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André de Carvalho Ramos RESPONSABILIDADE . INTERNACIONAL POR VIOLACAO DE DIREITOS HUMANOS RENOVAR Rio de Joneiro « Se Paulo 2004 To:2T et0Z-90¥-90 perativas ‘Titulo Il Direito Internacion: Aterci A teoria geral da responsabilidade internacional do Estado 1. Aresponsabilidade ponsabilizacao do Este | Estado. wolugae histérica do conceito juridico da responsabi que 0 conceit mento € as conseqiié idade dependem do grau de coesdo social e da idade juridica como sendo a eito de Direito de efeito do ordenamento | juridico, quando sucede determinado acont eracio da esfera juridica de outre 0 de conse as conseqiiéncias no 1 O termo “responsabil erbo res tia. Com efeito, em rece! ‘estado de lagi da norma Por outro lado, 0 conceito juridico de resp ificado pela afirmacio da prépria natureza do ser humai Com efeito, para LARENZ, o ser humano tem o direito + respeitado enquanto pessoa e nao ser prejudicado em existéncia.®® Em \quisigao da persona- 10 sobre a respons ssabilidade € tras palavras, d: Larenz para a chamada ‘c Tow eTOZ-ON¥-90 lidade defluio direito a ser titular de direitos, para empregar- mos a expresso de HANNAH ARENDT. Ora, com isso, podemos dizer que, como resultado desse reito a ter direitos’ 0 direito ao respeito dos n Assim sendo, a responsabi elementos do conceito de pessoa, Direito nao pode desconsiderar. De fato, ter responsabilidade significa aceitar sobre si as conseqtiéncias do préprio atuar e responder por elas. Trata-se de um fenémeno bisico da existénc 1 que é, indiscutivel- mente, um fato aprecidvel da consciéncia humana. A pessoa que sabe responsivel de sua acio e de suas conseqiiéncias as puta a si mesma afete. mos lade aparece como um dos m fato da vida a0 qual o nao as afasta como Igo que nao sas0, para propanerse obj uacién”. Ver in LARENZ, Kail. Derecho Ci Editorial Revista de Derecho Privado, 1978, traduzide do ori 10 Aligemeiner Teil des dewaschen Biirgerlichen Rechts, 3° Munique : C.H. Beck’sche, 1975, p. 44 Como salienta Celso Lafer, na andlise do pensamento de 2 primeiro direito humano, do qual deri direito a ter direitos, direitos podem ser ei apenas a cida humanos — um didlego co de Hannah Arendt. Sao Ver in LARENZ, Karl. Derech Parte Gen ado, 1978, tra Teil des deutschen Biirgerlichen Rechts, 3° edich Beck'sche, 1975, p. 50 rT o alguém reconhece haver feito injustic outr -cessidade de separar do outrc conseqiiéncias por me reparacao devida. Ao mesmo po, aquele que sofreu o dano exige a reparag Portanto, quai reconhece também a Ou, conforme sustenta LARENZ, ter responsabilidad to responsivel é um privilégio e uma carga da pessoa. Nesse diapasao, podemos citar PONTES DE MIRANDA, que afirma estar a responsabilidade inserida no quadro das 1as de adaptagdo social pelo homem.” Dissemos pelo homem porque no necessariamente o objeto da responsab Ver in LARENZ, Karl. Derecho rasamente socioldgica,e co cies sociais de responsal |, 2° ediclo, Ri 59 zowt eT02-Bn¥-90 icas aos individuos, fundamento da relagao juridica deno: nada relagdo juridica de respeito, base de todas as demais, € que vincula todos os membros d fdica in- distintamente, permitindo a concresio, pacifica e adequad 40s seus préprios fins, das outras relagées sociais e juridicas.° A adaptac3o do homem ao seu mundo ¢ feita através da manutengio do equilibrio do mesmo em face de seus seme- hantes. Servigo e remuneracio, dano e prestacéo do equiva- lente, crime e pena sio elementos assaz conkecidas e que, por isso mesmo, dispensam de longas consideracées sobre o prin- cipio da equivaléncia. A responsabilidade atende ao pri da equivaléncia, que prové esse equilibrio.® PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privad Editor Borsoi \cepgio, & a base ca, Ver in LARENZ, Ki Revista de Derect ge ua o autor afirmando que 2, lo stesso r iposizione del car le — diverso dal ica na aceitagao das co partir da constatagéo de uma causa e de seus 2. Os fundamentos da responsabilidade Consideramos que 0 Direito & composto de trés grandes jos relacionados com a responsabilidade. Além do alte- n laedere, ha ti Pi r bém o honest n nente e dara cada u 0 que és jrmulas romanas. Esses pr conforme consagrado nas ios informam t do 0 traba ho do legislador, que os concretiza nas no bilidade. A responsabilidade deriva d. s de responsa- imputagio de conseqiiéncias ia de um suporte fatico (formado sempre pela violacio da jurfdica de uma pessoa, causada por um fato, ou por um Iguém que ndo a pessoa lesada), © nexo causal entre 0 fato, ou 0 ato, € 0 dano, e ainda eventualmente idico trasferisce la sua riparazio svantaggio del re del dar tale soggetio (res: idica volta a porre Ver in CU: PIS, Adria 1970, p. 14e 15, 61 zowt ETOZ-DN¥-90 a responsabilidade é expressa pela sey nte ca nto danoso Provocado por alguém que ndo a pessoa lesada, e, estando ausente 0 vilido consentimento desta® — ao que pode o ordenamento jir a cumulacao de mais algum ele- mento como, por exemplo, a culpa do agente —e, sobre este Suporte fitico incide uma regra determinadora do dever de reparacio, fazendo com que o referido suporte fético entre no undo juridico; deste fato juridico, exsurge a conseqiiéncia imputada, qual seja, o dever de reparagio imputado a alguém, ndo necessariamente ao causador do dano, Sobre esse suporte fatico incide uma determinada regra, varivel de acordo com 0 caso concreto, que daria entrada ao mundo juridico do suporte fatico, apés o qual terfamos um fato juridico. Desse fato juridico emana uma relagao entre o autor da conduta lesiva o titular da posi violada, que tem por objeto a pretensio de repara indenizagao deste em face daquele. A responsabi ustamente a possibilidade de figu- rar no pélo passivo desta relagao juridica cujo objeto € a Pretensio reparat6ria ou indenizat6ria (ou ainda punitiva no aso da responsabilidade criminal). deia de ele entos: ocorre um determinado e ridico e: ou de Hé direitos ispontiveis cuja violasio pode ser permitida pelo titu 120 poder de disposi esponsabilidade os atos de Na magistral ligio de Andreas v los autores se avienen en que las dos expressiones pueden y en emplearse para expressar conceptos distintos; pero el © fenémeno idade, no caso concreto, é definido como a relagdo juridica entre duas partes, aquele que foi lesado (01 0 titular da pretenséo ao ressarcimento do dano, pois podemos pensar numa cessdo da pretensdo repara- tria) ¢ aquele que deve reparar o dano (nio necessariamente provocou o dano) pois adota-se a concepgio ger minica que distingue dever juridico de abstengo da conduta causadora de danos & outrem e responsabilidade (Schuld & Haftung). écnicamente, porgs una designacién breve para indicar la situacién juridica del pat del deudor expuesto ala aprehen- sign del acreedor, y la palabra responsabilidad, en este ser TUHR, A. Derecho Civil, trad. do origin igerlichen Rechts por Tito R Cédigo C cengendrada por manifestacies de vonta- de € regrada nos livros IV e V, enquanto a responsal patrim foi disposta no Livro VI, respeitante a tutela dos direitos. “Tale tuazion ne, pur relega tale di quella; una strumenta isponde’ dell'ad smoniale é dunque stru- 0 del creditoree, precisamen n caso di mancato spontaneo adem} lo strumento del quale egli pud valersi parte del debitore. In qu dirirto, non @ elem zoxzt et02-9¥-90 Nao € 0 dever jurfdico de abstencio de conduta de danos 8 outrem que consubstancia a responsal sadora idade. A responsabilidade, pelo contrério, é a titularidade passiva da pretensao reparatéria ow inden ma relacdo juridica (de Direito Internacional, de Direito das Obrigagées, ou de Direito Administrativo, ou de Direito Constitucional, conforme a topologia da regra incidente) é diretamente decorrente de uma norma (com o qual ressalta- mos que somente normas, escritas ou nao-escritas, podem atribuir posicées juridicas). Cumpre assinalar que ti conformada pelas regras relagao juridica é informada icas sobre 0 caso (v.g., 0 da responsabilidade por culpa ou objetiva) e que, por sua ver, so projeges de principios mais abstratos, sendo o honest vivere, alterum non laedere, buere A responsabilidade, na Stica do direito objetivo, aparece como a feigao essencialminte garantidora da ordem