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1.

Obrigações Especiais dos Empresários

Muitas são as obrigações impostas aos empresários, sejam de ordem moral, sejam de ordem
legal. As obrigações morais, embora tão importantes quanto às legais, a elas não nos
dedicaremos. As obrigações legais são impostas pelas leis do Direito Comercial/Empresarial, do
Direito do Trabalho, do Direito Ambiental, do Direito Tributário, do Direito Administrativo, etc.

Dentre as obrigações estritamente impostas pela legislação comercial, destacam-se as que a lei
designa por obrigações especiais de empresário, as quais são de cumprimento obrigatório para
todos os empresários.

O artigo 19 Código Comercial enumera as obrigações especiais, o que nos pode fazer concluir
que há para além destas, outras que são gerais. Ou seja, embora possa parecer, não se pode
considerar que as obrigações dos empresários se esgotam nos quatro mencionados no artigo 19.

Assim, constituem obrigações dos empresários as seguintes:

a) Adoptar uma firma;

b) Escriturar em ordem uniforme as operações ligadas ao exercício da sua empresa;

c) Fazer inscrever na entidade competente os actos sujeitos ao registo comercial;

d) Prestar contas.

1.1. A Firma do Empresário

Uma das obrigações especiais do empresário é a adopção da firma, nome empresarial sob o qual
o empresário é denominado no exercício da sua actividade e com ele assina os documentos e
assume obrigações, conforme resulta da conjugação dos artigos 19 e 20 do Código Comercial. E
é assim por que a actividade empresarial é executada sob uma designação nominativa – a firma.

A respeito da firma, a doutrina distingue dois conceitos, um objectivo e outro subjectivo. No


primeiro caso, a firma é definida como um sinal distintivo do estabelecimento empresarial.
Razão pela qual é composta livremente e transmitida com o respectivo estabelecimento
empresarial, sem necessidade de obter anuência expressa do alienante (artigo 28). No segundo
caso, a firma é definida como um sinal distintivo do empresário - o nome que ele usa no
exercício da sua actividade empresarial. Portanto, no sentido subjectivo, a firma é o nome do

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empresário, razão pela qual a firma do empresário individual deve ser formada (composta) a
partir do seu nome civil e, em princípio, é intransmissível, excepto quando para tal seja
autorizado pelo transmitente, aditando-lhe ou não a declaração de haver sucedido a empresa com
a respectiva firma (Cfr. artigo 28 do Código Comercial). Pois, a sua transmissibilidade implicaria
a transmissão do próprio nome civil que como tal constitui a própria firma.

a) Posição legal

No nosso ordenamento jurídico a firma apresenta-se como o nome sob o qual o empresário
exerce a sua actividade empresarial e com ele deve assinar os documentos relacionados com
aquela actividade, conforme dispõe o artigo 20 do Código Comercial.

E nesse sentido, vale dizer que o artigo 20 do Código Comercial adopta o conceito subjectivo da
firma, o qual considera a firma como um sinal distintivo de uso obrigatório para todos os
empresários.

No entanto, como elemento de identificação do empresário, a firma não deve ser confundida com
outros elementos identificadores que habitam o comércio e a empresa, os quais têm, também,
protecção jurídica, tais como a marca, logótipo, o nome e a insígnia de estabelecimento
empresária. Enquanto o nome empresarial identifica o sujeito que exerce a actividade
empresarial, o empresário, a marca identifica, directa ou indirectamente, produtos ou serviços, o
nome de domínio, identifica a página na rede mundial de computadores e o título do
estabelecimento, o ponto.

1.2.Composição da Firma do Empresário Comercial

Na composição da firma, os empresários são obrigados a observar o disposto no artigo 21 do


Código Comercial, podendo compor-se nos seguintes termos, consoante os casos:

 Firma-nome: quando a firma é formada por um ou vários nomes. Ex.1 – Carlos Alberto,
Lda; Ex. 2 – F. Gani, EI; Ex.3 – F.A. - Freitas & Antunes, S.A; Ex.4 – John & filhos,
Lda.

 Firma denominação ou simplesmente denominação: quando constituída com a expressão


relativa ao tipo de actividade que ela exerce ou se propõe exercer, editada ou não de
elementos de fantasia (nome comercial que pode ser usado para estampar nos produtos,
nas publicidades ou chamar a própria firma). Ex.1- Coca-cola, SA; Ex.2 – Padaria pão

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de lenha, Lda; Ex. 3 - Comércio de Têxteis, Lda; Ex.4 - EXPAG - Exportação Agrícola,
S.A.

