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50_DUcAgho FISICA na Inglaterra), dando-Ihes a aparéncia de serem “universais” ¢, deste modo, permitindo a todos ganhar no jogo e vencer na vida pelo seu proprio esforco. Do positivismo, absorveu, com mutta proprie- dade, sua concepeao de homem como ser puramente biolégieo & organtco, ser que ¢ determinado por caracteres gensticos e heredi- tarios, que precisa ser “adestrado”, “disciplinado”. Um ser que se avalia pelo que restste. Uma Educacao Fisica pautada por estes pressupostos detxa- nos muttas indagagocs. especialmente quando o scu texto ganha 0 contexto: a Europa que consolida vitoriosa a “Dupla Revolugao” eo modo de producdo capitalista, Podemos afirmar que, a partir da primeira déeada do século XIX, a Educagao Fisica € sistematizada em "métodos”, ganhs foros clen- Uficos © € disseminada como “grande bem” para todos os “males”, como protagonista de um corpo saudavel... saudavel porque faz exercicios fisicos. Entretanto, o éxercicio fisico nao é saudavel em Si, ndo gera Satide em sl, é apenas e tao somente um elemento, num. conjunto de situagées, que pode contribuir para um bem-estar ge- ral e, neste sentido, aprimorar a satide, que nao ¢ wm dado natu- ral, um a prior’, Ao contrario, satide ¢ resultado, porque, mais que © vigor fisico corporal, compreende 0 espaco de vida dos individuos. dai nao ser possivel medi-la, nem avalia-la apenas pela aparéncia de robustez ou de fadiga, Sempre vinculada & saude biologica, a Educacao Fisica sera protagonista de um profeto maior de higienizagao da socledade. O corpo, do qual se ocupa. ¢ 0 corpo anatomofisioldgice. E ele sera a referencia fundamental de seu desenvolvimento como pratica 30- lal. Entretanto, uma Educacao Fisica assim construida torna-se achistérica, pols ‘na medida em que a multipitesdade das determinagées que marcam ‘corpo dizem respeito & forma pela qual o homem ge relaciona com © meio fisico © com outros homens. ¢ ainda x formas assumidas Luistoricamente por essas relagdes, o corpo anatame-fisiologica apa: rece como um corpo investido soclatmente. & através das normas elaboradas na vida coletiva que a corpo se dimensiona e adquire © "eas NOME DA SADDE.DO CORPO SOCAL..”_52 significado por referencia & espectalidade da estrutura social [1 0 ‘corpo € disposto na sociedade antes de tudo como agente do traba- tho, o que remete a idéia de que ele adquire seu significado na es- trutura histérica da predugdo: significade que se expressa na quan: dade de corpos “soctalmente necessaries", no mode pelo qual serio tailizados. nos padrbes de ago fisica ¢ cultural a que deverdo ajus- tar-se [Dosancevo & Penema, 1979, pp. 25-26) A Educacdo Fisica, construida de maneira autonoma em rela~ 80 & sociedade que objetiva 0 corpo dos individuos em configura- ‘cbes precisas e determinadas historicamente. coloca-se como uma pratica “neutra”, capaz de alterar a satide, os habitos ¢ a propria, vida dos individuos. B é assim que ela comeca a ser veiculada como uma necessidade, passando a integrar 0 conjunte de normas que tratam dos “culdados com o corpo", culdados esses que, no discur- so, passam a ser um problema do Bstado. Particularmente, 0 exercicio fisico seria aquele “culdado com 0 corpo" dotado de poderes eapazes de resolver os problemas colo- eados pela sociedade industrial, seria aquele elemento capaz de neutralizar os conflites sociais ¢ “equilibrar” a vida no mundo do trabalho. Vale ressaltar que, em plena Revolugao Industrial, 0 trabalha- dor se transforma em simples acessério das méquinas ¢ necesita, cada vez mais, atencAo ¢ satide para suportar as snterminaveis horas sem descanso ¢ em posicdes absolutamente nocivas ao seu corpo, Daf, a importancia attibuida ao exerciclo fisico, este nove “remédio" para os males “necessdirtos” da nova ordem. 3. AS ESCOLAS DE GINASTICA: SAUDE, DISCIPLINA E CIVISMO. A partir do ano de 1800 vao surgindo na Europa, em diferen- tes regives, formas distintas de encarar os exerciclos fisicos. Zssas “formas” receberio 0 nome de “mélodos ginasticos” (ou escolas) © correspondem aos quatro paises que deram origem ag primeiras sistematizacdes sobre a gindstica nas socledades burguesas: a Ale- 52_BDUGAGAO Fisica mana, a Suécia, a Franca ea Inglaterra (que teve urn carater muito particular, desenvolvendo de modo mais acentuado 0 esporte). Es- ‘sas mesmas sistematizagées serao transplantadas para outros pai- ses fora do continente europeu, A ginastica, considerada a partir de entao clentifica, desempe- nhou importantes fungdes na socledade Industrial, apresentando- s€ como capaz de corrigir vicios posturats orlundos das atitudes adotadas no trabalho, demonstrando, assim, as suas vinculacdes com a medicina e, desse modo, conquistando status. A essa feicdo médica, soma-se outra & ginastica: aquela de ordem disciplinar... € disciplina