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23/01/2023 - Ergonomia

DEFINIÇÕES
FARMACOLOGIA: estudo dos fármacos e
medicamentos.

FÁRMACO: princípio ativo de substância de


estrutura química definida. Utilizada para benefício
do organismo.

MEDICAMENTO: fórmula farmacêutica com


combinação de fármacos e seus excipientes
('Quantidade Suficiente Para' – completar o peso
ou volume da dose e conferir estabilidade ao
medicamento) definida e pronta para uso Os fármacos podem ser obtidos a partir dos três
comercial. reinos: animal, vegetal e mineral, sendo o vegetal
o mais utilizado.
TÓXICO: oposto ao fármaco. Substância de
estrutura química definida que causa malefícios ao A absorção dos fármacos pode ocorrer por meio
organismo. de vários mecanismos desenvolvidos para
explorar ou romper essas barreiras. Uma vez
DROGA: substância quimicamente definida absorvido, o fármaco utiliza sistemas de
responsável por gerar modificações fisiológicas ou distribuição dentro do organismo, como os vasos
comportamentais dos organismos vivos de forma sanguíneos e linfáticos, para alcançar seu órgão-
positiva ou negativa. alvo em concentração apropriada.
PLACEBO: substância quimicamente inerte, sem
FARMACOCINÉTICA
atividade biológica, responsável por gerar um
efeito que não tem relação com a ação do A farmacocinética descreve movimento dos
fármaco. fármacos em nosso organismo, sendo definidos
em quatro parâmetros farmacocinéticas: ADME
REMÉDIO: qualquer manobra, substância ou
Absorção / Distribuição Metabolismo e Excreção
atividade que leve benefício ao organismo
do fármaco
receptor. Engloba tudo que é utilizado por um ser
para benefício, não sendo necessariamente um
medicamento.

Para estudar as substâncias químicas


previamente definidas para gerar benefícios no
organismo receptor, é preciso ter conhecimento
dos processos vitais e a forma de utilização deles
para a saúde.

Farmacologia ➝ farmacocinética (estudo do


movimento do fármaco no organismo).

➝ farmacodinâmica (estudo das


interações do fármaco com as estruturas do
organismo).
Os princípios básicos de farmacocinética afetam a
quantidade de fármaco livre que finalmente
alcançará o sítio-alvo. Para produzir efeito, o
fármaco precisa ser absorvido e, a seguir,
distribuído até seu alvo antes de ser metabolizado • Via enteral por via oral – é a mais simples
e excretado. das vias de administração de fármacos.
Porém, expõe o fármaco a ambientes ácido
1. Absorção (estômago) e básico (duodeno) rigorosos,
podendo limitar sua absorção.
Passagem de fármaco do seu local de
administração para a corrente sanguínea. Para É uma via que oferece várias vantagens ao
que isso ocorra, é necessário atravessar o paciente, pois é de fácil autoadministração e a
endotélio do capilar sanguíneo, composto pelo deglutição tem menos tendência do que outros
folheto binocularidade de lipídios, permeados por métodos a causar infecções sistêmicas como
proteínas (50/1) com característica apolar. complicação do tratamento.

