrolamento que é conectado em série
com o induzido, e que produz um campo magnético oposto ao da reacção transversal. Na figura
4.11, uma máquina bipolar é mostrada com os correspondentes interpolos colocadas. No caso a)
a máquina funciona como gerador e no caso b) a máquina funciona como motor. Em ambas as
situações, foi mantido o mesmo sentido de rotação do rotor (anti-horário) e a mesma polaridade
dos polos principais; entretanto, o sentido da corrente na armadura em ambas as figuras é oposta.
Se for considerado o comportamento como gerador (fig. 4.11a), o sentido de rotação é imposto
pelo motor primário externo que move o rotor; as correntes no induzido são determinadas com a
lei de Faraday: (que corresponde a um sentido da corrente definida pela regra
da mão direita de Fleming), que dá origem às correntes que saem para o plano da página nos
condutores localizados no semicírculo superior e as correntes de entrada nos condutores
localizados no semicírculo inferior. É por isso que a fmm da reacção do induzido é transversal e
vai da esquerda para a direita. Já os interpolos devem produzir fmm no sentido oposto ao anterior,
o sentido das correntes nestes polos auxiliares (neste caso de operação em regime de gerador)
deve ser o indicado na figura 4.11a. Observa-se que, na operação como gerador, a polaridade

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magnética de um interpolo é a mesma do polo principal que o precede no sentido de rotação da
máquina (fig. 4.11a).

a) b)
Figura 4.11: Máquina de c.c. con polos auxiliares o de conmutación.

Se for considerado o comportamento como motor (fig. 4.11b), o sentido de rotação é devido à
reacção das correntes do induzido em relação ao fluxo dos pólos do indutor e que é expressa pela
lei de Laplace: (que corresponde ao sentido da força nos ondutores definida pela
regra da mão esquerda de Fleming); Como a corrente na armadura foi invertida em relação à
transportada pela máquina quando ela funcionava como gerador (compare as figuras 4.11a e b),
o sentido de rotação do rotor é o mesmo em ambos os casos. Dessa forma, no comportamento
como motor (fig. 4.11b), a fmm da reacção do induzido é transversal e que actua da direita para
esquerda. Já as interpolos devem produzir fmm no sentido oposto ao anterior, e o sentido das
correntes nestes polos auxiliares (no caso de funcionar no regime motor) deve ser o indicado na
figura 4.11b. Observe-se que na operação em regime motor, a polaridade magnética de um
interpolo é a mesma do polo principal que o segue no sentido de rotação da máquina (fig.
4.11b).
Deve-se levar em consideração que, conforme já indicado anteriormente, os interpolos devem
estar em série com o induzido para que a sua acção seja proporcional à corrente I, e assim,
compensar a reacção transversal do induzido. Além disso, para que o fluxo produzido pelos

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interpolos seja proporcional à corrente, o circuito magnético deve trabalhar na zona linear, o que
exige um maior entreferro induzido - interpolo maior do que o dos polos principais.
Por outro lado, também deve-se notar conforme referido nos páragrafos anteriores, que os polos
auxiliares têm a missão de produzir uma indução adicional na linha neutra para que se produza
uma fem de comutação que evita centalhamento nos aneis colectores.

4.4 Comutação

Entende-se por comutação ao conjunto de fenômenos relacionados à variação da corrente nas


espiras do induzido ao passarem pela área onde são curto-circuitadas pelas escovas colocadas no
colector. Uma boa comutação deve ser realizada sem a formação de faíscas no colector, enquanto
uma má comutação concorrente para formação de faíscas, produz para caso de funcionamento
prolongado da máquina, uma deterioração perceptível da superfície do colector, o que perturba o
bom funcionamento da máquina.
A centelha entre as escovas e o comutador deve-se a causas mecânicas e eléctricas. Entre as
primeiras estão: o ajuste incorrecto das escovas com o comutador, protrusão de algumas barras
do comutador, desbalanceamento do rotor, etc; e todos esses factores agravam o contacto das
escovas com o comutador. A causa eléctrica fundamental de centilhamento é constituída pelo
aumento de tensão entre as barras do comutador, que em particular pode ser causada pelos
fenómenos de auto-indução das secções do enrolamento do induzido.
Devido ao grande número de factores que intervêm no processo de comutação, é muito difícil
fazer uma análise rigorosa e matemática do mesmo, e por isso nos limitaremos ao que é essencial
para chegar a uma compreensão sucinta do fenômeno. A teoria a ser exposta se baseia na
hipótese de se considerar um comutador mecanicamente ligado com um enrolamento do
induzido em que se vai omitir no princípio das fems induzidas nas espiras comutadas e donde se
vai desprezar as resistências das mesmas e dos seus fios de conexão aos segmentos frente a
resistência de contacto escova-comutador.
A figura 4.12 mostra o processo de comutação de uma secção C da armadura de uma máquina cc
no instante inicial, representado pela posição a), a corrente Ii de saída da escova é obtida do
segmento 3; a corrente considerada na secção C é Ii/2 e tem um sentido da direita para a
esquerda. No instante intermediário (posição b) a secção C está passando pela linha neutra e deve

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inverter o seu sentido, aparecendo a distribuição de correntes indicadas na mesma figura. No
momento em que a corrente da bobina é nula coincide precisamente com a metade da duração da
comutação, e o final dela é obtido quando a escova deixa de fazer contacto no segmento 3
(posição c), momento em que a corrente na secção C se inverte e retorna ao valor inicial Ii/2. O
intervalo de tempo necessário para comutar a secção é chamado de período T de comutação. Se
Re é a resistência de contacto da escova com o segmento quando estão totalmente unidas (em
toda a sua superfície), pode-se observar na figura 4.12 que no instante inicial t = 0, a resistência
de transição de contato é igual a R". À medida que a escova se afasta gradualmente do segmento
3, a sua superfície de contato diminui proporcionalmente à medida do tempo t decorrido desde o
momento em que a comutação começou, e sendo a resistência de contacto inversamente
proporcional a essa superfície, a resistência de transição chegará a ser infinita ao final do período
T de comutação. Se R1 for a resistência de transição entre o segmento 3 e a escova, irá se
cumprir:
(4.16)

