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Scanned with CamScanner 166 Anania Davie écadas, esse problema formulado por Paul fy as mais de eres d : Passadas mais de vinclpala desefis 2 set enfrentados por beson permanece um dos f progress as envol pgressistas ¢ pessoas ah neira coletiva o legado da nossa cultura popular € 0 transmitimos p le maneira id em, em sua maioria, tem sido negado 0 acy s i mae pone Teds Aarte ¢ A cultura? Nos Estados Unidos, ug elastic ce vibrante da arte do povo surgiu da histéria da militancia thadora, das lutas da populagio afro-americana, de mulheres ¢ de p f fundamental explorar essa tradigéo, compreendé-la, reivindicé-la e ¢ dela a sustentagéo cultural que pode nos ajudar a preparar uma contrao siva politica ¢ cultural as instituig6es ¢ as ideias retrogradas semeadas pe capitalismo monopolista avangado, Como Marx e Engels observaram ha muito tempo, a arte é uma fo : consciéncia social ~ uma forma peculiar de consciéncia social, que tem o tencial de despertar nas pessoas tocadas por ela um impulso para ts criativamente as condi¢ées opressivas que as cercam. A arte pode n como sensibilizadora ¢ catalisadora, impelindo as pessoas a se envol er m movimentos organizados que buscam Provocar mudangas sociais ré cais. A arte é especial por sua capacidade de influenciar tanto sentimer como conhecimento, Christopher Caudwell, 0 comunista britanico escreveu amplamente sobre estética, certa vez definiu a fungao a socializacéo dos instintos humanos e a educagio das em og ‘A emogio, em todo o seu intenso colorido, é a d cultura Sobre 0s instintos cegos, insensiveis, Toda arte, toda ed cperiéncia Social cotidiana a trazem & tona [. Suas indimeras manifestacoes” , A atte progressista Forgas objetivas em cardter intensamen Pode incitar as i Ividas no ativismo politico: como recon! Pode ajudar as pessoas a aprender nio apenas Ba asdo na sociedade em que vivem, mas também ob *¢ social de suas vidas interiores. Em diltima andlise, Pessoas no sentido da emancii oe arte progressista tenha de lidar com ee verdade, uma cancéo 4 sbilidade em relagag vi Scanned with CamScanner ‘Sopre EDUcAGAO E cucTuRA 167 quero explorar especificamente 05 sign arte com 0 objetivo de definir o papel do progresso social. ificados sociopoliticos evidentes da ue ela pode representar na aceleragao Por evidenciar os fortes vinculos entre a arte ea luta pela libertacao negra, rtantes liges para aquelas arte movimentos populares. De todas as formas de arte historicamente associadas 4 cultura afto-americana, ‘a misica atuou como a principal catalisadora no despertar da consciéncia social da comunidads, Durante 0 perfodo da esceavidany am pessoas ness Frama vitimas de uma estratégia deliberada de genocidio cultural, que proibiu pra- ticamente todos os costumes africans, com excecao da musica. Se escravas ¢ escravos receberam permisséo para cantar enquanto labutavam nos campos ¢ para incorporar a miisica em seus rituais religiosos, isso se deu porque a es- ctavocracia nao conseguiu apreender a funcao social da muisica em geral ¢, em particular, seu papel central em todos os aspectos da vida na sociedade africana ocidental. Em consequéncia disso, 0 povo negro foi capaz de criar com sua milsica uma comunidade estética de resisténcia que, por sua ver, encorajou e nutri uma comunidade politica de luta ativa pela liberdade. Esse continusm delitas, que éestético e politico 20 mesmo tempo, estendeu-se dos spirituals de eTubman ¢ Nat Turner até “Poor Man's Blues” [Blues do homem pobre], de Bessie Smith, “Strange Fruit” [Fruca estranha], de Billie Holiday, “Freedom Suite” [Suite da liberdade], de Max Roach, ¢ mesmo até os raps progressistas da cena musical popular dos anos 1980. Com o spiritual afro-americano foi criada uma linguagem de luta que era tio facilmente compreendida por escravas ¢ escravos quanto mal interpretada pelos senhores. Embora a escravocracia tentasse estabelecer uma autoridade absoluta sobre a vida pessoal e a vida comunitaria das pessoas escravizadas, CMTE Sm ao mesnio tempo causa ¢ a comprovagio de uma consciéncia politica auténoma, Essas cangées formaram uma linguagem complexa que tanto incorpo- ava quanto trazia a tona um profundo anseio pela liberdade. ee 5 ‘Scravos cantavam “Didn't My Lord Deliver Daniel and Why Not Every Man? [Nao libertou Daniel o Senhor, entéo por que nao todos os, oe oe Se ee Condicao e seu desejo terreno de set livres. Quando canta in Building Down” [Sansao derrubou o edificio), faziam oo wgistat simbélic 40 seu desejo de ver o edificio opressivo da escravidao vir abaixo. L a histéria da cultura afto-americana contém impo pessoas interessadas em estreitar os lagos entre Scanned with CamScanner 168. Anaxta Davis Se meu desejo se realizasse, Oh, Senhor, Senhor, Se meu desejo se realizasse; Se meu desejo se realizasse, Eu derrubaria este edificio,* ‘Muitas vezes, a muisica religiosa da comunidade escrava represen tava paptis reais ¢ instrumentais na operagao da Underground Railroad** ¢ nq Otganizacig de insurreig6es antiescravagistas. A letra de “Follow the Drinking Gourd” (Sigam a cuia de beber]***, por exemplo, literalmente trazia um mapa de uma S50 da Underground Railroad, e “Steal Away to Jesus” [Devote-se a Jesus] rains, cangao em cédigo para reunir as pessoas envolvidas na organizacio da rebeliio de Nat Turner. Mas, mesmo quando os spirituals nao estavam relacionados ages espectfcas da luta pela liberdade, eles sempre serviam, epistemic € psicologicamente, para moldar a consciéncia das massas do povo neg, garantindo que as chamas da liberdade estariam acesas em seu interior. Como Sidney Finkelstein observou, “a luta antiescravagista foi