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Como Acelerar o Acesso Ao Saneamento
Como Acelerar o Acesso Ao Saneamento
O mês de julho marcou 2 anos da pluviais onde não existe sistema sepa-
aprovação do novo marco do sanea- rador absoluto (SS).1 Ao contrário, sis-
mento, que almeja promover acesso temas separadores absolutos não raro/
universal garantindo “atendimento de frequentemente acabam conectados e
99% da população com água potável marcados por ineficiências operacio-
e de 90% com coleta e tratamento de nais. Admitir essa realidade é um pri-
esgotos até 31 de dezembro de 2033” meiro passo para a proposição de so-
(Lei no 14.026/2020). No caso do es- luções alinhadas com a ótica integrada
goto, soluções complementares pode- do saneamento proposta no marco le-
riam acelerar o alcance desse objetivo, gal do setor.2 Tais soluções contribui-
como é o caso dos sistemas unitários riam para a diminuição da poluição
(SU) de esgotamento sanitário – espe- dos corpos hídricos e a expansão dos
cificamente da coleta em tempo seco. serviços de coleta de esgoto.
A tomada em tempo seco consiste Negligenciar essa realidade custa
na interceptação do esgoto que escoa atrasar o alcance da universalização
pelas galerias, em períodos de baixa do esgotamento sanitário. A solução
pluviosidade e no seu extravasamento, técnica preconizada no país (SSs) ig-
de forma diluída, em épocas chuvosas. nora a realidade fática de que os siste-
Cidades nos Estados Unidos (incluin- mas se misturam por baixo da terra e
do Nova Iorque), Canadá, Portugal, aposta no sistema separador absoluto
França e Inglaterra são exemplos que para o transporte do esgoto sanitário
adotam há muitos anos sistemas uni- e das águas pluviais para transporte
tários e soluções em tempo seco. exclusivo de águas de chuva (figura
A proposição dos SUs como al- 1). Neste conceito, o esgoto sanitário
ternativa se deve ao fato de que, nas e as águas pluviais são transportados
grandes cidades, não se pode ignorar a em tubulações próprias sem mistura
existência de conexões irregulares en- entre os efluentes.
tre as redes pluvial e de esgotamento A realidade, no entanto, delineia
sanitário, ou mesmo o papel de afas- um cenário diferente do preconizado
tamento do esgoto feito pelas redes pela solução técnica preferida: apenas
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45,3% dos municípios são dotados Nesse sentido, a coleta em tempo seco
de sistemas de separação absoluta A coleta em tempo seco é é solução complementar para a con-
(SNIS, 2022). Além de não alcançar dução dos efluentes não conflitante
todos os municípios brasileiros, o sis- solução complementar para com a realidade operacional; não se
tema separador absoluto é marcado trata de simples “solução temporária”
por ineficiências. De um lado, as ga- a condução dos efluentes ou “solução menos nobre”.
lerias pluviais recebem contribuições O recurso a soluções integradas
irregulares de efluentes domésticos; não conflitante com a para os sistemas de drenagem e es-
de outro, as águas pluviais são des- gotamento sanitário justifica-se, do
carregadas em tubulações próprias realidade operacional; ponto de vista técnico: como ambos
do sistema de esgotamento sanitário. os sistemas são transportados por gra-
Compromete-se assim o princípio da não se trata de simples vidade, o manejo integrado desses sis-
condução em separado de água plu- temas gera benefícios coletivos. Entre
vial e esgoto sanitário. “solução temporária” eles, figuram a redução da carga po-
Diante dessa situação fática e das luidora afluente aos corpos hídricos
consequências que dela emergem, é e a aceleração da universalização em
inadiável avaliar com maior rigor as coleta de esgotos a menores custos,
duas soluções de esgotamento sanitá- águas pluviais atuam como um sistema fazendo uso das galerias pluviais já
rio: de um lado sistemas separadores, auxiliar para a coleta de esgoto, com existentes para a condução do efluen-
em observância às normas técnicas a possibilidade de tomada em tempo te sanitário.
de engenharia; de outro, a concepção seco. A adoção da tomada em tempo A coleta em tempo seco não é
formal de um sistema combinado de seco não requer troca da rede instalada uma solução inovadora; ao contrá-
águas pluviais e esgoto sanitário (figu- e sua implantação onde não há infra- rio, há experiências bem-sucedidas
ra 2). Nessa concepção combinada de estrutura instalada ou onde existem que formam cinturões de coleta em
transporte de efluentes, as galerias de sistemas com disfunções não sanáveis. tempo seco em cidades litorâneas.
REDE DE ESGOTOS
E.T.E
REDE PLUVIAL
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REDE COLETORA DE
ÁGUAS PLUVIAIS
ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE
ESGOTOS (ETE) DIMENSIONADA
PRINCIPALMENTE PARA ESGOTOS
SANITÁRIOS
CORPO
RECEPTOR
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