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CEREBROG ME x B FILOSOF FUNDAMENTOS PARA A COMPREENSAO CONTEMPORANEA DA PSIQUE mente kf Oe Es) DA SEGUNDA GERAGAO DA ESCOLA DE FRANKFURT Nav HU PMA HCY Sie Vee FOCALIZAM 0 TEMA DO (ON eIEY aay IMPORTANCIA DO RECONHECIMENTO YON ON acy Sass) Ne ie sta HONNETH 4 Identidades coletivas a) 0) aia Mee ee EAH EPA OQOOOOOOOOOOOOE DOQIUIYGVOVCYQNQOKe OQOOOOOOOOOOOOE OQOOOOOOOOOOOOE OOOOOOOOOOOOOE OQOOOOOOOOOOOOE OOOODOOOOOOOOOE OOOOOOOOOOOOOE OQOOOOOOOOOOOOE OOOGOOOOOOOOOOE OOOOOOOOOOOOOE OOOOOOOOOOOOOE OQOOOOOOOOOOOOE OQOOOOOOOOOOOOE OQOOOOOOOOOOOOE CVOQCVVVUVYVYVOOS OQOOOOOOOOOOOOE nce HS wasitne unio ce oreo ave vases — LerisT02K a apes EDITORIAL THORIA CRITCA HOJE sta edigao de Mente, Gérebro & Filasofia ~ 0 século XX aborda um processo ainda em andamento: a adaptagio da Teoria Critica da chamada Escola de Frankfurt as condices da sociedade contemporain Habermas, representante da “segunda geracao” frankfurtiana. Ele insistiu na necessidade de criar uma teoria da sociedade que apontasse nao somente para as patologias da sociedade capitalista do século XX, mas também para as possibilidades de uma emancipago humana nos moldes da almejada pelo jovem Marx. Dessa perspectiva, Habermas viu, nas con- cepcdes de Freud, mais que um recurso conceitual para explicar atitudes . A iniciativa coube a Jigen autoritérias tipicas das sociedaces do capitalismo tardio, um paradigma metodolégico de teoria essencialmente critica, A leitura da psicandlise feita pelo filésofo enfatizou as dimensdes da auto-reflexio da lingua- gem e submeteu a uma critica impiedosa a chamada metapsicologia de Freud, marcada por elementos naturalistas, Com o tempo, porém, a énfase de Habermas na linguagem como fundamento de agdes comunicativas = expressdes de uma racionalidade ndo-instrumental ~ diluiu os lagos entre a teoria critica € as concepcoes psicanaliticas ‘A “corregao de rumo” viria com a terceica geracio da Frankfurt, ¢ em especial com a obra de Axel Honneth. Ele retomou idéias temas presentes nos textos dos pioneitos cla Teoria C ‘ola de ica © restabeleceu a cestratégia te6rica de entrelagamento da teoria da sociedade com a psicand- lise, A critica aos mecanismos de poder voltou a ocupar papel destacado, ao lado da luta pelo reconhecimento travada por determinadas categorias sociais, Apresentadas por Honneth como elemento central de uma teoria critica da sociedade, as reflexdes sobre os conflitos por reeonhecimento social fundamentaram-se em textos do jovem Hegel e em pesquisas de representantes do pos-freudismo, Todos esses desdobramentos, que se apéiam na psicai lise, depois se distanciam dela para em seguida a retomarem, sio apresentados 20 leitor em artigos instigantes, escritos por especialistas, Sua leitura tomari mais acessiveis 08 fendmenos sociais deste inicio de século, um tempo no qual 2 reivindicaglo do discurso pelos setores sociais subordinados ¢ a mobili- zacio dessas camadas pelo reconhecimento despontam como instrumentos para a construgio de uma sociedade mais justa. CaRLos EpuARDO Matos Editor de Meate, Cérebro & Filosofia ~ 0 século XX coca de ards isa Lr Sree a Neco Kt Tae Canalo Ban Cavae IRC nee Bat cor La bot ata EM: Cana Vrs Cia Zao naga MENTE & CEREBRO FA DEABTE: Sina Oia aka ATES DE ATE: van Fes, Wot Sol = E Sans de Ona, TCONOGRAAGR Svat onder Corea Fees e Mera Cama USD: Lara Male Lz Foro Mata vf PROOUGIO GAME Sia Fara TTUTANEIT DE WIAGEME Cah We Ca ado ete, ito & Fost unas esnel cares Mont & cro, pleat ca as, Samo Cust fla Lt. conc remain rad p GSS seb eega ce Sele reve re cour Executvo ge area Eison Carl ine Fomando Pease Aft Nota PusuotoaDe Aetitadeentnoatnd ico) DBReTOnA lene Sa IECUTVO DE OONTES Water Fro CORCULAGAO E MARKETING (GERENTE fora Marqurs ASSSTENTES Jana ences 2 eta Fura EERENTEDE ASSNETURAS: Dak Cas STENTE Aro Cas Ate ‘ERENTE DE VEDAS AWLSAS. Crs erat FUAUCAS EGESTAD DDReTERAS MONA Cr ‘CATRAL De ATENOIMERTO AO ASSNAATE BRASIL: (01) 3088-6900 (tondientoeuetoatora.com.n) NOVAS ASSIUATURAS (quermasinar€xuetoedtil.comb) EDIGDES AVULSAS EESPEOINS(odicossavulssrOGuctioedtria.com.) Eig 8, SBN TP-85- 40535402, Dito com seca part nd © BRS: OEP SA, Fam Oot en Strat, 178 Nimers ands pda ser slits oma, canta do Alechmen oel 011)308-6900 «po 0 wea deta comb 20 rego da tna cin ares cos custs de ptagem. IMPRESSKO; IEP ratea i {RETOR RESPONSAVEL: rod Westar ANER F[PP Pc a era ois cam EDITORIAL 3 EMANCIPACAO, ESFERA PUBLICA E DIREITO A teoria entca de firgen Habermas, representante da cama “segunda geracao ides Fscols cde Franti ipemeas CANE 16 sonces’ ravens Por algum: tempo, o filésofo considerou as eoncepgtes da pstcandlise como um exemplo de teorta erfiica HABERMAS E -A METAPSICOLOGIA A proposia de uma psicandlise baseacta na linguagem e na cosreflendio metcatica, re do pasinivisma 24 risceniciie BQrnsewus ianoe DE KOHLBERG cponas as potogias do ab capac, as oval de iadie 40 wowinuo E SOCIEDADE Fasendo a pscologi socal te George Herbert te Facbor obo nda tim proceso de sccaizato ae conte: de tema stra de da ele guage 4Swcoxtecinexro E EMANCIPAGAO septa a ut por raeronrler a baingon dar relages dscns soca 58: 68 AXEL HONNETH 0 filésofa identifica nas lutas por reconhecimento elementos contrats de uma teorta eritica e analisa formas de desrespeito @ ndio-recombectmento nna sociedade contemportinea HONE RaMICAcAO HONNETH E A REIFICACAO Honnelb retoma o concetto de reificagdo, formulado nas ‘aos 20, @ masira sua validade pane a refiexaio critica sobre a sociedacle contemporéinea 76 weconteciesto E PSICANALISE Bin sua versio da teoria crtica, Axel Honneth reforca os lacos entre psicandiise ¢ teorla da sociedade, traco caracteristico da abordagem dat Bscota cle Frankfurt sera publica e direito A teoria critica 0 fof inst no os comprometime de Jiirgen Habermas SEE Ta orientada por uma. praxis emancipatéria, baseada nas proprias lutas politico-democraticas empreendidas TOR rEire GONGALVES S1LNA JORGEN HABERMAS £ TRATADO como O principal representante da chamada “segunda geraao” da teoria critica da sociedade. Vale dizer, como o fildsofo que, por um lado, dedica-se a recepcio da heranga deixada pelos intelectuais ligados 20 Instituto de Pesquisa Social, em Frankfurt, em EM siNTESE sua composigio primeira, anterior ao fechamen- = 0 artigo apresenta as finhas gerais da é {cota exten de Jigen Habermas, to provocado pela ascensio do nazismo, tais petleeyey bot panes como Adorno, Horkheimer, Fromm e Marcuse; Instituto de Pesquisa Social em Frankfurt, : ncleo da chamada Escola de Frankfurt , por outro, como aquele que funda novas ‘$a0-examinados, em especial, os bases para essa tradigio de pensamento, assumi- ‘niversas concetalsassociados a uma # « # prixis emancipatéria, a esfera priblica das por boa parte de uma geragio seguinte de € a0 drt, presenes em lis como Mudavnga ester aera publica, Teoria ca ago comune Dire Axel Honneth, Jean Cohen e Iris Young, democracia autoras € autores critics como Seyla Benhabib, (Com base na herinca recebida, Habermas insiste no comprometimento com uma teoria social orientada por uma prixis cemancipat6ria, Entre os elementos de seu Iegado mais fonemente assumidos pela 430 seguine, encontramos a defesa de que © conietido de uma ppocle ser previamente fix mas deve ser determinado pels proprias i politico-democriticas historicamente mpreendidas, Nesse sentido, Habermas € apresentado como o responsivel por uma nova conduglo tla feoria critica em direcao a0 pensamento democritico, Desde a pub danca esr tural da esfera pitblica, em 1962, 0 tema da esfera publica nunca mais sai das preocupagdes de Habermas: “A esfera ‘publica coma um espace de eracas comu nicativas ricionais 6 o tema que me preo cupou durante toca a minha vida, A whacle cconceitual de ‘esfers pblica’, ‘discurso’ ‘razio’, de fato, dominou meu tabalho como ‘aexclemico © minha vida pobtica, Uma obsessio como ess s6 pode ter Habermas observa que a linguagem nao € 0 espelho do mundo, mas oferece acesso ao mundo ralzes biogrificas”, (Habermas, Zuischert Nateralisnssund Religion. Philasophische Aufidtze, pig. 16) Como 0 autor esere de seus tikimos trabalhos, en cs elementos de sua vida pessoal que mals foremente marcam essa “obsessio’ com uma esfera de comunicigao livre cle centraves, encontram-se as debilidades dle comunicagao oriundas de ursa_meé-for- magio congénita (fissura labiopalatal), as cexperiéneias antidemocriticas do nazismo © 0 longo processo de redemocratizacio lem do pés-guerra. Para Habermas, as cacao derivadas de seu “labio leporino” e as experiencias de rejei panhavam teriam desde muito cedo dire cionado sua atengio para o papel fun- damental cumpride pela comunicagio lingtistica nos processos de socializaglo © individuagio, Por intermédio de per Ihas na comuni- Slo que as avom- 0 SECULO XX - CIENCIA 19011903 1905 0 casa Mare Pierre (ure Hon Beoquerel ecebom 0 ae on ae ee sarees a) oon S oe oe ae eae cee a cS aS ee oo ie Sree Hee ee rae aes Kar Landstlner oraa lassncapso a ‘sangilineos | Prémio Nobel. mina cemeam Mie metas ee moe — aaa oe 1908. Henny Dale sesoobre os euratansmissores, substance ue iransnitem monsapens entre as calles do ste formances comunicativa a comunicagao lingtistica teria se expli- citado como um meio compartilhado de socializago com 0 qual ao apenas se ‘expressa, mas também se constitui sim- bolicamente: a realidade objetiva. "A lin guagem no 6 0 espelho do mundo, mas nos aferece acesse a0 munde, Com isso, ela sempre orienta nosso olhar sobre © mundo de uma maneira jf determinada Rela se encontia inserito al malsucedidas, uma visto de mundo.” (dem, pig, Mesmo no que se refere 2 elaborig dos sentimentos mais pessoais € exci tagdes intimas, a consciéncia individual também seria constituida por redes de categorias, pensamentos € significados trocadas Segundo Habermas, esse pano de fundo origi- nirio que adquirimos ao fazer pane de uma comunidade lingistica espectfica milo é fixado de uma vez por todas Podemos sempre reyisar @ significado de predicados ou de gonceitos 2 luz das experigncias que tivemos por seu inter nédio”. Portanio, por meio da propria Tinguagem, encontrariamos posstbili- intersubjetivamente. 