juridica A imputacio do dever de indenizar quando houver causado dano a outrem importa em atribuir conseqiiéncias desfavor’- resumidos, como m cuiqu tri Pietro. Codice Civile — Annotato con la dottrina ¢ la giurisprudenza, vol VI, Napoli : Edizioni Scier 191, p. 229 e p, 230, Diez-Picazo e Antonio Gullon apresentam ponto de vista distinto janto a relacdo entre débito e responsabilidade. Para eles: “Deuda y responsabilidad son dos ingredientes institucionales del fendmeno de ia én, que no consticuyen relacic nomas y distin tas. La responsabilidad slg enc icacién através de l idea previa de deber juridico. Se es responsable porque se debe 0 se ha debido algo. No existe responsabilidad sin previo deber, y un deber qu caso de responsabilidad” . DIEZ-PICAZO, Li , Antonio. Sistema de Derecho Civil. vol. 2, Madri: Editorial Tecnos, 1978, p. 90. 64 aga da esfera ; ee existncia desse dever universal de “nfo violacto! da a, sobre o qual pende a hipdtese da sangio, teresses de todos, pos- bens juridicos. quele ma garantia da orden 4 manatengdo do equi eda equiva 3 -membros da comunidade internacional, 0 que, de ni mundo de Esta- ncia entre os Estad = resto, mantém possivel a cooperacio em ut dos interdependentes.! de veparar os danot cansades out ia do fato day necessidade de colecar 0 ofendido na MOTA PINTO, Carlos Alberto da. Teoria Geral do Direito Cis rposta pela lei a situagdo em que estaria se? La Haye (1984), p.110. c0wT eToz-DA¥-90 3. O conceito de responsabilidade internacional!®! do Estado é um conceito or diversos autores’? como sendo ur a © uma institui¢go pela ece as consequéncias da © Direito Internacion: jolagao de suas normas. Sobre 0 tema literatura internacio of the Law of Nations Press, 1983, ANZILOTTI, tionale des Etats a raison de étrangers”, 13 Ri rale de Dr dade internacional do Estado, a entre outros, BROWNLIE, Ian ate Responsibility. Oxford D., “La responsabilité dommages soufferts par des I responsabilité des Etats pour faits inter que pour faits jement SALMON, Jean. La responsabilité f Jimenez (org.). La spectos de derecho privado — XIII Jor echo ii Alicante, 1990, Entre os pioneiros na delimitacio do conceito de responsal internacional do Estado devernos citar Hugo Gréci Jure belli ac pacis (1625), eleborou consideracaes sobre o ressarcimen: todo dano por ato principios da Heffter, que sistema Conferir in BROWNL Oxford lo do tems pela primeira vez em 1840, ie Law of Nations — State , 1983, p.7. 66 = nas relagées internacionais, assim como no Dire' 9, a invasio da esfera juridicamente protegida de um 9 Internacional por outro acarreta a responsa- De fa tointer sujeito do Dit pilizacdo do altimo. ‘A responsabilidade é caracteristica essencial de um sistem ridico, como pretende ser o sistema internacional de regras de Conduta!®, tendo seu fundamento de Direito Internacion: principio da igualdade soberana entre os Estados." ccmperementoadotado. Ver n BADESVANTT, Jl Sire, 1960, p. 540. p. 527. Neste ferduzo afirma que "de la os Ou segundo Dupuy, Jormellement d'une égale souveraineté 4 der a Vautre de "répondre” de ses acts, cest-a-diredéte resp Ver in DUPUY, Pierre-Marie. “La responsal Etats’, 188 Recueil des Cours de WAcademie de Droit Internat La Haye (1984), p.109. ‘a IRINEU STRENGER q tre Estados 1 do ia de tddas prerrog. oes f sobre a reitos e deve- res. A responsabilidade dos s 6, pois, na orden 0 coroldrio obrigatri de sua igualdade.”” aldade en sa esta sober reconh para si um para outro Estado. A universal reconhece ito Internacional uto da responsabilidade inter- al do Direita Internaci dade sobes jonal do Estado uma obrigagio internacio: é intern Nesse de internacion: deira obrigacio de reparar os danos oriundos de v norma do Direito Intern ‘Aponta IAGA que essa obrigacio é wsequéncia imediata e automdtica da violacdo de um iacional.""” No mesmo diapasio posi THUTIM, que sponta que « rempeacsblllete bssecgact aparece sob a forma de obrigacio de reparacio de toda vi cio de direito cometida por um Estado em face de outro. ra SCELLE, ACCIOLY, entre outros, a responsabi do Estado é uma situagao juridica criada pelo PUF, 6° ed, 1983, p. 40. 