a esséncia da luta pela democracia, entao os spirituals encarnavam em sua miisica ¢ em sua poesia a afitmacao de uma inquebrantavel exigéncia de liberdade”*, Os spirituals influenciaram diretamente a mtisica associada a outros mo- vimentos populares em varios momentos da histéria dos Estados Unidos. Muitas cang6es dos movimentos trabalhador e pacifista tém origem em mé- sicas religiosas cantadas por escravas ¢ escravos, ¢ as “cangées da liberdade” do movimento pelos direitos civis cram spirituals cujas letras is vezes passavam Por sutis modificag6es para refletir de modo mais concreto as realidades daquela luta. Ses ae * “Uta my way 10 Lordy, Lordy /If Thad: 5 /Mf had: 1 wold sear this down” (NT) ‘Uf Thad my way; / If Thad my way dol Sistema de rotas eabrigos secretos uutlizados para a fuga de esravas esr2¥0* Pata xaos lies do Nore, Canad e México, O sigona opera pags suds 305 __stas que conduziam e escondiam as pessoas em fuga. Harriet Tubman foi uma beer Se ‘usada por escravas e escravos patt eeopeerey Jmapa, eo termo “gourd” se refere Norte por sclos sas como Insernational Press, 1970) P- Scanned with CamScanner Soma roucagtoncumuma 169 Mesmo o blues, frequentemente ay Presentado de forma triviais do amor sexual ligado 208 anscios do povo negro por liberdade: Neg al "std esteitamente lavras de James Cone: Para muitas pessoas, uma cancio de blues € sobre sexo He ou sobre uma mulher soliiria saudosa de seu companheiro incon r tante, Entretanto, o bh © blues envolve sexo eo q Cbsehaaals do Jue ele significa expressio corporal humana, mas em um nivel muito mais profundo iolindldiseeaeee perspectiva negra sobre a incongruéncia da vida ¢ a tentativa de encontrar signifi- cado em uma situagio repleta de contradig6es. Como disse Aunt Molly Jackson, de Kentucky: *O blues é feito por pessoas trabalhadoras [.] quando dla tem on, monte de problemas de trabalho para resolver, quando seus salérios sao baixos [..] ¢ elas nao sabem para que lado se voltar nem 0 que fazer”> estilo musical centrado em aspectos que isso, Para ser exato, Defato, Bessie Smith, a Imperatriz do Blues, alangou o épice de sua carreira quando compés gravou uma cancéo que expressava uma mensagem politica inequivoca, intitulada “Poor Man's Blues”. Essa miisica evocava a exploracéo €a manipulacio da classe trabalhadora pelas pessoas ricas, retratando estas tltimas como parasitas que acumulavam sua fortuna ¢ lutavam suas guerras com 0 trabalho das pessoas pobres. Outro pindculo na evolugéo da musica afto-americana foi quando Billie Holiday incluiu a cangao politica antilinchamentos “Strange Fruit” em seu repertério. Ao longo de toda a carreira de Lady Day, milhares de pessoas foram levadas a confrontar a brutal realidade do racismo do Sul, mesmo quando bus- cavam escapar dos problemas da vida cotidiana por meio da misica, do alcool eda atmosfera enfumagada das casas noturnas, Sem diivida, algumas acabaram Por participar ativamente no movimento antilinchamentos daquela época. Que Bil Holiday tena pravado “Stange Fra” em 1939 no Essen pa NR Eee oa ae a 1 ‘ as eens once ca fan ads 4 P Scanned with CamScanner 170. Anania Davis Hé todos os motivos do mundo para que uma reagao oficial Aleseie que os ang trinta sejam esquecidos como se nunca tivessem existido. Pols aquela época p manece um divisor de dguas na tradigao democratica da América, Trata-se de { a servir tanto no presente quanto no futuro comy momento que continuard ‘“ Jembrete e um exemplo de como um povo desperto, liderado ¢ impelido p athadora, pode alterar toda a compleigio da cultura de um pais classe rab: Intelectuais da ideologia burguesa tentaram, por isso, deturpar ¢ extinguir da consciéncia do povo norte-americano e, principalmen cada artista e intelectual o faro de que um dia existiu nos Estados Unidos a pr deuma cultura popular e que ela foi inspirada, em grande medida, pela classe dora, com frequéncia liderada e amplamente influenciada pelo Partido Respondendo as acusag6es feitas ao Partido Comunista de que ele’ cia e banaliza o dominio da cultura”, Bonosky argumenta que nen partido politico em toda a histéria dos Estados Unidos jamais Preocupagao tao séria com a arte. O Partido Comunista estava exemplo, na convocagao, em 1935, de um Congreso de dos Estados Unidos — que afirmaya ter assinaturas de La dore Dreiser, Richard Wright e Erskine Caldwell. do Partido e de outras forgas progressistas, arti Scanned with CamScanner Sonre EDUcAgho B ct 7 foi o Partido Comunista que lutou de modo to heroico dearte e, com eles, Sbvio, a concepeio de que a arte sae nanan nahist6ria norte-americana, artistas, escritoras ¢ escritotes partici meal te am nome ecm defesa do direito de artistas serem artistas edule ‘A abordagem radical da arte e da cultura inspirada pelo Partido Comunista eoutras forgas de esquerda a a Grande Depresséo enyolveu mais do que criar uma arte que fosse acesstvel 4s massas na esfera piiblica. Muito da arte daquele perfodo era arte popular no sentido de que, no processo de elaborar ocontetido de suas criagGes estéticas, artistas aprendiam como dar atengao 4 vida material e emocional da populagao trabalhadora da América. Meridel Le Sueur investigou a vida da populacdo trabalhadora em sua. literatura, assim como Woody Guthrie compés cangoes sobre suas vivéncias e lutas. Essa emergente arte popular era, portanto, uma contestac4o & cultura burguesa dominante. Artistas ndo apenas sentiam a obrigac4o de defender seu direito de expressar as eais dores, alegtias c aspiragées da classe trabalhadora por meio de sua arte mas um nimero grande acabou se tornando ativista das lutas trabalhadoras, da batalha pelos direitos das pessoas desempregadas ¢, em