191519161919 mest Futhertond cota ne laborattri, somos de rig 30 omar om pata aif somos de nite. © de problematizar e transformar a heranga simbélica em meio A qual somos socializados; caso contnirlo, nunea pode riamos aprender nada realmente novo discutimos sobre ele. Uma tal possibil dade, entictanto, estaria sempre sujeita a diferentes tipos de bloqueios, os quais superam em muito aqueles derivados de debilidades fisicas de cariter pessoal. A percepgio de tais bloqueios € ela- borda prineipalmente por duas experién- ‘cas que revelam as dimensdes al de sua faceta poltica, Em primeico gat ‘© nazismo teria levado as ultimas conse _qUéncias os bloqueios comunicativos ani- ® fickalmente eriados por um poder buroeri- § tion, Ne 3 € bloqueada nfio apenas por meio de lum “fechamento cultural” que impecle a submissio de um univeso simbélico as 2 ccaiticas e impulsos transformadores prove niientes de dentro ou de fora, mas também pela eliminagio criminosa de uma parte © comunidade linguistica por meio de assas- sinatos conganizados. © Em segundo lugar, o longo € tortuaso pro- administativamer on AGENMAS DISCURSA a0 ser nomenageado em Fi slema do pas- spossibilidade de utizagic guera teria mostado implememagio de uma democracia siunén- tiea langando mao apenas de mudangas institucionais, As dificuldaces em superar a heranga autorititia do nazismo, expres sas na tecorténcia com ue o- elismo, © antisemitismo e as exigéncias de uni dade cultural substantiva tomavam parte do ambiente politico-instiucional alemao, teriam revelado a necessidade de dlirecio~ ‘Chadwick feos réne localiza 0. rréeeric nar © foco das expectativas sformagio da c as condigoes de politiar he Jo piiblica da vontade rade inclusiva, “A teoria critica da socied me ofereceu uma perspectiva pela qua “u pude avaliar(..) as tentativas malsuce didas de estabelecimento da. democrac! a Alemanha num’ mais amplo ie No final. cos iddo mente le modernizagio social, niga Fert produza ‘Aeander imei “Weiner 4 feagio | ‘escobram nuda em {DUO E SOCIALIZAGAO 9 estabelecida firmemente etre nds. Nio em certo que as principios de uma ordem democritica que havia sido imposta de fora poderiam ser enraizados nos coracdes fe nas mentes dos cidados alemes, F era cevidente que uma tal mudanga na ment lidade politica no poderia acontecer no isclamento ou ser condusia por meios administrativos. Apenas uma form vibean- te © possivel de formao discursiva da ‘opinido publica poderin levar adtanre um tal processo." dem, pli. 25) ‘Ao pretender inserever sua obra n0 interior da critica da socieda- de", Habermas comprometese com 0 desenvolvimento de uma crtica. social imanente, orientaca por potenciais de (cdo contidos a pedpria realida de analisada. Quer dizer: 0 tipo de teoria social aqui conduzida nose limita dlescrigdo da rotina de funcionamento das cestrururas ¢ relagbes socials observadas, ‘mas busca submeté-las a uma reflexto avaliativa, Essa avaliaglo, entretanto, no se pauta em modelos de sociale “ut6 pcos’ ou “idealistas”, impostos a socie- dade como que “de fora’, mas sim em Denis Gabor | evn Eoke | dasonoive [cesenonem | atotoorata. |e Francis | avacina | Peamputador| Ciagae do | Cvek contra Neterdnieo[iransste, | decitam | paliomisite, estate 0 OMA. 10 MENTE, CEREBRO 6 FILOSOFIA Habermas vé o "mundo da vida" ser invadido pela légica instrumental da economia e da burocracia possibilidaces de emancipagao insctitas, ainda que em gemme, na propria reali dade observada, Assim, a perspectiva da emancipaglo no € assumida como um “ideal” vislumbrado pelo tedzico, mas sim. coma uma possibilidade real, obrigando a teoria a se pautar em diagndsticos do tempo presente capazes de descortinar tendéncias do desenvolvimento hist a sezem delineadas como potenciais blo queios a emaneipacio COLONIZACAO PELO SISTEMA Com esas consideracées iniciais, ft se percebe que Habermas precisa. se ocupar com uma determinada com- preensio de “emancipagio social”, bem como com sua inscri¢io na realidade das sociedades contemporineas, Desde Teona da agaa comunicativa, puidl cada em 1981, a emancipacio social 1969 1971 Chega do homer) miropracessado| sistema de aa ser delineada em termos de tamento dos potenciais comu- jos liberados na modemnidade Para Habermas, as sociedades modemas serlam marcadas pelo enfraquecimento das autoridades celigiosis e tradicionais e por uma erescente plural mas de vida culturais, permitindo a ibe ragao de potenciais comunicativos antes bloqueados pelas garantias do “sagrad © pela forga normativa do costume. A partir de entao, a reprodugao do saber teGrico, das normas sociais © das mani- festagies estético-expressivas passam a ser submetidas a processos crescentes de reflexdo e critica, cujas pretensdes de vvalidade, para serem comprovadas, pre~ cisam contar com a aceitagto racional: mente motivada de todos os envalvidos, Vale dizer, com 0 enfiaquecimento de autoridades que detinham © monopdlio. de interprets do “verdadeiso' pretenses de validade passam a poder ser assumidas apenas como o resultade dos melhores argumentos apresentados lem dlscursos isentos de coercdes. 10 das For 9 sobre aquilo considera: 1978 1983 Crageo 60 localize www.mentecerebro.com br ‘conreto” ou “vera”, tals FILHOS 00 SWLENCID, itme do Randa Halnos, 1986, Ha linguagem ~ mesmo na gestual - fencantra-se Inscita uma visio de munda E claro. que uma tal compreensio ca “modernidade social” implica idea- izagbes fortes ligadas as condigdes © ilidades de um tal discurso, Par Habermas, entretanto, essas idcalizagdes a se encontram inscritas em todo discur 80 cotidiano vokado ao entendimente: toda vez que interlocutores procu: se entender sobre algo no mundo ou questionam a comeco de uma nocma, de acio, eles inevitavelmente utiizam pressupostos idealizantes ligados a uma lo sem entraves, como, pot exemplo, 0 pressuposto de que as pala vas © 05 enunciaclos utilizados tem os ‘mesmos significados para as partes o de jqualdades 15 ndo existem de e relagdes de poder que impecam o livre fluxo de argumentos, Para Habermas embora esses pressupostos tenliam con. letilos “denis” eles pre- cisam ser assumidos em toda comunica- elo real, ecessirias a todo ato de fala; vale dizer, todos aqueles que apresentam arg mentos numa interagio comunicativa pressupdem, que implicitamente a possibilidade de um entendimento lingiistico pautado no livre convenci- mento, Segundo 0 autor, esse tipo de comunicacio sem (muitos) entraves nao apenas possibiliia dar inicio 2 processos cde entendin como também permite que eventusis “contrafitcos 0 @ aprendizagem social, NOVOS HORIZONTES ras encontradas em distorgbes comunica tals processos possam ser constatadas € criticadas pelos préprios falantes Para Habermas, uma teoria social que se volta aos potenciais de reflexto e critica tm cotidianas vi ws interagdes Fingtisticas .¢ imbuida da. ta cexplicitar as exigencias inesgotiveis de de energies mbitos. cla vida. social, tama comunicagio enka em diferentes bem como de analisara nanureza de seus principais entraves, f nesse segundo pponto que ele nos fala de uma tendencia de *eolonizagao da rmundo da vida pelo sistema’, quer dizer, dle uma tendéncia nas sociedades capitalistas tai dias de terema suas esferas de reprodugao simbéliea Cmundo da vi pela l6gica instrumental da economia e do poder administrative sistema"). Essa invasto € apresentada nos termos de uma “monetarizagao" € "burocratizaca crescentes da vida social, segundo as quais as relagdes interpessouis passam a ser coordensda mento reciproco cos panicipantes, mas pelos meios padonizantes ¢ ling(istic mene empobrecicios clo dinheiro © do controle buroerdtio. Como efeitos da cole Habetmas.apre- senta diferentes formas de patologias da comunicagao, descritis como “perda de sentido’ (incapacidade de interiorizar © as munifestagbes.cultu- ) invadidas inter-relacions -Embora Jigen Habermas, Habermas considera que, _comunicago ingistica Pra 0 autor de Teoria da ‘tnha enfraquecido 0s lagos —_tantonas ciéncias criticas _—_sistomaticamente distoreida. ago comunicativa, deve- centre a teorla critica da quanto na psicandlse, a ‘utro aspecto do interesse se descartar w naturalismo sociedadeeapsicandlse, estrada linguagemmea _—_reside naleitura habermasiana _freudlano e interpretar 0 ‘caractersticos da primeira _—_auto-reflexao desempenham dos esforc9s tedricas de projeto psicanalitico como ‘geracio da Escola de Frankfurt, papel central Além disso, a Froud, Habermas alerta, ‘um esforgo, baseado na ‘varios aspectos aconselham técnica analtca ea cigncia _sobre os risoos de uma auto-reflexdo, para tomar vivamente a leitura de suas social que se estrutura como _compreenséo positvista ‘consciente 0 inconsciente. bras por todos os interessadas. critica da ideologialidam com motivada pelo préprio 0s interessaces em ‘nos estudos do psiquismo, a mesmo objeto em planos __criador da psicandlise~nor _psicologiae psicandlise ‘Avomecar pelo fato de que, _ferentes, individual ¢coletivo, exemplo, por sua preocupagéo _talvez vislumbrassem : por algum tempo, ele viu na mas interigados: neuroses em descrever 0 eparelho novos horizontes, 20 psicandlse o proprio paradigma individhiais¢ insttuigdes psiguico mecanicamente, _percorrer 0 caminho ‘de uma teora critica. sociais dependem de uma como distribuigao de energia. _apantado por Habermas, .cho Do INDIviDUO # SoCIALIZACAO 1 CRONOLOGIA 1929 Naseimenro wr Jone Honcraas £4 DosseLDonr NA ALEMANIA 1949 Desmvouve esre00s 0: Gormmsces, ZumQuE Bones, (QUE SE ESTENDEM art 1954. 1956 E consmp4da row THPADOR SEU ASSSTENTE, NO IVSHFITO Be JIsk SOCIAL EM FRARSFURT, FUNCAO QUE ESERCE ATE 1959. 