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ilo Onoda Caldas, brilhante intelectual e pensador do di: reito, da filosofia eda politica, revela notiveis habilitagbes pata expor e desenvolver conceitos, tanto os fundamer quanto os mais avangados, sobre o Estado. Suas pesquisas, lescle multe jo vem, orientaram-se a uma igorosa ¢ complexa reflexio sobre a natureza do Estado, do dircito e da politica no capitalismo, Seu estudos de mestrado ¢ dourorado, tratando de autores como © italiano Umberto Cerroni e 0 alemao Joachim Hirseh, além das cortentes tedricas do Derivacionismo, sio basilares para sis tematizar, em lingua portuguesa, os debates eontempe da tcoria critica da politica. Advogado de destaque, professor universitério de exemplar capacidade did Caldas & uma personalidade impar em rigor no trato dos assuntos da teoria, Fui seu orientador tanto fem sua gra gria de té-o, jé hd décadas, comparti ica, Camilo Onoda os de seriedade ¢ aco quanto em sua pé 10 atividades € horizontes académicos, pesquisas ¢ reflexdes. Este livro que o leitor agora comega a ler, Teoria Geral do is tado, é tanto a melhor obra didética jé escrita no Brasil sobre 0 assunto quanto também é uma prova de que o genio teditlea € a diditica, em excepcionais casos, se enco Alysson Leandro Mas Professor da Faculdade de Direito da US em Direito Politico e Econémico, Doutor em Filos Direito ¢ Pés-Doutor em Democracia ¢ Direicos Hum professor universitirio pesquisador em Sio Paulo. f livros, artigos e ensaios ae sn TUE MIT Erm ITT Er CAMILO ONODA CALDAS “TEORIA GERAL DO ESTADO IDEIAS® LETRAS SERIE DIREITO & CRITICA Teoria geral do Estado Camilo Onoda Caldas direito sn pasar a DO ESTADO Direito e politica em Deleuze Lucas Rute Balconi 10, Estado ¢ Relagdes Propriedade Privada e direito & moradia: uma critica Diogo de Calasans Melo Andrade Althusser ¢ 0 dircito Pedro Davoglio Moxos de producio no Brasil escravidio e forma juridica Jonathan Erkert ® © = w CAMILO ONODA CALDAS TEORIA GERAL DO ESTADO corroea wy IDEIAS. Uerras Duegéo Eorron prroesqui & Revisio: Matls Auséic Lass ilipe Armani Pedro Paulo Rolim Assungio Consttno EnrrowaL Divcaanacio 2 Cara Fabio E.R. Sil Marcio Fabri dos Anjos Tati Mauro Vil a Allen Crivllar Eeraex Unf Sn ea cceee ravura de Alyson Leandro Mascaro SUMARIO PREFACIO APRESENTACAO INTRODUGAO servados i Editora leias & Letras, 2019. 1, CONSTITUICAO E DESCONSTITUICAO Ras Bard kana, DOS ESTADOS fog | Cape 01042-000 (1) 3862-483 L.A. Estado: elementos constitutivos ¢ conceito LETRAS | Televendas: 0800777 6008 1.1. Soberania vendav@idciascleeras.com be 1.1.2. Territério wiv ideiascletras com. 1.1.3. Povo 1.2. Formagiio e extingio dos Estados Dads Internacional de Catslogagio na Publicaio (CIP) sitio 2, ORGANIZAGAO DO ESTADO ec Leva 2018 1, Separagio dos poderes (Clare Ben 2.3, Sistema de governo de Forma de Estado i St 5. Forma de intervengio do Estado na economia {egime de governo ndices para catiloge snteméticor 39 40 41 46 51 56 63 64 70 3. PODER DO ESTADO E SEUS PARAMETROS JURIDICOS E POLITICOS 3.1, Legalidade e legitimidade 3.2, Constitucionalismo e Estado de Direito 3.3. Direitos humanos e subjetividade juridica 3.4, Grupos de pressio e dircito das minorias 3,5. Reforma e revolugio 3.6. Golpe de Estado 4, PARTICIPAGAO POLITICA INSTITUCIONALIZADA NO ESTADO 4.1, Demoeracia direta 4.2. Democracia semidireta 4.3. Democracia representativa 4.4, Mandato politico 4.5. Partidos politicos 4.6, Sistemas eleicorais 4.7. Sufrigio 4,8, Elegibilidade ¢ inelegibilidade 5. ESTADO NA ORDEM INTERNACIONAL 5.1. Globalizagiio e relagbes interestatais 5.2. Estado ¢ dircito internacional 5.3. Onganizagées internacionais 5.4, Tecnocracia, Estado e capitalismo global REFERENCIAS a 92 95 101 10; 116 ng 123 124 127 133 133 136 140 147 151 157 158 163 167 173, 181 PREFACIO O leitor tem em maos um livro especial. "Trata-se da mais avan- ada obra didatica para compreender um dos fendmenes sociais con- temporineos mais complexos: 0 Estado. O professor Camilo Onoda Caldas ensina neste livro t 0 0s assuntos fulcrais a respeito da ques to estatal quanto as investigagdes de vanguarda sobre o tema, Até hoje, muitos se desincumbem das explicagies sobre o Es: tudo repetindo chavoes tradicionais, cujos argumentos sto frigeis f€ mesmo absurdos. A mais utilizada dessas definigies diz que 0 Estado é 0 “bem comum?. Mas basta que o leitor reflta sobre 0 Fstado no qual esta inserido, o brasileiro ou qu i g im sendo forma social do capitalismo —, e os milhdes de explora. juer outro. O ente antiu © bem comum — nem pode promové-lo, os, todos