especial, da populagao giram das fileiras dessas lura. negra. Nesse processo, dbvio, jovens artistas su! Acstética burguesa sempre buscou, situar a arte em uma esfera transcendent, além da ideologia, aém das realidades socioecondmicas ¢ certamehi além da luta de classes. De uma infinidade de maneiras, a arte tem sido representada como produto subjesivo puro da criasividade individual No aig “Pry nization and Party Literature” [A organizagio do partido ¢ 2 Tgerarura |, de 1905, Lénin desafiou essa visto desenvolveu 0 principio do naarte na literatura ~ Um principio com © qual grande numero Baa acordo, ao menos implicitamente. ; as criagoes estéticas 930 estava do partido sobre a Scanned with CamScanner 172. Anceta Davis +: permitida uma esfera de ago mais amplaa iniciativa j aa oe dal wo pense cna Pa forma no cond Ble observou, entretanto, que @ reivindicagéo burguesa por uma liberdade subjetiva abstratana arte er M2 verdade, um estrangulamento daliberdad de criatividade. A literatura ¢ a arte, ele disse, devem ser livres nao apenas da censura policial, “mas do capital, do Ca fe bd do individualismo anar. quista burgués. A literatura ¢ a arte parciditias serao realmente livres porque promoverio a liberdade de milhoes de pessoas””. Quais so as perspectivas atuais para a expansao de uma arte que nao tem medo de declarar sua relagéo partidaria com as lutas populares por igualdade econémica, racial ¢ sexual? Devemos nao sb reconhecer ¢ defender o legado cultural que nos tem sido transmitido 20 longo de décadas, mas também identificar os indicios evidentes ou sutis de avangos progressistas nas formas contemporineas de arte popular. Nos tiltimos anos, por exemplo, filmes part dérios como Silkwood, o retrato de uma coragem (Silkwood] e Desaparecido, um grande mistério [Missing] surgiram como fardis em meio aos valores usualmente imedfocres, sexistas, violentos e, em geral, anti-humanos que caracterizam a maioria dos produtos da industria de cinema de Hollywood. Para considerarmos outra forma de arte, algumas das grandes estrelas da cultura musical popular de hoje séo, sem diivida, génios da musica, mas dis- torceram a tradic4o musical negra desenvolvendo brilhantemente sua forma — enquanto ignoram seu contetido de luta ¢ liberdade. Ainda assim, encont -se luz na miisica negra contemporanea, em trabalhos de artistas como Steve par enerienaas aime eases cme 0 eenoesl a Scanned with CamScanner Sosre epvcagio Ecuuruna 173 demonstra que sentimento popular Pode prevalecer soby tacismo ail intransigente que este pais testemunhou €m muitos a Amusica imensamente popular de Gil Scott-Heron, “ Movie’ Filme}, ep “Beenie Jancada logo depois da elei¢ao de Reagan Para seu primeiro mandato, catalisou fortes sentimentos anti-Reagan entre a opiniao Ptiblica ‘A primeira coisa que quero dizer é “mandato” uma ova Porque parece que fomos convencidos De que 26% das pessoas registradas para votar, Que nem mesmo séo 26% da populacao norte-americana, Constituem um mandato ou uma vitéria esmagadora [..] Mas, ah, sim, eu me lembro [...] Eu me lembro do que eu disse sobre Reagan Atuou como um ator/Hollyweird* Atuou como um liberal Anuou como o general Franco Quando ele atuou como governador da Califérnia Depois ele atuou como um Republicano Depois ele atuou como se alguém fosse votar nele para presidente Eagora ele atua como se 26% das pessoas registradas para vorar um mandato nessa historia, na verdade** ringsteen, foi enaltecido por Rea- 1SA, ise Gece do proprio Bruce a) sane estado para a elei¢ao Scanned with CamScanner presidencial de 1984, Entretanto, & mais provivel que a assesoria de simplesmente tenha presumido que a capa vermelha, branca ¢ azul fosse um indicio da aceitago do patriotismo fraudulento promovide ministragio Reagan. Dois dias depois dos comentarios de Reagan, Sp divulgou uma cangéo intitulada “Johnny 99”, dizendo: “Eu nao o presidente tenha ouvido esta’, ¢ seguiu cantando sobre um trabal indtistria automotiva desesperado, endividado ¢ desempregado que ao corredor da morte apds assassinar uma pessoa durante um assalto, O de suas misicas, “My Hometown” [Minha cidade natal], é sobre a de acarretada pelo fechamento de fAbricas: ‘Agora as vitrines cobertas de branco da rua principal € as lojas vazias Dio a impressio de que ninguém mais quer vir para cd Estéo fechando as tecelagens ao lado dos trilhos da ferrovia O contramestre diz: esses empregos estéo indo embora, rapazes, nao vao voltar Para a sua cidade natal (...]* Um novo género musical com raizes na tradicao milenar histrias tem se tornado cada vez mais popular entre a juve rap reflete inequivocamente a vida cotidiana das pesso ra, em especial jovens da comunidade urbana cangbes de rap incorporam uma consciéncia p Scanned with CamScanner Yeja o FBI, veja a CIA Files querem um missil maior um jato mais Mas se esqueceram de contratar os v Hipécritas e Pais Tomés estéo falando b ‘Vamos falar sobre Jesse Liberdade e Justica so coisas do passado ‘Vamos falar sobre Jesse = Eles querem uma nacao mais forte a qual ‘Vamos falar sobre Jesse Mesmo que isso signifique que tudo em br Vamos falar sobre Jesse Ele comecou de baixo, agora ele est ne Vamos falar sobre Jesse ie Ele provou que consegue, entio no ‘Agora vamos nos unir e deixar 0 m [Nosso irmao Jesse Jackson entrar Scanned with CamScanner 176 Anceta Davis som do mundo inteiro pegando fogo ‘Auta implacivel, a aposta desesperada Os jogos que deixaram 0 mundo todo na ruina AAs trapagas, as mentiras, os dlibis Ea tola tentativa de conquistar o céu Perdido no espaco, e do que vale isso O presidente acaba de se esquecer da Terra Gastando bilhées e talvez até trilhées O custo das armas chega a zilhées [-] ‘Uma briga pelo poder uma chuya nucle As pessoas gritam no momento mais tenebroso Suas vis6es nao vistas e vozes nao ouvidas E finalmente a bomba tem a tiltima palavea ‘Temos de softer enquanto as coisas ficam mais duras E é por essa raz4o que precisamos ficar mais fortes Entio aprenda com o passado e trabalhe pelo futuro ag Nio vire escravo de nenhum computador : Porque as criangas da humanidade herdam a Terra E 0 futuro do mundo esté em suas méos.