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Máquinas Eléctricas Corrente Contínua
Máquinas Eléctricas Corrente Contínua
MÁQUINAS ELÉCTRICAS I
Preparado por:
MSc.: Dmajequete @2021
4. MÁQUINAS DE CORRENTE CONTÍNUA
4.1 Introdução
As máquinas de corrente contínua têm grande importância histórica por seu uso como geradores
de corrente contínua (dínamos) representar o primeiro procedimento para produzir energia
eléctrica em larga escala. Seu estágio de desenvolvimento abrange o período entre 1830 e 1880.
O desenvolvimento da máquina cc centra-se há muito tempo na busca de procedimentos que
transformem a corrente alternada induzida em uma espira ao girar dentro de um campo
magnético, em corrente unidireccional ou de polaridade constante (cc). A primeira ideia do
comutador ou de lâminas colectoras encarregue da rectificação mecânica da tensão do
enrolamento do rotor surgiu em 1831 e se deve a Pixii. No entanto, levou mais 36 anos para
Gramme construir em 1867 um dínamo de armadura de anel com lâminas colectoras actualmente
conhecido. Posteriormente, surgiu a ideia do bobinado em tambor para aproveitar mais
eficazmente o enrolamento da armadura, e os diferentes métodos de auto-excitação dessas
máquinas foram propostos, de forma que em 1886 foi alcançada uma configuração física, cujas
características fundamentais coincidem com os das máquinas modernas. O desenvolvimento de
motores cc segue uma linha histórica paralela à dos dínamos e seu uso se deve ao princípio da
reciprocidade já formulado por Faraday e Lenz.
O modo de operação mais característico das máquinas cc constitui a razão da sua utilização
como motor. A vantagem fundamental dos motores cc em relação aos motores ac tem sido o seu
maior grau de flexibilidade para o controle de velocidade e torque, o que torna muito interessante
sua aplicação em diversos accionamentos industriais: laminadores, tracção eléctrica,
montacargas, etc. No entanto, deve-se destacar que devido ao espetacular desenvolvimento da
electrônica de potência, a aplicação dos motores cc nesses campos, nos quais manteve sua
supremacia até o final do século 20, foi reduzida a favor dos motores ac, cujo custo de fabricação
e a manutenção é reduzido. Por outro lado, o uso de máquina cc como generador está
practicamente obsoleto dado que a corriente alterna apresenta em relação a corrente contínua
muitas vantagens na geração, transporte e distribuição de energia eléctrica, devido à simplicidade
Conforme dito nos parágrafos anteriores, a máquina cc pode operar tanto em regime gerador
como em regime motor. Portanto, para entender o princípio de geração da fem nos enrolamentos
do rotor, será considerada a armadura em forma de anel conforme indicado na figura 4.1. Neste
enrolamento, à medida que o rotor gira, é induzida uma fem nos condutores dispostos na face
externa do núcleo à medida que são cortados pelo fluxo do estator. Nos condutores internos,
nenhuma fem é induzida, uma vez que o fluxo dos pólos não os atravessa, pois suas linhas de
força são limitadas ao circuito de baixa relutância do anel.
Analisando a figura anterior, observa-se que o sentido das fems nos condutores localizados
abaixo do pólo norte é oposto em sinal à aquele dos condutores localizados abaixo do pólo sul (o
sentido destes, por exemplo, é obtido aplicando a expressão bem conhecida: e = (V x B). Uma
vez que a estrutura da máquina é simétrica, as fems correspondentes à parte esquerda da
armadura serão opostas às da parte direita e, consequentemente, nenhuma corrente fluirá através
do enrolamento.
Existem também enrolamentos imbricados múltiplos e ondulados em série paralela (de Arnold)
em que o número de circuitos ramificados segue leis diferentes das anteriores, mas que não serão
consideradas neste tema.
