You are on page 1of 32

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA


INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE JUIZ DE FORA –
MG
Ref.: PA nº 0145.21.000559-4

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,


por intermédio da Promotora de Justiça de Defesa da Educação e dos Direitos
das Crianças e dos Adolescentes desta Comarca, que esta subscreve, vem à
presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 127, caput, e 129,
III, da Constituição da República; no artigo 19 da Lei nº. 7.347/1985; no
artigo 3º da Lei nº 7.853/1989; no artigo 201, V, da Lei nº 8.069/1990 –
Estatuto da Criança e do Adolescente, e, ainda, com base nos documentos em
anexo, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face do MUNICÍPIO
de JUIZ DE FORA/MG, pessoa jurídica de direito público interno, com
endereço na Avenida Brasil, 2001, Centro, pelas razões de fato e de direito que
passa a expor.

I – FATOS

1
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

O Ministério Público de Minas Gerais instaurou o


Procedimento Administrativo de Acompanhamento de Políticas Públicas que
acompanha esta exordial, de números SRU 0145.21.000559-4 e SEI
19.16.0663.0022450/2021-40, com o objetivo de apurar a situação do
Município de Juiz de Fora no tocante à inclusão dos estudantes com
deficiência na rede municipal de ensino.
A bem da verdade, todos os anos, desde que assumimos a
Promotoria de Defesa da Educação, em novembro de 2017, temos
acompanhado ano a ano a disponibilização de professores de apoio, que foram
chamados na gestão passada de professores de docência compartilhada e agora
são chamados de professores para ensino colaborativo. Tanto é que em 2019
ingressamos com ação civil pública neste juízo, quando V. Exa. determinou
que o Município réu disponibilizasse professor de apoio para todos os alunos
que necessitassem de educação especial naquele ano.
Lamentavelmente, em 2020, sobreveio a pandemia da
Covid-19, que paralisou no primeiro semestre as aulas letivas, tendo retornado
o ano letivo de 2020 em 14 de agosto do ano passado, e perdurado até
fevereiro deste ano. O ano letivo de 2021 iniciou-se em março deste ano e está
em curso até o presente momento.
Em busca de entender como foram ministradas as aulas
para alunos especiais, portadores de transtornos globais do desenvolvimento
(TGD), superdotados ou de altas habilidades, passamos então a ouvir pessoas
relacionadas à Secretaria de Educação na gestão passada, juntando aos autos
do procedimento em epígrafe o memorial de gestão 2017/2020, publicado no
site da Secretaria de Educação do Município de Juiz de Fora
(https://www.pjf.mg.gov.br/secretarias/se/arquivos/memorial_se_2017_2020.p
df). Ainda, convidamos a atual Secretária Municipal de Educação, Sra. Nádia
de Oliveira Ribas, mas como consta de certidão datada de 08 de junho deste
ano (Doc SEI 1270054), esta não compareceu.
Um dado nos chamou a atenção. No memorial de gestão
suprarreferido, consta, no doc. 1287370, p. 540/541, que em 2015, o
2
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Município possuía 985 alunos de educação especial matriculados na rede


municipal de ensino; em 2016 esse número era de 1220; 2017, 820; em 2018,
830; no ano de 2019, 866 e em 2020, 1019 alunos com deficiência, público da
educação especial, estavam matriculados na rede pública municipal.
Entretanto, requisitamos várias vezes o número de alunos que necessitam de
inclusão à atual gestão. Os ofícios n.º 265/2021/10aPJ/JF, 486/2021-10a.PJ e
595/2021-10ª PJJF, em anexo a esta, questionavam incisivamente essa
informação. No último, para que não restasse qualquer dúvida, questionamos
de forma clara, pela terceira vez, as seguintes informações:

“. quantos alunos com deficiência frequentaram as aulas do


Município em 2020, informando quantos destes tiveram direito a professor de
docência compartilhada, especificando aluno e o professor de docência
compartilhada que o atende em cada escola;

. quantos alunos com deficiência se encontram frequentando as


aulas do Município em 2021, informando quantos destes têm direito a professor de
docência compartilhada, encaminhando relação de todos eles, assim como dos
professores de docência compartilhada (para ensino colaborativo) e o professor
regente;

c) se existe algum aluno sem professor de docência compartilhada


nesse ano de 2021 e, caso exista, que informe qual a motivação e as providências que
estão sendo tomadas, tendo em vista que, por força de decisão judicial, nenhum
aluno que comprovadamente necessite de professor de docência compartilhada no
Município de Juiz de Fora pode ficar sem o garantido direito.”
Entretanto, a resposta que chegou do Município traz,
igualmente, a listagem constante dos documentos, que demonstra que temos
527 alunos de educação especial com 464 professores de apoio, que o
Município réu hoje chama de professores de ensino colaborativo. Estranhando
a diferença entre o que constava de 2020 (1019 alunos segundo o memorial e
527 alunos segundo a atual gestão municipal), buscamos ouvir a Sra.
Secretária Municipal de Educação, que não compareceu para ser ouvida,
muito embora devidamente intimada. Mais, questionamos o Município, tendo
a Secretária de Educação, no ofício 092/2021, recebido no último dia 09 de
julho, respondido que:
3
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Ora, questionado o Município por três vezes acerca do


número de alunos que necessitam de educação especial, por três vezes a atual
4
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

administração municipal apresentou a relação de 527 alunos, para os anos


2020-21, como se os mesmos fossem estanques. De 2020 para 2021 não houve
qualquer alteração no número de alunos, como se nenhum aluno de ensino
especial tivesse saído de alguma escola municipal em 2020, nem outro
qualquer tivesse entrado no ano de 2021. O corpo discente não é estanque
no município de um ano para o outro. Durante a pandemia, alguns alunos
se formaram no nono ano do primeiro grau, assim como outros entraram
nos anos iniciais da educação básica. De igual forma, em vista do
empobrecimento experimentado pelas famílias juiz-foranas, muitos
alunos de escolas particulares migraram para as escolas públicas. Assim,
pergunta-se: como o número de alunos não alterou? Do ano letivo de 2020
para 2021? Em conclusão, os alunos de educação especial que necessitam
de ensino inclusivo estão, em boa parte, invisíveis nas salas de aula das
escolas públicas municipais.
Mesmo ausente a Secretária Municipal à reunião
designada com este órgão ministerial, no último ofício respondido pelo
Município réu e copiado acima, o requerido acede que não foi realizada
qualquer visita durante a pandemia aos alunos da educação especial que
porventura careçam de professores de apoio (ou de docência compartilhada
ou para ensino colaborativo), tendo disponibilizado aos alunos apenas
professores de salas de AEE, o que não satisfaz o público de educação
especial em seu direito.
Necessária se mostra a intervenção jurisdicional no caso
em apreço, a fim de garantir aos alunos especiais, portadores de transtornos
globais do desenvolvimento (TGD), superdotados ou de altas habilidades que
necessitem de professor de apoio (ensino colaborativo) que lhes sejam
garantidos referido profissional, para serem trabalhados inclusive na
realização de um plano pedagógico inclusivo junto às suas famílias, sob pena
de se negar a este público o acesso à educação inclusiva efetiva e de
qualidade, conforme abaixo se demonstrará.

