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Estudo de Viabilidade Da Cadeia de Valor de Mel de Abelha Nas Regiões Do Pará, Bahia E Piauí
Estudo de Viabilidade Da Cadeia de Valor de Mel de Abelha Nas Regiões Do Pará, Bahia E Piauí
DA CADEIA DE VALOR DE
MEL DE ABELHA NAS REGIÕES
DO PARÁ, BAHIA E PIAUÍ 2020
ESTUDO DE VIABILIDADE DA
CADEIA DE VALOR DE
MEL DE ABELHA NAS REGIÕES
DO PARÁ, BAHIA E PIAUÍ
Oceano Atlântico
4 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 5
Expediente
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO – PNUD BRASIL
Roraima
Katyna Argueta Amapá
Representante-Residente do PNUD no Brasil
Carlos Arboleda Belém
Representante-Residente Adjunto do PNUD no Brasil
Vitória do Xingu
Piauí
Maristela Baioni Medicilândia
Representante-Residente Assistente do PNUD no Brasil
Coordenadora da Área Programática Amazonas
Pará Maranhão
Ceará
Cristiano Prado Altamira Rio Grande
Picos Paraíba do Norte
Coordenador da Unidade de Desenvolvimento Socioeconômico Inclusivo Simplício Pernambuco
Especialista de Programa Acre Mendes
Melissa Silva Alagoas
Tocantins Sergipe
Assistente de Projetos Rondônia
Mato Grosso Bahia Salvador
INSTITUTO HUMANIZE
Geórgia Patrício Pessoa
Goiás Eunápolis
Diretora Executiva Brasília
Ana Carolina Avzaradel Szklo Minas Gerais Porto
Seguro
Gerente de Sustentabilidade
Mato Grosso
Gláucia Alves Macedo
Espírito Santo
Gerente de Gestão Pública São Paulo Rio de Janeiro
André Luiz Oliveira Pinto
Gerente de Desenvolvimento Institucional e Parcerias
Claudia Rodrigues Rosa Paraná
Analista de Projetos
Santa
Eduarda Costa Thurler Catarina
Analista de Projetos Rio Grande do Sul
Vitor Babilônia
Comunicação
Agradecimentos especiais
Márcia Côrtes
Brava Design
Projeto gráfico e Diagramação
VISITAS DE CAMPO
Edson Cruz Pará
Revisão ortográfica
Bahia
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da parceria entre PNUD e Instituto Humanize para desenvolvimento de ações conjuntas Piauí
para potencializar, por meio de negócios inclusivos e de impacto social, o uso sustentável da biodiversidade brasileira alinhada com o
desenvolvimento de capacidades locais, aumento de renda, crescimento econômico e melhoria da qualidade de vida das pessoas por
meio do fomento às cadeias de produtos da sociobiodiversidade
Prefácio Introdução
A Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) O Brasil é um país com grande riqueza biológica, e isso está em sinergia com sua ampla
— assim como o compromisso com os princípios de universalidade, igualdade e diversidade sociocultural. São povos indígenas, comunidades tradicionais quilombolas,
inclusão (não deixar ninguém para trás) — são os fundamentos do trabalho do agricultores familiares, extrativistas e diversos núcleos da comunidade expressando
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil. conhecimentos e habilidades sobre sistemas tradicionais de manejo da biodiversidade.
O desenvolvimento econômico é essencial para a redução da pobreza e da Dentro dessa diversidade se destacam muitos desafios no recorte da
desigualdade, particularmente no atual contexto de necessidade de recuperação produção extrativista brasileira. Ao mesmo tempo, a quantidade de cadeias da
socioeconômica. Por isso, faz parte das prioridades do PNUD, que apoia o sociobiodiversidade inclusas no território gera possibilidades e caminhos para
crescimento econômico com base no paradgima de desenvolvimento inclusivo desenvolver atividades extrativistas. Com incentivos e estruturação adequada, as
e sustentável, fortalecendo capacidades produtivas para a geração de empregos e oportunidades de geração de negócios associados ao desenvolvimento sustentável são
renda às populações mais pobres e vulneráveis. vias possíveis e promissoras.
Esta publicação insere-se nesse contexto. Apresenta o mel como uma fonte de Para encontrar caminhos viáveis, o Instituto Humanize movimenta diversas ações
crescimento e desenvolvimento capaz de gerar renda para famílias que muitas a partir das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, envolvendo os processos de
vezes não teriam alternativa, particularmente nos estados incluídos neste estudo: produção, beneficiamento e comercialização. Em nossa atuação, sempre consideramos
Pará, Bahia e Piauí. como ampliar e diversificar os produtos gerados, priorizando a forma mais sustentável
de conduzir o processo e tomando decisões que valorizem a inovação.
Além do crescimento socioeconômico, o fortalecimento da cadeia do mel contribui
simultaneamente para a conservação do meio ambiente, da biodiversidade e para o O Brasil tem um vasto território e por isso é importante entender as especificidades
fortalecimento da bioeconomia. das cadeias produtivas em cada um dos espaços, sem deixar de alinhar objetivos
voltados à conservação ambiental e geração de renda. A cadeia do mel, por exemplo,
De fato, as abelhas, como polinizadoras, são de inestimável valor, tanto para a é compreendida por benefícios socioeconômicos e ambientais significativos. São
biodiversidade quanto para a produção de alimentos. Ao apoiar a produção de mel inúmeras possibilidades de exploração, geração de produtos derivados e conciliação
e permitir que colmeias se desenvolvam nesses estados, estamos colaborando para com conservação ambiental, além de diferentes oportunidades de manejo de espécies
o equilíbrio ambiental e a segurança alimentar. de abelhas por meio da apicultura e meliponicultura.
Nesta publicação, foram mapeados os principais desafios para o fortalecimento Do lado da apicultura, há forte exploração econômica e racional da abelha do gênero
da cadeia do mel, e identificados os diferentes estágios de desenvolvimento da Apis. Apesar de não ser nativa do Brasil, esse tipo de abelha desperta uma alta
produção nos estados participantes do estudo. Foram feitas recomendações, rentabilidade no mercado brasileiro e alcança números consideráveis na produção de
considerando as diferentes etapas de maturidade de produção do mel nas três mel e derivados — como cera e pólen. Já a meliponicultura compreende o gênero das
localidades. Foi ressaltada a importância da ampliação de parcerias e do aumento Melíponas, também conhecidas como abelhas sem ferrão. Essas são nativas do Brasil
da liderança e da participação coletiva dos produtores rurais. e possuem grande importância para a conservação ambiental, incluindo a polinização
Nessa tarefa, o PNUD uniu forças com o Instituto Humanize, um parceiro ativo da flora. Esse gênero tem um manejo simplificado e é ponto de partida para um mel
na promoção e implementação da Agenda 2030 nas suas diferentes frentes de diferenciado quanto às propriedades nutritivas e medicinais.
trabalho. Com tantas possibilidades e espaços para desenvolvimento, identificar desafios e
Desejo a todas e a todos uma excelente leitura oportunidades é um importante passo para que a cadeia do mel se desenvolva de
forma robusta. O estudo apresentado sinaliza uma contribuição relevante para o
Katyna Argueta conhecimento científico sobre o tema, associado às possibilidades econômicas que a
Representante-Residente cadeia oferece. Com este retrato, é possível entender os desafios e empreender esforços
PNUD - Brasill para soluções guiadas por informações consistentes.
Convidamos os leitores interessados em entender os elos da cadeia do mel a navegar
neste estudo. Esperamos que o documento se revele um instrumento valoroso
para auxiliar tomadas de decisão e iniciativas que tenham como objetivo comum o
desenvolvimento da cadeia.
Geórgia Pessoa
Instituto Humanize
REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 8/9
SUMÁRIO
1. Metodologia...................................................................................................................................................................... 11
2. Introdução à missão da iniciativa...........................................................................................................................13
2.1. Contexto geral..........................................................................................................................................................13
2.2. Seleção das regiões alvo......................................................................................................................................14
3. Contexto agrícola, político e institucional......................................................................................................... 16
3.1. Nacional..................................................................................................................................................................... 16
Produção e consumo de mel............................................................................................................................ 16
Polinização.............................................................................................................................................................. 20
Meliponicultura – abelhas sem ferrão......................................................................................................... 27 Foto: Instituto Peabiru, Curuçá (PA)/Rafael Araújo
Projeto Néctar da Amazônia do Instituto Peabiru................................................................................. 30
Inovação tecnológica na apicultura..............................................................................................................34
Figura 11 - Bandeiras dos Países alvo do Programa Brazil Let's Bee.............................................................36
Projeto de Promoção das Exportações........................................................................................................ 35
Figura 12 - Mortandade de Abelhas........................................................................................................................... 37
Principais ameaças à atividade........................................................................................................................36
Figura 13 - Extermínio de Abelhas..............................................................................................................................38
Agrotóxicos – séria ameaça às abelhas........................................................................................................ 37
Figura 14 - Processo de envase.....................................................................................................................................42
3.2. Piauí........................................................................................................................................................................... 40
Figura 15 - Abelha colhendo néctar ...........................................................................................................................48
3.3. Bahia...........................................................................................................................................................................56
Figura 16 - Apicultor tirando quadro com favo de mel de uma colmeia. ................................................. 52
3.4. Pará............................................................................................................................................................................. 74
Figura 17 - Veracel...............................................................................................................................................................65
3.5. Políticas, leis e regulamentos..........................................................................................................................87
Figura 18 - Mapa dos apiários nas áreas da Veracel............................................................................................ 66
3.6.
Organizações de apoio existentes e programas de desenvolvimento do setor.......................89
Figura 19 - Índios Pataxós recebendo capacitação..............................................................................................67
4. Características da cadeia do mel............................................................................................................................92
Figura 20 - Instituto Peabiru.........................................................................................................................................87
5. Principais desafio para o desenvolvimento da cadeia do mel.................................................................. 96
Figura 21 - Estrutura e Fluxo dos Produtos da Cadeia do Mel........................................................................92
5.1. Apicultura................................................................................................................................................................ 96
Figura 22 - Apicultor verificando caixa de abelhas ...........................................................................................97
5.2. Meliponicultura.................................................................................................................................................100
Figura 23 - Meliponicultura ........................................................................................................................................102
6. Fatores críticos de sucesso......................................................................................................................................102
Figura 24 - Apicultor fumigando caixa de abelhas para facilitar o acesso............................................ 107
6.1. Apicultura...............................................................................................................................................................102
6.2. Meliponicultura................................................................................................................................................. 104
6.3.
Desenvolvimento da cadeia..........................................................................................................................105
Índice de tabelas
7. Primeiras sugestões para uma abordagem de trabalho para o Tabela 1 - Visitas de campo............................................................................................................................................. 11
desenvolvimento da cadeia do mel........... ....................................................................................................107 Tabela 2 - Outras entrevistas realizadas remotamente.....................................................................................12
7.1. Estágios
de maturidade da cadeia de mel.................................................................................................107 Tabela 3 - Peabiru - Comunidades envolvidas......................................................................................................29
7.2.
Dimensões de apoio.......................................................................................................................................... 109 Tabela 4 - Número de estabelecimentos agropecuários com apicultura................................................ 40
7.3.
Recomendações iniciais para uma abordagem de trabalho............................................................ 110 Tabela 5 - Lista de Entidades de Apicultura no PI............................................................................................... 40
Bibliografia......................................................................................................................................................................... 110 Tabela 6 - Visitas de Campo no PI...............................................................................................................................49
Tabela 7 - Breve análise de aderência da cadeia do mel para com os aceleradores das ODS
identificados no Piauí.................................................................................................................................54
Índice de figuras Tabela 8 - Número de estabelecimentos agropecuários com apicultura na BA....................................56
Tabela 9 - Lista de Entidades de Apicultura na BA...............................................................................................58
Figura 1 - Técnico realizando manutenção em caixa de abelhas ..................................................................13 Tabela 10 - Visitas de Campo na BA...........................................................................................................................63
Figura 2 - Produção de Mel no Brasil......................................................................................................................... 16 Tabela 11 - Entrevistas na BA..........................................................................................................................................63
Figura 3 - Produção de Mel por Regiões....................................................................................................................17 Tabela 12 - Veracel - Levantamento Apicultura 2018.........................................................................................64
Figura 4 - Exportações de Mel brasileiro................................................................................................................. 18 Tabela 13 - Número de estabelecimentos agropecuários com apicultura no PA................................... 74
Figura 5 - Colmeias por Apicultor............................................................................................................................... 19 Tabela 14 - Lista de Entidades de Apicultura no PA............................................................................................. 74
Figura 6 - Consumo de Mel por País.......................................................................................................................... 19 Tabela 15 - Visitas de Campo no PA............................................................................................................................82
Figura 7 - Abelha rainha................................................................................................................................................. 23 Tabela 16 - Entrevistas no PA.........................................................................................................................................83
Figura 8 - Dependência da Polinização....................................................................................................................24 Tabela 17 - Preços de Venda de Mel............................................................................................................................86
Figura 9 - Abelhas sem ferrão.......................................................................................................................................28 Tabela 18 - Análise do perfil e atuação dos principais atores na cadeia do mel.....................................94
Figura 10 - Logomarca do Projeto Néctar da Amazônia.................................................................................. 30 Tabela 19 - Estágios de maturidade da cadeia de mel......................................................................................107
10 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 11
1 Metodologia
O estudo foi realizado em duas etapas principais:
1) Levantamento de dados secundários, que gerou um relatório preliminar, e
2) Pesquisa primária, por meio de visita de campo e entrevistas com pessoas-
chave, presencial ou remotamente. Nesta segunda etapa foram realizadas as
seguintes visitas e entrevistas:
Visitas de campo
ESTADO MUNICÍPIOS VISITAS/ENCONTROS REALIZADOS PERÍODO
Fazendo frente a tais desafios, um número cada vez maior de atores nacionais e internacionais Lacunas de conhecimento sobre a biodiversidade brasileira nas áreas de produção, manejo,
vem investindo esforços e reconhecendo o potencial dos negócios inclusivos e sociais como um beneficiamento e industrialização faz com que a capacidade instalada esteja aquém da demanda
setor estratégico para resolver problemas socioambientais e para atender às demandas da base do setor produtivo.
da pirâmide. Neste sentido, para os fins do presente projeto, entende-se por negócios inclusivos
e de impacto social, modelos de negócios que: Financiamento dos pequenos negócios sustentáveis e rurais, que envolve a defasagem entre
o lançamento de instrumentos financeiros inovadores para atender aos pequenos produtores e
as exigências do mercado.
(...) oferecem, por meio do seu core business, bens, serviços e sustento de maneira
comercialmente viável e em escala para as pessoas de menor renda, tornando-os parte da Produção dispersa e pouco estruturada. Os produtos e serviços da sociobiodiversidade têm
cadeia de valor das empresas como fornecedores, distribuidores, revendedores ou clientes. caráter pontual, escala pequena e restrita abrangência territorial, econômica e social.
(PNUD, 2015, p.13)
Cadeias da sociobiodiversidade pouco institucionalizadas. No âmbito governamental, as
A amplitude conquistada pelo tema no Brasil e no mundo tem sido acompanhada, medidas de apoio aos produtos da sociobiodiversidade encontram-se dispersas em diferentes
naturalmente, por um significativo aumento no número de negócios inclusivos e sociais no Ministérios, sem uma articulação que possibilite coordenar ações e potencializar investimentos.
país nos últimos 10 anos, bem como no volume de investimentos de impacto disponíveis e
na proliferação de atores intermediários. Entretanto, o ecossistema de negócios de impacto Diante desse quadro, o PNUD, em conjunto com parceiros estratégicos, desenvolve uma série
e inclusivos ainda se encontra em estágio embrionário no país, com diversas margens para de ações conjuntas para potencializar, por meio de negócios inclusivos e de impacto social, o
crescimento e aperfeiçoamento. Além das disparidades geográficas – onde as regiões Norte, uso sustentável da biodiversidade brasileira. Neste sentido, busca apoiar ações integradas para
Nordeste e Centro-Oeste encontram ainda um ambiente de negócio pouco articulado. Estudo a promoção e fortalecimento das cadeias de produtos da sociobiodiversidade para agregar
recente desenvolvido pelo PNUD em parceria com SEBRAE (PNUD, 2017) demonstra que o valor, ampliar o acesso e consolidar mercados sustentáveis. Estas ações são alinhadas com o
ecossistema ainda enfrenta uma série de lacunas em relação ao desenvolvimento desses desenvolvimento de cadeia, aumento de renda, crescimento econômico e melhoria da qualidade
modelos de negócios no Brasil, sobretudo no que diz respeito ao encadeamento produtivo e, de vida das pessoas por meio do fomento cadeias de produtos da sociobiodiversidade. Dessa
sobretudo, o fortalecimento de capacidades de empreendedores de menor renda envolvidos nas forma, o PNUD busca efetivamente inserir a Agenda 2030 nas cadeias produtivas, gerando assim
cadeias da sociobiodiversidade. mecanismos de aceleração do avanço em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), bem como fomentar a criação de redes locais que atuem neste mesmo sentido.
Soma-se a isso o fato de que, nas últimas décadas, reduzir as taxas de desmatamento no Brasil
constitui um desafio constante. Além das ações de comando e controle, é necessário fortalecer Em particular, o PNUD - por meio da iniciativa Country Investment Facility - está atuando
atividades econômicas que combinem geração de renda, inclusão social e uso adequado dos em estados prioritários no Norte e Nordeste do País, criando redes locais, fortalecendo
recursos naturais existentes. cadeias produtivas e reforçando sua interrelação com os aceleradores dos ODS. Esta iniciativa
permite lançar as bases para criação de uma rede local para atuar em prol dos Objetivos de
O Brasil abriga uma riqueza biológica alinhada a uma diversidade sociocultural significativa, Desenvolvimento Sustentável, e prevê em sua estratégia o engajamento de diversos atores do
representada por povos indígenas, comunidades tradicionais quilombolas, extrativistas, setor privado – empresas, institutos e fundações, entre outros.
agricultores familiares, entre outras. Essas comunidades possuem conhecimentos e habilidades
expressivos sobre os sistemas tradicionais de manejo da biodiversidade. A cadeia de mel de abelha se destaca neste contexto pelo seu potencial de impacto econômico
como renda complementar para a agricultura familiar. A meliponicultura ainda traz o apelo
Apesar de toda essa riqueza, estatísticas oficiais demonstram que a produção extrativista não da valorização das espécies nativas das florestas atlântica e amazônica que estão começando a
madeireira representa cerca de 0,48 % da produção primária nacional, o que equivale a apenas receber uma atenção especial nos últimos anos.
480 milhões de reais. Isso significa que os produtos da sociobiodiversidade brasileira ocupam
um espaço pequeno na economia formal do país.
2.2. SELEÇÃO DAS REGIÕES ALVO
Por sua vez, o potencial de competitividade das cadeias de produtos da sociobiodiversidade
revelam a viabilidade de integrar o uso e a conservação da biodiversidade com atividades de
Os territórios definidos como prioritários incluem a região do Pará (sub-regiões nordeste e
geração de renda. Nas últimas décadas a demanda por produtos ambientalmente corretos
sudeste: Altamira, Tucumã, Medicilândia e São Felix do Xingu), Sul da Bahia (Costa do Mel:
aumentou nos mercados nacional e internacional. Além disso, a preocupação entre padrão
Ilhéus, Itacaré, Serra Grande, Una, Canavieiras, Trancoso / Costa do Descobrimento: Porto
de consumo e condições de saúde da população vem crescendo. Devido a isso, as indústrias
Seguro, Santa Cruz de Cabrália e Belmonte) e o estado do Piauí. Nas regiões do Pará e da Bahia,
alimentícia, de cosméticos, farmacêutica, serviços e outras têm começado a investir em
o Instituto Humanize já possui atuação junto a várias comunidades, enquanto que o estado do
produtos com base na biodiversidade brasileira.
Piauí é parceiro do PNUD na implantação dos ODS.
Os desafios relacionados ao uso sustentável dos recursos naturais estão ligados tantos aos
produtores, sejam eles população tradicional, extrativistas ou pequenos agricultores familiares,
quanto ao ambiente institucional das cadeias da sociobiodiversidade. Destacam-se:
16 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 17
3 Contexto agrícola, Este mesmo dado é apresentado por regiões, na qual se destaca a região Nordeste, seguida da região Sul.
A região Sudeste possui muito espaço para crescer e expandir a produção.
político e institucional
Este capítulo objetiva contextualizar o cenário atual, apresentando dados sobre volumes de Produção de mel brasileiro
produção e comércio, produtores, modelos de negócios, da cadeia de valor e do ambiente de PRODUÇÃO DE MEL BRASILEIRO POR REGIÃO, NO PERÍODO DE 2010 A 2015, EM TONELADAS
negócio bem como das principais restrições e oportunidades no setor.
A apresentação dos dados é dividida entre dados que são de âmbito nacional ou ligados à
temática geral da cadeia de valor do mel de abelhas, independentemente de identificação
Produção de mel - Regiões |Toneladas|
geográfica, e dados pertinentes a cada um dos três estados ou das regiões de interesse.
¹ ASSAD, A.L.D. et.al. Plano de fortalecimento da cadeia produtiva da apicultura e da meliponicultura do estado de São Paulo. Secretário de Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo, 2018. Vide anexo eletrônico. Figura 3 - Produção de Mel por Regiões. Fonte: IBGE, 2016 - Inteligência Comercial - icom@abemel.com.br - 04/01/2017
18 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 19
Dados da ABEMEL apontam para o crescimento da exportação brasileira de mel: no ano de 2015,
a exportação representou cerca de 59% da quantidade produzida no País, como mostra o quadro
abaixo:
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Consumo – A grande oportunidade
Figura 4 - Exportações de Mel brasileiro. Fonte: IBGE/AliceWeb - Inteligência Comercial - icom@abemel.com.br 04/01/2017 Embora possua muitas qualidades para o consumo humano, segundo dados da CBA e ABEMEL,
o valor comparativo de consumo de mel em gramas por habitantes por ano, mostra que o Brasil
ainda possui um consumo muito baixo em comparação com outros países e tem espaço para
crescer, com ações de incentivo como a utilização do mel na merenda escolar.
O principal produto da apicultura e meliponicultura consumido pela população é o mel.
Segundo Instrução Normativa nº 11 de 20 de outubro de 2000, o mel é o produto alimentício
produzido pelas abelhas, a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes Comparativo de consumo de Mel (em gramas/habitantes/ano)
vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre partes vivas
de plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas Suíça 1500
próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colmeia. Encontrado em estado
líquido viscoso e açucarado, ele é constituído de diferentes açúcares, predominantemente de Alemanha 960
monossacarídeos: glicose e frutose. Ele também apresenta teores de proteínas e aminoácidos,
EUA 910
enzimas, minerais, pólen e outras substâncias como sacarose, maltose, malesitose e outros
oligossacarídeos como a dextrina. Além de pequenas concentrações de fungos, algas, leveduras e Classe alta (250 a 300) 275
partículas sólidas que resultam do processo de obtenção do mel.
Sul do Brasil (200 a 250) 250
Uma análise do perfil do apicultor nacional realizada pelo SEBRAE mostra que existe uma
concentração grande de pequenos apicultores com até 50 caixas de abelhas, os quais produzem Brasil 60
cerca de 17% do mel, quase sempre realizando a atividade como segunda opção de renda. 0 250 600 750 1000 1250 1500 1750
Segundo o mesmo estudo, 60% da produção é realizada pelos apicultores que possuem de 51 a
400 caixas. Figura 6 - Consumo de Mel por País
20 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 21
Em relação à Alemanha, por exemplo, o Brasil ainda teria um potencial de crescimento de 1.600%! melhor qualidade e maior número de sementes quando comparados àqueles formados por
Mas não é preciso ir tão longe. O consumo na região Sul e entre a população de faixa de renda flores com deficiência na polinização. Consequentemente, esses frutos têm maior sucesso
mais alta é entre 300% e 400% maior do que a média nacional, o que significa que boa parte da reprodutivo, em termos ecológicos, e maior rentabilidade, em termos econômicos. Avaliações
população consome bem abaixo de 60ml/ano. baseadas em dados da FAO (Food and Agriculture Organization) afirmam que cerca de 33% dos
produtos utilizados em alimentação humana dependem em algum grau de cultivos polinizados
De acordo com especialistas do setor, esta diferença se deve à forte influência da imigração pelas abelhas. As abelhas são agentes polinizadores fundamentais para a agricultura.
alemã e italiana no Sul, em que a criação e o consumo de mel como alimento fazem parte Globalmente, a polinização animal beneficia a produção de 75% das culturas agrícolas. No
da tradição, enquanto que, em muitas regiões, o mel é apenas consumido como remédio na Brasil, aproximadamente 60% das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana
época de inverno, muitas vezes misturado com ervas e frutas para chamados ‘lambedores’. e produção animal apresentam algum grau de dependência por polinização animal, incluindo
Em relação ao consumo maior da população de renda mais elevada há principalmente frutíferas, leguminosas, oleaginosas e outras culturas com alto valor agregado, como a
dois aspectos a serem considerados: 1) Mel de abelha não é um produto tão acessível para castanha-do-Brasil, o cacau e o café. Do ponto de vista monetário, o benefício produzido pelos
a população de baixa renda; 2) Presume-se que a população de maior renda também tenha polinizadores animais no País representa cerca de US$12 bilhões, não incluindo os serviços
um nível educacional maior e, portanto, um maior conhecimento sobre os benefícios do mel ecossistêmicos das abelhas voltados à conservação da biodiversidade.
para a saúde bem como maior interesse e motivação na efetiva prática de uma alimentação
mais saudável. A falta de conhecimento básico em relação a mel de abelha ainda é um grande Nos EUA, grande parte das colmeias está sendo direcionada para a polinização agrícola,
fator a impactar o consumo. Em uma pesquisa de mercado recente (2018), realizada na região principalmente da cultura da amêndoa, como um serviço de polinização de forma que,
NE pelo autor do presente estudo para o Sebrae PE, os varejistas que tinham um público de atualmente, o mel está sendo considerado mais como subproduto, nesse país. No Brasil, o
menor poder aquisitivo também estocavam menos variedades de marcas de mel e registravam serviço de polinização por meio do aluguel de colmeias ainda está sendo pouco explorado,
um giro significativamente menor do que varejos em bairros de maior poder aquisitivo nas restringindo-se à polinização do melão na região Nordeste; da maçã, na região Sul; e de algumas
mesmas cidades. Neste contexto, os relatos de que o público não sabe nem a diferença entre culturas específicas, como abacate e melancia, no Sudeste.
mel de abelhas e ‘Mel Karo’ são frequentes, além de confirmarem a sazonalidade em relação ao
maior consumo na época de chuva. A maioria dos animais polinizadores é silvestre, incluindo mais de 20 mil espécies de abelhas,
além de algumas de moscas, borboletas, mariposas, vespas, besouros, trips (insetos da ordem
No entanto, embora a necessidade de se realizar campanhas educativas esteja sendo discutida Thysanoptera), pássaros, morcegos e outros vertebrados, como lagartos e pequenos mamíferos.
há muitos anos, o setor de apicultura brasileiro não possui uma entidade forte, estruturada e
organizada para conduzir este tipo de atividade, entre outras. “Cerca de 90% das espécies de plantas silvestres dependem, pelo menos em parte, da
A notícia boa é que a tendência da ‘saudabilidade’, ou seja, da busca por alimentação e práticas transferência de pólen feita por animais. Essas plantas são críticas para o funcionamento dos
mais saudáveis, beneficia também o consumo de mel. No entanto, permanecem as restrições ecossistemas, pois fornecem comida e outros recursos essenciais para uma enorme gama de
regionais e de poder aquisitivo. espécies”. Afirmou Vera Lucia Imperatriz Fonseca, professora sênior do Instituto de Biociências
da Universidade de São Paulo (IB-USP).²
Com a polinização, tanto apicultores quanto agricultores são beneficiados. As lavouras ganham
em produtividade e qualidade, e as abelhas são favorecidas com a oferta de mais pólen e néctar.