era algo absolutamente necessério & ordem fabril ¢ & nova soctedade. O aprofundamento dessa tematica, certamente necessaria para uma mator compreensao da Edueagio Fisica, nao constitui objeto de investigagao do presente trabalho. Nossa intengho, ao trazer a discussao dos “métodos gindsticos", deve-se ao fato de estarem eles ‘sempre presentes nos discursos de estadistas, médicos ¢ pedago- gos brasileiros. Para além de sua presenca nesses discursos, 0 seu conteido revela-se marcadamente medicalizante, afirmagao que pode ser traduzida, sobretudo, pelas cléncias que Ihe servem de base. Isto posto. passaremos a fazer referéncla As escolas de ginas- {tea que tiveram maior penetracao no Brasil, procurando destacar © viés médico higientsta que expressam, as ciéncias pelas quais se Pautam ¢ a moral que proclamam. Nao nos ocuparemos das ques- thes pedagégicas que estas escolas certamente suscitam, Apresentando algumas particularidades a partir do pats de ori- gem, essas escolas, de um modo geral, possuem finalidades seme- Thantes: regenerar a raca (nao nos esquecamos do grande mimero de mortes e de doengas); promover a satide (sem alterar as condi- ‘6es de vida); desenvolver a vontade, a coragem, a forga, a energia de viver (para servir & patria nas guerras ¢ na industria) e, final- mente, desenvolver a moral (que nada mais ¢ do que uma interven- do nas tradigies © nos costumes dos povos). Assim é que passamos a situar 0 seu surgimento na Europa € sua implantagao no Brasil de forma apenas descritiva, tendo por objetivo trazer um mafor nimero de informacdes que permitam a vr “EMNOME DA SALIDE DO CORFO SOCIAL...” 85 compreensae da presenca do pensamento médico higienista na Bducagao Fisica. A€scola Alema Na Alemanha, a gindstica surge para atingir as finalidades apontadas anteriormente, particularmente 4 da defesa da patria, uma vez que este pafs, no inicio do século XIX, nao havia ainda realizado a sua unidade territorial. Era preciso, portanto, eriar um. forte espirito nacionalista para atingir a unidade, a qual seria con- seguida com homens e mulheres fortes, robustos ¢ saudavels. Aereditavam os idealizadores da gindstica alema que este *es- pirlto nacionalista’ ¢ este “corpo saudavel” poderiam ser desenvol- vidos pela ginastiea, construida a partir de “bases cientificas", ou seja, das cléncias que dominavam a sociedade da época: a biolo- ga, a fisiologia, a anatomia. ‘Guts Muths, um dos fundadores da gindstiea na Alemanha, as- sim se expressa sobre o que deve dar fundamento & gindstica: ‘eu hem sel que uma verdadetra teoria da glndstlca deverd ser fun- dada sobre bases fistologicas ¢ que a pratica de cada exercicio _gindstico devera ser caleulada segundo a constituigéo de cada in- dividuo [apud Marmxo, 6.4.-a, p. 119F. Baseada nas leis da fisiologia, a gindstica para este autor de- veria ser organizada pelo Estado e ministrada todos os dias para todos: homens, mulheres ¢ erlangas. Note-s¢ que, no inicio do sé~ culo XIX, ja aparece uma preocupagao com 0 corpo da mulher, pols cla € que gera os “filhos da patria’. A gindstica, ent&o, ministrada todos os dias, seria o melo educativo fundamental da nagdo, disse- minando cuidados higiénicos com © corpo € com 0 espago onde se vive. ‘AS preocupaches que nortearam os idealizadores da ginastiea na Alemanha deitam raizes nas teorlas pedagogicas de Rousseau, 5. Ver também Jaye Jordae Ramos, 1982. 4_BDUGAGAG Fisica Basedow ¢ Pestallozzi, teorlas que justificam a idéia de formar 0 homem completo (universal) ¢ nas quais o exercicio fisica oeupa lu- gar destacado. Outro idealtzador da ginastica na Alemanha que acompanha as Idéias dos pedagogos lberats ¢ Friederich Ludwig Jahn (1778- 1825). Jahn reforcara, para além da satide e da moral, o carater mili- tar da gindstica. Ele acreditava que, para formar o “homem total’, a ginastica deveria estimular a aplicacao dos jogos, pois eles cons- tituem verdadeira fonte de emulacao social, ¢ dava, especial aten- Ao as lutas uma vez que Ihe era sempre presente a possibilidade de uma guerra nacional. Em suas formulagdes praticas para a exe- ‘cugdo dos exercicios fisicos, Jahn eria “obstacules artifielais’, que mals tarde sero denominados “aparelhos de ginastica’. Com forte orientagio de teor eivico ¢ patridtico, a ginastica de Jahn encontra grande respaldo na classe dirigente, que acaba por reforcar o carter militar e patriétice de seu movimento de ginasti- ca denominado “Turnen”. Este movimento era constituide de ‘grandes [estas ginmleas, grandes encontros de massas muito dis: ciplinadas. [quel s80 organizados a partir de 1814. mas sobretudo depois de 1860, Encontra-se {no Turnent J.J uma primetra forma Ge instrucio fisica militar, destinada as massas, que corresponde As nevessidades praticas da burguesia (Rover, 5.d.. p. 1171 Essa forma de instrucdo fisica mallitar, destinada as massas, embora disseminasse, do ponto de vista ideol6gico, a moral ¢ 0 patriotismo, apresentava um forte contetido higiénico ¢ tha por finalidade primeira tornar os corpos Ageis, fortes ¢ robustos, Sm momento algum a satide fisica deixou de pontuar aquelas propos- tas, ¢ 0 corpo anatomofisiolagico sempre foi seu objeto de atencao. 