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Quem sobreviveri? Fundamentos da sociometria, da psicoterapia de grupo ¢ do sociodra Edigio do Estudante J.L. MORENO A DOUTRINA DA ESPONTANEIDADE-CRIATIVIDADE As PepRAs ANGULARES do sistema conceitual da sociometria so 08 conceitos universais de espontaneidade e criatividade. A socio- ‘metria tomou esses conceitos dos niveis metafisico e filosofico, tra- zendo-os para o teste empitico, por meio do método sociométrico, e apresenté-los é o primeito passo, dentro do sistema sociomeétrico, Espontaneidade e criatividade nao so processos idénticos ou similares. Sao categorias diferentes, embora estrategicamente vincu- ladas. No caso do homem, sua “e” pode ser diametralmente oposta fa. sua ** ou seja, uma pessva pode ler um alto grau de esponta- neidade e ser totalmente nao-criativa - um idiota espontaneo. Outra pessoa pode ter um alto grau de criatividade sendo, porém, inteira- mente nao-espontanea ~ um criador “sem bracos”. Deus é um caso excepcional, porque em Deus toda espontancidade tornou-se criati vidade. Ele 6 0 nico caso em que espontaneidade e criatividade so idénticas. Pelo menos no mundo experimental, nunca encontrare- ™mos espontaneidade pura, nem conservas culturais puras ~ elas si0 fungéo uma da outra. O universo é criatividade infinita, A definicdo vistvel da criatvi- dade é a crianca. A espontaneidade, por si mesma, nunca produziré ‘uma crianga, mas pode ajudar enormemente em seu nascimento, universo esté repleto de produtos da interacéo esponta- neidade-criatividade, lais como: @) 0 esforgo empregado no nascimento e na criagéo de novos filhos, diam 0s “ares” espontanciadee ratvidade, respectvamente,(N. do) <9 Ee ae os 8 Quen Sosnevivens? ») 0 esforgo empregado na criago de novas obras de arte (conservas cultura’); de novas institig6es socials (conservas sociais « esteredtipos}; de invengbes tecnol6gicas, méquinas e robés; ) oesforco empregado na ctiagéo de novas ordens sociais A espontaneidade pode fazer parte de um individuo dotado de criatividade e evocar uma resposta. Nasceram muito mais Michelan- igelos do que o pintor dos grandes quadros, muito mais Beethovens do que 0 compositor das grandes sinfonias, e muito mais Crstos do {que aquele que se tornou Jesus de Nazaré. Seus pontos em comum so a ctiatividade e as idéias criativas. J& © ponto que os separa é a espontaneidade que, nos casos bem-sucedides, possbilita 20 por- tador assumir a plena ulilizacdo de seus recursos, enquanto os que falham esto em falta com seus tesouros — eles padecem das defici- Zéncias de seu proceso de aquecimento. ‘A criatividade sem a espontaneidade torna-se desvtalizada. E vasia e tome-se abortva, & que sua intensidade vital aumenta ou di- mminui, conforme a quantidade de espontaneidade de que partiha. A espontaneidade e a criatividade so, entdo, categorias de ordem dife- rente; esta faz parte das categorias da substdncia ~é a arquisubsténcia ~e aquela pertence ds categoras do catalisador — é 0 arquicatalisador. (O destino de uma cultura é tracado pela criatividade de seus pportadotes, mas nunca se estabeleceu a criatividade como uma refe- rencia cientifica, © que implica a falta de uma base para criticar suas dlistorgbes, Se tuma enfermidade das fungdes cratvas atormentou © ‘grupo primitivo ~ os homens criativos da raga humana ~ entéo é da ‘méxima importincia que o principio da criatividade seja redefinido e {que suas formas distorcidas sejam comparadas com a criatividade em suas condiges originals. Hé obras que sobrevivem a seus criadores e que acabam domi- nando os padrées da cultura humana, uma vez que determinados processos teenol6gices conservam-nas. Essas conservas podem pe- netrar a came do artista e