eles cidadaos de algum Estado, servem de prova disso, F. preciso saber as muitas definigées tradicionais ¢ insuficientes a respeito do Estado na histéria, mas também € necessirio dar um asso adiante, para entendé-lo de modo mais profundo e apropria fo, Para tanto, tenho insistido, em Ext forma poli bras, na associagSo estrutural entre a forma politica estatal ea for ma mercadoria: capitalismo e Estado sio necessérios um 20 outro ¢ inextrincéveis, portando a mesma sorte, Camilo Onoda Caldas me Camilo Onoda Caldas Varias leituras a respeito do Estado, menos dbvias que as dos chavées e definigdes tradicionais, sofrem ainda por conta de sua limitagio. Tomemos 0 campo do direito, no qual muitos ‘costumam definir o Estado a partir de suas referéncias juridicas, ‘como Hans Kelsen. Quando assim se © toma, o Estado é 0 que 0 dircito disser sobre ele, bem como, de outro lado, o dircito & 0 que o Estado disser sobre ele. Tais perspectivas sao juspo: vistas, isto é, resumem-se a definir 0 Estado e a elencar stas ca- racteristicas a partir do direito normativamente posto. E preciso superar tais enquadramentos. De outra qualidade sto leituras que avangam na compreen- sio do Estado para além do juspositivismo, situando-o a partir do fendmeno do poder. Pensadores tao dispares quanto Carl Schmitt ou Michel Foucault alcangam, pelo poder como exce- ‘sao a regra ou pela microfisica do poder, uma verdade da po- litica que jé nao falscia seus pressupostos. Ocorre que, embo- ra dotadas de concretude, estas leituras ainda nao conseguem chegar is préprias determinagbes sociais especificas do Estado. Denomino tais vertentes como nao juspositivistas. ‘Ao conttirio das falsas leituras juspositivistas ou das limi- tadas ¢ parciais visies nao juspositivistas, somente se consegue compreender o Estado quando se trabalha com a totalidade so- cial, da qual ele é um dos elementos fulerais, ¢ com suas deter- ‘minagies sociais espeeificas. O Estado ¢ inexoravelmente ligado as relagSes de produgio de tipo capitalista. Somente quando se atenta a esse liame & posstvel compreender sua realidade estru- tural ¢ material, No arco teérico que vai de Karl Marx a Joa- chim Hirsch, foram muitos os que avangaram nessa compreen- so concreta sobre o Estado no capitalismo. Os debates acerca da detivasio do Estado sio pano de fundo da teoria critica do Estado na atualidade, trabalhados por Caldas em seu Teoria da derivagito do Estado e do direto. Teoria geral do Estado 19 ‘Apenas com tal mirada mais alta e cientifica sera ento pos- sivel compreender aquilo que a disciplina tedrica tradicional- mente conhecida por “Teoria geral do Estado” erige como seu conjunto de instituros préprios ¢ consagrados. Caldas explica, ‘com base material ¢ critica, os conceitos constitutivos ¢ des- constitutivos do Estado — soberania, povo, territério —, a orga- nizagio do Estado ~ separagio de poderes, forma e sistema de governo, forma de arranjo do Estado, intervengao econémica, regime de governo ~, 0 poder de Estado ~ desde legalidade ¢ legitimidade até grupos de pressio e direitos de minoria, che- gando ainda aos temas da reforma, da revolugio e do golpe de Estado -, as formas institucionalizadas de participagio politica = democracia seus desdobramentos ~ ¢, ainda, 0 Estado no sistema internacional, na medida em que a forma politica esta- tal, no capitalismo, se desdobra numa pluralidade de Estados. Perguntardo leitor sobre a raz pela qual deva conhecer tan- 10 08 conceitos fundamentais quanto o que ha de mais elabora- do ¢ profundo a respeito do Estado, Se for estudante de direito, € porque o Estado tem relagao intima c vital com as questoes juridicas, atravessando-as. Se for estudante das dreas de ciéncias humanas, & porque todas as instituigdes sociais e as formas da sociabilidade sio constituidas e reconstituidas pelo Estado. E, em especial, a todo leitor, em qualquer drea da vida, o interesse em conhecer mais avangadamente o Estado se di porque estamos imbricados em suas estruturas. A politica passa pelo Estado, tan- to naquilo que cle arma como naquilo que cle nega e reprime. ‘Mas entender de modo mais rigoroso ¢ atual a questio do Estado permite também saber os limites da propria politica estatal, dos seus entrecruzamentos com os interesses do capital e com as con tradigées sociais. O propésito de saber melhor sobre o Estado é critico: poder agir mais acertadamente na luta pela transformagio politica e social de nosso tempo. 