196) Pouca Asrnayae & pouinc, DA ALANS Na TINERSIOADE De Manno (2 Pomuca Munanca asym an ase PURI, TORS Pores Na UNNERSDADE pe Herp, 1964 ASSUME 4 cApHRA DE SoaoLoctA EE FLOSORA Ds UXINERSDADS Jonas Wourcaxs GORE oF TFRANSFURT, ANTES OCUEADA POR Honsnesen, 1968 Lance Cosercauevr acres. DA suas ea Nova Yous, rea New Sexiaot son Soca Reseancn, 1971 Assune 4 DwREGiO Do Berto ‘Max PLavck, 8A BioneRa, 1976 Punuica Pree a nscarsntet0 1981 Lavca Tow na acto 1983 REASSUME A EADEE A Unnvimoape Jonas Worreans Goenne e ToNAse DHETOR DO INSMTUMO De PESQUISA SOCIAL Pumuica CoNscreNera WaRAL Jain CoMENCAV. ORR Laven Penseerr pos. erarisco, D2 Pumca Diaero £ pewocnac, 994 AnosewtA St DA UNIvEnsiDADe De FRASRrvRr 2001 Pomes O rimRo a4 0 direito presta servigos tanto aos individuos livres quanto aos sistemas ‘als), “anomia social (perda de validade ddas normas sociais) € novos tipos de psi copatologias (bloqueios a capacidade de sociali2agio dos individuos) ~ além de diversas formas de reificagio, segundo as quais 05 sujeltos sto tomados enire si como simples meios para a pet de fins egoistss. Contra a tendén colonizagio sistémicz, Habermas apon- ta na Teoria da ago comunicatee prolilerigao de movimentos socials de fesisiéncia, ais como oS movimentos esudanui, eool6givo e de minorias ni- «as, eles estariam ocupados com a tarefa defensiva de impedir 0 avanco da logica sistémica em disegio a0 mundo da vid, preservando formas de interagio com nicanivamente reguladas Desst_maneirs, 0 modelo cttico habermasiano pretende deslocar de sua perspectiva emancipatiria a assungio de ‘qualquer padsio substantivo de socieda- de justa ou virmosa, comprometendo- se com a investigago das candighes ‘comunicativas necessirias para que os proprios envolvidos passam decidir acer ca de sua vida mediante processos de entendimento livres de coergaes. A to- fia catica, portanto, no assume aqui 0 *conrerida” daquelas salugoes his 4 produzir formas de vida emancipadas, aque poderiam ser realizadas por meio de tuma revoluelo; ela confia tais decides 2 uma peixis comunicativa constarie de sujettos histérica © socialmente enriiza dos, cujos resultados — faliveis & sem pre modificaveis ~ pretendem expressar acordcs aleangedos entie si por meio do. livre convencimento. AMBIVALENCIA DO DIREITO Desde Direito e democracia, publicado em 1982, essa compreensio dscursiva © “des- substuncializada” de emancipacto social cencontra seu nticleo normative na preien- ‘So de “auto-organizagio demoeritic de ‘uma comunidade juridica",a qual expres- sa expectasiva de uma autorregulicio ficiente por meio de procedlimenios Adliberative-decisorios radicalmente inclu sivos. O procedimento juridico-lemocrati- co exigitd, em sua compreensio ampla, do apenas a distibuiglo das liberdades politicas © a criagio das estrururas inst fucionais a permitirem que as opinioes, tematizacbes e questionamentos de todos 5 envolvidos possim ser apresentados em igualdid= de condigdes nos pro- cessos formals de gerigio da vontade também seri preciso que as ccontibuigdes particulates af apresentadas possam ser considedas autonomament produzidas, exigindo, pois, a distrbuico ‘gualit individu de ago e de concligdes materials udleqit- 2 das entre todles. Por outro lado, por expressar seus resultados segundo a forma coercitiva do direito positive, auto-organiza- de liberdades EL GRECO, Retrato de um cardeal, «1000, Personificagdo de uma autoridad {Wadicional cada vex mals questionada aoe 20 democritica envolve nfo apenas processos de formagio da opiniio € da vontadle, mas também decisoes de ai6rio, Desse modo, 0$ pro- cessos jurklico-lemocr a expectativa de wansformar © poder comunicative gerado nas bases. sociais do mundo da vida em imperativos efica: zes diante nao apenas de seus cickackius- destinatirios, como também dos sistemas econdmico € politico. Com isso, a prixis comunicativa, que no Ambit da Teoria da acto comunicatiea pox oferecer resisténcis 2. expansio da I6gica sistémica, passa de agir sobre o funcionamento dos siste (20 por meio das apenas nas instrumentais de instinsigdes juridico-¢ ssa mudanga significa: expectativas assumidas em telagao a praxis comunicativa emancipa- isto & a consideracao de uma perspectiva mais “ofensiva" em vez da imples “resistencia”, € acompanhada por uma percepeao do direito como um meio ambivalente de integeacto social, gado tanto as fontes proprias do agir comunicativo como &s fontes sistemicas do mercado ¢ da administracto. De lado, © direito mantém-se ligado rac comunicativa por icipalmente, dos veritica d das abertos dios argumentos © problematiza- (goes de todos os eventuais interessacios. Além disso, 0 direito protege esferas de interacio social em cujo interior os sujeitos podem construir suas formas particulares cle vida _autonomamente, De outro lado, as instituigdes de direito privado e pithlico possibilitam 0 esta- belecimento de mercados © a organi do pader burveritico. Segundo ‘ambivaléneia” do Haber digeito que the permite exercer Fungdes em face de toda a sociedade. autor insiste sobre o cariter extte mamente “ambiguo" do direito, De tum Tudo, ele abre canais para que os imperatives provenientes de interagdes comunicativas alcancem os si némico e furidico com a pretensia de seu direcionamento legitimo, De outro, centretanto, 0s sistemas de acio podem servirse da forca legitimadora da forma juridica a fim de clisiarcar sua imposiga0 de poder, Desse modo, 0 dineito € fre- quentemente vilizado para legitimar a expansiio e imposicio da l6gica sistem ex: “Como meio organizacional de uma dominacao politiea, referida aos impera- tivos fancionais de uma sociedade coo nOmica diferenciada, 0 direito modemo eontinua sendo um meio extremamen te ambiguo da integras20 social. Com muita freqdéneia © direito confere ORMAGAD DO INDIVIDUO E SOCIALIZAGAO 13 DINHEIRO CARREGADO em cestas, no contesto da Inflagdo galopante da Alemanha de 1822: contradigées do sistoma montario iparéncia ce legitimicade ao poder ile- zitimo, A primeira vista, ele nao denots se as realizagées de integracio juridica estio apoiadas no assentimento dos cidadaos associados, ou se resultam de mera autoprogramagio do Estado © do. poder estrutural da Sociedade”. (Direito edemocmacia, vol. 1, pag. 62) Portanto, embora 0 autor considere 4 possibilidade de os fluxos comunicati vyos gerados nas bases sociais do mundo da vide influenciarem o direcionamento do Estado ¢ da economia por meio do direito, aquela tendencia de “colo- nizagio sistémica” nao deixa de estar presente em Direito e democracia. Ela € apresentada ali fundamentalmente em andlises sobre a dominagio do poder burocriticoo no Ambito do Estado de bem-estar. A regulacto estatal 1 expandido radicalmente no intetior do Estaclo de bem-estar, cuja atividade pas- satia a intervir de maneira indireta em Ambitos cada vez mais alargados da vida lugto cultural, na assungio de identidades coletivas pelos cidadaos ¢ na escolha dos hibitos que configuram a vida intima. Importante dizer que a ampliacio do escopo regu latério no representa em si mesma um problema part Habermas; 20 contrdrio, ‘© combate & desigualdade material © 4 ssitivagiio de diteitos sociais sto defen- dos como condigdes imprescindiveis & autonomia dos cidados. Eotretanto, na sua opinido, os avangos insuficientes no combate desigualdade tertam sido aleangados & custa de uma “perda de lberdade”. Com feito, cago de secursos materials no se: capaz de incrementar adequads a autonomia dos cidacllos, mas, inver samente, teria 0 condao de gerar novos tipo de “dependéncia” dos beneficiarios dos programas assistenciais em. relagao ao aparato burocritico-estatal, Além disso, 0 alargamento da. intervencao ercadlo € na sociedade nao estatal no vitia acompanhado de uma ampliagio correspondente dos debates. pablico- Habermas atribui papel fundamental as redes de comunicagao nao-institucionais situadas 4 margem do nticleo do sistema politico politicos a seu respeito. A caracterizagao dos grupos *beneficiados” e a defi- nigae dos priprios beneficios seriam constantemente decididas em processos politicos instirucionalmente fechados, dos quais participam burocratas selecio- nados segundo critérios tecnoctiticos, SB) PUTES Com isso, os destinatitios dos pro- ‘gramas assistenciais veriam suas vidas regulacas heteronomamente pelo poder burecritico, tendente a reproduzir os ‘esterestipos existentes sobre os “grupos desfavorecidos” em processos de deci- s40 nos quais 0s préprios interessados nao sto incluidos. CONSTELACOES DE PODER Segundo Habermas, a observacio realista das demoerieias contemporieas obriga a perceber que a sotina de funcionamen- to do poder politico tende a se fechar no © ainda aque entre tas insttuigdes o parlamento se sapresente mais abeto aos fluxos comu- nicativos geraclos na sociedade civil, ele habitualmente se encontra configurado segundo composigtes duradouras de poder partdisio que impedem, ou 20 menos dificultam, a circulagio de novos fluxos de argumentos, temas e problem tizagdes. Para o autor, impona investigar © modo capaz de quebrar tais “constela oes de poder" que imprimem 2 politica um funcionamento nosmalizante, em ome de “impulsos renovadores oriun- dos da perifera’ Haberras insste, assim, que 0 nucleo lo poder politico nao absorve de modo fespontineo os constantes Muxos come nicativos gerados socialmente, A possibi- lidacle de romper com a sotina de funcio- namento do sistema parlamentar exige a mediagao de uma pritca politica nto ins titucional, mas direcionada 2s intiuices. E nesse sentido que 0 autor atibui um papel fundamental 2 esfera piblica polk tica, vale dizer, &s redes de comunicagio no instinionais que se situam a margem do niicleo do sistema politico, eapazes de ‘identificar 0s problemas sociais com a sensbilidade e a linguagem especifica dos proprios atingidos, artculi-los fora das estruturas governamentais e inser tos nna pauta das deliberagoes politicas ins- tiucionallzadas em vista da modificagio le simagoes fiticas consideradas injustas. Os debates c as resolugdes tomades nessa cesfera publica mlovinsiucional, a qual é niicleo instinicional do Estado proprias ‘Imagem pela qual quorom sor roconhecldas, [ESTUDANTES NAS RUAS de Paris em malo ide 1968: resistoncia dos jovens 208 sistemas da razdo Instrumental ‘watada como “periferia’ dos processos de formagio politica da vontade, nilo pos suem um cariter yinculante, quer dizer, ainda carecem de uma “obrigatoriedade fltica’ propria das normas jurdicus; entre Tanto, 08 fluxos de comunicagio af acu- mulados mostram-se capazes de atingir 0 sisema burocritico-estatal na medida em que aleangam forga suficiente para exercer ‘pressio” ou “influéncia” nas instiwigdes formais de tomada de decistio, obrigando- asa inscrever suas relvindlicacdes na agen da «la politica oficial: "A esfera piiblica & tum sistema de alarme dotado de sensores Wo expecializados, porém, sensiveis 0 Ambito de toda a sociedade. Na_pess- pectiva de uma teoria da democracia, @ esfera publica tem de reforgar a pressio ‘exercida pelos problemas, ou sca, ela no pode limitar-se a percebé-los e a identifi- los, devendo, além disso, tematizé-tos, problematizilas e dramatizé-los de modo convincente € eficxz, a ponto de serem assumidas e claborados pelo compleso parlamentar.