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GUIA DE ESTUDO de Penal II
GUIA DE ESTUDO de Penal II
GUIA DE ESTUDO
Classificação do tipo
SUMÁRIO
COSTA, José Francisco de Faria – Direito Penal. Lisboa: Imprensa Nacional, 2017, p. 228-247
e 269-279.
DIAS, Jorge de Figueiredo – Direito Penal, parte especial, 2.ª edição. Coimbra: Coimbra
Editora, 2007.
DIAS, Jorge de Figueiredo (coord.) – Comentário Conimbricense ao Código Penal. Coimbra:
Coimbra Editora.
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito Penal, vol. II. Lisboa: Associação Académica da faculdade de
Direito.
ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de – Código Penal comentado à luz da Constituição e da
Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Lisboa: Universidade Católica.
CLASSIFICAÇÃO DO TIPO
Perante uma determinada conduta penalmente relevante (facto), existe uma intuição sobre o tipo
de crime (norma) que poderá ter sido cometido (sobre o tipo de crime que a conduta do agente
poderá ter integrado).
No tipo objectivo, podemos distinguir os seguintes elementos (nem todos os tipos são
delimitados por todos estes elementos):
Bem jurídico
Agente
Conduta do agente
Objecto da acção
Resultado - apenas nos crimes materiais, ou de resultado
Imputação objectiva (elemento não escrito) - também apenas nos crimes materiais ou
de resultado, uma vez que através dele se pretende determinar - para além do mais - o
nexo de causalidade existente entre a conduta e o resultado.
Alguns destes elementos são não escritos (v.g. o nexo de causalidade atrás referido ou o bem
jurídico são geralmente elementos não escritos)
Para além destes, podem ainda classificar-se
Consulte a doutrina para
Elementos descritivos definir estes conceitos
Elementos normativos
Circunstâncias agravantes ou atenuantes
1. QUANTO AO AGENTE
a. Crimes gerais ou comuns
b. Crimes específicos
i. Em sentido próprio, ou puro
ii. Em sentido impróprio, ou impuro
iii. Crimes de mão própria
1
Bibliografia base: DIAS, Jorge de Figueiredo – Direito Penal, parte especial, 2.ª edição. Coimbra: Coimbra
Editora, 2007.
2
Sobre a constitucionalidade do crime de perigo abstracto, que tem sido questionado por alguma doutrina, veja-se,
como exemplo, o Acórdão do Tribunal Constitucional 95/2011, DR 12 de Março, disponível em
https://dre.pt/application/file/a/1338533
a. Crimes de mera actividade;
b. Crimes de resultado4
7. FIGURAS ESPECIAIS
a. Crimes simples, básicos ou fundamentais
b. Crimes especiais
I. Crimes qualificados
II. Crimes privilegiados
c. Crimes agravados pelo resultado
i. Em sentido próprio
ii. Crimes praeter intencionais
EXEMPLOS
3
Figueiredo Dias (Direito Penal, parte geral, II edição, 2007, pág. 306 refere esta classificação à conduta: «no âmbito
da conduta importa distinguir entre tipos cuja consumação pressupõe a produção de um resultado e tipos em que para
a consumação é suficiente a mera acção». Paulo Pinto de Albuquerque (Comentário ao Código Penal à luz da
Constituição e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem) usa a terminologia «quanto à forma de ataque ao
objecto do tipo»
4
Existe uma classificação designada crimes de intenção ou crimes de resultado cortado - são crimes em que o
agente, ao nível do elemento subjectivo age com dolo (elemento subjectivo geral) mas o tipo exige, ainda, que a
conduta seja dirigida a determinada finalidade, isto é, que o agente actue com a especial intenção de praticar
determinado facto. Tal como refere Figueiredo Dias (Direito Penal, Parte Geral, p. 380), «o tipo legal exige, para
além do dolo do tipo, a intenção de produção de um resultado que, todavia, não faz parte do tipo de ilícito» Não se
