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Reinhart Koselleck Historias de conceitos Estudos sobre a semantica e a pragmatica da linguagem politica e social Com duas Posficio de Carsten Dutt sobre os fragmentos introdutérios de Reinhart Koselleck TRapugko Markus Hediger REVISAO TECNICA € DE TRADUCAO Bernardo rreira Universidade do Estado do Rio de Janciro Arthur Alfaix Assis Universidade de Brasitia contRaponto Rio de Janeiro | 2020 Digitalizada com CamScanner gro dagramagio: Regina Ferraz 1+ edigdor novembro de 2020, {GPARASI.CATALOGAGAONA PUBLICACAD SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVKOS I Gh Kosleck, Reinhart, 1923-2006 osico de Carsten Dt ado edger revs técnica ede traducho Berard Frei Arthut = 1, Rio de Jane: Contrapont, 2020, 560 p:23em “Tradugdo de: Bepifogechichen ISBN 978-65.5639-06-2 Lt spies Mars ¥ 2.Conceos 3, Ceci soca 4, Ciencia poli. 2040829 opp: 1214 cov: (Cama Donis Harenana~Biitecinia~CRB7/6472 Sumario ia dos conceitos. Primeira parte: Sobre a teoria eo método da histéria dos conceitos (ria sociale hist6ria dos conceitos ‘Mudanga linguistica e historia de eventos A histérla dos conceitos e conceitos da historia, IV. A temporalizagéo dos conceitos sobre as estruturas temporais da mudanga na historia dos conceitos. (ria dos conceitos. ‘Segunda parte: Conceitos e suas histérias VIL Sobre estrutura antropolégica semantica do conceito de Bildung VII. “Progresso” ¢ “declinio”: um adendo a historia de dois conceitos. IX, Deslocando os limites da emancipagio: um esboco histérico-conceitual X, Algumas questées sobre a ‘conceitual de “crise” XI. Patritismo: fundamentos e limites de um conceito moderno XII. A revolugio como conceito e metéfora: sobre a semantica de uma palavra outrora enfai XIIL. Sobre a histdria conceitual da utopia temporal XIV. Conceitos de ininigo Terceira parte: Sobre a semantica e a pragmstica da linguagem do Iluminismo XVI Inovagées conceituais na linguagem do uminismo XVIL. O Iluminismo e 9s limites da tolerdncia 15 85, 95, 107 us. g XV. Mudanga linguistica e mudanca social no final do Antigo Regime 299 321 353, Digitalizada com CamScanner Histéria social e histéria dos conceitos [Geschichte] ~ seja lé 0 que for - € a define como historia social, certamente, delimita sua temdtica. Quem aborda a histéria em termos da historia dos conceitos faz, evidentemente, 0 mes- ‘mo, No entanto, nessas duas diregdes no est em jogo 0 mesmo tipo de demarcagio que caracteriza as demais especializagdes que podemos sal. A hist6ria da economia da Ingla- macia da Alta [dade Moderna ou a historia da Igreja |, por exemplo, sio disc delimitadas temporal e regionalmente, que merecem ser pesquisadas. Trata-se entio de aspectos especiais da historia geral. ‘0 mesmo nao ocorre com a histiria social e a histéria dos conceitos: em virtude de sua autofundamentagio teérica, elas reclamam para si uma validade que pode se estender e ser aplicada a todas as historias especi zadas, Afinal, que hist6ria ndo trata de relacionamentos interpessoais, de formas de associagio ou de estratificagbes sociais? Assim, a especificagio da histéria [Geschichte] como historia -vanta uma pretensio perma- nente de natureza irrefutivel ~ antropolégica, por assim dizer ~ que se es- conde por tris de todas as formas de historiografia (Historie|."