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pectiva, contudo, jamais se poderé perder 0 sentido da unidade da Consti- tuigio, ob pena de uma indesejavel e inconseqiiente segmentagao de seu texto e conjumto de valores. Referéncias bibliograficas ARISTOTELES. Dos Argumentos Sofisticos, Metafisica, Etica a Nicémaco, Poéti- ‘ca. S40 Paulo: Abril Cultural, 1973 (Os Pensadores, v. 4). BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constirucional. 21. ed. atval. Sio Pau- lo: Saraiva, 2000. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Consttucional. 11.ed. $40 Paulo: Malheiros d,, 2001. > BRYCE, James. Constituciones Flexibles v Consttuciones Rigidas. Madrid: Insti- tuto de Estudios Politicos, 1952. CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Consttucional, 4, ed, Coimbra: Live. Almedina, 2000. CAPITANT, H. Constitucién. In: Vocabuldrio Juridico. Tradugdo por Aquiles Horacio Guaglianone. Buenos Aires: Depalma, 1986. CUNHA, Paulo Ferreira da. Constituicao, Direito Utopia. Coimbra: Coimbra Ed, 1996. DINIZ, Maria Helena. Lei de Inroducdo ao Cédigo Civil. 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A interpretagao do Direito € a operacao intelectiva por meio da qual a partir da linguagem vertida em disposicdes (enunciados) com forca normativa ‘0 operador do Direito chega a determinado e especifico contetido. E preciso abandonar. pois. a idéia. tradicionalmente aceita, de que a interpretagdo € um ato praticado sem qualquer subjetividade por parte da- ‘quele que realiza tal operacio. Esse (suposto) ideal (jamais alcancado) en- ccontra-se sepultado. admitindo-se. amplamente. a presenga de grande mar- ‘gem de vontade na interpretacio'. ‘Ademais. a interpretaga0 € essencialmente uma atividade pritica?. vol- tada a solugao de situagdes concretas (ainda que hipoteticamente ‘construfdas). Inimetos so 0s métodos apontados como aptos a serem utilizados pelo intérprete em sua atividade'. Tais métodos sao sempre instrumentals quer dizer. valem como meios de aleangar 0 contetido normativo apenas enunciado, ‘Ainda quando 0 proprio Direito contemple os métodos admissiveis para sua interpretacdo, es8as normas serdo instrumentais. vale dizer, nor- mas sobre as demais normas. Por fim. hé de se assinalar que, em matéria de interpretagao jurfdica, inexiste a valencia verdadeiro/falso*. pertencente As ciéncias exatas. Ao {Adit qua interpreta comprende um ato de vontsse Celso Ridin Besos Hermenéutica « IsepregoConsctonal.p.17 Zapebesk, Dia Coincionae...p. 688s Conta, ener "endo que ¢ 2 merretagso um ato de conbeciment. eno de vont, cmbortwzando de um el ‘mento exieo 20 proprio texto imal (a hoa fe Mane Gongalves Feria Fhe. Curso de Dirt Conta p38, 2 Neste endo Zagrebelehy.Dirito Costco. 1.69. 5. Nese sno: Zaprebelsiy Dri Comlomale 1p 82 4 Nese semido Zagreelehy. Dio Costinciona: 69. 5. Como aota Zaprebelshy. “Nap existe uma ilerpretaso obietivamente verdana” (Dire CContuconaep. 69 Por so nota Kena Hesse ques arta da nerreagio encontrar oes 7 contrério, o Direito € uma cincia convencional e, assim, admite a mutago de sua prépria interpretagio, sem que a anterior pudesse ser considerada verdadeira e, doravante, passasse a ser falsa. A iterpretagao constitucional, tal qual ainterpretagio do obedecer a algumas orientagées gerais. ‘Como primeira orientagao, tem-se que a interpretagao do Direito no € alheia as regras que presidem a interpretacao lingiifstica na qual deve ‘operar-se® A interpretagio sistemética decorre da consideragio de que o Direito é ‘um ordenamento’ e, mais do que isso, um verdadeiro sistema de normas. A partir dessa concepeao tem-se que 0 Direito nao tolera contradigbes, deven- do ser considerado como um conjunto coesoe coerente. A possibilidade de ‘analogia parte exatamente desse pressuposto, ou seja, da coeréncia do Di- reito’. Assim, a unidade do Direito € um pressuposto? com que deve atuar 0 intérprete, ndo podendo desempenhar sua atividade sem admiti-la, sob pena de mat desempenhar sua