10) ‘Camilo Onoda Caldas Camilo Onoda Caldas, brilhante intelectual ¢ pensador do ditcito, da filosofia e da politica, revela notaveis habilitagdes para expor e desenvolver tais conceitos, tanto os fundamentais quanto os mais avangados, sobre o Estado. Suas pesquisas, des- de muito jovem, orientaram-se a uma rigorosa ¢ complexa re- flexio sobre a natureza do Estado, do dircito da politica no capitalismo. Seus estudos de mestrado ¢ doutorado, tratando de autores como o italiano Umberto Cerroni ¢ 0 alemio Joa- chim Hirsch, além das correntes teéricas do Derivacionismo, siio basilares para sistematizar, em lingua portuguesa, os debates contemporaneos da teoria critica da politica. Advogado de des- taque, professor universitirio de exemplar capacidade diddtica, Camilo Onoda Caldas & uma personalidade impar em termos de seriedade ¢ rigor no trato dos assuntos da teoria. Fui sew orientador tanto em sua graduagéo quanto em sua pés-gradua- ‘gio e tenho a alegria de té-lo, jé hd décadas, compartilhando co- igo atividades e horizontes académicos, pesquisas e reflexes. Este livro que o leitor agora comega a les, Teoria Geral do Estado, & anno a melhor obra didtica jé escrita no Brasil sobre © assunto quanto também é uma prova de que o génio teérico ¢ a clareza didatica, em excepcionais casos, se encontram. Sao Paulo, 2018. Alysson Leandro Mascaro Profesor da Faculdade de Direito da USP APRESENTAGAO Esta obra trata de Teoria Geral do Estado (TGE) e possui dduas partes com niveis de complexidade bastante distintos. Por- o estudo de TGE a partir deste livro, as observagies abaixo sio extremamente relevantes. Na introdugio, apresento um panorama a respeito das teo- rias do Estado contemporiineas e procuro relacioné-las com a filosofia ea teoria geral do direito. Para aqueles que fazem desta obra uma primeira leitura sobre o Estado, as discusses des- ta parte inicial podem parecer complexas, raro pela qual fago duas recomendages que podem ajudar na sua compreensio: a primeira € reler esta introdugio apés ter lido os capitulos; a segunda é consultar as obras indicadas ao final de cada um dos capftulos desta obra, com destaque para a obra Filosofia do Di- reito, escrita pelo professor Alysson Leandro Mascaro, na qual 1s trés caminhos da filosofia do direito contemporaneo sio ex- plicados detalhadamente. Portanto, 0 objetivo precipuo da introdugio € instigar 0 1 a uma primeira reflexio a respeito da Teoria Geral do Es- tado de modo a mostrar como a compreensio do Estado exige 0 estudo de uma totalidade, portanto, faz-se necessério combi conhecimentos de diversas dreas ¢ a primeira delas € a filosofia, tanto, para quem i I Camilo Onoda Caldas Se, apés a introdugio, o leitor se sentir instigado a ler o restan- te deste livro ¢, principalmente, se aprofundar no estudo das obras, autores ¢ temas que menciono, o objetivo dessa primeira parte estard cumprido. Os capitulos do livro, por sua ver, consticuem um segundo, momento da obra ¢ possuem um nivel de complexidade menor, assim, seu contetido é perfeitamente compreensivel para quem esté iniciando um estudo sobre o Estado ou nao tem conheci- mentos prévios sobre ciéncia politica ou direito. O principal objetivo dos capitulos & apresentar os concei- tos bisicos utilizados pelos autores de Teoria Geral do Estado. Ainda que predomine uma descrigio bastante sintética das terminologias, tipologias, conceitos e classficagdes contempo- rineas, so apresentados alguns elementos eriticos que podem ajudar a compreender de maneira mais apurada o pensamento politico-juridico predominante na atualidade ¢ a dinamica de fancionamento do Estado, Enfatizo, portanto, que os temas es- colhidos aqui se assemelham ao das demais obras sobre Teoria Geral do Estado, porém apresento reformulagoes de algumas classificagdes e terminologias comumente adotadas e apresento inquietagdes em torno de alguns lugares comuns existentes na “TGE, pois considero que hd muitas décadas alguns pontos vem sendo repetidos de forma acritica, ou seja, aponto que ha ques- {es que merecem ser repensadas e nao apenas reapresentadas. Procurei também evitar © que considero um equivoco co- mum em livros de'Teoria Geral do Estado: a desordem temitica fruto da auséncia de um critério organizador. Essa é a razao pela qual entre as diversas obras de TGE existe uma abissal dispa- ridade na disposigo dos temas. Nao considero que exista um linico critério de ordenagio, mas é possivel notar que muitas vezes nenhum critério & adotado e isso leva a uma variabilidade prejudicial em termos didéticos. Assim, nesta obra, estruturei ‘Teoria geral do Estado 13 © contetido cm cinco capitulos interligados entre si, cujo con- tetido interno de