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ESCOLA DOMINICAL – TEMA: LIVRO DE ATOS DOS APÓTOLOS – CAPÍTULO: 8

INTRODUÇÃO:

O Capítulo 8 do livro de Lucas marca o segundo período do Livro de Atos, já


que o primeiro, em Atos 1 ao 7, voltou-se ao espaço geográfico em Jerusalém e aos anos
de 30 – 37 d.C. Enquanto o segundo período, entre 37 – 43 d.C., apresenta uma
expansão geográfica na missão da igreja, mediante a perseguição de Saulo, voltando se
para Judeia, Galileia e Samaria presente nos capítulos 8 ao 11.18, e na Fenícia, Chipre e
Antioquia, no capítulo 11.19 – 30. Ainda que divididos por capítulos, os do avanço, na
palestina, e no mundo gentio 1, ocorrem ao mesmo período. Então o capitulo 11.19,
demonstra a mesma expansão causada com a morte Estevão só que no mundo grego2.

Apontando também dois modelos de missões. O primeiro para espaço mais rural,
com mais facilidade de aceitação na palestina, pela interconexão entre cultura judaica e
cristã, e consequentemente com maior número de alcance. E o segundo, mais urbano,
com mais dificuldade de aceitação por barreiras presente na cultura grega, como
eternidade da alma, politeísmo, moralidade hedonista... e por isso centrado em pequenos
grupos de pessoas3.

I. CONCEITO DE MISSÃO

O livro de Atos traz bastante material do conteúdo teológico das boas novas que
se voltavam para proclamar a mensagem de Jesus como Cristo (5.42), e como cerne da
pregação apostólica (8.35; 10.36; 11.20; 17.18). Sendo um convite a vir ao Deus vivo
Criador e ter uma relação de dependência com Ele, que oferece o perdão e a vida por
completa. (Atos 14.15).

Então a prática da missão no livro de Atos é representada pelas termologias: a.


pregação da Palavra (8.4; 15.35), b. promessa feita aos pais (13.32). c. Reino de Jesus
(8.12). Todavia, a expressão mais comum é apenas d. pregar o evangelho (8.25,40;
14.7,21; 16.10)4.

E assim, para entendermos o conceito da missão no livro de Atos, e necessário


aprofundarmos no entendimento desta expressão. O termo deriva do grego kèrygma,
que seu sentido básico e convite ao arrependimento e à salvação (Mt.12.41 e Lc. 11.32)
1
Países de língua e cultura grega.
2
TENNEY, Merril C. Tempos do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2010, 218 - 219.
3
Idem.
4
ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro; CPAD, 2016. p. 130
tendo total relação coma mensagem de Jonas a Nínive.5 Contudo no livro Atos descreve
somente como aquele que proclama, mas também leva o efeito a obra de Deus, seja do
ensino, da fé transformação social, cuidado, comunhão, e a cultura/ética. Por isso,
quando falam de Cristo, proclamam a basileia; como sendo a nova ordem que Deus
impõe no mundo, que se realiza em/e através de Jesus como atividade de Filipe em
Samaria, At 8:5, com a descrição da obra de Paulo em At 9:206.

II. MISSSÃO EM SAMRAIA – FELIPE - 8.4-8

O contexto da missão em Samaria seria a continuidade do discurso de Estevão,


em que concebiam que o Templo de Jerusalém não era o único local onde uma adoração
aceitável para Deus poderia ser oferecido, por isso, rompiam com a rivalidade com
samaritanos, tornando-os cristão mais tolerantes que seus compatriotas judeus7. No
entanto, a cultural samaritana passava por um sincretismo, entre a cultura grega e o
judaísmo, mas ainda assim a doutrina de que Jesus era o Messias não seria totalmente
ofensiva, poios samaritanos esperavam a vinda de um messias que anunciaria “tudo” 8
(Jo 4.25). A contraposição, posteriormente de Simão o mago, aos discípulos é um
tretrato deste sincretismo.

Os princípios da missão em Felipe a Samaria pode ser evidenciados não somente


pela proclamação (v.5), como também por sinais prodígios e maravilhas (v.6 e 8), um
ato e efeito do Reino de Deus, ligando-se ao conceito tratado no item anterior. Em
Estevão, observamos um ato da sabedoria (At. 6.8 e 10), no caso de Felipe, curas e
exorcização, demonstrando sempre a pluralidade do poder de Deus 9. Outro elemento
fundamental é um fim proveitoso da ação do Espirito Santo (I Cor. 12.11), que capacita
e edifica a proposta da missão10, devido a isso, o texto retrata que mediante a este efeito,
o povo de Samaria, deu ouvido a mensagem de Felipe (v.6). Esta não foi exposta por
inteiro, mas foi citada como “pregou as Boas Novas do Reino de Deus e do Nome de
Jesus Cristo” (v.12), o que provavelmente não acrescer o discurso teológico do livro de
Atos, e sim retomar ao tema central teológico do livro, o arrependimento e vida, já
expostos nos discursos de Pedro (At. 2. 37 – 38; 3.19). Até por isso, o texto refere-se
que Felipe havia os batizados, uma expressão clara que eles foram levados ao
arrependimento e fé em Cristo como salvador de seus pecados11.