(..) As vezes € necessirio o de agdes espetaculares, de protesios fem massa ¢ de longas campanhas para que os temas consigum ser escolhidos & ingindo 0 nacleo xados formalmente, do sistema politico € superanda a pro- sgyamas cauteiosos dos ‘velhos partidos dem, vol. 2, pigs 91 e 16) Fclaro que uma tal politica de mectiago precisa contar com a mobilize inlensi € constante de atores sociais diretamente interessados. Em Direito ¢ democracia, © feminismo & apresentado como 0 caso paradigmitico de movimento social volta- do a cacao de uma esfera pblica atuan- te, As lutas feministas das vitimas décaces teria focalizado a3 caracterizagbes tae dicionais adotadas pela legislacio © pela justiga sobre 0 papel social atsbuido aos agfncros Na medida em que s¢ orienta por pacrdes wadiconais e hetertinomos de inerpreagio, 0 Esado de bem-estar = consoliclaria na forma de direitos sociais as mages conservadoras acerca da diferenga centre os sexos, reforgando @ menviencio dos «sterestipos socitis que estio entre as causis da subordinagao da mulher, wwwamentecerebro.com.br Mostrando que a classificagao dos papéis e chs ciferengas entre génetos repousa sobre ccamadas elementares ca autocorapreensso ‘cultural de uma sociedade, 0 feminismo contemporineo tert taco pela submis+ ‘sho das categorizagdes sobre a identidacle feminina 2 discussio piiblica consante, por meio da qual as proprias millers podem refonmular a imagem pela qual prctendem ser reconhcidas © decid, eas ‘mesmas, sobre suas necessidades a serem catrigidas pela via do direito. Uma esfera piiblica anante, assim fica caracrerizada pela constimiao de redkes comunicativas capazes le oriertar € critcar reflenivamente 08 resull das instisigdes burocriticas de tomada dle decisio. Sua importincia decisive ni teoria citicr habermasiana € marcada pelo diayndstica de ambigiidade do Glreito anterionmente apresentico: caso (9s espacos abertos pelos procedimentos juridico-demoeraticos nao seam ocupa dos ¢ alzigados por Muxos conunicati- vos constantes provenientes das. bases sociais do mundo da vida, as possibi- lidades de avtonomia ¢ emancipacio contidas no medium do direito podem ser facilmente convertdas em simples instrumentos de dominagio, conferin- da “aparéneia de leytimidade” «ums dominagio sisiémica iegiima @ FELIPE GONCALVES SIA é forma en fil tie, Des iulment se de dora ea Flees contemporineae€pesqlsaor do nile Dyeine lemucacs do Cento Best de Anise Planeta (ap), FORMACAO DO INDIVIDUO £ SOCIALIZACAO 15 (0 PONTO DE PARTIOA ‘* Toora critica © tooria demosritica. Do siagnéstico da impossibilidede da domocracia 20 concoto de esfora publica. Leonard Aitze, em Novns Estos CEBRAP, #58, Etora Basta do Concas Lia, 1998. ‘© A twara da agao em Habermas. Gabriel Conn, ‘am Maia do Carmo Brandt Cavan (Og. Teri aa apo an debe, Cortex! Fapeep/ Instituto ce Estos Especas-PUC, 1993. ‘azdo e consenso em Habermas: a teoria cliscursva da vordade, da moral, da dieito € (2 biotecnologia, etamar José Vipane Duta 4, ca UFSC, 2005, ‘© Ateoria critica: ontem e hoje. Bécbara Freitag. ‘raslens, 196, A teoia ert, Marcos Notre, Zaher 2004 (O ESSENOIAL DO AUTOR '» Mudenga estrutural da esfera pic. Srmen Habermas. amo Basie, 1984, ‘Teoria dela aclén comunicativa, volumes 1 2. Jurgen Habermas. Tauris, 1987, ‘= Diteto e demooraoia: entre tacicidade © validade, volumes te 2 Jirgen Habermas, “Tempo Brasteo, 1997, PARA IR MAIS LONE ‘A inclusdo do outro: estudos de teria politica. Jirgen Habermas. Loyola, 2002 © 0 discursoflséfico da madernidade.Jrgen Habermas. Martins Fortes, 2000, La teoria eilica de J, Habermas, Thomas McCarty. Tecros, 1978, «Habermas: o uso pablion da razdo. Rainer Roch, Tempo ase, 2005. * Patologias da mademidade: um dislogo ‘entre Habermas o Weber. Jessé Souza. ‘Annabiume, 1987. ‘ Razio, justia e modernidade. A reconte ‘obra de Jiryen Habermas. Stephen Wis. leone, 1995, Je39, Mahermas diz que revratice nao consogue Somprender os pons 0 angust Cll CrMmds A psicandlise como teoria critica — Habemas.ia a psicandlise como um esforgo de tornar consciente 0 inconsciente e, por algum tempo, considerou-a um exemplo de teoria critica POR Lulfs SERGIO REPR “A PSICANALUISE RELEVANTE para nds por ser o tinico exemplo palpavel de uma ciéncia que reivindica metodicamente a auto-reflexio.” Com essa frase de % " EM SINTESE Conbecimento e interesse (1968), Jurgen Habermas Sane eae eaaes. explicita a perspectiva da qual incorpora a psicanilise ‘ingen Habermas consider em seu pensamento. Enquanto outros representantes Lips rant ner nee da tradigao da teoria critica, como Max Horkheimer, uma forma de saber em que Interese pela emanciparto ‘Theodor Adomo © Herbert Marcuse, recorrem a Forircun are obra de Freud sobretudo como recurso conceitual a eine cones os prinjpios sins. Tl merese Dara explicar atitudes autoritdrias e fascistas genera- al cai aaa © lizadas, tipicas das sociedades do capitalismo tardio, ‘a lingsingean @ de coranaicarto, g estrtra a qu remetem = Habermas volta-se para ela a fim de descobrir pri- inthodomterte 2 ram er 6 a de deseo inconscientes, E meiramente um paracigma metodlologico de teoria Saari 5 cientifica essencialmente critica, de inerpreagd. 7 A psicanilise é abordada no ambito de uma teoriz do conhecimento, ou, mais, precisumente, no interior de um projeto de funcamentar epistemologicamente a teoria critica. Isso nao implica, no entan- to, a exclusto de um uso substamtivo para a teoria social, para o diagndstico de formas ideolégicas de dominacao e alienacao. Pois a psicandlise € a ciéacia social que se estrumura como uma critica da ideologia lidam com o mesmo abjero ‘em planos diferentes, individual ¢ cole- tivo, mas interligados: com formas de comunicago sistematicamente distorci- da, As neuroses individuais e as institui- ‘g0c8 sociais revelam-se como duas faces de um mesmo processo de socializagao que depende da comunicacao lings ca e simukaneamente a disiorce A seguir nos limitaremos, porém, a exposicio da idéia de psicandlise como paraeligma de teoria eritica ¢, nesse con Texto, a idéia de interpreti-la com base ‘em uma teoria da comunicagto. DéxICIT FILOSOFICO Grande parte dos esforgos tedricos de ‘Habermas nos anos 60 orienta-se para a tentativa de fundamentar filosoficamen: Te a Teoria social critica. Tas esforcos devem-se, por um lado, 2 necessidade de se contrapor & atitude positivista ce 18 MENTE, CEREGRO & FILOSOFIA ‘OESCRITORIO de Sigmund Freud em Londres, com a seu diva, torou-se wn museu 0 interesse do sujeito na propria emancipacao fundamenta-se na estrutura da linguagem considerir qualquer aspects erftice ¢ ciéncia como uma dimensao exiracien- tifica, no limite uma postura baseada em decides ¢ valores que 20 podem ser sustentacios racionalmente, Mas, por outro lado, espécie de deficit flos6fico da pripria tradi desenvolvido um conceito adequaco sobre seus proprios principios. Partindo de uma releitura de “Teoria escrito por 57 — justamente © texto em que se formula pela primeira vee a idia de teoria critica -, Habermas propoe-se a suprir esse déficit por meio de uma concepeao filosofica, mas cien- tificamente sustentada, da relaglo entre conhecimento ¢ interesse. Tratase de mostrar que todo suber es orienta- do por interesses proprios da espécie humana enquanto tal, Isso se Gencias da Natureza e da sociedade baseadas em procedimentos empiri naliticos, também decorre de uma da teoria erica, que nao teria tradicional ¢ teoria critica ic cos € as ciéncias da cultura haseadas em procedimentos histricos € hermenéuticos, ¢ especialmente as Gi€ncias humanas com intengio erica Enquanto para © positivismo a obje- tividade cientfica s6 € garantica pela supressao do interesse na producio do conhecimento, para Habermas a objetividade s6 pode ser garantida pela considerse conhecimento ©. interesse seria possivel proceder 4 uma verca deira racionalizaglo, uma selecio dos inceresses que objetivamente cont na determinagao dos virios tipos. de saber. Dess perspectiva, os interesses fundamentais nao devem ser c bidos como meros impulsos, subjeti- vos € determinados particularmente pela situagio; eles definem, como os conceitos da razio pura em Kant, a8 condigées da objetividade possivel, Ou seja, cada um deles define um quadro transcendental em que os enunciados das ciéncias recebem seu respectivo sentido © validade Nao se trata aqui de retomar a nocio kantiana de sujeito transcendental, mas sim de remeter esse quadio trans cendental 4S condigdes constitutivas da _espécie humana. Desa _maneira, Habermas pretende demonstras, com uma reconstrugao interna da historia da ciéncia, como as ciéncias empisico-ana~ liicas, histGrico-hermenéuticas e criticas, se constituem por um nexo entre as respectivas regras metodologic: resses antropologicamente enraizados, TRABALHO E INTERAGAO Para as cigncias empiricas ¢ analitcas, que buscam descobrir regularidades € nexos caustis e estahelecer progndsticos, encontne-se © interasse téenieo em tomar disponiveis determinados processos natu- ras & socials, Ou sea, esses processos SIO sformacios em objetas passiveis de um emprego tGenico e produtivo, Assim, na de teorias cientificas, o quad transcendental em que se ddefinem regras construtivas vem predeteminadlo pelo Interesse técnico que incide no provesso de objetivacao de estados de coisas. Para as cifncias historicas ¢ herme- néuticas, que buscam a interpretacio correta das tradigdes culturais, encon- triese © inieresse pritico na conserva anstry REMBRANDT; Os sinclcas do grmio de tocidos, 1682. Ere igual, a linuager constitu um meio de able consensos clo e ampliagio de formas de intersub- jetividaide culturalmente consticuidas. Por mais que busquem colocar-se horizonte particular em que se apre senta 0 objeto simb6lico a ser interpre- do espirito escolhem seus padrées de interpretacao tado, as chamadas ciénc com base na situacio em que realmente se encontram, também com 0 objetivo de compreendé-la, permitindo assim uma comunicacdo entre tempos histéri- cos diferentes ¢ uma autocompreensd como as ciéneias empfrico-analiticas, pro- duzir um saber nomolégico, um saber sobre regulisidades empiri isso, esforcam-se por examinar relagdies de dependéneia ideoligiea que sto em principio alteriveis, de mode «ue © saber assim produzido desencadeie nos sujeitos afetadios um processo de reflex e eflexio. E esa, em linhas gerais, & pre tenso essencial das diversas formas de as ciéncias critic pela emancipag: ‘no conceito de auto-reflexio, E na reflexao que o sujelto Giz sobre sl mesmo a respeito ‘cologia ¢ da psicanilise © interesse de representagdes. injustificaveis que se descobre © momento do interesse pela emancipacio, Ao mesmo tempo, interesse fundamentirse a priori na estrutura da linguagem: com elt ‘a maioridade € posta para nés; com a primeira propasicao, € expresso inequivocamente” diz Habermas em um ensaio proges- mitico de 1965, também chamado de ‘Conhecimento € interesse” Esses w@s interesses. fundamentals a imengio de sil € sem coagio dimensOes do trabalho (imeresse (é nico) © da interagio Cinteresse pritico © emancipatério), que formam a base cia historia natural da especie humana formacio, meio da linguag clas quais a especie humana se desen: volve, Os processos dle socializacio de cada ser humano tm de passar por cessas dimens6es, Ainda que as formas modifiquen focorre seu processo de Trabalho © interacio por is de trabalho e de interacto se © se diferenciem a cada etapa do proceso formativo da espé- cic, € possivel perceber uma ldgica interna nos processos de dominagio da reza, dle um de organizagao da sociedade, de outro, LUTA POR RECONHECIMENTO Os processos de trabalho de inte- ragao também se implicam, mas mio poem ser simplesmente reduzidos uns 0s autos, A divisio social dot Iho supde uma determinada + de domiaagio, que se buses legitimar em visdes de mundo. Por sua vez as legitimagoes da. organizacae estahelecem limites para 0 avanco ou modificacdes nas estruturas do tabalho, por exemplo, no emp téenicas. O imporante, para Habermas, € que as lutas © os conflitos: social uinckt que possam ser motivados pela istibuigdo desigual das riquezas jo: duzidas, nao podem ser corretamente interpretados apenas com base na esfe~ ra do trabalho social, Elas constituem-se como lutas por seconhecim reportando-se as idgias montis e polit cas que legitimavam a distribuiglo desi- gual de poder, Ou seja, cesenyolvem-s esfera da interaglo que s6 & possivel por meio da soctalizaca lingiifstica 19 _HABERMAS TRABALHO NO CAMPO, miata mina. A tert eftca identifica na evs social da trabalho uma determinada relagso de dominagio, que se husca lelimar em vsies de mundo Enquanto as esferas do trabalho se constituem por uma intesigagio densa de agdes instruments, isto €, ades vo!- tadas para a realizaglo de determinados fins, nas quais imports a escolha ade- quada de meios, as esferas ca interagio constituem-se como um tecido de acoes comunicativas, isto &, ages em que os suijeitos buscam orieatar sua agio por conviegées ou consensos relativamente compantilhados. O que motiva alteragdes na configuracao da interagao social st0 as exigéncizs internas da linguagem, enquanto meio part obter consensos. (Ou seja, a linguagem pressupde concl- es de bberdade e igualdade entre os falantes que no mais das vezes so sufo- cadas pelas configuragées institucionas, historicamente determinaclas. Se com cada proposigho se express a intenclo de ums vida emancipada, com ela surge, diante da nao satis- faglo dessa exigéncia, uma reflexio sobre as condighes dadas de intera- glo social © uma auto-reflexto dos sujeitos respeito de seu processo de formagio. Naturalmente, 9 potencial emancipatorio. € crtico da linguagem 56 pode aumentar quando na evolugio da espécie as visdes religiosas e metali- sicas do mundo perdem sua forea, © as interagdes socials passam a depender dirctamente de obtengdes de consensos apairentemente niio-coercitivas. Ou seja, 20 MENTE, CEREKO & FILOSOFEA quando se chega as sociedades capita Tistas modernas, nas quais as ideologias urguesis de igualdade © liberdade desempenham © papel de legitimag20 da ordem existente, PARADIGMA PSICANALITICO ‘As razées que levam Habermas a des- tacat a psicanilise como paradigma de cigacia cssencialmente ertiea devem-se a posicao central das categorias de auto- reflesio e de linguagem na tGenica ana itica. E a paris da relagdo terapeutica, dda relagdo.intersubjewva entre analista € unalisando que € preciso reconstruir 10s slong tecicos de Freud, evitando uma compreensio. posiivista motivada pelo proprio criador da_psicanalise, iso €, por seus intentos de descrever © aparelho psiquico seja_mecanica- mente como distribuigao de energia, seja estrutural e funcionalmente como formado de tés instincias t6picas: eg0, id © superego. © conhecimemta psica- nalitico tem de ser interpretado, segun: do Habermas, como um conhecimento que comega, desenvolve-se © termina ha auto-refiexto, no esforgo de tomar consciente 0 inconscieate © pano de fundo dessa interpretagao a psicandlise, em grande medida inspi- racla pelas trabalhos tedricos de Alfred Lorenzer, ¢ constiufdo pelo papel-chave atriufde 8 linguagem, seja na formagao dos desejos inconscientes, sejt na situ- ago snalitica mesma, seja como uma forma especial de interpretacao No tiimo aspecto, a psicantilise integra um procedimento proprio das ciéncias hermenéuticas. Desde o inicio ela esté remetida a uma hermenéutica profunca, a um wahalho de interpreta: Glo que tem paralelos com a exegese de textos antigos que foram adulterados © mutilados. Mas enquanto 0 fildlogo procura suprir as lacunas ov corrigir as istorgées por meio de uma compreen- sto das intengbes do autor, 4 luz de seu horizonte cultural, a hermenéutica psi canalitica busca compreender © porque das lacunas ¢ distorgdes de um texto em um campo nacrintencional, F nesse sentido a psicandlise também inregra procedimentos das ciéncias. empitico- analitieas, ela também pretend estabe- lecer relagdes causais, aincla que a cat- salidade, na ordem dos sintomas, seja 0 objeto da terapia, aquilo que & preciso superar como forya causal INTERPRETE DE SONHOS Na imerpretagao psicanalitica, os tex- tos = isto €, as falas, comportamentos de aglo © expressoes carporais ~ so constituidos pelos auto-enganos de scu autos. Eles sao perceptiveis nas per- turhagdes de jogos de linguagem mais ‘ou menos habituais, em que hi uma “www mentecerebra.com br erRocuco relativa coeréacia entre © que 6 expres- samente dito © as agdes © expressdes exraverbais. Os atos falhos sio repre- sentatives de perturbagdes até certo onto cortiqueiras. Os sintomas ncurd- ticos, por sua vez, Sto as perturbagdes ‘mais flagrantes, si0 como “cicawizes de uum texio adulrerado”, dante do qual © autor se comporta como se fosse um texto incompreensivel © modelo normal de un ta texto dis- toreido e incompreensivel para o autor € © sonho, diante do qual o analista deve exercer uma atitucle ce interprete. Ele deve buscar o pensamento onirico que foi transformado em conteudo oniri- co simbslico, descobrindo os mecanis- mos de resistencia que provocaram essa uransformagio € que atwam também nas Giiculdades do analisando de fazer asso ciagoes, motivadas pelo analista, entre os contetidos dos soahos e das falas com- plementares a respeito deles O5 textos onircos e os auto-enganos dos autores formam, pelos mecanismos de resistencia e recalque, uma lingua gem simbéliea que Habermas entende coma 0 resultado de uma privatiza- cao da Knguagem pablica. A inst Gia psiquica defensiva, representando 4 repressio social, impede que deter A linguagem e a auto-reflexao ocupam uma posig4o central na técnica analitica minadas necessidades ou cleterminadas interpretagées de necessidades subje- tivas sejam tematizadas_publicamente. © recalque equivale a uma exclusto da comunicagao publica de necessidades fundamentais, nao sancionadas pelas instituigdes das interagoes socizis. Dessa_mancira os desejos incons- cientes st0 os simbolos banidos da comunicag20 publica, que encontram no sonho uma linguagem apropriada, mas privatizada por vedar a comuni cago intersubjetiva. Na vida desperta, essa linguagem privatizada manifesta-se como simbolos incompreensiveis que perturbam os jogos de linguagem cots dianos; eles se manifestam como sin- fomas, como formas substitutivas para a satisfaglo de desejos recaleados © a0 mesmo tempo expresses das sangdes ‘operacias pela instancia de defesa F tal privatizacao da linguagem que © hermeneuta psicanalitieo procura ANOITE tela de Ferdinand Wodle, 1890. 