5
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

II - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimidade do requerente decorre de mandamento


constitucional (CRFB/88):

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente,


essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e indisponíveis.

O artigo 129, inciso III, da Carta Magna estabelece, ainda,


que o Ministério Público tem como função institucional, dentre outras,
“promover o inquérito civil, a ação civil pública, visando à proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos”.
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei nº
8.625/1993, em seu artigo 25, inciso IV, alínea “a”, também reforça a
legitimidade ministerial no patrocínio das causas atinentes aos interesses
difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos.
De igual maneira, a Lei Orgânica do Ministério Público
do Estado de Minas Gerais, Lei Complementar Estadual nº 34/1994, proclama,
em seu artigo 1º, que incumbe ao parquet a defesa dos interesses sociais e
individuais indisponíveis.
Por sua vez, a Lei Federal nº 7.853/1989, que dispõe sobre
o apoio às pessoas com deficiência, sua integração social e institui a tutela
jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, define que as
medidas judiciais destinadas à proteção de interesses coletivos, difusos,
individuais homogêneos e individuais indisponíveis da pessoa com deficiência
poderão ser propostas pelo Ministério Público (artigo 3º, Lei Federal nº
7.853/1989).
No mesmo sentido, a Lei Federal nº 8.069/1990 – Estatuto
da Criança e do Adolescente – ECA, dispõe, em seu art. 201, V, competir ao
6
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Ministério Público “promover o inquérito civil e a ação civil pública para a


proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e
à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da
Constituição Federal”.
Outrossim, a Lei nº 13.146/2015, que institui a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – LBI (Estatuto da Pessoa
com Deficiência), prevê em seu artigo 79, § 3º:

“Art. 79 (...)
§ 3o A Defensoria Pública e o Ministério Público tomarão as
medidas necessárias à garantia dos direitos previstos nesta Lei.”

Ademais, a educação está colocada como o primeiro


direito social que consta do art. 6º da Constituição Federal e, a esse respeito,
preleciona Motauri Ciocchetti de Souza, in “Direito educacional”, São Paulo:
Verbatim, 2010, p.11 que:

Difere a educação de outros direitos sociais e fraternos,


igualmente consagrados pela Magna Carta: a educação é
premissa - e não proposta. Em outras palavras, o acesso efetivo
à educação é o condicionante para o próprio e efetivo exercício
dos demais direitos fundamentais eleitos pelo legislador
constituinte.

E, em sendo direito social, cabe ao Ministério Público,


conquanto missão constitucional, a teor do art. 127 de nossa Constituição, a
defesa de interesses sociais e individuais indisponíveis.
O presente caso cuida de direito transindividual, pois há
interesse da própria sociedade em tutelar os direitos de crianças e adolescentes
com deficiência de acesso à educação, porquanto direito social que vem sendo
violado em função da ausência de professores de apoio para os alunos público-

7
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

alvo da educação especial, situação que reclama e legitima a atuação do


Ministério Público.

III. D O D I R E I T O

III.1 - As obrigações do Município réu

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação possui em seu


capítulo afeto à Educação Especial previsão de que os sistemas de ensino
devem assegurar aos educandos com necessidades especiais professores com
especialização adequada para atendimento especializado, bem como
professores capacitados para a integração desses educandos nas classes do
ensino regular e, ainda, currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específicos, para atender às necessidades daqueles educandos
(artigos 58 a 60 da Lei nº. 9.394/96).
Mais, com status constitucional, a Convenção
Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, promulgada pelo
Decreto nº. 6.949, de 25/08/2009, determina que os Estados Parte assegurarão
sistema educacional inclusivo em todos os níveis, além de aprendizado ao
longo de toda a vida com os objetivos definidos nos itens 1 a), b), c) do artigo
24, bem como o seguinte:

2. Para a realização desse direito, os Estados Partes assegurarão


que:
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema
educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças
com deficiência não sejam excluídas do ensino primário
gratuito e compulsório ou do ensino secundário, sob alegação de
deficiência;
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino
primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino
secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas
8
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

na comunidade em que vivem;


c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades
individuais sejam providenciadas;
d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no
âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua
efetiva educação;
e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas
em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e
social, de acordo com a meta de inclusão plena. 
3.Os Estados Partes assegurarão às pessoas com deficiência a
possibilidade de adquirir as competências práticas e sociais
necessárias de modo a facilitar às pessoas com deficiência sua
plena e igual participação no sistema de ensino e na vida em
comunidade. Para tanto, os Estados Partes tomarão medidas
apropriadas, incluindo:
a) Facilitação do aprendizado do braille, escrita alternativa,
modos, meios e formatos de comunicação aumentativa e
alternativa, e habilidades de orientação e mobilidade, além de
facilitação do apoio e aconselhamento de pares;
b) Facilitação do aprendizado da língua de sinais e promoção da
identidade lingüística da comunidade surda;
c) Garantia de que a educação de pessoas, em particular
crianças cegas, surdocegas e surdas, seja ministrada nas línguas
e nos modos e meios de comunicação mais adequados ao
indivíduo e em ambientes que favoreçam ao máximo seu
desenvolvimento acadêmico e social. 
4.A fim de contribuir para o exercício desse direito, os Estados
Partes tomarão medidas apropriadas para empregar
professores, inclusive professores com deficiência, habilitados
para o ensino da língua de sinais e/ou do braille, e para
capacitar profissionais e equipes atuantes em todos os níveis de
ensino. Essa capacitação incorporará a conscientização da
deficiência e a utilização de modos, meios e formatos
apropriados de comunicação aumentativa e alternativa, e
técnicas e materiais pedagógicos, como apoios para pessoas com
deficiência.