Nas entrevistas realizadas com especialistas e pessoas-chave nos territórios alvo, a polinização
apenas foi mencionado no contexto da abelha meliponis, indicando que esta atividade não
é considerada entre os apicultores. No Piauí houve menção de apicultores que praticam a
migração de colmeias, porém visando à busca de pasto apícola nas entressafras de suas regiões
de origem, indo principalmente para o Maranhão.
Figura 7: Apicultor introduzindo uma nova abelha rainha em uma gaiola de introdução - Foto: Envato Elements/Grafvision
As entidades atuantes ou interessadas na meliponicultura, citaram a polinização como importante
benefício para os agricultores familiares que adotaram ou virão a adotar a criação de abelhas sem
ferrão, visando à produtividade de seus pomares e culturas de plantio principais. No entanto, a
principal motivação econômica para a instalação de colmeias ainda é a produção de mel. Algumas culturas são extremamente dependentes de polinizadores para produzir, como maçã,
melão, abóbora e amêndoas. Em outras, o trabalho das abelhas não é essencial, mas pode
Em nenhum caso, a polinização foi mencionada como atividade de prestação de serviço
trazer ganhos de produtividade, melhorar a qualidade dos frutos ou aumentar a quantidade de
remunerado. Da mesma forma, não foram identificados estudos sobre a mensuração do impacto
sementes. É o caso do café, da laranja, do tomate e da soja, entre outros.
econômico concreto da polinização.
"Maçã é a cultura que hoje aluga mais colmeias no Brasil, e são cerca de 50 mil por ano. Nos EUA,
são 2 milhões só para amêndoas", diz Menezes. "Aqui o serviço ainda geralmente é informal,
Produtores alugam abelhas para polinizar fazendas e desorganizado, sem muita técnica, às vezes as caixas não são colocadas no lugar certo."
aumentar produtividade⁴ O G1 visitou uma fazenda de café que está testando o aluguel de abelhas, com a ajuda de uma
startup que criou um aplicativo para conectar apicultores e agricultores, uma espécie de "Uber
Comum em outros mercados, o aluguel de abelhas para ajudar a melhorar a produção das das abelhas".
lavouras ainda é pouco praticado no Brasil. Mas já começam a surgir no País startups dedicadas a
conectar agricultores e apicultores para promover a chamada polinização assistida. O mercado potencial é grande. O valor do serviço de polinizadores presentes na natureza
(não apenas de abelhas alugadas) para a produção de alimentos no Brasil foi estimado em
Nos Estados Unidos, cerca de 70% dos criadores de abelhas já são especializados no serviço. Aqui, R$ 43 bilhões em 2018, segundo estudo da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços
nem 10% das 2,5 milhões de colmeias são alugadas, segundo estimativa do pesquisador Cristiano Ecossistêmicos (BPBES) e da Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP).
Menezes, da Embrapa Meio Ambiente.
O número é calculado multiplicando-se a taxa de dependência de abelhas de cada cultura pelo
4M
ELO, L. 'Uber das abelhas': agricultores recorrem a aluguel de colmeias para melhorar produção de maçã, morango, café e outros grãos. valor de sua produção. Para o ano passado, cerca de 80% da quantia veio de quatro grandes
g1.globo.com, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2019/10/05/uber-das-abelhas-agricultores- cultivos: soja, café, laranja e maçã. O levantamento inclui a polinização feita por abelhas,
recorrem-a-aluguel-de-colmeias-para-melhorar-producao-de-maca-morango-cafe-e-outros-graos.ghtml?fbclid=IwAR22A_
Hi9QtLHNPiSsoE_5nuwGXJjB80DANmnql8vfU0uvzozTSZoon93a. Acesso em 01/11/2019 borboletas, vespas e outros insetos, além de morcegos.
24 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 25
Algumas culturas não produzem sem a ação de polinizadores, veja nível de dependência consecutivo. A área polinizada ainda é pequena: elas foram instaladas em 5 dos 110 hectares
abaixo. plantados com arábica, mas o resultado animou o empresário.
Segundo Menezes, no Brasil, a polinização assistida já se popularizou de maneira informal "Em 2018, a produtividade por pé da área polinizada [com as abelhas alugadas], comparada
entre os produtores de melão e maçã – culturas totalmente dependentes das abelhas. Nas com a não polinizada, foi em torno de 50% maior", conta Leonel, lembrando que a florada
demais, raramente é utilizada, porque medir o ganho de produtividade proporcionado não é foi irregular naquele ano e que a área de teste foi de apenas 1 hectare. "A tendência é ir
simples. ampliando", diz.
No caso do café, a ação dos polinizadores naturalmente presentes no ambiente aumenta a Da primeira vez, as abelhas levadas à fazenda de Leonel foram as africanizadas, as mais
produção em 10% a 40%, segundo o relatório da BPBE e da REBIPP. O aluguel de abelhas vem conhecidas, com ferrão, do gênero Apis. Neste ano, foi a vez das tubunas e mandaguaris
como um reforço, e pode levar a um incremento ainda maior, explica o pesquisador. "Mas os fazerem o trabalho – são abelhas nativas do Brasil, sem ferrão, do gênero Scaptotrigona.
produtores, principalmente de arábica, usam muito pouco, porque estão acostumados com
décadas de trabalho que já trazem um nível de produtividade aceitável." A espécie mais indicada vai depender da cultura. Para o café, essas três funcionam porque são
populosas e "fáceis de criar" e conseguem atender a plantações em grande escala.
O cafeicultor Alexandre Leonel é um dos que estão testando o serviço. Sua fazenda,
em Franca, São Paulo, recebeu abelhas durante a florada, em agosto, pelo segundo ano "Para o morango, são adequadas a africanizada e a jataí. A mandaguari a gente já testou, mas
Modesta
10% a 40% Essencial
90% a 100%
Ajuda
extra para
ABACATE, AMEIXA, BERINJELA, MAÇÃ
CEBOLA, GOIABA, GUARANÁ, MELÃO
AMORA PÊSSEGO MELANCIA
Pouca 0% a 10%
26 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 27
ela não gosta da flor. Para o tomate, a africanizada já não serve, porque tem que morder e hectares de plantações café, morango, abacate, hortifruti, entre outras. A AgroBee lançou
vibrar a flor para tirar o pólen, e ela não faz isso. Nesse caso são indicadas a abelha mandaçaia recentemente um aplicativo para facilitar a conexão entre os produtores e os apicultores,
ou a uruçu, que são sem ferrão e de grande porte", explica Menezes, da Embrapa. uma espécie de "Uber das abelhas", disponível para Android.
O resultado também varia. No morango, por exemplo, a polinização ajuda a reduzir a A concorrente ApiAgri tem hoje 30 criadores de abelhas cadastrados e está formando a base
deformação dos frutos. No feijão, aumenta a produção de sementes. de agricultores. Ela lança seu aplicativo em novembro.
"Mesmo para culturas que são pouco dependentes da polinização, como a soja, o café e a Vale a pena para o apicultor?
laranja, quando as abelhas estão presentes, os frutos e as sementes acabam sendo maiores,
mais homogêneos e o valor de mercado desses produtos aumenta", diz Charles dos Santos, Diferentemente dos Estados Unidos, onde muitos apicultores tiram sua renda apenas da
biólogo e cofundador da ApiAgri, startup que está desenvolvendo um serviço de polinização polinização, no Brasil, as colmeias alugadas normalmente são as mesmas usadas para a
assistida. produção de mel, ou de outros produtos como própolis e pólen.
Quem alugou as abelhas para o Alexandre Leonel neste ano foi Marcelo Ribeiro, conhecido Por isso, a viabilidade para o criador vai depender do período do aluguel. "Depende do foco do
como Batata. Ele tem um apiário em Jacuí, Minas Gerais, a pouco mais de 100 quilômetros de apicultor. No caso do café, a floração coincide com o período de safra de mel no Sudeste, por
Franca, e produz cerca de meia tonelada de própolis anualmente. Tem cerca de 800 colmeias exemplo", explica Cristiano Menezes.
de abelhas africanizadas e outras 250 de espécies sem ferrão. Para o Batata, o negócio valeu a pena. "Faz dois ou três anos que eu trabalho com abelhas sem
Elas foram levadas três dias antes da florada e ficaram no local por 10 dias. A flor do café tem ferrão e elas nunca tinham dado resultado, porque dão muito pouco mel e ainda não achei
vida curta e permanece aberta por três a cinco dias. Foi a primeira vez que o Batata prestou mercado para o própolis delas. Aí o aluguel já é uma fonte de renda", conta. O própolis que ele
esse serviço, por intermédio da startup AgroBee, de Ribeirão Preto, que conecta apicultores vende é produzido pelas abelhas africanizadas.
a produtores rurais interessados na polinização assistida. A ApiAgri, com sede em Sorocaba,
também está começando a atuar nesse mercado. Os biólogos da AgroBee é que avaliam a Meliponicultura – abelhas sem ferrão⁵
quantidade de caixas necessárias, o lugar mais apropriado para colocá-las e a espécie de
abelha indicada, de acordo com os objetivos dos agricultores. "Fazemos também auditoria Embora seja uma atividade que já era realizada há milhares de anos pelos povos originários
nas colmeias para ver se elas atendem aos requisitos exigidos, como quantidade de abelhas, das américas e que foi apresentada aos colonizadores portugueses por nossas populações
sanidade, se estão produzindo cria – porque aí elas vão necessitar de alimento e não servem indígenas, ela consolidou-se como atividade cabocla nos últimos quatro séculos,
para a polinização", diz Arthur Nascimento, biólogo da startup. principalmente entre os povos tradicionais do Brasil. A atividade tradicional começou a ser
aprimorada no início do século 20, à medida que as espécies de abelhas nativas sem ferrão
Pelo serviço, a empresa cobra uma porcentagem (não revelada) do aluguel pago ao apicultor,
eram descritas pelos naturalistas. Contudo, foi a partir dos trabalhos do Dr. Paulo Nogueira
que fica responsável pelo transporte e instalação das colmeias nas fazendas. Outra questão
Neto, nos anos 1950, que a meliponicultura se desenvolveu em bases de manejo e criação
que precisa ser controlada com cuidado é o uso de agrotóxicos nas lavouras que recebem as
racionais. Apesar de ser uma atividade tradicional e mais antiga que o próprio Brasil, a
abelhas – os apicultores têm indenização garantida em contrato em caso de morte ou dano
criação de abelhas nativas ainda se enquadra como criação de outros animais silvestres e,
aos enxames.
portanto, sujeita aos dispositivos legais relacionados à matéria.
Na fazenda do Alexandre Leonel, as colônias foram instaladas na parte orgânica da lavoura,
O que se observa é um crescimento da meliponicultura em todo Brasil, crescimento esse
o que significa que aqueles pés de café estão há pelo menos 36 meses sem receber herbicidas
que não tem sido acompanhado pela criação de arcabouço jurídico condizente com as
ou adubos químicos. Dos 110 hectares, 60 já são de café orgânico. Nessa área, que é irrigada, a
características da atividade, que permita aos meliponicultores exercerem a atividade de
produtividade gira em torno de 40 a 50 sacas por hectare.
forma regular.
"O plano é ampliar as áreas de polinização assistida na medida em que as lavouras vão sendo
convertidas para orgânico e vão ganhando certa estrutura para poder acomodar as colmeias Biodiversidade
com segurança", diz.
São estimadas 25 mil espécies de abelhas no planeta. No Brasil, há milhares de espécies.
Batata recebeu R$ 45 por cada uma das 30 caixinhas que colocou na fazenda de café do O destaque é para o gênero Melipona, as abelhas sem ferrão. Diferentemente das abelhas
Alexandre. A quantia paga pelo agricultor não foi divulgada. Nos EUA, apicultores chegam do gênero Apis, introduzidas no Brasil em 1838, animal exótico e perigoso (sua picada pode
a receber US$ 200 por colmeia alugada para as lavouras de amêndoa, segundo Menezes, matar), as Meliponas não apresentam risco e, após milhões de anos de evolução, estão mais
da Embrapa. A AgroBee diz que os valores podem variar de acordo com o tamanho da bem adaptadas ao meio. Das 600 espécies desse gênero no mundo, há 244 no Brasil, e 89
área polinizada, a demanda por colmeias e outros fatores como a compra ou não do mel aguardam descrição científica. Na Amazônia, há 114 espécies, número que pode crescer.
produzido durante o período do aluguel.
⁵ MEIRELLES FILHO, João. A revolução das abelhas sem ferrão, A.B.E.L.H.A. 2017. Disponível em: https://abelha.org.br/revolucao-das-abelhas-sem-
A startup tem cadastradas mais de 30 mil colmeias de diversas espécies, e mais de 5 mil ferrao/. Acesso em 12/08/2019.
28 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 29
seu valor é pelo menos 3 vezes mais alto que o produto da Apis, inclusive porque uma
colmeia produz pouco mais de 1 quilograma mel/ano (na Apis, são de 10 a 20 quilogramas).
Meliponicultura
Somente agora, após 50 anos desde sua definição científica, a criação racional de abelhas sem
ferrão – a meliponicultura – começa a adquirir escala. Entre os difusores da meliponicultura
na Amazônia estão Embrapa, Universidade Federal do Maranhão e ONGs (Instituto
Socioambiental, Fundação Amazonas Sustentável e Instituto Peabiru). A capacitação de
agricultores familiares e a simplificação do licenciamento do manejo de abelhas nativas
permitiram o surgimento de iniciativas como o projeto Néctar da Amazônia, do Instituto
Peabiru, financiado pelo Fundo Amazônia (gerido pelo BNDES), envolvendo mais de 100
produtores e 5 mil colmeias de 5 municípios no Amapá e Pará, legalizadas no Sistema
Nacional de Gestão de Fauna Silvestre (Sisfauna) e alcançando o mercado com Selo de
Inspeção Federal (SIF) (Vide abaixo o resumo do projeto).
Figura 9 - Abelhas sem ferrão - Mandaçaia (Melipona mandacaia). Foto: Wikipedia/Thiago Mlaker
SUBPROJETO MUNICÍPIO Nº COMUNIDADES ENVOLVIDAS
Macapá – AP 1 Mel da Pedreira
E não há sequer inventário de espécies por Estado, o que, para Vera Imperatriz-Fonseca,
pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale (ITVS) seria de grande relevância. As abelhas
1
2 São Pedro dos Bois
sem ferrão são conhecidas por uruçu, jataí, mandaçaia, etc. e representam imenso e pouco 3 Ambé
conhecido patrimônio brasileiro.
4 São Tiago
Conservação 5 Açaizal
Se considerada apenas a floresta amazônica, como concluiu Warwick Kerr em estudos no Oiapoque – AP 6 Tukay
Tapajós, de 35% a 90% das árvores dependem de abelhas como polinizadores primários. 2
7 Galibi
Uma floresta conservada tem dezenas de espécies, em pastagem degradada dificilmente
acham-se mais que duas. 8 Ahumã
9 Yawká
Restauração florestal
10 Cabeceira
Em 2015, na Conferência do Clima da ONU, em Paris, o Brasil se comprometeu a restaurar 11 São Pedro
12 milhões de hectares de florestas até 2030 para reduzir em 43% suas emissões. Esta
12 Pingo D’água
meta espetacular só será alcançada se considerado o manejo de melíponas. As abelhas
aumentam a polinização, a produção de frutos e a dispersão de sementes, além de sua Curuçá – PA 13 Km 50
criação contribuir para combater o desmatamento e o fogo (um dos maiores problemas da 3
14 Santo Antônio
restauração), visto que o produtor se restringe mais nestas práticas onde ele mesmo tiver
colmeias. 15 Araquaim
16 Sede Curuçá
Mais produção
Almeirim – PA 17 Praia Verde
Alguns dos produtos do Brasil e da Amazônia, como açaí, castanha do Brasil, cacau, pimentas 4
e frutas, dependem das abelhas sem ferrão para polinização. No caso do açaí, as melíponas 18 Lago Branco
estão entre principais polinizadores. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 19 Juçarateua
(Embrapa) e o Instituto Peabiru iniciaram pesquisas para saber se a criação de melíponas nos 20 Santana
açaizais aumenta a produção. Esta é uma informação importante, afirma Antônio Cordeiro
21 Nazaré
de Santa, da Universidade Federal Rural da Amazônia, pois o açaí se tornou cadeia de valor
que movimenta mais de R$ 4 bilhões/ano, e principal fonte de renda de muitas comunidades Monte Alegre – PA 22 Lages
da Amazônia.
23 6 Unidos
Mel valioso 24 Paitúna
Apesar de explorado por índios, foi sempre escasso e é valorizado pela medicina tradicional.
5 municípios 24 Comunidades
A demanda crescente é puxada pelo mercado gourmet. Com milhares de pequenos criadores, Tabela 3 - Peabiru - Comunidades envolvidas - 2019
30 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 31
Renda local de multiplicação das colmeias, capacitação dos produtores, licenciamento da atividade,
fortalecimento dos sistemas agroflorestais piloto e outras atividades associadas. O projeto
Para 1 milhão de agricultores familiares da Amazônia, 30 colmeias podem gerar R$ 600/ano, alcançou beneficiários de 24 comunidades em 5 municípios.
equivalente à renda de mais de um mês. Melhora também a segurança alimentar da família com
O projeto é pioneiro, em nível nacional, ao obter a autorização para os criadores com mais de 50
mais frutos e mel na mesa. Se o controle do dinheiro estiver com a mulher, seu impacto é ainda
caixas de abelhas pelo SISFAUNA (sistema de monitoramento de fauna do IBAMA, administrado
maior. Tem potencial, inclusive, de desestimular a juventude a migrar em busca de trabalho.
pelos estados, no caso, Pará e Amapá).
Mais que fonte de renda, para Vera Imperatriz-Fonseca, a meliponicultura deveria ser atividade
rural como outra qualquer, pois são animais silvestres que fazem parte do dia a dia do agricultor.
Abrangência territorial – Municípios contemplados no projeto:
Sociobiodiversidade - No Pará: Curuçá, Almeirim e Monte Alegre;
As melíponas são generalistas na busca de néctar e pólen, ou seja, coletam o néctar e pólen de - No Amapá: Macapá e Oiapoque.
diversas plantas. Seu mel contém a essência de toda uma floresta em uma colher. O consumidor
adquire mais que um adoçante com sabores diversificados e características físico-químicas
peculiares. É poderoso aliado da conservação da biodiversidade e da restauração florestal para Beneficiários
manter a floresta em pé. É produto da sociodiversidade brasileira – indígenas, quilombolas e O projeto atende atualmente 101 produtores de 24 comunidades rurais em áreas quilombolas,
povos e comunidades tradicionais, gerando renda em seu território. indígenas e povos e comunidades tradicionais do entorno de unidades de conservação
(ribeirinhas e extrativistas).
Desafio
Se se encontrassem mecanismos de remunerar os serviços ambientais das abelhas sem ferrão, Objetivo do projeto
além da venda do mel e das colmeias a outros produtores, se revolucionaria a restauração Fortalecer a cadeia de valor do mel de abelhas nativas silvestres em comunidades tradicionais de
florestal, o combate a queimadas e desmatamentos, e, por consequência, o enfrentamento da modo a constituir renda complementar sustentável, como alternativa ao desmatamento.
mudança climática, gerando uma revolução rural.
Resultados
Figura 10 - Logomarca do Projeto Néctar da AmazôniaBee No período, os principais resultados e aprendizados foram:
pelo pleno desenvolvimento das colônias, assim contribuindo para a manutenção e o Meliponário demonstrativo no Instituto Federal do Pará (IFPA)
desenvolvimento desse importante patrimônio biológico. campus Castanhal
Todos os técnicos comunitários atuais são os mesmos desde o início do Projeto, o que permite a No período, foi instalado no Instituto Federal do Pará, campus de Castanhal, no Pará, um
consolidação do aprendizado de todo o ciclo do projeto nos territórios. meliponário demonstrativo para atividades pedagógicas a alunos e também para produtores
das redondezas.
Dentre as ações dos técnicos, destacam-se:
Filme Néctar da Amazônia
-A
rticulação e mobilização dos beneficiários para as atividades coletivas, especialmente para os
mutirões de limpeza de terreno e multiplicação dos meliponários; O filme foi produzido e já apresentado, inclusive aprovado pelo Fundo Amazônia.
-A
ssessoria técnica individualizada aos beneficiários; Simpósio Abelhas sem ferrão e a Sociobiodiversidade
-O
rganização dos eventos de capacitação;
-A
limentação periódica das colônias; Em 2 de agosto de 2018, o Instituto Peabiru, com a participação de produtores familiares,
-M
onitoramento e avaliação semanal do desenvolvimento das colônias pesquisadores da Embrapa, Universidade Federal do Pará e Instituto Tecnológico Vale, e o apoio
-M
anejo do processo de multiplicação das colônias; do Museu Goeldi, realizou evento para discutir sobre a cadeia de valor das abelhas sem ferrão
-A
quisição de insumos necessários para alimentação e manejo; (melíponas). O Simpósio apresentou os aprendizados de doze anos de trabalho do Programa
-P
restação de contas sobre a execução financeira local. Néctar da Amazônia, do Instituto Peabiru, para o fortalecimento da meliponicultura, e os
múltiplos desafios para sua plena operação.
Parceria para a comercialização Apoio ao entreposto de Mel da Apisal
No mês de agosto 2018, a estratégia do Instituto Peabiru de parceria para a comercialização deu O projeto Néctar da Amazônia apoiou uma pequena reforma do entreposto de Mel da
resultado, e foi aprovado o registro do mel de abelhas sem ferrão no Ministério da Agricultura Associação dos Criadores Orgânicos de Abelhas de São João de Pirabas, Pará (APISAL). Com
(SIF) por meio de uma parceria com uma indústria já estabelecida no mercado de apicultura. Foi essa reforma, o entreposto está solicitando o Selo de Inspeção Estadual (SIE) para produtos
aprovada a comercialização em dois tamanhos de embalagem: 150g e 300g. artesanais. Além disso, é mais um canal de escoamento da produção para os produtores da
região do Salgado Paraense, em especial para os produtores associados ao Peabiru de Curuçá.
Além de ser o único projeto de meliponicultura no Brasil que tem a atividade de manejo
autorizada, via SISFAUNA, esse é o único mel da Amazônia com o selo de inspeção federal (SIF) e
um dos poucos do Brasil. Esse registro permite comercializar a produção em todo o Brasil e até Aprendizados
exportar para determinados países que aceitam o SIF brasileiro. Os aprendizados possibilitados pelo projeto são em múltiplas dimensões:
Autorização de todo o plantel
Consolidação da cadeia produtiva:
No período, foi obtida a autorização de manejo (AM) de todos os beneficiários, mesmo os que
O processo de multiplicação de colmeias matrizes ao longo do projeto gerou um plantel
ainda não são obrigados (pois não atingiram um grande número de caixas).
disponível que hoje permite a instalação de meliponários direcionados exclusivamente
Pesquisa com a Embrapa e UFPA para a produção de mel em ciclos curtos, que é o caso dos meliponários recém-instalados
em Curralinho, no Marajó, e na comunidade Quilombola de Burajuba, em Barcarena. Essas
Uma série de pesquisas foi desenvolvida a partir das ações e resultados do projeto, comunidades, por meio de outros financiadores, adquiriram colmeias dos produtores do
especialmente junto a Embrapa Amazônia Oriental. Entre estas destacam-se: projeto, sem redução do plantel, apenas com a multiplicação direcionada à venda, o que gerou
-E
studo dos benefícios das meliponicultura para as comunidades e o meio ambiente; uma renda significativa para as famílias, já que uma colmeia está sendo vendida a R$ 300,00.