0 psicanaista deve atuar como Interprets de sonhos wow.menieceredro. com be FORMACAO DO INDIVIDUO # SOcIALIZAGAG 27 interpretar & explicar. Ela resulta de ‘uma limitaglo da comunicagio publica, imposta por relagdes de dominago, Na medida em que essas relagoes nao pre- tendem tornar patente a ilussio de uma comunicaglo livre de toda coercao, elas imptem limites & comunicaglo no interior do proprio sujeito. Dessa maneira, © neurético zela por uma falsa comunicacao publica, afetando a comunicagao consigo mesmo. Ele po consegue compreender seus pré- Pri0s textos ¢, com isso, suas proprias necessidades. Porém, uma falsa comu- nicaglo piiblica j4 indica processos de privatizagto da esfera publica em grande escala. A privatiza;o psfquic corresponde 2 uma privatizacio social que se choca com as pr6prias estrutu- ras lingUisticas, Daf que o analista apenas precisa desprivatizar a lingua gem do analisando, mas também dest mitar o discurso publico em que aquela pode ser compreendida. AUTO-REFLEXAO Habermas interpreta enti a técnica analitica como um processo de esclare~ cimento e de eritca da ideologia. Nao se trata apenas de esclarecer o analisan do sobre 0 que ele nao sabe a respeito de si mesmo, mas de mostrar como & por que ele niio sibe, ou seja, por que a informacio sobre si mesmo le é veda- da por ele mesmo sistematicamente Por isso trata-se de uma auto-reflexao nao apenas na dimensio cogaitiva mas tambem afetiva Para esse processo de esclanecimento, € preciso haver uma divisto de trabalho intelectual entre analista e analisando Enquanto 0 médico reconstr6i a histria de vida do paciente funclamentando-se em seus textos fragmentirios, como se fosse tum arquedlogo diante de vestigios pré-his trious, 0 paciente se recorda, rememe seu passido, Reconstrucio hipotética € rememoniglo S10 dois aspecios de um mesmo proceso reflexive. Mas somente 1a recordagio do paciente pode compro var, em Ultima instincia, a pertinéncia ck reconstnigio do analista, Tal divisto de trabalho também ocore na forma de uma Tura, verificada nos fendmenos ce réncia. Também esse conflto, que atualiz na. situagio analitica os motives clos dese: jos inconscientes, liber indicios que tanto, servem pit a reconsiuigio do. analista ransfe- A cisio da vida psiquica precisa ser dolorosa, para 0 paciente ter interesse em supera-la ‘como para a rememoragao do paciente. © poder eritico se realizaria na dissolucio de atitudes dogmiticas que cindem a vida psiquic do paciente, Mas esse poder $6 € efetivo na medida em que essa cisto ¢ sentid como dor, Habermas fala de uma “pai xo da critica” como condigio de toda critica analtt dor, do softimento e do interesse em superi-la, a eritica seria sem efeito. Quire pressupasto ca situagio a ida “paix da cate abilidade com a propria doenca, com © reprimikdo © © inconsciente, Habermas interpreta ess responsibilidade em um sentido ético, nos termos da lakética da eticidade de Hegel. Nela esti em jogo a ‘cuusalidade do destino provocado por Jo saber analitico Sem © pressuposto da alit- pon ‘MELHOR E MPoSSiVEL, fim de James Brooks, 1997: a neurosa estaboloce bloqulos &comunicacso lum ato criminoso que rompe a simetria de relagses intersubjetivas mediadas pela linguagem. Na dor ca culpa assim suscita- da, 0 criminoso ¢ levado a pereeber que, 10 alienar a vida do out, ele se aliena a si mesmo, pois sua identidade se constinti por relagocs de reconhecimento com 0 ‘outro, Algo semelhante Habermas enxerga pa responsibilidade pelo reprimido, © lego precisa reconhecer em seu outro 0 eu priprio alienado, identificando-se com ele Sem essa sesponsabilidade come reconhe imenio de si mesmo em seu outro, na0 se poderia enrencler nem efetivar a técnica analitiea como auto-reflent. Todos esses aspectos da situagio da técnica analitica sto tomados como premissas para defender a tese de que a psicana xo, Ela tem por objeto uma comuni casio sistematicamente distorcida, com efeitos patolégicos recorrentes. Porém, € no interior dessa comunicagio, por mais distorcida que seja, que se encon- tra 0 impulso de sua superscao, pois linguagem privatizada se (nda 2 linguagem poblica ise € a ciencia da auto-refle- reporta O FUTURO DE UM PROGRAMA Ems interpretagdo de Freud, Habermas considers que the faltc adequada da laguagem. No entunto, © proprio fl6sofo ainda nto dispunha de uma fal teoria em Conbecimentio ¢ inte sso, Somente alguns 3 baseacdo na teoria dos nos depois cle passa a elabors la, uma concepeao pi lagem que poderia fundamentar © potencial emaneipatorio atribuic a ela, com a qual desenvelve uma teoria da agao comunicativa, que se torna a peva fundamental de suas explicagoes sociol6gicas e filos6fica, Nese momento, isto €, desde os anos 70, © programa inteiro de Conbecimenso @ tmteresse parece completamente aban- donado. A psicanilise ja no desponta como paradigmitica nem metodolégi- ci nem toricamente, Porém nunca negou de maneira explicita sua interpr de Freud. As razdes desse aento relerem-se menos a tal inter preagio do que ao programa inteiro de Conhecimento e interese. Ow se, dia de fundamentar a teoria exitict no quadro de uma teoria do conhecimento. A concep sobre 0 nexo interno entre conhecimento © interesse apresenten problemas tio um: auto-aplicigao. Ou seja, a que interesse a se ligava em um plano prévio, se nao se referia nem a um interesse ¢ Togo encontrava nem pritico, riem emancipatsrio? Mais enfaticamen , Habermas pas- sou a considerar que uma fundamenta- Ao no nivel da teoria do conhecimen to era uma via indireta dispensivel em que 2 aglo comu- © fundamento sua teoria social, os padres normati vos da critica e © pocencial de formaglo imanente a realidade ja se enconiram dados no Ambit dos at tos que se pret Em paralelo com iss0, ele também mndstico mais preciso das sociedades do capitalismo tardio e Estas se devem a nicativa se_torna de de suas patologias. uma especie de invasi0. As pacologias modemas tipicas sio © resultado da © expansio do sistema econdmico capita- lista e do sistema buracritico moderno pant além dos mhitos em que cles THOMAS GAINSBOROUGH, As fas do plotorporsoguindo uma borboleta. Segunda Habermas, os sistemas inher poder iuadem a parted Sociedade denominada "mundo da vida" familiares 9 de amizade se desenvolvem originalmente &, © Ambito da reproducao. mat de modo que ess outros ambitos da sociedade, « mus de reprodugio no podem ser subs tina s sistemuis invader § sem causar patologias © crises. Em outros termos, © sistema econdmi- co, chamado por Habermas de sistema Ginheiro, ¢ o sistema estatal-burocratico, chamado de sistema poder, inv parte da sociedade denominada mundo da vida", isto € da farnilia, das relugdes de ami vizinhanga € a esfera pablica constituids aesfora privada de instinigdes e discussdes cultu polticas. A Iogica propria de reprodu 0 mundo da via € definida entdo pela Newe contesto, as. seuotes estudidas por Frewd jf mo desempe foham um papel significative. Mas, por outro lado, continua a gias socks, entre as quais a8 psiquicss Sempre se reporam a uma dstoreio de Grigem externa com repereussoes na estutura interna da linguagem. © a iciéiaTxisiea FORMAGAC inca as elas. 10 BE dove em fis pedo yates de Ploafade eat eo Pla PALATSD) efsord Nao tsps a ace ato ce Arlee Placa (eben, tects Aflesa comm creiaresantatrae2s feigned racic em Haberans em dso {Rado 205) ¢ Nei dodo 0 ago comics en Prim Hi can ata (Gator 34,258) co terns: eg Heber (ai Fo PONTO DE PARTIDA © Conhcimenta einteresse.Jirgen Haber, em Ecole de Frnt, Os Persad You UM Ab Cultural, 1975 CO ESSENCIAL DO AUTOR " Conhecimentoe intresse Jurgan Habermas Jog Zaha, 1982 * Conscléncia morale agir comunicativo. Jirgen Habermas, Tempo Drasiee, 2003, ‘Teoria de a accion comunicatva. Jrgen Habermas, Taurus, 1987 PARA IR MAIS LONGE ‘Tria critica e psicandlise.Sé Rovanet. Tempo Bras, 1982, bo INDIVID Habermas e a A proposta de uma psicandlise livre Hie do positivismo > Habermas considera que a psicandlise pode oferecer pardimetros para uma disciplina que tenha a auto-rellexao metédica como caracteristica maior EM SINTESE ©0 artigo focaliza alguns aspects da cca OR NEY BRANGO DE sIRANUA Coe ‘© TRABALHO DE HABERMAS pode ser inserido sconcepgbes de Frew em especial ao natiralsno na linhagem das andlises que consolida- eer arial ram aquilo que ficou conhecido como a psicanilise & abordada, teoria critica da sociedad. Sabe-se que os em particular, a proposta areca eentrasio Tabalhos dessa variada corrente de pen- de wma nova metapsicologia samento freqiientemente discordam entre livre do positivismo, baseada die f ca eee si. Todavia, ainda assim € possivel - um refleiva que lve em conta intérprete importante como © americano ‘08 pariimetros da linguagem ‘eda interagio. Apoiando-se nas concepgies do psicanaistn obra de Habermas, pode atestar esse fato Alfred Lorenzer, 0 filésofo Thomas McCarthy, leitor atento da ampla prcteade reconstruir a — situar a interpretagio de Freud realizada poicandlise como una teerit pelo fildsofo alemio, ¢ mesmo o uso da da comunicagio ditorcia Naa Unguagem e seus psicandlise feito pelo autor na consecuc3o sinbolossio prvaieados ‘ we de seu projeto tedrica maior, na tradicio produzindo sintomas que eet i. s6 podem ser compreendidos inaugurada pelas primeiras reflexdes da 1a dependéncia des oe vertente de pensamento também identifi- do paciente cada como Escola de Frankfurt metapsicologia HABERMAS MeCarthy ensina-nos que a abordagem que Habermas faz de Freud pode set Jocalizada em relagio « essas primeiras discussdes. Como fica evidente desile a discussi0 dos interesses emanc fo eapfula 2 de seu famoso livro de 1968, Comhecimentoe interesse, 0 f16s0- fo continua a usar 08 conceitos psicana- Iticas para estabelever os vinculos entre 4 estrulurs institucional. da. sociedade