* Ademais, existe alguma histéria que no tivesse que ser concebida como tal antes de observar no ambito da hist linas especiais, * A nog de rie Newz comprecnde o periodo que, graso mao, se este nal do século XV e o final do X’ ienice a4 Portuguesa mio pom um equivalent esto pare designs coe do que se obs ndo anglo-saxdo, cuja peri 7 tte Ely Moder, ‘ocorréncia, como sequéncia de sa outra, Historie seme i dle ‘conta, por assim dizer. Para fazer jus a essa disting’o, a i pornos cemes deg @ earns sel do quo da pasate na seo ne a Portuguesa. Na sequéncia do 5 Digitalizada com CamScanner storia quanto a tese de que 1. Retrospectiva histérica nova. Quem acompanha a rica desde entao sempre se depara com ambas as abordagens, seja de forma reciprocamente elucidativa, como em Vico, Rousseau e Herder, scja isoladamente, A pretensio de reduzir todas as manifestagdes historicas da vida e evantada desde Comte ¢ 0 jovem Marx. Se- ais positivista, as his lturais € dos povos do século XIX e, por fi ias regionais que abarcam todos os ambi- tos da vida e cujo produto si precht, pode ser chamado hi ‘co-social ou ainda hist6rico-cultural. portugues). Ao longo do toda vee que a tradugdo se rferiea este sub ‘ero alemao sera indicado entre coleetes. J 0 uso por Kosellck de Geschichte € mu a serd sempre vertda por “hits Toda vez que "istra"apa no texto de orgem sera ja empregada, num 1 0 termo original entre colchetes.[N.R.] istOnIas bE conceITos Por outro lado, ue trabalhavam de modo fontes por meio de dade Média esse vinculo reciproco sempre esteve present ‘mais ou menos refletida. Afinal, qual estado de coisas [Sachver deria ser estudado, sobretudo quando as fontes sio escassas, se ‘em conta a maneira como conceitos na época € no presente sio elabo- rados? No entanto, salta a vista que o entrelagamento entre 0s métodos da historia so histéria dos conceitos se voltava contra duas correntes bi ambas dominantes na década de 1920: por um lado, tratava~ aos quais se dava atengao porque, por lor por sis6, sem levar em conta seu contexte po- Iitico-social concreto; por outro lado, tratava-se, acima de tudo, de evitar Digitalizada com CamScanner REINHART KOSELLECK factual e, em lugar disso, interrogar as, te descrevé-la, Para el tante era abordaras estruturas de longo prazo da consti ndo expressamente a respec- 0s, associagdes OU estealos 50- stria de sua interpretagio. Nio é por acaso que a ia Franga com base em um interesse de pes- Conze, que, em 1956-1957, fundou o Grupo de Trabalho em Hi Social Moderna [Arbeitskreis fiir moderne Sozialgeschich iva de Conze, a conjugagio de questdes no campo da histéria social € no da histéria dos conceitos passou a fazer parte dos desafios perma- nentes desse grupo, assim como a determinagio da diferenca entre am- bas, tema de que falaremos a seguir. el Herrscaf, Brinn, Munigue e Viewa2, 1942 . xi Grindung des Arbetskzeises fir moderne Sozilgeschichi?, d Geseliscafispaik 24 (1978), p. 23-32. proprio 1942, p. 194, com sua quarta edigio empl pata 0 fatode que também policamentecondiionados podem levat a conhecimentos se metodologicos novos que sobrevivem a sew ponto de patida, | istORias De CONCEITOS lidade de uma “histoire totale” I. Aimpossi ‘ociais e sem os conceitos com os quais tais formagies — sntam definir e vencer os desa~ téria: na auséncia de ambos 0s Sem formagdes s ide modo reflexivo ou autorreflexivo ~ se Ihe apresentam, no exis. gio, nem de representaga ide e linguagem, : sma historia en . Por isso, as teorias, questées e métodos da historia social e da historia dos conceitos sempre se referem ou podem ser referidos a todas as éreas imaginaveis do storico {Geschichtswissenschaft]. Por essa razio, porém, insinua-se também, por vezes, 0 desejo de conceber uma “historia tot ‘Quando, por motivos pragmaticos da pesquisa, as investigagdes empi- ricas do historiador social ou dos conceitos abordam temas restritos, essa autolimitagao ainda nao implica restringir a pretensio de validade geral associada a uma teoria da histdria possivel, que necessariamente pressu- ple sociedade e linguagem. Sob a pressio das especializagGes metodicamente necessitias, as abor- dagens no campo da histéria