O centro hidrofóbico de uma membrana biológica


representa importante barreira para o transporte • Via parenteral: introdução direta de um
dos fármacos. Os principais meios de transporte fármaco na circulação sistêmica, no líquido
de membrana são: cefalorraquidiano, em tecido vascularizado
que supera as barreiras capazes de limitar a
- Difusão passiva: transportam moléculas eficiência dos fármacos administrados por
lipossolúveis apolares. Juntamente com a via oral.
pinocitose e endocitose, é um transporte a favor
do gradiente de concentração. A administração subcutânea (SC) fármaco no
tecido adiposo pouco vascularizado resulta em
- Pinocitose ou endocitose: membrana celular início de ação mais lento do que a injeção em
envolve a molécula para formar uma vesícula, a espaços intramusculares (IM) bem
partir da qual o fármaco é subsequentemente vascularizados.
liberado no interior da célula.
A introdução direta na circulação venosa [por
- Filtração: substâncias muito pequenas via intravenosa (IV)] ou arterial [intra-arterial
atravessam o endotélio do capilar sanguíneo (IA)] ou no líquido cefalorraquidiano [intratecal
através dos espaços intercelulares. (IT)] faz com que o fármaco alcance mais
rapidamente o órgão-alvo.
- Difusão ativa ou facilitada: moléculas
polares/proteínas grandes. O transporte ativo gera • Via transmucosa: a administração de
gasto de energia e independe do gradiente de fármacos através de membranas mucosas
concentração. pode proporcionar potencialmente rápida
Após a absorção do fármaco, uma fração deste absorção, baixa incidência de infecção e
geralmente se liga a proteínas plasmáticas conveniência na autoadministração, além de
(principalmente a albumina) ou proteínas de evitar o ambiente gastrintestinal adverso e o
tecidos, formando um complexo reversível. A outra metabolismo de primeira passagem.
fração circula livremente pelo fluido biológico. É
importante frisar que apenas a porção livre, Os epitélios sublingual, ocular, pulmonar, nasal,
dissolvida no plasma, é farmacologicamente ativa. retal, urinário e do trato reprodutor foram todos
A ligação proteica geralmente é inespecífica, utilizados para administração de fármacos em
variando de acordo com a afinidade do fármaco gotas, comprimidos de rápida dissolução,
pela proteína. aerossóis e supositórios (entre outras formas
farmacêuticas). As mucosas são muito
FATORES QUE INTERFEREM NA VELOCIDADE vascularizadas, possibilitando ao fármaco
DE ABSORÇÃO: penetrar rapidamente na circulação sistêmica e
alcançar seu órgão-alvo em tempo mínimo. Os
Vias de administração: quanto mais membranas o fármacos também podem ser administrados
fármaco precisa atravessar para chegar à diretamente no órgão-alvo, o que torna seu início
circulação sanguínea, mais lenta é a velocidade de ação praticamente instantâneo. Esse aspecto
de absorção. constitui vantagem em situações críticas, como
asma aguda, em que certos fármacos são tornam a substância polar. Quanto mais as
administrados diretamente nas vias respiratórias substâncias estiverem em sua forma molecular,
por aerossóis. mais facilmente serão absorvidos, sendo ácidos
melhor absorvidos em meios ácidos e bases em
• Via transdérmica: os fármacos meios básicos.
administrados por via transcutânea são
absorvidos a partir da pele e dos tecidos O pKa do fármaco indica em qual pH encontra-se
subcutâneos diretamente para o sangue. 50% do fármaco em sua forma ionizada e 50% na
forma molecular (ponto de equilíbrio da molécula).
É ideal para um fármaco que precisa ser Quanto maior ou menor for o pH em relação ao
administrado de modo lento e contínuo por longo pKa do fármaco, maior será o número de
período. moléculas.
EX: quanto mais ácido for o pH do meio de um
Forma farmacêutica: cápsulas, comprimidos e
fármaco de pKa ácido, maior será o número de
drágeas sofrem primeiramente desintegração em
moléculas desta substância.
grânulos ou agregados de diâmetro menor de fora
para dentro. Quando se dissolvem, ou seja, se
transformam em fármacos em solução, são
absorvidos e distribuídos na circulação sanguínea.

Lipossolubilidade: permite a absorção por difusão


passiva. Quanto maior lipossolubilidade, maior a
velocidade de absorção.

Superfície de absorção e fluxo sanguíneo local: o


estomago possui uma superfície lisa com pequena
área de absorção, já o intestino é formado pelas
dobras de Kerckring, vilos e microvilos de 200m²
(600x a do estômago). Com isso, conclui que o
intestino é a principal área de absorção devido ao
maior fluxo sanguíneo. Quanto maior a superfície
de contato, maior a velocidade de absorção.