5
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol. II. Colin Brown, Lothar Coenen
Org. 2° ed. São Paulo; Vida Nova, 2000. p. 1864.
6
Idem, p. 1865.
7
TENNEY, Merril C. op. cit. p.219.
8
Idem.
9
O poder (exousia) no sentido específico do capítulo 6 de Atos refere-se ao poder de Deus, celestial,
milagroso que leva a salvação, no caso de Estevão este poder era revelado pela sua pregação, por isso,
ninguém podia resisti-lo. Tal referência era somente comum no livro de Atos, aos Apóstolos. Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol. II. op. cit. p. 1691, 1693; Bíblia de Estudo da
Reforma. Barueri (SP); Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. p. 1821, nota de rodapé 6.8.
10
Sentido de graça de Deus na missão possibilita a edificação (20.32) e a capacitação (18.27) do poder de
Deus para missões Significado de graça especifico no livro de Atos. Dicionário Internacional de
Teologia do Novo Testamento. Vol. I. Colin Brown, Lothar Coenen Org. 2° ed. São Paulo; Vida Nova,
2000. p. 910 e 911.
III. MISSÃO EM SAMARIA – PEDRO E JOÃO – 8.14 - 17

A vinda de Pedro e João destacam mais um principio da missão, que era a descida do
Espírito Santo aos samaritanos (v. 15 e 17), apontando que o Reino dos Céus não
poderia ser desenvolvido sem sua ação, além de ser um dos pontos fundamentais que os
diferenciavam dos fariseus, já que a capacidade de cumprir a vontade de Deus não era
humana e sim resultado da graça santificadora de Deus12.
Mas como a Igreja primitiva via a importância do Espirito Santo? O objetivo da
vinda do Espírito, segundo At 1:8, é capacitar a Igreja para a missão de transmitir as
boas-novas para o mundo como testemunhas de Jesus 13. Assim dom sempre teria um
fim, edificação da Igreja, não apenas uma ação individual, Paulo deixa claro em II
Coríntios 12, Efésios 4.7-16 e Romanos 12.3 – 8, vinculando sempre ao serviço da
igreja. Portanto, desvinculando o ideal esotérico e pietista, da ação do espírito pela ação
do espírito, algo que Wesley criticava muito, salientando que o dom supremo era o
amor, sendo assim, ele é ativo, quando é algo praticado, pois não pode haver amor
interior sem uma mudança correspondente de como relacionarmos ao próximo14.
Contudo no caso especifico dos samaritanos, e a única alusão da descida do Espirito
Santo não aconteceu conjuntamente no batismo ou antes, como a família de Cornélio.
Então provavelmente isso ocorreu para ficar claro a todos os discípulos que Deus havia
aceitados os Samaritanos15, e que não havia barreias culturais para seu Espírito 16. Tema
que ao decorrer o do texto Lucas vai se aprofundando, tanto como a conversão de Saulo,
Cornélio e posteriormente a missão no mundo greco-romano.