0 vies medico-higiénico emprestava o carder cientifico que. junta~ mente com a moral burguesa, completava 0 carater Wdeolégivo, Se Guts Muths ¢ Jahn preocuparam-se com os exercicios des- tinados as massas, Adolph Spiess (1810-1858) preocupa-se com & Zindstica nas escolas ¢, assim como Basedow, prope que um pe~ iodo do dia seja dedicado ao exercicio fisico. vy tL ei NOME Da SAUDE DO CORPO SOCIAL.” 5 A. R. Accioly (1949. p. 9) assim esquematiza 0 sistema de gi- astica escolar de A. Spiess: Exexelolos Livres ‘membros superiores {sem aparelhos} ‘membros inferiores SISTEMA darras ‘Bxerciciosde suspensaa 4 parslelas ‘cordas DE polo propriamente dita Exereiclos de apolo suspensoes cawasrica balanceamentos marchas e exercteie Ginastiea Coletwa ou ordem unida ‘Como podemos verificar, o sistema de ginastica de A. Spiess & absolutamente mecanico € funcional, muito embora a historiografia da Educagto Fisica enalteea valores “pedagégicos” de seu sistema, ‘Conforme observa A. R. Accioly. Spiess ‘conceituava a educacae como indivisivel, abracando toda a natu- ‘reza da crlanga e situando a gindstica come responsavel pela per- felgdo do corpo que a porla em equiliorto com a alma [idem, p. 9. De um modo geral, 0 movimento de gindstica na Alemanha caraeterizou-se por um forte espirito nacionalista, € 08 famosos “Turnen” de Jahn desenvolveram-se @ partir de 1870 sob quatro orientagdes: nacionalista, socialista, ullranactonalista racista. Ja no século XX, particularmente apés a Primeira Guerra Mun- dial ¢ a derrota da Alemanba, a tendéncia ltranacionalista ira. Segundo J. Rouyer, ‘servir os apetites de espaco vital do tmperialieme alemio eo movi- ‘mento é uUllizsdo para mobillzar a juventude, servindo-se da ginds- .36_epucacho risica tica ¢ das léenieas dos desportos Individuals. Depois de 1935 ..16 movimento gimmnico contribul para a formagae do Jovem Fascist rigorosamente eontrolade [s.d., p- 179) © investimento no corpo dos individuos, através da ginastica de massas, ou daguela ministrada nas escolas, considera, no limi- te, cada individuo como um soldado que repete na diseiplina um gesto idéntico. 0 exercicio fisico, entio, apresenta-se como uma aplicagao rea- lista das teorias educactonais® que exaltam o desenvolvimento com- pleto do homem universal. Sob uma teoria da Educacao Fisica idea- lista € individuatista, que em outras circunstancias passaria ao largo das preocupagées da burguesia alema, ela satisiaz uma ne- cessidade pratica: proporeionar uma instrugao fisica de massas ¢ atender, por esta via, a necessidade histérica da unidade nacional para a defesa da patria, ¢, mais tarde, para a defesa contra a agres- ‘so imperialista. No Brasil, segundo o professor Inezil Penna Marinho (s.4.-b, p-39), a implantagao da gindstica alema ocorre na primeira metade do século XX. A historiografia da Educacio Fistea brasileira registra que a implantagao da ginastica alema, neste periodo, deve-se ao grande numero de imigrantes alemfes que aqut se instalaram, ¢ que ti- nham, naquela ginastica, um habito de vida, Sua implantagao tam- bem ¢ atribuida aos soldados da Guarda Imperial, que eram de ori- gem prussiana € que. ao deixarem o servico militar, nao mais regressavam ao pais de origem, preferindo permanecer no Brasil Esse contingente populactonal de origem alema cria tnuimeras sociedades de gindstica com as caracteristicas basicas tragadas por Jahn, Guts Muths ¢ Spiess’ 6. Sobre tortas edueactonals conaultar B. Suchodoloki (1978). A pedagagia eas grandes correntes fosdjicas. eB. Charlot (1879). a mistfcardo pedagigien 7. Em Sto Paulo, em 12 de dezembro de 1883, ¢Fandada &“Unise de Ginasticn ‘Alema”, que mais (arde, em 1938, sera nacionalizada por forga do decreto-tet ‘n, 989/98 e denominada "Assoctagao de Cultura Fisien de Sao Paulo, 1988 Em 11 de abril de 1892, em Porto Alegre, fol criada = Sociedade de Ginastica Jumerbund, segundo es moldes preconizados na €poca por dahn (Mario. 40}. wr "EM NOME Da SALIDE D0 CORFO SOCIAL..." _§7 Por volta de 1860, 0 método alemdo € consagrado como 0 mé- todo ofictal do exéreito brasileiro. e, em 1870. 0 Ministro do Impé- ro determina a tradugao ¢ publicagao do “Novo Guta para 0 Ensi- no de Gindstica nas Escolas Publtcas da Prigsia”. 