12 Entre os autores desta corrente, cowr eTOz-onv-90 para AGO, a responsabi lo vem a ser a situagdo de wm sujeito de Direi em face do qual outro sujeito de Direito Interna direito a rep Além disso, outros auto es, como ROUSSEAU, véem a onsabilidade internacior lo Estado como uma ins: $f jurédica em virtude da qual o Estado infrator deve repara $40 a0 Estado lesado.' O projeto de convencao internacional sobre a responsab internacional do Estado da ONU, por sua vez, nio se a com definigées doutrindrias. Pelo contrério, a Co. missdo de Direito Internacional preferiu nao definir o concei to da responsabilidade internacional do Estado em seu projeto de convengio internaciona seu nasc Ass sobre resp Internacional da ONU, qu do Estado acarreta ptando pela 113. Ver o clissico estudo de Agt AGO, ternational 14. Ver in ROUSSEAU, C Dalloz, 1984 70 scida a responsabilidade, passa 0 projeto a jementos e seu contetido, isprudéncta internacional, por se idade intern: e iio geral do Direito Internacional.'"" O principio pel a do Estado que caracterize um fato ito acarreta a responsabilidade inter- turn | qualquer condu ernacionalmente ade do Estado consolidou-se no Direito Internacional gracas a uma série de casos internacio: nais que atestou a existéncia de um principio de Direito nhecido pelos Estados de responsabilizacio ROLIN, Henry Recueil des Cours de 18 No caso dos bens br port E10z-On¥-90 no caso do S.S. "Wi Permanei reit firmou to Corte I ser um principio de Di- + descumprimento de jente de Justica Internacional consagrou dos fatos envolvendo a Fabrica de h Interna- cional, do Estado infrator de eliminar todos os danos causa- dos. Com efei Igamentos, 2 Corte Per interpretou a Convencio em uma série de j manente de Justiga Internacion: relat ida entre a Alemanha e a Polénia, bo patrocinio da Liga das Nacées ¢ assinada em 1922, ain: sob o signa da rendigio incondicionada do Reich na I.a Guer- Mundial. Nesses casos, abordou-se o direito da Polénia de propriedades m Chorz6w) de al base no a Alta Silésia conclu a fabrica de nitrato Jes no novo territério pi 05 dispositivos da Convengio. Como assinalou a Corte nente de Justica Internacional, o Estado deve, na mé: 1a extensdo possiv ato ilegal ¢ reestabelecer a si toda Corte Pen CLI Series A,n caso 0 citado ato nao ho probabilidade, um Estado 1938, a Corte deliberou que, quand ‘ernacional em face de outro Estado, ional é estabelecida imediatamen- te entre os dois Estados. ‘A Corte Internacional de Justiga, por seu turno, faz men- 20 principio da responsabilidade internacional do Estado do Estreito de Corfu", no parecer consultivo de 1949" (Reparacio por danos sofridos a servico da Organiza- ao das Nacbes Unidas) e também em seu parecer consultivo Ge 1950 sobre a interpretagao dos tratados de paz com a |, Hungria e Roménia, no qual foi estabelecido que @ recusa ao cumprimento de uma obrigacdo convencional gera a responsabilidade internacional do Estado. factory at Chorzéw (Jurisdic ho de 1927, P.C.LJ. Series A 2° 9, p. stiga Internacional, Case concerning the facto Igamento de 13 de Setembro de 1928, le 1949, ICI Reports de Justica, Reparation for Injuries Suffered ied Nations, Parecer Consultivo de 11 de abril de “J Reports 1949, p. 184 refusal to ful a treaty obligatio ‘yo: ETOz-DN¥-90 Observadas essas definigées doutrindrias e jurispruden adot ‘6ria de COTTEREAU, aceita ser a responsabilidade internacional do Estado tanto idica, obrigacdo, instituicéo ou mes eral do Direito Internacional principio Em esséncia, a responsabilidade internacional do Estado é uma reacéo juri ficada como sendo instituigao, io geral de direito, obrigagdo jurtdica ou mesmo situa a pela doutrina e jurisprudéncia, na qual 0 Direito nal justamente reage as violacées de suas normas, fica, qu obrigagao secundaria As normas primérias contém obrigagdes de Direito Inter: nacional cujo descumprimento enseja a responsabilidade in teacional do Estado. Ja as normas secundérias sio regras abstratas que tém por objeto determinar se houve violacao de de Justica, Interpre peace treaties with