cada um também segue uma disposigio in- tencional. Explico a seguir a légica adotada para ordenagio dos capttulos neste livro. No primeiro, conceituo 0 que é 0 Estado (do ponto de vista de uma Teoria Geral), explico quais so seus elementos consti- tutivos e como se dé sua formagio e extingio. Considero que 0 mais evidente é apresentar o objeto de estudo, as partes que Ihe compoem ¢, em seguida, explicar as questdes a respeito de seu surgimento ¢ desaparccimento. No segundo, trato da orga cio do Estado e de suas ins- tituigdes correspondentes. Ou seja, uma vez compreendi caracteristicas gerais do Estado, expostas no capitulo anterior, estuda-se 0s modos particulares de organizacio do Estado ‘como isso implica em distintas instituigdes ou em alteragies na funcionalidade destas. Essa exposigio traz, por consequéncia, um conjunto de tipologias sobre o Estado, No terceiro, explico como 0 poder estatal, organizado de diferentes modos e presente em diversas instituigées (tema do segundo capitulo), se orienta pelos principios de legalidade e legitimidade, ou seja, explico como a atividade estatal tem como parimetro as normas juridicas de um lado ¢ um determinado nivel de participagio/consenso politico de outro. No quarto, exponho quais os instrumentos para tornar, em tese, mais legitimo 0 contetido das normas legais e das decisoes administrativas. Portanto, trata-se de explicar como o discurso da legitimidade da atividade Estado, abordado no capitulo ante- rior, se constr6i a partir de presenga de formas institucionais de participagio politica. No quinto, mostro como todo conjunto exposto anterior- mente esté inserido, necessariamente, no mbito das relagbes in- ternacionais einterestatais. Neste sentido, encerro mostrando que 14] ‘Camilo Onoda Caldas uma teoria sobre o Estado sempre deve considerar sua existéncia dentro de um conjunto de Estados, o que traz consequéncias na organizagio do Estado, na formagio da legislacio interna, na legitimidade de suas decisdes etc Em suma, os capitulos realizam um movimento que per mite a0 leitor entender 0 que é 0 Estado, quais as partes que © compoem, quais seus principios orientadores ¢ como é dinimica de funcionamento no ambito interno ¢ no ambito externo (internacional Convido vocs leitor a mergulhar no universo de outros es critos sobre politica, economia, dircto ¢ filosofia por meio das obras indicadas ao final deste livro e de cada um dos capitulos. Isso ira aumentar sua capacidade de entender os problemas so- iais que se manifestam cotidi namente ¢, principalmente, os caminhos para solucioné-los. Essa obra é resultado de um trabalho coletivo e agradego a muitas pessoas que contribuiram, direta ou indiretamente, para sua realizagio, com destaque para a equipe da editora Ideias & Letras, responsavel pela edigio deste livro que integra o langa- ‘mento conjunto de outras obras da editora sobre dircito, politica € filosofia. Na impossibilidade de nominar individualmente cada um, compartilho meu sentimento com todos ¢ todas manifes: tando meu agradecimento ao meu amigo Fernando Pereira ¢ 20 meu mestre Alysson Leandro Mascaro, a quem dedico esta obra. INTRODUCAO Elaborar uma teoria sobre o Estado exige a combinagio de liversas ciéncias humanas, como histéria, economia, sociolo- 2, direito e ciéncia politica. Os conhecimentos existentes em ada uma dessas dreas, por sua ver, esto assentados em deter- minadas premissas filos6ficas. Nao existe teoria do Estado que ontra explicitado em uma obra. Sendo assim, a multiplicidade Je teorias sobre o Estado existentes na atualidade serio aqui xplicadas a partir da exposigao dos trés caminhos da filosofia do direito contemporinea, divisio estabelecida pelo professor Alys son Leandro Mascaro. Conforme veremos, a teoria mascariana expie trés vertentes filoséficas distintas na contemporaneidade © juspositivismo, o nao juspositivismo € 0 marxismo) e julga mos que compreender cada uma delas é fundamental para en- ‘enderemos como as teorias sobre o Estado tem se desenvolvido 10 Tongo dos séculos XX e XX1 Apesar da filosofia tradicionalmente tratar a respeito do Es. ado, a concepcio de uma Teoria Geral do Estado (TGE) foi desenvolvida no ambito juridico por intermédio dos pensado- res do juspositivismo, A obra Allgemeine Staatslehre (traduzida como Teoria Geral do Estado) de Georg Jellinek, publicada em 6 Camilo Onoda Caldas 900, € 0 marco do surgimento de uma disciplina ausénoma distinta da Ciéncia Politica (na qual o viés sociolégico-empiico predomina) e do Direito Constitucional (no qual o viés norma tivista predomina). Os