Figura 4.12: Processo de comutação

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Raciocinando de forma análoga, a resistência R2 de transição entre o segmento 4 e a escova,
diminui de forma inversamente proporcional ao tempo t:
(4.17)

Se for levado em consideração que nas hipóteses de partida são desprezadas as resistências das
espiras comutadas e seus fios de conexão, e são também consideradas nulas as possíveis fems
induzidas na secção C, ao aplicar as malhas de Kirchhoff ao circuito da figura 4.14, obtemos:
; ; (4.18)

Donde resulta:
; (4.19)

consequentemente, a corrente i na seção comutada será expressa por:

( ) (4.20)

que é a equação de uma recta. A figura 4.15 mostra o diagrama de variação dessa corrente, que é
chamada de comutação rectilínea ou linear.
Na prática, a comutação linear nunca ocorre, e não ocorre porque é inevitável a aparição de uma
fem de auto-indução e indução mútua na secção comutada devido a variação da corrente
existente na própria secção e na adjacente (ou adjacente quando as escovas estiverem em
contacto com duas ou mais segmentos do comutador). Esta fem é denominada de força
electromotriz reactiva er e tem a forma geral:

(4.21)

onde N representa o número de espiras na secção comutada e Փ o fluxo total que atravessa a
secção em estudo, que uma parte provém do seu próprio fluxo e a outra parte se deve aos fluxos
que chegam de outras secções comutadas. Se as variações das correntes forem consideradas
lineares, a fem er, terá um valor proporcional a corrente Ii, consequentemente, para uma dada

corrente da armadura, a magnitude de er será constante no período de comutação, como foi


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representado na figura 4.13 por meio de um gráfico paralelo ao eixo das abcissas. Esta fem er ao
se opor à causa que a produz, segundo a lei de Lenz, irá retardar o processo de comutação, o que
implica a corrente i passar por zero em um tempo maior que o tempo teórico T/2. Na figura 4.13,
este fenómeno está representado por uma curva de linha fina. Como o tempo total de comutação
deve ser constante e igual a T, a passagem da corrente de 0 para Ii/2 deve ser mais forçada e
rápida do que no caso linear, o que indica que a magnitude de er, experimenta um aumento.
Além disso, se levarmos em consideração que a superficie de contacto escova - segmento do
comutador está diminuindo, irá se produzir uma alta densidade de corrente na saída do segmento,
o que resulta em faíscas (centilhação) no comutador.

Figura 4.13: Variação de corrente na comutação

Para evitar a centilhação causada pela aparição de er será necessário compensar esta fem por
outra de sinal oposto e de igual magnitude (portanto, também proporcional à corrente Ii); Isso é
conseguido incorporando um polo auxiliar na zona de chaveamento (linha neutra) que cria uma
certa indução Bc na secção comutada. Desta forma, se N é o número de espiras na secção, l é o
comprimento de seus condutores (ou o comprimento do polo auxiliar, se for menor), e v é sua
velocidade tangencial, a fem adicional resultante, chamada de força electromotriz de comutação
ec, terá a sua magnitude expressa em:
(4.22)

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Como o sinal desta fem ec deve ser oposto a er (fig. 4.13), a polaridade do polo de comutação no
caso de um gerador será naturalmente oposta à aquela do polo de onde vem a bobina. Para que a
magnitude de ec coincida com a de er ambos terão que variar com a mesma lei. Como er é

proporcional à corrente da armadura Ii, será necessário fazer com que ec e Bc sejam também
proporcionais a essa corrente, isso é possível para todos os regimes de operação, conectando o
enrolamento dos polos auxiliares em série com o enrolamento da armadura. Além disso, para
alcançar uma relação directa entre a fmm dos pólos auxiliares e da indução Bc correspondente
será necessário que o circuito magnético destes polos não estaja saturado, e isso se consegue
aumentando o entreferro desses polos ou trabalhando com induções baixas (menos de 1,2 Teslas).
A figura 4.14 mostra o layout básico de uma máquina cc em que foi inserido um polo de
comutação (normalmente existem tantos polos como os principais). Deve se notar que o
enrolamento do interpolo está em série com a armadura, e com entreferro maior que o dos polos
principais.

Figura 4.14: Detalhe de conexão induzido - polo de comutação

Ao calcular o número de espiras necessárias para os interpolos, deve-se levar em consideração


que os polos irão realizar uma dupla missão. Portanto, por um lado os polos auxiliares devem

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produzir uma densidade de fluxo Bc nas espiras comutadas que gera uma fem de comutação ec

que se opõe à fem de reactância er; e por outro lado, os polos auxiliares devem neutralizar a
reacção transversal da armadura que tende a modificar a posição da linha neutra. Como ambas as
acções levam a polaridades coincidentes, a fmm necessária nos polos auxiliares, Faux será igual à
soma da fmm da reacção transversal, Ft mais a fmm necessário para criar Bc, e que se denomina
de FB, por tanto:
(4.23)

Se não houver deslocamento da escova, toda a reacção da armadura é transversal, e


consequentemente e de acordo com a expressão 4.13, obtemos:

[Av/polo] (4.24)

Para calcular FB, assume-se que o entreferro dos polos auxiliares é alto, e desta forma,
poderá se desprezar a relutância do ferro contra aquela do entreferro, resultando em:

(4.25)

onde HB indica a intensidade do campo magnético no entreferro dos polos auxiliares. Tomando
as expressões (4.24) e (4.25) para (4.23) permanece:

[Av/polo] (4.26)

Geralmente Faux é da ordem de 1,2 a 1,3 vezes Ft.