controléio desde seu interior, como € ‘caso do ator, por exemplo, ou proporcionar produios tecnolégicos ‘om um determinado contetido, como é o caso dos livros. Podemos imaginar um periodo da civilizagéo antes de essas obras terem sido ddescobertas. [A.cOUTRINA DA ESPONTANEIDADE-CRIATIVIDADE Hé conseruas cuiturais que subjazem a todas as formas de ati- vidades criativas ~ a conserva do alfabeto, a conserva dos niimeros, & conserva da linguagem, as notas musicais - as quais determinam nos- sas formas de expresso criativa. Elas podem operar, num dado mo- ‘mento, como uma forca discipinadora; em outro, como um obstéculo. E possivel reconsttuir a situacéo de ctiatividade anterior as conservas que dominam nossa cultura. © homem pré-conserva' — 0 hhomem do primeiro universo ~ nao tinha notagées musicais para re- istrar as experigncias musicais de sua mente, tampouco notagoes al- fabslticas para escrever seus pensamentos e palavras. Ele ndo possuia simbolos matematicos que pudessem transformar-se em linguagem bsica para as ciéncias ‘Antes de ter feito uma selecéo a partir da massa inarticulada de sons e vogais que se transformou em nossa linguagem, ele deve ter tido uma relagéo diferente com o processo de criatividade do homem moderna, se nao na origem, certamente na expresso e no registro. ‘Quando removemnos de um ator, por um processo de descon- servacéo, uma conserva apés outa, e nada permanece senao sua ppersonalidade desnuda, fica mais fécil compreender o homem pré- conserva. Ele deve ter sido quiado pelo processo de aquecimento inerente ao préprio organismo ~ sua principal ferramenta, isolada no espaco, ainda néo especializada, mas que funciona com uma totali- dade e que projeta a visio de sua mente em expressbes faciais, sons ‘e movimento. ‘O denominador comum de todas as formas de conservas cutu- rais, nas quais a cultura especializou-se gradativamente, deve ter sido ‘uma espécie de psicodrama. Os sons por ele emitdos,originalmente, um recurso simples para tomar uma situacdo vital o mais expressiva, possivel, desenvolveram-se gradativamente no residuo fonético do primeito alfabeto selecionado em detrimento de outros sons. Na fase preparatdria de cada obra cultural especifica, encon- tramos vestigios da técnica pré-conserva do psicodrama, As inspira- «Ges que levam o homem criativo a produzir uma obra cultural so ‘Fomem préconsea e primero unveso so concels relatwes, consderando-t a ‘nares de veriedads de catra pos quas a humaniade peswu. Cada homem mie Conserve er uma conserva de um anteror,e cada primo univers ere um segundo Citerso pare um univer ainda mas antigo, asim pr dante, a fit osisTemal SOCIOMETRICO | <9 38 oF 98 8 ‘Quen Sosnevivend? esponténeas. Quanto mais original e profundo é o problema que um ‘genio se prope, mais ele é levado a usar, assim como o homem pré conserva, a propria personalidade como ferramenta experimental, e a situagdo de seu entomo como matéria prima, F A luta contra as conservas culturais é uma caracteristica mar- ‘ante de toda nossa cultura. Ela expressa-se nas vérias maneiras de se tentar escapar das conservas. O esforgo para fugir do mundo con- servado aparece como uma tentativa de voltar ao paraiso perdido, 20 primeiro universo do home: universo este que, passo a passo, foi substituido e ultrapassado pelo segundo universo, no qual vivernos atualmente. E provével que todas as conservas culturais sejam o resultado das enormes abstragées desenvolvidas pela mente conceitual huma- na, na luta por uma existéncia superior. Pouco a pouco, a abstragéo foi saindo dos desenhos das coisas para as letras do moderno alfabeto para os mimeros da aritmética & ‘A paulatina abstracéo e diferenciacéo de sons abriu campo as notas musicals. Porém, o