Ana Angélica M. de Barros1 & Vitor Amorim Moreira de Azevedo1
1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Faculdade de Formação de Professores, Departamento de Ciências, Grupo Interdisciplinares do Ambiente, São Gonçalo, RJ, Brasil. anaangbarros@gmail.com
Iyá Mi Oxorongá são divindades do poder coletivo feminino, representando a força
mítica da mulher manifestada na possibilidade de gerar filhos e povoar o mundo. Originaram a humanidade e tem o domínio de decidir sobre a vida de seus filhos, seu direito de nascer ou não. Ao mesmo tempo em que são tratadas como senhoras da vida, também são consideradas senhoras da morte. As velhas feiticeiras (ajés) são mulheres impiedosas, que viveram tudo que há pra viver. Cultuar as Iyá Mi é reverenciar os antepassados, uma vez que os mortos seriam os mediadores entre a humanidade e o mundo sobrenatural. Não é possível controlar seu poder, uma vez que é preciso que esse flua livremente no mundo. Esse trabalho tem o objetivo de discutir o mito iorubá das velhas feiticeiras, relacionando-o com a apropriação da natureza através da simbologia das árvores sagradas. A pesquisa foi baseada na bibliografia pertinente ao tema e entrevistas semiestruturadas realizadas com Mães de Santo de três casas de candomblé de Ketu no estado do Rio de Janeiro. As Iyá Mi também são consideradas eleyé (Senhoras dos Pássaros), devido sua relação com as aves noturnas e de rapina, através dos quais transmitem o axé, tornando-se detentoras e condutoras dessa energia sobrenatural. O apreço das feiticeiras pelas árvores sagradas fez com que buscassem sete delas na forma de pássaros para expressar seu poder: orobô (Garcinia kola Heckel) utilizado em jogos divinatórios e em oferendas para Xangô e Ogum, com objetivo de obter prosperidade. Quando pousadas nessa árvore as ajés pensam em alguém e este terá felicidade, será justo e viverá muito; araticuna-da-areia (Annona senegalensis Pers.), cujo simbolismo está relacionado à atração de prosperidade e proteção. No entanto, nessa árvore destroem tudo aquilo que essa pessoa gosta; o baobá (Adansonia digitata L.) seu porte e imponência dá ideia de fartura, simbolizando a passagem da vida desde tempos imemoriais. Nela tudo que é sagrado para a pessoa lhe será conferido; a gameleira-branca (Ficus spp.), na qual a pessoa sofrerá acidentes e não terá como escapar; figueira (Ficus spp.) que é a representação de Iroko, um orixá que mora na árvore e utiliza sua magia para o bem e o mal; apaoká (Artocarpus heterophyllus Lam.), a jaqueira expressa o caráter impiedoso das ajés, no qual rapidamente essa pessoa será morta; okinkán, a cajazeira (Spondias mombin L.) que tem forte poder mágico. Nessa árvore, as ajés podem fazer o que quiserem, trazendo a felicidade ou não.