0 metodo alemao permanece oficial na Escola Militar até o ano de 1922, quando en- {Wo é substituido pelo método francés (idem. p. 40). Quanto as escolas primérias, 0 método alemao néo fot const- derado pelos brasiletros como 0 mais adequado. Rul Barbosa o combateu para as escolas, preferindo que as mesmas adotassem o método sueco, A Escola Sueca A sistematizagao da gindstica na Suécia ocorre no iniclo do steulo XIX. Voltado para extirpar 05 vielos da sociedade, entre o8 quals 0 alcoolismo, 0 método sueeo de ginastica se colocava como © Instrumento eapaz de eriar individuos fortes, saudavels ¢ livres de vielos, porque preocupades com a satide fisiea e moral. Esses eram 05 individuos necessarios, j& que Seriam utels a produgao 4 patrla. Bons operarios, uma vez. que por esta época a Suécia da inielo ao seu processo de industrializagao, e bons soldados, uma ver que a ameaca de guerras estava sempre presente, Pehr Henzick Ling (1776-1839), poeta ¢ eseritor. propée um método de gindstica impregnado de nacionalismo e destinade a regenerar o povo, formar, enfim, homens de bom aspecto que pu- dessem preservar a paz. na Suécta, ‘Seu método ou escola de ginastica se baseia na ciénela, dedu- zindo de uma analise anatémica do corpo uma série racional de movimentos de formacao. Ling* considerava que a sua gindstica poderia ser dividida em 4 partes, de acordo com os diferentes fins visados. Assim, cla po- deria ser: 8. Uiilizo aqui a estrutura de classiticacae elaborada pelo professor Inezi! Penna Marinho no livre Sistemas ¢ Métodos de Edueacdo Fisica (6.4.~c), especial mente as paginas 188 2 188. Ainda sobre a Ginastion Sueca ver Nelle Builth (980). 5B_EDUCAGKO FISICA a) Ginastica pedagégica ou educativa - aquela que todas as pessoas, independentemente de sexo ou idade e até mesmo de condicao material ¢ social, poderiam praticar. 0 seu mats elevado objetivo seria o de desenvolver o individuo normal ¢ harmoniosamente, assegurando a saide ¢ evitando a ins- talacao de vicios, defeitos posturais e enfermidades. ) Gindstica militar - deveria incluir a ginastica pedagégica, acreseida de exercicios propriamente militares, tais como 0 tro e a esgrima, cujo objetivo era preparar o guerretro que colocaria fora de combate o adversario. ©) Ginastica médica e ortopédica ~ que também deveria estar baseada na gindstica pedagdgica, visando eliminar vicios ou defeitos posturals ¢ curar certas enfermidades através de movimentos especiais para cada caso encontrado. ¢) Gindstica estética ~ que, assim como as demats, estaria ba- seada na gindstica pedagogica, ¢, para além dela, procuraria © desenvolvimento harmonioso do organismo ¢ seria compte- tada pela danga e certos movimentes suaves que proporcio- nam beleza € graga ao corpe. Com essa divisao da ginastica fetta por Ling, na qual detalha ‘08 objetivos a serem por ela aleancados, torna-se evidente 0 viés médico higlénico, assim como a concepgao anatomofisolégica do hhomem. A ginastica aparece como um conteudo dotado de “magia” que a faria atingir seus diferentes fins propostos. Vejamos como ¢ definida uma tigao do metodo sueco (Mano. s.d-c, p. 188): 1° ~ Exereieioa de ordem 2¢ — Bxereicios de pernas ou miovimentos preparatérios formando Juma pequena sérle. Esta série se decompde asslin: 2) movimentos de pernas: bb) movimentos de eabega: ©) movimentas de extensto dos brago «) movimentos do tronco para frente e para tris: ©) movimentos laterais do tronco: 1 movimentas outros de pernas: "EM NOME DA SAUDE DO CORPO SOctAL...”_59 3° ~ Extensao da cotuna vertebral 4° ~Suspens6es simples e facets 5 = Equilibrio 6° ~ Passo ginastico ou marcha 7*~ Movimentos dos musculos dorsale 8° « Movimentas dos mtisculos abdominais 9* —Movimentos laterais do traneo 10° - Movimentos das pernas 11° + Suspenstes mais intensas que as do né 4" 12*=Marehas ou Movimentos de pernas, executados mais rapi- damente que 08 outros para preparar para os saltos, 19° - Saltos 14° - Movimentos de pernas 15° - Movimentos respiratérlos ‘A gindstica feminina era tdéntica & masculina, com as seguintes restrigdes: | Evitar movimentos muito acentuados para tras; Il Nao veatizar movimentos que possam congestionar a bacta: MI Abster-se do trabalho fisico durante a menstruagao: 0s principats aparelhos utilizados pelo métado sueco eram e ain- da 840! 4) barca mevel para exeroieio de suspensio e equilibrio: bi cavalo de pau, plintos, cameiros chespaldares e banco sueco, Como podemos verificar através dessa Ugo, bem como através dos objetivos da gindstica em suas quatro divisées, 0 *método de Ling” € pautado essencialmente na anatomia e na fisiologia. Atra- ves dessa “gindstica pedagogica € higiénica” se poderia “assegurar a satide [pols ela é] essencialmente respiratoria”. assim como a “be- leza, por seus efeitos corretivos ¢ ortopédicos". Além, é claro, do seu papel na formacao do carater, por ser “enérgica ¢ viril", empregan- do economicamente as forcas do individuo. E, finalmente, essa Panacéia universal chamada gindstica é também profundamente “social e patridtica (por contribuir para uma] educagao disciplina- da da célitla humana a servigo da soctedade. Por meios simples cla assegura resultados certos fide. p. 183). 