Esvaziamento gástrico: o tempo em que a


substância leva para chegar ao intestino influencia
a velocidade de absorção – em jejum o tempo para
sair do estômago e chegar ao intestino é por volta A absorção pelo trato gastrointestinal é mais
de 1h30min, e após uma refeição, o tempo de importante no quesito fluxo sanguíneo, superfície
absorção é em torno de 4h. Esse aumento do de absorção, hidrólise e transformação, tamanho
tempo de esvaziamento gera um retardo e menor das partículas, interação, idade e valores - pelo
velocidade de absorção no intestino. efeito de primeira passagem, ou seja, após
atravessar o epitélio gastrintestinal, os fármacos
Motilidade intestinal: o aumento da motilidade são transportados pelo sistema porta até o fígado
intestinal gera menor velocidade de absorção, pois antes de passar para a circulação sistêmica.
diminui o tempo de contato entre o fármaco e a
mucosa intestinal, prejudicando a absorção. Nesse processo, as enzimas hepáticas podem
inativar uma fração do fármaco ingerido. Qualquer
Concentração da droga no local de absorção: fármaco que sofra metabolismo de primeira
quanto maior a concentração de fármaco no local passagem significativo precisa ser administrado
de absorção, maior a velocidade de absorção. em quantidade suficiente para assegurar a
presença de uma concentração efetiva na
pH do meio e pKa da droga: os fármacos podem circulação sistêmica, a partir da qual possa
ser ácidos ou básicos. Em meio cujo pH é muito alcançar o órgão-alvo.
diferente ao do fármaco, eles tendem a se
dissociar e formar íons, emitindo cargas que
Fármacos administrados por vias não enterais não
estão sujeitos ao metabolismo hepático de
primeira passagem.

Na via retal, até 50% da substância sofre o efeito


de primeira passagem, pois tem acesso as veias
hemorroidais médias que vão direto a circulação
sistêmica.

Qualquer via que metabolize o fármaco antes de


atingir a circulação sistêmica é considerado via de
primeira passagem, por exemplo, fármacos que
ativam enzimas na via respiratória.

FARMACOCINÉTICA CLÍNICA
Biodisponibilidade: é definida como a fração do
fármaco inalterado que alcança a circulação
sistêmica logo depois da administração por
qualquer via.

Para uma dose intravenosa, presume-se que a


biodisponibilidade seja igual à unidade. No caso
de fármaco administrado por via oral, a
biodisponibilidade pode ser menos de 100% por
duas razões principais – extensão incompleta da
absorção através da parede intestinal e eliminação
na primeira passagem pelo fígado.

MEDICAMENTO GENÉRICO

Medicamento bioequivalente – possui os mesmos


valores de Tmáx e Cmáx ao medicamento de
referência.

MEDICAMENTO SIMILAR
V.o líquido: toda droga teoricamente disponível na
mucosa gástrica para absorção. Medicamento que copia os medicamentos de
referência ou genéricos.
V.o comprimido ou cápsula: outros fatores
envolvidos - desintegração do envoltório + taxa de 2. Distribuição
dissolução da droga no líquido gástrico ou
intestinal, etc. É a passagem do fármaco da corrente sanguínea
para os diferentes órgãos e tecidos. A distribuição
de um fármaco ocorre primariamente por meio do
sistema circulatório, enquanto o sistema linfático
contribui com um componente menor. Uma vez
absorvido na circulação sistêmica, o fármaco é
então capaz de alcançar qualquer órgão-alvo.

FATORES QUE INTERFEREM NA VELOCIDADE


DE DISTRIBUIÇÃO:

Propriedades físico-químicas do fármaco para


atravessar as membranas: a lipossolubilidade de
Altas taxas de ligação a proteínas tem algumas
um fármaco influencia na distribuição do mesmo,
implicações clínicas:
pois os que são pouco lipossolúveis, possuem
baixa capacidade de permear membranas • Deslocamento proteico a níveis tóxicos:
biológicas, sofrendo assim restrições em sua
distribuição. Também sofre influência do pKa do No caso de concentrações elevadas do fármaco,
fármaco, pois quanto maior for o número de a quantidade de fármaco ligada aproxima-se de
moléculas, mais facilmente se distribui. um limite superior, determinado pelo número
disponível de sítios de ligação. A saturação dos
Débito cardíaco: é importante em indivíduos com sítios de ligação é a base das interações de
ICC, pois pode levar a concentração de fármacos deslocamento entre os fármacos.
em alguns compartimentos para níveis tóxicos.
Se dois fármacos (A e B) assim competirem, a
Fluxo sanguíneo regional: a taxa de fluxo de administração do fármaco B pode reduzir a ligação
sangue para os capilares dos tecidos varia proteica do fármaco A, aumentando a
amplamente. Por exemplo, o fluxo de sangue para concentração plasmática da sua forma livre.
os órgãos ricos em vasos (cérebro, fígado e rins)
é maior do que para os músculos esqueléticos. O O acúmulo de fármacos nos tecidos ou
tecido adiposo, a pele e as vísceras têm fluxo compartimentos corporais, em especial o tecido
sanguíneo ainda menor. adiposo, pode prolongar sua ação porque os
tecidos liberam o fármaco acumulado à medida
Características anatômicas das membranas que diminui sua concentração plasmática. O
capilares: a permeabilidade capilar é determinada armazenamento no tecido adiposo inicialmente
pela estrutura capilar e pela natureza química do encurta o efeito do fármaco, mas, em seguida,
fármaco. A estrutura capilar varia em termos de prolonga-o.
fração exposta da membrana basal com junções
com frestas entre as células endoteliais. • Hipoalbuminemia
(insuficiência hepática)
Ligação a proteínas: no sangue, quase todas as
drogas se subdividem em duas partes, a livre, A albumina, produzida no fígado, é muito
dissolvida no plasma, e outra que se liga às importante para a nossa circulação sanguínea,
proteínas plasmáticas, especialmente à fração pois é ela que regula o nível de água no sangue.
albumínica. A droga e a proteína formam um A hipoalbuminemia grave tem como consequência
complexo reversível, passível portanto de um desequilíbrio importante da pressão osmótica
dissociação. Do ponto de vista farmacológico, entre os espaços vasculares e extravasculares,
somente a parte livre é que pode ser distribuída, provocando o aparecimento de edemas.
atravessar o endotélio vascular e atingir o
compartimento extravascular. O que define o O armazenamento de drogas ocorre por
quanto será ligado às proteínas e quanto circulará associação com elementos teciduais, mais
livremente é a taxa de ligação à proteína comumente o tecido ósseo e adiposo, com
plasmática. formação de depósitos e consequente
prolongamento do efeito.

Flúor, chumbo ou tetraciclinas se armazenam no


tecido ósseo durante a fase de mineralização,
gerando fragilidade óssea e deficiência de
crescimento. Por isso, é o proibido o uso em
crianças e gestantes. No caso de anestésicos
gerais e inseticidas há o armazenamento no tecido Essas modificações são designadas, em seu
adiposo que causam possíveis lesões hepáticas. conjunto, como biotransformação.

DISTRIBUIÇÃO DOS FÁRMACOS PARA O fármaco ativo após a biotransformação pode se


COMPARTIMENTOS ESPECIAIS: converter em:

Sistema Nervoso Central - Fármaco inativo


- Metabólito ativo (igual atividade)
Exibe uma passagem seletiva de substâncias para - Metabólito ativo (menor atividade)
proteção do órgão. A barreira hematoencefálica - Metabólito ativo (maior atividade)
utiliza junções estreitas, especializadas em
impedir a difusão passiva da maioria dos fármacos O metabólito ativo permanece menos tempo no
da circulação sistêmica para a circulação cerebral. organismo do que o original, pois se tornou mais
Por conseguinte, os fármacos destinados a atuar polar, encurtando o efeito.
no SNC devem ser suficientemente pequenos e
O pró-fármaco (substância inativa) após o
hidrofóbicos para atravessar com facilidade as
processo de biotransformação pode converter em
membranas biológicas, ou devem utilizar as
metabólito ativo (fármaco).
proteínas de transporte existentes na barreira
hematoencefálica para penetrar nas estruturas Principais locais de biotransformação:
centrais.
• Fígado: predominantemente no fígado,
Complicações: barreira para o tratamento em especialmente pelo sistema do citocromo
casos de encefalite bacteriana e doença de P450;
Parkinson, causada por deficiência de dopamina • Intestino
no SNC. Os fármacos hidrofílicos que não
• Rins: a maioria dos fármacos lipofílicos é
conseguem ligar-se a proteínas de transporte
metabolizada a produtos mais polares, que
facilitado ou ativo na barreira hematoencefálica
são então eliminados na urina;
são incapazes de penetrar no SNC. É possível
• Pulmões: ocorre apenas com agentes
transpor a barreira hematoencefálica utilizando
altamente voláteis ou gasosos (p. ex.,
infusão intratecal do fármaco, em que este é
anestésicos gerais;
diretamente liberado no líquido cefalorraquidiano
• Leite/Suor
(LCR).
Momentos da biotransformação:
A levodopa é absorvida do trato gastrointestinal e
atravessa a barreira hematoencefálica através de 1. Durante a distribuição principalmente pelo
um mecanismo de transporte de aminoácidos fígado, intestino, pulmões e rins.
antes de ser convertida em dopamina ativa nas
terminações nervosas dos gânglios da base. 2. Durante a absorção: pelo efeito de 1ª
passagem ou biotransformação pré-sistêmica. – é
Barreira hematoplacentária uma biotransformação inicial que ocorre antes da
distribuição, podendo ser consequência de
A placenta não funciona como barreira. Os vasos
administração oral (metabolismo de 1ª passagem
sanguíneos do feto são formados por uma única
hepático) ou inalatória (metabolismo de 1ª
camada de células. A maioria das drogas sofrem
passagem pulmonar).
retardo na transferência para o feto.
Classificação das reações de biotransformação:
3. Metabolismo/
O metabolismo dos fármacos envolve dois tipos de
Biotransformação reação, conhecidos como de fase 1 e fase 2, que
ocorrem de modo sequencial com frequência.
As enzimas hepáticas têm a propriedade de
Ambas as fases diminuem a lipossolubilidade,
modificar quimicamente uma gama de
aumentando, assim, a eliminação renal.
substituintes nas moléculas dos fármacos,
tornando-os inativos ou facilitando sua eliminação. FASE 1 (oxidação, redução ou hidrólise)
São reações catabólicas e seus produtos Diazepam, Indinavir, Lidocaína, Macrolídeos,
geralmente são quimicamente mais “reativos”. Miconazol, Midazolam, Ritonavir, Saquinavir,
Tipicamente, um grupo polarizado é adicionado ou Triazolam.
encoberto para que o fármaco se torne mais
polar/hidrossolúvel. Metabolismo não-hepático:

As reações de biotransformação desta fase Ocorre nos rins, pulmões, intestino etc. através de
podem ocorrer nos órgãos através de metabolismo microssomal (retículo
metabolismo hepático e não-hepático, de forma endoplasmático liso) e não-microssomal
extracelular, microssomal e não-microssomal. (mitocôndria, lisossomo e plasma), podendo ser
feito por bactérias ou enzimas, incluindo os
Metabolismo hepático: membros da família P450 (P-450 não é exclusivo
do hepatócito).
O fígado é especialmente importante nas reações
da fase 1, pois muitas enzimas hepáticas que FASE 2 (conjugação/hidrólise)
metabolizam fármacos, incluindo as enzimas CYP,
estão inseridas no retículo endoplasmático liso. São reações sintéticas e incluem conjugação
(ligação de um grupo substituinte) com uma
O sistema enzimático do citocromo P450 molécula grande e polar, a fim de inativá-la ou,
(oxidades de função mista) microssomal é a via normalmente, aumentar sua solubilidade e
mais comum no fígado que medeia um grande excreção na urina ou na bile.
número de reações oxidativas.
Em certas ocasiões, a hidrólise ou a conjugação
Alguns fármacos podem ser administrados em podem resultar em ativação metabólica de pró-
forma inativa (pró-fármacos) e alterados fármacos. Em geral, os grupos mais adicionados
metabolicamente para a forma ativa mediante incluem glicuronato, sulfato, glutationa e acetato.
reações de oxidação/redução no fígado. Essa
estratégia pode facilitar a biodisponibilidade oral,
diminuir a toxicidade gastrintestinal e/ou prolongar
a meia-vida de eliminação de um fármaco.