fungéo. A unidade do Direito ¢ o resultado da forga da Constituigo”. Isto porque o intérprete € obrigado a partir sempre das normas constitucionais, ‘adequando, sempre que necessério, as normas infraconstitucionais a0 con- tetido especifico da Constituicao. Daf decore, inclusive, a denominada in- terpretacdo conforme a Constituigdo, uma das mais relevantes orientagées interpretativas. ieito, deve 2. A HERMENEUTICA CONSTITUCIONAL E viével admitir uma prética da hermenéutica especificamente consti- tucional", 1550 ocorre por forga da presenca de uma série de ocorréncias =o consinionalment exato'em um pracedimento acon conliel fudumentar exe resus racionaleconoaselment e. deste modo rar center uaa epe\isiildae (1 (Elomenin de Direvo Constociona da Republica Federal de Aleman. 55) 16. Nesse seat: Zagebeshy. Dito Costtcionae pL 7. Nese seid: Zaprebesk. Diino Castncionae p78 8 Nese sentido: Zagrebelet. Diino Cosicionle p76 9. Zaprebeiy. ember caminhando no mesmo sentido, exrime-xe de mane divers, anon ‘que “A nidade po ordenarento mle € mais um dado (ms um problem ree charade 1 arecomecerumaslarso ma para resolver probe de md crane Din sincimle Lp. 10 Zagreesty. Devi Costinconale ve. 77 11 Admter-na: Antonio Pentoecchi Li Bass. Lhleypetaione dele Novme Coston 1.3: Celso Ribevo Basox Hermentca einverprergto Contacto. p38 nocencto Marites Coetho.imerpeagao Consitucemap 6 en Jray Wrdtewah.Consinctony Tenia Gener dela Imerpreacion heap. 18: Rail Canosa Ura Ieper Consuctonal Fre Poi $8: Rodolfo Luis Vige Dmerpretacin Concional p78 Segundo V. Lines Quintana Trade 18 Particulares que exigem uma consideragao especifica e propria no trato da norma constitucional A postura exigida do intérprete € diferenciada, jé que a Constituigao ‘ocupa o grau thtimo da ordem juridica. Assim, a supremacia da Constitui- <0 quanto as demais normas do Direito € uma especificidade prépria da qual decorre uma série de limitagGes a seu intérprete, podendo-se citar a denominada “interpretagao conforme a Constituigio”. Justifica-se, ainda, a existéncia de uma hermenéutica constitucional pela presenga da denominada jurisdi¢do constitucional, determinada a apli- ‘ear, a fazer valer a Constituigio como norma suprema, O controle abstrato- concentrado ¢, pois, um dos maiores indicadores de que da hermenéutica Juridica merece destaque aquela dedicada & questo constitucional”. A hermenéutica jurfdico-constitucional, contudo. néo ignora os pro- ceessos que presidem a interpretagdo juridica em gerai'’. Nesse sentido, sua nnatureza €idémtica a da interpretaedo juridica, como muito bem sublinha A. Pexsoveccito Lt Bassi" no desenvolvimento desse tema. Nao se trata, por- tanto, da interpretagio politica, ou ideol6gica, de um documento normati- vo. A interpretagio constitucional é, inegavelmente, juriica, icativa 2A. Ju s autores indicam diversas peculiaridades'* do Direito Constitucio- Tierpetacin Consinona, p18: ac Lannégo Bos. Manna de imerpetaConstiuclonal 5.7 Peach Mule ames especie dames cosucona os pts mos Come {peste de modo ss quests matron dew netica do deco consecon gue Skve ser laborads ag hoje no pode e spades da eeinde dese Les Fda dos ‘easter msec odesin dese renames consi nisin eset ase gua 2 neces de desenvolver um mando propa do io constaicnlanpendne Sa Inti da stad eo. da mete da ola do it) frodos de Taal dy Dire ons oalp618), De Dials bem observa gue no Dion exer meer de ner Petal guc scm gel jus. ar detemiar ox met sleadon em edn ee deo ‘eros guis-nor pos ober do Lepsador «nap por un compare sts de moder inerpretatvos: (Morale Pstsno ¢ Pagmatsmo t nerprctsto 39 Dai Censitucenl Rin 19. p28) 12, Konrad Hesse admit 3 impordnca mterpeetasio do Diet Consituciona ponders: “Esa Importincia¢aumentada em urna ordem constioiona com jrsdo consi etensanente mpiada (7 (Elemenos de Dirt Consacina Repub Feral da Alem p51 oign ‘rls. 13: Nesse sentido. Aatonio Pensovecchio Li Bass. Tterrcione delle Norme Costin 23: Inocenco Mantes Coelho. Inertaci Contain. p53 