60 EDUCAGAO Fisica Resultados tao certos que passam a integrar o conteudo esco- lar. Segundo L. P. Marinho, em 1807, na Suécia, certamente pela influencia de Ling. os estabelecimentos de ensino deveriam desti- nar um local aproptiado para os exercicios fisicos, bem como de- verlam ser nomeados professores especials para ministré-los. Esse metodo tera grande penetragéo na Franca, Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, e chegara ao Brasil Como é um “método de ginastica” pautado pela eléneta, com fins née acentuadamente militares, mas “pedagogicos” ¢ “sociais”. sera utilizado sempre que as nacdes se encontrarem em paz. O fato de aprosentar uma “base clentifica”, a partir da anatomia e da fisiolo- Bla, desperta 0 interesse dos metos intelectuals, que acabam justi: ficando, seja pelo Idealismo, seja pela razdo, a necessidade de sua pratica No Brasil, Rui Barbosa foi um grande defensor da ginastica sueca de Ling, fundamentalmente por ela basear-se na “ciéncia” ¢ relacionar-se com a medicina € com os médicos, grandes magos do Brasil republicano. A sua divulgagio no Brasil parte, portanto, da defesa que faz dela Rui Barbosa, num primeiro momento, e Fernando de Azeve- do, décadas mats tarde. Estes pensadores atribuem a Ginastica Sueca uma adequacdo mator aos estabelecimentos de ensino, dado 0 seu carater essenctalmente pedagégico, Esta defesa por parte des- tes intelectuais de épocas subseqdentes serviu para propagar a Cinastica Sueca no Brasil. Com isto, lentamente, a ginastica ale- ma vai se restringindo aos estabelecimentos militares e a ginastica succa vai se tornando a mais adequada para a Educagio Fisica civil, Seja no ambito escolar, seja fora dele?. A Escola Francesa A Franga ¢ 0 bergo das concepgées liberals classicas de edu- cacao, concepedes essas que inclujam também o exercicto fisico como elemento indispensavel & educacao do “Homem universal”. ‘8, Em Sao Paulo, em 1801, © Dr. Domingos Jaguatibe funda o Inatituto Jaguaribe Esta instituigdo, adotundo o método sueco, alcangou a sociedade paulista, dls: ‘seminando-se no dmmblUo extra-eeeolar (Mcenwio, 9..-b, p41), — “EM NOME DA SALIDE Do CORPO SOCMAL...”_ 61 As Idéias pedagégicas de Rousseau. assim como as de Condor- cet e Leppelletier, conferem um espace consideravel as questdes do corpo. Na Franga, a ginastica integra a tdéta de uma educacao volta- da para o desenvolvimento social, para o qual sao necessarios ho- mens completos: todo cidadao tem “direito & edueagio™ E nesta perspectiva que a ginastica sera organizada nao somen- te para militares, mas também para toda a populagdo. eolocando- se como uma pratica capaz de contribuir para 2 formagao do ho- mem “completo ¢ universal” ‘A ginastica na Franca desenvolveu-se na primeira metade do século XIX, baseada nas idéias dos alemaes Jal ¢ Guts Muths, contendo, desse modo, além das preocupagoes basieas com 0 cor- po anatomofisiolégico, um forte trago moral e patri6tico. Para seu fundador, D. Francisco de Amoros y Ondeano (1770- 1848), a ginastiea na Franga deveria abranger 2 pratica de todos os exerescios que tornam 0 hamem mats eorajo- ‘0, mais intrépido, mais inteligente, mais sensivel. mais forte, mais hhabilidoso, mais adestrado, mais veloz, mais flexivel ¢ mais agil, predispondo-o a restatir a todas 2s intempéries das estagées, a to» das as variagoes dos climas, a suportar todas as privagies ¢ con- trarledades da vida, a vencer todas as dificuldades, a tiiunfar de todos os perigos e de todos os obsticulos que encontre, a prestar, cenfim, servigas assinalados 20 Estado ¢ & humanidade [apud Mart two, 6.4.2, p. 102)", Toda essa gama de qualidades fisices, psicologicas ¢ morais seriam desenvolvidas e aprimoradas por ¢sic magico contetido ~ a “gindstica” ~ que, além de desenvolver essas qualidades, teria ain- da por finalidade o alcance da “sauide”, o prolongamento da vida e, conseqientemente, 0 melhoramento da espécie humana. Tudo isto seria conseguido sem alterar a ordem politica. econdmica ¢ social, Através da gindstica, que por si s¢ promoverla a satide, erlaria ho- 10. Ainda eobre a Gindstiea Francesa ver Silvana V. Geellner, 1902. 