Citocromo P-450: P (forma reduzida combina-se


com o monóxido de carbono e forma um composto
rosado/pink) 450 – picos de absorção no
espectrofotômetro de 450 nm. Sequência do processo de biotransformação:

Principais isoformas do citocromo P-450: Pró-fármaco: Moléculas que só se tornam


fármacos após o processo de biotransformação.

Metabolismo por bactérias intestinais

A biotransformação tem por objetivo realizar a


eliminação de um fármaco, mas também a
reativação e reabsorção do mesmo.

• Circulação êntero-hepática:

A CYP3A4 é responsável pela oxidação da maior As células hepáticas transferem diversas


parte dos fármacos clinicamente prescritas, como: substâncias, inclusive fármacos, do plasma para a
Acetaminofeno, Amiodarona, Cocaína, Cortisol, bile por meio de sistemas de transporte
semelhantes aos do túbulo renal. Alguns Dieta e ambiente: Tanto a dieta quanto o
compostos de fármacos hidrofílicos ambiente podem alterar o metabolismo dos
(principalmente glicuronídeos) ficam concentrados fármacos ao induzir ou inibir as enzimas do
na bile e são enviados para o intestino, em que o sistema P450. Exemplo interessante é o suco de
glicuronídeo pode ser hidrolizado, regenerando o toranja (grapefruit). A exposição a poluentes pode,
fármaco ativo; o fármaco pode então ser de modo semelhante, produzir efeitos radicais
reabsorvido e o ciclo repete-se, em um processo sobre o metabolismo dos fármacos; um exemplo é
denominado circulação êntero-hepática. a indução das enzimas P450 mediada por AhR,
ocasionada por hidrocarbonetos aromáticos
O resultado é um “reservatório” de fármaco policíclicos presentes na fumaça do cigarro.
recirculante que pode representar até cerca de
20% do total de fármaco presente no organismo, 2. Fatores genéticos
prolongando sua ação.
Expressão de enzimas com maior ou menor
Implicações clínicas: atividade – determinadas populações exibem
polimorfismos ou mutações em uma ou mais
- Interações medicamentosa (antimicrobianos); enzimas do metabolismo de fármacos,
- Problemas intestinais (diarreia); modificando a velocidade de algumas dessas
reações e eliminando outras por completo.
FATORES QUE INTERFEREM NA
3. Idade e sexo
BIOTRANSFORMAÇÃO:
Extremos etários RN e idosos.
1. Atividades das enzimas de
biotransformação: 4. Doenças
Inibição enzimática: um fármaco inibe a Como o fígado constitui o principal local de
transcrição do gene que produz a enzima biotransformação, várias doenças hepáticas
responsável por biotransformar um outro fármaco, comprometem significativamente o metabolismo
fazendo com que atividade da enzima seja dos fármacos. Hepatite, cirrose, câncer,
reduzida e ocasione o aumento da concentração e hemocromatose e esteatose hepática podem
tempo de meia vida deste outro fármaco, comprometer as enzimas do citocromo P450 e
aumentando sua toxicidade se não houver ajuste outras enzimas hepáticas cruciais para o
posológico. metabolismo dos fármacos. Os níveis das formas
ativas de muitos fármacos podem atingir valores
Os agentes indutores costumam ser, eles mesmo,
tóxicos por consequência do metabolismo mais
um substrato para as enzimas induzidas; por isso,
lento.
o processo pode resultar no lento e gradual
desenvolvimento de tolerância. Como o fluxo sanguíneo está comumente
comprometido na doença cardíaca, é preciso
→ Inibidores da biotransformação de drogas:
atentar para o potencial de níveis
• Exposição aguda ao etanol
supraterapêuticos de fármacos em pacientes com
• Cloranfenicol e alguns outros antibióticos
insuficiência cardíaca. Além disso, alguns agentes
• Cimetidina
anti-hipertensivos reduzem de modo seletivo o
• Dissulfiram
fluxo sanguíneo para o fígado e, assim, podem
• Propoxifeno
aumentar a meia-vida de um fármaco como a
Indução enzimática: elevação dos níveis de lidocaína, resultando em níveis potencialmente
enzimas ou dos processos enzimáticos, tóxicos.
resultando no aumento da velocidade de
O hipertireoidismo pode aumentar a intensidade
biotransformação hepática da droga, da
do metabolismo de alguns fármacos, enquanto o
velocidade de produção dos metabólitos e
hipotireoidismo pode ter o efeito oposto.
depuração plasmática da droga; além da
diminuição da meia-vida e concentrações livres e
total e os efeitos farmacológicos se os metabólitos
forem inativos.
3. Excreção
Os fármacos e seus metabólitos são, em sua
maioria, eliminados do corpo por excreção renal e
biliar. A excreção renal é o mecanismo mais
comum de eliminação de fármacos e baseia-se na
natureza hidrofílica de um fármaco ou seu
metabólito. Apenas um número relativamente
pequeno de fármacos é excretado primariamente
na bile ou pelas vias respiratórias ou dérmicas.
Muitos fármacos administrados oralmente sofrem
absorção incompleta pelo trato gastrintestinal
superior, e o fármaco residual é então eliminado
por excreção fecal.

