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Língua Portuguesa:
Morfossintaxe
2009
Esse material é parte integrante do Aulas Particulares do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.aulasparticularesiesde.com.br
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H449L
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-0668-7
Mecanismos sintáticos............................................................ 27
Sintaxe de concordância: verbos e nomes em sintonia............................................... 27
Sintaxe de regência: verbos e nomes em hierarquia.................................................... 30
Sintaxe de colocação: palavras em sintonia e hierarquia............................................ 33
Adequação sintática e adequação semântica................................................................. 36
Da frase ao texto......................................................................233
Situações contrastivas e progressivas...............................................................................233
Relações de causa, efeito e finalidade..............................................................................235
Referências temporais............................................................................................................241
Morfossintaxe, léxico e semântica.....................................................................................245
Gabarito......................................................................................257
Referências.................................................................................269
As explicações sobre palavras, termos, orações e frases têm como intuito al-
cançar o texto, numa expansão que se faz mediante o reconhecimento de cada
componente dessa imensa rede que começa num pequeno morfema e, prefe-
rimos dizer, não termina, pois a língua é um espaço em estado de construção
morfossintática.
Nomenclatura gramatical
e ensino de português
Toda ciência tem a sua linguagem própria e uma terminologia especí-
fica. Não é diferente com os estudos linguísticos, que se valem de palavras
de significação especial nesse campo do conhecimento. Saber o significa-
do técnico que as palavras têm na área linguístico-gramatical é um com-
promisso de todo profissional que atua no ensino e na pesquisa de língua
portuguesa.
Esses elos, como se vê, mostram que existe uma dinâmica nas manifestações
dos componentes morfológicos e, por isso, é necessário destacar que os mais
importantes são as noções de morfema, de palavra e de classe.
Apresento aqui, com pequena adaptação, uma tabela que incluí no livro Sin-
taxe: estudos descritivos da frase para o texto e que mostra de maneira didática as
10 classes de palavras e suas propriedades morfológicas:
(HENRIQUES, 2008, p. 4)
Classes Gramaticais (10)
Verbo variável
Substantivo variável*
Adjetivo variável*
Pronome variável*
Advérbio invariável**
Numeral variável*
Artigo variável
Conjunção invariável
Preposição invariável
Interjeição*** ------
* Excepcionalmente, substantivos (lápis, tórax), adjetivos (piegas, simples), pronomes (eu,
quem, tudo) e numerais (dois, três) também podem ser invariáveis.
** Excepcionalmente, advérbios (todo, meio) podem se flexionar por atração1.
*** A interjeição poderia não fazer parte desse quadro, pois faz parte da função emotiva da
linguagem (vinculada à 1.a pessoa do discurso).
Esse tema é um dos que mais deve interessar ao professor de Português, não
só por representar um dos assuntos com que mais trabalhará em sua carreira
docente como também porque é pelo domínio da sintaxe que se pode começar
a conquistar, com plenitude, o texto.
2
Não incluímos nessa série a palavra cláusula: unidade de significado que pode ter qualquer estruturação interna – diferente de oração, que
necessariamente deve apresentar um verbo. A cláusula ocorre no estrato funcional correspondente às funções “comentário” e “comentado”, como
em “Com toda certeza, o professor virá” (o comentário é “com toda certeza”; o comentado é “o professor virá”). Nesse trecho, há duas cláusulas, mas
apenas uma oração, pois só há um verbo. Entendemos que essa palavra interessa mais como um contraponto nomenclatural do que como um
conceito útil no âmbito do ensino e da descrição gramatical.
Nesse percurso que começa no mundo-micro (da oração), passa pelo mundo-
-midi (do período) e alcança o mundo-macro (do parágrafo e do texto), é bom
notar que cada um deles nada mais é do que a repetição dos outros, apenas em
tamanhos e graus diferentes.
Morfossintaxe: palavras
e sintagmas a serviço do texto
Dependendo dos objetivos e dos métodos adotados na explicação dos fatos
da língua, as classes gramaticais e as funções sintáticas, como vimos, podem
ser estudadas em separado (respectivamente, pela morfologia e pela sintaxe).