prdprios cursos de direito incorporam essa distingao, estabelecendo trés disciplinas que se inter-rela cionam, mas estio formalmente separadas entre siz a Ciéncia Politica, a Teoria Geral do Estado e 0 Direito Constitucional. A aracteristica da Teoria Geral do Estado € nao se ater aos aspec- tos particulares de cada unidade estatal e, portanto, conforme ‘o nome indica, sua finalidade é estudar quais sio os elementos Gomuns a todo Estado. Assim, é a partir da identidade dentro ‘da multiplicidade que se constitui a Teoria Geral do Estado. Jellinek pode ser classficado como pensador do juspositi- ico (nesta vertente inclui-se o jurista brasileiro Mi: vismo ¢% guel Reale conhecido por sua teoria tridimensional do direito) Essa corrente do juspositivismo tem como caracteristica pensar © direito como um dado cultural e, portanto, a forma e 0 con- tetido juridico-cstatal sio considerados 0 am: tos hist6ricos e éticos. Seguindo essa linhas, Jelinek afirma que nfo ha Estado sem direito e vincula o direito aos fins do Estado, cexplicando que essa finalidade seria favorecer 0 desenvolvimento nacional, individual e solidério que possbilita evolugio coletiva indo a toada do juspositivismo eclé progressiva de todos. 0, para 0 jurista alemao os interesses ¢ valores comuns da socie dade somente podetiam se realizar por intermédio do Estado, e propiciar isso € a propria finalidade do Estado. E notéria a influéncia de Jellinek no debate da Teoria do Estado no século XX. Hans Kelsen, autor da famosa Teoria pura do direito, principal expoente do juspositivismo estrito no sé culo XX, tinha Jellinek como um dos alvos de suas criticas. O suspositivismo estrito propde, como condigio do pensamento cientifico, que 0 estudo do fenémeno juridico se restrinja a0 ‘eu aspecto puramente normativo. A pureza cientifica propos- ta por Kelsen consiste justamente em expurgar da ciéncia do direito ¢ do Estado quaisquer elementos histérico-valorativos presente no juspositivismo eclético/ético € no jusnaturalismo), afirmando que nao compete ao pensamento cientifico juridi- co dizer quais séo os valores que devem orientar as finalidades do Estado. Assim, ao contrario de Jellinek, Kelsen isola de sua teoria qualquer elemento sociolégico-empitico ou culturalista rarao pela qual, nao por acaso, elimina qualquer dualidad. tre 0 estatal ¢ 0 juridico, de modo que Estado e diteito se tor nam sindnimos na ética da teoria juridica kelseniana, Em suma, Kelsen d4 um passo adiante no juspositivismo de Jellinek, que jf concebera o Estado como uma ordem juridica e jé formulara uma teoria na qual a ciéncia sobre o Estado ¢ direito ganhava uma relativa autonomia face as demais ciéncias, mas ni zara a cisio completa da Teoria do Estado face aos elementos histéricos, culturais, finalsticos e valorativos Ao longo do século XX, inclusive no Brasil, desenvolve- ram-se teorias a partir dessa tradi¢ao € debate. Por exemplo, tomnou-se lugar-comum adotar a concepgao segundo a qual 0 Estado se define, no minimo, por meio de trés elementos cons titutivos: soberania, povo e territério. Partindo desse conjunto, 0 Estado € descrito como algo comum a todos os momentos da histéria nos quais se constata a existéncia de um miicleo de po- der socialmente organizado. Deste modo, as teorias sobre o Es tado gravitavam em torno de conceitos como poder soberano, representacio politica, povo-nacio, territério nacional etc. Tal forma de pensar traz consigo diversos elementos do pensamen (0 juridico juspositivista ¢ um destacado aprego pelos métodos Na perspectiva juspositivista, a soberania é pensada como um poder normativo, de determinar a lei, Ao mesmo tempo, 0 20) Camilo Onoda Caldas demais agentes sociais. Foucault dissolve a ideia de que o Es: tado € soberano, sendo detentor do maximo poder em relagéo aos stiditos. Na teoria foucaultiana, tanto os membros do Exe- cutivo, como os do Legislativo e do Judiciério, cada qual a seu modo ¢ em determinada situagio, sio capazes do exercicio do poder fora dos limites normativos, ou ainda, dito de outra ma- neira, estio apros a estabelecer 0 que é 0 diteito. O mesmo ocorre ‘com outros espagos fora do Estado, no qual uma legalidade pré: pria e operant se instala. Reforcando a premissa schmittiana, 0 éxito concreto no exercicio do poder & que estabelece a ordem vi- gente e permite legitimar a agio, 0 que pode ocorrer por meio do discurso jurfdico-legal ou nao (isso ocorre, por exemplo, quando utoridade judicidria afirma que apenas esta aplicando uma interpretagao do direito, mas na realidade esté apenas exercendo