Para calcular a fem produzida na armadura de uma máquina cc deve-se levar em consideração
que em cada bobina do enrolamento se obtém uma fem alternada, de tal forma que no semi
período da mesma o fluxo concatenado varia entre os limites +Փ e -Փ (fluxo dos pólos);
consequentemente, o valor médio da fem obtida na bobina no tempo mencionado será:
onde T indica o período da corrente. Como a frequência da tensão gerada está ligada ao número
de pólos 2p e à velocidade de rotação n em rpm para a relação:
(4.4)
(4.5)
Conforme as escovas da máquina colectem as fems induzidas nas diferentes bobinas durante o
semi período, a fem resultante no induzido será igual à soma das fems médias das diferentes
bobinas que compõem cada ramo paralelo do enrolamento. Se este consistir em Z condutores que
formam Z/2 bobinas e está dividido pelas escovas em 2c circuitos ramificados, cada ramificação
terá Z/4c bobinas conectadas em série, que levando em consideração a equação (4.5) produzirá
uma fem resultante de magnitude:
(4.6)
Na qual . é uma constante determinada para cada máquina. Desta expressão 60c deduz
que a fem pode ser regulada variando a velocidade do rotor ou mudando o fluxo do indutor
ajustando a corrente de excitação dos pólos.
Em geradores esta fem é obtida como consequência do movimento do rotor pela acção de uma
entrada de energia mecânica e pode ser utilizado em um circuito externo conectando uma carga
eléctrica que fará circular a corrente pelo induzido.
Nos motores, a rotação da máquina é resultado da interacção do fluxo do indutor com as
correntes da armadura quando ela está conectada a uma rede cc, o que causa uma fem de reacção
no rotor que se opõe ao sentido da corrente, o que se denomina de força contra-electromotriz
(fcem).
(4.7)
e que tem sentido tangencial ao rotor. Se for denominado de R o raio do rotor e Z de número de
condutores da armadura, será obtida a magnitude do torque:
(4.8)
Uma vez que a superfície d induzido compreendida no passo polar da máquina é igual a:
(4.9)
(4.10)
Se a equação 4.6 for levada em consideração, a equação acima pode ser expressa como uma
função da fem do induzido, resultando em:
[N.m] (4.11.a)
Quando a máquina cc funciona como um motor, é lhe aplicada uma tensão de alimentação cc ao
induzido que provoca uma circulação de corrente pelos condutores desse enrolamento, cujos
Quando uma máquina cc funciona sem carga (funcionando, por exemplo, como gerador), não há
corrente na armadura e o fluxo no entreferro é produzido apenas pela força magnetomotriz do
indutor. Quando o circuito da armadura é fechado através de uma resistência de carga, uma
corrente que flui através dos condutores do rotor que dão origem a uma fmm que combinada com
a do estator, produz o fluxo resultante no entreferro da máquina.
É conhecida como a reacção do induzida ao efeito exercido pela fmm deste enrolamento sobre a
fmm do indutor, e isso faz com que a forma e a magnitude do fluxo no entreferro variem em
relação aos valores que a máquina apresentava em vazio. Para estudar o fenômeno da reacção da
armadura, considera-se por simplicidade, uma máquina bipolar (fig. 4.4) trabalhando na zona
Quando a máquina cc trabalha em vazio, apenas actua a excitação dos pólos e desta forma é
obtida uma distribuição do campo magnético no entreferro que é constante e máxima em baixo
de cada pólo, e que diminui rapidamente no espaço interpolar até chegar a zero na linha neutra.