Na teoria e na prática, porém, essas duas partes da gramática se encontram em
muitos pontos, pois os valores associativos (morfológicos) se inserem em enun-
ciações lineares (sintáticas), o que comprova a existência de um vínculo inegável
entre elas. Isso nos lembra o que Flávia Carone (1995, p. 13) aponta como uma
das condições para que se chegue ao efetivo conhecimento de um objeto:
[...] é necessário que as partes obtidas pelo corte analítico não se dispersem, de tal maneira
que o todo mantenha sua integridade na consciência de quem o observa – pois analisar é
observar em uma ordem sucessiva as qualidades de um objeto, a fim de dar-lhes no espírito a
ordem simultânea em que elas existem.
É o que mostra uma das questões incluídas no Exame Nacional dos Cursos de
Letras, realizado em 2002, cujo enunciado propunha:
Budista e japonês são palavras que podem ser categorizadas como substantivos e como
adjetivos, o que é comprovável em sintagmas como o japonês budista e o budista japonês.
Considerando apenas três possíveis critérios de classificação morfológica – o formal (ou
flexional), o semântico e o sintático –, aponte o critério mais decisivo para determinar a classe
gramatical desse tipo de palavras, justificando por que você o escolheu e excluiu os demais.
Para terminar, lembremos que um texto deve ter uma adequação gramati-
cal compatível com as pretensões e intuitos de seu autor, que – se assim julgar
pertinente – procurará atingir o nível de exigência da linguagem-padrão pra-
ticada por escrito pela comunidade culta em que se insere. Tudo entrelaçado,
interligado, no âmbito da palavra e da oração ou da frase (morfossintaticamen-
te) para permitir que alcancemos a competência discursiva ou textual, caracteri-
zando o que Eugenio Coseriu (1992) chama de saber expressivo, ou seja, a com-
petência discursiva ou textual, a capacidade de construir textos em situações
determinadas.
Texto complementar
Para orgulho dos brasileiros, saída a proposta (não era uma imposição!)
da NGB, a iniciativa estimula a que filólogos e linguistas portugueses, espe-
cialmente de Coimbra e Lisboa, com Manuel de Paiva Boléo na secretaria
da comissão, passassem a trabalhar para consecução dos mesmos objetivos,
orientando-se no esquema traçado pelos catedráticos do Pedro II, mas guar-
dando a orientação tradicional da sua terminologia que, diga-se de passa-
gem, pouco difere da praticada entre nós.
É fácil perceber a floresta, quase selva selvaggia, reinante nos livros di-
dáticos e entre o magistério de língua portuguesa: sem ainda Faculdades
ou Institutos de Letras (que só começaram nos últimos anos da década de
30); com as mais díspares orientações da gramaticografia nascente no século
XIX; com a influência das gramáticas filosóficas, lógicas, puristas, ao lado de
outras sem nenhuma orientação de valor científico; com o privilegiamento
de nomenclaturas próprias da gramática clássica, especialmente latina (fa-
lava-se tranquilamente em nominativo, dativo, acusativo, ablativo, genitivo,
consecutio temporum, etc.), ao lado das modernas novidades trazidas pelos
livros que divulgaram os métodos histórico-comparativos (Brachet, Egger,
Brunot, entre outros) ou da gramaticografia alemã e, principalmente, inglesa
(Becker, Bain, Holmes, Mason e Whitney).
Passados tantos anos desde que a Linguística foi introduzida entre nós,
alcançamos maturidade para dar um passo à frente, que é a elaboração de
um Glossário ou Dicionário da Terminologia Gramatical, em que não só se le-
vanta uma nomenclatura específica, mas também se propõe uma conceitu-
ação de cada termo, acompanhada de exemplificação adequada. Está claro
que será uma proposta (não uma imposição), no domínio da escola de nível
fundamental e médio.