62_epyeacko Fisica mens fortes, seria possivel aumentar a riqueza ¢ a forca, tanto do individuo quanto do Estado. Da flexio muscular ao sucesso nas lutas industrials e nas guer- ras, este era o slogan da gindstica na Europa do século XIX, De fato, as preocupagies com a debitidade fisica das populacbes era proce- dente, No que tange ao afistamento militar, por excmplo, a Franga teve, na primeira metade do século XIX, sérias dificuldades em arregimentar soldados para a sua infantaria. Marx observa que, de 1818 a 1832, as leis que regulamentavam a altura minima exigida para 0 alistamento na tropa sofren grandes alteragées. Fol neces- sario diminuir a altura exigida para ter soldados na tropa (Manx, 1985, p. 270) Para além dos exéreitos, © problema da producéo também se colocava. Os corpos saudaveis eram também uma exigéncia do ea- pital, E a gindstica, “recettada” para todos. era como um remédio que teria a capactdade de extirpar a fraqueza ¢ devolver a virilida- de a0 pore, Amoros, Imbuido dos ideais patriéticos e morats, criou um método de ginastica bastante semelhante ao de Ling na Suécia. Sua ginastica, de acordo com a finalidade, poderta ser: civil ¢ industrial, militar, médica e cénica ou funambulesea. A gindstlea civil fol a que mais despertou interesse entre os bra- sileicos ¢, por isso foi a mais disseminada. Vejamos como € desen- volvida uma ligdo de ginastica, eonforme preconiza o metodo fren- ces de Amoros: 1° ~ Bxereieios elementares ritmados © sustentados por cantos, com 0 objetivo de desenvolver a voz € alivar os movimentos respi raterios. 12° = Excreicios de marchar e eorrer em terrenos os mals variados, escorregar e patinar, habituar-se as corridas de fundo e velocidad, ‘8° ~ Exercicios de saltar em profundidade, altura ¢ largura, em todas as direcdes, para a frente, para os lados, € para tras, com ou sem armas, com 0 auxilio de uma vara ou de um baste, ou de um fuall ou langa, 4° ~ Exerefclos de equilibrio ou de passagem sobre ping ‘barra fixa ou oscilante, horizontal ou inclinada, a cavalo ou de pe. "e4 NOME DA SAUDE DO CORPO SOCAL..." _63 progredindo para frente ou para tras. a fim de habltuar-se & pas- sagem de ribelros on precipicios, utilizando-se de ramos de rvo- ree ou de uma vara. 5¢ ~ Bxercicios de tansposigde de obstaculos naturais, como barreiras, muros, fosses, ete, conduzinde ou née wna carga. 6° ~ Exereiclos das mais diversas lutas para desenvelver a forca muscular, a destreza. a resistencia & fadiga e subjugar 0 adversrio. 17° ~ Bxercicios de trepar em escada vertieal ou progredir em es- cada horizontal, flxa ou osellante, com o auxitlo dos pés e das mos, ou enti aa longo de uma carda cheia de nés, ou descer escorre- gando ou de qualquer outra maneira, 2° ~ Exercicios de nadar, nu ou vestido, com ou sem carga, $0 bretude armado, de mnerguthar ¢ manter-se longo tempo em equili brio sobre a superiicie Iimitada, de aprender a salvar uma pessoa, sem, entrotanto, se detxar agarrar por ela 9° ~ Exerefetos para transpor um espaco determinado com sus pensio variavel de bragos, maos ¢ pés. ou somente com 0 auxilio das méos ou ainda com o auxitio de uma vara ou eorda esticada. 10" ~ Exereictos. parade ou em movimento. com habilidade, se- guranga, de suspender corpos de conformagées variaa, incomodos & pesados, algumas vezes homens ou eriangas: salvictos em perigo: arrastar ou empurrar pesos ou massas considerdvels para poder saplicd-los 20s casos de uttlidade militar ou de interesse pubblico. 11*~ Exereicios de pratica da esferistica antiga e moderna, fica € militar em todas as suas modalidades de langar bolas, balles. « péla de diferentes pesos e tamanhos e arvemessar toda espécte de projétets sobre pontos determinados. 19% - Exercicios de ttr0 a0 alvo, fixo ou mével. 19° ~ Exereietos de esgrima. a pé ou a cavalo, exercicios para manejo de toda espéete de arma branca, 14” ~ Exercictos de equitacao; fazer o treinamento no cavalo de pau e repeti-lo depots. com o animal. 15% - Exereicio para a pritiea das dancas pirricas ou militares das dancas de sociedade, dando a estas o mals ampto desenvolvt- mento. Bxiste aqui esta observagae: *...La danse scénique ow theatrale appartient au funambulisme et ne peut entre dans notre plan fsicl” (Manno, s.d.-a, pp. 102-104]. 84_ EDUCAGSO FISICA Podemos aprcender 0 carater utilltarto dessas quinze series de exereicios propostos por Amoros, absolutamente conforme a ideo- logia da época. Assim também é possivel aprender a sua preocu- pacao com o desenvolvimento da forca fistea. da destreza, da agil- dade e da resistencia, qualidades fisieas essenciais, tanto para 0 trabalho fabril quanto para as lutas pela defesa da patria, na otica de uma burguesia ascendente. ‘Apartir de 1850, a gindatica amorosiana integraré os curriculos de todas as escolas primarias e sera obrigatoria para as escolas normais, mesmo sem contar com pessoal capacitado para minis- trar as auilas, que eram dadas por suboficlais do exército, absolu- tamente despreparados do ponto de vista pedagégico ¢ ctentifico (Lanctave & Lanciave, 1970, p. 278). A obrigatoriedade da ginastica nas escolas, de um lado, e a au- séncla de profissionais capacitados para ministra-las, de outro, ctl- aram uma reagao nos meios clentifices, reacdo essa que s¢ acen- tua na segunda metade do séeulo XIX, periodo no qual a burguesta européta Ja nao é a tinica protagonista da histéria moderna, Uma novissima forga politica surge: 0 moderno proletariado