Além disso, a Lei nº 13.146/2015 – a Lei Brasileira de


Inclusão - dispõe acerca do direito à educação nos seguintes termos:
9
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência,


assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e
aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o
máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades
físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas
características, interesses e necessidades de aprendizagem.
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade
escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à
pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de
violência, negligência e discriminação.
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver,
implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e
modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida;
II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a
garantir condições de acesso, permanência, participação e
aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de
acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão
plena;
III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento
educacional especializado, assim como os demais serviços e
adaptações razoáveis, para atender às características dos
estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao
currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e
o exercício de sua autonomia;
IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira
língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como
segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas
inclusivas;
V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em
ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e
social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a
permanência, a participação e a aprendizagem em instituições
de ensino;

10
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos


métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de
equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva;  
VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de
atendimento educacional especializado, de organização de
recursos e serviços de acessibilidade e de disponibilização e
usabilidade pedagógica de recursos de tecnologia assistiva;
VIII - participação dos estudantes com deficiência e de suas
famílias nas diversas instâncias de atuação da comunidade
escolar;
IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o
desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais, vocacionais
e profissionais, levando-se em conta o talento, a criatividade, as
habilidades e os interesses do estudante com deficiência;
X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas
de formação inicial e continuada de professores e oferta de
formação continuada para o atendimento educacional
especializado;
XI - formação e disponibilização de professores para o
atendimento educacional especializado, de tradutores e
intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de
apoio;
XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de
recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades
funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e
participação;
XIII - acesso à educação superior e à educação profissional e
tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com as
demais pessoas;  
XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível
superior e de educação profissional técnica e tecnológica, de
temas relacionados à pessoa com deficiência nos respectivos
campos de conhecimento;
XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de

11
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de


lazer, no sistema escolar;
XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da
educação e demais integrantes da comunidade escolar às
edificações, aos ambientes e às atividades concernentes a todas
as modalidades, etapas e níveis de ensino;
XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;
XVIII - articulação intersetorial na implementação de políticas
públicas.
§ 1o Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de
ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II,
III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e
XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança de
valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades,
anuidades e matrículas no cumprimento dessas determinações.
(Grifos nossos)
Nesse diapasão, as questões pedagógicas referentes à
acessibilidade educacional devem integrar a proposta pedagógica da
escola, concretizando a inclusão escolar por meio de um atendimento
educacional especializado.
A Nota Técnica SEESP/GAB/nº 11/2010 do MEC, de
07/05/2010, que traz orientações para a institucionalização da oferta do
atendimento educacional especializado – AEE em Salas de Recursos
Multifuncionais, implantadas nas escolas regulares, apresenta as seguintes
colocações:
A educação inclusiva, fundamentada em princípios filosóficos,
políticos e legais dos direitos humanos, compreende a mudança
de concepção pedagógica, de formação docente e de gestão
educacional para a efetivação do direito de todos à educação,
transformando as estruturas educacionais que reforçam a
oposição entre o ensino comum e especial e a organização de
espaços segregados para alunos público alvo da educação
especial.
Nesse contexto, o desenvolvimento inclusivo das escolas assume
12
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

a centralidade das políticas públicas para assegurar as


condições de acesso, participação e aprendizagem de todos os
alunos nas escolas regulares, em igualdade de condições.
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial é
definida como uma modalidade de ensino transversal a todos os
níveis, etapas e modalidades, que disponibiliza recursos e
serviços e realiza o atendimento educacional especializado –
AEE de forma complementar ou suplementar à formação dos
alunos público alvo da educação especial.
[...]
De acordo com o disposto nesses documentos, o poder público
deve assegurar aos alunos público alvo da educação especial o
acesso ao ensino regular e adotar medidas para a eliminação de
barreiras arquitetônicas, pedagógicas e nas comunicações que
impedem sua plena e efetiva participação nas escolas da sua
comunidade, em igualdade de condições com os demais alunos.
(Grifos nossos)

O Decreto nº. 7.611/2011, por sua vez, dispõe que o


atendimento educacional especializado – AEE - deve ser realizado no período
inverso ao do curso regular, no contraturno, de maneira complementar e
suplementar do ensino regular, e não substitutivo, preferencialmente, na
rede regular de ensino.
Aqui fazemos um parêntese. Efetivamente, de acordo com
o que consta do último ofício recebido pelo Município, os alunos novos que
entram no Município são auxiliados pelos professores das salas de recursos
funcionais (AEE), mas não possuem, porque não visitados pelo Município,
professores de apoio (ou para ensino colaborativo, como denomina o
Município réu). Por esse motivo, entendemos que atualmente no
Município há alunos que são trabalhados pelos professores que laboram
no AEE, mas não possuem os professores de apoio a que fazem jus, cuja
missão é integrá-los na sala de aula.
Ora, o Plano Nacional de Educação – PNE (Lei Federal
nº. 13.005/2014), do qual os estados e municípios não podem se distanciar,
registra a Meta 4 que visa universalizar a educação básica aos alunos com
13
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

deficiência:
Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17
(dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à
educação básica e ao atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de
sistema educacional inclusivo, de salas de recursos
multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados,
públicos ou conveniados.
Com destaque, as seguintes estratégias:
“[...]
4.3) implantar, ao longo deste PNE, salas de recursos
multifuncionais e fomentar a formação continuada de
professores e professoras para o atendimento educacional
especializado nas escolas urbanas, do campo, indígenas e de
comunidades quilombolas;
4.4) garantir atendimento educacional especializado em salas
de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços
especializados, públicos ou conveniados, nas formas
complementar e suplementar, a todos (as) alunos (as) com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de
educação básica, conforme necessidade identificada por meio de
avaliação, ouvidos a família e o aluno;
[...]
4.6) manter e ampliar programas suplementares que promovam
a acessibilidade nas instituições públicas, para garantir o acesso
e a permanência dos (as) alunos (as) com deficiência por meio
da adequação arquitetônica, da oferta de transporte acessível e
da disponibilização de material didático próprio e de recursos
de tecnologia assistiva, assegurando, ainda, no contexto escolar,
em todas as etapas, níveis e modalidades de ensino, a
identificação dos (as) alunos (as) com altas habilidades ou
superdotação;
[...]
4.9) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do acesso
à escola e ao atendimento educacional especializado, bem como
da permanência e do desenvolvimento escolar dos (as) alunos
14
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