Se Naux são as espiras por polo dos enrolamentos correspondentes que são percorridos pela
corrente Ii da armadura, resulta na expressão (4.27) que determina o número de espiras por polo,
necessários para os polos auxiliares:

(4.27)

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4.5 Determinaçõ experimental de parâmetros

Para prever o funcionamento de uma máquina ou para ajustar as condições de funcionamento a


uma determinada aplicação, é necessário conhecer os valores de importância, principalmente em
aplicações de controle, a indutância, resistência da armadura e do campo circuitos. Eles podem
ser determinados geralmente por meio de métodos convencionais de ponte ou por medições de
tensão-corrente, como para qualquer outro tipo de circuito.
A resistência do circuito da armadura é frequentemente obtida a partir de um teste normal de
máquina, denominado teste de rotor bloqueado (travado). Neste teste, o rotor é bloqueado
mecanicamente para evitar que gire, e isso é feito freando o veio do rotor, então uma escala pode
ser usada para medir o torque desenvolvido pela máquina. Em uma máquina de excitação
separada ou shunt, o campo deve ser excitado com uma fonte de tensão variável para variar a
corrente de campo.
O circuito da armadura é alimentado por uma fonte de tensão relativamente baixa, uma vez que a
única impedância no circuito da armadura em repouso é sua resistência. O procedimento de teste
é o seguinte: com o rotor travado e a corrente de campo (se operando em paralelo) ajustada para
um valor prescrito, vai se aumentando a tensão da armadura de zero até a um valor tal que
forneça a corrente de armadura desejada. Nessas condições deve se medir a tensão e a corrente
da armadura, o torque e a corrente de campo. Esta prova geralmente se repete para outros valores
de campo e corrente de armadura. A resistência dos circuitos da armadura pode ser obtida a
partir da razão entre a tensão da armadura e a corrente da armadura e é geralmente mais
indicativa da resistência que existe sob condições operacionais reais do que medições feitas em
níveis de corrente baixos, como em medições com pontes de megaohmímetro.
O teste de rotor bloqueado requer níveis de potência relativamente baixos (em comparação com
o teste de carga real) e geralmente simula os efeitos da reacção do induzido sob condições de
carga, conforme determinam a produção de torque.
Outro teste útil de máquina cc é o teste em vazio. A máquina a ser avaliada é accionada como
gerador com fonte externa em velocidade constante e com corrente de armadura zero (com
circuito de armadura aberto). A medição do valor da tensão da armadura em função da corrente
de campo produz os dados da curva de magnetização, e também a partir desses dados pode ser
obtida a constante de torque, Kt. Se a máquina for accionada por uma fonte cujo torque de saída

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pode ser medido, esse torque seria medido para cada valor de corrente de campo. O produto do
torque de entrada (em Nw-m) e a velocidade do rotor (em rad/s) é a potência fornecida à
máquina em teste. O produto é uma medida que reflecte perdas duma máquina funciondo em
vazio, para valores particulares de velocidade e corrente de campo, e essa perda é a soma das
perdas mecânicas e magnéticas.
O teste sem carga é repetido para vários valores de velocidade que abrangem a faixa de
velocidade operacional da máquina em teste. A família de curvas resultante descreve a variação
dos testes mecânicos e magnéticos dentro da faixa de velocidade e excitações (correntes de
campo) usadas no teste.
Em algumas máquinas série e em muitas máquinas de baixa potência, os terminais do
enrolamento de campo não são acessíveis e o teste descrito acima não pode ser executado. Além
disso, muitos laboratórios e instalações de teste não têm uma máquina de accionamento
adequada para operar a máquina em teste como um gerador. Em circunstâncias que tornam a
prova impossível, pode se obter alguma informação do mesmo tipo operando a máquina em
prova como motor sem carga. As curvas de magnetização podem ser obtidas variando a tensão
da armadura, alterando a corrente de campo, para manter uma velocidade constante e medindo a
corrente e a tensão da armadura, a corrente de campo e a velocidade.
A faixa de valores de corrente de campo que podem ser obtidos em velocidade constante desta
forma é menor do que aquela alcançada pelo método do gerador sem carga. Como o motor está
sem carga, a corrente da armadura será pequena e os efeitos da reacção do induzido não serão
considerados. A tensão induzida E é calculada subtraindo a pequena queda de tensão através da
resistência da armadura, da tensão do terminal da armadura medida. A perda sem carga é
determinada subtraindo a perda da armadura I2r da armadura. O mínimo é igual ao produto da
corrente da armadura pela tensão do terminal da armadura.
Devem ser tomadas precauções ao operar um motor sem carga externa, de forma que a
velocidade máxima de operação, dentro dos padrões de segurança do motor, não seja excedida
durante o teste em valores baixos de corrente de campo.