social e dos conceitos recorrem, inevitavel- mente, a ajuda de disciplinas vizinhas. Precisam, portanto, proceder de ‘modo interdisciplinar. Isso, porém, nao significa que sua pretensio ted- rica de generalidade possa ser estabelecida de forma absoluta ou total. Por certo, elas estio obrigadas a pressupor a totalidade das relagdes so- ciais, assim como suas articulagdes linguisticas ¢ seus sistemas de inter- pretacio, Porém, a premissa formalmente irrefutdvel de que toda historia tem a ver com a sociedade e a linguagem nio autoriza a conclusio, de amplo alcance, de que seria substantivamente possivel escrever ou mes- ‘mo conceber uma “histsria total’, Independentemente de quio numerosas ou plausiveis possam ser as objegdes empiricas a uma histéria total, existe uma objecio & sua via- bilidade que resulta da propria tentativa de concebé-la. Isso porque 0 {otum de uma historia da sociedade e o totum de uma histdria da lingua- ‘gem nunca coincidem integralmente. Mesmo que se suponha o caso, empiricamente impossivel, em que ambas as disciplinas sejam temati. zadas como totalidades finitamente delimitadas, permaneceria irredu- de narragdo. Socie Sricas sem as quais Digitalizada com CamScanner ria social e a tivel a diferenca entre a h (Beg Nema conceituagio linguistica consegue dar cor re ou daquilo que se da sem que seja transformado por sua el i da sociedade, ¢ a otra, sem que essa tenso possa jamais ser ]. Apenas o dia seguinte te diz 0 4) se transforma em evento precisam e vergangene Geschich |. Histéria em curso [geschehende Geschichte], discurso ¢ escrita } | j ! nisTORIAS 0€ CONCEITOS de forma insepardvel, pois 0 ser guagem quanto de exis~ ndéncia ado tanto di pode ser determinada? A depe efetivagdo do seu acontecer, é 40 linguistica. Nenhuma nenhuma transagio econdmi- ies de planejamento, sem debate im ~ e obediéncia -, sem consenso iduais, no proceso de dos envolvides ou desacordo artic ‘ahist6ria cotidiana depende da linguagem em agio, 1a historia de amor pode ser sua realizagio di ho comu se orgat ONU, dependem disso, seja pela via da prévio eno trabalho da mediag desde a menor associagio até fala ou da escri Por mais clar 1c isso seja, é evidente que essa observagao precisa c de fato acontece é, obviamente, mais do que a art 4 sua ocorréncia ou que a interpreta. A or- iada ou o grito elementar para matar nao sao 1. As palavras trocadas por Digitalizada com CamScanner REINMART KOSELLECK de modo cifrado; cujo lugar histérico nduta de gru- pos, estabelecidos gracasa seu! rmoderno:trata-se sempre de uma sem pal s verbalizados. Também podem ser reduzidos a linguagem, mas sua forga justamente em sua capacidade de prescindir da linguagem falada correspondentes ou orientar posturas e mo- coms para, entio, provocar ag dos de conduta através Lembremos de outras precondi is: a proximidade ou 0 da mesma unidade geracional; a bipolaridade dos sexos. Todas essas di eventos, conflite ¢ reconciliagao que sio viabiliza- item, portanto, elementos extraling posing pendem de condigdes elem sgeogrificas, biolégicas ‘Todas influem nos eventos sociais por intermédio da con: za. Nascimento, amor ¢ morte, comida, fome, miséria e doengas, quem sabe até mesmo a felicidade, bem como, de qualquer modo, o roubo, a a8 que fizemos aqui sio Pois todas as premissas pré-lingui pelos as sio linguisticamente moldadas *shumanos e mediadas na fala concreta com suas ages e seus lementos extralinguisticos i. Ainda quando se para de fa- que & inerente ao ser humano istORIAS OF coNcEITOS para se comunicar com aquele ou aquilo que the esté prd- mo ~ seja um ser humano, um objeto, um produto, uma pl um animal Quanto mais alto é o nivel de agregacio das unidades humanas de cesso de expansio da mediagio desde a voz que