arbitrariamente o poder que detém). Nesse ponto, os conceitos de Aegemonia (vide Antonio Gramsci) ¢ aparethos ideolégicos (vide Louis Althusser) sio con. tribuigdes decisivas para o debate acima mencionado. E posstve que o exercicio do poder contrarie as determinagées mais dbvias de um texto legal, contanto que esteja em conformidade com a ideologia predominante ou que constitua apenas um atrito pont I, ndo um choque com a estrutura do todo social. O grau de absorgio de uma decisio politica ou judicial esté diretamen- te relacionado & sua afinidade com o bloco hegeménico ~ vol- tado & conservagdo da ordem ~ que exerce seu dominio sobre a totalidade social (econdmica, politica, cultural etc.). Ademais, a nao deve ser vista apenas uma forma idealizada de ver ideolog © mundo, mas sim como expressio de relagies sociais material mente constitu/das que reproduzem essa mesma sociabilidade estabelecida. Por essa razio, a tentativa de se exercer o poder na contramdo da ideologia encontra uma contratendéncia concre- ta, nfo apenas ideal, Teoria geral do Estado jar As teorias baseadas no materialismo hist6rico de Karl Marx jo conhecidas por estabelecer uma relagio entre economia, di- cito € politica, Dentre as diversas teorias, a melhor contribui- 0 € oriunda de um conjunto de pensadores que foi capaz de identificar a relagio entre forma mercadoria, forma juridica ¢ forma politica, Esta vertente confronta-se, inclusive, com cor- rentes mais difundidas do marxismo. Vejamos isso, Uma visio mais conhecida ¢ tradicional do marxismo afirma queo Estado e o direito tém sido instrumentos historicamente uti lizados pela classe domi | na dade Média (modo de producio feudal) e continuou existindo ante para explorar as classes dominadas. o seria verificével na Antiguidade (modo de produgio escravista), com o desenvolvimento do modo de produgio capitalista a partir dla Idade Moderna, Essa perspectiva foi difundida mundialmente pela antiga Unido Sovietica, sobretudo quando se tornou doutrina oficial a partir do governo de Joseph Sein. No Brasil, muitos estudiosos da Teoria do Estado se limi- taram a reproduzir (¢ criticar) a visio soviética como a tinica teoria marxista do Estado e do direito. Na Europa, diferente mente, a partir da década de 1960, surgiram tcorias diferentes, inclusive contrérias & doutrina soviética, Dentre elas, des de Evgeni Pachukanis, jurista soviético que foi condenado pelo regime stalinista na década de 1930, justamente por ter um pensamento sobre 0 Estado € 0 direito que se opunha & doutrina oficial da Un 10 Soviética, que perduraria até o final da existéncia desse pais na década de 1990. Os consideréveis avangos obtidos por essa vertente alterna: tiva ao marxismo “oficial” podem ser encontrados em quatro obras: Teoria Geral do Direito e Marxismo (Pachukanis); Teoria Matcrialista do Estado (Hirsch); Estado ¢ Forma Politica (Mas- caro) ¢ Teoria da Derivagio do Estado ¢ do Direito (Caldas), todas indicadas ao final desta obra 2 Camilo Onoda Caldas Pachukanis inova a reflexio a respeito do Estado ¢ do di- reito a0 claborar uma teoria que demonstra a especificidade da forma juridica ¢ da forma estatal contemporaneamente. Isso foi possivel justamente porque ele tratou de entender 0 que dife- rencia o capitalismo dos modos de produgio anteriores. ‘Trés méritos podem ser destacados na teoria de Pachukanis: 1. Do ponto de vista da teoria do Estado, ele evidencia a insuficiéncia das explicagBes que descrevem o Estado como forma de organizagio politica universal, existente em todos os periodos da histéria (raciocinio encontra- do dentro ¢ fora do pensamento marxista). O jurista soviktico mostra o seguinte: aquilo que contempora- neamente se entende por Estado tem seus caracteres expecificos desenvolvidos a partir de certas transforma- ‘Goes sociais, sobretudo na economia, verificaveis a par- tir da modernidade. . Do ponto de vista da teoria do direito, ele mostra como 0 Estado moderno somente pode ser entendido conjun- tamente a partir de uma explicagio a respeito do que é a forma juridica e como ela se apresenta na sua plenitude apenas com o desenvolvimento do capitalismo. . Do ponto de vista metodoligico, ele fortalece a pers- pectiva histérico-materialista, primeiro, porque cap- tou as distingdes existentes das organizacdes politicas a0 longo do tempo, segundo, porque as nuances foram estabelecidas a partir das particularidades das relagdes econdmico-socias existentes em cada periodo, Vejamos em maiores detalhes a explicagio pachukaniana. No escravagismo © no feudalismo a dominagao de uma classe