Bulgaria, Hungary and Romania (Second recer Consultivo de 18 de julho de 1950, JCJ Reports 1950, ‘maintient a lintérieur de la sphere du droit les comportements substantiels qui contredisent la régle, Ver in COT: TEREAU, Gilles. * Systéme juridique et la notion de responsabi Société Francaise pour le Droit International (organizador), Colloqu du Mans, La Reponsabilité Dans Le Sy ms A. Pedone, 1991, p. 3 nente do contetido da obrigacSes secundfrias. As normas primérias contém regras de conduta impostas aos Estados e as secut terminar quando se dé o descumprim acional e as consegiléncias desse des consideradas como obrigacdes secund: relativas 3 determinagdo, implementag sabilidade internacional do Estado. O sentido final da obrigacao secundaria é o de substi obrigacdo primaria, o que pode ser feito com o retorno a0 , com a reparagio de todos os danos causados inda com a aplicacdo de pena de dese infrator. A distincdo entre obrigacio priméria e sec chave no projeto da Comissao de Direito Inter lo a0 Estado ia 6 peca sobre les and the fon current trends", XXV tional Law (1994), pp. 3-37. PIER- ante el Derecho de la respo idad” in Cursos de Derecl Vitoria-Gasteiz: Servico Edi 1987, A. O conceito de direito. 2° ed, Fundaglo C. Gulbenkian, 1994, p. ll be taken to mea national, 1996, p.70, 75 responsabilidade internacional do Estado € foi introduzido pelo segundo relator do projeto, ROBERTO AGO, que con- sagrou o principio “toute la responsabilité, rien que la respo sabilité". A premissa para tal separacio é a possibilidade de se extrair regras gerais de responsebilidade internacional utili zéveis em todos os ramos do Direito Internacional, inclusive, nno que interessa a este livro, para protegao internacional dos direitos humanos.!* Por outro lado, essa separacdo entre regras materiais ¢ regras de responsabilidade tornou-se parte integrante dos tra- balhos da Comissio, levando 0 projeto para um approac abstrato € dogmitico. Sendo assim, somente as regras secundérias sio objeto de andlise por parte da Comissio de Direito Internacional no projeto de convengio sobre a responsabilidade internacional do Estado. A responsabilidade internacional do Estado é, en- tio, um conceit procedimental por exceléncia, sendo que contetido das regras internacionais violadas pertence a u direito substantivo, formador das chamadas “obrigagSes pri mirias’ Tais obrigagées primérias ndo sio objeto de estudo por parte dos estudiosos da responsabilidade internacional do Es- tado, Pelo contrério, elas sio normalmente ignoradas e citadas apenas como introdugio do conceito de responsabilidade in. ternacional e suas conseqiiéncias Portanto, a construcao juridica da responsabi inter- nacional do Estado por parte da Comissio de Direito Inter cional revela uma preferéncia pelo Jado formal do instituto, obre 0 tema, ver COMBACAU, J. e ALAND, D., * ‘Pri and ‘Secundary’ rules in the law of State Responsibility: cate, nal Law (1985), pp. 81-107. Essa preferéncia tem uma inegfvel vantagem, que € 0 tratamento uniforme de varias questoes bilidade internacional do Estado por violagoes de normas p mirias, permitindo a discussio em abstrato das consequéncias de uma violacio, sem que o contetido da norma priméria sej também discutido. Assim, os Estados podem chegar a um nsenso sobre as regras de responsabilizacio por fatos i que acordar sobre o se necessariamente ten! ta ou daquela norma pri A distingio entre regras pr Comissio, ainda, é elogigvel no campo da protecao interna- ional de direitos humanos, pois permite esclarecer que a responsabilidade internacional do Estado emerge a partir do momento do ilicito (aco ou omissio) internacional, surgindo, entio, uma obrigagao internacional de reparar os danos ca dos, como veremos.!? ria. frias e regras secundérias da 129 Como bem internacional do Estado apresent: nacional, New York : United No- 1975, p. 170. 