se faz ouvir na praga do mer los téenicos de comunicagio ~ a escrita, a imprensa, até a tela de uma 10 ou de um computador ~ incluindo em suas in Imensageiro, pas reios e a imprensa, chegando ao satélite ~ ¢ as consequéncias que de- correm de toda codificagai ica. Sempre se tratou de tornar mais duradouro 0 a Jmentos, ou para expandilos e act provocé-los ou controlé-los. sagamento de ceda lo pelos cor- sua dependéncia da linguagem [Ver imentos. Esses exe curso, t relevantes para a representagio de historias passadis, especi a diferenca entre a historia social ea histsria dos conceitos. n Digitalizada com CamScanner eimnent KOSELLECK Iva bistéria representada [dargestellte Geschichte] fazemos ou sofremos, tio logo um acontec! converte no fat sexpetincias. $ quando o espago da oralmente diminui, com a extingio da geragio ha, a escrita se transforma em portador primrio da mediagio ica, Existem numerosos residuos extralinguisticos que testemu- ‘ham eventos e situagdes passados: escombros que testemunham catis- trofes; moedas de organizacées econd s; construgdes que remetem a turas de dominasio e servicos; estradas que remetem 40 comércio ou guerra; armas que Ltenslios que aludem & invengao e a0 uso, No con- “descobertas” - ou imagens -, que podem temunhar vrias as dips cD 20 mesmo tempo, Td isso torna-se iplinas hstoricasespecializadas, No entanto, a d objeto ilo que “de fato” ocorreu s6 pode ser atestado, para além de todas as hip6teses, por meio © mito e 0 conto de fada, 0 drama, a epopeia e o romance caracteri- culo origindrio entre discurso € lenciar. Somente a presentificagio de uma E 6 exatamente isso que fazem todos os 1 ue recorrem a falas reais ou ficticias para fazer jus aos eventos que sio dignos de rememoragio; ou que evocam aquelas palavras fixadas na ia, as quais testemunham o ent 0 desatio colocado a toda interpretagio, desi ou do mundo, consiste igar e transmitir aquelas situagdes inconfundiveis que geram a parecer algo como bem-feitas ~ a expressio inglesa “life and letters” enfati- juagem e vida. O mesmo ocorre com efez tal coisa, disso resultou algo surpreendet tudo” ~ esse esquema formalizado fornece as diplomiticas, permitem reconste ‘gracas as fontes existentes. Consideradas em termos de seu desempenho linguistico, essas histérias [Historien] fazem parte de uma série que se estende do mito ao romance.’ Mas o status ‘4 comprovagao ~ de suas fontes ling tori 2s Digitalizada com CamScanner ReINWART HOSELLECK € a5 obras da assim chamada ‘04 do fracasso, mas nio das palavras ou dos As ves, si os grandes homens que agem; ‘4 seitas, classes ou partidos, povos ou nacées, ou ‘quaisquer outras unidades de agio hipostasiadas. Raramente, porém, s30 investigados os padres linguisticos de identificagio, sem os quais esse tipo de unidade de a¢do jamais poderia agit. Mesmo onde o discurso oral 3s sio incluidos na representacio, os teste- suspeitos de ideologia com demasiada los de forma meramente instrumental em relagio tresses prévios ou intengies perversas. -Até mesmo as investgacdes no campo da histéria d \cmatizam primatiamente os préprios produtos ling ‘mo oposto da nossa escala~ costumam ents também elas acomod rar na mesma zona de perigo, lam tals produtos numa historia real que, antes histORIas DE concerTos permanecem presas & aporia com; a exigéncia de primeiro demarcarlingui to de que se quer falar. Por isso, nessa corporagio dos historiado critos do discurso falado ou escri ao acaso da transmissio definir o renga entre a¢ ext comentirio consiste em detectar o sentido dos documentos, 0 qual ndo pode ser apreendido sem que se determine a diferenca entre discurso € estado de coisas [Sachverhal a alternativa entre ato linguistico e ato fatico {Sprachhandlung und