(as) com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e


altas habilidades ou superdotação beneficiários (as) de
programas de transferência de renda, juntamente com o
combate às situações de discriminação, preconceito e violência,
com vistas ao estabelecimento de condições adequadas para o
sucesso educacional, em colaboração com as famílias e com os
órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à
infância, à adolescência e à juventude;
4.10) fomentar pesquisas voltadas para o desenvolvimento de
metodologias, materiais didáticos, equipamentos e recursos de
tecnologia assistiva, com vistas à promoção do ensino e da
aprendizagem, bem como das condições de acessibilidade dos
(as) estudantes com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
4.11) promover o desenvolvimento de pesquisas
interdisciplinares para subsidiar a formulação de políticas
públicas intersetoriais que atendam as especificidades
educacionais de estudantes com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação que
requeiram medidas de atendimento especializado;
[...] (Grifos nossos)

Assim, com base no artigo 59 da LDB, os sistemas de


ensino – federal, estadual e municipal – assegurarão aos alunos com
deficiência currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específicos, de modo a atenderem às suas necessidades (inciso I) e
professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para
o atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração dos alunos nas classes comuns (inciso III).
Para que a inclusão seja realmente efetiva, as
necessidades específicas dos alunos com deficiência, voltadas à aprendizagem,
devem ser supridas, especialmente quando evidenciadas por meio de estudos
técnicos.
Como alhures afirmado, o Município afirmou em
documento público, qual seja, o Memorial de Gestão 2017/2020 da Secretaria
de Educação, que no ano de 2020 havia 1019 (mil de dezenove) alunos
15
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

especiais matriculados na rede pública municipal de ensino. E, neste ano


de 2021, há apenas 527 (quinhentos e vinte e sete) alunos assistidos por
professor de docência compartilhada (ensino colaborativo). Assim, ainda que
se saiba que nem todo aluno especial faça jus ao professor de apoio, não é
possível se conceber que praticamente a metade destes alunos não necessitem
de tal recurso. E isso sem falar que o número de alunos especiais pode ter
oscilado para mais, de 2020 para cá, com a chegada de alunos de outras
cidades ou mesmo da rede particular, haja vista a crise econômica que estamos
vivenciando por conta da pandemia da Covid-19.
O que aqui estamos argumentando é que lamentavelmente
existem dezenas, talvez centenas de alunos especiais, que necessitam do
professor de apoio (ensino colaborativo), em complemento aos outros recursos
da educação inclusiva (AEE, CAEE, SRM, etc), mas não têm acesso a referido
professor por conta da omissão do Município réu, situação com a qual não
podemos concordar, e, espera-se, não pode ser chancelada também por este d.
Juízo.

III.2 – Da Diferenciação entre o professor de apoio (ensino colaborativo) e


professor do atendimento educacional especializado

No intuito de se evitar qualquer confusão conceitual,


mostra-se conveniente distinguir professor de apoio (agora chamado de ensino
colaborativo) do professor do AEE ou CAEE.
O professor de apoio, também já chamado em Juiz de
Fora de bidocente, de docência compartilhada e agora de ensino
colaborativo, é o profissional responsável pelo atendimento educacional
do aluno portador de necessidade especial, com atuação direta no
processo pedagógico deste estudante, promovendo a mediação no
processo de ensino junto ao professor regente. Logo, é notório que o
professor de apoio deve ter uma formação mínima que lhe possibilite executar
e participar efetivamente do processo de aprendizagem do aluno deficiente. O
artigo 59, inciso III da LDB dispõe que o público-alvo da educação especial
16
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

terá direito a professores com especialização adequada em nível médio ou


superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino
regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.
As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica
também enfatizam esses dois perfis distintos de professores atuantes na sala de
aula.
Conquanto haja um professor regente, que dá atenção ao
aluno que possui direito a uma educação inclusiva, há igualmente um
professor de apoio (ensino colaborativo), que realiza atividades junto com o
professor regente e que é responsável pelo desenvolvimento daquele aluno.
É isso que faz com que o aluno - criança ou adolescente
aqui favorecido - tenha uma condição de aprendizagem com sucesso, não
sendo passado de série sem qualquer assimilação do conteúdo ministrado em
sala de aula.
Mas não é só isso. O aluno ainda possui direito de
frequentar uma sala multifuncional, onde suas potencialidades serão
trabalhadas por um terceiro profissional, o professor do AEE. Este deverá ter
curso de graduação, pós-graduação e/ou formação continuada que o habilite
para atuar em áreas da educação especial para o atendimento às necessidades
educacionais especiais dos alunos. Sua formação, de acordo com sua área
específica, deve abranger conhecimentos acerca de: Comunicação
Aumentativa e Alternativa, Sistema Braille, Orientação e Mobilidade, Soroban
(cálculo mecânico), Ensino da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, Ensino
de Língua Portuguesa para Surdos, Atividades de Vida Diária, Atividades
Cognitivas, Aprofundamento e Enriquecimento Curricular, Estimulação
Precoce, entre outros.
Salienta-se que o professor da sala de recursos
multifuncionais deverá participar das reuniões pedagógicas, do planejamento,
dos conselhos de classe, da elaboração do projeto pedagógico, desenvolvendo
ação conjunta com os professores das classes comuns e demais profissionais
da escola para a promoção da inclusão escolar.

17
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Entretanto, mesmo sendo altamente qualificado, não se


confunde com o professor de apoio, conquanto aquele trabalhe
especificamente no contraturno com o aluno que em outro horário está sendo
atendido pelo professor de apoio (ou para ensino colaborativo).