 Firma mista: aquela que resulta da combinação das duas formas anteriores na composição
de uma mesma firma. Ex.1 - Mozal, SA; Ex.2 – Ndambi imobiliária, Lda; Ex.3 - Maria -
Comércio de Têxteis, Lda; Ex.4 – Auto Muchanga e Serviços, EI.

Em qualquer dos casos, a firma é um sinal nominativo e não emblemático e como a firma
desempenha o mesmo papel desempenhado pelo nome civil, todo o empresário, quer seja pessoa
singular ou sociedade empresária deve adoptar uma firma.

a) Firma do Empresário Individual

O Empresário Individual deve adoptar uma só firma, em regra, composta pelo seu nome
completo ou abreviado, a que pode aditar alcunha ou expressão alusiva à actividade exercida, em
atenção ao disposto no artigo 21 do Código Comercial.
Entretanto, em caso sucessão, querendo, pode também aditar à firma a indicação de haver
sucedido, tais como: “Sucessor de (…)” ou “Herdeiro de (…)” e a firma transmitida com o
estabelecimento, em atenção ao disposto no artigo 28 do Código Comercial.
Porém, além disso é obrigatório o aditamento da expressão “Empresário Individual” ou, a
abreviatura “EI”, em respeito ao disposto na alínea d) do artigo 57 do Código Comercial.

b) Firma das Sociedades Empresariais

A firma das Sociedades empresariais deve ser constituída de acordo com as regras estabelecidas
no artigo 21 do Código Comercial, consoante o tipo de Sociedade empresarial adoptado, deverão
fazer o aditamento da expressão correspondente ao respectivo tipo de sociedade empresarial, em
atenção aos artigos 257, no 3, 263, 282, 321, no 1, 445, no 2, alínea a), do Código Comercial,
respectivamente:
 A expressão “sociedade unipessoal” ou a palavra “unipessoal” ou a abreviatura “SU”,
seguido da abreviatura “Lda”, “SA” ou “SAS”, consoante o tipo de sociedade adoptado;
 A expressão “Sociedade em Nome Colectivo Limitada” ou a abreviatura “SNCL”;
 A expressão “Limitada” ou a abreviatura “Lda”;
 A expressão “Sociedade Anónima” ou a abreviatura “SA”;
 A expressão “Sociedade por Acções Simplificada” ou a abreviatura “SAS”.

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A composição da firma é livre cabendo aos respectivos sócios a escolha da denominação para a
sociedade por eles constituída , porém a lei permite que a firma possa ser composta por nome ou
firma de um, alguns ou todos os sócios ou associados. Igualmente, admite-se que o nome a
figurar na firma não seja necessariamente do sócio, mas de quem consentir ainda que não seja
sócio, conforme se extrai da alínea b) do artigo 21 do Código Comercial.

2. Princípios constitutivos da Firma

Consideram-se princípios constitutivos da firma as principais regras jurídicas, ou seja, um


conjunto de padrões de conduta presentes de forma explícita ou implícita no ordenamento
jurídico que norteiam a composição de firmas e denominações dos empresários.

São princípios de firma dos empresários, os seguintes:

a) Princípio da verdade

A firma deve espelhar a realidade a que se reporta, não devendo induzir em erro relativamente à
caracterização jurídica da entidade, identificação, natureza, dimensão e actividade do seu titular,
por isso, na composição da firma não se pode utilizar elementos característicos que sugiram
actividades diferentes das que o seu titular realiza ou se propõe realizar. A firma da pessoa
singular deve basear-se apenas no seu nome, abreviaturas ou até de uma alcunha pela qual é
conhecida ou de expressão que manifeste a sua especialidade (artigo 22 Código Comercial).

É proibido às pessoas colectivas de fins lucrativos o uso de expressões que sugiram a existência
de um ente público ou entidade sem fins lucrativos. Por outro lado, uma firma deve ter em conta
os princípios morais e históricos e nada de publicidades imorais ou tudo o que possa ser ofensivo
de bons costumes. Resumindo, este princípio anuncia o dever de cumprimento aos requisitos
legais aflorados no artigo 21 do Código Comercial.

b) Princípio da novidade:

Consiste na manifesta distinção entre a firma e as demais já registadas. Assim, determina que a
firma deve ser distinta e insusceptível de confusão ou erro com qualquer outra firma já registada,
daí a obrigatoriedade das firmas registadas fora do país, para a sua admissibilidade entre nós,