ponto em comum entre o Beethoven de luma cultura pré-conserva e o Beethoven de nosso tempo deve ter ‘sido 0 nivel de espontaneidade da criagéo, a qual, entretanto, foi fixa- da pelos dispositivos que dominam nossa cultura e foi, talvez por essa tazao, mais poderosa que nossas produgées atuais, ainda que, por ‘outro lado, menos articulada e menos disciplinada. AA espontaneidade opera no presente, isto é, aqui e agora; ela impulsiona 0 indviduo na ditegdo de uma resposta adequada a uma nova situagéo, ou a uma nova resposta a uma velha stuac&o. Estrategicamente vinculada, por um lado, a duas ditegbes opostas, a0 automatismo e & reflexividade, e, por outro, & produtividade e & criativdade, a espontaneidade 6, em sua evolugéo, anterior a libido, meméria ou & inteligéncia. Ainda que mais universal e mais antigo do ponto de vista evolutivo, ¢ 0 menos desenwolvido dos fatores que operam no mundo humano. Dos recursos culturais, é 0 mais fre- Alientemente desencorajado e restito. Pode-se atribuir boa parte da psicopatologia e da sociopato- logia humanas ao insuficiente desenvolvimento da espontaneidade, uo “treinamento” é a melhor habilidade a ser ensinada aos teapeu- tas de todas as nossas intituigGes de ensino. Eé tarefa deles ensinar ‘A. DOUTRINA D& ESPONTANEIOADE-CRIATIVIOADE 5s seus clientes a serem mais espontaneos sem se tornarem excessivos Hé ampla evidéncia de que a espontaneidade da crianca tem {alguma relagéo” com sua chegada ao mundo. Durante a gravidez © bebé se aquece para o nascimento, eo tempo de gestagao € deter. nado pelo genétipo do feto e néo pela contengéo da mae. A erianga deseja nascer. O nascimento € um processo primitivo e criativo. E tals positivo do que negativo, mais saudével do que patol6gico, 6 mais uma vitria do que um trauma. A ansiedade resulta da “perda” da espontaneidade * ‘A espontaneidade propicia um grau variével de resposta satis fatéria do individuo em uma stuacdo de novidade também de gradu. agéo varivel. O processo de aquecimento é a expresséo operacional da espontaneidade. A espontaneidade e o processo de aquecimento atuam em todos os niveis das rlagées humanas: a0 comer, ao andar, 20 dormit, no relacionamento sexual, na comunica¢ao socal, na cra. tividade, na auto-tealizacdo religiosa e no ascetismo. Uma importante questao teérica é a posicéo do fator“e” numa teoria universal da espontaneidade. Esse fator aparece somente no grupo humano, ou a hipdtese “e” poderia ser estendida, dentro de Certos limites, a grupos néo-humanes, como os animaisinferiores @ ‘8s plantas? Como ¢ possvel coniliar a existéncia do fator“e” com a iia de que uma lei mecénica governe o universo, como, por exen. Plo, a lei da conservacéo da energia? AA idéia da conservacio da energia forneceu o modelo de “in. onsciente” de muitas teorias psicoligicase socais, tis como a teoria Psicanalitca da ibido. De acordo com essa teora, Freud pensava que, $ 0 impulso sexual néo encontra satisfacéo em seu objeto dite ele Aleve deslocar a energia ndo utiliza para algum lugar. Essa energia deve conectar-se, assim pensava ele, a um locus patol6gico ou entio ncontrar uma saida na sublimagéo. Freud ndo podia conceber urn Aeiio de esvaziamento do néo utiizado, porque estava contaminado Bela idéia da fisica, de conservacéo da energia. Se féssemos adotar aqui esse conceto de energia edeixéssemos the considerar as eternas inconsisténcias no desenvolvimento dos fe- Inbmenosfsicos e mentais,triamos que considerar a espontancidade Mo csr alos etre ansedadee expontancidade, ver pines 261.264, osistemal SOCIOMETRICO| ‘osisrema| SOCIOMETRICO. 