0 ensing Ai Cangado Trindade, em voto « sow etoz-SA¥-90 conjunto de normas p: a codificacdo de normas préprias de responsat Estado, Duas criticas a esse enfoque merecem anélise. A primeira afirma que foi criado um modelo rigido e a de ser utilizado em todos os tipos de violacées de normas inter- nacionais. A segunda critica sustenta que tal abordagem teria nsformado o projeto de convencio sobre a responsa iternacional do Estado da Comissio de Direito Interna- ional em um texto tdo ambiciaso, exigindo tamanho estudo cautela por parte dos Estados, que tornaria quase impossivel provacao.!3 *. Ver in Corte wacion de Trindade, Sentenca de 73, parigrafo 24 corset dog 78 quer tipo de violaco de norma internacional Entretanto, mesmo a Comissdo de Direito Internacional imejou tanto. Como veremos, adotor se uma posic ‘ me ge- responsabilidade internacional do Estado em face de normas primarias consideradas essenciais para a comunidade internacional ‘Aceita-se, por exemplo, que as violagées de direitos hu- 1 sejam tratadas segundo as regras gerais da responsabi- lidade internacional do Estado acrescidas de regras espect cas, adequadas a atencio teal depositada pela comunida- regras concernentes a reparacdo (parte segunda do projeto da Comis- que realcam a influé de normas primérias na diferenciacéo dos rrsas espécies diversos tipos de reparagio € ni goes! é de Etats de se libérer a 1, Andrea. "La notion de faute ala du Droit Internat tal del Estado. Cat nos, 1997, 133. A reparacio esté mencis do projeto de « sobre a responsabil lo Estado da Comissto de nacional cowo fo. Articles on State Responsi n Yearbook of International Law (1994), pp. 206-253, So:zt etoz-on¥-30 RIPHAGEN, relator do projeto de convengio sobre a de diferentes normas secundérias Logo, a possibi rico de responsa ie da construgio de um arcabouco teé- lade internacional do Estado absoluta- mente desconectado das regras primdrias deve ser evitada, mas esta no foi a intengio de AGO, RIPHAGEN e outros doutrinadores que advogaram a separagio entre as normas primarias e secundérias. Assim, 0 projeto de convencio sobre a responsabilidade internacional do Estado da Comissio de Direito Internacional levou em consideragao as diferencas entre as normas pr rias, que acarretam importantes modificags juridico das normas secundérias. Emr 0 A segunda critica, que aponta a a adesio dos Estados — em ie do cariter dada. O tema da responsabilidade internacional do Estado polémico por si s6, justamente por tratar de conseqiiéncias de um: conduta tida como reprovavel do proprio Estack genérico desse enfoque — consideramos-na dade existiria qualquer que fosse o enfoque adotado. © fato € que a concentracio de esforcos na elaboragao de regras secundétias gerais permitiu a elaboracao do projeto de id the differen the vari nts of ‘State respon Ver RIPHAGEN, W xy", Yearbook of the Inte I, Part. 1, p. 82 convengao sobre a res} da Comissao de Direito Inter jacio final do projeto de 2001, o que demonstra, no minimo, que a abordag: ta por AGO e seus seguido- res obteve seus frutos. 5, As novas relacées juridicas advindas do descumprimento de obrigacio internacional A responsabilidade internacio! visa superar o conflito existente entre condutas contraditérias de um Estado seu desc doutrina divide-se em trés correntes. Acorrente classica ou ui itéria defende ser a responsal dade internacional do Estado subsumida em uma émica nova frator e o Estado lesado, rela- A obrigacio secundsria, enti priméria, danos po ‘ssa corrente, defendida por autores classicos, af idade internacional do Estado é a obrigacio se- de reparar o inadimplemento de ant 85 E uma nova relagao juridica soxt eToz-snv-90 = autor do fato internacionalmente ilfcito e o Estado-vitima da fensa, Assim, o contetido do instituto da responsal acional do Estado é a re dade inter- aco do dano causado. Qu medidas ditas coercitivas ou sancionat6: deradas integrantes do Dire Uma segunda corrente, a chamada corrente sancionatéria, defendida por KELSEN, vé a ordem juridica como uma or- dem de coer O Estado lesado esté autorizado pelo Direito Internacional a utilizar medidas de coercio contra o Estado infrator para que este cumpra a obrigacéo vi A terceira corrente, a corrente mista ou eclét da por AGO perante a Comissio de Direito onporada 20 projet de convencio sobre a responsabilidade