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4.6 Regimes de operação de máquinas cc

4.6.1 Geradores de cc - aspectos gerais


Os geradores cc convertem a energia mecânica de entrada em energia eléctrica de saída na forma
de corrente contínua. Actualmente, esses geradores estão em desuso e foram substituídos por
rectificadores, geralmente de silício, que transformam de forma estática e com maior
desempenho, a corrente alternada da rede em corrente contínua. No entanto, é aconselhável
analisar o funcionamento básico dos geradores cc para compreender claramente o
comportamento dos motores cc.
Do ponto de vista do circuito eléctrico, as máquinas cc consistem em um indutor ou ciruito de
campo de excitação, colocado no estator, e uma armadura (induzido) rotativa equipada com um
comutador (colector). A representação de ambos os circuitos está indicada na figura 4.15. O
enrolamento de excitação está representado de todos polos ligados em série, aos quais é aplicada
uma tensão de alimentação cc que produz uma corrente de circulação Ie que dá origem a uma
fmm que origina o fluxo Փ no entreferro da máquina. O induzido gira dentro do campo
magnético do indutor e gera, graças à combinação comutador-escovas, um fem E contínua em
vazio cuja magnitude é definida pela expressão (4.6).
Quando for conectada uma carga eléctrica externa nos terminais do gerador, surge uma corrente
Ii que provoca uma queda de tensão no induzido, que se deve em parte à resistência do
enrolamento Ri e em parte à resistência apresentada pelos contactos escova - comutador. Se Vesc
é a queda de tensão provocada por par de escovas (geralmente considerada na ordem de 2 volts),
a aplicação da 2ª lei de Kirchhoff ao circuito do induzido na figura 4.15 leva à seguinte equação:

(4.28)

onde V indica a tensão nos terminais da máquina. Nesta equação, foi desprezada a acção
desmagnetizante da armadura sobre o indutor. Quando essa acção é considerada, geralmente é
expressa como uma redução percentual na fmm de excitação, ou seu equivalente na queda de
tensão da armadura. No caso de a máquina possuir polos auxiliares que anulem a reacção da
armadura, a expressão (4.28) continuará válida se as resistências dos enrolamentos desses polos
estiverem incluídas em Ri.

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Figura 4.15: Circuito do gerador cc

Para determinar o processo de transformação de energia mecânica em energia eléctrica em um


gerador cc, deve se considerar o esquema da figura 4.15, no qual se obtém as seguintes equações
de circuito:
Indutor: (4.29)
Induzido:

Ao multiplicar a segunda equação anterior por Ii se obtém:


(4.30)

que expressa o balanço de potências no induzido do gerador. Os termos anteriores representam:


P2 = VIi : Potência eléctrica de saída e fornecida pelo gerador;
: Perdas no cobre do induzido;
: Perdas nos contactos das escovas;
: Potência electromagnética desenvolvida pela máquina.

De acordo com esta nomenclatura, o balanço de potências no induzido se converte em:


(4.31)

Para calcular a potência mecânica de entrada será necessário somar a potência electromagnética
anterior Pa as restantes perdas que incluem:

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a) As perdas no cobre do enrolamento de excitação, definidas por:
(4.32)
b) As perdas mecânicas Pm devido ao atrito e ventilação;
c) As perdas no ferro PFe que só existem no núcleo do rotor, devido à magnetização cíclica que
surge devido ao seu movimento apesar de ser o fluxo indutivo constante.

Em consequência, e de acordo com o acima exposto, a potência mecânica de entrada P1 para o


eixo do gerador cc será:
(4.33)

Donde Pa é determinada pela equação (4.31). Um esquema simplificado desse balanço de


potências é mostrado na figura 4.16. Este diagrama de energia é válido para todas as máquinas cc
em que a potência de excitação vem da mesma máquina. Deve-se notar que os circuitos indutor e
do induzido podem estar conectados entre si, constituindo assim uma única unidade, ou podem
estar separados, caso em que a excitação provém de uma fonte externa e, portanto, não interfere
no balanço das potências.

Figura 4.16: Balanço de potências em um gerador cc.

Do ponto de vista do comportamento e das condições de trabalho, é de grande importância a


forma como os enrolamentos do indutor e do induzido são conectados entre si, e assim se
destinguem:

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a) Máquinas de excitação independente: nessas máquinas o enrolamento indutor é alimentado
por uma fonte de alimentação externa, e a fonte pode ser uma bateria acumuladora, ou um outro
tipo de fonte cc.

b) Máquinas auto-excitadas: Nessas, a excitação é a partir da própria máquina donde é tomanda


a corrente de excitação da própria armadura (no caso de operação como gerador) ou da mesma
rede que alimenta a armadura (no caso de funcionar como motor).

As máquinas cc de auto-excitação são por sua vez classificadas em:


1. Máquinas série (ou de excitação em série), são as que o enrolamento do indutor (campo) está
conectado em série com o enrolamento da armadura. Neste caso o enrolamento do campo de
excitação é preparado com poucas espiras e de fio grosso, pois por ele irá circular a corrente total
da máquina.
2. Máquinas shunt ou de derivação, são as que o enrolamento do indutor é conectado
directamente aos terminais da máquina, permanecendo em paralelo (shunt) com a armadura.
Neste caso, o enrolamento de excitação é formado por enrolamentos de fio fino com grande
número de espiras.
3. Máquinas compostas (ou compound), nessas a excitação total é repartida entre dois
enrolamentos, um ligado em série (com poucas espiras de fio grosso) e o outro ligado em
paralelo à armadura (com muitas espiras de fio fino). Dependendo se o enrolamento shunt está
conectado directamente às escovas da armadura ou após o enrolamento série, a máquina
composta pode ser de shunt curto ou longo, respectivamente. Na figura 4.17, são
esquematicamente apresentados os diferentes tipos de máquinas cc e que podem ser utilizadas no
regime gerador ou motor. Por razões de simplicidade, as resistências dos enrolamentos da
armadura, pólos auxiliares, etc. não foram mostradas.