IV. CONFRONTO COM SIMÃO O MAGO – 8.9- 13/18 - 25

Para entendermos o confronto entre Pedro e o Simão o mago, importante


observarmos o contexto sobre a magia na cultura greco-romana. Primeiro, em Roma a
magia se definia antes tudo por suas intenções, no qual fosse negra, procurando
prejudicar o outro e sua propriedade, com encantos, venenos era considerado proibido e
ilegal17. Já a magia banca, voltada ao cunho terapêutico e de orientação divina,
profetisas ou poetisas, era legal, mesmo não sendo institucionalizado, ligado ao um
santuário ou a uma cidade. Já na Grécia não importava as intenções, sendo a magia
11
Importante salientar que o batismo da Igreja primitiva era diferente do batismo de João Batista, o
Batismo de João não é o batismo de Cristo, o batismo de João prepara o indivíduo para chegada do
messias, já Batismo de Cristo, exclama publicamente sua fé em Cristo e sua redenção agora como nova
vida. Até por isso quando Paulo chega Éfeso, conhece alguns da fé, convertidos pelos discípulos de João
Batista, somente batizados aos moldes de João Batista, Paulo os batiza novamente (Atos 19. 1-7), pois
este não era aos moldes da ordenança de Cristo. MARTIN, Ralph P. Adoração na Igreja Primitiva. São
Paulo; Vida Nova, 2012. p. 127,129 e 138.
12
WESLEY, John. Notas Explicativas de John Wesley sobre o Novo Testamento: Evangelhos e Atos dos
Apóstolos. Tomo I. Belo Horizonte; Filhos da Graça/Noah Edições, 2015. p. 310.
13
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol. I. op. cit. p. 727.
14
RUYNAN, Theodore. A Nova Criação: A Teologia de Wesley Hoje. São Bernardo do Campos/SP;
EdIteo, 2002. p. 141.
15
GUNDRY, Robert. Panorama do Novo Testamento. 4° Ed. São Paulo; Sociedade Religiosa Edições
Vida Nova. 1987. p. 246.
16
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol. I. op. cit. p. 729.
17
PRIETO, Christine. Cristianismo e Paganismo: A pregação do Evangelho no mundo greco-romano. São
Paulo; Paulus, 2007. p. 94
negra ou branca, porém sua atuação deveria estar ligada a um santuário ou cidade, de
forma institucionalizada18.
No caso de Simão o mago19, como era um mago itinerante, não institucionalizado,
atuando em território romano, e bastante conhecido, seu campo de atuação deveria ser a
magia branca. Pautando-se numa finalidade terapêutica, procurando curar com uma
mistura de esoterismo com o uso de conhecimento de ervas, folhas e de exorcismo de
pessoas por meio de rituais20. Os médicos no período eram conhecidos como charlatões,
por muitas vezes, seus caros tratamentos não produzirem efeito, por isso era comum a
procura do esotérico21, como Simão, o mago, e que aparentemente conseguia certa
eficácia, devido a isso, era famoso na região.
No entanto, qual o motivo de Lucas, colocar frente a frente, Simão, o Mago, com
Pedro. Provavelmente diferenciá-los ao leitor grego, já que o missionário cristão,
também poderia ser visto como tipo de mago, já que era um itinerante, não ligado ao
templo local ou santuário, realizava curas e gestos não costumeiros (imposição de
mãos), rituais secretos como eucaristia e a ceia, claramente tinham um certo poder de
origem divina22. Assim, Lucas diferencia-os, primeiro ponto seria o que movia o cristão
e o mago. No debate com Pedro, observamos que quando o Apóstolo esta fazendo sua
missão gratuitamente por amor a Deus e as pessoas (v.14,15,17,18 e 20), o mago e
desejoso por aumentar o poder pessoal, por manipular as pessoas e por mentir,
retratando como um charlatão.(v. 10, 20). Segundo a perspectiva sobre divindade, a
cultura greco-romana, observa o divino23, já que a devoção religiosa se pautava, na
18
Idem, p. 94-95.
19
Segundo a literatura apócrifa primitiva e dos patriarcas sub-apostólicos, Simão, o mago conseguiu
grande notoriedade. Justino Mártir, preservou a lenda, que Simão era um nativo da vila samaritana,
chamada Giitto, mudou-se para Roma nos dias de Cláudio e foi deificado pelos romanos que ergueram
uma estátua em seu louvor com seguinte inscrição em latim “Simão, Sacto Deo”. O Bispo Irineu ainda
acrescenta que ela criou uma seita gnóstica herege servida por sacerdotes libertinos que praticavam rituais
de magia, adorando Simão. Seu discípulo Hipólito, ainda retrata mais detalhes de sua doutrina, dizendo
que princípio da criação de tudo era o fogo, que só poderia ser transmitida pela relação sexual. Ainda se
retratou como uma emanação divina, mas encerrou sua carreira quando declarou aos seus discípulos que
fosse enterrado vivo, porém ressuscitaria no terceiro dia, algo que não ocorreu pondo fim sua seita.
TENNEY, Merril C. op. cit. p. 220.
20
Idem, p. 96.
21
As pessoas estavam sempre prontas a caçoar dos médicos, especialmente quando não estavam doentes,
por isso afirmavam “até o melhor médico está destinado ao inferno” escrito por um paciente insatisfeito.
Outro rabino suspirou: “ó, minhas bênçãos caem sobre o médico que não cobrar demasiado pela
consulta”, pois as consultas caras já eram comuns desde aqueles tempos. Ninguém ficará surpreso ao
saber que a medicina da época era rudimentar e que em muitos aspectos se aproximava mais da magia do
que da ciência. Entretanto, ao que parece os médicos judeus possuíam desde os primeiros tempos um
conhecimento empírico de alguns remédios e das propriedades curativas das plantas. DANIEL – ROPS,
Henri. A Vida Diária Nos Tempos de Jesus. 3ª ed. rev. São Paulo; Vida Nova, 2008. P. 371 – 372.
22
PRIETO, Christine. op. cit. p. 78 e 94.
23
A divindade no mundo greco-romano, não é ser todos poderoso ou criador, pelo contrário, e visto como
uma das três raças que colonizaram a terra. Assim, constituída de macho ou fêmea, tendo mesma
definição em todo espaço, ou seja, Júpiter e Júpiter em todo lugar, como leão e o leão. Por isso,
observavam um espaço dividido em três degraus horizontais, uma espécie de escada. A faixa inferior será
a dos animais; a segunda, a dos homens; e o degrau mais alto, o dos deuses. Para se tornar deus não seria
necessário ir muito alto: os deuses estão logo acima dos homens, tanto que em latim e em grego muitas
vezes nos interessa traduzir por "sobre-humano" o termo que significava "divino". Além deles terem seus
costumes e seus defeitos, dos quais não é proibido sorrir respeitosamente, como nos divertimos com os
caprichos de poderosos estrangeiros, ricos o bastante para se permitirem tudo. Onde o que liga o fiel e
Divindade, e a promessa, quando não é cumprida é criticado, como um político, como o exemplo de um
doação a divindade e o voto a ela. Assim o adorador e fiel em dar doações a diárias a
divindade, desde que a mesma, sustente seu voto, como proteção, prosperidade ... Então,
Simão o mago, ao tentar comprar a autoridade de Pedro, aponta para este caminho
religioso, a resposta de Pedro, e a diferenciação sobre o divino, que se doa a
humanidade gratuitamente para salvar os homens (v.20, 22), outro preceito incomum, já
que os deuses greco-romanos, estão mais para realizar seus interesses com os homens,
raças inferiores, do que ajuda-los, protege-los e ama-los, por algum tipo de motivação
virtuosa24. O terceiro ponto, demonstrar como ação de Deus é muito superior, a
qualquer, poder divino estrangeiro, de tal forma, que um grande mago, se submete aos
Apóstolos, e quer ingressar na fé, por reconhecer a distinção do poder de Deus25.
Portanto, Simão, até se converte por reconhecer o verdadeiro poder e divindade, no
entanto, este reconhecimento é fruto do desejo de obter o poder (v.13, 19), o benefício, e
não um relacionamento e mudança de conduta em sua vida, por isso Pedro o exorta,
procurando guia-lo a salvação (v.20-22). Porém, o mago prefere seu caminho de desejo
e rejeita a fé, demonstrando um reflexo da sinergia, não seguiu por não querer
abandonar seus próprios interesses e noção religiosa: de doação e voto.