le Interna- nascer, de acor relagao cunho reparatério, coercitive e mesmo put Sendo assim, o Estado lesado pode exigi medidas de coersio par 0 com essa concepcio, dica. Essas novas relacbes bter repara¢ao ou pode infligir puni- Cours de 353 136 Para Kelsen, entio, “En opposi ‘Académie de Droit ir des représailles: rede la part de me nous le verrons, des ations cio a0 Estado infrator. Com isso, Instituto da res- ponsabilidade internacional do Estado de maneira a defini-lo de ‘modo amplo. No mesmo sentido, afirma GRAEFRATH responsabilidade internacional do Estado pode de reparar o dano, entre outras consequéncias. Portanto, o Estado possui a fa idica de rea 1a violagao do Direito Internacional de diversas formas, coercitivas qui itutivas. Podem ser ton medidas de coercio para que o Estado ofensor seja coagido a reparar 0 dano ou podem ser tomadas medidas de execu forcada, de carster substitutiv ‘Além disso, podem Estados-terceiros se efetuar t certas condicées. A v 7 ta das n legitimados a rao Estado violador, abservad: lacdo de regra de Direito Internacio- ia relages s medidas ci juridicas novas entre 0 Estado a0 4) € outro, ou mesmo outros Estados ¢ Haye,(1984), p. 106 138 Ver, entre outro 21, Attila Moh: 90x2T eT0z-Dn¥-90 = ‘no sentido amplo), quanto as unitivo).!"9 cunho meramente reparat6r de cunho sancionatério (de caréter Por outro lado, como veremos na parte do estudo relativa n¢Ses, a contemporinea teoria da responsabilidade inter- nacional do Estado repudia 0 uso de sangses com fito mera- ente punitivo, enfatizando o seu papel funcional, que deve ser o de coagir 0 Estado infrator a reparar os dandos causados. Entretanto, tal reptidio nfo descaracteriza o conceito de- fendido por AGO e adotado nesse trabalho. E que essa tercei- 6 flextvel o suficiente para admitir tal restrigdo. (© que releva de interesse para 0 caso das violagdes de direitos humanos é que o conteiido da responsabilidade inter- nacional do Estado nao é adstrito a uma ‘inica relagao rey m conjunto de novas to Inter Logo, a teoria da responsabilidade internacional do Esta pode avangar, como assinala GRAEFRATH, 1 otecaio e no somente objetivando indeniza wusados. law". Ver in Yearbook Report of the Coi 6. A garant da ordem piiblica internacior A responsabilidade p idida em duas grandes cespécies, dependendo das conseqiiéncias que engendra, a sa ber, a responsabilidade penal e a responsabilidade ci cundérias que idade do infrs tor. Na responsabilidade civel, as obrigagdes secundérias tém contetido reparatério de cunho patrimonial, em geral. do, as obrigacdes se define a natureza civel ou penal da responsal iio a0 mal causado e prevenc: condutas semelhantes no futuro. Sendo 0 Estado o autor da violagio de direitos humanos que origina a sua responsabilizacao internacional, resta saber qual o tipo de responsabilidade — se civel ou penal — pode ser configur Entendemos Direito Jo a ocorréncia de da responsabi ter. A pessoa strangeira do tema ica in ROTHENBURG, W 4, 1997. 90:2T €T0z-SN¥-90 = nas, deve ser aplicado somente aos individuos, q condutas pretensamente co- 1 Estados), para que se revengao de novas e suas p 5 verdadeiros autores metidas por entes morais (empresas cumpra 0 seu abjetivo de retribuigéo ¢ condutas delitivas. Logo, sendo 0 Estado uma pessoa juridica de Direito In- ternacional ndo poderia o mesmo ser equiparado a um indiv duo e com isso responsabilizado penalmente.'#? Esse entendimento prestigia 0 Estado enquanto sujeito privilegiado do Direito Internacional e d soberana em face de outros Estados. Assim, nao poderia ser julgado penalmente por seus pares. Quem pode cometer cri- mes internacionais sios os agentes piiblicos, por exemplo, ado e em conformidade com suas leis. Mas 0 Estado em si é imune a uma responsabilizago penal m disso, receamos que a caracterizacio do “Estado 1050" desvie a atencdo da persecuco penal internacio- daqueles individuos que, agindo em nome do Estado, 08 verdadeiros autores de condutas bérbaras e odiosas. A dicotomia civel-penal no ambito da responsabilidade vilida, se, ao lado do projeto de convencio sobre a respor lade internacional do Estado da Comissio de Direito Internacional, houvesse um claro desenvolvimento da responsabilidade penal do Estado. internacional do Estado ser 2 Como bem apontou Ago: "M si lesujet capable ds ce qui arrive préci constitués pr person lire par les Etats. Recueil des Cours de LAcademie de Dr (1939), p.459, 86 Esse desenvol nexiste. © procedimento penal nal do Estado nao esta definido na wvendo mesmo falta de consenso na v. loracao dos interesses aptas a serem considerados il nais, como existe no direito interno.!