* Embora possam ser apresentados numerosos exem equivocada da indiistria da musica dizer que tais c: Oe ent Pular que se ditige ds pessoas jovens foi aa prod Scanned with CamScanner essa produgio promove a reificagio da frequentemente, valores violentos, sexistas ¢ indvidualsmo cao, Em dltima instincia, um grande nimero de ' sion classe trabalhadora, cial artistico ao tentar criar uma mi i vrdével pelo mercado, Como Marx spams tena qu conden mais-valor, “a produgao capitalista ¢ hostil a certos sachs iv Tosti particularmente a poesia e a arte”!!, erpictal, Nao podemos esperar que a arte popular de sistas de modo mais vigoroso e doa ° pe emer cee bho] artistico associado em termos organizacionais ¢ filosoficos as lutas populares. Nos iiltimos anos, a arte politicamente consciente tem se tornado cada vex mais evidente. A importancia do Peace Museum [Museu da Paz], de Chicago, por exemplo, nao deve ser subestimada. Nem o desenvolyimento do movimento nacional Artist's Call Against U. S. Intervention in Central America [Convoca- 40 de Artistas contra a Intervencao dos Estados Unidos na América Central]. Essa mobilizagao, que se espalhou por 25 cidades do pais, surgiu como reacéo aum apelo da Sandinista Cultural Workers Association [Associacao Sandinista de Profissionais da Cultura]: Que entre para a histéria da humanidade o dia do século XX em que, diante da gigantesca agressio que um dos menores paises do mundo, a Nicarégua, estava prestes a softer, artistas e intelectuais de diferentes nacionalidades ¢ ge- rag6es ergueram conosco a bandeira da fraternidade a fim de evitar nossa total destruicao.'? 86 em Sao Francisco, amas de duzentos rsa parsiparam dens grndes exposicoes. Recursos angariados em todo pals por ess mow 1 as dos & Associacéo de Profissionais da Cultura da Nici 1 ete El Salvador, a um sindicato salvadorenho ea pessoas refugi aie Outro movimento de artistas em solidariedade & ames ee na regio da bafa de Sao Francisco escolheu © an i ie Se eae luma marca, deixar um sinal, Essa organizasa0 woe na América Central 20 tema da oposigio&intervenso dos Ea ae smurais declaram: Em seu manifesto, artistas e responsiveis pela Pi , 1976), p- 141- ld Scanned with CamScanner 178 Anceta Davis “Integrantes do PLACA nao se aliam a politica desta administragio, morte, guerra ¢ desespero ¢ que ameaga mais vidas a cada dia. Nosso demonstrar, em termos visuais/ambientais, nossa solidariedade e no pelo povo da América Central De modo semelhante 4 Convocacao de Artistas, um movii contrério ao apoio dos Estados Unidos as politicas racistas ¢ fascistas da Africa do Sul declarou outubro de 1984 0 més da Art Against. contra o Apartheid). Por toda a drea de Nova York ¢ em outras foram realizadas exposicdes € eventos culturais pelo engajamento n para libertar Nelson Mandela e todas as pessoas presas por Africa do Sul e na Namfbia. No San Francisco Art Institute [Inst de Sao Francisco], um grupo de artistas associado ao movimento o Apartheid organizou um festival com durag4o de um més, na pr 1985, em solidariedade ao povo sul-afticano. Um dos mais estimulantes acontecimentos culturais pro mento da misica, que construiu pontes sonoras entre 0 © movimento afro-americano, o movimento pela paz ¢ as lutas em a América Central ¢ 4 Africa do Sul. Artistas politicamente Sweet Honey in the Rock, Holly Near ¢ Casselberry-DuPreé agucada consciéncia dessas lutas para o movimento de mulh son Reagon, do Sweet Honey in the Rock, publicou diversos a discursos apelando Aquelas pessoas que apoiam a miisica fe! Para que se associassem as lutas da classe trabalhadora, aos mo racistas, as lutas pela paz ¢ ao trabalho soliddrio. E qualquer p familiarizada com as cangées do Sweet Honey pode clas promovem essas politicas de coalizao de modo efet I y Scanned with CamScanner oo ae Sonnt upvcagéo x cuurue 179 © Sisterfire, festival anual de miisica feita Por mulheres no qual o § Honey in the Rock desempenhou um papel fundamental, fete diretinecrude ao conceito de politica de coalizéo por vias culturais, Em um de seus manifes- tos, 0 Sisterfire € desctito como “uma saudacio a todas as mulheres, pessoas da classe trabalhadora, minorias e pobres que se levantam contra os sistemas politicos e econdmicos desumanizadores”", ‘Além disso, a cultura, em sua forma mais legtima, expressa um cariter de massa ou popular Bia nio deve ser definida nem perpetuada pelos poucos de uma elite para 0 be- neficio de poucos. A cultura deve, inevitavelmente, refletir registrar a tentativa da humanidade de viver em harmonia consigo mesma e com a natureza,(.,] Nés estamos construindo pontes entre o movimento de mulheres ¢ outros movimentos por mudanca social progressista. Estamos brincando com fogo e néo queremos nada menos deste evento do que liberar as energias criativas, poderosas ¢ extraordindrias de todas vocts.'