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DIREITO PENAL I

ANA PAULA PINTO LOURENÇO


Ano 2021/2022

GUIA DE ESTUDO
Classificação do tipo

SUMÁRIO

A tipicidade como manifestação do princípio da legalidade


As classificações do tipo:
1. Quanto ao agente
2. Quanto ao bem jurídico
3. Quanto à estrutura do comportamento do agente (quanto à conduta)
4. Quanto ao modo de execução
5. Quanto ao momento de execução
6. Casos especiais

MATERIAIS COMPLEMENTARES DE ESTUDO AUTÓNOMO


PowerPoint

BIBLIOGRAFIA JURÍDICA COMPLEMENTAR

COSTA, José Francisco de Faria – Direito Penal. Lisboa: Imprensa Nacional, 2017, p. 228-247
e 269-279.
DIAS, Jorge de Figueiredo – Direito Penal, parte especial, 2.ª edição. Coimbra: Coimbra
Editora, 2007.
DIAS, Jorge de Figueiredo (coord.) – Comentário Conimbricense ao Código Penal. Coimbra:
Coimbra Editora.
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito Penal, vol. II. Lisboa: Associação Académica da faculdade de
Direito.
ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de – Código Penal comentado à luz da Constituição e da
Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Lisboa: Universidade Católica.

CLASSIFICAÇÃO DO TIPO

Perante uma determinada conduta penalmente relevante (facto), existe uma intuição sobre o tipo
de crime (norma) que poderá ter sido cometido (sobre o tipo de crime que a conduta do agente
poderá ter integrado).

A fim de determinar se a conduta do agente se subsume a esse tipo intuído, é necessário


começar por apreciar a estrutura do tipo, identificando em primeiro lugar todos os elementos
constantes da norma, procedendo de seguida à sua classificação para, só então, verificar se os
factos preenchem todos esses elementos, se correspondem à exigência da norma .
Podemos distinguir, no tipo, vários elementos, agrupados em dois sub-tipos:

i. O tipo objectivo (compreendo os designados elementos objectivos)


ii. O tipo subjectivo

No tipo objectivo, podemos distinguir os seguintes elementos (nem todos os tipos são
delimitados por todos estes elementos):
Bem jurídico
Agente
Conduta do agente
Objecto da acção
Resultado - apenas nos crimes materiais, ou de resultado
Imputação objectiva (elemento não escrito) - também apenas nos crimes materiais ou
de resultado, uma vez que através dele se pretende determinar - para além do mais - o
nexo de causalidade existente entre a conduta e o resultado.

Alguns destes elementos são não escritos (v.g. o nexo de causalidade atrás referido ou o bem
jurídico são geralmente elementos não escritos)
Para além destes, podem ainda classificar-se
Consulte a doutrina para
Elementos descritivos definir estes conceitos
Elementos normativos
Circunstâncias agravantes ou atenuantes

No tipo subjectivo, podem distinguir-se


* O elemento subjectivo geral - Dolo (a negligência prefigura uma forma de crime
autónomo)
* Elementos subjectivos especiais - especiais intenções (a par do dolo, constituindo
elementos escritos
CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS1

1. QUANTO AO AGENTE
a. Crimes gerais ou comuns
b. Crimes específicos
i. Em sentido próprio, ou puro
ii. Em sentido impróprio, ou impuro
iii. Crimes de mão própria

2. QUANTO AO BEM JURÍDICO

Quanto à efectividade de tutela do bem jurídico = quanto ao grau de lesão


a. Crimes de lesão ou dano
b. Crimes de perigo
i. Crimes de perigo concreto
ii. Crimes de perigo abstracto2
iii. Crimes de perigo abstracto-concreto (crimes ainda de perigo abstracto,
mas com aptidão à provocação do perigo - crime de aptidão; Brasil: crimes de
perigo abstracto com perigosidade real)

Quanto ao n.º de bens jurídicos tutelados pelo tipo


a. Crimes simples
b. Crimes compostos, complexos, pluridimensionais ou pluriofensivos