sobre a outra nao depende de categorias juridicas € poli- ticas. A violéncia direta de um grupo sobre o outro é suficiente para garantir a submissio e, consequentemente, a exploragio da “Teoria geral do Estado [23 fra de trabalho. A idcologia legitimadora dessa realidade pode ve manifestar em varios campos ~ religido, moral, artes etc. contudo, no hi uma ideologia juridica e politica propriamen- te aplicdvel & relagdo entre classes. O escravo (ou 0 servo) en- eontra-se no espago da economia denominado, nio por acaso, espago privado, justamente porque hé uma privagio do poder politico ~ diferentemente do espago puiblico. Do ponto de vista juridico, © escravo é uma coisa, ndo é um sujeito de direito — ‘jo tem direitos subjetivos ~, nio esté sob dominio da lei, mas sim da vontade do seu senhor. No capitalismo, de maneira diversa, a exploracio da forca de trabalho e a consequente dominagio da classe burguesa so- brea classe trabalhadora dependem do Estado de uma manecira propria, pois elas ocorrem por intermédio do déncia do capitalismo em relagio a0 Estado 20 corre de uma condigio subjetiva, de uma vontade de uma classe ou de um individuo simplesmente, mas se encontra no préprio modo como as relagdes sociais da economia capitalista se estrutu- ram. O capitalismo se define por ser um modo de produgio no qual um sujeito nfo € coagido ditetamente a vender sua forga de trabalho para outro. Ele o faz voluntariamente, ainda que deter- ‘minado pela condigio social, razio pela qual decide, no maximo, para quem fard a venda, mas nio se fard. Portanto, © que ha no capitalismo sio relagées entre sujeitos que se reconhecem como livres, ou seja, dotados da liberdade de celebrar contratos, de fixar normas ~ obrigagbes reciprocas ~ entre si. H4 ainda uma igual- dade (Formal/juridica) entre os sujeitos, pois os contratos e as leis serio aplicéveis igualmente contra ambos. Portanto, 0 Estado ¢ 0 dircito transformam.se qualitativamente a partir do advento do capitalismo nos seguintes termos: 1. © Estado assume a forma de um poder puiblico que arroga 0 monopélio da forga. Ele nao estars mais sobre 24] ‘Camilo Onoda Caldas ‘controle direto da classe dominante, pois seu papel se torna a garantia do respeito das leis ¢ aos contratos, vé- lidos igualmente para todos. Protegendo a legalidade, 0 Estado possibilita a reproducio do processo de explo- ragio do trabalho © de acumulagio de capital. Neste «aso, 0 cidadso serd a expresso do individuo enquanto tomo que constitui a comunidade politi IL. A forma jurfdica, por sua vez, perpassa, necessariamen- te, as relagdes sociais, diferentemente do escravismo/ feudalismo, pois 0 capitalismo implica a existéncia do sujeito de direito ¢ a consequente necessidade de se definir com clareza sob quais condigées o negécio juridico tera validade (obrigars as partes). Isso significa cestabelecer quando o exercicio da liberdade esté apto a produzir efeitos. No capitalismo, portanto, as relagSes sociais no campo da economia ganham necessariamen- te contornos juridicos. Neste caso, 0 sujeito de direi- to serd a expressio do individuo enquanto étomo que constitui da sociedade civil. Joachim Hirsch, por sua vez, integrou o debate britinico- -alemo mais fecundo a respeito da tcoria do Estado na Europa a partir da década de 1960, conhecido como o “debate da deri vagio do Estado”. Os avangos na teoria de Hirsch ficaram dentes a partir do momento em que o filésofo alemo assimilou as contribuigGes de Pachukanis. A passagem a seguir é exemplar nesse sentido, pois é possivel observar como a questio da espe- Cificidade do Estado no capitalismo aparcce em sua teotia: ‘A apropriagio da maisvalia ea manutengio da estrutura social e sua relagio nao se baseiam, na sociedade eapita- lista em relagdes imediaras de poder e dependéncia, nem diretamente no poder na forga de opressio da ideologia, ‘mas sim em operagdes imperceptiveis das leis ocultas da “Teoria gerl do Estado [25 reprodusio. No entanto, como 0 processo de reproduséo socal ede apropriagfo da mais-vala & mediado por meio da livre ciculagio de mercadoria, baseado nos principios da troca equivalente e do fato de 0 trabalhador ascala- riado dispor de sua forga de trabalho ~ da mesma forma pela qual os capitalisas dispoem da mais-valia adquirida « acumulada ~ a aboligio de todas as barreiras que the Go opostas ~ isto é as relagies de poder diretas entre os detentores dos meios de produgio e de dependéncias pes- soais € restrigges ("Feudalism") na esfera da circulagio dde mereadorias — acaba sendo um elemento essencial da forma capitalista