Excreção renal

Três processos fundamentais são responsáveis


pela eliminação renal dos fármacos:

1. Filtração glomerular: os capilares Como pelo menos 80% do fármaco que chega aos
glomerulares possibilitam que moléculas de rins é apresentado ao transportador, a secreção
fármacos com peso molecular abaixo de 20 kDa tubular é potencialmente o mecanismo mais
se difundam para o filtrado glomerular. Esses efetivo de eliminação renal de fármacos.
capilares são quase completamente (independente da ligação às proteínas
impermeáveis à albumina plasmática (peso plasmáticas).
molecular de aproximadamente 68 kDa), mas a 3. Reabsorção passiva: (difusão pelo fluido
maioria dos fármacos cruza a barreira livremente. tubular concentrado e reabsorção pelo epitélio
Se um fármaco se liga à albumina plasmática, tubular).
apenas o fármaco livre é filtrado.
Embora a reabsorção possa diminuir a taxa de
2. Secreção tubular ativa: até 20% do fluxo eliminação dos fármacos, muitos sofrem
plasmático renal é filtrado pelo glomérulo, sequestro pelo pH no túbulo distal, portanto são
deixando pelo menos 80% do fármaco que chega excretados eficientemente na urina – o líquido
ao rim passar para os capilares peritubulares do tubular renal é ácido no túbulo proximal e além
túbulo proximal. Aqui, as moléculas dos fármacos dele, o que tende a favorecer o sequestro da forma
são transferidas para o lúmen tubular por dois iônica das bases fracas.
sistemas de transportadores independentes e
relativamente não seletivos: Como essa região do túbulo contém proteínas
transportadoras que diferem daquelas
→ OAT: carreiam fármacos ácidos na sua forma encontradas nos segmentos anteriores do néfron,
aniônica negativa (penicilina, sulfa, salicilatos). as formas iônicas de um fármaco resistem à
→ OCT: carreiam fármacos básicos na forma reabsorção por difusão facilitada, com
protonada catiônica (morfina, histamina). consequente aumento de sua excreção. O nível de
ionização de muitos fármacos – ácidos ou bases
fracas – é pH-dependente e isso afeta
profundamente sua eliminação renal. O efeito de
aprisionamento iônico significa que uma base é
excretada mais rapidamente em urina ácida, que
favorece a forma carregada e inibe, assim, a
reabsorção. Por outro lado, ácidos são eliminados
mais rapidamente se a urina estiver alcalina. Por
exemplo, o ácido acetilsalicílico é um ácido fraco,
excretado pelos rins. Sua superdosagem é tratada
pela administração de bicarbonato de sódio para maiores chances de atravessar a membrana – e à
alcalinizar a urina (e, assim, sequestrar o ácido alteração do pH dos fluidos – saliva e lágrima
acetilsalicílico no túbulo) e pelo aumento do fluxo tendem a ser mais ácidos, aumentando a
urinário (diluindo a concentração tubular do excreção de moléculas alcalinas.
fármaco). Ambas as manobras clínicas resultam
em eliminação mais rápida do fármaco. Manchas na pele podem surgir por acúmulos de
substâncias.
Excreção biliar e fecal
DEPURAÇÃO OU CLEARANCE
As células hepáticas transferem diversas
substâncias, inclusive fármacos, do plasma para a É a taxa de eliminação do fármaco em relação a
bile por meio de sistemas de transporte sua concentração plasmática.
semelhantes aos do túbulo renal.