-C
atalogação das espécies da flora que as abelhas visitam; Pelo lado de quem compra, a vantagem é a possibilidade de produção de mel em 6 meses, como
-E
studo e aprimoramento do processo de desidratação do mel para comercialização sem é o caso da comunidade de Burajuba, onde o meliponário com 30 caixas foi instalado em junho
refrigeração, com índice de umidade a 20%; desse ano e já produzirá, aproximadamente, 60 quilos de mel em novembro. Poucas atividades
-C
ódigo de barra das abelhas paraenses – sequenciamento genético das abelhas sem ferrão agrícolas permitem um ciclo produtivo tão curto.
comumente utilizadas na produção. Ainda no que se refere à consolidação da cadeia produtiva, pode-se citar a formação de técnicos
capacitados para o manejo da meliponicultura. Quando o projeto começou não havia técnicos
Estudo de mercado e plano de negócios especializados em meliponicultura nos municípios atendidos, hoje têm-se pelo menos
No período, com melhores dados e informações sobre a cadeia da meliponicultura e com a um técnico em cada município atendido, ou seja, cinco no total. Além disso, há produtores
perspectiva de produção balizada, foram elaborados estudos sobre os canais de comercialização altamente capacitados para o manejo, especialmente das partes de alimentação e multiplicação
e aprofundada a modelagem da viabilidade do negócio. das colônias e coleta e armazenamento de mel.
34 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 35
Cita-se ainda que há uma rede de prestadores de serviços e fornecedores que aprenderam os fornece informações em tempo real. O APIS ON LINE é a primeira plataforma digital totalmente
parâmetros de qualidade exigidos pela atividade. São desde marceneiros locais que fornecem desenvolvida pela Epagri/Ciram de Santa Catarina e faz parte de um projeto de pesquisa para coleta,
caixas padronizadas com todos os requisitos exigidos, prestadores de serviços de logística processamento e difusão de informações sobre abelhas.
(barqueiros, motoristas, carreteiros etc.) a fornecedores de insumos que passaram a emitir
nota fiscal para o projeto. A plataforma é uma ferramenta interativa, por meio da qual os interessados podem interagir e
acompanhar as informações na web, até o peso das colmeias.
Para encerrar, é importante ilustrar como hoje tornou-se fácil implementar projetos de
meliponicultura no Pará e Amapá. Tanto em Curralinho como em Barcarena, locais novos Informações disponibilizadas no Apis on line
que não fazem parte do projeto, foram implementados meliponários em poucos dias. -A
visos e alertas de condições favoráveis para o desenvolvimento de pragas e doenças, bem
Colmeias-matrizes disponíveis para a venda (sem redução de plantel), caixas padronizadas como práticas de manejo conforme as condições climáticas e épocas do ano;
confeccionadas facilmente por marceneiros capacitados, logística conhecida e técnicos
disponíveis para prestar assistência técnica. - L ista de plantas com potencial apícola no Estado com descrição;
-C
alendário floral e mapeamento das principais plantas de interesse para as abelhas por região
Tecnologia social para aprendizagem do trabalho coletivo em Santa Catarina;
Quando o projeto começou, em muitas comunidades havia apenas poucas colmeias iniciais - Banco
de dados das florações das plantas com potencial apícola nas diferentes regiões do
para multiplicação. Esclarecendo para o grupo social que os recursos são limitados e que estado;
não teria como o responsável técnico atender às famílias individualmente, as famílias -G
ráficos para acompanhamento das colmeias monitoradas;
entendem que terão que trabalhar juntas durante um período determinado de multiplicação
das colmeias para depois se dividirem. Nesse período, o amontoado de famílias começa -C
adastro com dados dos apicultores, associações, fornecedores e entrepostos de Santa Catarina
a se enxergar como grupo identitário, a noção de coletividade é aprimorada e o território Outro app americano, o Bee Alert, usa a geolocalização para registrar as mortes e perdas
compartilhado revela-se. A partir desse momento, a gestão sobre os recursos naturais e o expressivas nos apiários. É uma ferramenta para os apicultores divulgarem informações como
próprio território se dinamiza. a intensidade e os locais do desaparecimento das abelhas. É possível ainda apontar as causas e
prejuízos gerados.
Comercialização
Como a produção do mel ainda é pequena, a safra dura poucos meses e as comunidades produtoras Projeto de Promoção das Exportações⁸
estão dispersas territorialmente, o instituto Peabiru entendeu que não compensaria buscar O Projeto Brazil Let's Bee é sinônimo de produtos apícolas nacionais de qualidade. Uma
investimentos para uma casa de mel ou mesmo um entreposto nesse momento. A estratégia foi parceria bem-sucedida entre a Associação Brasileira de Exportadores de Mel - ABEMEL e
buscar um parceiro com capacidade disponível para beneficiar o mel. Encontrou-se um entreposto Agência Brasileira de Promoção de Investimentos da Apex-Brasil, que incentiva as empresas
de mel com selo de inspeção federal (SIF) que registrou o produto no MAPA, o que dificilmente exportadoras a cruzarem fronteiras. As condições encontradas no Brasil - clima, o solo, a
qualquer grupo comunitário conseguiria em curto ou médio prazo. Essa estratégia permite altitude, floradas e genética das abelhas - permitem uma produção de produtos livres de
ainda eliminar uma série de requisitos burocráticos como profissionais, tanto de ordem sanitária resíduos, característica peculiar brasileira. Além disso, graças a esses recursos naturais, o
quanto de ordem contábil-administrativa para um empreendimento do tipo. Esse aprendizado foi Brasil é capaz de produzir mel durante todo o ano. Estas distinções e rigoroso controle de
incorporado aos outros produtos trabalhados pelo Instituto Peabiru que serão beneficiados em qualidade fazem do Brasil o 10º maior exportador de mel do mundo.
parcerias tipo joint venture também.
A apicultura brasileira é uma das poucas atividades agropecuárias que podem ser
caracterizadas como sendo ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente
Inovação tecnológica na apicultura justa. Atualmente, o Brasil tem cerca de 350 mil apicultores, a maioria classificados como
agricultura familiar. Centenas de associações e cooperativas de pequenos produtores
Abelhas monitoradas em tempo real: tecnologia garante produção de mel⁷ e exportadores de mel são responsáveis por 450 mil postos de trabalho no campo e
também por outros 16 mil empregos diretos e indiretos no setor industrial brasileiro.
Aplicativos fazem monitoramento de colmeias e abelhas, utilizando inteligência artificial para O setor desempenha um papel econômico e social importante para muitas famílias, na
preservar a espécie. busca do desenvolvimento sustentável. Produtores e exportadores de produtos apícolas
As abelhas e o mel de Santa Catarina, que já foi eleito cinco vezes o melhor mel do mundo, brasileiros observam atentamente as exigências legais e de mercado, com foco na qualidade
agora têm um aliado tecnológico: uma plataforma digital de monitoramento de abelhas que e segurança alimentar. Como resultado, têm implementado sistemas de qualidade
rigorosos, tais como BPF - Boas Práticas de Fabricação, APPCC - Análise de Perigos e Pontos
⁷ G1 Globo. Abelhas monitoradas em tempo real: tecnologia garante produção de mel. G1 Globo, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/sc/santa-
catarina/ especial-publicitario/agro40/noticia/2019/08/14/abelhas-monitoradas-em-tempo-real-tecnologia-garante-producao-de-mel.ghtml. Acesso em ⁸ Brazil Let’s Bee. Projeto de Promoção das Exportações. Brazil Let’s Bee, 2019. Disponível em: https://brazilletsbee.com.br/o-projeto.aspx .
21/08/2019 Acesso em 15/08/2019.
36 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 37
Críticos de Controle, e SAP - Programa de Segurança Alimentar, incluindo todo o sistema Agrotóxicos – séria ameaça às abelhas
de rastreabilidade do campo do produtor para o cliente final. O Brasil também mantém o
Programa de Padronização, uma poderosa ferramenta para garantir a qualidade de produtos Notícias recentes alertam sobre mortandade em massa de abelhas em várias regiões do Brasil e
e processos, demonstrando a dedicação e organização das indústrias para proteger seus do mundo e revelam a seriedade da ameaça pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, alguns dos
produtos de quaisquer restrições técnicas, considerando as exigências do mercado. quais já foram proibidos no exterior, em áreas próximas à criação de abelhas.
Os mercados-alvo do projeto, definidos após exercício de priorização de mercados para o
período de 2014/2015 são: Apicultores brasileiros encontram meio bilhão
de abelhas mortas em três meses⁹
Casos foram detectados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Análises laboratoriais identificaram agrotóxicos em cerca de 80% dos enxames mortos no RS.
ALEMANHA CANADÁ CHINA ESTADOS UNIDOS
RS
Os objetivos do Projeto de Exportação Setorial são: 400 milhões
-P
romover a internacionalização de empresas brasileiras de mel e derivados; • Aumentar o valor
comercializado de mel e derivados no mercado nacional e internacional; • Promover maior
acesso dos produtores e empresas de mel e derivados aos mercados nacional e internacional;
SC 50 milhões
- Fortalecer
imagem setorial, dos produtores e das empresas de mel e derivados no mercado
nacional e internacional.
-R
evisão e adequação da burocracia dos órgãos reguladores, para o registro e o cadastro de
produtores de mel;
-P
oucos mecanismos de fixação do produtor na cadeia produtiva; O principal causador, afirmam especialistas e pesquisas laboratoriais analisadas pela
-A
usência de seguro apícola; reportagem, é o contato com agrotóxicos à base de neonicotinoides e de Fipronil, produto
proibido na Europa há mais de uma década. Esses ingredientes ativos são inseticidas, fatais para
- Concorrência
internacional, principalmente da China, no mercado nacional;
insetos, como é o caso da abelha, e quando aplicados por pulverização aérea se espalham pelo
- Existência
de capacidade ociosa de cerca de 75% dos atuais entrepostos; ambiente.
-A
lta mortalidade de abelhas, incluindo o uso inadequado de agrotóxicos como causa;
-A
s mudanças climáticas – períodos de chuva e de seca excessivos e, finalmente, ⁹ Grigori, P. Apicultores brasileiros encontram meio bilhão de abelhas mortas em três meses. Revista Galileu, 2019. Disponível em: https://revistagalileu.
globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2019/05/apicultores-brasileiros-encontram-meio-bilhao-de-abelhas-mortas-em-tres-meses.html. Acesso em
- As
extensas áreas de monoculturas. 28/08/2019
38 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 39
Entre outubro passado e março deste ano foram exterminadas 400 milhões em colmeias de 32
municípios gaúchos. De acordo com o promotor de Justiça Alexandre Saltz, do Ministério Público
do Rio Grande do Sul, “a necessidade é de prevenir novos danos ambientais irrecuperáveis
derivados da aplicação do produto”.
Não bastasse a crueldade contra os insetos, o extermínio põe em risco a produção de alimentos.
Segundo a organização ‘Bee or not to Be?’, idealizada pelo professor titular aposentado da
Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto Lionel Segui Gonçalves, as abelhas são os
maiores polinizadores do planeta. Atuam diretamente na reprodução de mais de 85% das plantas
com flores das matas, florestas e áreas verdes, conferindo importante equilíbrio aos ecossistemas.
E de mais de 70% das culturas agrícolas, garantindo a ampliação da produtividade no campo e a
melhoria na qualidade de frutos e sementes. Na busca por alimento, coletam também o pólen
produzido pelo órgão masculino da flor e o carregam para a parte feminina. É nesse processo de
polinização que a planta se reproduz.
Banido
O fipronil que está na mira do MP gaúcho foi banido da União Europeia em 2017. Pesquisas
realizadas pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, constataram que a substância matou
milhares de abelhas na França entre 1994 e 1998. E que as mortes ocorreram logo que o produto
foi lançado.
Figura 13 - Entre outubro passado e março deste ano foram exterminadas 400 milhões em colmeias de 32 municípios
gaúchos - Foto: Adobe Stock/Spoilergen
CNA coordena grupo de trabalho que vai propor melhorias para
criadores de abelhas¹²
A atividade humana colocou em ameaça uma das maiores A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vai coordenar o grupo de trabalho que
aliadas dos ecossistemas do planeta: as abelhas.¹⁰ desenvolverá uma agenda propositiva de ações e melhorias para os criadores de abelhas.
Previsão no Brasil A primeira reunião do GT aconteceu na sexta (22), em Brasília, e levantou os principais
problemas enfrentados pelos criadores de abelhas. O grupo foi criado pela Câmara Setorial do
Uma análise publicada em agosto de 2017 por pesquisadores da USP (Universidade de São Mel e Produtos das Abelhas, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Paulo) prevê que a população de abelhas e outros polinizadores deva diminuir em 13% no
Brasil até 2050. O próximo passo do grupo é levantar dados estatísticos sobre o número de ocorrências de
morte de abelhas, bem como a localidade destas, e definir a melhor estratégia para minimizar
MP gaúcho quer suspensão de agrotóxico que levou ao esse número.
extermínio de abelhas ¹¹ Também participam do grupo de trabalho a Associação Brasileira de Exportadores de Mel
(Abemel), o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg),
Proibido na Europa justamente por ser letal aos polinizadores, o fipronil obteve três novos
a Confederação Brasileira de Apicultores e o Sindicato dos Apicultores do Distrito Federal
registros no governo Bolsonaro.
(Sindiapis).
São Paulo – A Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre pediu nesta
quarta-feira (14) que o governo do Rio Grande do Sul suspenda o fipronil do Cadastro Estadual de
Registro de Agrotóxicos. O ofício enviado à Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique
Luis Roessler (Fepam) e às secretarias da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural e de Meio
Ambiente e Infraestrutura é desdobramento do inquérito civil instaurado para apurar as causas
do extermínio de abelhas no estado.
¹⁰Metro World News. As abelhas estão ameaçadas; o que isso pode significar para a nossa existência?. Metro World News, 2019. Disponível em:
https://www.metrojornal.com.br/ foco/2019/07/27/abelhas-ameacadas-riscos-seres-humanos.html. Acesso em 21/08/2019 ¹² CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. CNA Coordena grupo de trabalho que vai propor melhorias para criadores de abelhas,
¹¹ OLIVEIRA, C. MP gaúcho quer suspensão de agrotóxico que levou ao extermínio de abelhas. Rede Brasil Atual, 2019. Disponível em: https://www. 2019. CNA Brasil. Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/noticias/cna-coordena-grupo-de-trabalho-que-vai-propor-melhorias-para-criadores-de-
redebrasilatual.com.br/destaques/2019/08/mp-gaucho-quer-suspensao-de-agrotoxico-que-levou-ao-extermínio-de-abelhas/. Acesso em 21/08/2019 abelhas. Acesso em 26/08/2019.
40 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 41
3.2. PIAUÍ
De acordo com dados do último Censo agropecuário do IBGE de 2017, o Piauí revela os seguintes
dados na apicultura: As ações implementadas incluíram:
Organização Social dos produtores;
TABELA 6622 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS COM APICULTURA, QUANTIDADE DE MEL E CERA
DE ABELHA VENDIDOS E TOTAL DE CAIXAS DE ABELHA - RESULTADOS PRELIMINARES 2017 Melhoria contínua do processo produtivo;
Fortalecimento da Gestão;
ANO - 2017
Acesso a mercados
VARIÁVEL - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS COM APICULTURA (UNIDADES) Apoio às Certificações: Orgânica, Fair trade, Non-GMO e de origem
PIAUÍ 7.984
VARIÁVEL - NÚMERO DE CAIXAS DE COLMEIAS NOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS (UNIDADES) Os dados mais atualizados dos principais empreendimentos são
PIAUÍ 247.628 apresentados abaixo:
VARIÁVEL - QUANTIDADE VENDIDA DE MEL (TONELADAS) CASA APIS - Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro:
PIAUÍ 3.258,38 Nº de integrantes: 750 famílias de apicultores
Tabela 4 - Número de estabelecimentos agropecuários com apicultura. Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2017
Área de Abrangência: 35 municípios do Piauí
Nº de colmeias: 37.000
A APACAME - Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Europeias Infraestrutura produtiva: 01 Agroindústria e 38 casas de mel;
registra as seguintes associações e cooperativas de produtores no estado do Piauí: Comercialização 2018: 950.739 ton. de mel, R$ 12.270.575,00
NOME UF MUNICÍPIO COMAPI - Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes:
Associação de Apicultores de Monsenhor Gil Pi Monsenhor Gil Infraestrutura produtiva: 01 Agroindústria e 45 casas de mel;
Comercialização 2018: 409,582 ton. de mel, R$ 3.969,823
CAMPIL - Cooperativa Apícola da Microrregião de Picos Pi Picos
FEAPI - Federação das Entidades Apícolas do Piauí Pi Picos
Parcerias comerciais empreendedoras: Empresas Mel Wenzel e Wenzel’s Apicultura
Associação Apícola da Região Norte do Piauí PI Piripiri Certificações: SIF, Orgânica, Non OGM, Agricultura Familiar, True Source e Fair Trade:
Associação de Apicultores do Município de São João da Cana Brava PI São João da Cana Brava Casa Apis:
Associação de Apicultores de São Pedro do Piauí PI São Pedro do Piauí Produtores Certificados: 398 em 22 municípios das regiões de Picos e São R. Nonato
ANAC - Associação Nacional de Apicultores para o Comércio Justo e Solidário PI São Raimundo Nonato Número de Apiários: 579
AAPI - Associação de Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes PI Simplício Mendes Número de colmeias: 34.932
Cooperativa de Apicultores de Socorro PI Socorro Produção de mel: 850 toneladas de mel
Associação Apícola de Teresina PI Teresina
COMAPI:
FEAPI - Federação das Entidades Apícolas do Piauí PI Teresina
Produtores Certificados: 805 em 10 municípios da região de Simplício Mendes.
Tabela 5 - Lista de Entidades de Apicultura no PI. Fonte: Nordeste & Cerrado; APACAME - Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas
Melíficas Européias. Disponível em: http://apacame.org.br/site/voe/wpbdp_category/associacoes/ Número de Apiários: 1.155
Número de colmeias: 34.321
O Sebrae é um dos principais atores como entidade de apoio ao setor apícola no estado do Piauí Produção de mel: 410 toneladas de mel
e merece um destaque neste estudo pela postura de parceiro de longo prazo e pelos resultados
alcançados, que são hoje uma referência no Brasil e no exterior. Wenzel’s Apicultura:
Em 2003 a 2004 iniciou o primeiro projeto chamado Apis - Araripe, na região de Picos. De 2005 a Produtores Certificados: 320 em 39 municípios das regiões de Norte e centro sul do Piauí
2016 foram realizados três projetos Apis em paralelo: Apis Araripe, na região de Picos; Apis Serra Número de Apiários: 612
da Capivara, em São Raimundo Nonato; e Apis da Região Norte, na região de Piripiri. De 2014 a Número de colmeias: 28.205
2017 ainda foi executado o Apis Semiárido Empreendedor, ainda na Região de Picos. No total
Produção de mel: 1.410.250 Kg de mel
foram investidos R$ 15 milhões, com 4 mil apicultores atendidos em 49 municípios
42 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 43
Com essa produção, o Piauí passou a ocupar o posto de terceiro maior produtor brasileiro de
mel de abelha, atrás apenas do Rio Grande do Sul e Paraná, e passou Minas Gerais.
Segundo ele, o aumento da produção de mel no Piauí no ano passado ficou entre 20% e 25%
da produção de 2017. Em 2017, o Piauí conseguiu produzir 4.404.654 quilos de mel de abelha,
um aumento de 44,47% em relação ao ano anterior, o que rendeu uma verba de R$ 44,5
milhões, segundo os dados do IBGE. Com essa alta na produção, o Estado subiu três lugares
no ranking e deixou para trás os Estados da Bahia, São Paulo e Santa Catarina. Apenas Minas
Gerais (4,5 mil toneladas), Paraná (5,9 mil toneladas) e Rio Grande do Sul (6,3 mil toneladas)
produziram mais que o Piauí.
Em 2016, o Piauí produziu 3.048.800 quilos de mel de abelha, o que gerou R$ 29,5 milhões
aos produtores. Naquele ano, o Estado ocupava o 7º lugar no ranking de produção de mel do
país, ficando atrás da Bahia (3,5 mil toneladas); São Paulo (3,6 mil toneladas); Santa Catarina
(4,8 mil toneladas); Minas Gerais (4,9 mil toneladas); Paraná (5,9 mil toneladas) e Rio Grande
do Sul (6,2 mil toneladas).
O valor gerado com a produção de mel de abelha no Piauí aumentou mais de 50% de um ano
para o outro. Isso aconteceu porque, em 2017, o Estado produziu quase 1,4 mil toneladas a
mais do produto que no ano anterior. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e colocaram o Piauí, naquele ano, como o quarto maior produtor
de mel de abelha do País.
Em 2017, o mel produzido no Piauí correspondia a 10,6% de toda a produção nacional. Apenas
Minas Gerais (10,9%), Paraná (14,3%) e Rio Grande do Sul (15,2%) tinham maior participação.
Historicamente, a região Sul é a principal produtora de mel, respondendo por 39,7% do total
do País, mas o aumento da ocorrência de chuvas, após seis anos consecutivos de estiagem,
melhorou o quadro na região Nordeste, especialmente no Piauí. A produção nordestina de
mel de abelha corresponde a 30,7% do total.
Figura 14 - Detalhe do processo de envase - Foto: Adobe Stock/CL-Medien
Em 2017, foram produzidas no Brasil 41,6 mil toneladas de mel de abelha em 3.879 municípios
no País, um aumento de 5% na produção nacional em relação ao ano anterior, registrando
o segundo maior valor da série histórica, iniciada em 1974 (em 2011 o total foi de 41,8 mil
Dados da Comercialização: toneladas). A produção ocorreu em 3.879 municípios e foi estimada em R$ 513,9 milhões.
Ano 2018:
Mercado interno (varejo): SP, MG, DF, PE, BA: 353.5ton. de mel, valor R$ 5.659.870,98
Mercado Externo: UEA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França e Bélgica: 2.491.930ton de mel, Fundação de Bill Gates traz africanos para
valor R$ 30.418.301,00 conhecerem técnicas de produção
Exportação Piauí: 4.129,122 kg de mel, valor R$ 13.639.158,00
Essa posição do Piauí de ser o terceiro maior produtor de mel do Brasil está fazendo com
A seguir são apresentadas notícias recentes e relevantes sobre a apicultura no Piauí. que apicultores de outros países venham conhecer não apenas o mel produzido no Estado,
mas também conhecer as técnicas de criação de abelhas.
Piauí produz mais de 5 mil toneladas de mel ¹³
É o que está acontecendo agora com a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
Os apicultores do Piauí fecharam o ano de 2018 com uma produção de mais de 5 mil toneladas (Embrapa) Meio Norte e a Universidade Federal do Piauí (UFPI). As duas instituições estão
de mel, que foi vendida principalmente para o exterior por US$ 17 milhões, equivalentes a R$ treinando africanos em marcadores genéticos e qualidade do mel.
50 milhões, informou o presidente da Federação de Apicultores do Estado do Piauí e diretor-
geral da Casa Apis, de Picos, no Sul do Estado, Antônio Leopoldino. O projeto integra o M-BoSs, programa internacional apoiado financeiramente pela
Fundação Bill & Melinda Gates, do fundador da Microsoft, Bill Gates; Departamento para o
¹³ Fala Piauí. Piauí produz mais de 5 mil toneladas de mel. Fala Piauí, 2019. Disponível em: https://www.falapiaui.com/noticia/11426/piau-produz-mais-
Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID), e o Fórum para Pesquisa Agrícola na
de-5-mil-toneladas-de-mel. Acesso em 22/08/2019. África (FARA).
44 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 45
Maior exportador de mel do mundo importa Pesquisa identifica 40 espécies de grãos de pólen
produto do Piauí por qualidade No mês de janeiro, o Grupo de Estudos sobre Abelhas do Semiárido Piauiense (GEASPI),
do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, da Universidade Federal do Piauí (UFPI),
A China é o maior produtor de mel do mundo, mas no ano passado começou a importar
em Picos, iniciou o trabalho de descrição dos grãos de pólen que compõem a sua
mel do Piauí por causa da qualidade do produto piauiense.
palinoteca, que possui atualmente cerca de 40 espécies identificadas, provenientes de
O presidente da Federação dos Apicultores do Piauí, Antônio Leopoldino, afirmou que coletas na região semiárida ao longo de dois anos.
o Estado está exportando mel para países que tradicionalmente compram o produto
Segundo a coordenadora do GEASPI, a professora Dra. Juliana Bendini, o trabalho
piauiense, como os Estados Unidos, Canadá, na América do Norte; França, Holanda,
possibilita a identificação de produtos apícolas por origem botânica, valorizando
Alemanha e Bélgica, na Europa; e recentemente passou a exportar para a China, Japão e
economicamente estes produtos como oriundos da caatinga.
Coreia, na Ásia; e Arábia Saudita, no Oriente Médio.
A aluna do curso de Ciências Biológicas da UFPI de Picos, Jossandra do Nascimento,
Antônio Leopoldino explica a aparente contradição da China ser o maior exportador de mel
explica que, com auxílio de um microscópio com câmera acoplada, é possível realizar as
do mundo e importar o mel do Piauí.
medições do grão de pólen que são necessárias para sua descrição.