industrial, que, na Franga, instaura a primeira experiencia mundial de Poder Operdrio, em 1871, a Comuna de Paris”, ¢ faz nascer concepedes Inovadoras na educacao. © desenvolvimento da ginastica na Franea, na segunda meta- de do século XIX, sera pontuado por questdes militares, certamen- te, mas estara mais proximo de cientistas. médicos higienistas € laboratorios, do que de generals ¢ batalhas. A partir dos trabalhos de Aroros. ocorre um erescente envol- vimento de estudiosos da biologia. da fistologia, assim como de mé- dicos em torno da problematiea do exerciclo fisico, Foram os estu- dos ¢ as pesquisas ortundos da biologia, da fistologia ¢ da medicina que contribuiram para “elevar” o nivel dos exercicios fisicos na Fran- ca. Em todos os debates sobre 2 questo, ressaltava-se o valor ht- glenico € 0 contetide anatémico de método sueco de Ling, tinico que partta de um estudo “racional ¢ eientifico”. LLL Sobre ease assunte consulta Kar! Mats, Vv “EM NOME DA SADR. DO CORFO SOCIAL.” 65 Eotes estudos ¢ pesquisas deram origem a um movimento de sistematizagao dos exerciclos fisicos, na Franca, que se pautou pelo conteddo médico-higténico, ¢ cujos representantes so George Demeny (1850-1917), Philipe Tissté (1852-1935), Fernand Lagrange (1845-1909) ¢ Esteban Marey (1830-1904), Particularmente os trabalhos de G. Demeny € P, Tissié serdo bastante citados no Brasil por Rul Barbosa ¢ Fernando de Azevedo ao defenderem as “bases cientificas” da Educagéo Fisica ea sua inclusfo na escola. George Demeny, bidlogo, fisiologista e pedagogo, acreditava que a Educacao Fisica deveria abandonar procedimentos empiricos ¢ inspirar-se em lels fisicas ¢ biolégicas para construir uma doutri- na a partir de resultados de experiéncias feltas com 0 auxilio do “metodo eientifico”. Para Demeny. o problema da Educacao Fisica deve ser tratado por todos os metos de que a ciénela dispde, uma ver que € susceti- vel de precisao, Cada vez que um problema é tomado e tratado de forma experimental, a partit de medidas, as nogées em relacao a ele tornam-se mais claras, Portanto, aproximar novos instrumentos de medida significa, para Demeny, contribuir de modo muito mais significative para a ‘causa da Educacao Fisica do que simplesmente formular critieas € ‘opinides preconcebidas (apud Lanciaoe & Lano.ape, 1970, p. 259). Medir. comparar, experimentar. Demeny era um seguidor do Positivismo © buscava naquela abordagem de cléncia e no “méto- do cientifico” as respostas para a Educagdo Fisica, a qual definia como “o conjunto de meios destinados a ensinar ao homem exe- cutar um trabalho mecanico qualquer, com a maior economia pos- sivel no gasto de forca muscular” (idem, pp. 261-262). Em Demeny Podemos encontrar, a partir dessa definigao de Educagao Fisica, 0s elementos que mais tartie serdo desenvolvides sobre 0 gesto do teabalhador, do qual a cignota se ocupard a partir da erescente com- Blexificagao do maquinario moderno e da necessidade de uma pro- ducao mator ¢ mats répida. Demeny apresenta em seus trabalhos sobre a gindstica algu- mas preocupagbes que nao estavam presentes de modo tao marcan- te em seus precursores. Para ele, 0 movimento a ser executado de- 60_eDUCARAO FISICA via ser completo, continuo, ondulade ¢ basear-se na Independencia das contragdes musculares. Essa conclusdo fot obtida a partir de pro- fundos estudos de fistologia, que the permitiram discordar do méto- do suece de Ling, cuja caracteristica central sao os movimentos ana- liticos. Também afirmava que uma ligso de ginastica deveria ser tao interessante a ponto de prender a atencao do aluno e, desse modo, {fazé-lo, voluntariamente, desejar um esforgo mais acentuado. Demeny teve uma notavel preocupagao com os exercicios fisi- cos destinados & mulher. Seus estudos sobre o movimento arredon- dado, continue ¢ também com ritmo, influenciados pela danga, le- varam-no a trabalhar com a ginastica feminina. ‘Com relacio & satide fisiea da mulher, além de preconizar exer~ ciclos fisicos proprios, procurou combater os ditos *habitos elegan- tes", por fulgé-los absolutamente nocivos a satide da mulher. Con- denava 0 uso de saltos altos, de porta-seios, eintas, enfim, todos. 08 melos de sustentacdo que fossem artificlais. porque eles apenas acentuavam “a flacidez das paredes naturais, facilitando hémnies, a pristo de ventre, a ma circulagae ¢ contribuindo para partos.di- Ficeis (Marino, s.d.