Os fármacos com peso molecular de > 300 g/mol


e que contêm tanto grupos polares como lipofílicos
têm maior probabilidade de serem excretados na É o parâmetro farmacocinético que limita de modo
bile. mais significativo o tempo de ação do
medicamento nos alvos moleculares, celulares e
Como o ducto biliar desemboca no trato orgânicos. Quanto maior a depuração, menor o
gastrintestinal no duodeno, esses fármacos tempo de ação do fármaco.
devem passar por toda a extensão do intestino
delgado e do intestino grosso antes de serem A depuração total é a soma de todos os processos
eliminados. Em muitos casos, sofrem circulação através do qual o fármaco deixa de existir no
êntero-hepática, onde compostos de fármacos corpo, ou seja, soma das depurações renal,
hidrofílicos – glicuronídeos – que ficam hepática e de todas as outras que impedem que a
concentrados na bile são enviados para o substância permaneça no sangue.
intestino, onde são hidrolizados, regenerando o
fármaco ativo que é reabsorvido no intestino
delgado, subsequentemente retidos na circulação
porta e, a seguir, na circulação sistêmica.
Fármacos sem metabolismo que somente são
A excreção biliar elimina substâncias do corpo eliminados por excreção servem como o
apenas até o ponto em que o ciclo êntero-hepático parâmetro mais importante para prever a ação dos
é incompleto — quando alguma parte do fármaco fármacos, pois a depuração irá refletir em todas as
secretado não é absorvida do intestino. vias de excreção.

Excreção pulmonar D = CE x VE / CP

Excreção de gases e alguns compostos voláteis


TEMPO DE MEIA-VIDA
(ex: álcool) permitindo o monitoramento da
concentração de substâncias voláteis no ar O tempo durante o qual sua concentração no
expirado. plasma diminui para a metade de seu valor
original. O conhecimento dessa informação torna
Excreção pelo leite materno possível calcular a frequência de doses
necessária para manter a concentração
A excreção de fármacos no leite materno é
plasmática do fármaco dentro da faixa terapêutica.
importante porque pode produzir efeitos
farmacológicos indesejados no bebê em sua fase
de amamentação.
0,693 = k = constante de eliminação.
Excreção por outras vias: Reflete a fração do fármaco removido por unidade de
tempo.
Suor, saliva, lágrimas, pele e cabelos. Fármacos
ou metabólitos surgem neste meio devido a sua
lipossolubilidade – quanto mais lipossolúvel,
Fatores que alteram a meia-vida:

Com o processo de envelhecimento, a massa


muscular esquelética diminui, o que pode reduzir
o volume de distribuição. Em contrapartida, um
indivíduo obeso apresenta aumento na
capacidade de captação de um fármaco pelo
tecido adiposo, e, para um fármaco que se distribui
na gordura, pode ser necessário administrar uma
dose mais alta a fim de alcançar níveis
plasmáticos terapêuticos.

Os processos fisiológicos e patológicos


também são capazes de afetar a depuração dos
fármacos.
Por exemplo, as enzimas do citocromo P450
responsáveis pelo metabolismo dos fármacos no
fígado podem ser induzidas, aumentando a taxa
de inativação dos fármacos, ou inibidas,
diminuindo-a.

A falência de um órgão constitui outro fator crítico


na determinação dos esquemas posológicos
apropriados. Assim, a insuficiência hepática pode
alterar a função das enzimas hepáticas e também
diminuir a excreção biliar.

A redução do débito cardíaco diminui a


quantidade de sangue que alcança os órgãos de
depuração.

A insuficiência renal diminui a excreção dos


fármacos, devido à redução da filtração e
secreção deles nos túbulos renais

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