IV – DA AUSÊNCIA DE PLANEJAMENTO E ASSISTÊNCIA


PEDAGÓGICA AO ALUNO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

Isto posto, e diante da recusa do Município réu em relação


a sua obrigação de garantir a oferta de professor de apoio para os alunos que
dele necessitarem, é imprescindível que sejam adotadas medidas para
concretizar os preceitos legais supramencionados, cabendo ao Órgão de
Execução Ministerial a propositura da presente ação civil pública.
O Conselho Nacional do Ministério do Público – CNMP,
através da Recomendação n° 30/2015, dispõe sobre o profissional de apoio
escolar, ressaltando que independentemente do professor, o aluno terá à sua
disposição uma sala de recursos multifuncionais:

Art. 6º Para os fins previstos no artigo anterior, os membros do


Ministério Público poderão realizar ações coordenadas para um
ambiente educacional inclusivo na Educação Infantil,
observando especialmente os seguintes itens:
(...)
II – fomentar a melhoria dos espaços físicos, com a eliminação
de barreiras arquitetônicas, com o Atendimento Educacional
Especializado Integrado, a adoção de materiais pedagógicos
adaptados, a existência de profissional de apoio ao aluno com
deficiência (formação mínima prevista no artigo 62 da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação), a existência de sala de recursos
multifuncionais, entre outras que se fizerem necessárias; (grifo
nosso)

18
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Neste sentido, colacionamos recentes julgados do E.


TJMG sobre o tema, corroborando com o que vem sendo aduzido no presente
exórdio:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO À EDUCAÇÃO.


MENOR PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS.
CONTRATAÇÃO DE PROFESSOR DE APOIO. DEVER DO
ESTADO. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO
MENOR. FIXAÇÃO DE MULTA COMINATÓRIA CONTRA
A FAZENDA PÚBLICA. POSSIBILIDADE. RECURSO
DESPROVIDO.
1. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
há de ser promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa (art. 205
da CR/88), em atenção aos princípios da igualdade de
condições, liberdade de aprendizado, pluralismo de ideais,
dentre outros (art. 206 da CR/88).
2. O art. 208 da CR/88, em seus §§ 1º e 2º, estabelece que o
acesso ao ensino obrigatório e gratuito constitui direito público
subjetivo, portanto, oponível à Administração, e o seu não-
oferecimento, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade
da autoridade competente.
3. Em densificação ao comando constitucional, em homenagem
ao princípio do melhor interesse do menor, o Estatuto da
Criança e do Adolescente disciplina ser dever do Estado
assegurar o atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino (art. 54, III).
4. Demonstrada a premente necessidade de acompanhamento
por professor de apoio do menor portador de necessidades
especiais, para fins de otimização de seu desenvolvimento
escolar e integração social, a interferência do Poder Judiciário,
além de possível, revela-se salutar no caso concreto, de modo a
fazer cessar a inadimplência do Poder Público quanto à
obrigação constitucional que lhe foi imposta, consubstanciada
no seu dever de promover a educação dos cidadãos (art. 206 e ss
da CR), e, em última instância, a dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CR).
19
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

(TJMG, Des. Bitencourt Marcondes, processo 1.0351.18.004257-


1/001, julgado em 28/03/2019).

APELAÇÃO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - PRINCÍPIO DO


MELHOR INTERESSE DO MENOR - EDUCAÇÃO -
DIREITO CONSTITUCIONAL - POLÍTICA NACIONAL DE
EDUCAÇÃO ESPECIAL - SISTEMA EDUCACIONAL
INCLUSIVO - MENOR COM MICROCEFALIA E ATRASO
GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO - PROFESSOR DE
APOIO - POSSIBILIDADE.
- A educação especial passou a ser oferecida como um serviço
complementar à escolarização regular e não mais em caráter
substitutivo.
- Deve o Estado adotar as medidas cabíveis a viabilizar o
acompanhamento da menor, por profissional de apoio à
inclusão, pelo tempo integral que permanecer no ambiente
escolar, efetivando-se, destarte, a garantia ao direito social à
educação. (TJMG, Des. Carlos Levenhagem, processo 0029105-
47.2018.8.13.0521, 28/03/2019 – grifo nosso).

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA - MENOR


PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS -
DISPONIBILIZAÇÃO DE PROFESSOR DE APOIO
ESCOLAR - DEVER DO ENTE PÚBLICO - DIREITO À
EDUCAÇÃO - PEDIDO JULGADO PROCEDENTE -
SENTENÇA CONFIRMADA.

A necessidade do Professor de Apoio Escolar - PAE é


decorrência do direito fundamental à educação e do direito à
igualdade (em sua dimensão material), que impõe ao ente
público a oferta de tratamento diferenciado a quem apresente
condições físicas e mentais que reclamem atendimento
particular e individualizado, capaz de explorar e fazer
desenvolver suas respectivas aptidões e potencialidades (TJMG,
Des. Kildare Carvalho, processo 1.0024.19.000814-4/001,
julgado em 01/07/2021).

20
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Frise-se que, como consta acima, a educação especial é


um serviço complementar à escolarização e não substitutivo. Ora, se
complementa, o certo é que o professor que acompanha o aluno especial e
visa sua inclusão não substitui o professor regente em sala de aula.
Fica bem claro, dessa forma, que o responsável pela
“educação especial”, em atuação complementar ao professor regente, não se
trata de um profissional de cuidado ou cuidador, o qual tem a função de
auxiliar na locomoção, higiene e alimentação. Ao contrário, este tem a função
do desenvolvimento do processo pedagógico junto a essa criança ou
adolescente, atuando com estratégias para a facilitação de sua aprendizagem
bem como lhes favorecendo o desenvolvimento de suas potencialidades, o que
exige para tal uma capacitação específica, nos termos da Lei Educacional
Brasileira.
A disponibilização desse profissional especializado,
atualmente designado em Juiz de Fora como professor para ensino
colaborativo, já foi garantida para todos os estudantes que dele necessitarem,
por força de decisão judicial no ano de 2019 por esse juízo, conforme se vê da
cópia de aludida decisão acostada à presente inicial. Frise-se que este não se
confunde com o professor do AEE (ou do CAEE), garantia legal assegurada
aos referidos alunos. Em Juiz de Fora, atualmente, entretanto, NÃO TEM
ESSE PROFISSIONAL SIDO ASSEGURADO A TODOS OS ALUNOS
QUE DELE NECESSITEM, CONQUANTO O MUNICÍPIO OS TENHAM
INVISÍVEIS E SEM IDENTIFICAÇÃO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS.
Entrementes, tal necessidade é verificada através de
avaliação pela equipe multidisciplinar da gestão educacional, juntamente com
a família, a respeito de cada caso concreto, para a delimitação das
especificidades educacionais do referido aluno e a identificação da indicação
do referido professor.
Ademais, deve ser elaborado junto ao aluno o Plano
Educacional Individualizado (também conhecido pela sigla PEI, PADI e PDI),
que é o instrumento construído com a participação do professor de apoio (para
ensino colaborativo) e da sala do AEE, o qual possibilitará uma avaliação
específica do aluno especial com necessidade educacional. Nele constará um
21
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