A auto-excitação de máquinas cc foi descoberto por W. Siemens por volta do ano de 1866 e
basea-se no magnetismo remanescente dos polos. Considere por exemplo, uma máquina de
derivação, ao girar o rotor (induzido) por meio de uma máquina primária, se não houver fluxo
nos pólos, nenhuma fem irá aparecer nas escovas e conseqüentemente não haverá transformação
da energia mecânico em eléctrica. No entanto, se os polos forem previamente magnetizados

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(com a ajuda de uma fonte externa cc), ao mover o rotor será induzida uma pequena fem, e se o
enrolamento do indutor estiver devidamente conectado à armadura, irá fluir uma corrente pelo
enrolamento do indutor, e essa corrente irá reforçar o magnetismo residual já existente, que por
sua vez causará um aumento na fem produzida, e assim sucessivamente até o instante em que,
devido à saturação do circuito magnético da máquina, o processo de auto-excitação cessa,
atingindo um regime operacional estável. Note-se que se a conexão do indutor à armadura não
fosse adequada, o magnetismo residual enfraqueceria e a máquina tenderia a desexcitar-se.

Figura 4.17: Tipos de excitação em máquinas cc.

4.6.1.1 Características de serviço do gerador cc


As propriedades dos geradores cc são analisadas com o auxílio das características que
estabelecem a dependência entre as principais grandezas que determinam o funcionamento da
máquina. Cada um dos principais tipos de excitação, independente, série, derivação e composta,
impõe diferentes características de funcionamento à máquina, que determinam a classe de
serviço à qual cada tipo de excitação se adapta. Essas características são perfeitamente reflectidas
por meio de gráficos, destacando o seguinte:

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1. Característica de vazio E = f(Ie), essa representa a relação entre a fem gerada pelo gerador e a
corrente de excitação, quando a máquina está a funcionar em vazio, isto é, sem carga nenhuma
na sua saída.
2. Característica de carga V = f(Ie), que representa a relação entre a tensão terminal e a corrente
de excitação para uma corrente de carga constante I. Em particular, quando 1=0, a curva
característica a obter ser semelhante a de vázio.
3. Característica externa V = f(l), que representa a tensão terminal em função da corrente de
carga, para uma corrente de excitação constante.
4. Característica de regulação 1e = f (l), que representa a relação entre a corrente de excitação e
a corrente de carga, para uma tensão terminal constante.
Das características anteriores, as de vazio e a externa merecem uma atenção especial, dai
merecerem um estudo mais aprofundado para cada tipo de gerador cc.

a) Características de um gerador de excitação independente


Nesse tipo de gerador, a corrente de excitação é obtida de uma fonte cc externa à máquina. É o
tipo de excitação mais antigo e hoje é usado apenas em casos muito especiais. O esquema básico
de conexão é o indicado na figura 4.18, onde um reostato foi disposto em série com o
enrolamento do campo para regular a corrente de excitação.
Para determinar a curva de vazio, o rotor (induzido) é girado a uma velocidade constante,
mantendo a carga desconectada. A corrente de excitação é gradualmente aumentada de zero até o
valor máximo permitido, registando simultaneamente a fem gerada E, que é medido com o
auxílio de um voltímetro.
Ao representar a relação E = f(Ie), é obtido o ramo ascendente A da curva da figura 4.19, e as
medições são então repetidas, diminuindo a corrente Ie até ao zero, e desenhando a curva E = f(Ie)
se obtém o ramo descendente B da figura 4.19a A diferença entre os dois ramos deve-se à
histerese dos polos.
A curva média entre eles representa a característica de vazio do gerador cc. Observa-se nesta
curva que a máquina produz uma fem ER sem corrente de excitação (le = 0), que é devido ao
magnetismo remanescente que aparece nos polos. Se a equação (4.6) for levada em consideração,
a qual expressa o valor da fem gerada, é evidente que para uma dada velocidade de rotação, a fem
será proporcional ao fluxo por polo, e como também a fmm do enrolamento do campo (AV/polo)

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é proporcional à corrente de excitação, verifica-se então que a forma da característica de vazio é
do mesmo tipo da curva de magnetização dos materiais magnéticos. Outro aspecto a considerar
na curva de vvazio é que a fem gerada resulta de acordo com a expressão (4.6) em:
(4.34)

Isto é, a fem é directamente proporcional ao fluxo magnético produzido pelos polos e à


velocidade de rotação da máquina. Daí que, se a velocidade de rotação for diferente, por exemplo
, a fem produzida para o mesmo fluxo será:
(4.35)

E ao dividir entre si as expressões (4.34) e (4.35) resulta:

(4.36)

Ou seja, para os mesmos valores dos fluxos, as fems produzidas são proporcionais às respectivas
velocidades de rotação. Isso significa que se a curva de vazio duma máquina cc é conhecida por
uma velocidade n, a curva de vazio para outra velocidade velocidade pode ser conhecida sem
aplicar a expressão (4.36). Essa ideia é mostrada na figura 4.19b, em que a curva de vazio de
linha grossa é definida para a velocidade n e a curva de vazio para a velocidade foi deduzida
de tal forma que ( ⁄ ) para cada valor da abcissa.