a psicologia individual. Malgrado os uuacos de identificagio, McCarthy nots que mio € 0 papel de especiticagto dos elos entre 0s dois planos mencio nados que vai marcar « panticalaridade da abordagem habermasiana, © sim 0 Wigs sobrenudo metoxlol6gico que sua investigago adquiri. £ na medida em que 4 psicanilise pode oferecer pari- metros para uma disciplina que tenha a autoveflexio metédica como st caracterisica maior, que 0 campo de conhecimento inaugurado por Freud vai impostar a Habermas, © seminal inter prete americino observa: “Tomando a obra de Alfred Lorenzer como ponto de panida, ele entdo vai reconstruir a psicanilise como uma teoria da comuni- cago distorcida. As ligbes que ele deri- va dessi reconstrugio sto largamente metodologicas; ela nos supre com uma mais precisa concepgio da léxica da 26 MENTE, CEREBRO ¢ FILOSOFLA Habermas estabelece vinculos entre a estrutura institucional da sociedade e a psicologia individual cigncia reflexiva € ento nos prove com as linhas diretivas para a construgio de ‘uma teoria critica da sociedade” Uma tl teoria tende 2 se encontrar com aguilo que Habermas identifica como um lelos emancipatério proprio a autoformagio do. género humano, Rowanet, um dos leitores brasileiros de Habermas, resume 0 papel que a auto- reflexao tem em Habermas, quando ‘esse felos se explicita em seu interesse, nos seguintes termos: “As teorias cor respondentes a esse interesse slo as disciplinas eritieas (a psicanilis critica da ideologia) ¢ de modo mais especifico as ciéncias socials critica- mente orientadas, cujo objeto vai além da mera descrigao de fatos e da simples formukigao de regularidades nomo- ogicas. O quadro metodolégico que cestabelece a validade das proposigdes derivadas do interesse emancipat6rio & aauto-reflexdo, Nela, 0 sujeito libera-se dos poderes hipostasiados que tam a ilusao objetivista © bloqueiam a livre comunicagio entre os homens" DUPLICIDADE FREUDIANA. ‘A perspectiva que Habermas construitt da obra de Freud & notivel em pelo menos mais dois aspectos. Em primeiro lugar, ela opera uma leitura critica, mas imilatva, do setor da teoria psicana liica envolvido com 0 sentido ~ a0 qual © conceitc: de interpretagio se aplica diretamente - ¢ busca fundamentar os procedimentos € aperfeigoar os concci- tos gue sko correlativos dessa dimen; sto explorada pela psicandl Ambito, sva leitura pode ser entendi- da como uma contibuigto substantiva para a psicandlise. Em segundo lugar, Habermas raz A luz aspectos dessa mesina obra comprometidos com pro- cedimentos te6ricos caleados no espit to da ciéneia empirica da Natureza que pirecem contrariar as abordagens que © primeiso plano desenvolveu. Com iss0, a leitura feta por ele tenta contr: buir para a detinicio da especificidade essencial da psicandlise, afastando-a de feflexdes denunpadoras © permitindo 0 contraste com outros procedimentos de atuagao psicoligicos. Para Habermas, a psicandlise de Freud sempre esteve envolvida com essa duplicidade na medida em que ele mesmo a exgucu segundo bases dupls, sem tera clareza metodologica dos com- prometimentos que 0 desenrolar de sua nova dlseiplina exigiam. HERMENEUTICA AMPLIADA Seyunda © filésofo, a psicandlise tem inicio © se canacteriza essencialmente como interpretagio de conjuntos sim- bolicas ~ tal € 0 caso da interpretacio ddos sonhos, dos sintomas e atos falhos =e deve ser entendida como tendo desenvolvido uma form especial de interpretaga, Assim, ela ndo é uma her- menéutiea tradicional, o que poderia ser ilustrado pelo pensamento de Wilhelm Dilthey, mas deve ser entendida como uma hermeneutica ampliada e espe que ulspassa os procedimentos inter- pretativos encontrados nas ciéncias do espirito, ou, para falar numa linguagem Nesse Herzog, 1974: um personagom privada Convivo soctal eda linguagem até os 18 anos, HISTORIA DE VIDA 0 ponto de apoio para atividade dos homens. disposieao, jé que a meméria, conduz 0 que fol trazido Habermas mostrar as Para Dithey, na ‘ou os produtos da vida tona eco cach” imovagdes da hermenéutica _reconstrugdo habermasiana, _objtivados que a substituem, psicanalitica foi encontrado a autobiografia permite equerem inerpretacdo, ‘na obra de Wilhelm Dilthey apresentar modelarmente _Isso porque eles nao exibem (1833-1911), Em sua 0 ato de compreender seu sentido ciretamente, trajet6ria, esse filtsofo conjuntos simbolicos. Ela niamedida em que podem festabolecou uma dlstingdo _traz.a dimensZo temporal a ser, em razao de influéncies ‘cada vez mais nitida entre as ser apreendida no esforeo externas ~ como cidncias da Natureza que de rememoracdo biografico, a passagem do tempo, a operam explicativamente _portanto afirma a dimenséo _perda total ou parcial de mediante 0 estabelecimento histérica envolvida na vida material documental eto. de leis gerais—e as ciéncias humana e coloca, com Isso, — parcias, deteriorados, ddo esprit, que tratam das também o problema de ou desconectados, realizagées humanes legadas compreender o sentido de O papel da filotogia na * por melo de procedimentos linguagens distantes; 20 —_=hermendutica de Dilthey fica ‘compreensivos, aplicados mesmo tempo, evidencia as mais claro desde esse ponto. da. ‘avs sentidos consolidades _ificuldades encontradas ‘Assim como 0 seu limite. Como Esta a sua diferenga em: nas experiéncias vividas nano material que se poe a ‘Habermas mostra, Dithey ——_relagao a Freud, mais proxima a.nés, nas céneias huma- gem, modelos de agio © expresses’. de Witgenstein, muito embors nto ‘as, Daf sua impor na ¢ sua relevaincia metodologica. A leitura de Habermas articu por meio de uma concepcio nuclear de linguagem na qual “a gramética da inguagem cotidiana nao apenas regula 0 conjunto simbélico mas, igualmente, a imbricagao de elementos da lingua: como discipli- Partinda desse pressupasto, Habermas vai afastar-se de Dilthey e aproximar-se de Freud, ao afirmar que a psicanilise ttabalha com conjuntos simbélicos que nao exihem seu sentido diretamente em fungio de influéncias dnternas qui rompem os jogos de linguagem usuais (Habermas usa um conceito extraido The dé unmia intespretagaio candnica). Por esse motivo, esses conjuntos sim- élicos no pocem ser reconstruidos ‘ncaminhados ao ambito da opiniao subjetiva comum. Tuis. sistema simbélicos e820 cin didos «la linguagem que € propria 2 opiniao subjetiva partthada no afvel do agente, Por isso ele mesmo no compre- ende 0 sentido do que produziu, como ‘ocorre nos somhos ¢ em todas as forma- goes que a psicanilise estuca (quais taballia clinicamente sintomas ¢ todos os mutlado ou distorcido que aparecen no tuatamente analitieo balizado por Freud. O fato € que, como 0 eriador da psicand- lise ensinou, o individuo se expressa por meio dessa’ cisio, mas ess expressio. 120 pode ser fecuperida sem mais por cele. Qualquer tentativa que nao leve em conta os fatores operantes na expressio — justamente os que Freud vai estudiar que tente produzir sentido por meio de turma operagio hermenéutica regular, que Ccondluzat seu trajeto por meio de um jogo de linguagem subjetivo da linguagem cotidiana, levard diretamente 2 ilusio. ispectos de sentido HABERMAS ‘ limites de sentido encontrados so, eles priprios, plenos de sentido, como afirma Habermas, isso significa que © agente esti de posse de uma semin- tiea que pertence ao dominio do senso comum, numa tradugio freudiana, cons- ciente, mas, 20 mesmo tempo, esta condi- ionado por um movimento que expressa a relacio dele, agente, com um sentido. Em outras palavras, « comunicagao do sujeito que fala e age esté interrompida com ele mesmo. De que maneira uma tal situaglo poesia ocortet A tese de Freud, redescrita por Habermas, é que, em fungio de conf 108 existentes entre uma instincia limi- tante — entendida como agéncia capaz de, em corelagio com um jogo de linguagem integrativo, levar adiante inte- rages ajustadas ao sistema de permutas sociais — e motivos de ago no assimi- Jos pelo jogo regular de interagoes, © meio psiquico mais eficaz de neutralizar as disposigdes indesefiveis consiste em excluélas “da comunicagio puiblica, isto &, em recalcar as intespretagoes as quais esas necessidades esto acopladas’ ‘Ao encontrar essa linha de contato com 0 texto de Freud, Habermas dé inicio a uma verdadeira reconstrugio 28 MENTE, CEREBRO 6 FILOSOFIA hermendutica do trabalho do pai da psicandlise, na direcao de evidenciar © seu carter de hermenéutica pro- funda, Vai acompanhar uma série de conceitos centrais a teoria psicanalitics de Freud e apresentar sua versio her mengutiea. Mas a ligacio do fildsofo com a psicanilise, ou melhor, com a teoria psicanalitica, no para aqui. Pelo (0 ANO PASSADO EM MARIENBAD, filme de Alain Resnals, 1961: real, imagindrio ‘edimensbes temporals se entrelagam contririo, como jé indicamos, todo um movimento critico vai reafirmar 0 posicionamento da psicanilise como hermenéutica ampliade ¢ evidenciar as dificuldades em que Freud se colocou ao tentar conjugar o trabalho interpre~ tative com 0 universo das explicacoes cientificas de tipo positivista PsICOLOGIA NATURALISTA ‘A histéria da formagao do jovem Freud € mobilizada para elucidar © campo 30 {qual pertencem algumas das idéias uili- ‘zadas pela psicanilise para desenhar sua pane teérica mais especulativa, conhe- Gida como metapsicologia, segundo as Girottizes mais proximas das cienctas «la Natureza, A formagao de Freud como médica aplicado sobretudo 2 neurofisio logia ganhow uma literanura imensa ~ em grande medida escrita depois do texto dle Habermas, mas nao diretamente liga- da a ele ~ © mo podemos lungar mio dela aqui. O importante & marcar como Habermas monta sua leirura na crenga freudiana de que, se o conhecimento cientfico progredit amplamente, pode- remos infivir nas quanidackes de ener [assim como em sua distibuicio, por meio do uso de substincias quimicas, METAPSICOLOGIA EM FREUD A felticeira de Freud especulagées sobre os ‘Como lembram Lapkanche a metapsicologia ~ ja aspectos dinamicos, ‘e Pontalis em seu ‘foi objeto de incontaveis ‘épicos e econdmicos: insuperado Vocabulério discussbes. Filésofos ‘dos processos psiquicos. da psicandtise, todo 0 e analistas buscaram, Desse modo, encontramos _conjunto des conceitos ‘sem consenso,e ainda consideragGes sobre da teoria das pulsdes, a buscam, atingir o sentido —_principios hipotéticos que descrigdo do processo desse setor complexo embasam a descrig30 ‘de recalcamento, enfim, do universo conceitural propria psicologia ‘a maior parte do aparato ‘da psicandlise, Para 0 psicanalitica, modelos ‘tebrico que permite a -eriador desse campo: teéricas ou conceltos Freud explicar os eventos: do conhecimento, & fundamentais em varios que ele identifica no metapsicologia 6 0 ‘dos esoritos de Freud ‘mundo mental guarda uma dominio teérico em -que devem ser reunides relagdo muito estreita com que se desenvolvem as ‘como metapsicolégicos. ametapsicologia. fe que isso podria substituir a pritica I postura aproxi- nentos da. psiquatria essa reducio ao modelo de distribuicto energética tem origem nos anos de formacio de Freud se manteve presente em todos os momentos cruciais da estagio do pen- sador austriaco. Fla qualifica um aban- dono do enquadramento herme dos marcos em que a psicanilise se qualifica co Podemos wilhar © inicio da pers pectiva positivista no Projeto de uma pricolegia, 0 famoso Fntunaf, texto de 1895. Nas primeitus palavras da introdu- gio, Freud afirma que seu propésito é ‘Oferecer uma psicologia cientitieo-na ralista, Ou sea, aprenentar processos quicos como estados quanti determinados de partes mates tien, uio-reflexdo. PIERRE BROUILLET, Auta na Saipotriére. Charcot mostra 206 alunos os sintomas da histria Na visao de Habermas, 0 pai da psicandlise estd aprisionado num mal-entendido cientificista de serem especificadas ¢, com isso, torni- contradiglo’ Para Habermas, 2 continuidade do trabalho de Freud mescla esse ciscur so fis com © hermenéutico, que ava de outras fonte \dvind: permite ao Jos intuitivas € livres dissemos, © paciente, de deslocamento mentalist, que 08 proc las que so vividas, das exper subjetivas, Este @ 0 ndcleo da apreensao gue Habermas tem de Freud. Resta agora seguir alguns cle seus passos para evidenciar su leitura onal, propria das experien- ENTENDIDO 16 INDIVIDU t SOSIALIZAGAO 29 até pstcandise encontrar a wenica da Mwre associacso Breuer presente (ab-reagao), juntamente com hipnose, que permitiria arga) dos afetos retidos Logo em seguida, com a critica hip- nose ¢ a adogio da livre associagto, técnica por fim consagrada de acesso aos materiais pertinentes 2 psica Freud encontraria 0 caminho para a intersubjetividade do paciente © modelo enengético ja estava catarse (des comunicagaio entre © par analiieo é for- ‘mulada em termos de linguagem ord niria, No entanto, no final, ele voltaria « recair no plano objetivista, ao proclamar 1 ab-reagio. como modelo dos efeitos zerados pelo processo ana Para 0 fildsofo, Freud esti aprisiona: do desde 0 comeco de suas formulagoes nomal-entendido cientificista, Chegando a falar em descaminho metodologico, Habermas insiste que © primeiro, 0 mais originario, esbogo das categorias psicanaliticas, inclusive no Ambito de sua metapsicologia — entendida aqui, por ele, no plano de um horizonte de doagao conceitval ~ foi estabelecido por 30 MENTE, CEREBRO & FLOSOFIA meio da situagdo analitica e da interpe tagao clos sonhos, Ao afirm estamos apenas lidando com um fator ligado orclem das descobertas psicol6- sgicas, mas, ¢ fundamental reconhecé-lo, ‘com um fator da prépria inteligibilidade dos fendmencs em causa, Tendo em Habermas busca firmar alguns marcos vista © que foi dito, interpretativos que situam, a sew ver, a psicanilise em um campo nao contrael orig ow nilo afelto as confuses mete: dolégicas como aquelas que afetaram Freud. Ressaltam nesse esforgo 2 con figuraglo de uma nova metapsicologia € a delimitagio, pela via bermenéutica, de umm nogio de causa adequada aos requisitos avangados até aqui. Em particular, 0 empenho em redesenbar um conceita de causa adequado aos parkmerros da psicanslise gar Hincia especial, pois, para o adepto do modelo cientificista, tal conceito parece Lhe ser exclusive, A metapsicologia deve estudar, aos ofo, © pano de fundo ethos do fils relative ao conhecimento auto-inves tigative proprio a psicanalise, levando fem conta 08 parimerros da linguagem € da interagdo em seus aspectos patols- gicos: deformacdes da linguagem ¢ de comportamentos. Tal teoria sem como pressuposto uma concepeio na qual 3 linguagem aparece como reguladora das formas da prixis cotidia suas cadeias de aches motivadas exis tindo em todos os niveis que afetam a wna, Bla desenvol ao “demonstrar que este caso normal € 0 caso-limice de uma estrutura de motivagao que depende, concom temente, de interpretagoes que afetam tanto necessidades comunicadas publi camente quanto necessidades teprimi das © privatizadas' (CENARIOS DE UM DRAMA A figura de alfred Lorenzer ginha relevo, nese momento do trabalho de Habermas, justamente porque 0 psi- canalista alemio, entee outras coisas, fcultou a0 Blsofo entender os proces sos que enim pensados na chave posi- tivista por Freud — 0s processos di micos das pulsdes — como movimenios Sprios as dimensdes da linguagem e Jo por eli coordenadks. Quando © conflito aparece, slo extmtdos do sistema de comunicago ontingrin frag -mentos de linguagem que ganham wi Vinculaghe simbélica su! generis, chave interpretativa nilo é mais definica pelo discurso corrente, com suas regrais intersubjesi mas idiossincratica, dependente das parti cularidacles biografieas do paciente, Os imbolos assim formados no podem ser dissolvidos por interpretagées & dis- posigao dos envolvidos numa conversit~ Ao comum e, por essa razio, insistem em sua presenca deslocada, diserepan- te, © que Ihes dd © trago impulsive que reconhecemos nas pulsdes, Tal concepeio abre-se para vim nove modo de acolher os nexos causais em psican- lise, Nao se trata mais dle recor como relict especificiveis do. sistema nervosa — 0 ucabaya aconiecendo, en. altima incia, no pensimento de Freud -, mas de apreendé-los como decorréncias, semanticas de priticas linguisticas que foram forgadas a uma privatizagao em mente reconheciclas, somente por uma conexao sen partes materiais a "5 SEPH BREUER 20 lade da esposa lee Freud = $80 co-autres tos Estados sobre anisteia wwsmemtecerchro.com br Os simbolos da linguagem do paciente so podem ser entendidos levando-se em conta sua historia de vida ruzio da impossibilidede de usar um jogo de linguagem que havia sido, de alguma maneira, condenado. De novo, a autosellexao encontra- se em condicdes de desfazer esses nds porque, a0 aproximar os simbolos priva- tizados do jogo de linguagem intersub: jetivo, permite 0 encadeamento normal das motivagdes antes recalcadas, agora fomacdas conscientes. Em continuidade com o procedi- mento de redescrigflo, Habermas define um plano na psicandlise 90 qual ope ram interpretagdes. genérico-universais ~ sittadas na base dos processos de constiuigao da subjetividade perturba: dos — € no qual sio fixadas matrizes narrativas que acompanbam 0 desen. volvimento infantil em suas vicissitudes Formativas, em face das sucessivas inte- ragdes primarias ust Habermas, clas nos apresentam cen: ios de um drama: um conjunto de int fagoes que definem as linhas mest: que os percursos biogtificos wilhara. Esse sistema de amas, na venlade, & vivilicado pela retomada constante que fazemos dele no wanscomer de nossa vida; na andlise, temos a oportunida de de entrar em contato com eles, & assimili-los, com suas partes cindidas, atingindo assim sis camadus de sentido que formam o “drama de nos prop: histéria de vila s. Nas palavras de Nos nos deparamos com outro ponto interessante cla leitura hermenéutica de Habermas quando considerumos a rela- Glo que se estabelece entre 0 sujeito © 0 objeto da pesquisa, referente a verdade dos acontecimentos. As interpretacoes Ado sio tidas como vilidas sendo por sva utilidade sistemitica em pe narragdes com as quais 0 individuo esti enyolvido em sua vida: sua capacidade de, em anilise, estabelecer uma cone- so que possa arranjar linhas de sent do que ajudem @ compor st linguagem FORMACAO DO INDIVIDUO f SOCIALIZAGAO 37 fragmentada com o dominio de uma inguagem plenamente intersubjetiva, & que vai dar estatuto ao que € interpre- tado. A verdade do que fot afirmado no decorre de uma adequagdo a um mundo de objetos exterior ao sujeito, como Se tratissemos com proposicdes cempiricas, mas da eficdcia nactativa do esclarecimento oferecido, do movimen- to de auto-reflexao desencadeado, £ a auto-aplicacao, pelo individuo, dos elementos propostos pelo analista, que arante a verificagio das hipéteses narrativas, das historias generalizadas de modo sistematien a seu caso — nas palavras do Aldsofo, das. constelug de eventos © modelos de agio. Dat surgem a veraeidade das hipdteses ea eficieia terapeutica (©. inconsciente Habermas, segunda natureza simbolicamente fir acta pelas coibigdes descritas pela interpretacao generico-universal, ins crevese no dominio da historia do individuo com uma fora especial: no sentido de que se aprofunda, sem se integrar, em nossos jogos de lingua- gem cotidianos, ele marca os limites de nossas interagdes, define o ponto de retorno de nossas necessidades sem lugar, estabelecendo uma verdadein “causalidade de destino”. @ NE BRANCO DE MIRANDA é guor em los pela Team esicanalisa icons dase Mende, Ginebro& Fag, éa Dueto Editorial aglmnne wee nese fang an Ment (irre 6 Fienf ~ 0 sudo XX ‘0 PONTO DE PRATION |» Connecimentae interesse Jigen Habermas. org Zaha, 1982. O ESSENCIAL DO AUTOR ‘Teoria dela accién comumicativ.Jiroe Habermas. Taurus, 1967. ‘*Consciéncia moral eaair comunicativo.

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