Segundo ele, apesar de a China ser o maior produtor de mel, os chineses que melhoraram a
qualidade de vida e a classe média passam a querer consumir um mel de maior qualidade. Abelhas são mortas em massa com aplicação de veneno
Aí entra no mercado o mel piauiense. Os piauienses ficaram atordoados no início da semana com a notícia do primeiro caso
“O mel do Piauí tem alta qualidade, é monofloral e vem da flora exótica da caatinga. As de terrorismo biológico do Piauí. Abelhas de 28 colmeias foram dizimadas com veneno
abelhas produzem o mel a partir do pólen do angico, do marmeleiro, da jitirana e do de pulverizar cajueiros, no município de Monsenhor Hipólito.
bamburral. Isso torna o mel piauiense diferenciado, exótico e de alta qualidade”, afirmou A denúncia foi feita na Delegacia de Polícia Civil do município, localizado a 378 km
Antônio Leopoldino. de Teresina, pelo apicultor Geovan José de Sousa, de 35 anos, que teve o seu apiário
Outro diferencial do mel piauiense casa com um mercado que cada vez mais valoriza a envenenado. O prejuízo foi calculado em mais de R$ 12 mil. O crime aconteceu na
natureza: é orgânico. A ciência vem dando sua contribuição para melhorar a qualidade do localidade Lazam Velha, zona rural de Monsenhor Hipólito.
mel piauiense e para ampliar seu mercado de consumo. Segundo Geovan José de Sousa, essa não é a primeira vez que suas abelhas são
O governo do Piauí, em parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento envenenadas.
Agrícola (FIDA), lançou na semana passada projetos de investimentos produtivos (PIPs) “Essa já é a segunda vez, de dezembro para cá, que acontece isso comigo. Dessa vez, eu
de 8,2 milhões de reais, que beneficiarão 986 famílias de 15 territórios do estado. ¹⁴ perdi 28 colmeias com 30 melgueiras em cima, a ponto de tirar o mel”, disse Geovan José
de Sousa.
Os projetos têm como objetivo estimular a produção e geração de emprego e renda nas
atividades econômicas de apicultura, ovinocaprinocultura, avicultura, mandiocultura, Nos Estados Unidos, os casos de terrorismo biológico ou químico são investigados pelo
fruticultura, quintais produtivos e artesanato. FBI e CIA, porque podem ter grandes proporções.
O governo do estado do Piauí, em parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Bee Mel leva mel do Piauí ao menu do
Agrícola (FIDA), lançou na semana passada projetos de investimentos produtivos (PIPs) de
8,2 milhões de reais que beneficiarão 986 famílias de 15 territórios da Chapada do Itaim e do
melhor restaurante do Brasil ¹⁵
Vale do Guaribas. Prato do D.O.M. Restaurante, de Alex Atala, une mel de marmeleiro com aligot, o famoso
purê de queijos do chef premiado
Os projetos têm como objetivo estimular a produção e geração de emprego e renda nas
atividades econômicas de apicultura, ovinocaprinocultura, avicultura, mandiocultura, O nosso mel de marmeleiro é diferente das outras floradas. Tem sabor floral marcante,
fruticultura, quintais produtivos e artesanato. consistência mais fluida e cor clara, bem amarelinha. Há até quem confunda com o sabor
do mel da abelha nativa jataí, mas não se engane: ele é fruto do trabalho da Apis mellifera,
Os municípios contemplados terão ações implementadas pelo governo do estado, por meio ou abelha africanizada, como é chamada a abelha comum que encontramos por aí e tem
da Secretaria de Desenvolvimento Rural, e do Programa Viva o Semiárido, do FIDA. "terroir" do Semiárido piauiense. Essas características únicas conquistaram o paladar dos
chefs Alex Atala e Geovane Carneiro, à frente do D.O.M. Restaurante, que incluíram o favo
da Bee Mel no novo menu degustação da casa. Que honra!
¹⁴ Organização das Nações Unidas. Com apoio da ONU, investimentos produtivos do Piauí beneficiarão quase 1 mil famílias. Organização das
Nações Unidas, 2019. Disponível em: https://nacoesunidas.org/com-apoio-da-onu-investimentos-produtivos-no-piaui-beneficiarao-quase-1-mil- ¹⁵ B
ASTOS, B.R. Bee Mel leva mel do Piauí ao menu do melhor restaurante do Brasil. Bee Mel Piauí, 2019. Disponível em: https://www.
familias/. Acesso em 24/08/2019. beemelpiaui.com.br/post/bee-mel-leva-mel-do-piau%C3%AD-ao-menu-do-melhor-restaurante-do-brasil. Acesso em 22/08/2019.
46 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 47
Piauí tem 20 mil famílias produzindo mel ¹⁶ Produção em 2019 deve ultrapassar as 5 mil toneladas
O Piauí possui um grande potencial para a produção de mel, fato comprovado por A expectativa é que o Piauí continue com bons números de produção em 2019, seguindo
estatísticas do IBGE, que mostram que o Estado ocupa o primeiro lugar do pódio, a tendência do Censo de 2017. Em verdade, os números, que já são positivos, devem ser
no volume de produção do Nordeste. O mel piauiense corresponde a 35% de toda a ultrapassados, pois as chuvas no Piauí foram muito boas este ano para a produção de mel.
produção da região, com 4,5 mil toneladas de mel em 2017.
“2019 foi um ano bom. Teve muita chuva, embora em janeiro não tenha chovido. De
A produção piauiense é grande e capilarizada. De acordo com estatísticas da Federação fevereiro em diante foi muito bom. Isso vai refletir nos próximos dados do IBGE, que vão
de Apicultura, são 20 mil famílias produzindo mel no Piauí. A florada da caatinga mostrar que a maioria dos municípios teve uma boa produção. Com certeza, vamos passar
aparece como um campo aberto para investimento no setor, ainda que a produção das 5 mil toneladas. Ainda temos regiões que estão tirando mel na região Norte do Estado,
aconteça, sobretudo, durante os meses de chuva. como Batalha, que tem mel até agosto”, explica Laurielson Chaves Alencar.
É o que explica Laurielson Chaves Alencar, professor do Colégio Técnico da Universidade No entanto, é possível melhorar ainda mais os números e elevar a participação do Piauí
Federal do Piauí (UFPI) do campus de Floriano. Laurielson é engenheiro agrônomo na pauta de exportação do mel. “O apicultor precisa praticar a tecnologia que já existe. A
especialista em apicultura e tem doutorado em produção vegetal na área de polinização Universidade e a Embrapa orientam o manejo adequado. Tem coisas básicas, como a troca de
com abelhas. “O mel fica oscilando na pauta de exportação. Ao contrário da soja, que cera e alimentar os enxames no período de entressafra, para que na florada ele chegue forte.
concentra riquezas nas mãos de poucos, o mel tem um lado social muito forte, pois Além disso, há a troca de rainhas. Esse manejo aumenta a produção. Essa prática nos daria
distribui renda para centenas de famílias de produtores rurais. Segundo a Federação uma condição maior de produção. O maior comprador hoje do mel do Piauí são os Estados
de Apicultura, temos 20 mil famílias produzindo mel no Piauí. A apicultura está em Unidos. Cerca de 80% vai para lá. Hoje existem quatro produtores que exportam, em que
praticamente todas as regiões do Estado”, revela. 90% da produção deles é para fora, só 10% fica aqui”, aponta o professor.
O mel é uma atividade muito forte no semiárido, que tem vegetação de caatinga. “A
região de Picos, São Raimundo Nonato, Bonfim, Anísio de Abreu, Simplício Mendes
Manejo correto triplicaria produção no Piauí
são ricas nesse aspecto, com mais peso na produção. No período de chuvas, período de
Para Fábia de Mello Pereira, engenheira agrônoma da Embrapa Meio Norte, com doutorado
produção de mel do Piauí, a caatinga flora, e as abelhas se dão muito bem. São floradas
em Zootecnia na área de Alimentação de abelhas, a produção de mel no Piauí poderia chegar
simultâneas e sucessivas, de janeiro até abril e maio, ao contrário do Pará e Maranhão,
a até 15 mil toneladas se houvesse uma profissionalização massiva do manejo dos produtores
que chove tanto que a água lava o pólen das flores por conta de chuvas torrenciais. As
do Estado.
abelhas não saem nas chuvas seguidas. Aqui no Piauí é diferente, chove e tem dia de
sol, é alternado. O produtor aproveita a chuva porque não temos chuvas o ano inteiro”, “Nós produzimos muito mel, por dois fatores: temos muitos apicultores e condições
acrescenta Laurielson. ambientais, tanto de flora como de clima no período da chuva, que favorece muito a
produção do mel. No entanto, no geral, a maior parte dos apicultores não se profissionalizou.
O Piauí pratica dois métodos de produção de mel. “A maioria dos apicultores do Piauí é Se eles realmente fizessem isso, nós conseguiríamos triplicar a produção de mel sem
fixo. A produção é apenas no período da chuva. Mas alguns são migratórios, e levam os dificuldade”, explica.
enxames para o Maranhão. Esse segundo caso é uma pequena parcela, porque é preciso
alugar o espaço, levar os enxames, então é todo um processo. Mas assim é possível O manejo correto engloba três fatores determinantes. “Falta eles darem o correto manejo
produzir mel o ano todo. Antes os piauienses migravam para o Ceará, mas agora, desde com a questão da cera. As abelhas têm os favos de cera, onde depositam as posturas, mel
2011, o Maranhão ganhou esse público”, conta o professor do Colégio Agrícola da UFPI. e pólen. Então, quanto mais velho, menor ele fica, e diminui a produção. O tamanho dos
alvéolos diminui o volume de mel. O correto seria trocar a cera a cada dois anos, assim a
Uma seca, que ocorreu entre 2012 e 2013, desestabilizou a produção de mel no Piauí, que capacidade se manteria”, orienta Fábia Pereira.
agora está se recuperando com as boas chuvas. “Essa foi a pior época para apicultores.
Nesta época o governo disponibilizou caminhões para fazer a migração para outro A troca da abelha rainha também potencializa a produção. “No Piauí não se trabalha com
estado, mas mesmo assim foi muito ruim. Em 2011, pela primeira vez na história, a a troca de abelhas rainhas. As rainhas mais jovens têm uma capacidade de postura de ovos
região Nordeste produziu mais mel que o Sul. A região Sudeste foi ultrapassada em 2002. muito maior. Assim é possível ter mais operárias trabalhando. As rainhas novas podem
A produção foi recuperada em 2017, mas desta vez voltamos a ficar atrás da região Sul”, colocar até 3 mil ovos por dia em condições ambientais favoráveis. Com a velhice, elas
contabiliza o especialista em apicultura. diminuem a quantidade de ovos. Elas vivem até três anos, mas o ideal é que todo ano elas
sejam substituídas. Elimina-se a rainha velha e em 24 horas é introduzida uma rainha nova,
pois há tempo das operárias sentirem a falta da rainha e a necessidade de terem outra. Elas
sentem o cheiro. Se colocar imediatamente a nova, elas podem se revoltar. A rainha nova, no
¹⁶ ARRAIS, L. Piauí tem 20 mil famílias produzindo mel. Meio Norte, 2019. Disponível em: https://www.meionorte.com/noticias/piaui-tem-20-mil-
vigor da juventude, fará uma maior postura de ovos. Mais operárias trabalhando, mais mel.
familias-produzindo-mel-366820. Acesso em 23/08/2019. Essa troca deve ocorrer antes da safra”, recomenda a doutora em Zootecnia.
48 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 49
Visitas de campo
ESTADO MUNICÍPIOS VISITAS/ENCONTROS REALIZADOS PERÍODO
Sebrae – Escritório regional de Picos
PIAUÍ Picos, Simplício Casa Apis – Central de Cooperativas 16 a 17.09
Mendes Mel Wenzel – Entreposto e trading
COMAPI – Cooperativa Mista dos Apicultores
da Microrregião de Simplício Mendes
interesses políticos que queriam levar para toda organização. Estas foram convidadas a se Os principais parceiros institucionais ao longo desses anos compreendem a Fundação Banco
desligarem. Outras cooperativas tinham um custo operacional alto em relação ao tamanho, do Brasil – FBB, o Sebrae, o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento, a CODEVASF –
suscitando a solução da união com outras organizações na busca de eficiência de gestão. Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, o governo do Estado de Piauí e a
Dessa forma ‘sobraram’ três cooperativas bem estruturadas e livres de problemas que UNISOL – Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários.
poderiam vir a dificultar a gestão da central. No início, a Casa Apis recebeu o apoio decisivo da
Fundação Banco do Brasil, com o aporte financeiro a fundo perdido para toda infraestrutura A cidade de Picos ainda conta com as empresas da família Wenzel: a Mel Wenzel²¹, indústria
do entreposto e capital de giro inicial para a aquisição de matéria-prima. A Unisol¹⁸ apoiou na e comércio direcionada ao mercado doméstico com uma extensa gama de produtos,
elaboração do estatuto e no modelo jurídico. Para o acesso ao mercado internacional, o plano presentes nas regiões Nordeste e Sudeste, e a Wenzel Apicultura, trading direcionada para a
de marketing ajudou o Sebrae e a ICCO¹⁹, ONG holandesa de apoio a agricultores familiares exportação que movimenta entre 100 a 120 container por ano. Esta última se especializou
ao redor do mundo. Além disso, ainda contou com os apoios da USAID Brasil, da Rede em mel orgânico, visto que, de acordo com Thiago Wenzel, seu diretor comercial: “Não temos
Unitrabalho, da Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Solidário da UFPI e do Governo competitividade de preço no mel comum diante dos argentinos, que vendem muito mais
do Estado do Piauí, por meio da Secretária de Desenvolvimento Rural com apoio financeiro barato.”
do FIDA - Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola. Recentemente ainda receberam No entanto, o preço do orgânico também despencou em 2019. Segundo Thiago, o
apoio financeiro do BNB para inovação tecnológica. principal motivo da queda de preço no segmento de orgânico foi que as grandes tradings
A Casa Apis possui hoje uma agroindústria equipada com máquinas e equipamentos com internacionais, com medo de um desabastecimento do mercado devido a questões climáticas,
capacidade de processamento de 2.000 toneladas por ano; 28 casas de mel ativas; cinco aumentaram seus estoques no ano passado e no início deste ano. Portanto, neste momento
caminhões 3x4 e um caminhão Bi-truck. As atividades incluem a compra, o beneficiamento e a não precisam comprar, e o preço despenca por falta de demanda.
comercialização de mel. Na região de Simplício Mendes, a produção apícola foi estimulada por outro incentivador:
um padre alemão que trouxe a experiência da apicultura de seu país de origem e
Em 2018 apenas metade desta capacidade de produção foi ocupada, sendo 90% destinada para
também percebeu o potencial da região. Em 1989 ele orientou a fabricação, financiou as
exportação (a granel) e 10% para o mercado interno, com a própria marca da Casa Apis²⁰. Desse
primeiras caixas de mel e capacitou os primeiros produtores. O projeto começou com três
volume, 70% provêm dos membros das cooperativas associadas, e 30% são adquiridos de
comunidades, sendo quatro caixas para cada família. A comercialização era realizada pela
apicultores independentes.
diocese, que fazia a retenção de 70% do valor para abatimento da dívida do produtor.
Um ponto que Sitonho destaca na relação com os associados: “Uma cooperativa só é forte
Em 1994 foi fundada a Associação dos Apicultores da microrregião de Simplício Mendes
quando os cooperados têm fidelidade a ela. E é uma das principais funções da gestão da Casa
(AAPI), com o objetivo de organizar a comercialização do mel. Em 2007 a COMAPI –
Apis trabalhar para a fidelização de seus associados. É um trabalho constante.” Um dos pontos
Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes foi constituída para
cruciais neste processo é o pagamento da matéria-prima assim que receber. A Casa Apis
realizar as operações comerciais e industriais antes realizadas pela Associação.
ainda procura pagar um valor acima do mercado, a fim de estimular o apicultor a entregar
seu mel na cooperativa, dificultando assim a ação dos atravessadores. Para isso a entidade A COMAPI possui uma unidade de extração de mel com equipamento aprovados em cada
conseguiu captar um recurso a fundo perdido de R$ 400.000,00 logo no início da operação comunidade, três caminhões para coleta de mel e um entreposto de mel apto a processar
junto à Fundação Banco do Brasil – FBB, que foi totalmente integralizado e, desde então, e embalar o produto fracionado (Marcas Registrada: Nutritivo mel e Gota Silvestre) e em
reforçado como fundo rotativo para aquisição de matéria-prima. Eles também usavam os PAA tambores para exportação, além de uma unidade de beneficiamento de cera.
– Programas de Aquisição de Alimentos do governo para formação de estoque.
Em relação às vendas, Sérgio Viana Medeiros, gerente geral da COMAPI, relata que
Por sua vez, “Nossas experiências com cooperativas de crédito foram frustrantes”, afirma historicamente 95% foram para o mercado externo e 5% no mercado interno, fracionado com
Sitonho. Elas não se esforçavam para oferecer condições de cooperativa para cooperativa. as marcas mencionadas acima. Apenas em 2018 foram realizadas vendas além dos 5% no
Encontramos condições melhores no mercado. mercado doméstico, sendo que foi a granel para outras empresas a preços de matéria-prima,
representando 30%. Em 2019, houve um aumento no mercado interno fracionado com maior
A Casa Apis ainda possui fundos sociais específicos para o benefício dos cooperados, por
valor agregado: “Foi para 15% e a venda de matéria-prima baixou para 15%, com 70% para
exemplo, para educação e projetos comunitários.
exportação.“, confirma Sérgio Medeiros.
Outro ponto importante é a assistência técnica constante, para que os produtores se sintam Para a exportação, a COMAPI trabalha com uma broker brasileira nos EUA, que vende para as
apoiados. “Mesmo depois de tantos anos, é necessário reciclar e profissionalizar cada vez mais. grandes tradings, como Lamex foods²² e Wholesome.
Nossa produtividade ainda é baixa. Poderíamos estar produzindo bem mais por cada caixa”,
garante Sitonho. Um dos grandes desafios da cooperativa é o capital de giro para adquirir o mel dos
cooperados. A COMAPI tem usado a operação de ACC – Adiantamento de Contrato de Câmbio,
¹⁸ http://www.unisolbrasil.org.br/
¹⁹ https://www.icco-cooperation.org/en/ ²¹ https://www.melwenzel.com/
²⁰ http://www.casaapis.com.br/ ²² http://www.lamexfoods.eu/index.php/honey/honey
52 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 53
associados que vendem o mel para atravessadores na hora da necessidade. No caso da Casa
Apis foi a FBB que concedeu um recurso a fundo perdido de R$ 400.000,00 para a criação
de um fundo rotativo inicial. Na AAPI e posteriormente COMAPI, em Simplício Mendes, foi
a Diocese que bancou a compra do mel. Vale ressaltar que a relação entre os apicultores e
os patrocinadores da Igreja Católica sempre foram diferenciados graças à relação de fiéis e a
gratidão pelo apoio inicial.
-N
o início, as organizações precisam de muito apoio para promover o acesso ao mercado,
a fim de garantir o escoamento da mercadoria e o fluxo de renda. Praticamente todo o
desenvolvimento da produção em Picos se deve à atuação da Wenzel, que garantia a compra
do mel, enquanto que, em Simplício Mendes, foi a Diocese que cuidava da comercialização.
- O apoio técnico não pode ser oferecido apenas no início. Em todos os casos, tanto nas
cooperativas quanto no Sebrae e nos entrepostos comerciais, foi mencionado de forma
enfática de que os apicultores precisam de apoio técnico constante e repetido. Existe uma
certa rotatividade entre os apicultores até que se firmem como produtores sérios: uns
saem da atividade, outros entram. Porém, mesmo os que já participaram de capacitações,
Figura 16 - Apicultor tirando quadro com favo de mel de uma colmeia. Foto: Envato Elements/Grafvision por falta de aplicação das técnicas repassadas, se esquecem e precisam de reforço e
reciclagem.
nas exportações. Em 2018, por exemplo, conseguiram R$800.000,00 por este caminho. No - Ainda existe muito potencial de melhoria na produtividade na região.
entanto, para comprar toda matéria-prima dos associados seriam necessários R$ 2,5 milhões.
- O Sebrae acompanha o setor há mais de dez anos, reconhecendo a importância deste para
No seu processo de desenvolvimento, a COMAPI contou com o apoio técnico de instituições a região do semiárido, contrariando um pouco sua política de projetos de no máximo 3
como SEBRAE, UFPI, SDR – Secretaria de Desenvolvimento Rural do governo do estado, anos.
Federação de Apicultura do Piauí – FEAPI, EMBRAPA, entre outros. A parceria com a UFPI
gerou o primeiro curso de apicultura do País. - No Piauí existem alguns apicultores profissionais que praticam a migração de enxames,
principalmente para o Maranhão, visando cobrir os períodos da entressafra.
Perfil socioeconômico dos associados é representativo das organizações de apicultura
da região: pequenos agricultores, sendo a principal atividade a agricultura e criação de - No que diz respeito a outros produtos, além do mel, somente a Mel Wenzel investiu
pequenos animais, com baixo nível de escolaridade. Entre os benefícios alcançados pelo em uma gama mais extensa de itens, incluindo extrato de própolis, geleia real, pólen e
projeto podem ser enumerados: melhoria da renda dos associados, melhoria do nível de compostos.
organização das comunidades, melhoria da qualidade de vida, melhoria do relacionamento
- A temática de agrotóxicos pouco impacta as principais regiões de pasto apícola do Centro
do agricultor com o meio ambiente, redução do êxodo rural, retenção e retorno dos jovens
Sul do estado do Piauí, visto que a maioria da vegetação é silvestre, e a agricultura de
para atividades no campo.
extensão não está presente. Esta última somente começa a ter influência nas regiões de
fronteira com a Bahia e o Maranhão.
Principais aprendizados no estado do Piauí - Embora continuem existindo bastante oportunidades para melhoria, pode se afirmar
que a cadeia de valor do mel de abelha no Piauí pode ser considerada consolidada,
- O pequeno agricultor visa principalmente ao ganho financeiro no curto prazo.
principalmente na região centro sul do estado, dispondo desde insumos e expertise de
- Por esse motivo, um dos principais desafios das cooperativas no início é conseguir o capital serviços de apoio à cadeia produtiva até o acesso aos mercados nacional e internacional
de giro para compra de estoque dos apicultores, sob pena de ter sua força esvaziada por com produtos de alta qualidade em volumes significativos.
54 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 55
²³ Relatório sobre Aceleradores e Direcionadores para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável no Estado do Piauí, elaborado pelo PNUD em 2018. Tabela 7 - Breve análise de aderência da cadeia do mel para com os aceleradores das ODS identificados no Piauí
56 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 57
3.3. BAHIA A APACAME - Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Europeias—
registra as seguintes associações e cooperativas de produtores no estado da Bahia:
De acordo com dados do último Censo agropecuário do IBGE de 2017, a Bahia apresenta os
seguintes dados na apicultura:
NOME UF MUNICÍPIO
Associação dos Criadores de Apis e Melíponas de Alagoinhas BA Alagoinhas
Associação dos Apicultores de Andaraã BA Andaraã
TABELA 6622 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS COM APICULTURA, QUANTIDADE DE MEL E CERA AAMA - Associação dos Apicultores de Meliponocultores de Araci BA Araci
DE ABELHA VENDIDOS E TOTAL DE CAIXAS DE ABELHA - RESULTADOS PRELIMINARES 2017 Associação de Apicultores do Estado da Bahia BA Salvador
Associação dos Produtores Apícolas de Banzaê BA Banzaê
ANO - 2017 Associação dos Apicultores de Barra BA Barra
UNIDADE DA FEDERAÇÃO E MUNICÍPIO
Associação de Apicultores de Biritinga BA Biritinga
VARIÁVEL - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS COM APICULTURA (UNIDADES) Associação de Apicultura do Recôncavo Baiano BA Cachoeira
BAHIA 7.438 AAPIC - Associação dos Apicultores de Canudos BA Canudos
ILHEUS (BA) 7 Associação dos Apicultores de Casa Nova BA Casanova
ITACARÉ (BA) 7 Associação dos Criadores de Abelhas Mansas de Chorrocho BA Chorrocho
UNA (BA) 6 Associação dos Apicultores de Quixaba BA Cícero Dantas
CANAVIEIRAS (BA) 2 COAPIS - Cooperativa dos Apicultores do Sertão LTDA BA Cícero Dantas
VALENÇA (BA) 4
APISCI - Associação dos Apicultores de Cipó BA Cipó
PORTO SEGURO (BA) 7
AARC - Associação dos Apicultores da Região Cacaueira BA Coaraci
SANTA CRUZ CABRÁLIA (BA) 3
BELMONTE (BA) 4 Associação Apícola da Bahia BA Cruz das Almas
Associação dos Apicultores de Entre Rios BA Entre Rios
VARIÁVEL - NÚMERO DE CAIXAS DE COLMEIAS NOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS (UNIDADES) ASSAPEC - Associação dos Apicultores do Município BA Euclides da Cunha
de Euclides da Cunha
BAHIA 185.785
AAPIG - Associação dos Apicultores de Glória BA Glória
ILHÉUS (BA) 381
Cooafan - Cooperativa de Agricultores Familiares BA Heliópolis
ITACARÉ (BA) 120
UNA (BA) 135 do Nordeste da Bahia
CANAVIEIRAS (BA) X* AAPI - Associação dos Apicultores de Inhambupe BA Inhambupe
VALENÇA (BA) 72 COOAPI - Cooperativa dos Apicultores de Inhambupe BA Inhambupe
PORTO SEGURO (BA) 113 API - Associação dos Apicultores de Ipirá BA Ipirá
SANTA CRUZ CABRÁLIA (BA) 105 APISBELA - Associação Apícola de Itabela BA Itabela
BELMONTE (BA) 89 Cooperativa Apícola de Jacobina BA Jacobina
COOPERAPIS - Cooperativa dos Apicultores Integrados BA Jeremoabo
VARIÁVEL - QUANTIDADE VENDIDA DE MEL (TONELADAS) do Sertão da Bahia
BAHIA 2.153,6 Associação dos Apicultores de Jeremoabo BA Jeremoabo
ILHEUS (BA) 2,649 APAEB – Associação de Desenvolvimento Sustentável BA Jundiaí
ITACARÉ (BA) 1,95 e Solidário da Região Sisaleira
UNA (BA) 2,06 Associação dos Apicultores de São Francisco BA Macururé
CANAVIEIRAS (BA) X*
Associação dos Apicultores de Mairi BA Mairi
VALENÇA (BA) 0,55
AMAVIDA - Associação Manoel Vitorinense de Apicultores BA Manoel Vitorino
PORTO SEGURO (BA) 5,49
SANTA CRUZ CABRÁLIA (BA) 1 AMA-ME - Associação Maracaense de Apicultores e BA Maracás
BELMONTE (BA) 1,19 Meliponicultores Ambientalistas
AMAMOS - Associação dos Meliponicultores BA Monte Santo
* Itens com menos de 3 entradas não são computados de Apicultores do Monte Santo
Tabela 8 - Número de estabelecimentos agropecuários com apicultura na BA. Fonte: IBGE - Censo Agropecuário
APICOM - Associação Apícola de Mucuri BA Mucuri
58 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 59
O pólen é retirado de diversas flores e, por isso, tem cores e sabores variados. Na alimentação “Um formão que cai no chão, uma fumaça que vai excessivamente para o pólen, tudo é detectado
humana, pode fazer parte de diversas receitas. nas nossas análises”, diz Lídia. “Isso tem dado uma qualidade para o trabalho dos apicultores, está
retornando financeiramente, empoderando famílias”, completa.
