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Edgard Armond

Capítulo 8

JERUSALÉM

Ao tempo de Jesus, a Palestina tinha aproximadamente três


milhões de habitantes. (Fig. 1)
Dividia-se em quatro províncias, a saber:
A Ituréia, a oriente do Jordão; a Galileia, contendo parte da Peréa,
ao norte; ao centro a famosa Samaria, inimiga dos judeus, que levantara
no Monte Garizim um enorme templo que rivalizava, em termos, com
o de Jerusalém; e ao sul, a Judeia, berço dos judeus de raça pura e
aristocrática.
Jerusalém era a capital nacional, famosa em todo o mundo
antigo, centro da vida religiosa, sede do governo nacional, situada
sobre um altiplano de quase mil metros de altitude, defendida por
cinco quilômetros de muralhas e profundos vales e montes, num dos
quais estava localizado o Grande Templo.
Possuía a cidade três bairros, a saber: a cidade alta, residência
dos ricos, situada no Monte Sião; a cidade baixa, situada às margens do
Fosso de Terapion. onde se aglomerava o povo pobre; e o bairro do
Templo, com suas vastíssimas dependências, dominando todas as
imediações e ligado à cidade alta por meio de uma larga e extensa ponte
de pedra.
Normalmente, era de 65 a 70 mil habitantes a população da
cidade, número este permanentemente multiplicado pelo movimento
intenso de forasteiros e peregrinos.

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O Redentor

Pela Páscoa do ano 12, tendo atingido idade legal, que lhe
permitia certa independência, Jesus, pela primeira vez, acompanhou
sua família na peregrinação de costume, no mês do Nizan. 16

Nessa época, de todos os pontos da Palestina e de países


vizinhos, afluíam à Capital judaica caravanas inumeráveis de
peregrinos que se reuniam segundo as procedências, interesses,
amizades, laços de família, etc. Ao passar uma caravana por
determinado lugar, iam-se-lhe agregando todos aqueles que o
desejassem, após o devido entendimento com o guia que a comandava.
O caminho de Nazaré a Jerusalém, após a cidade de Siquém,
tornava-se perigoso por causa dos bandos de malfeitores romanos,
herodianos e mesmo judeus, que infestavam os ermos. Além disso,
Siquém ficava na Samaria, região detestada e proibida. Por isso todos
viajavam em bandos ou caravanas que possuíam guardas armados para
defender os viajantes e preferiam esta rota mais extensa, porém mais
segura, com 140 quilômetros, passando sucessivamente por Citópolis,
Sebaste, Antipatris e Nicópolis.
Por esta rota, ao terceiro dia, os peregrinos atingiam a Capital,
passando, ao chegar, pela via das rochas vermelhas que chamavam de
Caminho de Sangue. Por fim subiam ao Monte das Oliveiras, do cimo
do qual avistavam as cúpulas douradas do Grande Templo. Agitavam
então palmas, arrancadas do arvoredo rasteiro e entoavam o "Cântico
dos Degraus", de Davi: "Hallel! Hallel! Haleluia! Nossos passos se
detêm às tuas portas, oh! Jerusalém!". Esse canto bem representava a
alegria intensa da chegada.
Descrever o que se passava em Jerusalém durante a Páscoa é
tarefa enorme, muito além dos limites postos a esta obra e limitamo-
nos a dizer que, ao chegar, os peregrinos acolhiam-se, parte em
Março. Eis os meses do calendário hebreu, na mesma ordem do nosso:
Shebat - Adar - Nizan - Zif - Sivan - Tammuz - Ab - Elul - Tishri - Bui
- Kislev - Tebeth.

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Edgard Armond

casa de parentes, parte acampava em lugares previamente marcados


pelas autoridades clericais, mas sempre dentro dos muros e muitos
permaneciam sem abrigo, aboletando-se à sombra de muros, portais
de residências, prédios públicos, etc. (Fig.2)
Os que acampavam, armavam suas tendas, muitas delas
ricamente ornadas de festões e barras de púrpura, com indicações de
suas origens geográficas; preparavam ali seus alimentos, expunham
mercadorias à venda, iniciavam visitas de negócios, misturavam-se com
as multidões nas ruas e no Pátio dos Gentios, no Templo, enquanto
novas caravanas desfilavam pelas ruas, chegando de todas as partes e
enchendo a cidade de alarido e de tumulto.
E isso durava dia e noite, durante todo o tempo em que as
cerimônias da Páscoa se desenvolviam na cidade, até que, terminadas
estas, os agrupamentos se recompunham, nas mesmas condições da
chegada e iam, um a um, demandando as portas da cidade, cantando
coros, rumo a seus lares distantes.
Em Jerusalém, os pais de Jesus se hospedavam em casa de Lia,
parenta de Maria, onde também se juntavam outros parentes e
conhecidos, tomando conta dos cômodos interiores e dos pátios.
Foi nestas condições, diz o Evangelho, "que ao regressar a
caravana, no primeiro pouso , deram pela falta do menino e
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voltaram à cidade para procurá-lo; e que o encontraram, ao fim de


três dias, em um dos pátios do Templo, discutindo com os doutores".
Não há que estranhar esse desaparecimento porque, à hora da
partida, havia sempre intensa balbúrdia na caravana, até que esta se
formasse em ordem e, quando ela se movia, os varões iam à frente,
cantando e tocando seus instrumentos, vindo em seguida as
mulheres e os velhos, com os seus bordões. Quanto às crianças,
estas andavam de um lado para outro, livremente, na marcha, às
vezes correndo, mesmo, à frente da caravana, para chegarem
primeiro ao ponto de pouso. De maneira que, à saída, os pais do

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Beeroth, não-citado, a 15 quilômetros da cidade.

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O REDENTOR

menino, não estando juntos, mas separados, pensaram, um, que o


menino estava em companhia do outro ou, talvez, em companhia dos
outros meninos, nas suas alegres correrias, só dando pela falta, depois
que todos chegaram ao pouso.
Por isso voltaram a procurá-lo e o encontraram no Templo,
discutindo com os doutores.

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