ATIVIDADE

1. FAÇA UMA SÍNTESE DA DEFESA DE ESTEVÃO RELACIONANDO COMO ELA


FUNDAMENTAL NA CONSTRUÇÃO DO NOVO TESTAMENTO. E DESTAQUE COMO AS
FALHAS DOS MEMBROS DO SINÉDRIO, PODEM ENSINAR SOBRE A NOSSA FÉ?
2. FAÇA A LEITURA DO CAPITULO 8 DE ATOS, ORIENTANDO-SE POR INDENTIFICAR OS
PRINCIPIOS DA MISSÃO.

príncipe Germânico ao morrer, a multidão romana foi apedrejar os templos, como os manifestantes que
lançam pedras contra uma embaixada estrangeira. O relacionamento com a divindade começava era
saudar os deuses com a mão ao passar diante de sua imagem. A oração mais frequente atiçava o amor-
próprio dos deuses quanto a seu poder: "Júpiter, acode-me, pois tu o podes"; se o deus não atendia,
arriscava-se a levantar suspeitas de que não era tão poderoso como se acreditava. O templo era
frequentado para saudá-los todas as manhãs, como os clientes que iam cumprimentar o patrono;
homenageava-se particularmente o deus cujo templo era vizinho à casa em que se morava, pois um
vizinho poderoso é o protetor mais indicado. Portanto, a devoção A devoção não estava numa fé, em
obras ou na contemplação, e sim na multiplicação de práticas que só parecem interesseiras porque o deus
patrono que se ama é um protetor. Doença, viagem, parto, todas as ocasiões são boas para lhe demonstrar
fiel confiança. História da Vida Privada. Vol. 1: Do Império Romano ao ano mil. Paul Veyne org. São
Paulo; Companhia das Letras, 2009. p. 175,176, 190 – 195.
24
Idem, 193 - 196.
25
TENNEY, Merril C. op. cit. p.221.

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