“Cabe em várias preparações, do doce ao salgado, e até no jejum”, diz Fabíola Nejar, nutricionista
Os criadores vendem pólen por R$ 65 o quilo. A atividade não impede o produtor de explorar
da Unitau.
outras fontes de renda no sítio.
O jeito mais comum de se consumir é in natura. O produto tem uma crocância e um pouco de
acidez. Pode entrar na mistura da receita, ou no acabamento. “O ideal é finalizar como pólen, Agricultura familiar da Bahia tem primeira
para evitar a perda de nutrientes", segundo Fabíola. unidade de beneficiamento de pólen apícola²⁷
A produção na ilha é dividida em 3 apiários, com cerca de 120 colmeias. José Roberto conta que A Cooperativa Canavieirense de Apicultores (Coaper), de Canavieiras, litoral Sul da Bahia, está
escolheu uma ilha para fazer a produção por falta de área disponível no continente. “As áreas apostando na produção de pólen, alimento que vem se destacando por suas propriedades e
próximas da cidade já estavam todas saturadas por apicultores. O potencial da ilha era bom, benefícios à saúde humana. O produto foi eleito por especialistas do Congresso Brasileiro de
uma área descansada, uma diversidade muito grande de palmeiras.”
²⁷ G
overno do Estado da Bahia. Agricultura familiar da Bahia tem primeira unidade de beneficiamento de pólen apícola. Governo do Estado da Bahia,
²⁶ Globo Rural. Apicultores do Litoral da Bahia investem na produção de pólen. G1 Globo, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/ 2019. Disponível em: http://www.ba.gov.br/noticias/agricultura-familiar-da-bahia-tem-primeira-unidade-de-beneficiamento-de-polen-apicola. Acesso
agronegocios/globo-rural/noticia/2019/05/26/apicultores-do-litoral-da-bahia-investem-na-producao-de-polen.ghtml. Acesso em 28/08/2019. em 28/08/2019.
62 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 63
Apicultores como o melhor pólen do Brasil e, com apoio do Governo da Bahia, estará presente Só o projeto APIS - Apicultura Integrada e Sustentável, no Extremo Sul da Bahia que reúne sete
na Naturaltech 2019, maior feira de produtos saudáveis da América Latina, de 5 a 8 de junho, associações, em oito municípios da região, já consegue comemorar o aumento na produção de
em São Paulo. mel da Cooperativa de Apicultura e Meliponicultura do Extremo Sul da Bahia (Coopamel). No
início, a produção de mel da Cooperativa era de 60 toneladas ao ano, com extração de 20 quilos
A Coaper possui a primeira unidade de beneficiamento de pólen apícola da agricultura familiar do
por caixa de abelha. Atualmente, os apicultores conseguem produzir em média 40 quilos por
País e é formada por 26 cooperados, que possuem de 35 a 40 caixas de abelhas em suas propriedades
caixa. Esse projeto beneficia apicultores de Teixeira de Freitas, Nova Viçosa, Mucuri, Itabela,
e fornecem a matéria-prima utilizada pela cooperativa. Toda a produção é realizada, desde o apiário
Guaratinga, Itanhém, Jucuruçu e Eunápolis.
até o envase, dentro das Normas de Boas Práticas implantadas com a supervisão da Universidade de
Taubaté (Unitau), em São Paulo, e é fiscalizada pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). Resultados das visitas e entrevistas
Na cooperativa são produzidos cerca de 600 quilos de pólen por mês, e os produtos são No Estado da Bahia foram realizadas as seguintes visitas e entrevistas:
comercializados com a marca Natuflora, em todo o Território Nacional, especialmente no Sul e
Sudeste.
Visitas de campo
Bahia Produtiva
A Coaper foi selecionada no edital de Qualificação de Agroindústrias da Agricultura Familiar
do projeto Bahia Produtiva, executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional
(CAR), empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), por meio de acordo de ESTADO MUNICÍPIOS VISITAS/ENCONTROS REALIZADOS PERÍODO
empréstimo com o Banco Mundial. Estão sendo investidos R$ 301,1 mil para implantação de BAHIA Eunápolis, Veracel – Estação Ecológica Veracel
estação de energia solar e a qualificação da unidade de beneficiamento de mel. Porto Seguro Sindicato Rural de Eunápolis – reunião 07 a 09.10
com representantes de cinco
Plano de Ação da Apicultura forma comitês gestores associações de apicultores, Sebrae e BNB
municipais e territoriais da Costa do Descobrimento²⁸ Sebrae – escritório regional de Eunápolis
Durante o mês de julho foram formados os Comitês Gestores Municipais da Apicultura nos Tabela 10 - Visitas de Campo - 2019
municípios de Eunápolis, Guaratinga, Itabela, Itagimirim e Porto Seguro. Também foi criado o
Comitê Gestor Territorial da Apicultura da Costa do Descobrimento com representantes dos
agentes econômicos, poder público e entidades representativas do setor agropecuário.
O Programa de Desenvolvimento Territorial do Banco do Nordeste (PRODETER) é uma
Outras entrevistas realizadas remotamente
estratégia para contribuir com o desenvolvimento local e territorial por meio da organização, ESTADO PESSOAS ENTREVISTADAS ORGANIZAÇÃO
fortalecimento e elevação das atividades econômicas da região.
BAHIA Julianna Alves Torres, IFBA - Campus Uruçuca
As próximas etapas, que acontecerão durante os meses de agosto e setembro, serão para Professora
identificar um problema da atividade apícola no Território Costa do Descobrimento e traçar
Ediney de Oliveira CEPLAC – Comissão Executiva do Plano e Lavoura
objetivos, metas e ações de superação do problema estabelecido.
Magalhães, Pesquisador Cacaueira (www.ceplac.gov.br)
Para os representantes dos Apicultores o Plano de Ação chega em um momento oportuno uma vez Roberto Vilela, Tabôa – ONG local do distrito de Serra Grande
que está em fase de inauguração o entreposto em Eunápolis, cursos para diversificação de produtos Diretor executivo (www.taboa.org.br)
apícolas, além de possibilitar com este programa a possibilidade de ampliação do fornecimento de
Marivanda Eloy, Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) da Bahia
mel na merenda escolar e abertura de novos mercados consumidores do produto.
coordenadora
do programa de apicultura
Apicultura é alternativa rentável para o produtor baiano²⁹
SANTA Dr. Célio Hercílio Prodapys (www.prodapys.com.br)
Na Bahia, a profissionalização do setor passa pela organização de toda a cadeia produtiva, daí a
CATARINA Marcos da Silva,
importância de se organizar cooperativas de apicultores para que se abram canais de exportações
proprietário e presidente
e esse é um dos objetivos da atuação do Sebrae na Mesorregião Norte, Microrregião de Eunápolis
e Microrregião de Ilhéus. RIO DE Tereza Corção, Presidente Instituto Maniva (www.institutomaniva.org),
JANEIRO proprietária do restaurante ‘O Navegador’ e
²⁸ BARBOSA, P. Plano de Ação da Apicultura forma comitês gestores municipais e territorial da Costa do Descobrimento. Rota 51, 2019. Disponível em:
https://www.rota51.com/home/plano-de-acao-da-apicultura-forma-comites-gestores-municipais-e-territorial-da-costa-do-descobrimento/. Acesso em membro do grupo dos “Ecochefes’ do SindiRio
28/08/2019. (Sindicato dos Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro)
²⁹ União dos Municípios da Bahia. Apicultura é alternativa rentável para produtor baiano. União dos Municípios da Bahia, 2017. Disponível em: http://
www.upb.org.br/noticias/apicultura-e-alternativa-rentavel-para-o-produtor-baiano. Acesso em 28/08/2019. Tabela 11 - Entrevistas na BA - 2019
64 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 65
O Sebrae apoiou a apicultura na região Sul da Bahia por muitos anos. Agora acompanha De acordo com Izabel Bianchi, especialista em responsabilidade social, a Veracel apoia hoje sete
o raciocínio da SDR de apoiar as regiões de maior potencial de produção, com exceção do associações e cooperativas da região e lhes permite o acesso às suas áreas de plantio de eucalipto
apoio à implantação do entreposto em Eunápolis, por meio da elaboração do plano de e de reserva para colocar seus apiários. As informações fornecidas pela equipe da Veracel revelam
negócio e o apoio à comercialização. um total de 164 apicultores envolvidos, R$ 1,48 milhão gerado em receitas nas associações, e 127,5
toneladas de mel, produzidos a um valor médio de R$ 11,67/kg. As associações e produtores que
A principal instituição de apoio à apicultura naquela região no momento é a empresa
conseguem vender seus produtos envasados ao varejo ou diretamente ao consumidor final,
Veracel, indústria de celulose, por meio da equipe de gestão da Reserva Particular de
conseguiram alcançar preços entre R$ 20,00 e R$ 25,00 por kg. O restante vendeu a granel para os
Proteção Natural (RPPN) ‘Estação Veracel’, que ocupa uma área de 6.069 hectares, que se
compradores dos grandes entrepostos por preços entre R$ 6,50 e R$ 7,75.
estendem pelos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, sendo um santuário
para as espécies nativas da Mata Atlântica. A equipe demonstra grande interesse em Nesse contexto, os dados da AAPITA se destacam porque incluem as vendas da empresa de um dos
apoiar iniciativas que promovam um impacto positivo no meio ambiente da região, tais associados, a Apis Valverde³⁰ , que possui uma indústria de beneficiamento estruturada, com SIF
como a apicultura. e marca para o varejo (Puro Mel). Por sua vez, o principal desafio dos grupos produtores que ainda
não possuem estrutura de beneficiamento e envase é o acesso ao mercado, sendo obrigados a
venderem sua produção aos compradores dos grandes entrepostos, que seguem as tendências do
mercado internacional, que atualmente está em baixa.
VERACEL – LEVANTAMENTO APICULTURA 2018
ASSOCIAÇÃO QTD APICULTORES RECEITA R$ PRODUÇÃO KG R$/KG Além desses grupos produtores a Veracel ainda apoia a COAPER – Cooperativa de Apicultores de
Canavieiras, já mencionada anteriormente, que é única unidade de beneficiamento de pólen no
AAPITA Associação dos Apicultores 19 823.625,00 41.350 19,92 Brasil com selo do SIF, envasando em média sete toneladas por ano e comercializando em todo
de Itagimirim* País sob a marca Natuflora³¹ por meio de distribuidores e diretamente ao varejo. A COAPER ainda
APISBELA Associação Apícola de Itabela 23 35.750 5.500 6,50 produz em torno de 600kg de própolis vermelho, que possui o maior valor de mercado graças ao
fato de ter a maior concentração de isoflavona, substância com ação anticancerígena e bactericida,
ASAPMAG Associação de Apicultores 52 98.000,00 12.650 7,75
além de estrutura molecular parecida com a do estrogênio, o hormônio feminino que ajuda na
e Meio Ambiente de Guaratinga
ovulação. Esse produto é vendido sem beneficiamento para indústrias, entrepostos e tradings
ASOAPE Associação dos Apicultores 62 482.900 67.650 7,14 especializados, boa parte sendo exportada para países como a Alemanha e o Japão que valorizam
de Eunápolis muito os tratamentos naturais.
APROBU Associação dos Micros, Pequenos, 3 20.000 (MEL) 800 25,00
Médios Produtores Rurais e No segmento de mel, a COAPER tem uma atuação mais tímida, produzindo apenas nove toneladas
Moradores do Rio Ubu 7.500 (PÓLEN) 100 75,00 por meio da apicultura migratória, explorando uma região a 100km de distância nas reservas
AABC Associação dos Apicultores e 4 6.000 300 20,00 da Veracel, visto que sua região de origem não possui um pasto apícola adequado para uma boa
Agricultores de Boca do Córrego produção de mel.
AAPIBEL Associação de Apicultores 1 1.250 50 25,00
Todos estes grupos produtores são monitorados muito de perto pela equipe da Veracel, que
do Município de Belmonte
identifica minuciosamente a localização dos apiários ao longo de seus territórios, conforme pode
TOTAL 164 1.475.025,00 128.400 11,49 ser verificado no mapa na página seguinte.
* Inclui a empresa Apis Valverde
³⁰ http://www.apisvalverde.com.br/
Tabela 12 - Veracel - Levantamento Apicultura 2018. Fonte: Estação Veracel ³¹ https://www.polennatuflora.com.br/loja/
66 - Estudo de viabilidade da cadeia de valor de mel de abelha REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 67
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produtores da região, é a Prodapys³² de Santa Catarina, que foi fundada e é liderada pelo
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*Fonte: FUNAI DATA: 24/01/2019
³² http://www.prodapys.com.br/pagina-inicial
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Embora a empresa ofereça uma grande variedade de produtos com base em mel, 99% “O Agroamigo é o Programa de Microfinança Rural do Banco do Nordeste que tem como
do mel que compram é destinado à exportação em que quem determina o preço são os objetivo melhorar o perfil social e econômico do(a) agricultor(a) familiar do Nordeste e
importadores. Célio lamenta: “Infelizmente temos que adequar o preço de compra com norte de Minas Gerais e Espírito Santo, cuja operacionalização conta com a parceria do
o preço estabelecido para exportação. No momento, estamos enfrentando uma grande Instituto Nordeste Cidadania (Inec).
crise. Os preços caíram pela metade. Antes exportávamos o mel a US$4,60 e pagávamos aos
apicultores algo ao redor de R$ 12,0/kg. Agora o preço de exportação caiu para US1,8.” Tem como característica a presença nas comunidades rurais por meio dos Agentes de
Microcrédito e atende, de forma pioneira no Brasil, a milhares de agricultores(as) familiares,
Outros fatores contribuem para esta situação: Antes o Brasil era referência mundial enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf),
na produção de mel orgânico, mas infelizmente perdeu credibilidade provocada pelo com exceção dos grupos A e A/C.
contrabando de mel do Uruguai e a exportação como se fosse mel brasileiro e orgânico,
realizado por entrepostos sem visão de futuro e com a cooperação de muitos apicultores A metodologia inovadora do Agroamigo impulsiona a sustentabilidade dos
que auxiliavam na legalização do mel contrabandeado. Outro fator que comprometeu a empreendimentos rurais, a equidade de gênero no campo, a inclusão financeira
imagem da produção orgânica do Brasil foi a liberação e uso exagerado de agrotóxicos que dos(as) agricultores(as) familiares e a redução de desigualdades, apoiando as atividades
têm contaminado o mel, principalmente com glifosato, em diversas regiões do País. agropecuárias e não agropecuárias, desenvolvidas por pescadores artesanais, apicultores,
artesãos, criadores de animais e fruticultores, entre outros.”
O executivo ainda complementa: “E um dos maiores problemas também está na produção
média brasileira, que não chega a 20kg/colmeia/ano. Visitei recentemente o Canadá e a As informações do programa no website do banco mostram que o agroamigo é bastante
média de produção ultrapassa 150 kg/colmeia/ano. Falta capacitar o apicultor brasileiro e aderente aos ODS das Nações Unidas:
falta assistência técnica.” No entanto, esta profissionalização tem que partir do produtor. “Aderência aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Poucos apicultores trocam rainhas, trocam favos velhos, criam pastagem apícola para
épocas de escassez. “Como poderemos ter grande produção por colmeia, se o apicultor em O Agroamigo está alinhado aos seguintes desafios internacionais, a que o Banco
sua maioria não procura se especializar?” do Nordeste aderiu na qualidade de instituição propulsora do desenvolvimento da
Região, definidos como Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O peso dos preços internacionais se explica também pelo baixo consumo de mel no
mercado brasileiro em que o mel ainda é consumido mais como medicamento do que ODS contemplados na ação do Agroamigo:
como alimento regular, como nos EUA e a Europa. O excedente de produção precisa ser
escoado para o mercado internacional, que acaba ditando os preços. 1 - Erradicação da Pobreza
De acordo com Célio, não há ainda uma tendência clara em relação ao mercado 2 - Fome Zero e Agricultura Sustentável
internacional, “Mas todo o agronegócio tem altos e baixos com frequência. Esperamos que
5 - Igualdade de Gênero
o mercado reaja no médio prazo”.
8 - Trabalho decente e Crescimento Econômico
A estratégia de comercialização para o entreposto em Eunápolis, cujo investimento é
arcado pelo governo do estado, é ter como mercado alvo o varejo e o foodservice e hotelaria 10 - Redução das Desigualdades
local e regional, visto que eles se beneficiariam com a isenção de ICMS. Ao mesmo tempo,
o mercado baiano nas regiões ligadas ao turismo é significativo e, de acordo com uma 12 - Consumo e Produção Responsáveis”
pesquisa realizada pelo Sebrae há pouco anos, aberto para receber produtos locais, desde
De acordo com o gerente geral da agência Eunápolis, Cristiano Nascimento, presente na
que estes atendam aos padrões de qualidade e embalagens esperados pela clientela. Para
reunião com os apicultores, foram concedidos 150 financiamento no modelo agroamigo
isso, o projeto pretende trabalhar com representantes de venda que já acessam estes
para projetos de apicultores, com valores até R$ 7.500,00, nos últimos três anos. No
segmentos com produtos complementares, tais como polpa de frutas.
entanto, ele reconhece que há várias barreiras para aumentar este número. Um dos
BNB – Banco do Nordeste principais dificultadores é o fato de que um bom número de apicultores não é proprietário
dos terrenos onde suas colmeias estão instaladas.
O BNB é um protagonista ativo na região, participando do comitê gestor de apicultura
da região e da câmara temática. Além do PRODETER – Programa de Desenvolvimento Para as associações, o desafio é conseguir o financiamento de capital de giro para a
Territorial do Nordeste, onde o banco exerce um papel de Agente de Desenvolvimento aquisição da matéria-prima, que muitas vezes só pode ser liberado junto com a aquisição
junto aos municípios, o Banco do Nordeste oferece uma linha especial para agricultores de algum bem de capital como garantia.
familiares que estão enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Nos municípios ao norte de Canavieiras não foram encontradas evidências de apicultura
Familiar (Pronaf), chamado Agroamigo³³:
organizada. Por sua vez, nesta região existe um crescente interesse em promover a
meliponicultura. A professora de apicultura, meliponicultura e agropecuária do IF Bahiano,
³³ https://www.bnb.gov.br/agroamigo campus Uruçuca, Julianna Alves Torres, está pesquisando sobre abelhas nativas da Mata
70 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 71
Atlântica há mais de quatro anos e está registrando perdas de várias espécies devido ao do Agronegócio de Abelhas – CNAA, juntamente com diversos parceiros e apoiadores
desmatamento. De acordo com ela, ainda há poucos criadores das espécies das abelhas como MAPA/CEPLAC, IF baiano – Campus Uruçuca, Universidade Estadual de Santa Cruz,
sem ferrão na região. Produtores que têm a produção de mel por objetivo, há em torno de Universidade Federal do Sul da Bahia, Universidade Estadual de Goiás – Campus São Luís de
12, enquanto que outros 50 visam à produção de caixas com enxames como negócio para Monte Belos, Instituto do Mel e Chocolate, Prefeitura Municipal de Itabuna, Veracel, entre
atender à demanda crescente na região. Esta demanda se explicaria mais pelo interesse outros. O foco do evento foi principalmente no incentivo e apoio técnico aos produtores,
nos efeitos positivos na polinização e, consequentemente, na produtividade das culturas com atenção especial à meliponicultura, com ampla participação do Brasil inteiro.
presentes na região, além da manutenção da biodiversidade em longo prazo, sendo uma
motivação de ganho financeiro direto por meio da produção de mel. Nesse contexto vale destacar a atuação do professor Ediney de Oliveira Magalhães, da
Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC³⁴, um órgão do Ministério da
Embora o interesse pela meliponicultura esteja surgindo em uma região de cacauicultura, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, dedicada ao setor de cacau, com sede em Brasília-DF
não há oportunidade de conexão direta entre a cadeia e a produção de cacau, visto que a e atuação em seis estados do Brasil: Bahia, Espírito Santo, Pará, Amazonas, Rondônia e Mato
polinização do cacau é realizada por uma mosca específica, dispensando o trabalho das Grosso. Tecnicamente, o órgão não atuaria no segmento da apicultura e meliponicultura,
abelhas. Porém, existe a cabruca, a cobertura vegetal da Mata Atlântica que é usada para dar no entanto, a dedicação pessoal de Ediney ao setor, reconhecida por todas as pessoas e
sombra à planta do cacau e pode servir de pasto. Alguns produtores também plantam cajá instituições na região, fez com que a temática entrasse na pauta, realizando vários cursos e
para o sombreamento. eventos, inclusive o congresso mencionado acima, além de apoiar as iniciativas de outras
entidades na região.
Uma das principais características que diferenciam as abelhas meliponis da apis é que
enquanto a última é onívora e adaptável a qualquer bioma, podendo, por isso, ser usada No que diz respeito ao desenvolvimento do segmento, as principais atividades no
facilmente na migração, a primeira tem floradas de preferência e não pode mudar de região momento são de capacitação de mais agricultores para entrarem na produção. Neste
porque são adaptadas ao clima e à flora. É até proibido retirar as espécies nativas do bioma, sentido, uma importante iniciativa está sendo iniciada no município de Serra Grande, junto
e elas não se adaptariam em outros ambientes. Para aumentar a produção é preciso captar com a organização comunitária sem fins lucrativos ‘Tabôa’, onde há uma comunidade
enxames e duplicar em cada região. muito aberta para valorização da sociobiodiversidade e a produção e economia sustentável.
Outra característica que diferencia as meliponis é o fato de que cada abelha dá um Este projeto abrangeria a área de atuação do IF Bahiano que se estende principalmente aos
sabor diferente ao mel, graças a enzimas diferentes, tornando-as tão valorizadas na alta municípios de Gandú, Ilheus, Itabuna, Uma, Canavieiras, Itacaré. Os principais parceiros
gastronomia que hoje constitui o principal mercado. Os chefes da alta cozinha apreciam as para um projeto de meliponicultura na região mencionados incluíram: as organizações
qualidades organolépticas que podem dar aquele toque especial a seus pratos sofisticados. sem fins lucrativos Taboa, Instituto Arapyaú e Instituto Humanize, Associação de
No entanto, apesar deste potencial não existe nenhum esforço de comercialização Meliponicultores do Sul da Bahia, AMESUBA³⁵, a UF Sul da BA, UE Santa Cruz, Sebrae Ilhéus
direcionado. Por sua vez, a produção atual da região é toda absorvida pela demanda e Prefeituras.
espontânea que vem em busca do produto, por exemplo, em um festival gastronômico
realizado recentemente em Serra Grande. A Tabôa³⁶ lançou, em 2019, um projeto para desenvolvimento da meliponicultura na região
Sul da Bahia, de acordo com seu diretor executivo, Roberto Vilela. A organização fomenta
Os produtos e/ou benefícios da meliponicultura incluem: Mel, Pólen (chamado samburá, iniciativas de base comunitária e empreendimentos socioeconômicos, que valorizam
muito valorizado), própolis, venda de enxames, aluguel para polinização. a cultura local, a diversidade e contribuem para a geração de prosperidade e qualidade
de vida. Iniciou sua atuação em abril de 2015, no distrito de Serra Grande, Uruçuca/BA, e
De acordo com a professora Julianna, os seguintes preços são alcançados pelos
em comunidades do entorno do Parque Estadual da Serra do Conduru (PESC). A partir de
meliponicultores para o mel de acordo com a espécie e aplicação:
2017, ampliou sua atuação para outras comunidades localizadas nos municípios de Ilhéus,
Jataí – produção muito pequena, porém muito valiosa para medicina. Tem propriedades Uruçuca e Itacaré.
oftálmicas para catarata, por exemplo. Pode render R$ 1/ml vendido em frascos de 15ml. No
congresso foi mencionado que um laboratório teria conseguido isolar o princípio ativo para O projeto de apoio à meliponicultura é embasado em uma visão bastante abrangente
usar num colírio. e de longo prazo. Sua ideia é criar uma rede de meliponicultores, especialmente com
agricultores da rede Povos da Mata³⁷ que compreende 700 agricultores em 80 municípios,
Uruçu – é a principal espécie produtora: R$ 200 a 300/kg em potes de 120g e 60g. a partir do núcleo Serra Grande. Ela é a terceira maior rede de certificação participativa de
organicos no país, inspirada no modelo de atuação da rede ECOVIDA³⁸.