* Holly Near, que hé anos tem sido associada ao movimento da misica feita por mulheres, bem como a muitas outras lutas populares, continua encorajando profissionais da musica a ir além de preocupacées sociais e politicas limitadas e @promover a justi¢a para mulheres e homens de todas as ragas ¢ nacionalida- des, Em 1984, ela e Ronnie Gilbert fizeram a turné “Dump Reagan’” (Livre-se de Reagan], cantando para mais de 25 mil pessoas entre as 25 cidades pelas wais passaram. Outra agdo exemplar no esforgo de construgio de pontes pelo movimento da muisica feita por mulheres foi a cangao escrita por Betsy Rose Para a campanha da ativista negra Mel King & prefeitura de Boston, intitulada “We May Have Come Here on Different Ships, but We'e in the Same Boat Now” [Rodemos ter chegado aqui em navios diferentes, mas agora estamos no | Mesmo barco). Comunistas tiveram papéis importantes no avango desse movimento da ! Misica. © Ad Hoc Singers, por exemplo, que se formou originalmente durante *campanha presidencial de 1980, faz cangSes que aprofundam a consciéncia de ‘las de quem as ouve. Uma de suas misicas, “People Before Profits” [Pessoas “ntes dos lucros}, apresentada durante a primeira campanha ears Praticamente um hino das lutas do povo. Talvez © mais importante em relagio e = Sisterfire: Statement of Purpose (Washington, 1982). Scanned with CamScanner ee ~ 180 Ancxza Davis, ao Ad Hoc Singers seja que elas trazem ao movimento musical uma dimensig de experiéncia concreta, militante, nessas lutas. De fato, se pudermos antecipar a expansao da cultura popular atual, dependera diretamente da influéncia crescente e cada vez mais profunda dos movimentos de massa. Uma arte progressista € revolucionaria é inconcebiyel fora do contexto dos movimentos politicos por mudanga radical. Se novas formas ousadas de arte surgiram com a Revolugdo Russa, a Revolugao Cubana ¢, mais recentemente, as revolugGes Sandinista e Granadina, entao podemos ter, certeza de que, se cumprirmos a tarefa que temos diante de nds de fortalecer e unir os movimentos de massa, nossa vida cultural florescerd. Profissionais da cultura, portanto, devem se preocupar n4o sé em criar arte progressista, mas em se envolver ativamente na organizagao de movimentos politicos popula- res. Uma relacao exemplar entre arte e luta est4 no préprio cerne do jornal Freedomways — que tanto serve como um veiculo de divulgacao da literatura negra progressista como participa diretamente das lutas politicas da populagéo afro-americana e de seus aliados. Se profissionais da cultura utilizarem seus talentos em uma escala sempre crescente para realizar a tarefa de despertar e sensibilizar as pessoas para a ne- Geesidaele de uma a chained de massa a ultradireita, as chances de fortalecer € Scanned with CamScanner SUBEXPOSTD: A FOTOGRAFIA E A HISTORIA AFRO-AMERICANA' Em 1969, o Metropolitan Museum of Art [Museu de Arte Metropolitano] apresentou uma exposi¢io intitulada “Harlem on My Mind: Cultural Capital of Black America, 1900-1968” [Pensando no Harlem: capital cultural da América negra]. De acordo com o coordenador, Allon Schoener, a mostra “talvez seja uma das mais importantes [...] a ser exibida em um museu de arte no século XX, porque redefiniu © papel e a responsabilidade dos museus, seu piblico € os tipos de exposicdes que poderiam apresentar”. ‘Ainda assim, ativistas da comunidade negra organizaram um protesto para marcar a abertura da exibicao. Entre as pessoas presentes no piquete estava Roy DeCarava, um dos mais destacados fordgrafos afro-americanos da época, que ‘contestava fortemente o valor de “Harlem on My Mind”. | Bicaevidente pela montagem fisica da exposigo que Schoener companhia nao tém __nenhum respeito por ou entendimento de forografia nem, incusive, de nenhuma outra midia que utilizaram. Eu diria ainda que essas pessoas nio tém muito amor compreensio pelo Harlem, pelo povo negro ou pela histia! Scanned with CamScanner 182 ANceLa Davis comegado a reverter a evidente escassez de imagens sobre a vida afro na histéria documentada da fotografia. Houve, de fato, algun importantes, como o registro fotografico de Frances Benjami Hampton Institute [Instituto Hampton], a respeito da vi 0 ensaio forografico de W. Eugene Smith na revista Life, “Nurse-Midwife” [Enfermeira-parteira]. Ainda assim, das pessoas negras incorporaram a visio de artistas de of riamente estranhos 4 cultura que suas imagens tenta surgimento da fotografia até o momento presente, fot6 tém sido forcosa ¢ sistematicamente invisibilizados. “ positivos de ‘Harlem on My Mind’, de acordo D. Coleman, “foi chamar a atengao tanto da eri de James Van Der Zee”. Este tiltimo, junta 05 pouquissimos forégrafos cujo nome do. Nenhum deles, entretanto — nem uma t -americano, na verdade -, foi incluido na n desse meio a ser publicada nos Estados ‘Muitas pessoas considerarao surp1 tenham se envolvido com a fotografia po: Jules Lion, que se familiarizou com o p © instrumento para a cidade de Nova O importantes da ciéncia, da academia histéricos por nenhum outro mo que fossem revelados, com um: taque em suas dreas? Jules Scanned with CamScanner Se ‘, OBRE EDUCACKO F curtura 183 jnrerpretada. pela escravocracia, teve Permissio ee Para florescer, sencial aristico inexplorado daqueles milh aa 2 ‘4s € quanto ao 6 Talvez devéssemos considerar uma pergunt apostura das primeiras fotdgrafas e fordgrafos Negros em relagao as condico : earner « ; ndighes coletivas do povo afro-americano? “O amor inato pela harmonia e pela beleza” escreveu W. E. B. Du Bois, , que deu as almas mais rudes de seu povo a danga eo canto, ae nao causou nada além de confusio ¢ diivida na alma do artista negros pois a beleza a cle revelada foi a beleza da alma de uma raga que seu piblico mais ample desprezava, ele nao podia formular a mensagem de outto povo.s Poderia ser esse 0 motivo pelo qual as obras ea carreira dos poucos pioneiros na fotografia parecem completamente distantes das situagGes e aspiracées das massas afro-americanas? Onde estava, nas obras do daguerreotipista Jules Lion, o