Para tanto, a comissão que venha a ser designada ou escolhida para tal
empreendimento já conta com excelentes subsídios que vai haurir dos di-
versos dicionários e léxicos gramaticais elaborados por Antenor Nascentes,
Sílvio Elia, J. Mattoso Câmara Jr., Zélio dos Santos Jota, Pedro Luft, sem contar
as obras estrangeiras de David Crystal, André Martinet, Mário Pei, Theodor
Lewandowiski, Werner Abraham, Hadumod Bussmann, last but not least,
Lázaro Carreter.
Dicas de estudo
AZEREDO, José Carlos de. “Para que serve o ensino da análise gramatical?”, apên-
dice do livro Fundamentos de Gramática do Português.
Estudos linguísticos
1. Comente a seguinte afirmação de Irandé Antunes (2007, p. 160):
Língua e gramática podem ser uma solução: se damos à gramática a função que de fato ela
tem; nem mais nem menos; se reconhecemos seus limites; se a enquadramos na sua justa
valoração, nas suas justas medidas e aceitamos sua insuficiência frente à necessidade de
outros saberes e de outras competências.
Sintaxe de concordância:
verbos e nomes em sintonia
A concordância é um dos mecanismos sintáticos fundamentais do por-
tuguês, pois é o processo que registra um tipo de harmonia gramatical
existente entre dois componentes da frase.
3.
Seu comentário amargo pode ter sido sincero.
Sintetizando:
CONCORDÂNCIA VERBAL
CONCORDÂNCIA NOMINAL
4.
SUJEITO VERBO
PREDICATIVO
5. SUJEITO VERBO
PREDICATIVO PREDICATIVO
repetido para confirmar
COM VÍRGULA o exagero?
8. Ela canta melhor (= mais bem) e mais alto (do) que nosso vizinho.
9. Ela canta altíssimo (ou muito alto), mas emociona muito pouco (ou pou-
quíssimo).
Por fim, resta ainda dizer sobre o grau que os sufixos que se juntam a radi-
cais para expressar ideias de aumento, diminuição e intensificação têm um uso
bastante expandido no português, sendo possível encontrá-los de modo muito
expressivo em formações que subvertem seus valores iniciais, seja na linguagem
jornalística, publicitária e coloquial, com grande produtividade.
10. Quem gosta de música tem todíssimos os motivos para não arredar pé do
Rio este fim de semana. (Danuza. Jornal do Brasil: 16 out. 1998)
Sintaxe de regência:
verbos e nomes em hierarquia
A regência é outro dos mecanismos sintáticos fundamentais do português,
pois é o processo que marca uma relação de hierarquia existente entre dois com-
ponentes da frase, isto é, se um termo tem ou não algum tipo de complemento
ou circunstância que o acompanha em sua significação.
REGÊNCIA VERBAL
REGÊNCIA NOMINAL
Cabe aqui outro lembrete importante quanto à pontuação: numa frase es-
crita em ordem direta, nunca separamos o verbo e o seu complemento ou cir-
cunstância (até a 2.ª delas) por vírgula, e também não se separa o nome de seu
complemento por vírgula.
COMPLEMENTO
(por quem?)
ADJETIVO
(regente)
CIRCUNSTÂNCIA
(em que lugar?)
,
16. Os professores almoçam aos sábados neste restaurante desde 1995.
As frases acima empregaram o mesmo verbo, mas observa-se que suas pre-
tensões comunicativas são distintas, o que justifica a existência de um comple-
mento (feijoada: almocei o quê?), de uma circunstância (com minha prima: na
companhia de quem?) ou de nada (Ø: pratiquei a ação de almoçar).
Sintaxe de colocação:
palavras em sintonia e hierarquia
A colocação é mais um dos mecanismos sintáticos fundamentais do portu-
guês, pois é o processo que marca as possibilidades permitidas de combinação
ao se construir uma frase. Todas as línguas faladas pelo homem têm uma carac-
terística em comum: são feitas de palavras que se organizam segundo determi-
nadas características e relações.
COLOCAÇÃO
Veja o exemplo:
20. “O arrulhar destes dois corações virgens durava até oito horas da noite,
quando uma senhora de certa idade chegava a uma das janelas da casa,
já então iluminada” (ALENCAR, 1975, p. 2).
