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Módulo 3
Módulo 3
Regência verbal
O termo regência vem do verbo reger, que significa governar, administrar, dirigir. Em sentido
gramatical, regência é identificada por Celso Pedro Luft como “a necessidade ou desnecessidade de
complementação implicada pela significação de nomes (substantivos, adjetivos, advérbios) e verbos”. O
uso correto da regência verbal demanda pesquisa, análise e cuidado. O ideal é que a produção de texto seja
realizada com o auxílio de um bom dicionário. Indica-se, para tanto, o Dicionário Prático de Regência Verbal,
de Celso Pedro Luft.
A regência verbal se relaciona com a transitividade verbal. Os verbos podem ser intransitivos,
transitivos diretos, transitivos indiretos ou transitivos diretos e indiretos.
Um exemplo do uso desse verbo no texto jurídico é extraído de decisões criminais, especialmente
quando se relata que a defesa irá apresentar as teses defensivas em momento oportuno. No caso, a alusiva
oração poderá ser assim construída:
Dessa forma, ao analisar o exemplo acima, tem-se que a defesa reservou a si (objeto indireto: se
= a si) o direito (objeto direto) de apresentar oportunamente suas teses de defesa.
Observa-se, contudo, que a regência vem sendo empregada de forma equivocada na prática,
especialmente quando são utilizadas as preposições a ou em antes do objeto direto. Portanto, elimine
construções como: ‘reservou-se no direito’ ou ‘reservou-se ao direito’, pois elas apresentam erros de
regência.
2. Verbo implicar
Regência do verbo implicar
Muitas gramáticas trazem a indicação de que o verbo implicar, no sentido de trazer como
consequência, acarretar, é transitivo direto. Essa é a regência clássica do verbo implicar no sentido indicado,
que abole a transitividade indireta com o uso da preposição em. Portanto, implica algo, e não, em algo.
Contudo, o dicionário de Pedro Celso Luft registra a transitividade indireta do referido verbo para
aceitar a construção implicar em algo. Por conta disso, foi realizada consulta à Academia Brasileira de Letras
(ABL), que prontamente respondeu ao questionamento, nos seguintes termos:
“ABL RESPONDE
Pergunta: Boa tarde! Gostaria de saber a regência do verbo implicar no sentido de ocasionar, acarretar. A ABL
admite a transitividade indireta nesse caso: implica em algo? Respeitosamente, Cristiane
Resposta: Boa tarde, prezada Cristiane! A ABL acata todas as regências registradas nos dicionários
reconhecidos nos meios acadêmicos. O Dicionário Prático de Regência Verbal, de Celso Pedro Luft, registra o
verbo "implicar" com a acepção de 'trazer como consequência'; acarretar', como TI [transitivo indireto]."
Portanto, são válidas, no português brasileiro, as duas regências do verbo implicar. Ou seja, é admitido
o uso do verbo implicar, no sentido de acarretar, com ou sem o uso da preposição em.
A utilização de metais pesados implicará sérios riscos à saúde (forma clássica, transitividade direta, uso
correto).
A utilização de metais pesados implicará em sérios riscos à saúde (forma incorporada, transitividade
indireta, uso correto).
A língua é um fenômeno vivo. Transforma-se com os usos, que aos poucos são incorporados à norma-
padrão. A referida incorporação é exemplo disso. Sobre o tema, Piacentini (2012, p. 161) explica que a
incorporação da transitividade indireta do verbo implicar, no sentido acima destacado, ocorreu por analogia
com três outros verbos de significação semelhante: resultar em, importar em, redundar em.
Diante das características do texto oficial e do jurídico, contudo, recomenda-se o uso da regência
clássica. Não obstante, deve-se observar o que soa melhor, mantendo-se sempre a uniformidade,
especialmente quando o verbo implicar for utilizado com dois objetos coordenados. Os exemplos a seguir são
apresentados por Piacentini:
A exigência das notas fiscais implicaria em novo custo e também em operações humilhantes para muitos.
(forma incorporada, transitividade indireta, uso correto).
A exigência das notas fiscais implicaria novo custo e também operações humilhantes para muitos. (forma
clássica, transitividade direta, uso correto).
A exigência das notas fiscais implicaria em novo custo e também operações humilhantes para muitos
(regências misturadas, uso indevido).
O verbo residir também merece atenção especial. Embora cotidianamente seja possível observar a
construção da regência do verbo residir com o uso da preposição a, reside à Rua Américo, por exemplo, em
linguagem formal deve-se utilizar a preposição em para a formação da regência desse verbo.
residir. À semelhança de morar, constrói-se com a prep. em e não a: O alfaiate residia na Rua Anchieta/A
rua em que residíamos ficava na periferia da cidade./Meus avós residiam na Praça Tiradentes./Eu não residia
naquele beco escuro./O velho residia numa casa alugada./Muitos males sociais residem na inércia dos governos.
Por consequência, o adjetivo residente deverá ser regido com a preposição em. Portanto, quando as
partes forem qualificadas em minutas de sentença, termos de audiência, mandados, deve-se usar a seguinte
fórmula: Fulano de tal, residente na Rua X.