3. QUANTO À ESTRUTURA DO COMPORTAMENTO DO AGENTE - QUANTO


À CONDUTA

a. Crimes cometidos por acção (crimes comissivos por acção)


b. Crimes cometidos por omissão
i. Em sentido próprio
ii. Em sentido impróprio (crimes comissivos por omissão: o dever de
garante; o estabelecimento do nexo de causalidade (art. 10.º)

4. QUANTO AO MODO DE EXECUÇÃO

a. Crimes de execução livre


b. Crimes de execução vinculada

5. QUANTO À FORMA DE CONSUMAÇÃO3

1
Bibliografia base: DIAS, Jorge de Figueiredo – Direito Penal, parte especial, 2.ª edição. Coimbra: Coimbra
Editora, 2007.
2
Sobre a constitucionalidade do crime de perigo abstracto, que tem sido questionado por alguma doutrina, veja-se,
como exemplo, o Acórdão do Tribunal Constitucional 95/2011, DR 12 de Março, disponível em
https://dre.pt/application/file/a/1338533
a. Crimes de mera actividade;
b. Crimes de resultado4

6. QUANTO AO MOMENTO DA CONSUMAÇÃO


a. Crimes instantâneos
b. Crimes habituais
c. Crimes duradouros ou permanentes
d. Crimes de atentado ou de empreendimento

7. FIGURAS ESPECIAIS
a. Crimes simples, básicos ou fundamentais
b. Crimes especiais
I. Crimes qualificados
II. Crimes privilegiados
c. Crimes agravados pelo resultado
i. Em sentido próprio
ii. Crimes praeter intencionais

EXEMPLOS

3
Figueiredo Dias (Direito Penal, parte geral, II edição, 2007, pág. 306 refere esta classificação à conduta: «no âmbito
da conduta importa distinguir entre tipos cuja consumação pressupõe a produção de um resultado e tipos em que para
a consumação é suficiente a mera acção». Paulo Pinto de Albuquerque (Comentário ao Código Penal à luz da
Constituição e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem) usa a terminologia «quanto à forma de ataque ao
objecto do tipo»
4
Existe uma classificação designada crimes de intenção ou crimes de resultado cortado - são crimes em que o
agente, ao nível do elemento subjectivo age com dolo (elemento subjectivo geral) mas o tipo exige, ainda, que a
conduta seja dirigida a determinada finalidade, isto é, que o agente actue com a especial intenção de praticar
determinado facto. Tal como refere Figueiredo Dias (Direito Penal, Parte Geral, p. 380), «o tipo legal exige, para
além do dolo do tipo, a intenção de produção de um resultado que, todavia, não faz parte do tipo de ilícito» Não se
exige para a consumação que esse resultado pretendido pelo agente se verifique, mas apenas que presida à sua
intervenção. Exemplo: crime de furto (art. 203.º), «o tipo subjectivo exige que o agente actue com uma intenção
cuja concretização não é exigida pelo tipo objectivo, mas que é provocado pela acção» - Paulo Pinto de
Albuquerque, Comentário ao CP, p. 91. No entanto, típica caso o resultado que preside à conduta do agente
sobrevenha, haverá consumação material (do resultado não exigido pela norma). Outro exemplo é o crime de
tomada de reféns (art. 162.º) – À acção do agente tem de presidir a intenção de realizar finalidades políticas,
ideológicas, filosóficas ou confessionais. O crime fica consumado apenas com a ameaça de morte, de ofensas à
integridade física ou detenção, ainda que as finalidades pretendias não se verifiquem. Dos crimes de resultado
cortado alguns autores distinguem os crimes de acto cortado, que serão aqueles em que o comportamento do
agente é motivado por determinada intenção cuja verificação não faz parte do tipo, mas em que o resultado não
contido no tipo pode ocorrer por uma outra acção ulterior do agente: exemplos - crime de rapto (art. 161.º).
Exemplo: será rapto a conduta do agente que prive a liberdade a outrem com a intenção especial de pedir um
resgate. O crime ficará consumado ainda que após a privação da liberdade não seja possível pedir o resgate. Se
conseguir pedir o resgate haverá, para além da consumação formal, também a consumação material. Porém,
para concretizar essa finalidade, deverá empreender outro acto ulterior. No entanto, esta classificação deve
relacionar-se com o tipo subjectivo.
Nota: convirá que não decore, mas compreenda. O que se pretende é que vá ao Código Penal e
tente encontrar, nas próprias normas, a razão para esta classificação.

1. QUANTO À EXIGÊNCIA DE DETERMINADA QUALIDADE DO AGENTE:

 Crime geral ou comum – o tipo não exige qualquer qualidade especial do agente
(qualquer pessoa pode praticar o crime)
 Crime específico – o tipo exige determinada qualidade ao agente. O crime apenas pode
ser praticado por quem tenha as qualidades exigidas pelo tipo.
 Dentro dos crimes específicos quanto ao agente temos de distinguir, ainda: crimes
específicos em sentido próprio e impróprio;

o Crime específico em sentido próprio


A qualidade do agente constitui o fundamento da incriminação; não existe tipo
similar que possa ser praticado por pessoas que não tenham essa qualidade.

Serão exemplos:
 Art. 257.º - crime de falsificação de documento por funcionário
 Art. 260.º5 - crime de atestado falso;
 Art. 369.º - Denegação de Justiça;
 Art. 370.º - Prevaricação de advogado ou solicitador;
 Art. 380.º - Emprego de força pública contra a execução da lei ou de
ordem pública.

o Crime específico em sentido impróprio


A par do tipo de crime específico (que exige especiais qualidades ao agente),
existe um crime gral ou comum que tipifica a mesma conduta, não exigindo
especiais qualidades ao agente. A qualidade do agente não constitui o
fundamento da incriminação, já que existe um tipo legal geral; a qualidade
exigida ao agente agrava a responsabilidade.

Serão exemplos:
 Art. 150.º, n.º 2 – intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos - específico
face ao artigo 143.º (geral ou comum);
 Art. 256.º, n.º 4 – Falsificação de documento (no n.º 1 encontra-se o crime
geral ou comum)
 Art. 260.º - n. º 1 (geral) e n.º 4 (específico em sentido impróprio);
 Art. 316.º, n.º 3 – violação de segredo de Estado - específico face ao n.º 1
(geral)
 Art. 368.º - favorecimento pessoal praticado por funcionário (específico
face ao artigo 367.º- favorecimento pessoal)
 Art. 378.º - violação de domicílio por funcionário – crime específico face o
artigo 190.º, n.º 1.
 Art. 249.º, n.º 2 – Subtracção de menor6 (específico relativamente ao n.º 1)

5
http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/0/eec1138e053dca8e80256e6200508f65?OpenDocument
6
Sobre a classificação do crime de substracção de menor: http://julgar.pt/wp-content/uploads/2015/10/221-252-
Crime-de-subtrac%C3%A7%C3%A3o-de-menor.pdf
2. QUANTO À ESTRUTURA DO COMPORTAMENTO DO AGENTE

Omissão pura
 Art. 190.º, parte final do n.º 1 – violação de domicílio - «Quem […] nela [habitação]
permanecer depois de instado a retirar-se.
 Art. 200.º - omissão de auxílio7
 Art. 249.º, n.º 1, alínea c) – Crime de subtracção de menor – 1. Quem c) «Se recusar a
entregar menor à pessoa que sobre ela exercer o poder paternal [leia-se:
responsabilidades parentais] ou tutela, ou a quem ele esteja legitimamente confiado»;
 Art. 257.º, n.º 1 alínea a) – Crime de falsificação praticada por funcionário

Omissão impura
 Crime de acção + art. 10.º, n.º 1 e n.º 2
 Elementos: existência de dever pessoal de agir; possibilidade de agir;
possibilidade de evitar o resultado.

3. QUANTO AO GRAU DE LESÃO DO BEM JURÍDICO (efectividade de tutela do


bem jurídico)

 CRIME DE DANO
o Art. 131.º - crime de homicídio
o Art. 143.º - crime de ofensas simples à integridade física
o Art. 164.º - crime de violação
o Art. 274.º, n.º 1, 2 alínea b), c), n.º 4, 5 (1.ª parte) 6 e 7 (mas não a alínea a)
do n.º 2, uma vez que a lei expressamente refere «e criar deste modo perigo
para a vida …», deixando claro que se trata de um crime de perigo
concreto)

CRIMES DE PERIGO
 Crime de perigo concreto
o Art. 138.º - exposição ou abandono – para a consumação do crime o tipo
não exige a consumação, bastando-se com o perigo (que não é lesão, mas
apenas ameaça de lesão)
o Art. 291.º, n.º 1 – condução perigosa de veículo - «e criar deste modo
perigo para a vida …» (mas não o n.º 2, que é um crime de perigo abstracto)
o Art. 272.º - incêndios, explosões e outras condutas especialmente perigosas
‘«e criar deste modo perigo para a vida …»

 Crime de perigo abstracto


o Art. 171.º - abuso sexual de crianças
o Art. 293.º - lançamento de projéctil
o Art. 297.º - instigação pública a um crime

 Crimes de perigo abstracto-concreto


7
http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/0/11d1058bb6e4392b802575d90049edf3?OpenDocument
o Art. 153.º - ameaça - Paulo Pinto de Albuquerque entende que é um crime de
perigo abstracto-concreto
o Art. 151 – participação em rixa
o Art. 135.º - incitamento ou ajuda ao suicídio

4. QUANTO AO MODO DE EXECUÇÃO DA CONDUTA

Execução livre
O tipo identifica a conduta de forma geral. É indiferente o modo como o agente executa a
conduta proibida na lei
 Art. 131. º - o legislador não exige que a morte seja provocada de determinada
forma específica.
 Art. 143.º - ofensa à integridade física
 Art. 180.º – difamação (mas já não o crime de publicidade (art. 183.º, n.º3) em que
se exige que a difamação seja efectuada «através de meio de comunicação social».
 Art. 158.º - crime de sequestro (ao contrário do crime de rapto (art. 161.º), que é de
conduta vinculada «por meio de …»

Execução vinculada
O modo de execução está descrito minuciosamente no tipo. A conduta do agente apenas
será subsumível à conduta do tipo quando o agente actue nos exactos termos exigidos por
aquele.
 Art. 161.º - crime de rapto – «por meio de …»
 Art. 162.º - tomada de reféns - «sequestrar ou raptar outra pessoa ameaçando matá-
la …»
 Art. 164.º - crime de coacção – «Quem, por meio de …»
 Art.º 210-º - crime de roubo - «Quem, por meio de violência ou ameaça com mal
importante»
 Art. 217.º - crime de burla - «por meio de engano ou de erro que astuciosamente
provocou»;
 Art. 249.º, n.º 1 b) – Crime de subtracção de menor - «por meio de violência ou de
ameaça grave».
 Art. 297.º - instigação pública a um crime -«através de meio de comunicação social,
por divulgação de escrito ou outro meio de reprodução técnica»;
 Art. 325.º - Alteração violenta do Estado de Direito – Quem, por meio de violência»

5. QUANTO À NECESSIDADE DE AUTONOMIZAÇÃO DE UM RESULTADO


RELATIVAMENTE À CONDUTA (quanto à forma de consumação)8

«Nos crimes de resultado sob a forma de comissão por acção o tipo pressupõe a produção
de determinado evento [que designaremos de resultado] como consequência da actividade
do agente. Nestes tipos de crime só se dá a consumação quando se verifica uma alteração
externa espácio-temporalmente distinta da conduta» 9.

8
Figueiredo Dias (Direito Penal, parte geral, II edição, 2007, pág. 306) refere esta classificação com referência à
conduta: «no âmbito da conduta importa distinguir entre tipos cuja consumação pressupõe a produção de um
resultado e tipos em que para a consumação é suficiente a mera acção». Paulo Pinto de Albuquerque (Comentário
ao Código Penal à luz da Constituição e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem) usa a terminologia
«quanto à forma de ataque ao objecto do tipo».
9
Figueiredo Dias - Direito Penal: parte geral, II edição. Coimbra: Coimbra Editora, p. 306.
 Crimes de resultado
o Art. 131.º - homicídio
o Art. 140.º - aborto
o Art. 210.º- roubo
o Art. 138.º - crime de exposição ou abandono - (porque crime de perigo
concreto: o perigo é o resultado do tipo. Não basta que a conduta seja em si
mesma perigosa, é necessário que para a além da conduta se destaque um
evento (o perigo), que é o resultado. Nota: neste caso, tem de se aferir o nexo de
causalidade entre a conduta e o resultado
o Art. 291.º n.º 1 - condução perigosa de veículo – idem
o Art. 249.º - crime de subtracção de menor10

 Crimes de mera actividade «o tipo incriminador se preenche através da mera


execução de um determinado comportamento»11
o Art.º 164.º - Violação
o Art. 257.º, n.º 1 Falsificação de documento por funcionário - por omissão de
facto em documento.
o Art. 153.º - ameaça
o Art. 190.º - violação de domicílio
o Art. 171.º - abuso sexual de crianças
o Art. 257.º e 256.º, n.º 4
o Art. 291.º, n.º 2 – condução perigosa de veículo - para a concretização deste
tipo basta que o agente empreenda a conduta proibida (ao contrário do n.º 1 em
que, para a consumação, o legislador exige que, além da conduta, se verifique
um resultado consubstanciado no perigo);
o Art. 292.º - condução de veículo em estado de embriaguez ou sob o efeito de
estupefacientes ou substâncias psicotrópicas.

6. QUANTO AO MOMENTO DA CONSUMAÇÃO

o Crimes instantâneos – crimes cuja consumação se esgota num único acto


o Art. 131.º
o Art. 140.º
o Art. 210.º

o Crimes habituais – executados de forma reiterada


o Art. 141.º - aborto agravado em virtude da habitualidade
o Art. 170.º - lenocínio
o Art. 152.º - maus tratos na versão anterior a 2007

o Crime de execução permanente (duradouros ou permanentes)

10
«Dado que, para que o tipo de ilícito se verifique, é necessário que o menor fique privado do “domínio de facto”24
de quem tem a sua guarda (v. g., pai, mãe, avós) ou daqueles a quem foi confiado (v. g., art. 35.º, als. e), f) e g), da
LPCJP) contra a vontade deste(s) último(s)». André Teixeira dos Santos – Do crime de subtracção de menores nas
«novas realidades» familiares, p. 226.
11
Figueiredo Dias, Direito Penal: parte geral, II edição. Coimbra: Coimbra Editora, p. 306.
o Art. 158.º - crime de sequestro
o Art. 161.º - crime de rapto
o Art. 190.º - violação de domicílio

o Crimes de atentado ou de empreendimento – crimes em que existe uma


equiparação entre a tentativa e a consumação, isto é, a tentativa está tipificada como
sendo o tipo consumado. O crime fica consumado apenas com a tentativa 12
o Art. 308.º, alínea a) – crime de traição à Pátria «Quem […] tentar
separar a Pátria-mãe …»
o Art. 325.º - Crime de alteração violenta do estado de Direito «Quem
[…] tentar destruir, alterar ou subverter o Estado de Direito …»
o Art. 327.º - Atentado contra o Presidente da República - «Quem atentar
contra a vida, a integridade física….
o Art. 363.º -Suborno - Quem [...] tentar convencer outra pessoa...»

o Crimes agravados pelo resultado


o Em sentido próprio
o Crimes praeter intencionais – o agente, com a sua conduta, visa obter
um determinado resultado (dolo), mas acaba por provocar um resultado
mais grave, no mesmo objecto, mas a título de negligência
o Art. 145.º - ofensas à integridade física agravadas pelo
resultado;
o Art. 152.º, n.º 3 - Violência doméstica agravada pelo resultado
o Art. 152.º, n.º 3 - Violência doméstica agravada pelo resultado

CRIME DE RESULTADO CORTADO (ver nota de rodapé 4)


A norma prevê a consumação formal e a consumação material

Exemplo: crime de furto


Quem subtrair coisa imóvel com intenção de se apropriar, é punido ...

para que o crime seja materialmente consumado, basta que alguém subtraia uma coisa, com
intenção de dela se apropriar, mesmo que não consiga apropriar-se de facto, isto é, mesmo sem
que consiga posse pacífica.
Exemplo: A pega numa carteira de B com intenção de se apropriar dela, mas quando estava a
colocá-la no bolso, B apercebe-se e retira-lha.

Houve consumação formal, porque A subtraiu a coisa imóvel e tinha o elemento subjectivo
especial. Não conseguiu apropriar-se dela. Não houve consumação material, que apenas teria
havido se A se tivesse, efectivamente apropriado da coisa, se tivesse conseguido a posse
pacífica.

Mais exemplos: rapto - sequestro com intenção de pedir resgate.


Se sequestrar com essa intenção - consumação formal
se chegar a pedir o resgate - consumação material

CRIMES DE VÍTIMA DIFUSA OU ABSTRACTA

12
O facto de estarem tipificados desta forma significa que a pena aplicável é a que se enquadra na moldura penal
que lhe corresponde tipicamente e não a que resultaria da atenuação própria da tentativa nos ternos do artigo 23.º.
Crimes contra a economia ou contra o ambiente

CRIMES “SEM VÍTIMA”: prostituição, aborto, venda de droga, corrupção.

CRIMES DE ESTADO, INSTANTÂNEOS vs CRIMES PERMANENTES


Nos crimes permanentes, «há a criação voluntária de um estado anti-jurídico mantido e querido
no tempo pelo agente, até à cessação do facto censurável; no crime instantâneo, ou de estado, há
a criação de um estado anti-jurídico, todavia, o agente desprende-se deste estado, sucedendo-se
os efeitos à margem de qualquer resolução criminosa».

TESTAR CONHECIMENTOS_1

Complete os seguintes quadros sinópticos

QUANTO AO AGENTE

classificação categoria concretização exemplos

geral ou comum O tipo não exige especiais qualidades do


agente
O crime pode ser praticado por qualquer
pessoa
O tipo exige especiais qualidades do
agente.
Específico13 O crime - no caso da autoria singular -
apenas pode ser praticado por quem tenha
Qualidade do as qualidades exigidas pelo tipo
agente Apenas pode ser cometido por agente que art. 380.º
detenha certa qualidade, ou certa relação. A art. 370.º
qualidade constitui o fundamento da
1. em sentido próprio tipificação.
A par do tipo específico que exige a art. 260.º 1 e
qualidade do agente, existe outro tipo, que 4 art. 368.º
2. em sentido incrimina a mesma conduta, não exigindo art. 378.º
impróprio qualidades especiais ou determinadas /190.º
relações para o agente. A qualidade do art. 249.º
agente não serve para fundamentar a art. 316.º/3
incriminação, uma vez que existe um tipo art. 257 e
geral, mas para agravar ou privilegiar a 256.º/4
responsabilidade. art. 150.º, n.º
2/art. 148.º

13
Para Figueiredo Dias, será específico o crime quando esteja em causa uma situação em que se preveja
que um determinado dever impenda sobre o autor. Não será a qualidade que releva, mas esse dever a
que se encontra sujeito, pelo que, defende, pode haver crimes específicos que não contenham, ao
menos de forma expressa, elementos típicos de autor». Como exemplos refere a omissão de auxílio (art.
200.º) e o crime de infidelidade patrimonial (art. 224.º), ou o crime de bigamia (art. 247.º) FD, Direito
Penal, Parte Geral, 2.ª edição, p. 304.
QUANTO AO AGENTE

Crimes em que parece que o legislador


Quanto ao Crimes de mão própria apenas quis abranger os autores imediatos,
agente aqueles que praticam o facto por si mesmo,
que o praticam «através da sua pessoa, não
através de outrem», pelo que não poderia
punir-se os autores mediatos ou a co-autoria
dos comparticipantes que não fossem
também executantes FD, DP, II, p.305
Figura que já não é considerada
unisubjectivo exige apenas a intervenção de um agente, art. 131.º
Quantidade embora possa ser praticado em art. 144.º
de agentes comparticipação art. 210.º
exigida pela plurisubjectivo ou de O crime apenas pode ser praticado com a art. 151.º
norma participação necessária participação de mais do que um agente motim
(embora não tenha de ser em associação
comparticipação) criminosa
Envolvimento crimes de mão própria Categoria criada por Binding.
do agente Crimes em que “actividade física do agente,
o que implicaria que a prática de um crime
exclui a possibilidade da prática
contemporânea de um outro;
*ex.º - a cópula, a penetração