Tat- hhandlungl, ou remetem um a0 outro - como o fazem os sociolinguistas = out, nos casos extremos, 0s tematizam separadamente, Em termos epis- inguagem sempre reali ‘uma dupla tarefa: de um lado, guisticos dos acontecimentos; de outro, a0 lo, também remetea si mesma, Portanto, do ponto de vista histrico, a linguagem sempre é autorreflexiva V. Evento e estrutura - fala e linguagem ‘Até agora, falamos e indagamos apenas sobre a historia em curso ¢ a historia transcorrida, sobre a historia tual e a passada, sobre como dis- curso ¢ agio se relacionam in act fem um corte, por assim dizer, sincrd- nico. A problematica amplia-se, assim que abordamos a diacronia, Assim ‘como fala ¢ acio, sincronia e diacronia nio podem ser empiricamente separadas na efetivagio do acontecer. No curso dos acontecime ve condigdes ¢ fatores determinantes ~ que, em diferentes iveis de profundidade temporal, e estendlem do que chamamos de pas- sado até o presente ~ quanto agentes que “concomitantemente” atuam {guiados por seus respectivos projetos do futuro, Toda sincronia é, eo ipso, ‘a0 mesmo tempo diacrdnica, todas as dimens6es temporais esto sempre entrelacadas. Seria contraditério com relagio a toda experiéncia efinir o presente como um daqueles momentos que, vindos do passado, se acumulam em diregio ao futuro ou que - em um sentido contririo ~ Digitalizada com CamScanner EINNART KOSELLECK 0 futuro que «aso, em que seen! 's influem, em longo ou em médio prazo ~ como também, natural- em curto prazo ~, numa historia em processo de real ia social quanto a histéria dos conceitos pressupdem teoricamente esse vinculo, mesmo que de modos diferentes. A hi cos € es- tum vinculo and- no plano sincrOnico, e a linguagem no plano diacronico, Aquilo que ingular € novo, mas nunca & tio novo a ponto de nao ado por condigdes sociais preestabelecidas no longo pra- har um novo conceito capaz de verbal logo entre o discurso vocalizado, reviamente dada e sempre ef ‘corte pode se sr experiéncias mas este nunca pode ser tio novo a ponto de eis iguagem previamente dada e de nio extrair pagal 22 etext linguistic herdado. A interagio de flare agin, dde eae, icontecer se eliza, é portanto, ampliada pelas duas correntes Pesquisa em suas dimensies diacrénicas ~ a serem definidas dife. nio resid virtualmente ” ee isTORIAS OF cONCEITOS rentemente -, sem as quais a compreendida. ‘Uma série de exemplos esclarecera este ponto, O matrimé yem poderia ser Gevidente que a escritas que nos informem sobre como o matrimdnio foi conceituado ‘em determinado momento, Podemos entdo construir, na forma de modelos esquem abordagens metodolégicas. A primeira volta seu foco para 0s eventos, para os atos articulados na fala, na escrita e na agao; 2 outra, em primeira linha, para as precondigdes diacrOnicas e suas mu- dangas no longo prazo. Procura, enti, identificar as estruturas sociais seus equivalentes linguisticos: 1. Podemos tematizar um evento individual, um casamento real, por ‘exemplo, sobre o qual as fontes dindsticas nos oferecem ricas informagbes; ivos politicos que influfram na decisio, quais foram as tuais e os dotes negociados, como foram encenadas as ceriménias e outras coisas mais. Também o decurso do matriménio pode ser sempre reconstruido e narrado na sequéncia das ocorréncia + duas do suas consequéncias terriveis, como quando, por ocasido da morte de ‘um dos conjuges,a sucesso contratualmente prevista tenha levado a uma guerra de sucessio. Hoje, de forma andloga, de um matriménio concreto entre os grupos soci bbaixos - um tema interessante da hist6ria cotidiana, que recorre a nume- rosas fontes até entao nao usadas. Em ambos os casos, trata-se de historias ingulares, que podem conter cada qual um: ‘dade e miséria, e permanecem imersas