4. Outros verbos usados na linguagem jurídica e na
redação oficial
Outros verbos usados na linguagem jurídica e na redação oficial
Acatar
Tendo em vista que acatar traz o sentido de reverência, de cumprimento e de obediência, com relação à
atividade jurisdicional é correto e possível construir oração como O juiz acatou a determinação do Tribunal,
porém devem ser evitadas construções como O juiz acatou o pedido da autora. No caso, melhor seria
escrever: O juiz deferiu o pedido da autora.
Acordar
Acordar – no sentido de fazer ficar ou ficar em acordo, em harmonia; conciliar(-se), acordar pode ser
transitivo direto, transitivo indireto, transitivo direto e indireto e pronominal. Os exemplos que seguem foram
extraídos do dicionário de regência verbal de Celso Pedro Luft (2010, p. 33):
Adentrar
Luft, em seu dicionário de regência verbal, reconhece também a transitividade indireta: adentrar-se
em. Portanto, de acordo com as regências reconhecidas para o verbo adentrar, pode-se dizer que estão corretas
as seguintes construções:
Sobre o tema, José Maria da Costa escreveu uma coluna específica, da qual se sugere a leitura:
http://www.migalhas.com.br/Gramatigalhas/10,MI127660,81042-Adentrar+Adentrar+em+ou+Adentrarse+em
Admoestar
Admoestou-o de que o benefício seria revogado caso não fossem cumpridas as condições.
O apenado foi admoestado sobre a necessidade de cumprir as horas de prestação de serviços comunitários.
Anuir
Anuir – no sentido de assentir, concordar, aprovar, é transitivo indireto (anuir a, anuir em):
Comunicar
Comunicar – é transitivo direto e indireto no sentido de fazer saber (comunicar (lhe) algo, comunicar
algo a alguém):
Comunique-lhe a decisão. (Celso Pedro Luft).
A Polícia comunicou o fato ao Ministério Público.
Squarisi ensina que o verbo comunicar pede objeto direto de coisa e indireto de pessoa e ressalta que
“ninguém pode ser comunicado do fato, mas informado, avisado”. (2015, p. 77). Com base nessa lição, nunca
formule, portanto, construção como A polícia foi comunicada do fato (errada).
Informar
Informar – é transitivo direto e indireto no sentido de dar notícia, cientificar (informar alguém
de/sobre algo):
Luft registra regência secundária, cuja transitividade é direta e indireta, identificada no sentido de
comunicar, participar (algo) como informante (informar algo – (a alguém). Apresenta estes exemplos (2016, p.
334):
Infligir
Infligir – é transitivo direto e indireto e significa aplicar, impor (pena, castigo, etc) a (alguém).
Infringir
Inquirir
Inquirir – é transitivo direto e indireto no sentido de interrogar (inquirir alguém sobre algo):
Subsumir
Subsumir – é bitransitivo. Significa incluir, colocar (alguma coisa) em algo maior, mais amplo, do
qual aquela coisa seria parte ou componente (Houaiss, 2009). Segundo a Academia Brasileira de Letras, a
regência indireta se dá com o uso da preposição a. Reconhece-se divergência identificada acerca da
regularidade do verbo. Para o dicionário Aurélio, trata-se de verbo irregular. Segundo esse dicionário,
portanto, deve-se dizer que "o fato se subsome à norma". Para o Houaiss e a ABL, contudo, o verbo subsumir
é anotado como regular, razão pela qual o correto é "o fato se subsume à norma".
Conclusão
Sobre o assunto regência verbal, atente-se também para os casos em que há complementos de termos
de regências diferentes. No caso, não é recomendável que se dê complemento comum a termos de regência de
natureza diferente (BECHARA, 2009, p. 569). Um exemplo é apresentado por Bechara:
Esses são apenas alguns exemplos de verbos utilizados na linguagem jurídica e na redação oficial. O
conhecimento de suas regências é necessário para a boa construção do texto. Não obstante, o estudo da
regência verbal não se esgota aqui. Ele requer uma análise cotidiana dos textos produzidos
diariamente. Abuse dos bons dicionários, principalmente dos de regência.
Nas fontes complementares de estudo deste módulo, você encontra dicas de vídeos e artigos para aprofundar
seus estudos. Clique e acesse!
Extra: Tabela de regência nominal
Tabela de regência nominal
Conceito de regência nominal: "é a relação de dependência existente entre um nome (substantivo,
adjetivo, advérbio) e seu complemento." (SAGGAG, 2011, p. 357)
Embora não seja um ponto especificamente tratado neste curso, reproduzimos para você
uma tabela desenvolvida pelo professor Eduardo de Moraes Sabbag acerca das principais regências de
substantivos e adjetivos:
REFERÊNCIA
SAGGAG, Eduardo de Moraes Sabbag. Redação Forense & Elementos de gramática. São Paulo: Revista do
Tribunais, 2011
ávido de, por horror de, diante de, por, a propenso a, para
independente de
constante de, em semelhante a, em
devoto a, de medo a, de
A lista não substitui o dicionário de regência nominal, com o qual será possível identificar, inclusive,
as diretrizes para a escolha da preposição adequada para os casos em que os nomes admitem mais de uma
regência.
Bons estudos!