-a, p. 108). Essas preoeupagies com a “satide” da mulher, particularmente com sua fungao de reprodutora, estarfio marcadamente presentes nos discursos e nas propostas de intelectuals brasileiros. Tanto Rut Barbosa quanto Fernando de Azevedo, em momentos distintos, ar~ Uculados, porém, no plano ideolégico, ndo pouparao paginas em. seus trabalhos", para enaltecer os efeitos higienices dos exerefcios fisicos sobre as “formas feminis” Se Demeny pode ser considerado “inovador”, devido as suas preocupagies mais totalizantes em relagao ao exercicio fisico, ele continua, entretanto, sendo conservader, uma vez que, com 0 seu metodo, Propbe-se fal aumentar a energla fistea da individuo # acrescen- tar-the rendibilidade(..] Tal método diz respetto ao homem universal 12, Refiro-me especialmente ao parecer de n. 224, relative 4 “Reforma do Ensino Primario e varia Instituicdes Complementares da Insteugao Pibliea”. profer!~ ‘do por Ru Barbooa em 12 de setombeo de 1882, ego livro de Fernando de Aze- vedo intitulado Ba Edtucagdo Fisica, 1960, “EM NOME DA SAUDE Do CORPO SOCUAL...”_67 Isolado da pratica reat e de todas as relagses sociais, tendo como objetivo entidades abstratas, a motrieidade, © movimente, a ativi- dade humana [Rovrer, 6.4.. p. 184] Desse ponto de vista, os “métodos de gindstica” até agora por nos discutidos assemelham-se. Diferenciam-se apenas na forma, umas mais analiticas, outras mais sintéticas. Tedavia, 0 contendo anatomofistologico ditado pela “cténcia’, constitul o nacleo central das distintas propostas, além do que, € claro. a moral de classe, 0 culto ao esforgo (individual), a diseiplina, obediéneta... ordem, adap- tagao. formacao de habitos. Orlentados para o desenvolvimento fisico ¢ para a sauide, o que se evidencia € que esses métodos ginasticos convém & burguesia, porque trazem, marcadamente, a possibilidade de enaltecer o indi- viduo abstrato, descolado das relagdes soctais, ¢ sto porta-vozes de uma pratica neutra, cultuande ainda o “mito do homem natural € biolégico” No Brasil, a gindstica francesa fol oficialmente implantada em 12 de abril de 1921, através do decreto n. 14.784. Sua chegada, po- Fém, deu-se no ano de 1907, através da Missao Militar Francesa que velo ao pais com a finalidade de ministrar instrugao militar & For- ¢a Publica do Estado de Sao Paulo, onde fundou uma “Sala de Ar- mas" que deu origem, mais tarde, A Escola de Educacao Fisica de Estado de Sao Paulo”. Anos mais tarde, em 1929, 0 Ministério da Guerra, através de ‘uma comissae formada por civis e militares, elabora um antepro- Jeto de lei, cujo contetido determinava que "Educagao Fisica fos- se praticada por todos os residentes no Brasil e com obrigatorie- dade em todos os estabelecimentos de ensino” (Caxtarino Fino, 1982, p, 95). Definta também, em seu artigo 41, 0 método a ser adotado: Enquanto nao for eriado o “Método Nacional de Edueacao Fist- ca", fica adotads em todo o terrttorto brasileiro © denominado Mé- 18, Consultar a esse respelt: Inet enna Marinho, +.d-b, Mario Ribelra Cantarino Filho, 1982; Lino Castellani Filho, 1988, entte outros. 6 pucActO Fisica todo Francés, sob o titulo de “Regulamento Geral de Educagio Fi- stca” fapud Maio, s.d.-b, p. 571. © anteprojeto em questo recebeu severas eriticas da Associa- cao Brasileira de Educagao (ABE), que desde a sua fundagao, em 1924, dedicava especial atengao A Educacao Fisica, possuindo em sua estrutura organizacional um Departamento de Bducagao Fist- ca ¢ Higione (Carrarivo Fumo, 1982, p. 92) As criticas da ABE foram dirigidas tanto ao érgac burocratieo do governo, considerado incapaz de “resolver um problema educa- tivo nacional”, quanto as finalidades ¢ inconvententes de transplan- tar para o Brasil um sistema estrangeiro de ginastica, tornando-o abrigatorio. CAPITULO*TRES A Epucacao Fisica NO BRASIL SAUDE, HIGIENE, RAGA E MORAL 1, CONSTRUINDO UM BRASIL NOVO: A EDUCACAO FISICA COMO INSTRUMENTO DA ORDEM Educagio Fistea no Brasil se confande em muitos momentos de sua histéria com as instituigses médicas e militares. Em diferentes momentos, estas instituicées definem o caminho da Educacao Fisica, delineiam o seu espaco ¢ delimitam 0 seu cam- po de conhecimento, tornando-a um valioso instrumento de ago e de intervencéo na realidade educactonal e soctal, ao longo do pe- riodo de que aqui tratamos: 1850-1930. Neste trabalho, as tnstitulgses médicas foram privilegiadas e o discurso médico higienista, ouvido, pots acreditamos poder encon- trar, nessas instituigées ¢ no seu discurso!, elementos que nos ati- xiliem na compreensao de uma Edueacéo Fisica como singnimo de 1, Segundo Nicolau Seveenko (1988, pp. 19-26). “last potenctalidades do homer ‘S6iluem sobre a realldade através daa fissures abertas pelas palavras, Faint, ‘nomear, conhecer, transmitir esse conjunto de atos se formaliza c se repredvz Incessantemente por melo da fixzeie do uma regularidade subjacente'a toda ‘ordem socal: 0 Uiscurso. 8 palavra organizada em discurso incorpara em si esse moda, toda a sorte de hlerarqiias © enquadvementes de valor intrinse= ‘cos As estruturas socials de que emanam. Dai porque o diseurgo ae artictla em ungao de regras e formas convencionals, cuja conuavengio esbarri em resis tenes firme © imediatas”

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