56 ‘Quen Soonevivenat ‘como uma energia psicolégica — uma quantidade que se distribui num ‘campo que, ce néo eneontrasse auallzacao numa determinada dire- ‘Ho, fluitia noutra, para que seu volume fosse mantido e consequisse equilibrio. Terlamos, também, de assumir que o individu tem uma quan- tidade de espontaneidade armazenada, & qual ale acrescenta ¢ a qual ele consome a medida que vive, Para viver, ele retira do reservatério pode usar toda ou mesmo retrar a mais. De acordo com a pesquisa da espontaneidade, tal interpretacdo 6, entelanto, insatistatéria, pelo menos no que diz respeito & cratvidade humana, "Nossa teonia ¢ a sequinie: 0 individuo néo é dotado de um re- servatério de espontaneidade, no sentido de uma quantidade dada, estével. A espontaneidade esti (ou ndo) dispontvel em graus variados de prontidéo (do zero até o maximo), operando como um catalisador, esse cato, quando se ve diate ce uma situacao nov, oindi- viduo nao tem nenhuma alternativa a ndo ser usar 0 fator “e" como ‘um guia ou uma lanterna que o orienta a respeito das emogdes, pen- ‘samentos e ages mais apropriados. As vezes, é preciso mobilizar mais espontaneidade: outras Vezes, manos; de acordo com ac necessidades da situacéo ou tarefa, ( individuo deve ter cuidado para no produzir menos do que a quantidade necesséria de espontaneidade - se isso acontecesse, ele necessitaria de um “teservatério” a que pudesse recorrer. Da mesma forma, ele deve cuidar-se para néo produzit mais do que a situagéo ‘exige, uma vez que 0 excesso poderia induzi-lo @ armazenat, para Constituir uma reserva, conservando-a para tarefas futuras, como se fosse energia, Desse modo, completaria um citculo vicioso que termi- nara com a deterioragéo da espontanetdade e o desenvolvimento de conservas cuturas. ‘A espontaneidade funciona somente no momento em que emerge, da mesma forma que, metaforicamente falando, quando se acende a luz de uma sala, toda a sala tora ce visfvel, Quando se ‘paga luz, porém, apesar de a estrutura bdsica da sala permanecer ‘a mesma, perde-se uma qualidade fundamental, Allei da conservacdo da energia, pertencente a fisica, foi aceita ‘como uum axioma universal em muitos centros, durante a segunda, 'metade do século XLX. Muitos cientistas importantes consideravam a A. 2ouTRIA OA ESPONTANEIDADE-cRIATWI 87 energia, om todas as suas manifestagées, como se fosse urna quan- tidade de 4qua num copo. Se a agua desaparecesse totalmente ou ‘em parte, ndo teria evaporado. Ela deveria ter sido consumida, der- amada ou transformada em algo equivalente. Eles acreditavam que © volume de energia que ela possufa originalmente dloveria ter sido Constante em algum ponto do proceso. De modo semelhante, Freud partia do pressuposto de que a energia libidinosa deveria manter-se constante. Caso o fluxo dessa energia fosse interrompido e frustrado em seu objetivo, ele deveria fluir para outro lugar e encontrar uma nova maneira de expressar- se, tal como a agressio, a substituicao, a projecéo, a regresséo ou a sublimacao, Esses fendmenos que aparecem na superficie, aparentemente isoladns, poderiam entéo cer expressos em termos de uin princfplo Linico —a energia libidinal. Ness sistema fechado ~ psicodindmico ou sociodinamico ~ ndo ha lugar para a espontaneidade. Se a energiali- bidinal deve permanecer constante, o determinismo sécio-psicol6gico € absoluto. Como néo se admite a influéncia de tum fatnr como a es- Pontaneidade, os fatores psicodinamicos ou sociodinamicos respon- sévels por uma determinada manifestagéo comportamental devem ser procurados num passado cada vez mais remoto, uma vez que 0 ‘omportamento nao pode telacionar-se com eventos do presente. (Os resultados das pesquisas sobre espontaneidade tomaram desnecessérios esses sistemas forcados. A unidade e a universalidade dda explicacao por eles oferecida tomnaram-se um prego