exige para a consumação que esse resultado pretendido pelo agente se verifique, mas apenas que presida à sua
intervenção. Exemplo: crime de furto (art. 203.º), «o tipo subjectivo exige que o agente actue com uma intenção
cuja concretização não é exigida pelo tipo objectivo, mas que é provocado pela acção» - Paulo Pinto de
Albuquerque, Comentário ao CP, p. 91. No entanto, típica caso o resultado que preside à conduta do agente
sobrevenha, haverá consumação material (do resultado não exigido pela norma). Outro exemplo é o crime de
tomada de reféns (art. 162.º) – À acção do agente tem de presidir a intenção de realizar finalidades políticas,
ideológicas, filosóficas ou confessionais. O crime fica consumado apenas com a ameaça de morte, de ofensas à
integridade física ou detenção, ainda que as finalidades pretendias não se verifiquem. Dos crimes de resultado
cortado alguns autores distinguem os crimes de acto cortado, que serão aqueles em que o comportamento do
agente é motivado por determinada intenção cuja verificação não faz parte do tipo, mas em que o resultado não
contido no tipo pode ocorrer por uma outra acção ulterior do agente: exemplos - crime de rapto (art. 161.º).
Exemplo: será rapto a conduta do agente que prive a liberdade a outrem com a intenção especial de pedir um
resgate. O crime ficará consumado ainda que após a privação da liberdade não seja possível pedir o resgate. Se
conseguir pedir o resgate haverá, para além da consumação formal, também a consumação material. Porém,
para concretizar essa finalidade, deverá empreender outro acto ulterior. No entanto, esta classificação deve
relacionar-se com o tipo subjectivo.
Nota: convirá que não decore, mas compreenda. O que se pretende é que vá ao Código Penal e
tente encontrar, nas próprias normas, a razão para esta classificação.
Crime geral ou comum – o tipo não exige qualquer qualidade especial do agente
(qualquer pessoa pode praticar o crime)
Crime específico – o tipo exige determinada qualidade ao agente. O crime apenas pode
ser praticado por quem tenha as qualidades exigidas pelo tipo.
Dentro dos crimes específicos quanto ao agente temos de distinguir, ainda: crimes
específicos em sentido próprio e impróprio;
Serão exemplos:
Art. 257.º - crime de falsificação de documento por funcionário
Art. 260.º5 - crime de atestado falso;
Art. 369.º - Denegação de Justiça;
Art. 370.º - Prevaricação de advogado ou solicitador;
Art. 380.º - Emprego de força pública contra a execução da lei ou de
ordem pública.
Serão exemplos:
Art. 150.º, n.º 2 – intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos - específico
face ao artigo 143.º (geral ou comum);
Art. 256.º, n.º 4 – Falsificação de documento (no n.º 1 encontra-se o crime
geral ou comum)
Art. 260.º - n. º 1 (geral) e n.º 4 (específico em sentido impróprio);
Art. 316.º, n.º 3 – violação de segredo de Estado - específico face ao n.º 1
(geral)
Art. 368.º - favorecimento pessoal praticado por funcionário (específico
face ao artigo 367.º- favorecimento pessoal)
Art. 378.º - violação de domicílio por funcionário – crime específico face o
artigo 190.º, n.º 1.
Art. 249.º, n.º 2 – Subtracção de menor6 (específico relativamente ao n.º 1)
5
http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/0/eec1138e053dca8e80256e6200508f65?OpenDocument
6
Sobre a classificação do crime de substracção de menor: http://julgar.pt/wp-content/uploads/2015/10/221-252-
Crime-de-subtrac%C3%A7%C3%A3o-de-menor.pdf
2. QUANTO À ESTRUTURA DO COMPORTAMENTO DO AGENTE
Omissão pura
Art. 190.º, parte final do n.º 1 – violação de domicílio - «Quem […] nela [habitação]
permanecer depois de instado a retirar-se.