em contextos religiosos, truir a his » Digitalizada com CamScanner _ einnaRt KOSELLECK condigies de longo prazo de efeito diacréni- nvestigam os processos de longo fiduais. Em ou- social, visam a caso individual _deduridos da soma dos casos indi struturas e suas mudangas, ¢ examinam as quais essas estruturas foram introduzi- conceitos co,quevabilizaram 0 prazo que podem ser ras: iewestigam a € bas recondigdes linguisticas sot ; tes apreendidas também transformadas na consciéncia so ‘Vgamos primeiro os procedimentos espeificos da histéria social e «em seguida, 0 da historia dos eonceitos. social ndo ignora a dimensio sincrOnica dos casamentos das paavras pronunciadas e das correspondéncias trocadas; diacrdnica. Assim, do ponto de vista mente abarca-, antes, numa perspec dahistéra social, o ntimero de ca para comprovar o aumento da populagio para cada estrato especifico, [partir de quando o nimero de casamentos ultrapassa o niimero prees- tabelecido de casus ¢ propriedades fundidrias correspondentes a cada ‘grupo estamental,cujo espaco para o provimento da alimentacao era li- rmitado? Qual é a relagdo do nimero de casamentos com as respectivas curvas de sliios e prego, com as colheitas boas ou ruins, a fim de ava- terferéncia dos fatores econémicos e naturais na reprodugio da ppopulagao? Como os nascimentos legitimos e ilegitimos podem estar relacionados entre si, para tragar um quadro das situagdes de conflito social? Qual € a relacio entre o numero de nascimentos e de mortes de «tiangas¢ entre mies pais, para explicar a mudanga no longo prazo de ‘uma vida conjugal “tipica"? Como se apresenta a curva dos divércios, a oa a emi econ sobre o tipo de casamento? Todas sae stoi uns ao acaso tn em comum ofito de que sean od cer processos “reais” de longo prazo que, is, ndo estio contidos diretamente nas fontes, Enecessvio um trabalho preparativo penoso que permita uma com- Paragio das informasbes encontradas nas fontes, para entio agregar sé- ‘es numéricas a partir delas , por fim ~ fens necessirio um trabalho de reflex sistem: ‘ dados agregados. De modo snare duaisconctos gue oeonen na ue ocorrem eso nentos é processado est mas também previamente -, ica para interpretaras séries jum as informagdes linguisticas das deduzam delas, de forma imedi go prazo. A soma dos casos indivi ‘comprovados no plano da sincronia, 20 >, WISTORIAS DE coNceITOS. ras de longo ou de médio prazo, ragio de afirmagdes duradouras da muda e incapaz de “comprovar” estr ou sea, estruturas dacrénicas. Ae historia passada exige, portanto, um trabalho teérico preparativo € 0 uso de uma terminol a ~ s6 a partir disso & possivel identificar relagdes ¢ interacoes das quais as pessoas do passado nio podiam estar conscientes, (© que no longo prazo “de fato” aconteceu na histéria - ¢ nio, por inguisticamente ~ permanece, do ponto de vista da historia fica, euja evidéncia depende do poder de persuasio da teoria uilizada. Naturalmente, para que se possa abordar a factualidade do passado, toda afirmacio teoricamente fundamentada deve estar sujeita ao controle metédico das fontes, mas o cariter de reali- dade de fatores duradouros nao pode ser suficientemente fundamentado 1 partir de fontes individuais. Por isso, seguindo, por exemplo, os passos supostas sejam consistentemente interpretaveis. E posstvel ~ tomando um caso do nosso repertorio de exemplos - elaborar tipos de casamento de familias de camponeses e do subcampesinato [unterbawer {quais confluem a média de nascimentos € mortes, sua correlagdo com a ‘curva de salarios ou pregos, ou com a sequéncia de safras ruins, com 0 tempo de trabalho e a carga tributadria, a fim de averiguar como se dife- renciavam o casamento e a familia de camponeses ¢ do subcampesinato, como