Na figura 4.5 se mostra um esquema desenvolvido da máquina da figura 4.4 com a distribuição
da indução magnética correspondente no vazio (sem corrente na armadura). Teoricamente, a
curva anterior deveria ter amplitude constante e de sinal diferente em cada pólo, e ser nula no
espaço interpolar, mas não é o caso, devido aos fluxos de dispersão que aparecem nas sapatas
polares, que fazem a forma de B(rx) na prática trapezoidal, conforme mostrado na figura 4.5. Ao
fechar o circuito do induzido, são criadas correntes que produzem uma fmm de forma triangular,
como pode ser demonstrado analiticamente aplicando o teorema de Amper a circuitos fechados
cuja largura é igual a um passo polar. O eixo desta fmm coincide com a linha das escovas, de
forma que se estiverem dispostos na linha neutra, a fmm do induzido será máxima nesta linha
Na figura 4.4 os pólos são mostrados em traços para indicar que sua acção não é levada em
consideração. Essa distribuição pode ser facilmente entendida observando que do ponto de vista
magnético os condutores podem ser considerados conectados entre si, conforme mostrado pelas
linhas tracejadas na figura 4.6. Desta forma, os condutores localizados entre os eixos verticais
CC1 e DD1 agem como se fossem bobinas concêntricas que produzem uma fmm que tem seu
máximo no eixo AA1. Da mesma forma, as correntes nos condutores à esquerda de CC1 e à
direita de DD1 produzem uma fmm que tem seu máximo no eixo BB1.
Em relação a esta distribuição de fmm haverá uma distribuição radial de indução correspondente.
Observa-se que esta curva B (α) apresenta algumas depressões nos espaços interpolares devido
ao facto de nestas zonas a relutância ser muito maior do que em baixo dos pólos porque há um
entreferro maior. Para considerar o efeito da reacção da armadura na distribuição do fluxo do
indutor, as curvas das figuras 4.5 e 4.6 terão que ser sobrepostas, resultando no diagrama da
figura 4.7. Examinando a indução resultante no entreferro, pode se deduzir importantes
consequências. Em primeiro lugar, a reacção do induzido deforma a curva de indução de baixo
No caso de operação no regime motor, um raciocínio análogo indicaria que a linha neutra
magnética está atrasada em relação à linha geométrica. Este deslocamento da linha neutra
magnética acarrecta um forte faiscamento no colector, pois durante a comutação, a escova
correspondente provocará um curto-circuito em uma secção do enrolamento na qual uma
determinada fem é induzida porque há fluxo nessa área. Para evitar este fenômeno, as escovas
terão que ser movidas até que a linha neutra real seja encontrada, ou seja, no diagrama da figura
4.11, a escova deverá ser movida da posição N para M (avançando as escovas quando a máquina
trabalhar como gerador e retardando-os quando funcionam como motor).
Esta operação é mostrada mais claramente na figura 6.12. Deve-se observar que todos os
condutores à esquerda do eixo da escova DC conduzem a corrente de saída para o plano da
página, enquanto todos os condutores à direita conduzem a corrente de entrada.
Desta forma, e conforme indicado nos parágrafos anteriores, uma fmm da reacção do induzido
F; que coincide com o eixo das escovas, pode ser decomposto em duas partes: um eixo
longitudinal ou directo Fd que tem um carácter desmagnetizante ou antagônico, uma vez que se
opõe a fmm de excitação Fe, e que pode ser considerado como sendo produzido pelos condutores
compreendidos no ângulo 2 (graus eléctricos), conforme mostrado na figura 4.9a, e outra
componente transversal F, produzido pelos demais condutores agrupados, conforme indicado na
figura 4.9b, abrangendo (180 ° -2 ) graus eléctricos.