Figura 4.18: Ensaio em vazio de um gerador cc de excitação independente

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Figura 4.19: Curva de vazio de um gerador cc para distintas velocidades

Para determinar a característica externa de um gerador de excitação independente, a carga deve


ser conectada, fechando o interruptor na figura 4.18 e variando a carga, será obtida a relação V =
f(l) quando forem mantidas a corrente de excitação e a velocidade de rotação da máquina
primária. Em princípio, se a reacção do induzido não for considerada, a fem gerada E será
constante e a variação da tensão nos terminais do gerador em função da corrente da armadura
será expressa pela relação (4.28), ou seja:
(4.37)
onde Ii é a corrente de armadura e que coincide com a corrente de carga. A expressão anterior
representa a equação de uma linha. Se a reacção do induzido for levada em consideração, ao
mover as escovas para obter uma boa comutação, aparece uma fmm desmagnetizante que actua
sobre o valor da fem gerada e cuja magnitude pode não ser linear com a corrente se a máquina
trabalhar na zona de saturação. A figura 4.20 mostra a característica externa de um gerador com
excitação independente, onde cada uma das quedas anteriores pode ser vista.
Observa-se que na área normal de trabalho, que atinge a corrente nominal, a característica é
praticamente linear. Deve-se notar que se a reacção do induzido não for considerada por ter sido
compensada pelos polos auxiliares, então a resistência desses polos deve ser introduzida na
resistência Ri da expressão (4.37).

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Figura 4.20: Característica externa de un gerador cc de excitação independente.

b) Características de um gerador shunt


O esquema de conexão deste gerador é mostrado na figura 4.21, e nesse caso, o enrolamento do
indutor é conectado em paralelo com a armadura, e a excitação é regulada por meio de um
reostato conectado em série com o indutor.
Para determinar a fem produzida pelo gerador em vazio deverá se utilizar a característica em
vazio da máquina (fig. 4.22) juntamente com a característica do indutor que representa a relação
(onde Re é a resistência total do circuito de excitação). Esta característica do indutor é
uma linha com inclinação Re:
(4.38)

A fem final gerada corresponde ao ponto P, solução comum para a curva de vazio e a recta do
indutor. Para cada valor de resistência do circuito de excitação, será obtida uma recta com uma
inclinação diferente, cuja intersecção com a curva de vazio determinará a fem resultante. Se a
resistência Re se move ao longo da curva de vazio até atingir a origem, para uma certa resistência
Re = Rcr, denominada resistência crítica, a recta do indutora será tangente à parte inicial da curva
de vazio e, por consequência, nestas condições o gerador praticamente não irá se excitar.
Portanto, a resistência máxima do reóstato deve ser projectada de modo que, quando adicionada
à resistência do enrolamento do indutor não seja excedida a magnitude de Re.

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Figura 4.21: Gerador shunt.

Figura 4.22: Determinação de la tensión de funcionamiento de una dinamo derivación.

A figura 4.22 também pode servir para explicar o processo de auto-excitação desses geradores.
Considere uma resistência total do circuito do indutor Re definida pelo ângulo α. Em vazio, toda
a corrente da armadura passa pelo enrolamento do indutor, de forma que Ii =Ie, além disso,
nessas condições a corrente comum anterior é de pequeno valor, pelo que pode se considerar
desprezíveis tanto a queda de tensão na resistência do induzido como a própria reacção do
induzido, e deste modo a diferença de potencial ddp nos terminais da máquina (tensão entre M e
N na fig. 4.21) coincide com a fem gerada. Se for considerado que a resistência total do circuito
de excitação é Re (enrolamento do indutor + reóstato de campo) e que a inductância do
enrolamento do indutor é Le, teremos de acordo com a 2ª lei de Kichhoff:
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(4.39)

Inicialmente a corrente Ie = 0, pelo que a fem gerada ER deve-se ao magnetismo remanescente


dos polos e que corresponde ao segmento OA da figura 4.22. Deste modo e de acordo com a
expressão (4.39), se cumpre:

(4.40)

Portanto, se ER for um valor positivo, ⁄ será positiva e a corrente Ie começará a aumentar


até atingir o valor de OB, o que por sua vez causa o aumento da fem para o valor BC; deste modo
e levando em consideração que:

(4.41)

o primeiro membro da expressão acima representa a diferença entre a curva de vazio e a recta de
resistência do indutor, que sempre dá um valor positivo, uma vez que a curva de vazio está acima
da recta Re, o que torna ⁄ , pelo que a corrente Ie vai aumentando em todo momento.
Neste caso, a corrente alcançará o valor OD, o que produzirá a fem FD, e assim sucessivamente
(o caminho que a máquina segue é indicado pela linha tracejada na figura 4.22).
Quando a fem atinge o valor dado pela intersecção da recta de campo com a curva de vazio
(ponto P da fig. 4.22), e de acordo com a expressão (4.41) o termo ⁄ será zero, portanto
não pode haver aumento subsequente na corrente Ie, a fem deixa de aumentar e o ponto P
determina os valores finais tanto da tensão em vazio (fem) como a corrente de excitação,
cumprindo-se neste ponto a condição:
(4.42)
Nota prática: Deve-se observar que para produzir a auto-excitação de um gerador em shunt
devem ser garantidas as concordâncias dos sentidos do enrolamento de campo com a tensão
produzida. Ou seja, a corrente do enrolamento de campo deve produzir um fluxo magnético que
ajude a aumentar (reforçar) o magnetismo residual. De modo contrário, o fluxo produzido pelo
enrolamento do indutor tenderia a anular o magnetismo remanescente existente e o gerador não
produziria tensão. No campo eléctrico, diz-se que o gerador não excita, e quando isso acontece
por engano nas conexões, é necessário proceder a magnetização dos polos da máquina com cc
exterior e voltar a montar novamente o circuito, invertendo o enrolamento de campo ou o
sentido de rotação da máquina.

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Em um gerador shunt, a característica externa V= f(l) representa uma variação da tensão terminal
superior a do gerador com excitação independente, e deve-se ao facto de agora somar o efeito da
queda de tensão produzida pelas escovas, a resistência da armadura e sua reacção, com a
correspondente diminuição da corrente de excitação. Na Figura 4.23 a característica externa de
um gerador shunt é mostrada em comparação com um gerador de excitação independente, onde o
acima mencionado é apreciado.
O gerador shunt é o tipo de gerador mais utilizado na prática, pois não requer excitação separada
e não apresenta altas quedas de tensão dentro dos limites normais de carga. De qualquer maneira,
variando a resistência do reóstato de excitação, pode se ajustar a tensão terminal para compensar
a queda de tensão produzida pela carga.