Art. 200.º - omissão de auxílio7
Art. 249.º, n.º 1, alínea c) – Crime de subtracção de menor – 1. Quem c) «Se recusar a
entregar menor à pessoa que sobre ela exercer o poder paternal [leia-se:
responsabilidades parentais] ou tutela, ou a quem ele esteja legitimamente confiado»;
Art. 257.º, n.º 1 alínea a) – Crime de falsificação praticada por funcionário
Omissão impura
Crime de acção + art. 10.º, n.º 1 e n.º 2
Elementos: existência de dever pessoal de agir; possibilidade de agir;
possibilidade de evitar o resultado.
CRIME DE DANO
o Art. 131.º - crime de homicídio
o Art. 143.º - crime de ofensas simples à integridade física
o Art. 164.º - crime de violação
o Art. 274.º, n.º 1, 2 alínea b), c), n.º 4, 5 (1.ª parte) 6 e 7 (mas não a alínea a)
do n.º 2, uma vez que a lei expressamente refere «e criar deste modo perigo
para a vida …», deixando claro que se trata de um crime de perigo
concreto)
CRIMES DE PERIGO
Crime de perigo concreto
o Art. 138.º - exposição ou abandono – para a consumação do crime o tipo
não exige a consumação, bastando-se com o perigo (que não é lesão, mas
apenas ameaça de lesão)
o Art. 291.º, n.º 1 – condução perigosa de veículo - «e criar deste modo
perigo para a vida …» (mas não o n.º 2, que é um crime de perigo abstracto)
o Art. 272.º - incêndios, explosões e outras condutas especialmente perigosas
‘«e criar deste modo perigo para a vida …»
Execução livre
O tipo identifica a conduta de forma geral. É indiferente o modo como o agente executa a
conduta proibida na lei
Art. 131. º - o legislador não exige que a morte seja provocada de determinada
forma específica.
Art. 143.º - ofensa à integridade física
Art. 180.º – difamação (mas já não o crime de publicidade (art. 183.º, n.º3) em que
se exige que a difamação seja efectuada «através de meio de comunicação social».
Art. 158.º - crime de sequestro (ao contrário do crime de rapto (art. 161.º), que é de
conduta vinculada «por meio de …»
Execução vinculada
O modo de execução está descrito minuciosamente no tipo. A conduta do agente apenas
será subsumível à conduta do tipo quando o agente actue nos exactos termos exigidos por
aquele.
Art. 161.º - crime de rapto – «por meio de …»
Art. 162.º - tomada de reféns - «sequestrar ou raptar outra pessoa ameaçando matá-
la …»
Art. 164.º - crime de coacção – «Quem, por meio de …»
Art.º 210-º - crime de roubo - «Quem, por meio de violência ou ameaça com mal
importante»
Art. 217.º - crime de burla - «por meio de engano ou de erro que astuciosamente
provocou»;
Art. 249.º, n.º 1 b) – Crime de subtracção de menor - «por meio de violência ou de
ameaça grave».
Art. 297.º - instigação pública a um crime -«através de meio de comunicação social,
por divulgação de escrito ou outro meio de reprodução técnica»;
Art. 325.º - Alteração violenta do Estado de Direito – Quem, por meio de violência»
«Nos crimes de resultado sob a forma de comissão por acção o tipo pressupõe a produção
de determinado evento [que designaremos de resultado] como consequência da actividade
do agente. Nestes tipos de crime só se dá a consumação quando se verifica uma alteração
externa espácio-temporalmente distinta da conduta» 9.
8
Figueiredo Dias (Direito Penal, parte geral, II edição, 2007, pág. 306) refere esta classificação com referência à
conduta: «no âmbito da conduta importa distinguir entre tipos cuja consumação pressupõe a produção de um
resultado e tipos em que para a consumação é suficiente a mera acção». Paulo Pinto de Albuquerque (Comentário
ao Código Penal à luz da Constituição e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem) usa a terminologia
«quanto à forma de ataque ao objecto do tipo».