Mandaçaia – R$ 150 a 200/kg
³⁴ http://www.ceplac.gov.br/
A professora afirma ainda que não existe ainda uma cadeia de produção estruturada e
³⁵ https://www.facebook.com/meliponarioeapiariocajueiro/posts/1113272995527471/
que não há dados concretos sobre o setor. No entanto, pode se perceber um crescente ³⁶ (http://www.taboa.org.br/index.php)
interesse pelo tema. No início de novembro foi realizado o primeiro congresso de brasileiro ³⁷ https://povosdamata.org.br/sobre-rede/
de apicultura e meliponicultura em Itabuna, BA, com organização do Conselho Nacional ³⁸ http://ecovida.org.br/sobre/
72 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 73
Na primeira experiência de capacitação encontraram baixíssima resistência dos - No segmento da apicultura, as associações e cooperativas se formam a partir de uma
agricultores familiares para aderirem ao projeto, deixando-os bastante animados com massa crítica mínima de produtores em busca de uma organização que lhes possa trazer
a continuação deste. O foco inicial será na abelha Uruçu que é nativa da região e está benefícios que isoladamente dificilmente poderiam conseguir, tais como infraestrutura
ameaçada de extinção. Nas outras regiões terão de identificar as espécies endêmicas de beneficiamento, apoio financeiro, técnico e institucional mais amplo. Embora alguns
e realizar a captação e multiplicação de enxames porque, como já foi mencionado produtores individuais tenham demonstrado a capacidade de investirem e crescerem na
anteriormente, não funciona levar abelhas para outras regiões. atividade a ponto de criarem suas próprias marcas e indústrias.
O principal objetivo do projeto é proporcionar aos agricultores uma atividade - No segmento da meliponicultura são as associações e entidades já existentes que buscam
complementar, com os benefícios de polinização e aumento de produtividade de suas recursos para promover a atividade e introduzi-la junto aos agricultores familiares e
culturas atuais, a venda de caixas de mel e enxames, além da venda de mel no médio e no determinadas populações das região.
longo prazos.
- Os principais benefícios buscados pelos projetos de meliponicultura são a polinização e o
Inicialmente o projeto deve atender às regiões do Sul e Extremos Sul da Bahia e Rio de consequente aumento de produtividade de culturas produtivas existentes, a preservação
Contas, visto que as prioridades do governo do estado atualmente vão para o sertão e o das espécies e da biodiversidade em geral, uma relação mais sustentável e menos
semiárido e não há atenção para a região do cacau. As atividades devem incluir a legalização impactante dos produtores com o meio ambiente, evitando queimadas e desmatamento.
e ativação de unidades de beneficiamento existentes, porém não exploradas por falta de A comercialização do mel e, eventualmente, do pólen ou própolis, não é prioritária,
recursos para operar ou para a legalização. Outro ponto importante que será trabalhado embora seja bem-vinda como mais uma fonte de renda futura.
no projeto são as relações internas, liderança, etc. para garantir uma gestão profissional,
contratando um profissional especificamente para isso. - A comercialização do mel da meliponicultura, por enquanto, acontece de forma
espontânea e relativamente passiva. Fala-se bastante na alta gastronomia, que aprecia
Atualmente a Tabôa já presta serviços de ATR – Assistência Técnica Rural continuada. De as qualidades organolépticas especiais do mel da meliponis, com relatos de iniciativas
acordo com Roberto, as experiências mostram que não adianta oferecer capacitações individuais de alguns produtores, no entanto, ainda não há uma estratégia coletiva
iniciais sem apoiar a estruturação da cadeia e oferecer também crédito, acesso a estruturada ou uma linha de ação direcionada a um determinado público-alvo claramente
equipamentos, apoio à comercialização, à logística, entre outros. definido.
Há seis meses começaram um projeto de fortalecimento da agroecologia com prazo de - Não há dados concretos sobre a produção da meliponicultura na região.
dois anos para toda a rede dos Povos da Mata, incluindo diagnóstico (ainda não inclui
a meliponicultura), comercialização, uma central de distribuição em São Paulo para os - Alguns técnicos do governo estadual consideram a meliponicultura modismo com pouco
produtos de circuito longo, entre outros. potencial de impacto na geração de renda, quando comparado com a apicultura.
Os principais parceiros da Tabôa, ao longo dos anos, incluem: Fundo brasileiro para a - A apicultura está em um estágio intermediário, com várias associações e uma massa
biodiversidade – Funbio³⁹ , Ministério Público, Instituto Humanize. crítica mínima de produtores e organizações em diversos estágios de maturidade
organizacional para viabilizar um entreposto.
- No entanto, devido ao contexto climático e da flora local, os municípios alvo do presente
Principais aprendizados na região do Sul da Bahia
estudo são pouco beneficiados pelas oportunidades que se apresentam no segmento da
- O potencial para a apicultura depende do potencial do pasto apícola. A região de Eunápolis apicultura.
é favorecida neste sentido pela presença das reservas de Mata Atlântica e das plantações - O segmento da meliponicultura está em um estágio embrionário, porém com um
de eucalipto da Veracel, além de algumas outras culturas de maior presença, tais como potencial interessante para crescer, principalmente graças ao interesse de instituições
o café. As microrregiões litorâneas apresentam um pasto menos rico para a produção reconhecidas, tais como o IF Baiano de Uruçuca e a ONG Tabôa.
de mel. No caso dos produtores de Canavieiras, eles encontraram uma alternativa
economicamente altamente viável, focando na produção de pólen. - Ambos segmentos ainda necessitam de apoio significativo para se estruturarem e se
estabelecerem.
- O perfil dos agricultores engajados na apicultura busca o retorno financeiro no curto e
médio prazos por meio da produção de mel ou outros produtos com valor de mercado
imediato. A disposição de investimento é limitada para a grande maioria, tanto em
material quanto em tempo para capacitação. Eventuais benefícios para o meio ambiente
são efeitos colaterais bem-vindos, porém não entram muito na análise da viabilidade do
negócio.
³⁹ https://www.funbio.org.br/
74 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 75
3.4. PARÁ O Sebrae do Pará informou que está apoiando uma iniciativa de reunir um grupo de 32
produtores no município de Altamira. A primeira reunião aconteceu no mês de julho de 2019.
De acordo com dados do último Censo agropecuário do IBGE de 2017, o estado do Pará apresenta
Nos municípios de da região Sul do estado, Tucumã e São Félix do Xingu, não há conhecimento
os seguintes dados na apicultura:
de projetos estruturados em apoio ao setor apícola. O escritório regional responsável por
aquela região, em Redenção, informou que existe uma produção interessante na região do
TABELA 6622 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS COM APICULTURA, QUANTIDADE DE MEL E CERA Araguaia.
DE ABELHA VENDIDOS E TOTAL DE CAIXAS DE ABELHA - RESULTADOS PRELIMINARES 2017
ANO - 2017 Vale mencionar ainda a iniciativa do Instituto Peabiru, que foi apresentado no capítulo 3.1
UNIDADE DA FEDERAÇÃO E MUNICÍPIO
A seguir são apresentadas notícias recentes e relevantes sobre a apicultura no Pará.
VARIÁVEL - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS COM APICULTURA (UNIDADES)
PARÁ 906 Criadores debatem a produção de mel no Pará⁴⁰
ALTAMIRA (PA) 2 O Pará detém hoje 76% de toda a produção de mel do Norte do País, com mais de 1.000 toneladas
TUCUMÃ (PA) 3 produzidas anualmente. “A produção de mel é uma atividade que só cresce, e o Pará vem ocupando
SÃO FÉLIX DO XINGU (PA) 6 um espaço cada vez maior na atividade”, destaca Gerson de Morais, presidente da Federação das
VARIÁVEL - NÚMERO DE CAIXAS DE COLMEIAS NOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS (UNIDADES) Associações Apícolas do Estado do Pará, que congrega 63 associações de todo o Estado.
PARÁ 19308 Capitão Poço, Viseu e São João de Pirabas são os municípios que concentram o maior número
ALTAMIRA(PA) X de apicultores. “Hoje, todos os 144 municípios paraenses produzem mel, mas esses 3 lideram a
produção”, diz Gérson. Segundo ele, existem em todo o Pará mais de 3 mil produtores de mel,
TUCUMÃ (PA) 15
que exportam cerca de 30% da produção.
SÃO FÉLIX DO XINGU (PA) 39
VARIÁVEL - QUANTIDADE VENDIDA DE MEL (TONELADAS) Agrotóxicos estão acabando com
PARÁ 245,6 abelhas no oeste do Pará⁴¹
ALTAMIRA(PA) X
Venenos aplicados nos monocultivos de soja dizimam colmeias inteiras,
TUCUMÃ (PA) -
afirmam apicultores
SÃO FÉLIX DO XINGU (PA) 0,43
Tabela 13 - Número de estabelecimentos agropecuários com apicultura no PA. Fonte: IBGE - Censo Agropecuário “Chegou a bomba atômica em Belterra. Acabou com as abelhas. Se acabar as abelhas sem
ferrão, acho que o ser humano também está bem próximo de ser extinto de cima da terra,
porque, você sabe, quem faz a polinização são as abelhas sem ferrão.” O tom dramático do
A APACAME - Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Europeias— meliponicultor João do Mel, que há mais de 30 anos cultiva abelhas no município de Belterra,
registra as seguintes associações e cooperativas de produtores no estado do Pará: no oeste do Pará, pode parecer exagerado, mas quando se avalia de perto a situação e ouve-se
os demais produtores de mel, percebe-se um perturbador desaparecimento de abelhas.
NOME UF MUNICÍPIO
Belterra, juntamente com toda a área do município de Mojuí dos Campos e uma parte menor
FAPIC - Federação das Associações Apícolas do Estado do Pará PA Belém do município de Santarém, estão localizadas no que se convencionou se chamar de Planalto
AMEL - Associação dos Apicultores e Apicultoras do Município de Capitão Poço PA Capitão Poço Santareno, cuja altitude média está 150 metros acima da planície amazônica, que circunda toda
AMANT - Associação Margarida de Apicultores e Apicultoras de Nova Timboteua PA Nova Timboteua a região.
APIMOU - Associação dos Apicultores e Apicultoras do Município de Ourém PA Ourém Foi justamente nesse planalto que, a partir do início dos anos 2000, os monocultivos de soja
AAPRI - Associação de Apicultores de Primavera PA Primavera se instalaram, alterando completamente as relações sociais e econômicas, e também afetando
APISAN - Associação dos Apicultores de Santarém Novo PA Santarém Novo o ambiente e a saúde das populações locais. Desde então, ano a ano, a área plantada pelo
Associação de Fomento Agrícola de São João de Pirabas PA São João de Pirabas agronegócio vem aumentando consideravelmente. Até antes da chegada da soja, predominava
no Planalto Santareno a agricultura familiar e o agroextrativismo, e nesse contexto a produção
APISAL - Associação dos Criadores Orgânicos de PA São João de Pirabas
de abelhas se desenvolvia.
Abelhas de São João de Pirabas
AVAPIS - Associação Viseuense de Apicultores PA Viseu ⁴⁰ Diário Online. Criadores debatem a produção de mel no Pará. Diário Online, 2019. Disponível em: https://www.diarioonline.com.br/noticias/para/
noticia-466507-criadores-debatem-a-producao-de-mel-no-para.html. Acesso em 28/08/2019.
Tabela 14 - Lista de Entidades de Apicultura no PA. Fonte: Nordeste & Cerrado; APACAME - Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas ⁴¹ Brasil de Fato. Agrotóxicos estão acabando com abelhas no oeste do Pará. Brasil de Fato, 2019. Disponível em: https://www.brasildefato.com.
Melíficas Européias Disponível em: http://apacame.org.br/site/voe/wpbdp_category/associacoes/ . Acesso em 28 de agosto de 2019 br/2018/08/06/agrotoxicos-estao-acabando-com-abelhas-no-oeste-do-para/. Acesso em 28/08/2019.
76 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 77
Marcus Bezerra, apicultor, e que agora está trabalhando como vigilante em Belterra, ligadas à produção do mel, mas principalmente para abordar esse problema que está
contabiliza prejuízos na sua produção. “A gente chegou a ter até 30 e poucas caixas de realmente se instalando aqui na região, e que ameaça não só a indústria local, artesanal de
abelhas, com produção, de mais ou menos, 30 a 35 litros (de mel) por caixa. Mas aí quando produção do mel, mas ameaça também a própria questão do equilíbrio ambiental, que em
começou o desmatamento e as plantações de soja, por mais que a gente aumente a grande parte depende não só das abelhas mas de outros insetos polinizadores.”
quantidade de colmeias, a produção começou a diminuir, diminuir, diminuir. Chega na
época da plantação de soja, principalmente, você vai numa colmeia, você vê embaixo está No momento, na condição de promotores de justiça do Ministério Público do Estado do Pará
cheio de abelha morta". e objetivando planejar os próximos passos, Túlio Novaes e Ione Nakamura estão juntando
e avaliando estudos técnicos realizados na região, e também ouvindo os produtores de mel.
Engenheiro agrônomo, com doutorado em Ciências Biológicas na área de Botânica, professor Túlio ressalta ainda que dos apicultores com quem que conversaram, "praticamente todos
da UFPA, e especialista em apicultura (criação de abelhas europeias, italianas ou africanizadas) têm a mesma reclamação, o agrotóxico realmente está dizimando as colmeias”.
e em meliponicultura (criação de abelhas nativas e sem ferrão), Plácido Magalhães explica: “E
aí quando se dá um processo desse de desmatamento, e implantação de uma monocultura,
como é o caso da soja, aí o impacto é realmente mais significativo, porque vem todo um Soja e uso excessivo de agrotóxicos modificam
pacote junto, e entre eles, há a questão dos agrotóxicos. As abelhas são muito sensíveis
aos inseticidas principalmente pela capacidade dele de eliminar mesmo as populações de
apicultura no Oeste do Pará⁴²
abelhas. E as abelhas, uma vez em contato com esses inseticidas, com esses produtos, ou elas “O Brasil não teria uma safra de 230, 240 milhões de toneladas se nós não usássemos esses
morrem em campo mesmo, o que se chama de “efeito letal”, ou ainda, tem os “efeitos sub- produtos [os agrotóxicos], porque o Brasil é um país tropical, com alta temperatura, alta
letais”, que é aquele que desorganiza completamente a forma como ela convive, e aí causa umidade, propício a pragas, insetos e plantas daninhas também. Então, é necessário o uso
danos internamente na colônia.” sim, e por isso nós defendemos.”
Diante dessa situação, os produtores de mel da região de Belterra procuraram o Ministério O ministro da Agricultura Blairo Maggi disse essas palavras em entrevista concedida à TV NBR
Público do Estado do Pará, para que providências fossem tomadas. Ione Nakamura, alguns dias após a aprovação do Projeto de Lei 6.299/2002, na Comissão Especial da Câmara
promotora de Justiça agrária, conta como essa demanda foi recebida. "É um impacto que dos Deputados. A proposta, que ainda precisa passar pelo plenário, ficou conhecida como
nós temos observado da atividade com uso intensivo de agrotóxicos aqui na região que tem Pacote do Veneno, pois muda as regras para permitir o uso de novos agrotóxicos no Brasil.
causado sérios impactos aos produtores de mel, às pessoas que trabalham com as abelhas,
e em especialmente ao meio ambiente. Porque a abelha é um animal muito sensível a No Planalto Santareno, localizado no meio da Amazônia, à oeste do estado do Pará, em
alterações ambientais, e ele é um bioindicador por conta disso, ou seja, em locais em que o latitude próxima à linha do equador, com temperaturas e umidades muito elevadas o ano
meio ambiente está equilibrado as abelhas costumam-se desenvolver bem na região.” inteiro, o fenômeno da mortandade de abelhas pode estar indicando que o uso excessivo de
agrotóxicos nas lavouras de soja dos municípios de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos
Mazinho, ainda consegue, em escala muito menor que há dez anos, produzir e vender mel. chegou a um perigoso limite.
Como ele mesmo reconhece, “hoje ninguém pode nem dizer que o mel é orgânico, porque
nós estamos no meio do agrotóxico mesmo, do veneno, podemos dizer. Não tem mais como A bióloga Mayá Schwade avaliou a situação. “O que a gente vê na região do planalto é que está
tirar um mel 100% orgânico, porque [as abelhas] já chegam contaminadas da flor.” havendo uma modificação da forma de agricultura, que era mais tradicional e dependente da
floresta, com uma relação de agroextrativismo, de plantio e de coleta. Agora a gente vê muitas
“Eu tive uma perda, nesses últimos três anos, dumas 50, 60 colmeias de abelhas”, conta áreas tendo corte raso, a remoção de todas as espécies de plantas da floresta. Os recursos vão
Geancarlo Gouveia, da Associação de Meliponicultores do Município de Belterra. “A diminuindo e as abelhas vão tendo que procurar outros locais, também para produzir seus
mortalidade de abelhas cresceu muito. Às vezes, a gente chega até a ver caixas que tu chegas ninhos, onde elas desenvolvem suas colônias. E, no caso de abelhas individuais, que não
lá e o enxame está todo morto. A única justificativa que a gente tem aqui pra isso acontecer vivem de forma coletiva mas precisam de troncos, precisam da terra.
foi o uso de veneno, o agrotóxico.”
O agrônomo, pesquisador e professor da UFPA, Plácido Magalhães, esteve na cidade de
João do Mel, por exemplo, lembra que há 20 anos, quando o agronegócio não havia Santarém em junho, a convite do Ministério Público do Estado do Pará, para participar do
chegado, as abelhas sem ferrão estavam 100% na nossa região. "Uma (abelha) canudo, que é Fórum de Combate aos Impactos Causados pelos Agrotóxicos, ocasião em que fez avaliações
scaptotrigona, produzia numa faixa de seis, sete quilos. Hoje não está produzindo meio quilo. sobre o que está ocorrendo na região. “A coisa começa a complicar para as abelhas porque
Eu tinha numa faixa de 1.500 caixas, eu não tenho agora 200 caixas. Essa que é a realidade, na região de Belterra, onde existem muitos criadores de abelhas, o histórico que a gente
esse é o impacto, eu chamo o “impacto monstruoso”. tem visto é uma diminuição do número de ninhos, as abelhas desaparecendo ou morrendo,
O Fórum de Combate aos Impactos Causados pelos Agrotóxicos realizou em junho de provavelmente por esse contato com esses produtos químicos, ou a própria diminuição da
2018 um evento especialmente voltado para discutir a mortandade de abelhas na região. área que elas forrageavam antes”, conta Plácido.
Túlio Novaes, promotor de Justiça de defesa do consumidor, conta que, diante da grande
mortandade de abelhas, a conexão com o uso de agrotóxicos foi quase imediata. "Tomamos
⁴²Brasil de Fato. Soja e uso excessivo de agrotóxicos modificam apicultura no oeste do Pará. Brasil de Fato, 2019. Disponível em: https://www.
a iniciativa de fazermos um grande encontro para não só dividirmos as informações técnicas brasildefato.com.br/2018/08/08/soja-e-uso-excessivo-de-agrotoxicos-modificam-apicultura-no-oeste-do-para/. Acesso em 28 de agosto de 2019.
78 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 79
Preocupado com o declínio das populações de abelhas em várias regiões do Brasil, o Ibama mudas que estão sendo usadas no reflorestamento das matas. A principal matéria-prima, o
publicou, em 9 de fevereiro de 2017, a Instrução Normativa (IN) n° 02/2017, estabelecendo mel, é usada na produção artesanal de artigos de higiene e cosméticos – sabonetes, shampoos,
“diretrizes, requisitos e procedimentos para a avaliação dos riscos de ingredientes ativos esfoliantes, creme hidratante – comercializados em feiras e eventos do município.
de agrotóxicos para insetos polinizadores.” A norma, destinada a agrotóxicos, é a primeira
a estipular critérios de decisão com base na probabilidade de uma espécie ser afetada pela A bióloga e gestora do projeto, Maria Liliana Rodrigues, aponta o aumento da exploração
exposição a agrotóxicos. sobre a fauna e flora, a exemplo da diminuição dos peixes em razão da pesca em grande
escala por pescadores de outras regiões, com métodos mais eficazes; a diminuição do
Segundo o próprio Ibama, “o objetivo é oferecer mais proteção a abelhas e outros volume das águas dos igarapés, como os maiores desafios enfrentados pelos moradores das
polinizadores.” Mas como o Ibama perde importância nas decisões sobre agrotóxicos, conforme comunidades. E aliado a isso, ela conta que a região precisa também de plano de manejo,
o Projeto de Lei 6.299, de autoria do agora ministro Blairo Maggi, o que sobra, além das abelhas pesquisas e fiscalização, para manter os recursos naturais, que são a base de sobrevivência
mortas embaixo das colmeias, é a capacidade de mobilização da sociedade, dos movimentos e das famílias. “A parceria da Fundação BB com a Asmelc favoreceu a revitalização dos
das pessoas que percebem o que está em jogo. meliponários, o aumento da flora, contribuiu para o maior aproveitamento das frutas da
nossa região e possibilitou a reativação da produção de cosméticos, que por falta de recursos
Famílias do Pará recebem incentivo da FBB e BNDES para tínhamos parado”, disse. Liliana também explica que a cooperativa está em processo de
habilitação para receber o Selo de Inspeção Municipal, que vai permitir a associação vender
revitalização de meliponários, aproveitamento de frutas e os produtos para os mercados da região.
fabricação de cosméticos⁴³
Além da atuação na cadeia produtiva do mel, as famílias também se dedicam a outras
A meliponicultura é uma das atividades desenvolvidas pela Associação dos Meliponicultores atividades como fonte de sobrevivência – pesca, coleta de caranguejos, lavoura de mandioca e
de Curuçá (Asmelc), entidade que recebeu apoio da Fundação Banco do Brasil, instituição as culturas de manga, banana, açaí, cupuaçu, urucum, taperebá, citros, muitas dessas usadas na
associada da Aberje, por meio do edital Ecoforte Extravismo no estado do Pará. O investimento fabricação de polpas de frutas, picolés e sorvetes.
de R$ 525 mil foi destinado no aprimoramento e fortalecimento dos processos produtivos da
associação, com a finalidade de aumentar a renda familiar e melhorar qualidade de vida dos Com o investimento social da Fundação BB, a Asmelc adquiriu kits apicultor, compostos por
associados da entidade. chapéu-véu, suporte de cobertura, chave de fenda, pratos descartáveis, seringa, faca, formão,
balde inox, medidor de pH, bomba de vácuo, além de despolpadoras, seladora, balanças, mesa
O Programa Ecoforte Extrativismo tem como objetivo fortalecer empreendimentos coletivos de lavagem de frutas, freezer, mudas frutíferas, materiais de irrigação, minhocário, assistência
nas fases de produção, beneficiamento ou comercialização de produtos extraídos por meio técnica que permitirá aos agricultores manejo, beneficiamento e comercialização dos produtos.
de práticas sustentáveis na floresta. Os recursos da parceria Fundação Banco do Brasil e Fundo
Amazônia, gerido pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Elias Correa do Mar vive na comunidade do Caju. Ele é artesão e trabalha com a confecção
instituição associada da Aberje, que apoiou 53 projetos, com investimento de R$ 33 milhões, de peças de madeiras e também é meliponicultor. Com as 25 caixas de colmeias que têm
envolvendo mais de 14 mil participantes. instaladas na propriedade, consegue extrair 27 quilos de mel, em três colheitas anuais, nos
meses de julho a janeiro. Cada quilo é vendido por R$ 70. “Meu objetivo é duplicar o número
Meliponicultura é a criação de abelhas sem ferrão, especialmente dos gêneros melipona e de caixas ainda este ano. Nós agora podemos vender também as polpas de frutas que vão
trigona. A atividade já era praticada há muito tempo pelos povos indígenas da América Latina. ajudar na renda, porque temos um lugar para armazenar. Com esse incentivo da Fundação, a
Os objetivos da meliponicultura envolvem a produção e comercialização de colmeias, mel, associação está dando um grande passo na preparação das abelhas e vai melhorar a vida de
pólen, resinas, própolis e outros derivados do mel. todos nós associados”, celebrou.
Os participantes são moradores das comunidades de Santo Antônio, Cabeceiras, Km 50,
Caju, Pingo D’Água, Pedras Grandes e São Pedro, situadas em áreas de mangues e de matas Ciência ajuda produtores de mel paraenses a conquistar seu
e pertencentes à Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá (PA). Entre as ações destacadas
no projeto está prevista a orientação de 30 famílias para trabalhar com as abelhas nativas da primeiro selo de inspeção federal ⁴⁴
Amazônia, as abelhas sem ferrão.
Pesquisadores auxiliaram na criação de um padrão de qualidade para a produção
O projeto também contemplou uma pesquisa científica, realizada em parceria com
Universidade Federal do Pará, para a identificação de espécies de plantas com potencial para a A maior produção de mel de abelhas sem ferrão no Pará alcançou, com o auxílio de
produção de mel e pólen de abelhas sem ferrão, e recomposição florestal nas áreas no entorno pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, os parâmetros físico-químicos para aquisição
dos meliponários das sete comunidades. Com o resultado da pesquisa, a Asmelc adquiriu do selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). A chancela abre acesso à comercialização do
produto em todo o Brasil e até no exterior.