Figura 4.23: Característica externa de uum gerador shunt.

c) Características de um gerador em série


Neste tipo de gerador, o indutor e a armadura vão em série, conforme mostrado na figura 4.24.
Quando a máquina está em vazio, uma vez que Ie=I=Ii=0, se obtém uma fem muito pequena que
se deve ao magnetismo remanescente.

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Figura 4.24: Gerador série e sua característica externa correspondente

Ao conectar a carga, e se esta for de grande resistência, a máquina pode não ser excitada. A
redução desta resistência, RL é acompanhada por um aumento relativamente alto na tensão
terminal. A Figura 4.24b mostra a curva de vazio da máquina construída com o indutor
conectado como excitação independente. Também se observa a forma da característica externa
V= f(l). Para uma corrente OA se gera uma fem AC e a correspondente tensão é AB. A diferença
entre ambas grandezas é BC e representa, conseqüentemente, a queda de tensão na resistência da
armadura, a reacção da mesma e o contacto da escovas. Pela característica externa pode-se
deduzir que a tensão do gerador varia bruscamente com a carga, pois na prática este tipo de
gerador não é utilizado.

d) Características de gerador composta


Na figura 4.25 está representado o diagrama de circuito deste tipo de gerador, que pode ser feito
com derivação curta ou longa. Geralmente as fmms dos enrolamentos série e shunt são
geralmente do mesmo sinal, ou seja, aditivos, mas pode se realizar uma conexão subtrativa ou
diferencial.

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Figura 4.25: Gerador composta e características externas.

A característica externa do gerdor composto, do tipo aditivo, é obtida como a soma das
características de gerador shunt e série, podendo dar curvas praticamente planas, o que indica a
manutenção do valor da tensão terminal com a corrente de carga. Se o número de espiras em
série for aumentado, a tensão do terminal pode aumentar com a carga, o que resulta na
característica hipercomposta. Caso contrário, a tensão pode ser reduzida com a carga como no
caso do gerador shunt, dando origem à característica hipocomposta. A conexão diferencial
apresenta uma queda de tensão elevada com o aumento da carga, o que torna sua aplicação útil
em geradores para soldadura por corrente contínua. Na figura 4.25b são mostradas as
características externas para excitações aditivas hipercomposta e hipocomposta e tipo diferencial.

4.6.2 Motores cc – aspectos gerais

Um motor cc transforma uma energia eléctrica de entrada em uma energia mecânica de saída.
Trata-se essencialmente de um gerador operando em regime inverso, o que está de acordo com o
princípio de reciprocidade electromagnética formulado por Faraday e Lenz. Para entender esse
princípio básico de reciprocidade na operação de uma máquina cc, consideraremos um gerador
shunt que fornece energia eléctrica para uma rede cc, de tensão constante, conforme indicado na
figura 4.26a.
De acordo com a expressão (4.28), a aplicação da 2ª lei de Kirchhoff ao circuito da armadura
leva à seguinte expressão:
(4.43)

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que denominando a tensão no induzido resulta uma corrente Ii:

(4.44)

Se a fem E é superior a ddp Vi (praticamente esta tensão coincide com a da rede), o sentido da
corrente na armadura coincide com o da fem E, e em consequência, a máquina funciona como
um gerador fornecendo uma potência electromagnética Eli. A máquina então cria um torque
resistente que se opõe ao de rotação, ou seja, contrário ao movimento do motor principal.
Se for reduzida a fem do gerador, reduzida a velocidade de rotação ou a excitação do indutor,
quando E se tornar menor que a tensão Vi, a corrente 1i da armadura mudará de sentido,
conforme expresso na equação (4.44). Diz-se então que a máquina produz uma força contra-
electromotriz, já que E se opõe à corrente 1i. Nessa situação, a máquina funciona como motor e é
produzido um torque electromagnético que coincide com o de rotação, o que indica que o torque
passou de resistente a motor. Desconectando o motor principal, a máquina cc continuará a girar
no mesmo sentido em que estava quando funcionava no regime gerador, mas agora
desenvolvendo seu próprio torque. O facto da máquina manter o mesmo sentido de rotação
funcionando como gerador ou como motor se deve ao fato de ter havido a troca de polaridade
apenas em um dos enrolamentos. As figuras 4.26a e b mostram esta acção, onde pode se
observar que em ambos os casos a corrente de excitação tem o mesmo sentido, mas que, no
entanto, a corrente li mudou de sinal.

Figura 4.26: Funcionamento da máquina cc como gerador o como motor.

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Se na operação em regime de motor o sinal da corrente absorvida 1i for considerado positivo;
aplicando a 2ª lei de de Kirchhoff ao circuito de armadura da figura 4.26b resulta em:
(4.45)

que nada mais é do que a equação (4.44) mas com troca de sinais Ii, Vi e E.
Para determinar o processo de transformação de energia mecânica em energia eléctrica no motor
cc uma equação de equilíbrio de potências deve ser obtida. Para isso, multiplicam-se ambos os
membros de expressão (4.45) por 1i; resultando:
(4.46)
Cujos termos significam:
Pi= VIi : Potência eléctrica absorvida pelo induzido do motor;
: Perdas no cobre do induzido;
: Perdas nos contactos das escovas;
: Potência electromagnética desenvolvida pela máquina.