1H. Antonio ensoecchio Li Bats Imerretacone dele Nome Cosincionl pS 15. Celso Basis alae pessaposs hrmentico-constcirayeeclarece atae de posto sq seriam pare de una etapa nen 3 de narra interpretive qu igiesm metic, Ime. o segue no poderis sere 3 Consiiao devine som ates steraes pars ete ements” (Hemendune ¢Inerpreage Cnsincion, p96. Ainds que sem “esupOxtoe ‘noma representa uma pticulaade da aia de tread Constiigso 19 nal que justificam a existéncia ou mengio de uma hermenéutica constitu- cional, além da ja mencionada “jurisdi¢ao constitucional”. entre os elementos apontados. tém-se: a supremacia da Constitui- 40, a utilizagao de normas abstratas, de principios, o tratamento dos direi- tos fundamentais e dos poderes e a regulamentagdo da esfera politica Assim, a supremacia normativa da Constituigao € um fator que no se faz presente em nenhum outro ram6 do Direito, nao podendo ser ignorado na claboragao dos instrumentais adequados & interpretago da Constituigzo, ‘A atividade do intérprete, por forga desse dado, deverd ser sempre comedi- da, porque suas intervencOes despertam uma sensibilidade muito maior do {que nos demais ramos do Direito, ‘A presenca de um grande nimero de normas descritas em termos abs- tratos, vale dizer, com grande incompletude signficativa, abre ao intérprete ‘um amplo espectro de possibilidades. © contetido minimo comum das Constituigdes denota a importancia de que 0 documento se reveste para a sociedade, vigorando como norma maxima nfo apenas por apelos formais e sim. antes de tudo, pelo significa- do profundo que adquire no mundo social, 3. A LINGUAGEM CONSTITUCIONAL EM FACE DA INTERPRETAGAO A linguagem empregada constitucionalmente merece abordagem mais detida, porque diversos so os pontos de contato entre o tema da linguagem 0 da interpretagao na seara constitucional. Em primeiro lugar, € preciso analisar o papel e a importancia da linguagem na teoria da interpretacdo._ Juridica. Em segundo, € preciso constatar que hi proximidade entre a lin- {guagem comum ea linguagem constitucional, importando saber qual & exa- tamente essa proximidade. Por fim, existem partcularidades lingiifsticas da Constituigdo, como os conceitos abertos, que demandam estudo préprio. 3.1. Formulagao lingiifstica como ponto inicial e limite externo da atividade interpretativa {A primeira observagio a ser feita sobre a importancia da linguagem para o Direito€ basica: “a letra da lei, consttui sempre ponto de referencia obrigatério para a interpretagio de qualquer norma” Té: Hermentutic ¢Inerpretaio Conainconal. p10 80 Isso nao quer dizer, contudo, que se defenda a denominada interpreta- «lo gramatical ou literal da norma juridica. Como bem acentuou FRANCESCO Ferrara, “A interpretacao literal € 0 primeiro estidio da interpretagio. Efe- tivamente, o texto da lei forma o substrato de que deve partir e em que deve repousar o intérprete. Uma vez.que a lei estd expressa em palavras, o intér- prete hé de comecar por extrair 0 significado verbal que delas resulta, se- gundo a sua natural conexdo ¢ as regras gramaticais"”. Realmente, todo vocdbulo ¢ possuidor de um significado lingiifstico préprioe especifico (caso contrério no estaria apto a alcancar um minimo necessario para a comuni: cago, que é sua prpria azo de ser). Este deve ser extrafdo'* numa opera- sto preliminar, pelo intérprete do Direito. E, realmente, a primeira etapa da atividade interpretativa, > 3.2, A linguagem técnica na Constituiga0 Wrostewsxi considera que “Sem razdes suficientes néo se deveria atri- buir aos termos interpretados nenhum significado especial, diverso do sig- nificado que esses termos tém na linguagem natural comum"®. Especifi- cando esse entendimento para 0 campo constitucional, Cet.so BAstos pon- dera: “Em certo sentido, pode-se afirmar que a Constituigio nio tolera 0 vocabulétio técnico™. Essa orientagio dé suporte & j4 conhecida tese da “sociedade aberta dos intérpretes da Constituigdo”, por uma interpretagao pluralista da Cons- tituigdo, de