⁴³ Aberje – Rede Brasileira de Comunicação Empresarial. Famílias do Pará recebem incentivo da FBB e BNDES para revitalização de meliponários,
aproveitamento de frutas e fabricação de cosméticos. Aberje, 2019. Disponível em: http://www.aberje.com.br/familias-do-para-recebem-incentivo-da- ⁴⁴ Nordeste rural. Produtores de mel do Pará ganham selo de inspeção federal. Nordeste rural, 2019. Disponível em: https://nordesterural.com.br/
fbb-e-bndes-para-revitalizacao-de-meliponarios-aproveitamento-de-frutas-e-fabricacao-de-cosmeticos/. Acesso em 28/08/2019. produtores-de-mel-do-para-ganham-selo-do-servico-de-inspecao-federal/#. Acesso em 28/08/2019.
80 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 81
O crescimento e valorização da produção de mel se deve, principalmente, a aplicação de troca favorável das abelhas com as plantas, que suprem a colmeia com oferta de proteína
Ciência correta no dia a dia dos meliponicultores paraenses. Isso ajudou para que eles (polén) e de energia (néctar).
recebessem seu primeiro selo de inspeção federal. A chancela abre acesso à comercialização
A legislação brasileira, segundo o pesquisador, trava a venda do mel das abelhas sem ferrão ao
do produto em todo o Brasil e até no exterior.
exigir a desumidificação. As normas existentes no País admitem a produção de uma espécie
A maior produção de mel de abelhas sem ferrão no Pará alcançou, com o auxílio de que é a apis mellífera, conhecida como abelha italiana ou abelha Europa e também chamada
pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, os parâmetros físico-químicos para aquisição de abelha africanizada. Daniel Santiago esclarece que essa é uma abelha mais disseminada no
do selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Aproximadamente uma tonelada e meia de mel mundo. "Em todo lugar que você for existe alguém que tenha a tecnologia da apicultura. Por
da abelha uruçu (Melipona flavolineata) foi colhida por dezenas de meliponicultores de várias conta da grande diversidade de abelha que nós temos, tem uma legislação específica pra cada
regiões do estado, e é a primeira vez que uma produção paraense consegue se habilitar às espécie. E como existe uma grande variação nos requisitos químicos e físicos na legislação,
normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). esses produtos (o mel da abelha sem ferrão) ficam marginalizados", disse.
Esse feito inédito da meliponicultura no Pará atesta a adequação da produção à Existem muitos estudos da meliponicultura. Falta, porém, uma conexão maior dos elos,
regulamentação e, com isso, abre o acesso ao mercado formal de consumo em todo o País e produção, geração de tecnologia, assistência técnica e o mercado. ”O mercado queria um mel.
até para a exportação. “Esse era um elo que faltava para a consolidação e fortalecimento da Como chegar a esse mel se o produto não pode ser comercializado como mel? Para isso os
cadeia produtiva do mel de abelhas nativas no estado”, frisa Daniel Santiago, pesquisador da agentes de assistência técnica chegaram com a demanda pra Embrapa gerar alguma coisa
Embrapa. que pudesse adequar aquele produto deles a uma posição de mercado. Foi desse jeito que a
Embrapa, com o uso das tecnologias desenvolvidas no meliponário, conseguiu levar a uma
O cientista conta que a produção de mel a partir das abelhas melíponas, também conhecidas
realidade que nós temos hoje", assinalou Daniel Santiago.
como sem ferrão, nativas ou indígenas, sempre ocorreu no Pará, mas, nas últimas décadas,
tem conquistado novos produtores e avançado na profissionalização da criação.
Preservação consciente
Além de ser uma ferramenta de geração de tecnologia, o meliponário é um ambiente dirigido
Você conhece o mel das abelhas sem ferrão? ⁴⁵ ao público. "Tem a questão do ensino, abertura pra recepção de públicos diversos, desde o
ensino básico, técnico, graduação. O objetivo é incentivar pequenos produtores e gerar uma
No fim de 2018, cerca de 100 produtores paraenses, organizados por consciência de preservação do meio ambiente nas pessoas um pouco mais jovens”, disse
meio do Instituto Peabiru, conseguiram colher uma tonelada e meia do Daniel.
produto
Daniel Santiago afirmou que as abelhas são importantes para a cadeia alimentar por causa
Meliponicultura é o nome dado para a criação de abelhas nativas sem ferrão. Essas abelhas da polinização, já que 33% dos vegetais servem de alimento aos animais que alimentam o ser
são criadas no meliponário, onde se concentram em uma espécie de caixa e ali produzem o humano. "As abelhas nativas têm uma relação de até 90% de serem os indivíduos que fazem
seu próprio mel. a polinização do vegetal da região amazônica. Além da questão da renda, que fica à margem,
Os meliponicultores colhem resultados de tecnologias geradas em mais de 20 anos de a importância delas na polinização é muito maior. No entanto, o produtor necessita de um
pesquisa da Embrapa com abelhas sem ferrão. Os pesquisadores promovem cursos sobre vislumbre de lucro em curto prazo. Uma contrapartida que a abelha pode deixar para o
sistemas de produção, adaptação de caixas racionais de criação, entre outros. Também se produtor é o mel", explicou.
beneficiam com o projeto Agrobio (Abelhas, variedades crioulas e bioativos agroecológicos: Segundo o engenheiro químico e pesquisador Marcos Oliveira, o mel das abelhas nativas tem
conservação e prospecção da biodiversidade, para gerar renda aos agricultores familiares na umidade mais elevada que o mel da apis mellifera. Em laboratório, a desumidificação coloca
Amazônia Legal). o mel com umidade de 30% das abelhas nativas em 20%, condizente com a determinação do
Segundo o site da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas, o Brasil conta com Ministério da Agricultura. “Eu prefiro o mel natural das nossas abelhas. A Embrapa está junto
aproximadamente 250 espécies de abelhas pertencentes à família Meliponini, que são com outros parceiros lutando pra definir um padrão estadual. Nós já estamos fazendo uma
as abelhas sem ferrão. Algumas espécies são criadas para produção de mel que tem sido articulação junto à Assembleia Legislativa, com produtores, com empresas que trabalham
cada vez mais valorizada, além de cumprir um papel muito importante na polinização de com mel e já foi submetido um projeto de lei que está definindo o que seria a atividade do
plantas cultivadas ou não, permitindo a produção de várias espécies fundamentais para a meliponicultor e o que seria esse mel do meliponicultor”, argumentou Marcos. O projeto está
alimentação humana. em vias de ser colocado em votação.
O pesquisador em Sistema Sustentável Daniel Santiago diz que a diversidade vegetal na “Assim como definimos um padrão para o açaí, tucupi, esse é o ponto seguinte. A partir desse
Amazônia proporciona um maior número de espécie de abelhas. Segundo ele, acontece uma trabalho nós vamos ter um produto que pode chegar à prateleira do supermercado, ou seja,
nós não vamos chegar lá e ter simplesmente um mel da apis melífera, e aí vamos ver o mel da
⁴⁵ PARDAL, B. Você conhece o mel das abelhas sem ferrão? Leia Já, 2019. Disponível em: https://www.leiaja.com/noticias/2019/06/06/voce-conhece-o-
uruçu-cinzenta (uma das sete espécies de abelha sem ferão) na forma como ele é mesmo, sem
mel-das-abelhas-sem-ferrao/. Acesso em 28/08/2019. ser preciso desumidificar”, explicou o químico.
82 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 83
A importância da Embrapa
Os pesquisadores da Embrapa trabalham no processo de desumidificação junto com parceiros.
Outras entrevistas realizadas remotamente
Hoje, cabe ao Instituto Peabiru e à empresa Cetobel o trabalho de produção, de ir à várzea e ESTADO PESSOAS ENTREVISTADAS ORGANIZAÇÃO
de colocar o selo de inspeção federal. Ao obter o selo do SIF, por meio do estabelecimento dos
PARÁ João Meireles, Diretor executivo Instituto Peabiru (peabiru.org.br)
parâmetros físico-químicos, o mel de abelha uruçu, coletado por produtores familiares de cinco
municípios paraenses, foi totalmente adquirido pela empresa paraense Fitobel. Alexandre Alves Costa Sebrae – escritório regional de Redenção (responsável
Luz, Gerente pelos municípios de Tucumã e São Félix do Xingu)
O agroindustrial Raimundo Vogado, proprietário da Fitobel, garante que há mercado nacional
e internacional para o que chamou de “caviar do mel”, ao se referir ao mel de uruçu. Ele lembra Marco Aurélio Almeida,
que há anos tentava acessar esse mercado, mas a ausência de uma cadeia organizada no Pará Analista – Gestor do
inviabilizava o fornecimento regular de matéria-prima. programa de apicultura
“Hoje já dispomos em nossa linha do mel envasado de abelha nativa da Amazônia e estudamos o Gilberto da Silva CPT – Comissão Pastoral da Terra
lançamento de outros produtos, almejando, inclusive, o mercado internacional. O caviar do mel Santos, Agente (www.cptnacional.org.br)
amazônico é admirado e pode ganhar o mundo”, prevê o empresário.
Clarismar Pinto de Oliveira, Prefeitura de Tucumã
O sonho de prosperidade também é compartilhado pelo produtor familiar Cleiton Oliveira Secretário Municipal de
Santos, 34 anos, da comunidade Pingo D’água, município de Curuçá (PA), um dos 102 agricultores Meio Ambiente
familiares responsáveis pela produção histórica de mel de uruçu paraense. Em uma propriedade de
SÃO Kaline Rossi, Fundadora Amazônia Hub (amazoniahub.com)
cerca de dez hectares, a família produz citros, coco, hortaliças, peixes e, mais recentemente, mel de
PAULO e Diretora
abelhas sem ferrão. Animado com o potencial, Cleiton conta que vai investir o dinheiro adquirido
com a comercialização na reforma e aquisição de caixas, para melhorar o meliponário e aumentar RIO DE Tereza Corção, Instituto Maniva (www.institutomaniva.org),
a produção. JANEIRO Presidente proprietária do restaurante ‘O Navegador’ e
A família criava apenas abelhas com ferrão e já conhecia as nativas. A formação do meliponário membro do grupo dos “Ecochefes’ do SindiRio
ganhou corpo depois de ele participar de um curso de sistema produção realizado pela Embrapa (Sindicato dos Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro)
em Belém. Na sequência, ele integrou o projeto Néctar da Amazônia, do Peabiru, com cursos de
Tabela 16 - Entrevistas no PA
formação continuada e assistência técnica e hoje, com outras três famílias da comunidade, tornou-
se referência na região.
As visitas e entrevistas renderam as informações e aprendizados apresentados a seguir.
Orgulhoso de sua produção, ele fala que as abelhas são importantes não só pelo mel, mas pelo
desenvolvimento ambiental e social que proporcionam. “Quem cria abelhas não põe fogo na Nos municípios de Tucumã e São Felix do Xingu, a presença do setor de apicultura ainda
mata, preserva a floresta, organiza-se enquanto comunidade e ainda vê a produção de frutos é insignificante. De acordo com o Secretário de Municipal de Meio Ambiente, Indústria
aumentarem a olhos vivos”, garante, referindo-se à produção de seu pomar aumentada pela e Turismo de Tucumã (Semati), Clarismar Oliveira (Ex- CPT – Comissão Pastoral da
polinização feita pelas abelhas. Terra⁴⁶), existem estimados dez apicultores no município com duas a três caixas cada
um, realizando a atividade de forma bastante artesanal e irregular e visando ao consumo
Resultados das visitas e entrevistas
próprio ou a venda local.
As seguintes visitas e entrevistas foram realizadas nos quatro municípios alvo do Estado do Pará,
Altamira, Medicilândia, Tucumã e São Félix do Xingu: “Não existe um setor organizado. Uns desistem outros entram”, afirma Clarismar. “O
perfil do município é principalmente pecuária. Não há muito pasto apícola, mas há
Visitas de campo
uma crescente fruticultura. Há oito pequenas agroindústrias para polpas”. Por sua vez,
agrotóxicos são uma ameaça para apicultura quando são jogados no pasto para tirar
as ervas daninhas, da mesma forma nas plantações de milho e soja, que está apenas
ESTADO MUNICÍPIOS VISITAS/ENCONTROS REALIZADOS PERÍODO começando a chegar. Segundo o Secretário não há nenhuma iniciativa para estruturar o
setor de apicultura. Em relação à meliponicultura, ele não tem nenhum conhecimento de
PARÁ Altamira, Sebrae – Escritório regional de Altamira – reunião atividades no município.
Medicilândia e com apicultores e representantes do Sebrae e da UFPA 22 a 24.10
Vitória do Xingu Apiário e Entreposto El Dourado Em São Félix do Xingu, o agente da CPT Gilberto da Silva Santos tem conhecimento
(Belo Monte II), Estação de pesquisa de Meliponicultura da UFPA do setor de criação de abelhas. Ele acompanha um projeto que foi implantado pela
Belém Instituto Peabiru ADAFAX – Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Alto Xingu,
onde tinha cinco pessoas com criação de abelhas sem ferrão (jataí e uruçu). No entanto, Já houve projetos anteriores, por exemplo, por meio da APRAR – Associação dos Produtores
não há dados maiores sobre a evolução desta iniciativa. Hoje há uns doze produtores de Rurais de Altamira e Região, junto com o Sindicato Rural e a Casa Familiar Rural, no âmbito
apicultura sendo acompanhados pela CPT, além de alguns outros independentes. A CPT do PDRSX – Projeto de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu, quando instalaram
elaborou um pré-projeto, junto com Ministério Público do Trabalho para incentivar a uma casa de mel e beneficiadora de frutas em Vitória do Xingu. Infelizmente, a ingerência
meliponicultura, com o objetivo de apoiar a sustentabilidade no campo. política inviabilizou o projeto. A estrutura ainda existe, porém não está sendo utilizada.
No entanto, o técnico da CPT afirma que a produção de mel hoje é toda informal ainda. Em relação à meliponicultura é importante registrar o resgate de cerca de 500 enxames da
Um dos produtores possui até 15 caixas de mel, tudo direcionado para o mercado local. O região de impacto da construção da hidrelétrica de Belo Monte que ficaram abandonados
principal pasto apícola na região é o assa peixe, que é, na verdade, uma erva daninha do na Embrapa. Quando sobraram apenas aproximadamente 70, um empresário local aceitou
pasto da pecuária. Por isso que, às vezes, quando um pecuarista vai limpar o pasto para recebê-los em sua fazenda, onde técnicos da universidade estão catalogando e cuidando
colocar gado, jogando defensivo para matar as ervas daninhas, grandes quantidades de destes. No entanto, não há nenhuma produção comercial neste momento.
abelhas são atingidas e mortas.
Atualmente estão se organizando para realizarem o primeiro Seminário sobre a Cadeia
A região ainda é predominantemente de criação de gado, no entanto, a soja está Produtiva do Mel em Altamira – PA, visando envolver a Norte Energia, responsável pelo
chegando. Por sua vez, a fruticultura também está crescendo. projeto de Belo Monte, como patrocinador.
De acordo com Kaline, “O público-alvo consome por estilo de vida que valoriza a
sustentabilidade e a origem da Amazônia, e está disposto a pagar mais por isso.” No entanto, eles
precisam de mais informações sobre os produtos extrativistas para vender melhor a história, e
também para provar a rastreabilidade.
- Regiões muito distantes dos principais polos de produção e consumo enfrentam desafios
maiores devido à falta de fornecedores de insumos, equipamentos, serviços e capacitação.
- O projeto de meliponicultura do Peabiru não acontece na região alvo definida. Embora Figura 20 - Para o Instituto Peabiru é muito importante reunir os produtores. Essa união gera trocas de
experiências, avanços e fortalecimento da cadeia produtiva. Foto: Instituto Peabiru, Lago Branco/Almeirim (PA)
este projeto seja bem-sucedido na estruturação da produção, ele ainda tem uma séria de
desafios a enfrentar, entre outros:
l A
comercialização ainda está engatinhando, e não está claro se para volumes maiores
o escoamento esteja garantido. A alta gastronomia é um nicho bastante limitado. 3.5. POLÍTICAS, LEIS E REGULAMENTOS
Por sua vez, pode haver grandes oportunidades no mercado internacional, com o
posicionamento e os parceiros adequados. A apicultura e seus produtos estão sujeitos a legislações e regulamentações por parte de várias
instâncias do governo.
l O
tempo total de preparação de dez anos até chegar a um patamar de volume interessante por
meio de uma rede de produtores é um fator que pode ser desestimulante para governantes e -P
or lidar com a criação de animais e por seus produtos serem considerados de origem animal,
gestores de entidades que planejam em ciclos de três a cinco anos, no máximo. tanto a atividade quanto os produtos da apicultura devem obedecer às leis e normas do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
-P
or lidar com a fauna silvestre e por suas atividades terem impacto direto na flora, por exemplo,
por meio da polinização, bem como a presença de abelhas ser um indicador da fauna saudável,
a atividade é sujeita a legislações relacionadas ao Ministério do Meio Ambiente, por meio do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
-P
or manipular alimentos para o consumo humano, o beneficiamento e os produtos devem seguir
a legislação fitossanitária da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, vinculada ao
MInistério da Saúde.
Em seguida, serão listados e descritos com um breve resumo as leis e os regulamentos que, de
alguma maneira, impactam direta ou indiretamente o setor de apicultura e meliponicultura, e o
processamento e a comercialização de seus produtos.
88 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 89
Legislação ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) Projeto de Lei (CD) nº 1630, de 6 de agosto de 2003, dispõe sobre a regulamentação da profissão
de apicultor.
Decreto nº 9.069, de 31 de maio de 2017: altera o Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017, que
regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, Leis estaduais
que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Lei nº 13.905, de 29 de janeiro de 2018: dispõe sobre a criação, o comércio, a conservação e o
Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017: Novo RIISPOA - Regulamento e Inspeção Industrial e transporte de abelhas nativas sem ferrão (meliponíneos), no Estado da Bahia.
Sanitária de produtos de Origem Animal dispõe sobre a fiscalização dos produtos de origem animal, Resolução ad referendum nº 007/2017 – CESMARGH, de 5 de dezembro de 2017: institui a
classificando os estabelecimentos sujeitos a este processo, de acordo com o tipo de produto e normatização e cadastramento obrigatório para todos os criadores de abelhas silvestres nativas,
atividade, e estabelecendo as normas dos procedimentos de fiscalização, rotulação, e os padrões de no âmbito do Estado de Goiás, e define os procedimentos de uso e manejo, autorizações e demais
identidade e qualidade do produto. providências que couber.
Instrução Normativa nº 05, de 14 de fevereiro de 2017: estabelece os requisitos para avaliação de Resolução SAA - 52, de 3 de outubro de 2017: aprova o regulamento técnico de identidade,
equivalência ao Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária relativos à estrutura física, o padrão de qualidade e os requisitos do processo de beneficiamento do mel, destinado ao
dependências e equipamentos de estabelecimento agroindustrial de pequeno porte de laticínios, ovos e consumo humano elaborado pelas abelhas da subfamília Meliponinae (Hymenoptera, Apidae),
mel. conhecidas como abelhas sem ferrão, no Estado de São Paulo.
Projeto de Lei nº 13.680, de 14 de junho de 2018: dispõe sobre o processo de fiscalização de produtos Lei nº 17.099, de 17 de janeiro de 2017: altera a Lei nº 16.171, de 2013, que "Dispõe sobre a criação, o
alimentícios de origem animal produzidos de forma artesanal. comércio e o transporte de abelhas-sem-ferrão (meliponíneas) no Estado de Santa Catarina".
Legislação ligada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) Lei nº 14.763, de 23 de novembro de 2015: dispõe sobre a criação, o comércio e o transporte de
abelhas sem ferrão - meliponíneas - no Estado do Rio Grande do Sul.
Instrução Normativa IBAMA nº 2, de 9 de fevereiro de 2017: estabelece diretrizes, requisitos e
procedimentos para a avaliação dos riscos de ingredientes ativos de agrotóxicos para insetos Instrução Normativa SEMA nº 3, de 29 de setembro de 2014: institui e normatiza a criação e
polinizadores, utilizando-se as abelhas como organismos indicadores. conservação de meliponíneos nativos (abelhas sem ferrão), no Estado do Rio Grande do Sul.
Instrução Normativa IBAMA nº 7, de 30 de abril de 2015: institui e normatiza as categorias de Lei nº 16.171, de 14 de novembro de 2013: dispõe sobre a criação, o comércio e o transporte de abelhas
uso e manejo da fauna silvestre em cativeiro, e define, no âmbito do IBAMA, os procedimentos sem ferrão (meliponíneas) no Estado de Santa Catarina.
autorizativos para as categorias estabelecidas.
Municipais
Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008: dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio
Lei nº 3.465, de 15 de maio de 2014: dispõe sobre o resgate, a captura e a remoção de abelhas
ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras
silvestres nativas (meliponíneos) e da Apis mellifera(abelha doméstica com ferrão) no Município
providências. Neste decreto estão enumerados os artigos que tratam das punições dos crimes contra
de Canela.
a fauna, em que estão incluídas as abelhas (Capítulo I, Seção III, Subseção I).
Projetos de Lei
Instrução Normativa IBAMA n° 169, de 20 de fevereiro de 2008: institui e normatiza as categorias de
uso e manejo da fauna silvestre em cativeiro em território brasileiro, visando atender às finalidades Projeto de Lei nº 2.341, de 16 de abril de 2019: dispõe sobre a Política Nacional de Incentivo ao
socioculturais, de pesquisa científica, de conservação, de exposição, de manutenção, de criação, Desenvolvimento da Apicultura e da Meliponicultura.
de reprodução, de comercialização, de abate e de beneficiamento de produtos e subprodutos,
constantes do Cadastro Técnico Federal (CTF) de Atividades Potencialmente Poluidoras ou
Utilizadoras de Recursos Naturais. 3.6. ORGANIZAÇÕES DE APOIO EXISTENTES E PROGRAMAS DE
Instrução Normativa IBAMA nº 141, de 19 de dezembro de 2006: regulamenta o controle e o manejo
DESENVOLVIMENTO DO SETOR
ambiental da fauna sinantrópica nociva, o que inclui abelhas. A seguir serão apresentadas as principais organizações de apoio ao setor de apicultura e
meliponicultura que foram identificados no estudo, de acordo com sua presença nacional, regional,
Resolução CONAMA nº 346, de 16 de agosto de 2004: disciplina a proteção e utilização das abelhas local ou temática, incluindo uma breve descrição da forma de atuação e dos tipos de apoio que pode
silvestres nativas, bem como a implantação de meliponários. oferecer ao setor.
Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 – Lei de crimes ambientais: dispõe sobre as sanções penais Organizações com presença em todos os estados analisados
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Nesta lei estão enumerados os artigos que tratam das ações que caracterizam crime - SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (http://www.sebrae.com.br/
contra a fauna, em que estão incluídas as abelhas (Capítulo V, Seção I). sites/PortalSebrae)
90 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 91
Agricultores familiares em geral e são um dos públicos-alvo do Sebrae e o apoio à apicultura é antiga, para a criação de enxames e produção no campo quanto para os processos de beneficiamento e
oferecendo principalmente capacitação técnica, consultoria de gestão e acesso ao mercado. Em desenvolvimento de produtos.
muitos estados os Sebrae regionais possuem programas e projetos de apoio à apicultura. Inclusive
existia durante vários anos um programa nacional com um gestor responsável. Na região Nordeste - Secretarias estaduais de Agricultora ou Desenvolvimento Rural
existia o grupo ‘Apis Nordeste’, que reunia os principais estados da região objetivando a articulação de - Prefeituras municipais
projetos setoriais regionais. Nos últimos anos estes projetos diminuíram um pouco diante dos cortes
radicais sofridos devido à crise de arrecadação e o redirecionamento de recursos para outras áreas
Organizações que apoiam projetos especificamente no Piauí
prioritárias.
- BANCO DO NORDESTE – BNB – Programa de Desenvolvimento Territorial (PRODETER) (https://
A política de atendimento da entidade privilegia o chamado ‘atendimento coletivo’, ou seja, grupos
www.bnb.gov.br/)
produtores que têm atividades ou interesses em comum. Isso significa que o Sebrae não tem como
apoiar apicultores individuais até que consigam se organizar em grupos com uma massa crítica Conforme apresentado anteriormente, o BNB apoia os municípios em seus planos de
mínima de dez a vinte produtores, dependendo do contexto e do estado. Embora o Sebrae tenha desenvolvimento e oferece um microfinanciamento para agricultores familiares – o ‘agroamigo’.
presença nacional, a atuação da organização em cada estado é independente, podendo ter ou não
- CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale de São Francisco (https://www.codevasf.gov.
programas de apoio à apicultura e técnicos especializados disponíveis localmente. Por sua vez, pela
br/)
rede nacional da entidade é possível identificar e mobilizar especialistas.
A CODEVASF tem uma linha de apoio específica para o bioma do semiárido.
- CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (https://www.cnabrasil.org.br/cna), atuando
principalmente por meio do Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (https://www.
cnabrasil.org.br/senar) Organizações que apoiam projetos especificamente na região
O Senar oferece principalmente capacitação técnica em apoio à produção no campo. Sua presença
alvo no sul da Bahia
e disponibilidade depende da estrutura local da organização. - CEPLAC - Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, ligado ao MAPA (http://www.ceplac.
gov.br/).
- EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (https://www.embrapa.br/)
Embora atue em vários estados produtores de cacau com pesquisa e apoio técnico, no Sul da Bahia
A Embrapa oferece muito material publicado e expertise na apicultura bem como na a CEPLAC, por iniciativa pessoal de técnicos da entidade, também se engaja no apoio à criação de
meliponicultura. Ela ainda mantém uma unidade específica para o semiárido e na Amazônia abelhas.
oriental onde são desenvolvidos conhecimentos específicos sobre a fauna e flora das respectivas
regiões. Sua disponibilidade para cursos e apoio técnico, no entanto, varia bastante. - BAHIATER - Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (http://www.sdr.
ba.gov.br/index.php/bahiater)
- F BB – Fundação Banco do Brasil (https://www.fbb.org.br/pt-br/)
- Universidade de Taubaté (Unitau)
A FBB apoio empreendimentos da economia solidária e de pequenos produtores em geral, tendo
atuado na apicultura em vários projetos de forma decisiva para sua implantação, incluindo a Casa - Universidade de Santa Cruz
Apis, por meio da doação de toda a infraestrutura e de capital de giro inicial.