9
Figueiredo Dias - Direito Penal: parte geral, II edição. Coimbra: Coimbra Editora, p. 306.
Crimes de resultado
o Art. 131.º - homicídio
o Art. 140.º - aborto
o Art. 210.º- roubo
o Art. 138.º - crime de exposição ou abandono - (porque crime de perigo
concreto: o perigo é o resultado do tipo. Não basta que a conduta seja em si
mesma perigosa, é necessário que para a além da conduta se destaque um
evento (o perigo), que é o resultado. Nota: neste caso, tem de se aferir o nexo de
causalidade entre a conduta e o resultado
o Art. 291.º n.º 1 - condução perigosa de veículo – idem
o Art. 249.º - crime de subtracção de menor10
10
«Dado que, para que o tipo de ilícito se verifique, é necessário que o menor fique privado do “domínio de facto”24
de quem tem a sua guarda (v. g., pai, mãe, avós) ou daqueles a quem foi confiado (v. g., art. 35.º, als. e), f) e g), da
LPCJP) contra a vontade deste(s) último(s)». André Teixeira dos Santos – Do crime de subtracção de menores nas
«novas realidades» familiares, p. 226.
11
Figueiredo Dias, Direito Penal: parte geral, II edição. Coimbra: Coimbra Editora, p. 306.
o Art. 158.º - crime de sequestro
o Art. 161.º - crime de rapto
o Art. 190.º - violação de domicílio
para que o crime seja materialmente consumado, basta que alguém subtraia uma coisa, com
intenção de dela se apropriar, mesmo que não consiga apropriar-se de facto, isto é, mesmo sem
que consiga posse pacífica.
Exemplo: A pega numa carteira de B com intenção de se apropriar dela, mas quando estava a
colocá-la no bolso, B apercebe-se e retira-lha.
Houve consumação formal, porque A subtraiu a coisa imóvel e tinha o elemento subjectivo
especial. Não conseguiu apropriar-se dela. Não houve consumação material, que apenas teria
havido se A se tivesse, efectivamente apropriado da coisa, se tivesse conseguido a posse
pacífica.
12
O facto de estarem tipificados desta forma significa que a pena aplicável é a que se enquadra na moldura penal
que lhe corresponde tipicamente e não a que resultaria da atenuação própria da tentativa nos ternos do artigo 23.º.
Crimes contra a economia ou contra o ambiente
TESTAR CONHECIMENTOS_1
QUANTO AO AGENTE
13
Para Figueiredo Dias, será específico o crime quando esteja em causa uma situação em que se preveja
que um determinado dever impenda sobre o autor. Não será a qualidade que releva, mas esse dever a
que se encontra sujeito, pelo que, defende, pode haver crimes específicos que não contenham, ao
menos de forma expressa, elementos típicos de autor». Como exemplos refere a omissão de auxílio (art.
200.º) e o crime de infidelidade patrimonial (art. 224.º), ou o crime de bigamia (art. 247.º) FD, Direito
Penal, Parte Geral, 2.ª edição, p. 304.
QUANTO AO AGENTE
exemplos
QUANTO AO MODO DE EXECUÇÃO
Crimes de execução
livre
Crimes de execução
vinculada
TESTAR CONHECIMENTOS_2
HIPÓTESE 1
Identifique, na lista abaixo indicada, os elementos normativos e os elementos descritivos do
tipo
HIPÓTESE 2
Classifique os seguintes tipos quanto ao grau de protecção do bem jurídico (crimes de dano, ou
crimes de perigo):
Art. 131.º dano Art. 272.º
Art. 138.º Art. 293.º
Art. 283.º Art. 135.º
Art. 290.º Art. 297.º
Art. 144.º Art. 203.º
Art. 153.º Art. 274.º
(atenção!)
Art. 140.º Art. 156.º
Art. 151.º Perigo abstracto-concreto Art. 210.º
(aptidão)
Jurisprudência: