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Estoicismo e figuras femininas em Séneca serincrisna rine Perspectivas sociolégicas precursoras: 0s escravos e 0s jogos E de todos sabido que a obra de Séneca presenta aspectos de grande novidade e, em particular no ambito da moral, perspectivas precursoras no que hoje diriamos campo sociolégico. Para dar apenas dois exemplos, decerto os mais, Posigées precursoras no imblo soclol6glco- moral na obra de Séneea lusileam a cutlosidade pela sua porspectiva sobre as mulheres, procurada ‘no exame dos retratos femininos ealusdes 8 ‘mulher na aya obra, Descobrom-e0Inovagées © procuram-se compreendar as eausas e matlve- {:608 © a8 fungbes 0 objoctives do als retréncia. ‘a econhecer a possiblldade de grandeza de ‘alma também para as mulheres, dando exemplos ‘concretos em que fol consegulda, Séneca é vor brecursora duma eooiedade mais oquaitsie. conhecidas e talvez aqueles que mais n pela firmeza da dentincia e o humanisno que Ihes subjaz, lembremos a atitude do filésofo perante os escravos € a sua Opinio relativamente aos jogos, em particu cugio suméria de condenados na arena, Dos escravos, que considera homens com> quaisquer outros, livres no que a liberdade tem de mais auténtico, a pos- nos toc sibilidade de escolher o caminho da uirtus € a tejeiclo dos uitia e de fazer de cada dia uma etapa na construgao da sapientia, fala Séneca em virios passos da sua obra, nunca deixando de sublinhar a injustica do tratamento a que amitide eram sujeitos, jamais adogando as palavras com que lembra que a escravidalo mais torpe 6 aquela a que © homem se sujeita de livre vontade ', a da entrega as paixdes, © que a verdadeira e tinica liberdade 6 interior, é a que leva o homem| a optar pelo bem azo e a conformar-se com a natureza, aceitando 9 que a vida © a. ser sup mun ela ipa de 2 ol ‘eramere sec i do pane ds tule oto ep 8 Sno e Camp, ts fn tate, fap. Cr Inte Cuibeis 193 a recusar 0 mal, a submeterse apenas + professors Awociidt com Agiegagho ct Facldudle de Letres da Universidade Irae 18 2001) 251-28 251 th $9.18 es be a,c anew come conn ea wate cm Sua deo, Sse save cn foun 1. 3 esceena hfe em Dotty sitcom at pee twas Cimen Oe.6 gee Scie pe 3 ae ue acum i fn ms ‘nit es Tet Ase ‘erent ge pe SGjrse rca Sao ae team ‘at dog hse coe ee 252 Ihe di & a Providéncia Ihe envia. Sto muitos os passos que poderiamos citar: 0 mais célebre, porém, é a Apistula 47 onde, melhor que em qualquer outro lugar, 0 filésofo demonstra que, como pensavam os est6icos, cada homem € uma parceta de deus © que, por i890, todos 08 seres humanos slo igu: entre si, iguais no nascer € no morrer, circunstincia que, obviamente, contraria a existéncia de diferencas sociais® Quanto aos jogos, embora antes dele outras vozes, como a de Cicero 4, renham manifestado o seu desinteresse e até algum desprezo pelo que af se passava € tanto apoio merecia por pate du generalidade dos Romanos, embora Séneca mani- feste por vezes a sust aclmiragao pela impassibilidade ea cora- gem dos gladiadores no momento de enfrentarem a more * — © que no é de admirar num est6ico que tem como objectivo nada temer ¢ saber enfientar a dor e a morte sem qualquer perturbaglo ~ € ao filésofo que se deve o primeiro libelo, de violenta condenagio sem deixar qualquer margem para jus cacdes, do que se passava nos munera, quando os condena- dos eram langades 3 arena sem qualquer arma defensiva, em combates sine missione, isto é, em lutas onde eram massacra- dos por outro condenacle que, de seguida, enfrentava por sua 10s de outro condenado: € assim sucessiva- mente até que restusse apenas um, de imediato degolado ou vez 4 morte as n reservado part o combate do dia seguinte. Na Ep. 7, Séneca vai ainda mais longe na censura, pois no € $6 para u crueldade dessa pratica que chama a atencio: com palavras duras ¢ cereiras mostra como a banalizagao dla violencia toma os homens insensiveis a essa mésma violencia, aponta 0 «edo ao fanatismo da multidao que se compraz no derramamento do sangus alheio, que se junta em coro de insultos € vinganya, vase ki saber de qué, cada ver mais sedenta de sangue, cada vez menos humana € mais longe da petfeigio®. Sabi deveriamos ouvir, ¢ que milo slo sequer menos severas do que as vozes dlos autores cristios que, muitos anos depots, hao-de se contit 0s jogos € a crueldade feita especticulo, s palavras que, hoje mais do que nunca, ergu como € 0 caso de Tertuliano ou Agostinho. Sko, de resto, perspectivas como estas que deram credi- bilidacle & versio de vim eventual conhecimento entre Séneca € 5S, Paulo, que teriam trocado correspondéncia entre si, cpis- tolitio forjado no séc. IV, mas que excontrou verosimilhanga fa identidade de muitos. pontos de vista entre extoicismo ¢ cristianismo 6 Parece-nos, pois, interessante examinar a perspectiva de Séneca sobre as mulheres, procurando descortinar em que medida o retrato que ele nos deixou de figuras femininas ou as alusdes € referéncias | mulher em geral apresentam alguma inovagio relativamente as teorias & cpinides anteriores, bem como compreender, por um lado, as causas e motivagbes, por outro, a fungio € objectivos de tais referéncias. Figuras femininas nas tragédias Deixo de parte as tragéclias, as nove Ce temética mitol6gica, € a Ocawia, a tragédia pretexta que, até a data, ainda ninguém conseguiu provar indubitavelmente que é, ou que no é, cle Séneca. Nesta pega, porém, ha uma figura feminina que se desenha em trago esiéico, exemplo de uirtus na sua fragi dade fisica © na auséncia de apoio e poder, grandiosa na sua determinagio em nao ceder as forcas negras do uitiwm, da prepoténcia de Nero e seus sequazes, sublime perante a morte que enfrenta com a coragem € a serenidade de quem sabe, como qualquer estéico, que a morte faz parte integrante da vida € se insere na ordem césmica, ¢ que, por vezes, essa & a forma mais digna de recuperar a liberdade. Quanto as tragédias mitologicas, as figuras femininas tem luma hist6ria pré-definida pelo mito, que determina o que € dito sobte as suas acgdes: Fedra tem de amar 0 enteado, acusi-to quando se vé rejeitada, causarthe a morte ¢ suicidar- se em seguida, porque 0 mito assim exige, tal como Medea tem de querer vingar-se de Jasio com a morte dos filhos de ambos, depois de provocar a morte dé rival, Cretisa, e do pai desta, 0 rei de Corinto. Mas, € diga-se apenas em jeito de apontamento, essas figuras trigicas so tomadas por Séneca 1 pis de aie tne en 9 cs fee alg ie ete Fr pon ogy de {imbue anca oe Ho, We. ee Viet Bo, B80 into hes fe ene ei pas ‘se fl cg $92) 0 6, tele serge fro Wpedeoniees mea iiss numa outr dimensio que é a da parénese est6ica, € 0 com portamento, as pakivis € as reacgdes dessas petsonagens, ‘como de muitas outras das tragéalias, mostram 0 que acontece ‘a0 ser humano que nio combate e erraclica as paixdes ¢ por elas se deixa tomar, numa queda sem apelo, répida € irepa- rHivel, em que arrasta outros consigo, no scelus, no tition que acaba por tudo dominar. Essas personagens exemplificam as consequéncias da vida afastada da doutrina e da pritica estbicas. Nesse sentido, Medeia € 0 exemplum do ser humano dominado pelo ciime € pelo desejo de vinganga, Fedra exemplum dos efeitos nefastos do amor, 0 amor-paixio, itracional € criminoso. Ambas sio Tapadetynare daquilo a que podem conduzit as paixdes, « um mesmo nivel de Ulisses, Tese ou Pirro, que ilustram a tese de que o poder corrompe, de que 0 excesso de ambigio leva a0 crimen € ao scelus. Em sltima instinct registe-se, Fedra € também © modelo de que Séneca se serve para demonstrar que, por vezes, quando a submissa0 40s witia € imeversivel & completa, a tinica escolha que de alguma forma redime a dignidade do ser humano, pondo fim 20 erro, € 0 suicidio”. As paixes segundo os estéicos Sirva esta alusio a Fedra e a0 amor como néB0s, affectus ou perurbatio, para relembras, ainda que brevemente, que 05 est6icos entendiam por ‘paixio’ todo e qualquer movimento a alma conteitio & ratio e nao conforme & natureza, originado por um falso juizo de valor, uma falsa opinizo ~ € daqui decorse 1 importincia da Logica, um dos tr8s ramos de que, para 0$ est0iCos, se OCUpava a Filosofia, pois a Logica cabia a fungao de evitar que os homens aderissem a falsos juizos de valor, permitindo-Hhes distinguir com clareza 0 bem € 0 mal As paixdes, segundo os est6icos, dividiam-se em quatro tipos: 0 medo, o desgosto, o prazer ¢ 0 desejo, Para cada wma delas, 0 erro de julgsmento situa-se a nivel do presente ov a nivel do futuro: tenclo em conta aquilo que consideramos um mal, a dor € um juizo de valor em relagio ao presente, o medo em relaglo ao futuro; relativamente a0 que consideramos um bem, o prazer & 0 contentamento com o presente, 0 desejo Juma expectativa referente 10 futuro, Em qualquer dos quatro casos, uin movimento contritio a0 A6yoG, & ratio, uma doenga ue € preciso erradicar. Cada uma dessas paixées abrangia um atimero significa- tivo de subdivisdes, O amor era uma das paixdes compreen- didas no desejo (emOvpia). Nao se referem os estéicos a0 amor possivel entre dois seres humanos e que, dentro dos limites da razdo, 0s aproxima numa relagio que pode ser a de pai e filho, a de dois amigos, a do homem e a mulher. Os est6icos nunca recusaram o amor, no sentido lato da palavra, € a prova disso esté, quanto mais nfo seja, na atitude huma- rnista que preconizavam para com os escravos, seus semelhan- tes, Também no negavam o amor entre homem ¢ mulher, embora nesse aspecto tenha haviclo evolugio ¢e perspectivas desde © fundador da escola, Zeno, © os seus seguidores Cleantes e Crisipo, até aos pensadores do estoicismo imperial ‘ou romano, em especial Séneca € Musénio Rufo, mas também Epicteto © que 05 est6icos recusavam era 0 amor-paixio, © amor- -morbus, © amor-furor, que se aproxima da loucura (navi; insania) € atrebata imeversivelmente © homem. para o cami- nho da irreflexio € do uitium, Bles rejeitam o amor que, tal como 0 6dio, a ira, 0 terror ou qualquer outra paixto, toma conta co homem € 6 paralisa, deixando transparecer, no aspecto exterior © em cada atitude, 2 desmesura, 0 excesso, 0 erro ® Evolugao da perspectiva do estoicismo sobre as mulheres No que toca & perspectiva segundo a qual era encaradas as mulheres, seu estatuto papel na sociedade, no casamento e, de modo geral, em relagio a0 homem, seus direitos e deveres, © estoicismo apresenta uma evolucio que se reflecte no prisma pelo qual Séneca vé a mulher € a ela se refere, quer de forma geral, quer em particular, quando se centra numa figura deter minada?. e.g Bo 6.25.20 ‘conan dp tore" ron Fe te sag ts ta ‘ame nat anon © Selo hone oe ‘ho pon pasar et itihere, pri, sé ee ier tes ep tmp wi a eae an ‘cn de oar os Be ‘ion de occ © seared cigs Frome & con Gi Dini Vatco, gs Phe Foe 198 * tease Ces Tre, Moire al Sopa ‘Regis De an once, Cans 0, pp 1998 255 ‘Os fundadores da escola e 0 ideal da Republica No inicio, com os fundadlores da escola, © estoicismo adopta uma posigio que entronca na perspectiva da Repriblica de Platio onde, como se sabe, 0 facto de se propor a aboligao da propriedade privada, vista como fonte de grandes € numero- 0s males e da maior rivalidade entre os homens, tinha como consequéncia natural que as mulheres fossem comuns, que ndo houvesse, pois, relagGes monogimicas ¢ familia tradicio- nal, € nem sequer se pudesse falar de adultério. Do mesmo modo, os fillios seriam de todos e por todos educados. A um nivel mais amplo, ax mulheres so, nessa obra, vistas como juais dos homens, com os mesmos direitos € deveres, com ima ech mente idntica a dos homens ~ mas, recorde-se, admitia nto que 3 20s homens, mas que algtmas mulheres eram potencialmente superiores a alguns homens. Ha quem veja, nesta visto idealizada da Repiiblica, algum reflexo ck sociediicle espartana, do mesmo modo que, nas Leis, se observa que Platio apresenta ji uma comunidade menos ut6pica © mais pragmitica, espécie de compromisso entre o ideulismo da Repriblica e a realidade de Atenas € da vida nessa dade. Nessa obra, 0 fildsofo estabelece de forma bem ma marcada a disting’o entre os sexos € nio apenas, como fazia nna Republica, aludindo Wo papel que cada um deles desem- penha na reprodugio da espécie humana. Nas Leis, © papel do sexo feminino € essencialmente tradicional: a5 mulheres sio obedientes, moxlestas, recatadas, gentis; aos homens cabe a competiglo, a luta, a agressividade, Por fim, 0 casamento monogimico € ubsolutamente imperioso. Além disso, em Platdo, as mulheres sio amitide vistas em plano de igualdade com as Quunto a Aristoteles © aos seus seguidores, © papel a mulher esti de acordo com um sistema que € 0 da oix0g, ateniense: 0 estatuto da mulher € claramente inferior a0 do homem, desde 2 sua fungio passiva no acto de procriar até neces apenas entre os guardides, numa perspectiva que mulheres, na sua totalidade, eram iguais itada_em termos' de actividade mental e a sua capacidade |i intelectual, Recuo para o papel tradicional A comunhio das mulheres e dos filhos, com a ausénca de sentimentos negativos ¢ nefastos como o citime ou 6 instinto de posse, ideal da Repiiblica, agradou a Zeno de Cicio e a Crisipo, fundadores do estoicismo, tal como colheu o favor do ‘inico Didgenes ¢, de modo geral, de todos os pensadores helenfsticos que conceberam sociedades ut6picas. Mas, a breve prazo, 0 estoicismo reviu tais posigdes e passou a preconizar que & mulher fosse reservado © papel tradicional que habi- tualmente the cabia. Também os Neopitagéricos criain autén- ticos cédigos da adequada conduta da mulher, alguns deles divulgados sob autoria feminina ", em que se estabelecem as fegras que uma mulher deve respeitar para ser 0 que deia se espera, para conseguir aquele que deve ser 0 seu obje ‘inico: garantir o bem-estar da familia e, em plena e gostosa submisstio ao marido, the dar tudo 0 que ele quiser sem nada esperar em ttoca, Os conselhos e preceitos sto elucidativos: sensivel, sensata, capaz de controlar os seus desejos, incapaz de adultétio ou de deslealdade, modesta no vestir e nos ador- ‘nos, parca na comida e ainda mais na behida, preocupada mais com a beleza do espitito do que com a aparéncia, ela deve parilhar com o marido a adversidade que 0 atinja ¢ zcei- tar tuclo © que ele faca, mesmo a embriaguez e a infidelidade, deve suportar os seus citimes, as suas iras, 0s seus agravos, € achar que € doce © que 0 marido disser doce, amargo o {que ele disser amargo. Confluindo neste rio de moral mais severa, os estéicos depressa abandonam o ideal, abragado por Zeno, da parttha das mulheres, e propoem a monogamia e o recato das espo- sas. E, como os Peripatéticos, recomendam a observancia estrita dos papéis distintos no seio da famfia: a mulher & apenas cesposa © mae, no tem que emular com o homem nem muito ‘menos aptopriar-se dlo espago que a este esta reservado, sae ees texan, saath Pomeroy ee. Whore, Wl od Ser won in had stig, New Yo Sor ten Bok Be pp 138 2357 Gina vada nee fue be oe ‘sau, ca dee Ee teas stm de pee ft E aqui que entronca a tadigo dos estéicos romanos, pelo menos do ponto de vista filos6fico. Epicteto, umas dléca- das depois de Séneca morrer, ainda vai recuperar 0 t6pico das* mulheres comuns ¥, mas para Ihe acrescentar uma especifica- end ¢, 80 contirio do que the & habitual, fo, alo despi de algum mau gosto, pelo menos para os nossos ouvidos: diz, ele que, se as mulheres s20 feoricamente de todos, uma vez realizilo 0 casamento a mulher deve pertencer apenas 20 ‘maride, tal como cada pedago de porco pertence, num festim, 20 corviva que © sepautiu, tal como os lugares do teatro s40 de quem neles se sentou (Artiano, Epict. 114, 888). Como tudo 0 que no é simples e linear, a questo apre- senta aspectos divergentes que importa nao perder de vista se, por um lado, esta divisio tradicionalista dos papeis ¢ fun- oes estangues de cada um dos sexos vai perpetuando uma ceerta posigio subalterna, ou pelo menos de segundo plano, reserveda as mulheres, perspectiva a que se junta todo um aacervode conceitos moras e preconceitos moralistas que tanta fomuns tiverum entre os Romanos, por outro lado é muito a essa influéneia esidiea que se deve uma cada vez mais clara nogao do valor do cusamento e da educagio dos filhos como um aut@atico dever relgioso € patistico, sim, mas também moral ‘Séneca e a sua época Chegamos, assim, a Séneca e & sua Epoca, quando o estoi- -cismo se tsnsformou numa espécie de ‘religito de Estado’ ‘Uma pante sigaificativa das pessoas cultas e esclarecidas adept ou seguidora do estoicismo, mesmo que superficial- mente, pois tal doutrina era também sentida um pouco como ‘um ‘moda’, Para nao exagerarmos demasiado, muitos so os que procurim, com maior ou menor empenho, o carninho da saplenia que 0 estoicismo apontava, No tempo de Nero e dos seus untecessores Caligula e Cléudio, o estoicismo € ainda uma cespécie de refiigio, 0 de todos aqueles que tém de encontrar forga pars suportar @ arbitrariedade € a opressio, para viver um tempo em que « crueldade dos poderosos distribu‘a supli- ‘ios ¢ infamia as cegas quantas veres 20 sabor de caprichos. © estoicismo é, assim, também predominante entre os oposi- {ores a0 regime despotico dos principes. Na iminéncia da morte € do softimento, & na doutrina do Pértico que vio buscar € encontrar comgem, abnegagio, impassibilidade na dor, sere- nidade perante um futuro incerto e de sinistros augitios. Também muitas mulheres dessas familias mais esclareci- das, cada vez mais cultas e mais visiveis nos seus testemunhos de cotagem, aderem ao estoicismo € sio, tal como os homens, merecedoras de figurarem 20 lado de um Sécrates ou de um Catdo de Utica, 05 exemplos que, para 0s estdicos que consi- deravam ser praticamente impossivel atingiro grau maximo da perfeigio, mais se aproximavam do sapiens, do auténtico wir bonus, isentos de uitia e modelos de uirtus. Muitas delas sto exemplo de coragem perante a morte e o sofrimento, pois pre- ferem nao sobreviver & desgraca clos maridos e acompanham- nos no exilio ou na morte, Nestas mutheres podemos des- continar uma atitude diferente perante 0 casamento, sem dlvicla fundamentada no estoicismo. O que as une aos maridos &, muito para além do amor, um afecto que se aproxima do conceito da amicitia estéica, na comunhie de valores ¢ ideais, de liberdade, na nao submissio a prepoténcia alheia; o que as toma grandes € um entendimento novo, que o estoicismo Ihes traz, do seu papel junto do homem com quem parilham a vida © de quem querem ser companheiras também na mort. Transcendem, assim, 0 plano das matronae romanas dos tempos mais recuados, pois © conceito de honra enriquece-se agora ‘com a livre escotha de um destino comum, de um ideal que nem a iminéncia da desgraca e da morte faz esmorecer. Exempla femininos Algumas depressa se tornam exempla invocados, segundo os preceitos ret6ricos mas também filoséficos, sempre que se ‘quer ilustrar uma virtude ou um comportamento merecedor de clogio. Porque é filésofo ¢ escritor eximio, dle apurada forma- io recebida nas escolas de ret6rica da Roma imperial, Séneca came pl ees a fuse Sy ‘dhe de Cec ay 3 Tia desis rae in, ter de hse eo fie dees Fo, 1 ein re, tls mac t,t rep fab ee nes It eso di re at hes {etre 2 mom, Em ‘demulperr cna of Iagoge 7 Fac em onn "he Hy wa {he Bley Head 0 fs). em nde pare ‘evs Pid og Ss ge ae ino 15133) ib haa 1 23; Faeto dr 6 30 259

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