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RESENHA

ALVES, Rubem; A Escola que sempre sonhei Sem imaginar que pudesse existir.
São Paulo, 1933.
Resenhado por:
Davi Ferreira Brito de Oliveira.

A obra intitulada “A Escola que sempre sonhei Sem imaginar que pudesse
existir” é um relato reflexivo acerca da temática “educação” que apresenta a experiência
didático – pedagógica da “Escola da Ponte” que, localizada em Portugal, possui uma
metodologia de ensino aprendizagem diferenciada das demais escolas convencionais.
Mineiro, Rubem Alves (1933/2014) foi psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor
presbiteriano brasileiro, autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis,
sendo considerado um dos principais pedagogos brasileiros da história do Brasil. O
referido livro divide-se em um Prefácio, um desenvolvimento composto por uma série
de crônicas do autor relatando a experiência observada na escola em questão, algumas
considerações posteriores de professores sobre a mesma instituição e, por fim, um
fragmento do programa de estágio centrado na Escola da Ponte.
No Prefácio, Ademar Ferreira dos Santos traz uma dedicatória a pessoas
específicas que fizeram parte da história da Escola da ponte que, somada a um poema,
antecede a apresentação do livro. Em sequência são feitas algumas reflexões a respeito
dos olhares direcionados à educação, bem como dos diferentes caminhos que se
materializam nos processos educativos. São apresentadas lições pontuais aprendidas
com o exemplo da Escola da Ponte, que são esmiuçadas ao longo dos relatos.
Antes de se iniciar a seção de autoria de Rubem Alves, consta um texto duma
crônica dita por Fernando Alves intitulada “O Pássaro no ombro”, na qual ele atribui
adjetivos a Rubem evocando a figura desse pássaro e tecendo uma imagem do autor
como alguém comprometido em escrever a história das pessoas através da educação.
Na seção intitulada “Koan” o autor apresenta uma abordagem inicial recorrendo
a conceitos filosóficos e a teóricos da psicanálise explicando que os limites da
linguagem denotam os limites do mundo de cada indivíduo e postulando que é preciso
“desaprender” saberes sedimentados para dar lugar à percepção de novos saberes dantes
desconhecidos. Conclui essa parte com uma breve fala sobre o choque de realidade que
teve ao visitar a Escola da Ponte.
Na seção “Quero uma escola retrógrada”, Rubem estabelece um paralelo entre a
natureza capitalista das linhas de montagem fabris e a educação tradicional,
evidenciando que ambas seguem um padrão específico de modo a produzir resultados
homogêneos, ao passo que descarta o que foge à uniformidade programática.
Na crônica “A Escola da ponte (1)”, o autor relata como foi que chegou ao
conhecimento da escola trazendo um maior detalhamento de como funcionava a sua
dinâmica, os papéis de aluno e professor e como aquela proposta inovadora lograva
êxito nos objetivos aos quais se propunha.
Na crônica seguinte “A Escola da ponte (2 )”, são descritos ainda alguns itens a
mais que fazem parte da metodologia da instituição, como o modelo de disciplina
direcionado aos alunos, o modo como se organizam para a resolução dos problemas da
escola e ainda é justificada como se dá a aprendizagem nessa proposta diferenciada
comparando-a com a aquisição da linguagem.
Na seção “A Escola da ponte (3)”, o autor persiste na problematização dos
métodos tradicionais de ensino ressaltando a ideia de que o processo de aprendizagem
se dá de forma efetiva quando se alinha às necessidades de cada etapa da vida.
Na seguinte crônica “A escola da ponte (4)”, Rubem Alves faz algumas
comparações entre os programas de aprendizagem das escolas e outros saberes
necessários à vida corriqueira, enfatizando que cumprir um programa não significa que
ele tenha sido assimilado pelo aluno.
Na última crônica do autor “A Escola da ponte (5)”, ele confronta a realidade
entre professores universitários e professores primários, tecendo suas críticas ao modo
como aqueles encaram a sua atuação docente ao passo que se identifica com o modo
destes últimos fazerem a educação acontecer.
Na seção “O essencial não cabe nas palavras” constam algumas considerações
de uma professora mãe de uma aluna da Escola da ponte, nas quais ela expressa seu
contentamento pela oportunidade de ter conhecido Rubem Alves e pelas crônicas que
ele escreveu sobre a escola em questão.
Na seguinte seção “A Escola da ponte: Bem me quer, mal me...”, Pedro Barbas
Albuquerque apresenta reflexões sobre algumas escolas e a Escola da ponte. Ele recorre
a textos de Rubem Alves, às suas memórias, aos direitos dos meninos da referida escola
e também a outros autores. Estas ideias são expressas em formato de um diário.
Na sequência, “A Escola dos sonhos existe há 25 anos em Portugal” consta um
trecho de uma entrevista concedida por José Pacheco em nome da Escola da Ponte ao
portal brasileiro e conduzido por Vitor Casimiro. Nesse trecho o entrevistador faz
algumas perguntas relativas à Escola e suas metodologias de ensino, hierarquia, relação
entre aluno e professor, em geral.
Por fim, há um fragmento do programa de estágio, centrado na Escola da Ponte,
promovido pelo Centro de Formação Camilo Castelo Branco (Vila Nova de Famalicão)
e dirigido a professores do ensino básico. Trata-se de uma ação de formação contínua,
(a)creditada pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua.

Partindo agora para a análise pessoal, o que me chama atenção é o fato de que a
Escola da Ponte existe de verdade. A princípio me parece uma proposta utópica por
demais, mas posteriormente me deparo com a realidade da instituição e com uma crise
interna que me incomoda me fazendo pensar fora da caixa que fui ensinado. É evidente
que num contexto em que são reproduzidos métodos tradicionais de ensino, quando ao
menos se cogita implantar novas metodologias que fogem ao padrão vigente, os porta
vozes do conservadorismo barato fazem questão de destilar suas críticas que, de
construtivas nada têm, apenas com o fim precípuo de boicotar as iniciativas daqueles
que não compactuam com a obsolescência da educação tradicional. Mas com o exemplo
do livro de Rubem Alves fica claro que o ensino reflexivo não apenas é uma ideia
possível de ser posta em prática, como existe de forma materializada na Escola da
Ponte, e que, assim como uma árvore, esse paradigma de ensino pode ser conhecido
pelos frutos que produz, que por sinal são frutos de qualidade mais que comprovada.

A leitura da referida obra indico a professores em formação, independentemente


do nível, bem como a alunos que, mesmo ainda longe de se profissionalizarem na área
educativa, manifestam desejo e disposição de se familiarizarem com paradigmas
reflexivos de ensino.

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