poderoso anseio por liberdade da populacio negra? As imagens fotogrificas de artistas da comunidade negra da mesma geracéo ou da geracio imediatamente posterior a dele testemunharam, de algum modo perceptivel, os sonhos comuns deum povo escravizado, cujas cangées ¢ lutas tinham como foco sua libertagio coletiva? Se essas perguntas nao podem ser respondidas, sem reservas, de modo afirmativo, isso se deve, sem duivida, as pressdes exercidas por aquele “piiblico mais amplo” a que Du Bois se refere. A populacao negra, cuja vasta maioria era escrava antes de 1863, simplesmente nao era considerada um tema apropriado Paraa arte visual séria. De fato, isso nao era menos verdadeiro para artistas de origem afto-americana da pintura, da escultura ¢ da fotografia do que era para artistas de origem branca da mesma época. A escassez de aspectos negros caracteristicos nas ob fotdgrafos negtos pioneiros néo deve set erroneamente ‘ima licenga para ignorar a questéo do relacionamento de . id &xperiéncia coleti raga. Qualquer que fens s i leva de suajcage, Qua ave 8 ignorar—a politica racial de sua ras das fordgrafas € interpretada como je tais artistas com a lo 0 modo subjetivo ‘scolhido por essas pessoas para abordar — Icuma influéncia das Poca, clas dificilmente poderiam ter evitado receber algut ee ican Library, 1969), p- 46-7 W.E.B, Du Bois, The Soul of Black Folk (Nova York, New American Library Pp. Tanned 1999]. Scanned with CamScanner 184 Anceta Davis uve turbulentas agitag6es na populacio negra a década que terminou com a invengio do daguerreStipo. Houve a incrivel rebelifo escrava de Nat Turner, em 1831, caconferéncia de criagéo, dois anos depois, da American Anti-Slavery Society [Sociedade Antiescravagista Norte-Americana]. Em 1837, existiram também artires entre a populagio branca, como o jornalista abolicionista Elijh P Lovejoy, cruelmente assassinado por uma gan} executada pelo escravo que logo veio condigées histéricas objetivas. E hot ¢ entre seus aliados brancos durant gue racista no Illinois. No ano seguinte, ocorreu uma importante fuga, a ser conhecido como Frederick Douglass, eloquente orador ¢ poderoso lider abolicionista. Foi também nesse ano que o ativista antiescravagista negro Robert Purvis formalmente organizou a Underground Railroad. Se essa foi uma época em que a busca negra por liberdade surgiu como uma das principais preocupagées sociais da nacao, foi também um periodo de expressées artisticas vibrantes e prolificas relacionadas & causa antiescravagista. Quando George Moses Horton publicou seus “Poems of a Slave” [Poemas de um escravo], apareceram os “Poems on Slavery” [Poemas sobre a escravidao), de Longfellow*. Embora esse tenha sido aparentemente um caso excepcional, houve um artista visual afto-americano, o gravurista ¢ litégrafo Patrick Reason, que dedicou grande parte de seu trabalho a temas abolicionistas. “Reason se expressou de forma veemente contra a escravidio, dedicando muito de seu tempo a ilustrar a literatura abolicionista.”’ O retrato que ele fez de Henry Bibb, autor de uma das narrativas de escravos mais populares da época, expti: mia certa determinagio em associar o trabalho de artistas visuais da populagio negra — assim como a literatura de seu povo e as criagdes musicais ainda sem reconhecimento — ao esforco histérico e social da raca pela libertacio. E uma grande infelicidade que os requisitos racistas para a arte “americana” excluam, de maneira praticamente aprioristica, as escravas ¢ os escravos negros como potenciais temas da arte visual séria, j4 que um material abundante ¢ pro- fundamente inspirador poderia ter sido recolhido a partir de sua vida e de seus feitos, um material espera de ser moldado por maos habilidosas em estimulantes novas criagées. Consideremos, por exemplo, o fascinante caso de Henry “Box” George Moses Horton é considerado o primero poeta afro-ameri Sal cito poeta afro-americano a ser publicado no Sul dos Estados Unidos. Ji Henry Wadsworth Longfellow fo sor € poet i apoiador do abolicionismo. (N.T.) ee David C. Driskell, Tivo Centuries of Black American Art (Nova York/Los Angeles, Alfred A KnopfiLos Angeles County Museum of Art, 1976), p. 36. Scanned with CamScanner Sosne epvcagio x curruna 185 wn, o escravo que fugiu dentro de uma caixa envi Bro ve da Underground Railroad. Ea ae ae ee Norte por inte- 2, 1849. Passando-se por um homem branco, len a a ae squcomo propricéra de seu matido, O cas beineetndde aavingen ie 2 ga aa cidade live da Fadl, Embora fig de Hare When vamo ano, nfo tenha sido em si particularmente extra suns co ee foram impactantes ¢ hist6ricas. Intimeras jornadas de liberdade foram condusidas pores destemida mulher, destinada ase romar o Moisés de seu povo ae 0 fotdgrafo afro-americano J. P. Ball estava em atividade pe anos 1850. Tode-se te a tentagéo de especular sobre em que medida cle e outs pessoas foram afetados pelas ages de coragem de combatentes da iberdade como Har- set Tubman, Embora respostas concretas tenham de esperar por mais pesquisas historicas especificas, esté evidente que nos anos 1850 o problema da escravi- dio havia se deslocado de modo enfitico para o centro das atengdes nacionais. Ela havia se tornado uma questo que ninguém, de origem negra ou branca—€ paricularmente profissionas da. academia eda cultura tina permisiodeigno- rat. Na verdade, um dos textos literdrios mais populares da época foi A eabana do escravidio de Harriet Beecher Stowe. pai Tomds*, 0 romance de cruzada contra a ncia irrefutdvel do seu extraordindrio O proprio sucesso dessa obra foi uma evidér papel na defesa da causa abolicionista. Apesar disso, ponsével pela popularizagao de atitudes sociais em relagio 