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carecerem do registo em Moçambique de modo a evitar a indução em confusão ou erro (artigos
22 e 25, ambos, do Código Comercial).

c) Princípio da exclusividade:

Apesar de o Código Comercial não prever expressamente, este cinge-se mais na protecção do
uso ilegal da firma por parte de terceiros. Este princípio impõe que a firma deve ser exclusiva do
ente a que diz respeito. Porém, tal só acontece após o seu registo pelo titular e na entidade
competente, sem prejuízo da declaração de nulidade, anulação ou caducidade (artigos 26, 27 e 30
do Código Comercial).

d) Princípio da Unidade

O empresário individual deve adoptar uma só firma, composta pelo seu nome, completo ou
abreviado, conforme seja necessário para a identificação da pessoa, podendo aditar-lhe alcunha
ou expressão alusiva à actividade exercida. Segundo este principio, a um empresário há direito
de apenas uma e única firma, mesmo nos casos de ter várias actividades (atento ao no 1 do artigo
21 e 26 do Código Comercial).

3. Vicissitudes da Firma do Empresário Comercial

São vicissitudes da firma os eventos inesperados, transformações ou mudanças de firma ou


denominação do empresário, decorrente de eventos ou circunstâncias diversas, algumas previstas
e outras não, na vida do empresário. Entre elas se destacam as previstas na lei comercial,
designadamente:

a) Transmissão de Firma

A firma do empresário, apesar de consistir no nome ou designação deste, é susceptível de


transmissão, entre vivos e mortis causa, permitindo que o adquirente de uma empresa possa
continuar a geri-la sob a mesma firma, mediante a autorização do cedente ou dos seus herdeiros,
nos termos do no 1 do artigo 28 do Código Comercial.

Entretanto, após obter a autorização de utilização, ou seja, a transmissão da firma o cessionário


pode adita-la ou não a declaração de haver nela sucedido, conforme alude a última parte do no 1
do artigo 28 do Código Comercial.

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Preferindo aditar a declaração de haver nela sucedido, por exemplo, Manuel Zacarias, ao
adquirir uma empresa de Haidar Amade, mediante autorização deste a geri-la sob a firma do
empresário alienante, passará a designar-se Haidar Amade, EI – Sucessor Manuel Zacarias
nas relações de mundo económico. O mesmo pode acontecer em relação as sociedades
empresariais, pois nada impede.

b) Alteração da Firma

A firma pode ser alterada sempre que se verificarem determinados pressupostos para a sua
alteração. Porém, a simples saída ou falecimento do sócio ou accionista cujo nome ou firma
figure na firma de empresário, sociedade empresarial, não determina a necessidade de alteração
desta, salvo se outra coisa tiver sido acordada no acto constitutivo, mas o sócio ou accionista
deixa de ser responsável pelas obrigações sociais contraídas na exploração da empresa
transmitida, a partir do registo e publicação do acto de transmissão, nos termos do disposto no
artigo 29 do Código Comercial.

c) Caducidade de Firma

Em princípio, a firma do empresário é constituída para durar por tempo indeterminado. Todavia,
a firma é susceptível de caducidade, isto é, de deixar de vigorar, sempre que a sua constituição
for para vigorar durante um certo lapso de tempo, conforme resulta do artigo 31 do Código
Comercial, designadamente, nos seguintes casos:

 Com o termo do prazo contratual, se a firma tiver composta mediante um contrato ou


acordo a vigorar durante um determinado tempo, findo o tempo previsto a firma caduca;

 Por extinção da sociedade empresarial, por via da razão, a dissolução da sociedade a que
a firma diz respeito tem por consequência natural a caducidade da firma respectiva;

 Pelo não exercício da actividade rial por um período superior a três anos.

No entanto, a caducidade não opera automaticamente, necessita de ser declarada por entidade
competente para o registo, a pedido do interessado, nos termos do artigo 32, conjugado com o no
2 do artigo 26 do Código Comercial. Do pedido de declaração de caducidade há espaço para o
exercício do direito do contraditório, significando que não basta a submissão do pedido de
caducidade, é igualmente necessária a sua prova, daí a obrigatoriedade de se ouvir o titular da
firma sobre o pedido do interessado, nos termos do no 2 do artigo 32.

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d) Renúncia da Firma

Durante a vigência da firma, pode, no entanto, o empresário, enquanto titular da denominação,


decidir renuncia-la, desde que declare expressamente junto à entidade competente para o registo
de entidades legais, através de um requerimento escrito, assinado e reconhecido presencialmente
pelo interessado, nos termos do artigo 33 do Código Comercial.

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