Esses são apenas alguns comprovantes de que o trecho de Alencar está cons-
truído rigorosamente em ordem direta, o que não significa que se trata de uma
ordem obrigatória no português. O mesmo trecho poderia ter sido escrito de
outra maneira, sem nenhum prejuízo para sua estrutura, como vemos nos exem-
plos abaixo, exatamente com as mesmas palavras:
21. Até oito horas da noite durava o arrulhar destes dois corações virgens,
quando a uma das janelas da casa, já então iluminada, chegava uma se-
nhora de certa idade.
22. Durava até oito horas da noite o arrulhar destes dois virgens corações,
quando chegava uma senhora de certa idade a uma das janelas da casa,
já então iluminada.
Não há diferença sintática entre as frases, mas elas não são iguais. Qual das três
representa de modo mais adequado a expressividade pretendida pelo autor? Já
se vê por essas três maneiras de se construir a mesma frase que, diferentemente
dos mecanismos de concordância e de regência, há muito mais maleabilidade no
estudo da colocação.
TOPICALIZAÇÃO
Novamente cabe perguntar qual das maneiras se presta de modo mais ade-
quado à expressividade pretendida pelo autor. De todo modo, uma conclusão se
pode alcançar desde logo: a ordem direta ou lógica nem sempre é a mais reco-
mendável ou a melhor. Cada situação discursiva, textual, é que dirá se a escolha
mais apropriada é uma, outra ou mesmo um misto de ambas.
O uso desse artifício parece ser uma das marcas estilísticas do autor. Na aber-
tura de Dom Casmurro, o narrador diz: “encontrei um rapaz, que eu conheço de
vista e de chapéu”.
Não foi o que aconteceu com a manchete de jornal ou com a placa do salão
de beleza que estão reproduzidas a seguir. Ambas esbarram na falta de parale-
lismo, pois a escolha sintática não representa a intenção comunicativa, que só é
compreendida porque o leitor reinterpreta o que vê para constituir a adequação
inexistente no enunciado.
JOSÉ DA PENHA
IESDE Brasil S. A.
SANTOS, depois de ter
ultrapassado o pórtico
de um século de idade,
no próximo dia 18 de
junho, 98, a partir das
18h30, na LIVRARIA
CULTURA, Av. Paulista,
2.073, Conjunto Nacion- a desencantados co-
al, a quem o honrar com rações o encanto de
a sua presença, dará au- viver, conforme afirma
tógrafos da 4.ª edição de o eminente economis-
CONHECIMENTO E VEN- ta HENRY MAKSOUD:
TURA, muito ampliada, “O livro Conhecimen-
pois se a 3.ª edição tinha to e Ventura está entre
526 páginas, tem esta aqueles que se deve ter
860 e 4.278 pensamen- à mão como recurso nos
tos dos maiores homens momentos em que falta
de todos os tempos. a esperança e os proble-
Propagar esta obra, mas parecem intrans-
não é por vaidade do poníveis. José da Penha
autor, mas cumpre o Santos nos oferece a
sagrado dever de levar ponte sólida e amiga”.
a cadeia “no próximo dia 18 de junho, 98”, “a partir das 18h30” e “na
LIVRARIA CULTURA” refere-se circunstancialmente ao sintagma “dará
autógrafos”, e o número 98 entre vírgulas é supérfluo pois o texto já
usara “próximo dia 18 de junho”;
entre a palavra pois e o restante da expressão causal foi inserida uma ora-
ção condicional com apenas a vírgula da direita (toda inversão de oração
circunstancial deve ser marcada por duas vírgulas).
a vírgula entre o sujeito “propagar esta obra” e o seu predicado “não é”;
IESDE Brasil S. A.