muito ato a ser Pago, ié que conduzem a uma supersimplificacéo da interpretacéo ea luma perigosa inércia, de modo que comprometa o desenvolvimento Ade novos métocios de experimentagdo e de descoberta de fatos Enquanto se tinha apenas uma nogéo vaga, mistica e sagrada sobre a espontaneidade, esses sistemas rigidos puderam prosperar A{uase sem concorréncia. Entretanto, no momenta em que ela surge ‘hevitavelmente como um conceito vigoroso, como um agente clara- Mente identificdvel e mensurdvel, a maré comecou a mudar em favor de sistemas mais flexives O principio que inspira a sociometria sdo 0s conceitos géme- 1 cle espontaneidade e criatividade; porém, nao como abstragées, Ms como uma fungéo em seres humanos concretos @ em seus <3 =o be a oo a ‘Quen SoanevivenA? relacionamentos. Aplicados aos fendmenos sociais, esses conceitos mostram que os seres humanos no se comportam como autéma- tos, mas que sao dotados de graus variados de iniciativa e de espon- taneidade, ‘A assim chamada estrutura socal, que resulta da interagéo de dois bilhdes e meio de individuos, nao pode ser percebida. Ela néo é dada’ como uma imensa configuragéo visual, como, por exerplo, a configuracéo geoarética do globo, mas, a cada momento, é ocultada «e modificada por fatoresinterindviduaise coletivos. ‘Se hé algum principio primério no universo mental e social, cle encontra-se nesses conceitos gémeos, cujarealidade aparece mais claramente no interjogo entre pessoa e pessoa, entre pessoa e coisas, ‘entre pessoa e trabalho, entre sociedade e sociedade, entre sociedade @ 0 todo da humanidade. ‘O fato de a espontaneidade e a criatividade poderem operar em nosso universo mental e produai niveis de expresséo organizada ~ no totalmente vinculada a determinantes precedentes ~ leva-nos a reco- ‘mendar 0 abandono ou a reformulagdo de todas as teorias psicol6gieas « sociolégicas em voga, abertas ou tactamente baseadas na doutrina psicanaitica, como as teorias da frustracto, da projegdo, da substitu (0 eda sublimacéo. Essas tories precisam ser reescitas enovamente testadas, com base no pressuposto da cratvidade-espontaneidade. ‘Na teoria da espontaneidade, nao se descarta a energia como ‘um sistema organizado de forcas psicolégicas. Ela reaparece sob a forma da conserva cultural, mas, em vez de estar no nascedouro, isto 6, no inicio de cada processo, tal como a libido, situa-se no fim do processo, como produto final. A energia é considerada em sua relatividade, no como a forma final, mas como um produto intermediéro, que € tearranjado de tempos em tempos, reformulado ‘ou completamente superado por novos fatores de espontaneidade que atuam sobre eles. E na interacao entre a espontaneidade-cria- tividade e a conserva cultural que se pode harmonizar, de alguma maneira, a existéncia do fator “e® com a idéia de um universo cons- tituldo por leis permanentes, como, por exemplo, a lei da conserva- go da eneraia, (© canon da criatividade tem quatro “fases’ cratvidade, es- ppontaneidade, aquecimento e conserva (ver diagrama na pgina 60), A DOUTHINA Of ESPONTANEIOADE-CRIATIVIONDE A espontaneidade ¢ 0 catalisador. A criatividade é 0 “x” ele- mentar, que nao tem nenhuma conotacéo especializada; 0 “x” que deve ser reconhecido por seus atos. Para se tornar efetivo, necesita {como a bela adormecida) de um catalisador - a espontaneidade. A manifestagao operacional da interagéo espontaneidade-criatividade € 0 processo de aquecimento. Até onde se sabe, 0s tinicos produtos dessa interacao sao as conservas. O universo é criatividade infinita. Mas o que é a espontanei- dade? E um tipo de energia? Se quisermos garantir a consisténcia do significado de espontaneidade, se for energia, é uma energia ndo- conservdvel. E