Perer Hanerte. Observa o autor que “quem vive a norma acaba por interpreté-la ou pelo menos por co-interpreté-la”=". E lembra, ainda, com inteira propriedade: “Muitos problemas e diversas questdes referentes 4 Constituigo material nfo chegam & Corte Consttucional,seja por falta de competéncia especifica da prépria Corte, seja pela falta de iniciativa de even- twais interessados. Assim, a Constituigo material ‘subsiste’ sem interpreta- ‘do constitucional por parte do juiz. Considerem-se as disposicdes dos regi- ‘mentos parlamentares! Os participantes do processo de interpretagio cons- titucional em sentido amplo e 0s intérpretes da Constituigo desenvolvem, TT Ierpretogd eAplicgio des Len p 139. Ou sj “Ome itera. m seu carer absoluo. qu se torn totalmente nd operativo" (Ceo Ribeiro Basos. Henmentuice Interprets Co. fucional 11. 18 ExtidoSim_porgue anda nd seat na face consmatv interpreta, mas penasem seu omen inci. Nese senidondo€ nem pode ser nerpreteaonceder un signfca linguistic ‘pone propria 90 veal. 19. Consucn Teoria General dea Ierpretcion Juri 9.47 20. Hementricaeierpretacdo Contituconap 112 21. Hermenéaca Consrciona. 13. 81 autonomamente, dreito constitucional material. Vé-se, pois, que 0 proces- so constitucional formal no €a (nica via de acesso ao processo de interpre~ tagdo constitucional”™. ‘Realment,ainterpretacio da Constituicio deve operar, sempre, o mais, préximo possivel de seu povo. Portanto, a linguagem deve ser-Ihe préxima, vale dizer, ha de se privilegiar o emprego da linguagem comum. Até por- 4que, como salienta Havent, em muitas ocasides a norma é compreendida ¢ {nterpretada por instancias nao oficiai, que s6 podem apegar-se a0 sentido ‘comum que os termos consttucionais apresentam, Muito bem acentua Ferrara que “Normalmente as palavras devern ‘entender-se no seu sentido usual comum, salvo se da conexao do discurso ou da matéria tratada derivar um significado especial téenico” ‘Tem-se, pois, como diretriz, de admitir 0s significados comuns dos vacébulos em que se expressam as Consttuigdes, 96 recorrendo & lingua- ‘gem técnicanas ocorréncias em que o prOprio contexto consttucional sina- liza nesse sentido. 3.3. Abertura das normas constitucionais A anilise das Constituigdes modemas revela 0 alto teor abstrato de ingimeras normas nelas inseridas*. ‘A abstratividade ou abertura das normas revela-se pelos vocdbulos vvagos, pelas palavras imprecisas empregadas pelo constituinte, € que ne- cessitam, inegavelmente, de um preenchimento ou integragao para torna- rem-se compreensiveis e imediatamente aplicdveis [esse sentido, Cetso BasTos leciona que “A norma constitucional, mui- to freqilentemente, apresenta-se como uma petigao de principios ou fmestmo como uma norma programitica sem contetido preciso ou delimitado”™ Realmente, constata-se 0 emprego por vezes exacerbado de conceitos imprecisos, de dificil compreensdo quanto ao contetido, Na maior parte dos ‘casos, as normas constitucionais de cardter aberto sao classificadas como principiol6gica. ‘Como decorréncia da reconhecida “abertura e amplitude da Constitui- cao" surgem dificuldades interpretativas quantitativa e qualitativamente superiores aquelas constatadas nos demais segmentos juridicos. “Hermendarea Connon. p 2, Imterpreaea Aplicacde das Ls. 139. 31, Carlos Rober Sgicira Cas, sie enifes ee femeno de aertrtnstetos consi ‘ona eta a paid década de 70(4 Contino Abeta ee Dvir Fandamenti p15) HermentuteaeInerprevagio Constncinel pS 36, Konrad Hee, Elen de Dien Contuconol de Reptica Federal de Alemanhe. pS 82 ‘Como primeira conseqiléncia dessa caracteristica lingtifstica das nor- ‘mas de uma Constituiglo tem-se o agigantamento da tarefa dos inérpretes , com isso, de sua liberdade em identificar determinado contedido ou senti- 4o para a norma positivada, possivel afrmar, inclusive, que se trata de uma positivasio parcial dda norma, uma vez que o contetido, encontrando-se em aberto, teré comple- ‘mentagio por parte do intétprete, que, nessa