levantamento das necessidades, conhecimentos prévios, potencialidades e


habilidades de alunos com deficiências, com transtornos globais de
desenvolvimento, com altas habilidades ou superdotação ou com dificuldades
de aprendizagem.
Cada aluno é único e aprende de maneira diferente, e o
PEI (PADI ou PDI) visa registrar esse caráter individual de cada um para que,
utilizando de estratégias adequadas, ele possa aprender, assim como os outros
estudantes, no ensino regular.
Por conseguinte, conclui-se que, quando a Secretaria de
Educação do Município, através de sua equipe pedagógica, não operacionaliza
a construção do PADI, está negligenciando o processo de inclusão de todos os
alunos matriculados em sua rede, visto que vem desconsiderando as
necessidades específicas de cada um, as quais só são possíveis de serem
identificadas a partir de tal documento.
Infere-se, dessa forma, que o processo de
aprendizagem dos alunos público-alvo da educação especial, em visível
afronta ao seu direito fundamental à educação, vem sendo desenvolvido
com atividades não pensadas e construídas a partir de suas necessidades e
potencialidades individuais.
Em que pese as dificuldades que a pandemia de COVID-
19 trouxe, exigindo-se o devido isolamento social como forma de conter a
disseminação do vírus, não se pode conceber que o PADI não possa ser
construído através das ferramentas virtuais disponíveis e entrega de
documentos pela família. O Município de Juiz de Fora esteve enquadrado, a
maior parte dessa pandemia, oscilando entre as ondas vermelha, laranja e
amarela, fato que possibilitaria a disponibilização de tais documentos pela
família e reuniões virtuais.
Ainda que, em algumas exceções, nas quais tal processo
não pudesse ser concluído devido a alguma barreira metodológica, assumir os
riscos de não garantir o direito educacional aos alunos que necessitavam de
professor para ensino colaborativo suplanta o prejuízo em concedê-lo sem a
identificada necessidade.

22
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

É cediço os impactos negativos trazidos pela pandemia


quando se analisa as consequências do ensino remoto prolongado, mormente
as lacunas que são identificadas no processo de aprendizagem, além do
componente psicológico. Na perspectiva da educação inclusiva e na garantia
do direito à educação das pessoas com deficiência, isso afeta em maior grau.
Por isso, a garantia do direito à educação no período da pandemia não pode
ser negada usando-se a justificativa da complexidade do acesso à
aprendizagem pelos estudantes com deficiência.
As ações precisam ser implementadas pelos gestores para
que as barreiras sejam eliminadas ou, pelo menos, reduzidas, objetivando a
plena participação dos alunos, considerando-se as suas especificidades.
Nessa abordagem, o modelo educacional sugerido por
Mantoan seria o seguinte:
Nas escolas inclusivas, o ensino ministrado é o
mesmo para todos os alunos – o que difere do que é
geralmente proposto para atender às especificidades
dos estudantes que não conseguem acompanhar seus
colegas de turma, por problemas relativos a
deficiências e outras dificuldades de natureza
relacional, motivacional, cultural. (in “Para uma
escola do Século XXI”. UNICAMP/BCCL Campinas-
São Paulo, 2013. P. 108)

Sob essa ótica, é impossível conceber o modelo


educacional adotado pela Secretaria de Educação de Juiz de Fora, visto que,
sob argumento da dificuldade imposta pela pandemia, não possibilita a
construção do PADI e, consequentemente, não disponibiliza o professor de
apoio (ensino colaborativo), direito judicialmente já reconhecido a todos os
alunos destinatários da educação inclusiva que dele necessitarem.
Não obstante as questões educacionais até aqui
delineadas, o PADI possui amplo respaldo legal. A lei Brasileira de Inclusão
possui um dispositivo límpido e de determinação inequívoca na garantia de
sua execução, qual seja, art. 28, inciso V combinado com o inciso VII:

23
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar,


desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e
avaliar:
(...)
V – adoção de medidas individualizadas e coletivas
em ambientes que maximizem o desenvolvimento
acadêmico e social dos estudantes com deficiência,
favorecendo o acesso, a permanência, a participação
e a aprendizagem em instituições de ensino;
(...)
VII – planejamento de estudo de caso, de elaboração
de plano de atendimento educacional especializado,
de organização de recursos e serviços de
acessibilidade e de disponibilização e usabilidade
pedagógica de recursos de tecnologia assistiva; (grifo
nosso)

Deixar os alunos público-alvo da educação inclusiva sob a


responsabilidade dos profissionais das Sala de Recursos Multifuncionais e
AEE (como vem fazendo o Município réu) viola diretamente o direito à
educação dessas crianças e adolescentes, mais ainda quando são atendidas sem
levar em consideração suas especificidades, diante da inexistência do PADI
obrigatório.
A política de atendimento às crianças e adolescentes
destinatários da educação inclusiva na rede municipal implementada pela
Secretaria de Educação vem reforçar a cultura do “capacitismo” e da
“predeterminação de incapacidades pedagógicas”, as quais, durante anos de
evolução da Política Nacional de Educação Especial, vêm sendo combatidas,
com a busca de práticas educacionais que deem efetividade à educação
realmente inclusiva:
… essa visão capacitista tem relegado à pessoa com
deficiência uma condição de ator invisível, pouco
influenciador e, muitas vezes, indesejado ou incapaz
de aprender.
(...)
24
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

É crucial entender de que forma a ‘cultura do


capacitismo’ influenciou na exclusão da pessoa com
deficiência em função de ‘pré-conceitos’
consolidados a partir de premissas equivocadas e
discriminatórias que, ao longo de séculos,
sentenciaram pessoas com deficiência à exclusão
diante de sua suposta ‘incapacidade e
anormalidade’.
(...)
O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana se
consagra no respeito à pessoa pelo que ela é, e não
pelo que se projeta sobre ela. Ao consagrar esse
como um ‘supraprincípio’, o ordenamento jurídico
pátrio, por via de consequência, postula e determina
a necessária valorização da diversidade. (in “Direito
Educacional e o processo de inclusão: normas e
diálogos para entender a escola do século XXI. Rio
de Janeiro. Lumen Juris, 2018, pp.15-19)