Gunther Jakobs define-os como aqueles em


que “o ilícito consiste na realização física
de uma acção reprovável e em que a
essência do ilícito radica numa atitude
defeituosa do agente relativamente aos seus
deveres pessoalíssimos” (próximos do
crime de dever)
*ex.º - perjúrio/ prevaricação / incesto (este
último não é crime em Portugal)

QUANTO À ESTRUTURA DO COMPORTAMENTO

classificação categoria definição exemplos

Crimes cometidos por ou crimes comissivos por


acção acção
crimes cometidos por omissão pura
omissão omissão impura Art. 200.º
(crimes comissivos por
omissão)

QUANTO AO MODO DE EXECUÇÃO

exemplos
QUANTO AO MODO DE EXECUÇÃO

Crimes de execução
livre
Crimes de execução
vinculada

TESTAR CONHECIMENTOS_2

HIPÓTESE 1
Identifique, na lista abaixo indicada, os elementos normativos e os elementos descritivos do
tipo

Art. 131.º- pessoa Art. 302.º - motim


Art. 205.º – coisa móvel Art. 208.º - bicicleta
Art. 387.º - animal Art. 250.º - alimentos
Art. 260.º - dentista Art. 291.º - veículo rodoviário
Art. 297.º - meio de comum. Art. 298.º crime
Social*
Art. 204.º - valor elevado Art. 249.º - menor
Art. 275.º - substância explosiva Art. 187.º - pessoa colectiva
Art. 292.º - estado de Art. 204. º - funcionário
embriaguez público
Art. 256.º - documento Art. 269.º - cunhos
Art. 204.º - habitação Art. 199.º fotografias
Art. 287.º - comboio Art. 185.º - pessoa falecida
* Ver Ac. TRP, de 30.X.2013 Proc. 1087/12.9TAMTS.P1 : «constitui meio de comunicação
social, para efeitos do n.º 2 do artigo 183.º do Código Penal, uma página do Facebook acessível
a qualquer pessoa e não a um grupo de amigos»

HIPÓTESE 2

Classifique os seguintes tipos quanto ao grau de protecção do bem jurídico (crimes de dano, ou
crimes de perigo):
Art. 131.º dano Art. 272.º
Art. 138.º Art. 293.º
Art. 283.º Art. 135.º
Art. 290.º Art. 297.º
Art. 144.º Art. 203.º
Art. 153.º Art. 274.º
(atenção!)
Art. 140.º Art. 156.º
Art. 151.º Perigo abstracto-concreto Art. 210.º
(aptidão)

Classifique os tipos de crime quanto ao objecto da conduta (quanto à necessidade de verificação


de resultado para a consumação

Art. 131.º Crime de resultado Art. 163.


Art. 190.º Art. 181.º
Art. 138.º Art. 291.º
Art. 153.º Mera actividade Art. 292.º
Art. 158.º Art. 291.º
Art. 171.º Art. 152.º

Jurisprudência:

Leitura crítica do acórdão 358/06-2, do Tribunal da Relação de Guimarães. Atipicidade da


conduta lesiva da honra; absolvição da prática do crime de injúria.
http://www.dgsi.pt/jtrg.nsf/0/08426dd6b518815f8025718b004c655f?OpenDocument

Sobre a constitucionalidade dos crimes de perigo abstracto


http://www.pgdlisboa.pt/jurel/cst_busca_palavras.php?
buscajur=&ficha=1437&pagina=57&exacta=&nid=10470
Constitucionalidade do crime de condução sem habilitação legal Acórdão 173/2012 do Tribunal
Constitucional - http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20120173.html

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