4 populagio negra que aparentemente contradiziam seu propésito progressista ¢ antiescravagista. Pois mesmo defendendo o direito da populagao negra de ser livre, a obra legitimava ¢dava uma forma definitiva, popular, as nogoes estereotipadas de inferioridade Jo qual o romance de Stowe racial. Na verdade, foi precisamente 0 processo Pe ede vavido que fornecenasarmasitedtias Pa sncional — do racismo. © romance também foi res- suscitou a reago popular contra a esc! uma vitéria ideoldgica — embora nao inte! ; , i as em uma acep¢ao A cabana do pai Tomds facilitou — "4° exclusivamente, m: mais ampla — a infiltragio cada vez mais profunda de image ed na vida cultural do pais. Consideremos de 1 Ree aa Tom and Little Eva (Pai Toms ¢ a peaue diregio em uma mem negro grande, mas ob Ene e os esteretipos |. Esse q nao € obra de ‘um quadro na Eval e sua represen feso, que busca luze ado, que incorpors amartista branco ingenuds como menina branca pequena € angeli de Stowe em sua forma original, rt, Sto Paul, Clube do Livro, 1969. (N- Scanned with CamScanner 186 Anceta Davis poderamos supeita. Ao contririo, ele foi produzido peloafro-americano Rober Scott Duncanson. E Duncanson nao foi o tinico a ser inspirado dessa maneira ao criar imagens involuntariamente destrutivas de seu povo. Ainda assim, pessoas afio-americanas também forneceram os meios para expor as distorgdes racists do retrato que Srowe faz-do povo negro, pois naquela época a narrativa de escravos havia se ornado um género literdtio consolidado. Solomon Northup e Frederick Douglass, por exemplo, apresentaram relatos em primeira pessoa de suas vidas, sofrimentos ¢ suas esperangas sob a “instituigéo peculiar”*. As criagGes literdtias de pessoas negras que emergiram em meados do século XIX inclufam as obras de William Wells Brown, que, apés escrever uma narrativa de escravo, tornou-se 6 primeiro novelista ¢ dramaturgo afro-americano. Entre poetas de meados do século, Frances E. W. Harper estava destinada a ser a mais aclamada. Embora tenha nascido “livre”, ela escreveu seus versos mais brilhantes ¢ celebrados 20 abordar as justas lutas de seu povo escravizado — poemas como “The Slave Auc- tion” [O leilio de escravos) e “Burry Me in a Free Land” [Sepulte-me em uma terra livre]. Esse era 0 contexto literdrio frutifero e frequentemente combativo no qual fordgrafas e fordgrafos negros de meados do século — de forma consciente ou nio ~ dedicaram-se ao seu oficio potencialmente influente. Assim como colegas que empunhavam canetas, tais artistas da fotografia possufam a habilidade de utilizar a cimera para produzir imagens criativas e afirmativas de seu povo. Veio entéo, lentamente, 0 vulto da emancipacao. Multidées e exércitos de ianques desconhecidos, inescrutaveis, impenetraveis; crueldade por todos os lados; rumores de um novo comércio de escravos; mas lentamente, continuamente,a louca verdade, a amarga verdade, a magica verdade veio surgindo. Haveria de ser uma nova liberdade!(...] Eles rezavam; eles trabalhavam; eles dan- savam ¢ cantavam; eles estudavam para aprender; . eles queriam vaguear' Aescravidao foi banida da histéria, mas, ainda que certamente o povo negro sentisse a queda de suas correntes, também logo percebeu que de modo algum havia alcancado seu objetivo coletivo de libertagao. Se uma nova promess foi feita depois, durante os anos da Reconstrugao Radical, ela seria abruptamente roubada pelo Consenso Hayes-Tilden**, em 1877, que deu inicio a um periodo Eufemismo usado nos Estados Unidos Para se referir & escravidac W.E. B. Du Bois, Black Reconseru Apés uma intensa disy cial de 1876, 0s parti (N.T) ‘tion in America (Nova York, Meridian, 1964), p. 122. Mo Denia § contagem de votos do colégioeleitoal nacleigio preside” » Pemocrata ¢ Republicano fizeram um acordo informal, confirmando# Scanned with CamScanner de racismo pervasivo € destrutivo. A segregacio pulagio de ex-escravas ¢ ex-escravos comecou a sof; de seus direitos civis. A violéncia das Bangues ¢ os i incontavel numero de vidas, ao passo que o funcionalismo publi iblico © 0 setor pti ram 0 uso do terror racista e d, intimidag4o como postura rotineira em relagio 4 poy etrabalhadora. Em 1890, por exemplo, foram feportados 85 lincham _ entos, 112em 1891 € 160 em 1892 ~e, a medida que os tiltimos anos do seul, a ‘ se passando, essa onda de violéncia racista continuava a crescer. : ado brancos do Sul adota ¢ Outras téticas de Pulacio negra camponesa Foi contra esse pano de fundo sécio-histérico que se desenrolaam a vidae acarreira de artistas fotograficos como Harry Shepherd e Hamilton . Smith. Enquanto trabalhavam com suas cimeras, selecionando os temas, compondo as imagens, de que maneira a violéncia furiosa das gangues racistas, os massacres de pessoas negras eufemisticamente chamados de “disturbios raciais” os afetavam? As imagens registradas por essas pessoas foram de algum modo influenciadas pelo conhecimento de que muitos milhares de corpos negros foram enforcados em drvores ou incen Charles Chesnutt publicou em 1901 um romance intitulado The Marrow of Tradition [A esséncia da tradicao], diretamente baseado no massacre de 1898 em Wilmington, Carolina do Norte. Algum forégrafo afro-americano se inspirou no exemplo de Chesnutt? : No inicio do século XX, a fotografia norte-americana ¢ curopela entrouem seu estado de maturidade histérica. Mathew Brady forografou a Guerra Civil, © expedicdes fotogrificas a regides remotas do Ocidente foram realizadas por Timothy H. O'Sullivan. Muitos milhées de retratos humanos fonts regis- trados em pelicula. De acordo com 0 censo de 1900, 20 HIM 247 nd afio-americanas forografavam profissionalm Obvio, po a a que a vasta maioria