Ou seja, sob a perspectiva de uma educação especial


inclusiva, mister se faz considerar a valorização da diversidade como um norte
para a definição de políticas educacionais.
Ao desconsiderar a construção do PADI dos alunos da
rede, o Município de Juiz de Fora fecha os olhos para as diferenças individuais
existentes, impossibilitando-lhes o desenvolvimento de suas potencialidades
específicas, e consequentemente, violando sua dignidade e reforçando a tão
rechaçada percepção capacitista e de segregação.
Ademais, importa mencionar que, para além do direito ao
professor de docência compartilhada, é garantido ao referido aluno sempre
frequentar em contraturno escolar uma sala de recursos especializada, onde
haja pedagogo ou psicopedagogo (com formação em educação especial), em
atendimento do que consta da Resolução CNE/CEB nº 02/2001, em que sejam
identificadas as necessidades educacionais dos alunos para direcionar
adequadamente o seu atendimento. Nesta sala de recursos especiais – onde o
Atendimento Educacional Especializado é prestado -, identificada a real
25
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

necessidade de inclusão do aluno no sistema especializado aqui tratado, é


gerado um relatório, no qual são constatadas as habilidades que devem ser
trabalhadas pelo professor de apoio (de docência compartilhada ou ensino
colaborativo) em sala de aula ao lado do professor regente. Somente aí, então,
os alunos especiais, portadores de transtornos globais do desenvolvimento
(TGD), superdotados ou de altas habilidades podem ser considerados como
incluídos no sistema educacional.
Esses alunos, não se olvida, possuem dificuldades pela
própria característica da doença ou do transtorno que carregam, que o levam a
necessitar que sejam melhor trabalhados em sala de aula pelos professores de
apoio (de nível médio ou superior, conforme a etapa educacional que se
encontram). Necessitam de contato mais direto e de atenção plena para
desenvolverem suas potencialidades.
O professor de apoio – de docência compartilhada ou
ensino colaborativo -, inclusive, elabora o PADI – Plano de Aprendizagem e
Desenvolvimento Individual - visando seu pleno desenvolvimento. Após, esse
plano é discutido com as famílias desses alunos, quando os profissionais da
educação demonstram como esses estudantes serão trabalhados pelo professor
de apoio em sala de aula.
Outrossim, impende destacar que o dever de garantia de
um sistema educacional inclusivo às pessoas com deficiência por parte do
Município réu é medida que decorre do estrito cumprimento da Lei e da
Constituição da República. Do contrário, estar-se-ia institucionalizando uma
maneira velada de discriminação, o que definitivamente afronta a ordem
jurídica. No artigo 4º, caput e § 1º, da Lei 13.146/2015 temos a definição do
conceito de discriminação nos seguintes termos:

Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito a igualdade de


oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma
espécie de discriminação.

§ 1o Considera-se discriminação em razão da deficiência toda


forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão,
que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou
26
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das


liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a
recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias
assistivas.

Por sua vez, o artigo 2º da Convenção Internacional de


Direitos da Pessoa com Deficiência define, também, o conceito de
discriminação:

Discriminação por motivo de deficiência significa qualquer


diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência,
com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o
reconhecimento, o gozo ou o exercício, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos
humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político,
econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro. Abrange
todas as formas de discriminação, inclusive a recusa de
adaptação razoável;” (Grifo nosso)

Além disso, o enfrentamento à discriminação está situado


como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil,
consoante o mandamento contido no artigo 3º, IV, da CRFB/1988.
Portanto, a disponibilização de professores de apoio
(ensino colaborativo) para os alunos que comprovadamente necessitem do
acompanhamento de tal profissional, mediante avaliação educacional, é
medida que se impõe, sob risco de até mesmo se fomentar uma odiosa
discriminação contra esses alunos.
Neste tocante, importa destacar a lição de Marcelo Hugo
da Rocha, para quem
“(...) a educação não se resume à mera instrução ou à aula
ministrada por um professor. O processo educacional é muito
mais amplo e abrangente, com metas e garantias que vão desde
o transporte até a alimentação, incluindo segurança e saúde do
educando. (...) quando se destaca que a educação serve para que
o indivíduo alcance a cidadania, necessariamente é preciso
pensá-la como um processo de aprendizagem que ofereça todas
27
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

as condições para que o educando de forma efetiva se torne um


cidadão apto a participar da sociedade e compreender seus
deveres e direitos. Para tanto, a educação deve ser digna (...)
Sem qualidade na educação não haverá dignidade humana. (in
“Direito à Educação Digna e Ação Civil Pública”, São Paulo:
Saraiva, 2018, pp. 60/61).

Se assim é, tratando de forma desigual, ao longo dos anos,


pessoas iguais, a dignidade dos alunos, crianças e adolescentes portadores de
necessidades especiais, com direito a educação inclusiva, está sendo afrontada.
Em suma, o que se está defendendo ao longo desta inicial
é que não é nem de longe admissível que o Município de Juiz de Fora deixe de
disponibilizar professor de apoio (ensino colaborativo) para todos os alunos
portadores de deficiência que dele necessitarem: i – a uma porque o Município
réu vem disponibilizando professor de docência compartilhada aos alunos
deficientes, independente da série que estão cursando, como comprova o
Oficio 92/2021 SE GAB; ii – a duas, porque em ações individuais e coletivas
que tramitaram ou tramitam perante este d. Juízo já foi reconhecido o direito
que aqui se busca implementar coletivamente, conforme aduzido no início
desta peça; iii – terceiro, porque o que pretende a LBI é a real inclusão e não a
exclusão do ensino. Sem professores de apoio ou ensino colaborativo não
haverá nem o desenvolvimento das potencialidades dos alunos, muito menos o
aproveitamento de suas habilidades.
Mais, deixando os alunos à sorte de pessoas formadas
apenas em segundo grau, que não tem preparo profissional pedagógico ou
didático, os alunos não terão nem a socialização necessária, muito menos
pertencimento à sala de aula e ao corpo discente em que se encontram.
Por fim, não é demais mencionar que a própria
terminologia utilizada pelo requerido para designar o professor de apoio, qual
seja, ensino colaborativo, implica em dizer que o ensino é dividido entre o
professor regente e o de apoio, os quais realizam as ações educacionais em
conjunto, viabilizando o processo de aprendizagem do aluno especial e a
interação do mesmo com os colegas em sala de aula.
28
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Diante de tudo o que foi exposto até aqui, resta claro que
se mostra necessária a intervenção jurisdicional no caso em apreço, a fim de
resguardar os interesses da coletividade composta pelos alunos portadores de
deficiência matriculados na rede pública municipal de ensino.