Para calcular a magnitude de ambas fmms pode se considerar um induzido de condutores Z
distribuídos em circuitos derivados 2c que conduzem uma corrente total Ii, tendo a máquina 2p
polos. Nessas circunstâncias têm-se:
(4.12)
(4.13)
Uma vez que cada polo ocupa uma extensão de 180° e há apenas 2 graus eléctricos ocupados
por condutores responsáveis pela reacção de desmagnetização, a magnitude do fmm Fd
correspondente será:
[AV/polo] (4.14)
(4.15)
Na maioria das máquinas cc, para eliminar o deslocamento da linha neutra geométrica com
variações de carga e assegurar uma melhor comutação, são utilizados os chamados pólos
auxiliares, interpolos ou polos de comutação, que são pequenos núcleos magnéticos que são
colocados na linha neutra teórica, que são providos de um enrolamento que é conectado em série
com o induzido, e que produz um campo magnético oposto ao da reacção transversal. Na figura
4.11, uma máquina bipolar é mostrada com os correspondentes interpolos colocadas. No caso a)
a máquina funciona como gerador e no caso b) a máquina funciona como motor. Em ambas as
situações, foi mantido o mesmo sentido de rotação do rotor (anti-horário) e a mesma polaridade
dos polos principais; entretanto, o sentido da corrente na armadura em ambas as figuras é oposta.
Se for considerado o comportamento como gerador (fig. 4.11a), o sentido de rotação é imposto
pelo motor primário externo que move o rotor; as correntes no induzido são determinadas com a
lei de Faraday: (que corresponde a um sentido da corrente definida pela regra
da mão direita de Fleming), que dá origem às correntes que saem para o plano da página nos
condutores localizados no semicírculo superior e as correntes de entrada nos condutores
localizados no semicírculo inferior. É por isso que a fmm da reacção do induzido é transversal e
vai da esquerda para a direita. Já os interpolos devem produzir fmm no sentido oposto ao anterior,
o sentido das correntes nestes polos auxiliares (neste caso de operação em regime de gerador)
deve ser o indicado na figura 4.11a. Observa-se que, na operação como gerador, a polaridade
a) b)
Figura 4.11: Máquina de c.c. con polos auxiliares o de conmutación.
Se for considerado o comportamento como motor (fig. 4.11b), o sentido de rotação é devido à
reacção das correntes do induzido em relação ao fluxo dos pólos do indutor e que é expressa pela
lei de Laplace: (que corresponde ao sentido da força nos ondutores definida pela
regra da mão esquerda de Fleming); Como a corrente na armadura foi invertida em relação à
transportada pela máquina quando ela funcionava como gerador (compare as figuras 4.11a e b),
o sentido de rotação do rotor é o mesmo em ambos os casos. Dessa forma, no comportamento
como motor (fig. 4.11b), a fmm da reacção do induzido é transversal e que actua da direita para
esquerda. Já as interpolos devem produzir fmm no sentido oposto ao anterior, e o sentido das
correntes nestes polos auxiliares (no caso de funcionar no regime motor) deve ser o indicado na
figura 4.11b. Observe-se que na operação em regime motor, a polaridade magnética de um
interpolo é a mesma do polo principal que o segue no sentido de rotação da máquina (fig.
4.11b).
Deve-se levar em consideração que, conforme já indicado anteriormente, os interpolos devem
estar em série com o induzido para que a sua acção seja proporcional à corrente I, e assim,
compensar a reacção transversal do induzido. Além disso, para que o fluxo produzido pelos
4.4 Comutação
Se for levado em consideração que nas hipóteses de partida são desprezadas as resistências das
espiras comutadas e seus fios de conexão, e são também consideradas nulas as possíveis fems
induzidas na secção C, ao aplicar as malhas de Kirchhoff ao circuito da figura 4.14, obtemos:
; ; (4.18)
Donde resulta:
; (4.19)
( ) (4.20)
que é a equação de uma recta. A figura 4.15 mostra o diagrama de variação dessa corrente, que é
chamada de comutação rectilínea ou linear.
Na prática, a comutação linear nunca ocorre, e não ocorre porque é inevitável a aparição de uma
fem de auto-indução e indução mútua na secção comutada devido a variação da corrente
existente na própria secção e na adjacente (ou adjacente quando as escovas estiverem em
contacto com duas ou mais segmentos do comutador). Esta fem é denominada de força
electromotriz reactiva er e tem a forma geral:
(4.21)
onde N representa o número de espiras na secção comutada e Փ o fluxo total que atravessa a
secção em estudo, que uma parte provém do seu próprio fluxo e a outra parte se deve aos fluxos
que chegam de outras secções comutadas. Se as variações das correntes forem consideradas
lineares, a fem er, terá um valor proporcional a corrente Ii, consequentemente, para uma dada
Para evitar a centilhação causada pela aparição de er será necessário compensar esta fem por
outra de sinal oposto e de igual magnitude (portanto, também proporcional à corrente Ii); Isso é
conseguido incorporando um polo auxiliar na zona de chaveamento (linha neutra) que cria uma
certa indução Bc na secção comutada. Desta forma, se N é o número de espiras na secção, l é o
comprimento de seus condutores (ou o comprimento do polo auxiliar, se for menor), e v é sua
velocidade tangencial, a fem adicional resultante, chamada de força electromotriz de comutação
ec, terá a sua magnitude expressa em:
(4.22)
proporcional à corrente da armadura Ii, será necessário fazer com que ec e Bc sejam também
proporcionais a essa corrente, isso é possível para todos os regimes de operação, conectando o
enrolamento dos polos auxiliares em série com o enrolamento da armadura. Além disso, para
alcançar uma relação directa entre a fmm dos pólos auxiliares e da indução Bc correspondente
será necessário que o circuito magnético destes polos não estaja saturado, e isso se consegue
aumentando o entreferro desses polos ou trabalhando com induções baixas (menos de 1,2 Teslas).
A figura 4.14 mostra o layout básico de uma máquina cc em que foi inserido um polo de
comutação (normalmente existem tantos polos como os principais). Deve se notar que o
enrolamento do interpolo está em série com a armadura, e com entreferro maior que o dos polos
principais.
que se opõe à fem de reactância er; e por outro lado, os polos auxiliares devem neutralizar a
reacção transversal da armadura que tende a modificar a posição da linha neutra. Como ambas as
acções levam a polaridades coincidentes, a fmm necessária nos polos auxiliares, Faux será igual à
soma da fmm da reacção transversal, Ft mais a fmm necessário para criar Bc, e que se denomina
de FB, por tanto:
(4.23)
[Av/polo] (4.24)
Para calcular FB, assume-se que o entreferro dos polos auxiliares é alto, e desta forma,
poderá se desprezar a relutância do ferro contra aquela do entreferro, resultando em:
(4.25)
onde HB indica a intensidade do campo magnético no entreferro dos polos auxiliares. Tomando
as expressões (4.24) e (4.25) para (4.23) permanece:
[Av/polo] (4.26)
(4.27)
(4.28)
onde V indica a tensão nos terminais da máquina. Nesta equação, foi desprezada a acção
desmagnetizante da armadura sobre o indutor. Quando essa acção é considerada, geralmente é
expressa como uma redução percentual na fmm de excitação, ou seu equivalente na queda de
tensão da armadura. No caso de a máquina possuir polos auxiliares que anulem a reacção da
armadura, a expressão (4.28) continuará válida se as resistências dos enrolamentos desses polos
estiverem incluídas em Ri.
Para calcular a potência mecânica de entrada será necessário somar a potência electromagnética
anterior Pa as restantes perdas que incluem:
A auto-excitação de máquinas cc foi descoberto por W. Siemens por volta do ano de 1866 e
basea-se no magnetismo remanescente dos polos. Considere por exemplo, uma máquina de
derivação, ao girar o rotor (induzido) por meio de uma máquina primária, se não houver fluxo
nos pólos, nenhuma fem irá aparecer nas escovas e conseqüentemente não haverá transformação
da energia mecânico em eléctrica. No entanto, se os polos forem previamente magnetizados
(4.36)
Ou seja, para os mesmos valores dos fluxos, as fems produzidas são proporcionais às respectivas
velocidades de rotação. Isso significa que se a curva de vazio duma máquina cc é conhecida por
uma velocidade n, a curva de vazio para outra velocidade velocidade pode ser conhecida sem
aplicar a expressão (4.36). Essa ideia é mostrada na figura 4.19b, em que a curva de vazio de
linha grossa é definida para a velocidade n e a curva de vazio para a velocidade foi deduzida
de tal forma que ( ⁄ ) para cada valor da abcissa.
A fem final gerada corresponde ao ponto P, solução comum para a curva de vazio e a recta do
indutor. Para cada valor de resistência do circuito de excitação, será obtida uma recta com uma
inclinação diferente, cuja intersecção com a curva de vazio determinará a fem resultante. Se a
resistência Re se move ao longo da curva de vazio até atingir a origem, para uma certa resistência
Re = Rcr, denominada resistência crítica, a recta do indutora será tangente à parte inicial da curva
de vazio e, por consequência, nestas condições o gerador praticamente não irá se excitar.
Portanto, a resistência máxima do reóstato deve ser projectada de modo que, quando adicionada
à resistência do enrolamento do indutor não seja excedida a magnitude de Re.
A figura 4.22 também pode servir para explicar o processo de auto-excitação desses geradores.
Considere uma resistência total do circuito do indutor Re definida pelo ângulo α. Em vazio, toda
a corrente da armadura passa pelo enrolamento do indutor, de forma que Ii =Ie, além disso,
nessas condições a corrente comum anterior é de pequeno valor, pelo que pode se considerar
desprezíveis tanto a queda de tensão na resistência do induzido como a própria reacção do
induzido, e deste modo a diferença de potencial ddp nos terminais da máquina (tensão entre M e
N na fig. 4.21) coincide com a fem gerada. Se for considerado que a resistência total do circuito
de excitação é Re (enrolamento do indutor + reóstato de campo) e que a inductância do
enrolamento do indutor é Le, teremos de acordo com a 2ª lei de Kichhoff:
Apontamentos de Máquinas Eléctricas I Por: MSc. DMajequete @ 2021 Página 34
(4.39)
(4.40)
(4.41)
o primeiro membro da expressão acima representa a diferença entre a curva de vazio e a recta de
resistência do indutor, que sempre dá um valor positivo, uma vez que a curva de vazio está acima
da recta Re, o que torna ⁄ , pelo que a corrente Ie vai aumentando em todo momento.
Neste caso, a corrente alcançará o valor OD, o que produzirá a fem FD, e assim sucessivamente
(o caminho que a máquina segue é indicado pela linha tracejada na figura 4.22).
Quando a fem atinge o valor dado pela intersecção da recta de campo com a curva de vazio
(ponto P da fig. 4.22), e de acordo com a expressão (4.41) o termo ⁄ será zero, portanto
não pode haver aumento subsequente na corrente Ie, a fem deixa de aumentar e o ponto P
determina os valores finais tanto da tensão em vazio (fem) como a corrente de excitação,
cumprindo-se neste ponto a condição:
(4.42)
Nota prática: Deve-se observar que para produzir a auto-excitação de um gerador em shunt
devem ser garantidas as concordâncias dos sentidos do enrolamento de campo com a tensão
produzida. Ou seja, a corrente do enrolamento de campo deve produzir um fluxo magnético que
ajude a aumentar (reforçar) o magnetismo residual. De modo contrário, o fluxo produzido pelo
enrolamento do indutor tenderia a anular o magnetismo remanescente existente e o gerador não
produziria tensão. No campo eléctrico, diz-se que o gerador não excita, e quando isso acontece
por engano nas conexões, é necessário proceder a magnetização dos polos da máquina com cc
exterior e voltar a montar novamente o circuito, invertendo o enrolamento de campo ou o
sentido de rotação da máquina.
Ao conectar a carga, e se esta for de grande resistência, a máquina pode não ser excitada. A
redução desta resistência, RL é acompanhada por um aumento relativamente alto na tensão
terminal. A Figura 4.24b mostra a curva de vazio da máquina construída com o indutor
conectado como excitação independente. Também se observa a forma da característica externa
V= f(l). Para uma corrente OA se gera uma fem AC e a correspondente tensão é AB. A diferença
entre ambas grandezas é BC e representa, conseqüentemente, a queda de tensão na resistência da
armadura, a reacção da mesma e o contacto da escovas. Pela característica externa pode-se
deduzir que a tensão do gerador varia bruscamente com a carga, pois na prática este tipo de
gerador não é utilizado.
A característica externa do gerdor composto, do tipo aditivo, é obtida como a soma das
características de gerador shunt e série, podendo dar curvas praticamente planas, o que indica a
manutenção do valor da tensão terminal com a corrente de carga. Se o número de espiras em
série for aumentado, a tensão do terminal pode aumentar com a carga, o que resulta na
característica hipercomposta. Caso contrário, a tensão pode ser reduzida com a carga como no
caso do gerador shunt, dando origem à característica hipocomposta. A conexão diferencial
apresenta uma queda de tensão elevada com o aumento da carga, o que torna sua aplicação útil
em geradores para soldadura por corrente contínua. Na figura 4.25b são mostradas as
características externas para excitações aditivas hipercomposta e hipocomposta e tipo diferencial.
Um motor cc transforma uma energia eléctrica de entrada em uma energia mecânica de saída.
Trata-se essencialmente de um gerador operando em regime inverso, o que está de acordo com o
princípio de reciprocidade electromagnética formulado por Faraday e Lenz. Para entender esse
princípio básico de reciprocidade na operação de uma máquina cc, consideraremos um gerador
shunt que fornece energia eléctrica para uma rede cc, de tensão constante, conforme indicado na
figura 4.26a.
De acordo com a expressão (4.28), a aplicação da 2ª lei de Kirchhoff ao circuito da armadura
leva à seguinte expressão:
(4.43)
(4.44)
Se a fem E é superior a ddp Vi (praticamente esta tensão coincide com a da rede), o sentido da
corrente na armadura coincide com o da fem E, e em consequência, a máquina funciona como
um gerador fornecendo uma potência electromagnética Eli. A máquina então cria um torque
resistente que se opõe ao de rotação, ou seja, contrário ao movimento do motor principal.
Se for reduzida a fem do gerador, reduzida a velocidade de rotação ou a excitação do indutor,
quando E se tornar menor que a tensão Vi, a corrente 1i da armadura mudará de sentido,
conforme expresso na equação (4.44). Diz-se então que a máquina produz uma força contra-
electromotriz, já que E se opõe à corrente 1i. Nessa situação, a máquina funciona como motor e é
produzido um torque electromagnético que coincide com o de rotação, o que indica que o torque
passou de resistente a motor. Desconectando o motor principal, a máquina cc continuará a girar
no mesmo sentido em que estava quando funcionava no regime gerador, mas agora
desenvolvendo seu próprio torque. O facto da máquina manter o mesmo sentido de rotação
funcionando como gerador ou como motor se deve ao fato de ter havido a troca de polaridade
apenas em um dos enrolamentos. As figuras 4.26a e b mostram esta acção, onde pode se
observar que em ambos os casos a corrente de excitação tem o mesmo sentido, mas que, no
entanto, a corrente li mudou de sinal.
que nada mais é do que a equação (4.44) mas com troca de sinais Ii, Vi e E.
Para determinar o processo de transformação de energia mecânica em energia eléctrica no motor
cc uma equação de equilíbrio de potências deve ser obtida. Para isso, multiplicam-se ambos os
membros de expressão (4.45) por 1i; resultando:
(4.46)
Cujos termos significam:
Pi= VIi : Potência eléctrica absorvida pelo induzido do motor;
: Perdas no cobre do induzido;
: Perdas nos contactos das escovas;
: Potência electromagnética desenvolvida pela máquina.
A potência electromagnética Pa expressa a potência mecânica total produzida pelo motor, e que
dá origem ao dividir pela velocidade de rotação a torque interno desenvolvido pela máquina e
cuja expressão já foi definida pela equação (4.11):
[N.m] (4.48)
Se for substituida nesta expressão a fem E por seu valor dado pela expressão (4.6), se obtém a
seguinte expressão:
(4.49)
que coincide com expressão (4.10) demonstrada por outro procedimento. Esta expressão indica
que o torque é directamente proporcional ao fluxo no entreferro e à corrente da armadura.
Para calcular a potência mecânica útil no veio (eixo) do motor, será necessário subtrair da
potência electromagnética Pa, as perdas do rotor, que incluem as perdas no ferro PFe e as perdas
A potência absorvida pela máquina P1, no caso de haver excitação independente do motor, será
igual à potência que chega ao induzido Pi. No entanto, em máquinas auto-excitadas, a potência
de entrada também terá que compensar as perdas no circuito de excitação Pes devido ao efeito
Joule no cobre do enrolamento indutor, resultando em:
(4.51)
A figura 4.27 mostra de forma esquemática a distribuição de potência no motor cc. A potência de
entrada P1 é o produto da tensão de alimentação e da corrente absorvida, e o desempenho do
motor será:
(4.52)
(4.55)
(4.56)
que indica a possibilidade de regular a velocidade de um motor cc com base no controle das
seguintes variáveis:
a) O fluxo por pólo produzido pela corrente de excitação: À medida que o fluxo diminui, a
velocidade de rotação aumenta, e daí o perigo de dar a partida no motor sem conectar a
excitação, pois isso levará ao descontrole do motor, limitado apenas pelo magnetismo
remanescente dos polos.
b) A tensão de alimentação V, aplicada ao motor: Ao diminuir ou aumentar a tensão de
alimentação, reduz ou aumenta a velocidade, conforme indicado pela expressão (4.56).
c) A resistência do circuito da armadura, que é obtida conectando em série com este enrolamento
uma resistência variável ou reóstato. Conforme se aumente ou diminue a resistência da armadura,
a velocidade irá diminuir ou aumentar, como pode ser deduzido da expressão (4.56).
Esses métodos são usados na prática de forma independente ou combinada para obter
características adequadas ao regime de trabalho requerido, embora actualmente tenham sido
substituídos por procedimentos electrónicos.
Para inverter o sentido de rotação de um motor cc é necessário inverter o sentido da corrente em
apenas um dos enrolamentos: armadura ou indutor. Se os sentidos das correntes em ambos os
circuitos forem modificadas, o sentido de rotação do motor não será modificada (o que é
justificado pela aplicação da Lei de Laplace: F = I (L x B) aos condutores da armadura).
Como a velocidade é nula no momento de arranque, há uma fcem também nulo, pelo que a
corrente da armadura nesse momento será muito alta, porque nesse momento o motor oferece
apenas uma pequena resistência Ri à tensão da rede. Para proteger o motor cc contra essa
corrente de arranque tão alta, são utilizados os reóstatos de arranque em série com o induzido. Na
figura 4.28 é mostrado um circuito desse tipo no qual a excitação foi considerada independente.
A resistência total de partida é subdividida em vários trechos com conexões a terminais ou
plotagens, de forma que no arranque (partida) haja a resistência máxima em série com a
armadura, que é sucessivamente eliminada (plotagens 1 - 2- 3 - 4) à medida que o motor vai
aumentando de velocidade, até o reóstato seja removio por completo e rotor fica conectado
directamente à rede.
Hoje em dia o arranque dos motores cc é feito automaticamente através de contactores e relés de
tempo, para chaveamento dos reóstatos. Nos vários esquemas operacionais de máquinas cc essa
ideia será estendida, explicando também as chamadas características mecânicas que expressam a
relação n = f (T), tão importante no projecto de accionamentos eléctricos.