concentrava seus trabalh , mas se James Van Der Zee é, de algum modo, eps H forografavam cenas de rua, desfiles, comicios politicos €av8 . Coleman relata que pudesse estar acontecendo ao redor. A.D. sompleramente alhieio 20 Brande parte de sua carreira, Van Der Zee “esteve iados em postes? Contemporaneo literdrio de tais artistas, ente. 10s nos retratos feitos ¢ artistas Como ele er outra coisa que, durante ia do republicano Ri Ti 1 iso, Hayes concordot iJ. Tilden. Para isso» ; =e li sutherford B. Hayes sobre Sam' !J es Ea al i ‘democrat tm fazer concessbes a alguns interes 7 | Gyer Scanned with CamScanner 188 AxcEta Davis que ocorria na sua area, mesmo entre as fordgrafas € fordgrafos negros; nomes como Steichen, Stieglitz, Hine e Van Vechten nao ecoavam em sua meméria”, Ainda assim, para mover-se em diregio ao registro forogrifico da opressio era realmente necessirio conhecer, por exemplo, as imagens de pessoas pobres e de seu ambiente feitas por Jacob Riis? Era necessério para as fotdgrafas ¢ fotdgrafos negtos buscar exemplos entre seus pares da populagio branca a fim de reconhecer que a fotografia poderia ser uma forma profundamente social de arte, capaz de originar impulsos humanos pela mudanga progressista? Para dar continuidade aos questionamentos acima, alguma fordgrafa ou fors- grafo negro do inicio do século XX tentou registrar imagens mostrando o racismo onipresente e devastador daqueles anos? Como a fotografia negra abordou os distiirbios raciais de 1906 em Springfield, Ohio, e em Atlanta, Geérgia—ou as famosas agressées a soldados negros em Brownsville, Texas, naquele mesmo ano? Houve alguma provocacio visual inspirada no linchamento, em 1916, de Jesse Washington, que foi queimado vivo em Waco, Texas, diante de uma multidio euférica de 15 mil pessoas brancas — homens, mulheres e até criangas? Uma fotografia de uma passeata no Harlem em protesto aos disttirbios raciais de East Saint Louis, em 1917, foi incluida na exposigéo “Harlem on My Mind”. Quantas outras imagens que evocam a presenca ea resisténcia & terrivel violéncia de 1917 € ao sangrento Verio Vermelho* de 1919 esperam ser descobertas? Com a ascenséo da indiistria cinematogréfica nas primeiras décadas do século XX, os esterestipos racistas comecaram a adquirir formas definitivas de percepgio, processo que D. W. Griffith realizou com maestria em The Birth af @ Nation (O nascimento de uma nagio). Quais fordgrafos afto-americanos buscaram criar verdadeiras imagens negras, fotos cujo poder criativo expusesse ¢ condenasse a evolugio da mitologia visual do racismo? Certamente, as impres- sionantes imagens negras de James Van Der Zee oferecem uma evidéncia posi tiva, realista, da populagao urbana afro-americana ¢, em especial, de habitantes do Harlem da década de 1920 ~ de socialites em repouso a garveyistas™* em A.D. Coleman, Light Readings, city p. 17, No original, “Red Summer". Assim ficou conh ecida a sequéncia de conflitos raciais que cuso" a morte de pelo menos 165 pessoas em varias ci es rurais dos Es idos, Uma das raves do conto ea ede Ed lads egies rras ds Estados Unies. Ur 0 t a mio de obra bi i Scanned with CamScanner a A pes Embora os jestudos académicos dominantes sobre fotografia tratem Van er Zee como ae jexceyao™ isso quando cle € minimamente reconhecido -, deve exitir um ndimero maior, muito maior de artistas como ele, (s anos 1920 foram muito especiais para artistas da comunidade negra dos sados Unidos — particularmente na literatura e na pintura que, ao contrétio da pis daquela €poca, ainda néo tinham se estabelecido dentro de um contexte cultural que ev positiva ¢ nitidamente afro-americano, “Nés, artistas jovens de origem negra que criamos, pretendemos neste momento expressar nossos seres inicos de pele escura sem medo nem vergonha.”" Esse foi o manifesto de Lang- son Hughes em “The Negro Artist and the Racial Mountain’ {O artista negro eoobsticulo racial]. No fim daquela década, artistas visuais e da literatura negra haviam construido as bases para uma estética expl tamente afro-americana, que refletiu as condiges s6cio-histéricas do desenvolvimento da comunidade negra e que permitiu expressar as tradigGes culturais criadas ¢ preservadas nesse processo. Deixem que 0 clamor das bandas negras de jazz ¢ que o bramido da vor de Bessie Smith cantando blues penetrem nos carros fechados da quase-intelectualidade de coraté que escutem etalvez.compreendam. Deixem que Paul Robeson cante “Water Boy” [Garoto da 4gua], que Rudolph Fisher escreva sobre as ruas do Harlem, que Jean Toomer traga nas méos 0 coragao da Geérgia e que Aaron Douglas desenhe estranhas fantasias [...].'" E poderfamos acrescentar: que James Van Der Zee capture imagens forogra- ficas do Harlem, que P. H. Polk preserve por meio da cimera algo do significado histérico do Tuskegee Institute [Instituto Tuskegee] *... Entio vieram a Grande Quebra {da Bolsa de Nova York], em 1929, ea depres- So econdmica que trouxe pobreza para toda a populago, mas cujo impacto foi mais fatal para as massas afro-americanas, especialmente a mio de obra agricola do Sul. A populacio negra pobre apareceu no trabalho de forSgrafase forbgra- fos da Farm Security Administration [Administragio de Seguransa Rural] — Tagan Hag "The Nog *,em John A. Williams ¢ Charles n Hughes, “The Negro Artist and the Racial Men este peace (orgs.), Amistad I (Nova York, Vintage, 1970) bed tee 23 jun. 1926. idem, p. 304-5. : O Tuskegee Institute iniciou suas aividades em 1881 como escola normal pes rt Professore professors afro-americanas. Os tes principals response PO ANT *am Lewis Adams e Brooker T, Washington, ex-

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