Depois de ter ultra-
passado o pórtico de um
século de idade, JOSÉ DA
PENHA SANTOS dará au-
tógrafos da 4.ª edição de
CONHECIMENTO E VEN-
TURA a partir das 18h30
do próximo dia 18 de
junho, na LIVRARIA CUL- sagrado dever de levar a
TURA (Av. Paulista, 2.073, desencantados corações
Conjunto Nacional), a o encanto de viver, con-
quem o honrar com a forme afirma o eminen-
sua presença. Muito am- te economista HENRY
pliada, tem esta edição MAKSOUD: “O livro Co-
860 páginas e 4.278 nhecimento e Ventura
pensamentos dos maio- está entre aqueles que
res homens de todos os se deve ter à mão como
tempos, enquanto a 3.ª recurso nos momentos
tinha 526 páginas. em que falta a esperança
e os problemas parecem
Propagar esta obra intransponíveis. José da
não é vaidade do autor, Penha Santos nos oferece
mas o cumprimento do a ponte sólida e amiga”.
Texto complementar
Organização da frase
(CARONE, 1995)
Pior a emenda que o soneto. Mas a frase foi ótima para perceberem o
constrangimento (às vezes insolúvel) que a ordem linear impõe, visto que
nem sempre é possível seguir, palavra por palavra, os caminhos da ordem
estrutural. Todos, porém, com a intuição de falantes nativos, haviam captado
a ordem estrutural, a sintaxe da frase:
beba
(você) leite
de cabra em pó
Dicas de estudo
BECHARA, Evanildo. “Sintaxe: noções gerais”, lição I do livro Lições de Português
pela Análise Sintática.
Estudos linguísticos
IESDE Brasil S. A.
Concordo com GRAU?
você em gênero,
número e grau
2. Construa duas frases com o verbo implicar, de modo a explicar seus traços de
regência quando significa aborrecer e quando significa incluir, determinar.
O sujeito e o predicado
Em português uma oração apresenta normalmente uma estrutura dual,
obrigatoriamente centrada em um verbo (SV = sintagma verbal), que fun
ciona como eixo relacionado a um sujeito (SN = sintagma nominal).
Os autores normalmente afirmam que a estrutura básica da oração
tem esse caráter bimembre. É o que dizem, por exemplo, Celso Cunha e
L. Cintra (2007, p. 136): "São termos essenciais da oração o sujeito e o pre
dicado. o sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração; o predica
do é tudo aquilo que se diz do sujeito'.' Explicação semelhante se vê em
Rocha Lima (1992, p. 234): "Em sua estrutura básica, a oração consta de
dois termos, o sujeito (o ser de quem se diz algo); e o predicado (aquilo
que se diz do sujeito):'
Um dos comentários a fazer sobre essas definições tradicionais reco
menda que relativizemos o entendimento das palavras ser e essencial. Nem
sempre o sujeito é um ser no sentido dicionarizado; nem sempre o sujeito
está concretamente presente na frase. Agindo assim, não deverão nos pre
ocupar algumas indagações de ordem lógica (e não sintática) do tipo:
■ Se o sujeito é um termo essencial, como existe oração sem sujeito?
(Choveu muito ontem)
■ Se o sujeito é um ser, como existe sujeito que não é um ser? (A com
pra foi um sucesso)
Ungua Portuguesa: Morfossintaxe
SUJEITO (SN)
Termo de natureza substantiva, de quem se diz algo, com um verbo que
com ele concorda em número e pessoa.
PREDICADO (SV)
Termo de natureza verbal, que contém o que se diz do sujeito.
As orações do tipo declarativo (Eu vou ao baile.) são as mais comuns no nosso
cotidiano, coexistindo com orações Interrogativas (Você vai ao baile?), imperati
vas (Vá ao baile.), exclamativas (Foi um baile tão lindo!). Predominam também as
orações afirmativas sobre as negativas.
Se nos lembrarmos das coisas que lemos, escrevemos, falamos ou ouvimos
ao longo do dia de hoje, por exemplo, é multo provável que a maior parte das
frases encontradas tenha revelado um fato, indicado uma opinião, registrado
uma notícia - e quase sempre com uma estrutura gramaticalmente afirmativa
(sem o uso do advérbio não, prototípico).
Vejamos a primeira estrofe do"Epigrama n.0 9'; de Cecília Meireles (2001 ), que
nos mostra a estrutura oracional declarativa:
O vento voa,
A noite toda se atordoa,
A folha cai.
48
Termos essenciais da oraçao
Predicação verbal
Não há oração sem verbo, elemento principal que atua no predicado.