*® Desta forma, nio hé ainda um cédigo permanente de delitos estatais, nem 6rgio acusador ¢ julgador clarar separados e definidos com jurisdicio obrigat6ria © de \culantes, dentro das regras do due process ofl © Conselho de Seguranca da ONU, que poderia ser tal 6rgio julgador, peca pelo peso politico das grandes poténcias, com direito ao veto e também por sua competéncia restrita aos casos de seguranca e paz mundi idade interna responsal internacion: ‘tos pe- ita A superacio da dicotomia civel-penal da responsal internacional do Estado acarreta ainda a eliminagdo de qual- a envolvendo a ameaca de imposigio de uma jue poderia se opor a tal impos! ‘pénale et la responsabi iquence de Vab défendre les des Cours de Academie de Droit International de La Haye" (1961), p. 584 tat, No mesmo diopasio, reconhecem Combacau ¢ Sur que falta Ver in COMBACAU, Jean ¢ SUR, Serge. Dr: ic. 2" ed., Paris : Monterestien, 1995, p. 528, 90x etoz-sn¥-50 Por out mo entendimento ser a respe obrigacao de cariter responsabilizagao pe nacional do Estado, em especial no toca violagao de direitos humanos. £0 efeito de prevengdo ou desestimulo trazido pela pena criminal. Esse efeito € de suma importincia para prevenir novas violagdes de direitos humanos em um Estado. Logo, @ responsabilidade internacional do Estado, de cunho civel, de- veria incorporar as consequiéncias punitivas de cunho preven- tivo ou de desestiin Ass inhamos para a superacio da dicotomia “res- ponsabilidade civel-penal” com o estabele to de respon- fade internacional do Estado por violagio de direitos espécie de responsabilizacdo garantidora repudi .macional do Estado por violagao de de responsabilidade civil, m elemento importante da a tual responsabilidade intern: do Esta- do por violagao de direitos 1s tem, como contetido de stias obrigacoes secundérias, tanto as conseqiiéncias de cw patrimonial (equivalente a responsabilidade civel tradicional) nto as conseqiténcias de cunho afl 10 visando © desestimulo de novas condutas (equivalente a responsabi de penal). 'A responsabilidade internacional do Estado em gestacio nos dias de hoje afasta-se da dicotomia “civel-penal” ¢ aproxi ma-se de ser um instituto de garantia da legalidade interna ‘tuto de garantia, prevé-se meca cional. Como conseqiiéncias difer es para nacionais de natureza diversas.!** 45. Afirma Kelsen (co ito Internacion: 88 O interi irmacio da responsal como “garantia da ordem pi 6 que a responsal internacional deixa de ser exclusivamente u sor e Estado-vitima, para ser considerado um instituto rel cional Estado-comunidade internacional em um verdadeiro contencioso de legalidade, o que é particularmente correto em face da responsabilidade internacional do Estado por violagio de direitos humanos, tematica que, como vimos acima, ressa a toda sociedade internacional. internacional inte- 7. A responsabilidade internacional objetiva do Estado por lacio de direitos humanos > a. A teoria objetiva e a protecao de direitos himanos ferenca Kalorativa no Direity ter tos, dife rencas estas que géfa a sears penal Cte © citado“jurista: est nietvile ni pénale, car ce droit néconnait il et du droit pénal. La responsabilité porte quelle autre abliga ct atual do Direity/fnternaci fastamente a crescente valo- Teh dos eons de das crigaSesinternaionas SEN héorie du Dyoit | Public" a cic Internatonal Public", 84 Recueil des Géurs de |'Acad le Droit Internation a a des ional de La Haye (1953), 14s. Ver ANZILOTEX, D. ‘eoria Generale della responsabilita dello 89

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