de sociedade. ©’ modo ea forma de pro- duo desse contexto social, no qual 2 divisio do trabalho social e a apropriagio do produto excedente necessaria- ‘mente requer que os produtores imediatos se despojem de dispor dos instrumentos de forga fsica € que estes se localizem em uma instanca socal distinta erguida acima do processo econdmico de reprodugio: a ctiagio da igual- dade ¢ liberdade formais burguesss, assim como 0 estabe- lecimento do monopélio estatal da forga. A dominagio da classe burguesa é essencal ¢ basicamente caracterizada pelo fato de que a clase dominante tem de conceder 0 poder que assegura sua dominagio organizando-o formal- mente separada dela! Hirsch, no entanto, nao se limita a descrever o Estado € 0 direito na perspectiva pachukaniana. Ele oferece ao menos duas contribuig6es inestimaveis, avangando muito em relagio as tra- dicionais consideragoes sobre 0 Estado, ao mostrar que: 1. O fendmeno da “globalizagio” © as correspondentes transformagdes do Estado estio ligados ao préprio de- senvolvimento imanente das relagées sociais capit tas, inclusive para responder &s suas crises sistémicas. 1 HIRSCH, Joacim. The sae apparatus and sca eproduction:elemens ofa theory ‘ofthe bourgeois Sa ns HOLLOWAY, John: PICCIOTTO, Sol (Es). State and Cap ‘al A Mage Debate Londes: Edward Arnold, 197, p. 6162. Traugo nos Camilo Onoda Caldas Neste ponto, Hirsch foge dos lugares-comuns, por exemplo, do tradicional discurso de que a “soberania” dos estados ¢ relativizada/reduzida com a eriagio dos ‘organismos internacionais ¢ o fortalecimento do direi- to internacional simplesmente por haver uma demanda politica para se fixar parimetros minimos em confor- midade com a “dignidade da pessoa humana” ou com ‘os “direitos humanos”. |. © Estado (co direito) tem papel crucial nas constantes, inevitiveis ¢ ciclicas crises do capitalismo, no sentido de modificar alguns de seus aspectos, mantendo sua esséncia. Novamente, neste ponto, Hirsch vai muito além da dicotomia tradicional, que procura explicar as crises econémicas como decorréncia da presenga do Estado ~ (nco)liberais ~ ou de sua auséncia ~ os de- votos do Estado de Bem-Estar Social. ‘Trata-se aqui de recuperar uma das principais contribuigées de Marx: a demonstragéo de que capitalismo e crise sio indissocié- veis, Hirsch ocupa-se de mostrar como o Estado atua de modo a regenerar permanentemente 0 € © que implica transformagées no campo juridico e po- Iitico inclusive. Em 2013, foi publicado no Brasil um artigo de Hirsch que sintetiza perfeitamente os pontos que destacamos acima: (© processo da chamada “globalizagio” € na esséncia um ataque &s conquistas democriticas do século XIX e sobre- tudo do século XX. Entre elas estio extensio do diteito de votos, 6 controle parlamentar do Poder Executivo ¢ a implantagio de algumas garantias socais, sem as quais a democracia real, mesmo no limitado sentido liberal capi- talista, difcilmente funcionaria, Ao lado do movimento ‘operirio em permanente fortalecimento, foi sobretudo a “Teoria gerl do Estado 27 pressio da concorréncia entre sistemas apés a Revolugéo cde Outubro que obrigaram os dominantes a fazer algu- _mas concessbes politicas ¢ socais. O capitalismo fordista, apoiado sobre esta correlagio de forgas, garantiu por um longo tempo a compatbilidade entre lucrativa produgio de massa, consumo de massase politica social rformista Esta fase chegava ao fim nos anos setenta do século XX. AAs relagies sociais de forga institucionalizadas no Estado de bem-estar social fordista mostraram-se crescentemente ‘como uma barteta para 6 lucto do capital. Seguiu-se a ‘grande crise mundial dos anos setentae, com ela, a grande contraofensiva neoliberal. A queda do campo do socialis- mo de Estado complerou o seu éxito. O objetivo do pro- jeto neoliberal, mais exatamente a criagto de um sistema politico-econdmico livre de uma série de interferéncias ddemocriticas, estava criado. O que, ap6s 1989, foi come- :morado como sendo o inicio de uma nova era democréti- «4 revelou-seem muitos sentidos como sendo o conttatio. Estabeleceu-se um sistema mundial de Constitucionalis- ‘mo neoliberal, isto é um entrelagamento de instituigies politcas internacionais, de regras € procedimentos que sobretudo serviam 2 garantia da propriedade privada, & liberdade de investimentos € & abertura de mercados, ¢ ‘que na pritica reirou de cada Estado a possibilidade da influéncia politica democratica. Aparentemente, tera sido rompida a ligagio histrica entre o capitalismo ¢ a demo-

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