medida, aproveitaré a forca normativa do Diteito. Evidentemente que jamais o intérprete poderd laborar contra a norma escrita da Constituigéo, mas encontra, certamente, uma margem de atuago propria, que decorre pura e simplesmente da incompletude lingtstica da Constituicgo. Ademais, a abertura permite a evoluedo® do Direito Constitucional or meio da interpretagdo, a chamada mutagio informal da (compreensio da) Constituiglo, 3.4, “Espirito” da norma ou sua letra “seca”? Além do que ficou dito, ¢ corroborando o abandono da letra como o fatorinterpretativo mais relevant, €necessério ressaltar, ainda, aexisténcia —e aceitagio — do critério teleolégico de interpretagao, Por meio desse critério toma-se em consideragio a finalidade para a 4ual a norma foi editada ou redigida. Assim, fica superado 0 apego a mera letra da lei formalmente posta (crtério gramatical® Estuda-se, nesse contexto, 0 processo constituinte, as atas eos discur- s0s proferidos por ocasio da volagao da Constituigdo, bem como os atos ‘que denotam a pretensio do legislador constituinte quando criou a norma, 4. UNIDADE DA CONSTITUICAO E CONSEQUENCIAS NA ATIVIDADE INTERPRETATIVA, Considera-se a Constituico como um sistema e, nessa medida, um ‘conjunto coeso de normas. Essa particularidade. nas palavras de J.J. Goes CaxoTiuHo, significa que “a constituigdo deve ser interpretada de forma cvitar contradigées (antinomias, antagonismos) entre as suas normas”™ nota Clo Bass “sarge a possbilidade da chara ‘ulzaio" das norma consti ‘un Aqua interprets compre uma fangso moo alem da de mere pressuposo de ples deo texto jwriico. para tansfomar-se em elemento de constr reovagao da orem jos (Gtemnenéuncaeiterpreago Contincional 58) 1S: Sem despezara ets eno seat aia loco. 29 Direio Consincima ted. 1186. 83 Assim, nfo se pode tomar uma norma como suficiente em si mesma, [Nao obstante todas as normas constitucionais sejam dotadas da mestna na- tureza e do mesmo grau hierdrquico, algumas, em virtude de sua generali- dade e abstratividade intensas, acabam por servir como vetores, principios que guiam a compreensio € a aplicacao das demais normas, devendo-se ‘buscar sua compatibilizagio, Caxomiuio fala, neste passo, de outro princf- pio de interpretacdo da Constituiglo, o da “concordancia prética ou da hharmonizagao”. Na realidade, trata-se de uma orientacao interpretativa que decorre da ja propalada unidade (que remete & coeréncia)™, e que tem espe- cial desenvolvimento no campo dos prinefpios constitucionais (em particu- Jar 0s direitos humanos consagrados). Consoante 0 autor, a harmonizagao impée a coordenacio e combinagao dos bens jurfdicos em conflito de for- ma a evitar 0 sacrficio (total) de uns em relacio aos outros”. Como deri- vvagio dessa idéia, tem-se 0 principio da convivéncia dos direitos constituci- onais. Nenhum diteito, nenhuma gerantia, nenhuma liberdade poderd ser tomada como absoluta. Todas sofrem restrigo nas outras garantias, nos outros direitos, igualmente declarados e assegurados. Existe, ainda, um segundo significado da unidade da Constituigao. Considera-se insustentavel uma dualidade de Constituigdes, nfo podendo conviver, simultaneamente, em um tinico ordenamento juridico, duas ou mais Constituigées. 4.1. A necessidade de interpretacao sistemética A doutrina tem assinalado a imperiosidade em proceder, sempre, a ‘uma harmonizacio dos significados aribufveis as normas constantes de uma ‘mesma Constituigdo. Isso significa afastar a idéia de contradigdes dentro de ‘uma mesma Constituigdo, entre suas normas originérias, como ja se refer. Essas idias desenvolvem-se tendo como suporte a interpretacao sistematica. Sendo a Constituigo um sistema, deve-se admitir a coesto entre as ‘normas, de maneira a consideré-las ordenadas e perfazendo um corpo har- ‘mdnico. 5. MAXIMIZACAO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. A imterpretagao constitucional colhe a caracteristica da necessidade de 50, Neste eo: Celso Ribeiro Bastos Hemenéutiae InterriaConsituconap 106: erzy Wedlewshs,Contucon «Tors Genera dea Interpretation Furie. p19. 