Pelo ato de predicar, o homem exercita e expressa seu raciocínio; não apenas
isola uma parcela de sua experiência no mundo e lhe dá um nome (pela função
da designação), mas também "pronuncia-se" sobre essa parcela, formulando um
pensamento sobre ela: O céu é azul, A borboleta voa, O vento está frio, A justiça
consola as pessoas, A estrela brilha, Caminhar faz bem à saúde, Esquecer alivia o
coração.
O ato de predicar constitui ordinariamente uma declaração sobre um conceito,
e só é possível graças ao verbo. O verbo tem outras funções na língua, mas "predi
car" é sua função mais típica, além de lhe ser exclusiva (AZEREDO, 2000, p. 75).
A classificação dos verbos quanto à predicação é, então, o primeiro passo que
devemos dar para reconhecer a estrutura de uma oração. E Isso se consegue
a partir de uma visão semântico-estrutural - ou seja, uma análise que leva em
conta a significação do verbo e sua função na oração.
Um verbo como confessar se constrói potencialmente com três SN:
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Ungua Portuguesa: Morfossintaxe
estêlo dois termos regidos por ele: o SNod (sem preposiçêlo) e o SNoi (com pre
posição). Nas relações entre confessar e seus três parceiros, há, por fim, os valo
res semânticos em jogo, ou seja, enquanto o SNsuj é necessariamente um ser
humano, um dos objetos (o direto) é algo inanimado e o outro (o indireto) é de
novo um ser humano.
Adotaremos aqui uma maneira bem objetiva de descrever a predicação dos
verbos, tomando como foco apenas os elementos que atuam no âmbito do
predicado.
Numa análise de base semântico-estrutural, dividiremos os verbos em dois
grupos: os verbos de estado (ser, estar, ficar e sinônimos) e os verbos de ação
(os demais). Essa distinção semântica, ainda que passível de restrições lógicas
quanto ao que se pode entender sob o rótulo de "ação': é didaticamente pro
veitosa e se baseia no entendimento do significado de três verbos muito
usuais na língua (ser, estar e ficar). Não nos parece tarefa das mais difíceis
responder a uma pergunta como:"Overbo que temos para analisar é ou não
sinônimo de ser, estar ou ficar"?
Esse procedimento é o mesmo adotado no livro Sintaxe: estudos descritivos da
frase para o texto (2008) e que transcrevemos a seguir, com adaptações.
Verbos de estado
Podem ser: de ligação1 (se houver predicativo do sujeito) ou intransitivos (se
não houver predicativo do sujeito).
3. Minha vida era um palco iluminado. de ligação
!
SUJEITO
!
PREDICATIVO
(termo A) (termo B)
1
Alguns .'lutores prek,e-m chamà•IO\ d� verbos pr�icativo$ ou copulativo:r. terminologia adotada. por exemplo, no DKjonarioAurel,o, J)Ofeffl nlio
contemp&aCla pela Nomenclatura Gramauca 6rasu�ua (NG6).
50
Termos essenciais da orac;áo
Verbos de a�ao
Podem ser: transitivos (se houver complemento nao circunstancial) ou intran
sitivos (se nao houver complemento).
OBJETO
DIRETO
OBJETO
INDIRETO
.¡
OBJETO
!
OBJETO
indireto
DIRETO INDIRETO
Transitivo relativo
1O. Ontem assisti a um ioqo na teve (= assisti a ele, mas nao assisti-lhe).
11. Meus colegas gostavam de seu pai (= gostavam dele, mas nao gosta
vam-lhe).
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Língua Portuguesa: Morfossintaxe
Bitransitivo
1s. Denunciaremos essa falcatrua aimprensa.
Equivalencia: verbo transitivo di reto e indireto.
Birrelativo
16. A prosperidade resultou-lhe da sociedade comos banqueiros.
17. Muitos se queixaram do baru!ho ao síndico.
Equivalencia: verbo transitivo indireto (com um objeto indireto "de pessoa" e
outro "de coisa'').