ambos se transformaram na transi¢ao da era pré-industrial para a industrial, (0s fatores dos casos individuais ~ e nao os proprios casos ~ podem, ser estruturados, de tal forma que ~ dependendo do peso do re- gime de salirios e de precos, da carga tributéria ou dos resultados da colheita ~ as precondigées econdmicas, p ‘mento tipico de um estrato especifico possam ser compreendidas. Quais fatores sio equivalentes e por quanto tempo 0 sio? Quando eles sio do- Digitalizada com CamScanner sinnarT KOSELLECK n determinar sivas? Tais ques a es de épocas, com ajuda dos quis 2 ears ato pode ser xestemunho” das fontes para construir quadros mas sociais tipicas da conjuntos de fatores completamente existem 1s: Trata-se de fatores que nio poderiam ser analisados a. Chegamos as- sim aos procedimentos necessirios no campo da historia conceitual que ~ de forma andloga & distingdo entre evento e estrutura ~ precisam dis- igur entre o discurso de um dado momento e suas predeterminagdes guisticas, A teologia ear cio de sua autoarticulag ido (ou a auséncia delas), 0 direito, os usos e os costumes estabelecem, para cada casamento concreto, condiges que 0 enquadram ¢ que antecedem o caso individual e, normalmente, também sobrevivem a ele, Trata-se a0 todo de regras e padres interpretativos institucionalizados, que geram e am o habitat de um casamento. E verdade que padrdes de comportamento “extralinguisticos” também se estabelecem nesses termos, mas, em todos 05 casos citados,a ima é linguagem, stncia de me Um casamento nio poderia ser firmado nem levado adiante sem pr iiss lingusticamente aticuladas, mesmo quando o papel destas ill mas édecrescente, Eas abatcam desde 0s costumes eo ato juridico até 0 Sermo desdea magia co sacramento atéametafisica,Portanto,¢ prec 05 generos textuais WisTORIRS DE conce!tos [Textsorten] que enquadcavam conceitualmente os casamentos. Esses ios, cartas ou artigos fengio normati- logicos ou c suas interpretages. Em todos os casos vemos a ago de tradigies ligadas do matriménio como uma instituigio indiss ccujo propésito principal consiste cespécie humana. A isso correspon as determinagées do direito es- tamental, segundo as quais um casamento s6 era permitido se a base econémica da casa garantisse a alimentagdo ea educagio dos filhos,além da sustentagio miitua dos cénjuges, Mui cluidas da possi s pessoas eram legalmente ex- lidade de contrair matriménio. O matriménio como nucleus da casa permaneceu atrelado ao direito estamental. Isso mudou 1e Landrecht fiir die preussischen Staaten (1791-1794) [Direito territorial geral para os Estados prussia- nos}," estabel casamento. O com 0 Hluminismo, que, no All cu uma nova base juridica de fundo contratual para o liberdade dos cOnju- £865, como individuos, ampliada a ponto de permitir 0 divorcio ~ 0 que, ‘ho ambito teoldgico, era proibido. O Landrecht de forma alguma rejeitou as determinagdes no campo da teologia e do direito estamental, mas 0 ‘conceito de casamento foi modificado em algumas nuangas decisivas em prol de uma liberdade e de uma autodeterminagio maiores de ambos os cénjuges ~ algo que sé pode ser registrado pela historia dos conceitos. Por fim, encontramos, no inicio do século XIX, um conceito comple- tamente novo de casamento, A fundamentagio tea Por uma autofundamentagio antropologica, nculo econdmico foi afrouxado e ea foi substituida instituigdo do casamento +0 Allgensine Landrecht fir de preusiechen Staaten foi uma coicag patroinadla por Frederico I, rei da Prissia,embora s6 tenha sido promulgada em 1794 pelo seu sucessr. Inspirado no ideal de raconalzagio e sistematizagio da ordem ju do Tluminismo, o cédigo englobara aspects dos direitos privade e pl

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