necessario, portanto, distinguir duas variedades de energia — uma conservavel e uma nao-conservavel. Hé uma energia que é conservavel, sob a forma de conservas “culturais”. Ela pode ser ‘economizada, pode ser gasta & vontade em determinados lugares € usada em diferentes momentos; como um robé & disposigao de seu dono. Ha uma outra forma de energia que é utilizada num dado mo- mento. Ela tem que emergir para ser utilizada e deve ser utilizada para que possa emergir, assim como a vida de alguns animais que nascem morrem no ato de amor. [Nao é preciso dizer que o universo nao pode existir sem energia fisica e mental, que devem ser preservadas. O mais importante é dar-se conta de que, sem o outro tipo de energia ~ a ndo-conservavel, ou a ‘espontaneidade ~ a criatividade do universo nao se desencadearia e indo teria curso. Ela paralisaria. ‘Aparentemente, hé pouca espontaneidade no universo, ou, pelo ‘menos, se existe abundancia, somente uma fnfima parte esté a dispo- fico do homem; pouco mais do que o necessério para manté-lo vivo, No passado, o homem fez de tudo para desencorajar o desen- Volvimento da espontaneidade. Ele néo poderia confiar na instabi- Hidade e na inseguranga do momento, com um organismo que néo stava pronto para lidar com o momento de modo adequado. O ho- mem encorajou o desenvolvimento de recursos como a inteligéncia, a memria, as conservas sociais e culturais, que lhe dariam o suporte Hecessdrio. Em decorréncia disso, el foi se tormando, gradativamente, ‘eicravo das proprias muletas. Se existe uma localizacéo neurol6gica do proceso de espon- iidade-criatividade, trata-se da fungéo menos desenvolvida do osisTemay SOciomeTRICO| osisrema| SOcioMETRICO! ‘Quen Sosnevivena? CANON DA CRIATIVIDADE ESPONTANEIDADE-CRIATIVIDADE-CONSERVA ‘CAMPO DA CIRCULARIDADE OPERACIONAL ENTRE ESPONTANEIDADE-CRIATIVIDADE-CONSERVA ‘CULTURAL (E-C-CC) (CC conser ctrl (ou quluer outa conser; pe uma comer open, ju orgnismo anil ou ua conserva atu ean fn me ot ‘ob ov uma ladon). aeutcmento fa expesto opera a esontania). © chet represent o campo de operses do Ce Ck Operatic’ Aeopontantae eins cratidade, CS C pera A erated recep expomtaneiade, © E<—C eratioIi:Desi nerapo recta os cnservs cura CO E-> C->> CC perso IV AS conserva se scum lnenidamece penne utara fares rence ocatakadr espontnice Fev Coron ce E io functor no vcu,movendo-e aa direiod crave, orn regio das coteras Opera a in ‘Spontaneidade-Cratvidede-AquecentorAto snc ‘A DOUTRINA DA ESPONTANEIDADE-CRIATIVIDADE “ sistema nervoso humano. O problema é que nao se pode armazenar @ espontaneidade - ou a pessoa é espontanea, num dado momento, ou néo 6. Se a espontaneidade € um fator to importante para a vida ‘humana, por que é téo pouco desenvolvida? Eis a resposta: o homem fem medo da espontaneidade, da mesma forma que seu ancestral, na floresta, temia 0 fogo; ele temia o fogo até que aprendeu a produzilo, Desse modo, o homem continuaré a temer a espontaneidade até aprender a treind-la, Quando acabou o século XIX e se fez um balango final, o que ‘pateceu como sua maior contribuigdo para as ciéncias sociais e men. tals foi, para muitos, a idéia do inconsciente e suas catexias. Quando © século XX fechar suas portas, o que vai aparecer como sua maior tealizagSo, acredito eu, é aidéia da espontaneidade e criatividade, as- ‘sim como o indelével e significativo vinculo entre ambas, Pode-se 42er que 0s esforgos dos dois séculos complementam-se mutuamente ‘Se.0 séeulo XIX procurouo “minima” denominador comum da uma. niidade ~ o inconsciente —o século XX descobriu, ou redescobriu, seu “maximo” denominador comum — a espontaneidade e a criatividade LIVROT OsisteMa| SOCIoMET RICO

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