Pronominal
18. Depois da notícia, suicidou-se.
19. Orgulhamo-nos de seu sucesso.
Equivalencia: verbo intransitivo ou transitivo (o pronome é parte integrante
do verbo).
Transobjetivo
20. Achei os novos funcíonários multo competentes.
21. A torcida chamava-Q.simplesmente"Galinho''.
52
Termos essenciais da ora�ao
Outra coisa recomendável é a cautela que se deve ter na análise do verbo. Ela
está vinculada ao seu significado ou emprego na frase, onde sua predica�ao se
torna evidente. Nao podemos nos esquecer de que a frase faz parte do sistema
da língua e que só o conhecimento idiomático de cada falante o tornará capaz
de reconhecer essa predica�ao.
53
Ungua Portuguesa: Morfossintaxe
40. Seu gesto nao precisa seu caráter ................. VTD (indicar com precisao).
41. Agora, nao precisa dinheiro ............................ VI (ser necessário) - o SNsuj é
"dinheiro''.
42. A mídia ligou-Q ao caso das kombis ............ VTDI (vincular).
43. A mídia ligava-lhe atrás de urna opiniao .... VTI (telefonar).
Tipologia do sujeito
Podemos trabalhar com a no�ao de contrastes para identificar os tipos de
sujeito2 • Comecemos pelo que estudamos ainda há pouco: o sujeito, embora
termo essencial, pode nao existir. Assim, fecharemos o círculo que nos mostrará
os quatro tipos de sujeito.
■ O sujeito existe?
■ Náo! ➔ entao ternos um caso de ora�áo sem sujeito (sujeito inexistente
ou 0).
■ Ok, o sujeito existe... mas pode ser determinado?
■ Náo! ➔ entáo ternos um caso de sujeito indeterminado.
■ Ok, o sujeito existe e pode ser determinado... mas tem apenas um núcleo?
2
Neste n: em. transcrevQ com adapta,cóes. aloum exemplos do capnulo "-Sujeho. pre<hcado e prechcaüvo" do Uvro Smtaxe: esrudos descntlvos da
t,a.u-pa,ooturo{2008, p. 28�37)
54
Termos essenciais da oração
SIMPLES CLARO
SIMPLES OCULTO
Não há diferença sintática entre as frases (43) e (44). A omissão é por econo
mia ou por escolha estilística. Consideramos irrelevante estabelecer distinção
com os casos em que a desinência número-pessoal é zero, restrito apenas à P1
e à P3 de alguns tempos verbais. Não se entenda, pois, que sinonimizamos as
expressões sujeito simples (oculto) e sujeito desinencial - optamos pela simpli
ficação terminológica.
46. Tudo é/são tristezas.
47. Isso é/são bobagens.
Em (46) e (47) o sujeito é indefinido ou demonstrativo e o verbo é ser: a con
cordância pode ser com o sujeito ou com o predicativo.
55
Ungua Portuguesa: Morfossintaxe
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Termos essenciais da oração
57
Ungua Portuguesa: Morfossintaxe
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Termos essenciais da oração
como idêntico ao da concordância com sujeito ligado por ou, é indiscutível que,
por não haver aqui nenhuma construção alternativa(o 1 .0 nem é expletivo, e o
2.0 é uma conjunção aditiva), o verbo só poderia ser empregado no plural. Como,
aliás, ocorre na forma afirmativa equivalente, com e. Apesar disso, há exemplos
abonados com verbo no singular.
83. [?] Ainda falam multo mal de sua família naquela cidade.(verbo na P6)
87. Boas casas são alugadas. (verbo ser+ particípio = voz passiva verbal)
59
Ungua Portuguesa: Moríosslntaxe
<t
vi
PRBCISA-St oe FAZ6M-St
ADV06AD05 tMPKéSTIMOS
60
Termos essencíaís da oração
89. E o jornal era depois disputado com impaciência e pelas ruas se via agru
pamentos em torno dos fumegantes lampiões da iluminação pública de
outrora - ainda ouvintes a cercarem ávidos qualquer improvisado leitor.
90. Como se vê, a novidade consiste em se definir vários tipos de objeto direto:
topicalizado ou não, clítico ou não.