- Instituto Federal Baiano de Uruçuca
4 Características
da cadeia do mel
Estrutura e Agricultores Apicultor Mel Bruto
fluxo dos
produtos da Serviço de polinização
Atravessador
cadeia do mel
A cadeia de produção, Entidades
de apoio Organização coletiva Entreposto
beneficiamento e de produtores comercial
comercialização e os ATR Homogeneizado
respectivos fluxos dos Capacitação a granel
produtos e serviços Consultoria
da cadeia do mel são Financiamento
Articulação
compostos por vários
atores que atuam em Atacadista
diferentes momentos Fornecedores Distribuidor
destes processos, Privados Regional
conforme visualizado no Insumos Envasado
gráfico apresentado a Equipamento
seguir.
Venda informal Indústria alimentícia,
Produto
cosmético, farmacêutica Transformado
Produto artesanal
Com este gráfico é possível visualizar as diversas interpendências entre os atores. A seguir serão
ANÁLISE DO PERFIL E ATUAÇÃO DOS PRINCIPAIS ATORES NA CADEIA DO MEL
descritos todos os principais atores desta cadeia, seus perfis, o que fazem e o que precisam ou
demandam da cadeia. ATORES PERFIL O QUE FAZ O QUE PRECISA/DEMANDA
Atacadista/ Comerciante de pequeno a médio Cuida da relação direta com o Produto atraente com diferencial,
Vale lembrar ainda que o apicultor pode explorar até oito linhas de atividades econômicas
distribuidor porte; varejo, promove o produto e material e verba para promoções
a partir dos produtos e serviços possíveis de serem comercializados, dependendo da
regional realiza as entregas picadas na no PDV – Ponto de Venda
produtividade e do clima da região e de seu grau de organização e infraestrutura de Especializado em, ou com
região
beneficiamento, incluindo: mel, pólen, própolis, cera, apitoxina, serviço de polinização, geleia segmento dedicado a, produtos
real e as própria abelhas, em forma de enxames. naturais a granel, envasados e
processados;
ANÁLISE DO PERFIL E ATUAÇÃO DOS PRINCIPAIS ATORES NA CADEIA DO MEL Para algumas marcas da indústria
alimentícia, pode atuar como
ATORES PERFIL O QUE FAZ O QUE PRECISA/DEMANDA
representante comercial e
Apicultor Agricultor familiar, A atividade principal da Capital para investimento distribuidor;
assentado, indígena, maioria é a agricultura inicial, ATR, capacitação, acesso
quilombola, de subsistência e criação ao mercado Indústria Indústria de transformação Incorpora mel em suas Produto com qualidade dentro dos
de animais em pequena alimentícia, de médio a grande porte, receitas ou fórmulas padrões exigidos e fornecimento
Muitos apicultores não quantidade. A apicultura é cosmética ou especializada em, ou com linha produzindo produto final regular garantido.
são donos das áreas que atividade complementar. farmacêutica específica de, produtos com base pronto para o varejo.
Quando consegue um fornecedor
exploram Apenas alguns apicultores são em ingredientes naturais e/ou
confiável dificilmente troca.
profissionalizados. orgânicos
Organizações Associações, cooperativas, Depende do perfil e do Nos estágios iniciais, precisam Foodservice Empresas de transformação Integram mel em suas receitas Vide anterior
de agricultores além de centrais e redes grau de maturidade da de recursos para investimentos pequenas até médias, como
Hotelaria compra sachês ou
organização. As mais bem em infraestrutura, capacitação restaurantes, padarias,
potinhos pequenos para café
estruturadas chegam a em gestão, liderança, delicatessen, hotelaria
da manhã
comprar a matéria-prima, consultoria de mercado
Varejo O varejo que revenda mel e Revende produtos da Produtos de qualidade que
beneficiar e comercializar,
derivado é bastante diverso, indústria chamam a atenção na prateleira e
a granel e envasado com a
inclui: lojas de produtos naturais, têm bom giro de vendas.
própria marca, prestar serviços
varejo comum desde mercearia
de AT aos associados Garantia de fornecimento regular e
de bairro até redes de varejo
apoio para reposição de produtos
internacionais, farmácias e
Entreposto Média a grande empresa Compra, processa e Com raras exceções, eles não nas prateleiras
drogarias.
comercial comercializa mel e derivados. possuem produção própria, Material e, às vezes, verba para
Basicamente tem dois Os grandes entrepostos, portanto precisam de mel. Eles promoções
perfis principais: o embora mantenham marcas dependem em grande parte da
comerciante e a indústria no Mercado doméstico, relação com os apicultores e dos Tradings Comerciantes ou brokers de Para o mercado internacional, Produto de qualidade padrão
com marca de varejo. Os direcionam 90%+ de seu mel atravessadores que compram especializadas grande porte brasileiros ou compram ou intermedeiam internacional que não varia,
maiores reúnem os dois. para exportação. mel para eles. Precisam de internacionais especializados em quantidades de no mínimo 1 quantidades grandes
mel com qualidade adequada mel, castanhas, nozes, frutas secas container de 20t
para seus mercados alvo, e alimentos similares.(ex.: Lamex)
principalmente a exportação
PAA e PNAE Prefeituras e estados Produtos alimentícios básicos Produtos alimentícios da
Atravessador Agentes independentes Compram mel diretamente do Mel na qualidade para o administrando verbas federais da agricultura familiar (AF), a agricultura familiar – AF com
ou a serviço dos grandes apicultor com dinheiro vivo e mercado alvo não ser que seja estimulada registro, no mínimo SIM – Selo de
entrepostos revendem para os entrepostos. a inclusão de determinados Inspeção Municipal, e qualidade
Buscam obter o melhor preço itens produzidos pela AF na e embalagem para atender aos
visto que sua margem de lucro região. requisitos de chamadas para
depende disso. merenda escolar, principalmente.
5
Principais desafios
para o desenvolvimento
da cadeia do mel
Devido às características bastante distintas entre a apicultura e a meliponicultura, visando a
orientações de estruturação mais claras e precisas, propõe-se apresentar a análise dos desafios
dos dois segmentos em separado.
5.1. APICULTURA Figura 22: Apicultor verificando caixa de abelhas - Foto: Envato Elements/ Macondoso
Os principais desafios dos apicultores compreendem os pontos apresentados a seguir:
Baixa produtividade
Disponibilidade limitada de pasto apícola
Em todas as regiões ficou evidente que o conhecimento técnico e a experiência no manejo fazem
toda a diferença na produtividade. O Brasil, onde as melhores colmeias podem chegar a 40kg, está Sem pasto não há mel. A disponibilidade de pasto para as abelhas colherem o mel é condição sine
muito aquém dos índices, por exemplo, do Canadá, onde a produção pode chegar a mais de 100kg. qua non para o desenvolvimento da cadeia no território. Por isso a atividade demonstra maior
Mesmo dentro do Brasil há grandes desníveis de produtividade. Há relatos de diferenças de produção potencial em regiões onde há reservas naturais ou vastas áreas de vegetação nativa, tais como o
de 1kg para 25kg por ano por colmeia na mesma região, ou seja, estando sujeito às mesmas condições sertão do semiárido, ou ainda, agricultura com culturas com floradas interessantes para a apicultura,
climáticas. Com baixa produtividade, o impacto econômico é menor, demora-se mais para conseguir tais como fruticultura, café ou eucalipto, entre outros.
volumes interessantes para justificar investimentos em infraestrutura de beneficiamento, e o custo é
O avanço da agricultura de extensão, a exemplo da soja no Pará e no sul do Piauí, é uma ameaça ao
proporcionalmente mais alto, de maneira que os produtores ficam mais vulneráveis a oscilações dos
pasto apícola.
preços no mercado internacional, como é o caso no momento.
Para o sucesso de projeto de desenvolvimento da produção de mel faz-se necessária uma boa
Baixo índice de profissionalização
avaliação do potencial do pasto apícola na região alvo.
O perfil da grande maioria dos apicultores é o agricultor familiar que pratica a produção de mel
como atividade complementar, sem lhe dedicar muita atenção e interesse em dedicar muito tempo Falta de massa crítica de produtores e grau mínimo de articulação coletiva
para se profissionalizar. Em algumas regiões há uma certa dificuldade de acesso à capacitação e
A fase crítica para o desenvolvimento da cadeia de produção de mel e seus subprodutos é antes de
assistência técnica, porém, mesmo nas regiões de disponibilidade desses recursos, os índices de
chegar a uma massa crítica mínima de produtores que representa um certo volume de produção
produtividade ficam muito abaixo de seu potencial.
e que tenha um certo grau de articulação coletiva. Antes de chegar a este ponto, dificilmente uma
Pequeno volume de produção entidade de apoio entra para apoiar de forma decidida, com investimentos e recursos a fundo
perdido. Até este ponto, entidades com foco maior na assistência técnica, tais como Senar ou Emater,
Sem um volume maior de produção, o apicultor individual não consegue movimentar produto podem apoiar produtores individuais em questões ligadas à produtividade no campo, por meio de
suficiente para justificar um investimento em infraestrutura de beneficiamento, mesmo que básico. capacitações e mesmo visitas técnicas.
98 - ESTUDO DE VIABILIDADE DA CADEIA DE VALOR DE MEL DE ABELHA REGIÕES: PARÁ, BAHIA E PIAUÍ - 99
No entanto, somente a partir deste ponto, um grupo de produtores pode começar a buscar apoios nas questões de comercialização, focando mais nas atividades “de porteira para dentro”, seja por
institucionais mais robustos e de longo prazo. Enquanto não chegarem a este nível, os produtores falta de interesse, acomodação ou preferência. Este ponto pode ser mitigado e mesmo superado
muitas vezes ficam isolados e dependentes de atravessadores para comercializarem seu mel, quando por meio da ação coletiva, em associações e cooperativas, buscando apoio técnico especializado
os há na região. Ou então permanecem com suas iniciativas individuais de comercializar o produto e estruturando uma área que se dedica a esta atividade, desenvolvendo expertise e tornando-
informalmente nos mercados locais. Se não houver um estímulo por parte de algum órgão de se menos dependente de forças externas. Uma das poucas entidades que atuam nesta área de
desenvolvimento governamental ou não governamental para acelerar este estágio, o crescimento consultoria é o Sebrae.
espontâneo do setor pode demorar muito e pode até regredir em momentos de baixa de preços.
Falta de conhecimento de mercado
Barreiras para conseguir (acesso a) estrutura para beneficiamento, agregação
Ligado diretamente ao tópico anterior, a falta de conhecimento do mercado traz vários problemas
de valor e acesso ao mercado
que dificultam a própria capacidade de acesso ao mercado e de negociação com os compradores.
Sem estrutura de beneficiamento, os apicultores não conseguem agregar valor e acessar mercados Quanto mais informação os produtores tiverem sobre o mercado, mais seguros eles poderão
que remuneram melhor os produtos, vendendo seu mel a granel para os compradores dos grandes entrar nas negociações com os compradores. O acesso bem-sucedido ao mercado é a consequência
entrepostos. natural do bom conhecimento dos players, das exigências, dos canais e do funcionamento, bem
como da preparação adequada.
Dependendo dos dois pontos anteriores, a estrutura de beneficiamento se justifica a partir
de determinada massa crítica de produtores, volume de produção e de grau de articulação e Baixo consumo de mel no Brasil e a dependência da exportação
organização do grupo. A partir daí, entidades de apoio, tais como Sebrae, Fundação Banco do Brasil,
governos de estado e municípios têm se mostrado dispostos a realizar o aporte de investimento O baixo consumo de mel no mercado interno torna os produtores brasileiros reféns do mercado
necessário. internacional para escoar sua produção. E o mercado internacional compra apenas a granel,
impedindo a agregação de valor. O único potencial de melhoria de ganho para os pequenos
Falta ou dificuldade de acesso à capacitação produtores é a exportação direta por meio de cooperativas bem estruturadas.
Considerando que a grande maioria dos criadores de abelhas são agricultores familiares para quem Se o consumo doméstico fosse maior, o potencial de agregar valor se multiplicaria, e a dependência
a apicultura é uma atividade complementar, a capacitação e a assistência técnica continuada para das oscilações do mercado internacional da commodity diminuiria.
manejo, produção e gestão são fundamentais para garantir o sucesso de qualquer empreendimento
desta natureza. No entanto, em várias regiões, onde não há uma ação proativa por parte de alguma Falta de continuidade de programas e projetos
entidade de apoio, não há oferta de cursos ou extensionistas para uma quantidade pequena e
Um grande problema no mundo das entidades de apoio, não somente na cadeia do mel, são os
isolada de produtores.
prazos curtos dos projetos e programas, muitas vezes limitados a dois, no máximo três anos.
Seguindo a filosofia do ‘ensinar a pescar’, quando não se quer tornar o beneficiário dependente
Falta de capital de giro
do suporte, os apoios muitas vezes são aplicados em ritmo acelerado, além da capacidade de
Ter dinheiro em caixa para comprar o mel dos associados na hora que eles entregam faz toda a assimilação e aplicação prática do público-alvo e sem considerar corretamente os contextos
diferença para fortalecer os dois, produtor e entidade, e tirá-los da dependência dos atravessadores socioculturais e institucionais que, principalmente no meio rural, possuem uma dinâmica bem
que se aproveitam do principal ponto fraco do agricultor: a necessidade de receber dinheiro mais, digamos ‘tranquila’. Dessa forma, os projetos são encerrados muitas vezes antes de o processo
imediato. Uma associação ou cooperativa que não recebe produto suficiente para processar de maturação ter sido completado, pondo em risco o sucesso de todo empreendimento.
e negociar não vai conseguir crescer e marcar presença no mercado. Por sua vez, o produtor
individual não aguenta entregar seu produto e esperar 30, 60 ou mais dias para receber, que são os Setor desarticulado
prazos praticados pelo varejo.
Uma das principais reclamações das organizações de apicultores mais estruturados é que o setor
Cooperativas mais bem estruturadas ainda buscam remunerar os associados com preços acima do é desarticulado em nível nacional, não oferecendo nenhum programa de apoio relevante. A
mercado. Confederação Brasileira de Apicultura não é atuante, e o website que é informado nas páginas da
APACAME: http://brasilapicola.com.br/, está fora do ar. A entidade de maior atuação e conteúdo
Dificuldade de acesso ao mercado é justamente a APACAME – Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas
Europeias. A ABEMEL - Associação Brasileira dos Exportadores de Mel reúne os entrepostos
O principal desafio de muitos projetos e a principal reclamação de muitos produtores é a comerciais e tradings maiores, visando à promoção da exportação do produto.
dificuldade com o acesso ao mercado. Existem várias organizações com expertise e equipe para dar
apoio à produção. No entanto, não se pode dizer o mesmo da área de acesso ao mercado. Muitos Nas diversas instâncias de governos federal, estaduais e municipais existem inciativas, câmaras
produtores se queixam de ficarem nas mãos dos compradores dos grandes entrepostos e das temáticas, comissões e grupos de trabalho, porém carecem de integração e alinhamento em uma
tradings que impõem os preços do mercado internacional. visão de gestão de cluster.
No entanto, vale ressaltar que a grande maioria dos produtores também não quer se envolver No entanto, não existe uma política de desenvolvimento setorial consistentes
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Inexistência de seguro para a atividade Mercado alvo restrito e canais não estabelecidos
Outras atividades da agricultura têm como assegurar suas produções. Não existe esta Embora o universo total do mercado alvo ainda não esteja totalmente conhecido, quanto
possibilidade para a apicultura. Por exemplo, nos recentes casos de morte em massa de mesmo explorado, está claro que é um nicho bastante restrito, diante do alto nível de preço.
enxames por agrotóxicos, o apicultor tem que assumir o prejuízo sozinho. Também não está O público-alvo mais falado pelas pessoas do meio são os chefes da alta gastronomia, que
claro ainda como se aplica a legislação neste tipo de caso, em que a aplicação de defensivos apreciam as qualidades organolépticas diferenciadas e estão dispostos a pagar o valor também
agrícolas legais nas lavouras de um agricultor causam prejuízo na produção de outro produtor diferenciado. No entanto, este nicho é bastante restrito e não está claro qual o potencial total
vizinho. deste segmento no Brasil.
Para superar isso, os gestores precisam conquistar a confiança e manter a fidelidade dos
associados com demonstrações constantes de integridade e ações de apoio que fazem com que
os produtores percebam o valor que a entidade agrega de fato. Fazem parte deste rol de ações:
ter capital de giro para comprar a matéria-prima, manter programas próprios de Assistência
Técnica – AT, oferecer bolsas ou financiamento de estudos para associados e familiares,
principalmente os jovens, e manter-se afastado de interferência política, entre outros, além de
garantir lisura total na gestão.
A fidelidade dos associados não é garantida simplesmente pelo chavão “A união faz a força”. Ela
precisa ser conquistada e reconquistada continuamente por meio de ações concretas que fazem
uma diferença na vida das pessoas.
Liderança e integridade
Ligado ao ponto anterior, as organizações coletivas de sucesso se destacam por suas lideranças
íntegras, que geram confiança e têm por consequência a fidelização dos associados. O contrário
também é verdadeiro.
Continuidade de apoio
6 Fatores críticos A continuidade de apoio de acordo com as necessidades dos diversos estágios de maturidade
do setor é fundamental para o desenvolvimento e a consolidação de uma cadeia produtiva de
de sucesso mel. Nos casos de sucesso, o desafio da descontinuidade de apoio (vide acima) foi superado
principalmente por dois caminhos: pelo apoio continuado de determinada entidade, cujos
técnicos acabaram por driblar o próprio sistema, lançando novos projetos e programas que
pudessem suprir as necessidades do setor (exemplo do Sebrae no Piauí); ou pela capacidade da
Após a identificação dos desafios, para os quais devem ser indicadas medidas própria organização de produtores de articular uma sequência de apoios que garantissem uma
para mitigar e superar, serão apresentados os fatores que são considerados continuidade de ações (Ex.: Casa Apis e COMAPI).
críticos para o sucesso do desenvolvimento de uma cadeia de mel sustentável no
Capacidade de articulação e captação de recursos e apoios
longo prazo.
Principalmente no início, os produtores individuais e as organizações coletivas precisam de
recursos externos, tanto financeiros quanto técnicos, e de outros tipos de apoios, para crescerem
6.1. APICULTURA e se estruturarem, até que possam se sustentar com a dinâmica econômico-financeira do
próprio empreendimento. A capacidade de articular parcerias e captar recursos para os projetos,
Fidelização dos associados tanto nacionais quanto internacionais, pode ser decisiva para acelerar o sucesso.
Um dos principais desafios para as associações e cooperativas é conseguir a fidelidade de Visão e inteligência de mercado e gestão comercial
seus associados. Se os próprios associados não confiarem na força da organização coletiva
principalmente para entregar seus produtos, ela não vai ganhar força para poder negociar preços Considerando que a falta de conhecimento de mercado é um dos principais desafios e que
e condições melhores, e acessar mercados para os quais precisa de volumes maiores, tais como a os apicultores, em sua grande maioria, não gostam de se envolver com questões “da porteira
exportação. Principalmente no início, os associados ainda podem ter uma postura bastante egoísta pra fora”, dispor de inteligência de mercado prática e atualizada, bem como de competência
e pouco aberta para contribuírem para uma organização coletiva, ficando “com um pé atrás” e na gestão da comercialização faz toda a diferença para garantir o sucesso do negócio das
esperando ganharem algum benefício antes de se engajarem com algum compromisso maior. organizações de produtores.
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Para viabilizar isso é necessário ter visão de mercado, superando o foco limitado na Inteligência e acesso ao mercado
organização da produção. Neste ponto é fundamental ter parceiros que possam apoiar com
estudos de mercado e consultorias e capacitações especializados. Considerando que não há mercado nem canais de comercialização e distribuição
estabelecidos para os produtos da cadeia da meliponicultura, faz-se necessário aprofundar
Gestão de cadeia de valor o conhecimento sobre o potencial de mercado e apontar caminhos e soluções concretas
para que os produtores possam vender seus produtos assim que estiverem disponíveis.
Para o fortalecimento da cadeia do mel e derivados no longo prazo, tanto nos territórios
Não adianta estimular e apoiar a produção sem orientar a apoiar também o escoamento da
alvo quanto em nível nacional, é crucial que algum ator assuma o papel de gestão da cadeia,
produção.
similar a uma gestão de cluster, desde a identificação de gaps na cadeia até a intervenção
para superar estes gaps. Sensibilizar entidades de apoio
Considerando que criação de abelhas sem ferrão ainda se encontra em um estágio
6.2. MELIPONICULTURA embrionário e que as principais populações alvo ainda possuem pouco ou nenhum
conhecimento a respeito da atividade e, ao mesmo tempo, precisa ser realizado todo um
Engajamento da população trabalho de convencimento e motivação para entrarem na atividade, torna-se crucial
sensibilizar e motivar mais entidades de apoio ao desenvolvimento sustentável e da
Diferentemente da apicultura, em que os agricultores começam, por iniciativa própria, a sociobiodiversidade para se engajarem no apoio ao desenvolvimento desta cadeia.
criar abelhas e produzir, visando a um complemento de renda e buscando apoio à medida
que avançam na atividade, as iniciativas da meliponicultura revelam que antes de tudo
precisa ser realizado um esforço inicial para motivar a população a entrar na atividade. 6.3. DESENVOLVIMENTO DA CADEIA
Entidades parceiras com penetração local Os principais fatores críticos para o sucesso na implantação de eventual programa de
desenvolvimento da cadeia do mel em determinado território compreendem:
Para este esforço motivador inicial é fundamental identificar uma entidade parceira que
tenha penetração junto ao público-alvo do território e que possa executar as atividades de Estágios de maturidade
engajamento e capacitação inicial desta população.
Para obter o máximo de impacto no apoio ao desenvolvimento, recomenda-se considerar
Público-alvo com motivação além do ganho financeiro no curto prazo os diversos estágios de maturidade em que pode se encontrar a cadeia em cada território.
Aplicar uma abordagem de trabalho genérica, similar a um regador que derrama recursos
Considerando que a meliponicultura não consegue gerar o mesmo impacto econômico- sem direcionamento preciso, pode representar grande desperdício de recursos e não gerar
financeiro direto no curto prazo que a apicultura, faz-se necessário motivar o público-alvo os resultados esperados. Recomenda-se, portanto, o desenvolvimento de uma metodologia
com outros argumentos. Possíveis motivadores: de trabalho que considere diversos estágios de maturidade da cadeia.
- Polinização: o ganho na produtividade nas lavouras dos agricultores ainda é um Especificidades locais de território
argumento relacionado a um impacto econômico mensurável, mesmo que indireto. Uma
população em busca de aumento de renda pode ser motivada por este ponto. Para alguns Ainda dentro do espírito do ponto anterior, é fundamental considerar as especificidades
meliponicultores mais empreendedores, o aluguel de enxames pode ser uma fonte de locais de cada região, incluindo, entre outros:
renda.
- pasto para as abelhas,
- Preservação da biodiversidade: este argumento, embora muito simpático e relevante - perfil das populações presentes,
para todo o ciclo de vida do território, talvez não seja um fator motivador tão forte para - perfil e atuação de instituições de apoio, ONGs e órgãos governamentais,
um público-alvo que precisa de um impacto econômico-financeiro sensível no curto - estágio de desenvolvimento da cadeia do mel.
prazo. Neste caso é importante encontrar os segmentos da população para quem este
argumento possui maior validade e força motivadora. A abordagem que funcionou em uma região pode não funcionar exatamente da mesma
forma em outra.
Aprofundar, consolidar e disponibilizar conhecimento técnico
Visão de longo prazo
O conhecimento técnico sobre o setor da meliponicultura ainda é esparso e muitas
vezes ligado à academia. Para desenvolver uma cadeia de maneira a gerar um O desenvolvimento de uma cadeia de valor precisa de uma visão de longo prazo e os
impacto significativo nos territórios é recomendável aprofundar, consolidar, mas respectivos programas e projetos precisam acompanhar esta visão. Os prazos comuns para
principalmente tornar este conhecimento disponível e facilmente acessível a entidades projetos de apoio nas entidades de apoio, em média de dois a três anos, são insuficientes
e empreendedores que queiram investir neste segmento. para alcançar resultados sensíveis e sustentáveis no longo prazo.
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7 Primeiras sugestões
Um dos principais pontos críticos para o desenvolvimento da cadeia do mel no Brasil
é o crescimento do consumo doméstico, para aumentar a demanda local e tornar os
produtores menos dependentes da exportação e das oscilações imprevisíveis do mercado
global de commodities. No entanto, não há hoje nenhum ator que assuma o papel de
estimular a demanda nacional. O governo federal se restringe a regulamentar o setor.
Câmaras setoriais podem ser úteis, porém com alcance limitado se não tiver vontade para uma abordagem
de trabalho para o
política. Reconhecendo a limitação de recursos, as entidades nacionais do setor têm um
papel meramente informativo e de defesa de interesse. Os pequenos produtores e suas
organizações coletivas também têm recursos limitados e são mais recebedores de apoio. As
desenvolvimento da
médias e grandes empresas do setor têm como principal atividade a exportação. Este setor
é relativamente bem estruturado, com a ABEMEL e o programa de promoção à exportação
apoiado pela APEX.
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ESTUDO DE VIABILIDADE
DA CADEIA DE VALOR DE
MEL DE ABELHA NAS REGIÕES
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