V – DA URGÊNCIA DA TUTELA PLEITEADA E A NECESSIDADE DE


PROVIMENTO LIMINAR

O artigo 300 do Novo Código de Processo Civil dispõe


que a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
O direito alegado no presente feito é inquestionável, visto
que só será efetivamente garantida a educação inclusiva, igualitária e de
qualidade ao aluno portador de deficiência se for disponibilizado o professor
de docência compartilhada ou ensino colaborativo.
Noutro giro, patente o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo (periculum in mora) decorrente do descumprimento
por parte do Município réu de sua obrigação legal de designar o professor de
apoio ao aluno que dele necessitar, visto que a omissão quanto a isso fere
frontalmente o direito à educação deste. Outrossim, deve ser destacado
também o fato de que a Constituição Federal e a Lei 8.069/1990 dispensaram
às crianças e adolescentes a garantia da proteção integral e do atendimento
prioritário, visando sempre a preservação do melhor interesse da criança, o
que decerto passa pelo acesso a uma educação inclusiva e de qualidade.
Mencione-se, mais uma vez, por oportuno, que no caso
sub judice o perigo de dano grave é inverso, diante do risco à aprendizagem,
ao desenvolvimento e à socialização em razão da ausência de
acompanhamento pedagógico adequado, com a disponibilização de professor
de apoio aos alunos matriculados na rede pública municipal que dele
necessitarem.
Note-se que além do direito à inclusão na rede regular de
ensino, há a questão da dignidade da pessoa com deficiência, sendo necessário
29
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

cessar essa violação de direitos no caso em tela para que todos os alunos da
rede pública municipal de ensino que necessitem de acompanhamento por
professor de apoio tenham preservada a garantia ao ensino inclusivo e de
qualidade.
Ainda, insta frisar que quanto mais o ano letivo
avança maior é o prejuízo para os alunos que se encontram sem o
acompanhamento de professor de apoio ou ensino colaborativo.
Assim, a fim de prevenir outras violações a direitos de
pessoas com deficiência, requer-se, em sede de antecipação da tutela, que seja
imposta liminarmente ao Município réu a obrigação de fazer consistente em
identificar todos os alunos especiais matriculados na rede pública municipal,
e disponibilizar professores de apoio, também denominados professores de
docência compartilhada ou ensino colaborativo àqueles que deles
necessitarem, após regular avaliação pedagógica, pelo tempo que se fizer
necessário, enviando a este d. Juízo a relação atualizada de todos os alunos
que aqui tratamos, matriculados em todas as escolas da rede pública municipal
de ensino, independente da série que estiverem cursando, no prazo de 20
(vinte) dias, bem como que seja apresentado, no prazo de 40 (quarenta) dias, o
Plano Educacional Individualizado (também conhecido pela sigla PEI, PADI e
PDI), de todos os alunos, devidamente assinado pelos pais ou responsáveis,
sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em caso de
descumprimento, a ser revertida em favor do FIA gerido pelo CMDCA do
município de Juiz de Fora, além das sanções penais do crime de desobediência
a serem aplicadas aos seus representantes legais e agentes responsáveis, sem
prejuízo da configuração de ato atentatório à dignidade da Justiça e da
aplicação da multa, como consta do artigo 77, § 2º do Código de Processo
Civil.

VI – DOS PEDIDOS
Pelo exposto, restando clara a obrigação legal e seu
descumprimento pelo Município de Juiz de Fora, postula o Ministério Público:

30
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

1 – que seja apreciada a tutela de urgência acima


pleiteada, determinando ao Município réu que identifique todos os alunos
especiais matriculados na rede pública municipal, e disponibilize professores
de apoio, também denominados professores de docência compartilhada
ou ensino colaborativo, àqueles que deles necessitarem, através de regular
avaliação pedagógica, pelo tempo que se fizer necessário, no prazo de 20
(vinte) dias, enviando a este d. Juízo a relação atualizada de todos os alunos
que aqui tratamos, matriculados em todas as escolas da rede pública
municipal de ensino, independente da série que estiverem cursando, no
mesmo prazo acima citado, bem como que seja apresentado, no prazo de 40
(quarenta) dias, o Plano Educacional Individualizado (também conhecido pela
sigla PEI, PADI e PDI), de todos os alunos, devidamente assinado pelos pais
ou responsáveis, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em
caso de descumprimento, a ser revertida em favor do FIA de Juiz de Fora;

2 - que seja ordenada a citação do Município réu, na


pessoa do seu representante legal, para, querendo, contestar, no prazo
facultado pela lei, a presente ação, cientificando-o de que a ausência de defesa
implicará em revelia e presunção de veracidade dos fatos acima articulados;

3 – que seja ao final o pedido julgado procedente,


confirmando-se a tutela concedida antecipadamente, a fim de que seja imposta
ao Município réu a obrigação de fazer consistente em identificar todos os
alunos especiais matriculados na rede pública municipal, e disponibilizar
professores de apoio, também denominados professores de docência
compartilhada ou ensino colaborativo, àqueles que deles necessitarem ,
através da regular avaliação pedagógica, pelo tempo que se fizer
necessário, enviando a este d. Juízo a relação atualizada de todos os alunos
que aqui tratamos, matriculados em todas as escolas da rede pública municipal
de ensino, independente da série que estiverem cursando, bem como que seja
apresentado, no prazo de 40 (quarenta) dias, o Plano Educacional
Individualizado (também conhecido pela sigla PEI, PADI e PDI), de todos os
alunos, devidamente assinado pelos pais ou responsáveis, sob pena de multa
31
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em caso de descumprimento, a ser


revertida em favor do FIA de Juiz de Fora;
Protesta por todos os meios de prova em direito
admitidos, especialmente depoimento pessoal, oitiva de testemunhas, juntada
superveniente de documentos e perícia.
Atribui-se à causa o valor de R$ 1.100,00 (mil e cem
reais), para fins meramente fiscais.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Juiz de Fora, 22 de julho de 2021

Samyra Ribeiro Namen


Promotora de Justiça

32

You might also like