De acordo com esta nomenclatura, o balanço de potências no induzido se converte em:


(4.47)

A potência electromagnética Pa expressa a potência mecânica total produzida pelo motor, e que
dá origem ao dividir pela velocidade de rotação a torque interno desenvolvido pela máquina e
cuja expressão já foi definida pela equação (4.11):

[N.m] (4.48)

Se for substituida nesta expressão a fem E por seu valor dado pela expressão (4.6), se obtém a
seguinte expressão:

(4.49)

que coincide com expressão (4.10) demonstrada por outro procedimento. Esta expressão indica
que o torque é directamente proporcional ao fluxo no entreferro e à corrente da armadura.
Para calcular a potência mecânica útil no veio (eixo) do motor, será necessário subtrair da
potência electromagnética Pa, as perdas do rotor, que incluem as perdas no ferro PFe e as perdas

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por atrito mecânico e ventilação Pm. Em consequência, a potência útil do motor P2 pode ser
definido:
(4.50)

A potência absorvida pela máquina P1, no caso de haver excitação independente do motor, será
igual à potência que chega ao induzido Pi. No entanto, em máquinas auto-excitadas, a potência
de entrada também terá que compensar as perdas no circuito de excitação Pes devido ao efeito
Joule no cobre do enrolamento indutor, resultando em:
(4.51)

A figura 4.27 mostra de forma esquemática a distribuição de potência no motor cc. A potência de
entrada P1 é o produto da tensão de alimentação e da corrente absorvida, e o desempenho do
motor será:
(4.52)

Figura 4.27: Balanco de potências em motor cc.

4.6.2.1 Características de funcionamiento de motor cc


Os diferentes tipos de motores cc são classificados de acordo com o tipo de excitação, de forma
semelhante aos geradores cc, e assim podem ser: motores de excitação independente, série, shunt
e composto. Em cada caso, o torque electromagnético é determinado pela expressão (4.49):
(4.53)

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Do ponto de vista prático, esses motores cc possuem uma grande vantagem sobre os motores de
corrente alternada, devido à possibilidade de regulação de velocidade. De acordo com a
expressão (4.45), se estiver incluída em Ri a resistência da armadura e das escovas teremos:
(4.54)

Tendo em conta a expressão geral da fem:

(4.55)

E ao substituir em (4.54), isolando a velocidade n, se obtém:

(4.56)

que indica a possibilidade de regular a velocidade de um motor cc com base no controle das
seguintes variáveis:
a) O fluxo por pólo produzido pela corrente de excitação: À medida que o fluxo diminui, a
velocidade de rotação aumenta, e daí o perigo de dar a partida no motor sem conectar a
excitação, pois isso levará ao descontrole do motor, limitado apenas pelo magnetismo
remanescente dos polos.
b) A tensão de alimentação V, aplicada ao motor: Ao diminuir ou aumentar a tensão de
alimentação, reduz ou aumenta a velocidade, conforme indicado pela expressão (4.56).
c) A resistência do circuito da armadura, que é obtida conectando em série com este enrolamento
uma resistência variável ou reóstato. Conforme se aumente ou diminue a resistência da armadura,
a velocidade irá diminuir ou aumentar, como pode ser deduzido da expressão (4.56).

Esses métodos são usados na prática de forma independente ou combinada para obter
características adequadas ao regime de trabalho requerido, embora actualmente tenham sido
substituídos por procedimentos electrónicos.
Para inverter o sentido de rotação de um motor cc é necessário inverter o sentido da corrente em
apenas um dos enrolamentos: armadura ou indutor. Se os sentidos das correntes em ambos os
circuitos forem modificadas, o sentido de rotação do motor não será modificada (o que é
justificado pela aplicação da Lei de Laplace: F = I (L x B) aos condutores da armadura).

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Um aspecto importante nos motores cc é o processo de arranque. Deve-se levar em consideração
que, de acordo com a expressão (4.53), a corrente da armadura tem uma magnitude:
(4.57)

Como a velocidade é nula no momento de arranque, há uma fcem também nulo, pelo que a
corrente da armadura nesse momento será muito alta, porque nesse momento o motor oferece
apenas uma pequena resistência Ri à tensão da rede. Para proteger o motor cc contra essa
corrente de arranque tão alta, são utilizados os reóstatos de arranque em série com o induzido. Na
figura 4.28 é mostrado um circuito desse tipo no qual a excitação foi considerada independente.
A resistência total de partida é subdividida em vários trechos com conexões a terminais ou
plotagens, de forma que no arranque (partida) haja a resistência máxima em série com a
armadura, que é sucessivamente eliminada (plotagens 1 - 2- 3 - 4) à medida que o motor vai
aumentando de velocidade, até o reóstato seja removio por completo e rotor fica conectado
directamente à rede.

Figura 4.28: Reóstato de arranque e sua forma de conexão.

Hoje em dia o arranque dos motores cc é feito automaticamente através de contactores e relés de
tempo, para chaveamento dos reóstatos. Nos vários esquemas operacionais de máquinas cc essa
ideia será estendida, explicando também as chamadas características mecânicas que expressam a
relação n = f (T), tão importante no projecto de accionamentos eléctricos.

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I. Bibliografia de referência:

 NASAR, S.A.; UNNEWEHR, L.E. Electromecânica Y Máquinas eléctricas. México:


Editora Limusa, 1982.
 FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY, Charles; UMANS, Stephen D. Máquinas eléctricas:
com introdução à electrónica de potência. Porto Alegre: Bookman, 2006.
 KOSOW, Irving L. Maquinas eléctricas e transformadores. São Paulo: Globo, 1995.
 MORA, Jesus Fraile. Máquinas Eléctricas, 5ª Edição. McGrawHill

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