61
Ungua Portuguesa: Morfossintaxe
108. [0] Se tiver quinze minutos que ele saiu daqui, é muito.
Atenção!
Nas locuções verbais, o verbo auxiliar representará a impessoalidade do
verbo principal, isto é, ficará na P3 por ele (ou na P6, eventualmente, com o
verbo ser).
63
Língua Ponuguesa: Morfossimaxe
Tipologia do predicado
Está consagrada no ensino do português a classificação do predicado con
forme tenha um núcleo verbal (predicado verbal), um núcleo predicativo (pre
dicado nominal) ou dois núcleos (predicado verbo-nominal). Há, no entanto,
quem apresente a noção de predicado de modo diferente. Para Evanildo Becha
ra (1999, p. 426), por exemplo, o predicado é subdividido apenas em simples
(com verbo intransitivo) ou complexo (com verbo transitivo ou de ligação), pois
o autor considera que classificar o predicado como nominal "implicaria retirar de
seus verbos o status de verbo''. Aqui, nossa opção é manter a descrição tradicio
nal, representada na tabela a seguir:
PV não não
PVN não sim
Desdobramento: Sua mãe estava aliviada (PN) quando acordou ontem (PV)
125. A relatora considerou o pedido improcedente. (PVN)
Texto complementar
O objeto da sintaxe
(AZEREDO, 1993)
65
Termos subordinados ao verbo
70
Termos subordinados ao verbo
71
Língua Portuguesa Moríossíntaxe
82
Língua Portuguesa: Morfossmtaxe
82
Termos subordinados ao nome
Observemos as frases:
A---B
1. Seus lábios estão roxos.
A-----8
2. As autoridades andam desleixadas.
A------B
3. A correspondência já chegou aberta.
Mas a língua emprega outros tipos de predicativo, como vemos nas frases
seguintes:
B--A
7. Assustadas. as duas vizinhas escutavam a discussão do casal.
94
Termos subordinados ao nome
A---------- B
8. Eu sonho com uma deusa romana. Diana, fantasiada de mulher.
Desdobramento: Eu sonho com uma deusa grega, Ártemis, que está fantasia
da de mulher.
■ fantasiada de mulher (termo B) é predicativo do núcleo do objeto indi
reto, deusa (termo A).
■ o predicado é verbo-nominal.
A-----B
9. o marido não sairia com ela desarrumada daquele jeito.
Desdobramento: O marido não sairia com ela se ela estivesse desarrumada
daquele jeito.
■ desarrumada (termo B) é predicativo do núcleo do adjunto adverbial de
companhia, você (termo A).
■ o predicado é verbo-nominal.
A�B
1 O.A jogadora da seleção declarou:"Não deixarei que tirem retrato de mim nua''.
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Língua Portuguesa Morfossimaxe
A--B
11. Naquela minissérie, Wagner Moura parecia Tarcísio Meira ainda novo.
Desdobramento: Naquela minissérie, Wagner Moura parecia Tarcísio Meira
quando ele ainda era novo.
■ ainda novo (termo B) é predicativo do núcleo do predicativo do sujeito,
Tarcísio Melra (termo A).
■ o predicado é nominal, duplamente.
Sempre que o predicativo participar de uma relação em que não haja, explícito,
um verbo de ligação, será possível reconhecer a correta interpretação de seu sen
tido pela inserção, entre ele e o termo A, do verbo copulativo implícito. As frases
(7-11) mostram esses verbos recuperados em itálico nos desdobramentos.
A explicação é de ordem semântica. Sintaticamente, a melhor análise é a que
interpreta a frase como o falante a enunciou. Já afirmava M. Said Ali (1971, p. 174)
que "não se deve desmembrar em muitos termos aquilo que o espírito, em sua
concepção sintética, expressou em dois elementos apenas''.
97
Termos subordinados ao nome
i i
termo A Prdctv 0D
i
VTD
i
AAmodo
(=julguei que tu n�o tens piedade.) (=julguei a ti Impiedosamente.)
i
subst. concreto
\AADN
i "'
subst. concreto Aposto (=nome de)