31.1 J-Gomes Cano, Direto Contcional. ep 1188 84 concretizagao da norma juridica, maximizando-a", porém, justamente por se tratar de norma constitucional. J.J. Gomes Canomitxo fala de um “principio da eficiéncia” ou da “in- terpretagao efectiva’, cujo significado assim descreve: “a uma norma cons- titucional deve ser atribufdo o sentido que maior eficécia Ihe dé", ou, mais diretamente, “ndo se pode empobrecer a Constituigao”™, Nao se deve interpretar uma regra de maneira que algumas de suas partes ou algumas de suas palavras acabem se tomando supérfluas, © que cequivale a nulificé-las". Também é vedado ao intérprete, por forga dessa orientagao hermenéutica, desprezar particulas. palavras, conceitos, alineas. incisos. pardgrafos ou artigos da Constituicao. Todo o conjunto normativo tem de ser captado em suas pecas constitutivas elementares, a cada qual se devendo atribuir a devida importancia em face do todo constitucional. 6. INTERPRETACAO CONFORME A CONSTITUIGAO, 0 tema da “interpretagao conforme & Constituigdo” enquadra-se no estudo das técnicas de decistio operadas pela jurisdicio constitucional. Nao se trata propriamente de uma forma de interpretacao da Constituigo, mas sim das leis. Assim. quando uma norma infraconstitucional contar com mais de uma interpretagao possfvel. uma (nio mfnimo) pela constitucionalidade e utra ou outras pela inconstitucionalidade, miltipla interpretacao dentro dos limites permitidos ao intérprete, este deverd sempre preferir a interpre- tagdo que consagre. a final. a constitucionalidade. E isso ¢ assim porque as leis so consideradas expresso da vontade popular. e. pois. se possivel. devem ser preservadas pelo Judiciério. Contudo, hé uma abordagem outra do tema, que o insere no contexto dda hermenéutica da Constituicao. Significa essa diretriz que nao se inter- preta a Constituigio a partir das leis em geral (de baixo para cima). E abso- Jutamente vedada a interpretago da Constituigdo conforme as leis. Nao se pode fazer uso de conceitos legais para pretender exprimir conceitos cons- titucionalmente conformados. ‘Nao se confunda, contudo, essa proibi¢ao com a possibilidade exis- tente —e de resto jamais contestada — de que a lei pode integrar a vontade "Neste seo: Zapebelsy. Dirt Conca. 82 Dire Contin oa ep. 118, HH. Celso Riera Bastion HermenuniceInepret Consiionalp. 10S. 55 NewesemidoCelo Ribeiro Baste. Hementuine Interpret Contin p15: ey ‘wriblewsi, Comic Tes Gener del Interpret rc. p. 18 85 da Constituigao. A diferenga de situagdes é patente, Nesses casos, € na pri- pria Constituigao que se encontra o fundamento para que a lei possa “com- plementar” seu desiderato, rematando-a, 7. INTERPRETAGAO EVOLUTIVA A interpretacdo das normas em geral e, em particular, das constitucio- nais, como visto, permite que se promova sua evolugdo material. Trata-se de uma orientagao inafastivel”. A interpretacao evolutiva é “a operacdo destinada a reconstruir o direi- to dinamicamente, na medida das exigéncias cambiantes que a realidade social manifesta’. O apelo hist6rico dessa empreitada ¢ evidente porsi. Ademais, a inter pretacdo evolutiva mostra-se extremamente adequada as Constituig6es que, como a brasileira e a maioria das Constituigdes atuais, contemplam em si finalidades distintas, absolutamente diversas. A preferéncia por uma ou outra nao se encontra na Constituigao, mas sim numa escolha que pertence 20 ‘momento hist6rico vivido. Assim ocore, v. entre a seguranca e a priva cidade, ou a comunicagao ¢ a intimidade. A esse respeito observa ZAGREBELSKY que “a sistematizagao. a hierar quia de fins nao € historicamente fixa, mas depende da assunco de “metavalores’ por parte da interpretago ‘adequada aos fatos’ emergentes™. Referéncias bibliograficas BASSI, Antonio Pensovecchio Li. L'Interpretacione delle Norme Costitucionali ‘Natura, Metodo, Dificolta e Limiti. 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